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FACULDADE INTERNACIONAL DA PARAÍBA – FPB ARQUITETURA E URBANISMO TURNO: MANHÃ TURMA: 2017.1 PROJETO DE ARQUITETURA: PROGRAMA PROFESSOR: ILTON ALUNO: JOSÉ ÂNGELO DO NASCIMENTO NETO RESENHA SOBRE “RECIFE FRIO” – Filme de Kleber Mendonça Filho Recife Frio (2009) é um curta-metragem do cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho, consagrado também por filmes como Som Ao Redor (2012) e Aquarius (2016) e vencedor de importantes prêmios no Brasil e no exterior. Segundo o diretor, Recife Frio é sua visão pessoal sobre a cidade – “é um lamento de amor pelo Recife, pois a cidade anda muito maltratada no seu traçado urbano”. E é dentro dessas palavras que se baseia a poética do filme, um “falso documentário” de ficção com vestígios de humor e política. O vídeo faz uma crítica bem articulada sobre os problemas sociais e urbanos da capital pernambucana, mostrando então, de forma unânime, a realidade não só do Recife, mas também do país inteiro. A trama começa quando um meteoro cai no litoral e repentinamente o clima da cidade fica frio, alterando toda a desenvoltura da cidade. A falsa ideia que temos sobre a cidade limpa e tropical, de clima quente, belas praias, cores e alegrias se transforma num cenário acinzentado, chuvoso e melancólico, afastando assim a onda de turistas e quebrando consequentemente todos os setores da economia local. A narração ao longo do curta é feita por um jornalista argentino do programa ficcional Mundo en Movimiento, no qual mostra depoimentos de pessoas, entre eles um francês que lamenta a situação mostrando o vazio de sua pousada sem turistas na orla da cidade. Além disso, a narrativa expõe dados sobre as primeiras vítimas mortais que são os moradores de ruas e mostra a adaptação dos marginalizados, que fazem fogueiras na frente das casas para se esquentarem. O clima também afeta o artesanato – que antes eram pessoas com sunga e biquínis – e o comércio, que agora fatura com gorros, luvas e casacos. A arquitetura também é atingida. A disputa por metros quadrados no litoral cai drasticamente e a classe média se vê desesperada. A hierarquização dos espaços se contrapõem. O cubículo quarto da empregada doméstica, nos confins da habitação, sem janelas e no lado do sol, agora é disputado entre os maiorais, pois a bela vista para o mar já não é a melhor paisagem. Neste momento é mostrado o depoimento de uma típica família de classe média alta chamando atenção para o discurso segregado e a roupa que o menino usa – uma jaqueta militar com uma etiqueta da bandeira da Alemanha, além da expressão apavorada da empregada que agora tem que se contentar com a suíte e consequentemente com o frio. Além desse filme, as questões que denunciam os problemas sociais e marginalizados, são difundidos em movimentos como o manguebeat protagonizado pelo Chico Science e Nação Zumbi na década de 90 e que deve ser levado em consideração nesta observação: “A cidade se encontra prostituída Por aqueles que a usaram em busca de saída ‘Ilusora’ de pessoas de outros lugares A cidade e sua fama vai além dos mares No meio da esperteza internacional A cidade até que não está tão mal E a situação sempre mais ou menos Sempre uns com mais e outros com menos A cidade não para, a cidade só cresce O de cima sobe e o de baixo desce” (SCIENCE,1994) As ruas ficam vazias – “Se te ausentas, há paredes em mim / Frieza de ruas duras”¹1. As pessoas se acomodam atrás da estética cansativa de fachadas e altos muros embanheirados², exaltando a morbidez, o sedentarismo e a melancolia. Em contrapartida, no falso noticiário argentino se questiona numa metalinguagem explícita “onde estão as pessoas? – Estão nos shoppings. ” É quando percebemos a maquiagem da divisão dos corpos e o Direito à Cidade. O desprezo das ruas, do espaço público, para a institucionalização dos espaços privativos, onde também privam direitos e exaltam privilégios. O filme se resume a essa crítica político-social sobre o traçado urbano e como tudo isso está encaixado nas relações de poder, segregação, hierarquização e surge num cenário caótico e maquiado todos esses problemas. As cigarras (pessoas) e as formigas (povos), fazendo menção a ideia de que pessoas são as privilegiadas e os povos os marginalizados (MARQUES, 2013)³, abre espaço para a reflexão sobre como está se ordenando o desenvolvimento das cidades e as relações interpessoais dos habitantes. 1¹ Trecho do poema – Do Desejo VIII. HILST, Hilda. Campinas, 1992. ² O termo “embanheiramento” aprendi com a professora Sônia Marques, professora de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal da Paraíba, onde cita no artigo O Som e Tudo Mais ao Redor na Cidade (2013) na revista Será Online, sobre o termo que remete a onipresença de cerâmicas em fachadas e muros urbanos, expressão oriunda do prof. Edja Trigueiro (UFPB). ³ Reformulação da expressão usada por Sônia Marques no artigo para a revista Será (2013) http://revistasera.ne10.uol.com.br/o-som-e-tudo-mais-ao-redor-na-cidade/ , sob meu ponto de vista acerca da ideia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RECIFE Frio. Direção de Kleber Mendonça Filho. Recife: Cinemascópio Filme, 2009. (24 minutos), son., color. CINECLICK – Crítica de Cinema. (2011) In: https://www.cineclick.com.br/criticas/recife-frio - acesso em: 24 ago. 2018. WIKIPÉDIA, Livre – Recife Frio. Última edição em fevereiro de 2018. In: https://pt.wikipedia.org/wiki/Recife_Frio - acesso em 24 ago. 2018. MARQUES, Sônia. O Som e Tudo Mais Ao Redor na Cidade: Revista Será? Penso, logo duvido – Recife. Junho de 2013. SCIENCE, Chico & Nação Zumbi. A Cidade. Rio de Janeiro: Estúdio Nas Nuvens, 1993. Disponível em: https://youtu.be/UVab41Zn7Yc - acesso em 24 ago. 2018. http://revistasera.ne10.uol.com.br/o-som-e-tudo-mais-ao-redor-na-cidade/ https://www.cineclick.com.br/criticas/recife-frio https://pt.wikipedia.org/wiki/Recife_Frio https://youtu.be/UVab41Zn7Yc
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