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Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 R813f Rosen, Harvey S. Finanças públicas [recurso eletrônico] / Harvey S. Rosen, Ted Gayer ; tradução: Rodrigo Dubal ; revisão técnica: Stefano Florissi. – 10. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2015. Editado como livro impresso em 2015. ISBN 978-85-8055-501-1 1. Economia – Finanças públicas. I. Gayer, Ted. II. Título. CDU 336.1 6 PARTE I Primeiros passos Governo Federal Artigo 1, Seção 8, da Constituição autoriza o Congresso a “pagar as dívidas e prover a defesa comum e o bem-estar geral dos Estados Unidos”. Ao longo dos anos, a noção de “bem-estar geral” foi interpretada de forma muito ampla pelo Con- gresso e pelos tribunais, e agora esta cláusula não coloca efetivamente quaisquer restrições sobre os gastos do governo.4 A Constituição não limita o tamanho das despesas federais, nem em termos absolutos, nem em relação com o tamanho da economia. Projetos de lei para apropriação de despesas (como praticamente todas as outras leis) podem se originar em qualquer das câmaras do Congresso. Um projeto de dotação orçamentária torna-se lei quando, depois de receber votos favoráveis da maioria em ambas as casas, é assinado pelo presidente. Se o presidente veta um projeto de lei de despesas, este ainda pode se tornar lei se, posteriormente, receber votos favoráveis de dois terços de cada câmara. Como o Congresso financia essas despesas? Os poderes tributários federais estão autorizados no Artigo 1, Seção 8: “O Congresso terá o Poder de estabelecer e recolher Im- postos, Tributos, Taxas e Impostos Especiais”. Ao contrário de contas de despesas, “Todas as contas para a captação de Receita deverão se originar na Casa dos Representantes dos EUA” [Artigo 1, Seção 7]. Diante da enorme insatisfação com a política fiscal britânica durante o período colo- nial, não é nenhuma surpresa que tenham sido tomados cuidados consideráveis para restrin- gir o poder de tributação do governo, conforme descrito nos seguintes parágrafos: 1. “Todos os Tributos, Impostos e Taxas serão uniformes em todos os Estados Unidos” [Artigo 1°, Seção 8]. O Congresso não pode fazer discriminação entre estados ao definir taxas de impostos. Por exemplo, se o governo federal aplica um imposto sobre a gasolina, a taxa deve ser a mesma em todos os estados. Isso não implica que o valor per capita recolhido será o mesmo em cada estado. Presumivelmente, estados em que os indivíduos dirigem mais do que a média terão obrigações tributárias mais elevadas. Assim, ainda é possível (e mesmo provável) que vários impostos deixem alguns esta- dos em pior situação do que outros.5 2. “Nenhum... Imposto direto deverá ser cobrado, a menos que em Proporção com o Censo ou que Contagem anterior neste documento instrua a cobrá-lo” [Artigo 1, Se- ção 9]. Um imposto direto é um imposto que incide sobre uma pessoa e não sobre uma mercadoria. Essencialmente, esta disposição diz que se Estado A tem o dobro da população do Estado B, então qualquer imposto direto cobrado pelo Congresso deverá gerar o dobro da receita no Estado A que no Estado B. No final do século 19, as tentativas de introduzir um imposto federal sobre a renda foram declaradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, porque a tributação de renda leva a encargos fiscais estaduais que não são proporcionais à po- pulação. Diante dessa decisão, a única maneira de introduzir um imposto de renda foi por meio de uma emenda constitucional. A 16a Emenda, ratificada em 1913, afirma: “O Congresso terá poder de estabelecer e cobrar impostos sobre os rendimentos, deri- vados de qualquer fonte, sem rateio entre os diversos estados, e sem levar em conta o censo ou contagem”. Atualmente, o imposto de renda individual é um dos pilares do sistema da Receita Federal. 3. “Nenhuma pessoa deverá ser... privada de vida, liberdade ou propriedade sem o devi- do processo legal; nem a propriedade privada poderá ser expropriada para uso públi- 4 O Artigo 1º também exige que certas despesas específicas sejam feitas. Por exemplo, o Congresso deve apro- priar fundos para manter um exército e um sistema de tribunal. 5 Nenhuma lei tributária na história jamais foi derrubada por violar essa cláusula. No entanto, isso passou muito perto de acontecer no início da década de 1980. O Congresso aprovou um imposto sobre o petróleo que isentava o petróleo da Encosta Norte do Alasca. Um tribunal distrital federal decidiu que o imposto era inconstitucional, mas essa decisão foi revertida em última instância pelo Supremo Tribunal Federal. CAPÍTULO 1 Introdução 7 co, sem justa compensação” [Quinta Emenda]. Do ponto de vista da política fiscal, essa cláusula significa que as distinções criadas pela lei fiscal devem ser razoáveis. No entanto, nem sempre é fácil determinar quais distinções são “razoáveis“ e isso é uma parte constante dos processos legislativos e judiciais. 4. “Nenhum imposto ou taxa deverá ser cobrado sobre Artigos exportados de qualquer Estado” [Artigo 1°, Seção 9]. Esta disposição foi incluída para assegurar aos estados do sul que suas exportações de tabaco e de outros commodities não seriam compro- metidas pelo governo central. O governo federal não precisa financiar todas as suas despesas através de im- postos. Se as despesas excedem as receitas, ele tem poderes para “pedir dinheiro emprestado no crédito dos Estados Unidos” [Artigo 1o, Seção 8]. Em várias ocasiões ao longo das últimas décadas, uma emenda constitucional para exigir um orçamento federal equilibrado recebeu algum apoio, mas até agora ela não foi aprovada. Governos estaduais e municipais De acordo com a 10ª Emenda, “Os poderes não delegados aos Estados Unidos pela Constituição, nem proibidos por ela aos estados, são reservados aos estados ou ao povo”. Assim, a Constituição dá aos governos estaduais ampla autonomia para gastar e cobrar impostos. No entanto, a Constituição limita as atividades econômicas dos estados. O Artigo 1o, Seção 10, afirma: “Nenhum Estado po- derá, sem o consentimento do Congresso, impor quaisquer Tributos ou Impostos sobre as Importações ou Exportações”. Portanto, o governo federal controla a política econômica internacional. Além disso, várias disposições constitucionais têm sido interpretadas como exigindo que os estados não cobrem impostos arbitrariamente, discriminem residentes de fora ou cobram impostos sobre as importações de outros estados. Por exemplo, em 2005, a Suprema Corte declarou inconstitucionais as leis em Michigan e Nova York, que concediam às vinícolas do estado uma vantagem competitiva sobre as vinícolas de fora do estado. Os estados podem impor restrições de gastos e tributação sobre si mesmos em suas próprias constituições. As constituições estaduais diferem substancialmente no que diz respeito aos tipos de questões econômicas de que tratam. Nos últimos anos, um dos de- senvolvimentos mais interessantes das finanças públicas foi a movimentação de alguns estados para alterar suas constituições com o objetivo limitar a dimensão dos gastos do setor público. Do ponto de vista legal, o poder dos governos locais para estabelecer impostos e gas- tar é concedido pelos estados. Como um juiz do século 19 explicou: Empresas municipais devem sua origem e derivam seus poderes e direitos inteiramente da legislatura [estadual]. Ela lhes dá o sopro de vida, sem o qual não podem existir. Do mesmo modo que cria, também pode destruir. Se pode destruir, também pode reduzir e controlar [City of Clinton v. Cedar Rapids, 1868]. Seria um erro, no entanto, considerar os governos locais carentes de autonomia fiscal. Muitas cidades têm poder político substancial e não respondem passivamente aos desejos dos governos estadual e federal. Por exemplo, o estado da Califórnia recente- mente descartou planos de tomar as receitas dos governos locais com o imposto sobre a gasolina devido a fortes objeções de líderes locais [Steinhauer, 2009]. Um desenvol- vimento interessante nos últimosanos tem sido a competição de estados e cidades por verbas federais. As cidades frequentemente têm mais sucesso em suas atividades de lobby do que os estados! O tamanho do governo Em uma famosa frase de seu discurso sobre o Estado da União em 1996, o presidente Bill Clinton declarou: “A era do governo grande acabou”. Tal afirmação pressupõe que há uma 8 PARTE I Primeiros passos maneira de determinar se o governo é “grande” ou não. Como exatamente se mede o tama- nho do governo? Uma medida frequentemente usada por políticos e jornalistas é o número de traba- lhadores no setor público. No entanto, isso pode gerar equívocos. Imagine um país onde alguns servidores públicos operam um computador poderoso que orienta todas as decisões econômicas. Nesse país, o número de funcionários do governo certamente faz subestimar a importância do governo. Da mesma forma, seria fácil construir um cenário em que um grande número de trabalhadores está associado a um setor público relativamente fraco. O número de funcionários do setor público é uma informação útil, para alguns propósitos, mas não é capaz de esclarecer a questão central: até que ponto os recursos da sociedade estão sujeitos ao controle do governo. Uma abordagem mais sensata (e comum) é medir o tamanho do governo pelo volume de suas despesas anuais, das quais existem basicamente três tipos: 1. Compras de bens e serviços. O governo compra uma grande variedade de itens, desde mísseis até serviços prestados por ecologistas. 2. Transferências de renda para pessoas, empresas ou outros governos. O governo re- colhe renda de alguns indivíduos ou organizações e repassa a outros. Exemplo disso são os programas de bem-estar social, tais como vale-refeição e subsídios pagos a agricultores para a produção (ou não produção) de determinadas commodities. 3. Pagamento de juros. O governo muitas vezes toma empréstimos para financiar suas atividades e, como qualquer devedor, deve pagar juros a seus credores. O governo federal discrimina seus gastos em um documento conhecido como or- çamento unificado.6 Em 2011, as despesas federais (excluindo subsídios a governos es- taduais e municipais) foram de cerca de 3,3 trilhões de dólares. A soma das despesas de governos estaduais e locais naquele ano corresponde a um total de 5,41 trilhão de dólares [Relatório Econômico do Presidente, 2012, p. 415].7 Os números para gastos do gover- no são facilmente disponíveis e amplamente citados. Normalmente, quando as despesas aumentam, as pessoas concluem que o governo cresceu. No entanto, algumas atividades governamentais têm efeitos substanciais sobre a economia, mesmo que envolvam gastos mínimos do governo. Por exemplo, o estabelecimento de regulamentações por si só não é muito caro. O governo federal dedica cerca de 50,4 bilhões de dólares por ano para o de- senvolvimento e a aplicação de regulamentações, um número que não é grande em relação ao tamanho do orçamento [Dudley e Warren, 2011]. Essa estimativa, porém, é apenas uma pequena fração do custo econômico total das regulamentações, que incluem os custos para as empresas e indivíduos de cumprir as regras, bem como seus efeitos sobre a atividade econômica. A exigência de air bag eleva o custo dos automóveis. Várias taxas de licença e fiscalização aumentam o preço da moradia. Regras do mercado de trabalho, como o salário mínimo, podem gerar desemprego, assim como a regulamentação da indústria de medica- mentos pode diminuir o ritmo do desenvolvimento científico. Alguns acreditam que os custos econômicos de regulamentações governamentais deveriam ser publicados em um orçamento regulatório anual. Infelizmente, o cálculo desses custos é extremamente difícil. Por exemplo, especialistas em farmácia discordam sobre quais novas curas teriam sido desenvolvidas na ausência da regulamentação de medicamentos. Da mesma forma, é difícil estimar o impacto de procedimentos de se- gurança para o local de trabalho impostos pelo Governo sobre os custos de produção. Diante de tais problemas, é pouco provável que venha a existir um orçamento regulatório 6 A publicação de um documento orçamental é constitucionalmente obrigatória: “uma Declaração e Conta regular das Receitas e Despesas de todo o Dinheiro público deverá ser publicada periodicamente” [Artigo 1o, Seção 9]. 7 Verbas federais para os governos estaduais e locais foram de 493 bilhões de dólares em 2011. orçamento unificado Documento que inclui todas as receitas e despesas do governo federal. orçamento regulatório Declaração anual dos custos impostos à economia por regulamentações governamentais. (Atualmente, o governo não publica tal orçamento.) CAPÍTULO 1 Introdução 9 oficial.8 Estimativas não oficiais, no entanto, sugerem que os custos anuais de regulamen- tos federais podem ser bastante elevados, talvez mais de 1,75 trilhão de dólares por ano [Crain e Crain, 2010]. Alguns números É inviável resumir em um único número a magnitude do impacto do governo sobre a economia. Dito isso, ainda ficamos com o problema prático de encontrar algum indicador razoável do tamanho do governo que possa ser usado para estimar tendên- cias em seu crescimento. A maioria dos economistas está disposta a aceitar as despesas do governo convencionalmente definidas como uma medida aproximada, porém útil. Como muitas outras medidas imperfeitas, produz informações úteis, desde que suas limitações sejam compreendidas. Com todas as ressalvas necessárias em mente, apresentamos na Tabela 1.1 dados sobre despesas em todos os níveis do governo dos EUA ao longo do tempo. A primeira coluna indica que as despesas anuais multiplicaram-se mais de 18 vezes desde 1970. Esse número, todavia, é uma medida enganosa do crescimento do governo por várias razões: 1. Por causa da inflação, o dólar teve seu valor reduzido ao longo do tempo. Na coluna 2, os valores das despesas são expressos em dólares de 2011. Em termos reais, a des- pesa pública em 2011 foi cerca de 34,9 vezes maior que em 1970. 2. A população também cresceu ao longo dos anos. Uma população cada vez maior, por si só, cria demandas de um setor público maior. (Por exemplo, mais estradas e esgotos são necessários para acomodar mais pessoas.) A Coluna 3 mostra a despesa pública real per capita. O aumento de 1970 até 2011 foi de cerca de 2,6 vezes. 3. Às vezes é útil examinar as despesas públicas em relação ao tamanho da economia. Se o governo dobra de tamanho, mas, ao mesmo tempo a economia triplica, em um sentido relativo, o governo diminuiu. A Coluna 4 mostra as despesas do governo como percentual do Produto Interno Bruto (PIB) – o valor de mercado dos bens e serviços produzidos pela economia durante o ano. Em 1970, o valor era de 28,4% e, em 2010, era de 35,9%. À luz da discussão anterior, os números da Tabela 1.1 transmitem uma falsa ideia de precisão. Ainda assim, não há dúvida de que, no longo prazo, o papel econômico do gover- 8 A regulamentação não é necessariamente indesejável só porque gera custos. Como qualquer outra atividade do governo, ela pode ser julgada apenas pela avaliação dos custos e dos benefícios. (A análise de custo-benefício é discutida no Capítulo 8.) TABELA 1.1 Despesas governamentais estaduais, municipais e federais (anos selecionados) (1) Despesas totais (bilhões) (2) Dólares de 2011 (bilhões)* (3) Dólares de 2011 per capita (4) Percentual do PIB 1970 295 1.375 6.703 28,4 1980 847 2.007 8.815 30,4 1990 1.880 2.948 11.784 32,4 2000 2.906 3.712 13.155 29,2 2011 5.410 5.410 17.362 35,9 Fonte: Cálculos baseados no Relatório Econômico do Presidente, 2012 [pp. 316, 320, 359, 415]. *Conversão para dólares de 2011 feita com uso do deflator do PIB. As despesas totais do governo aumentaram 18,3 vezes desde 1970. As despesas reais aumentaram 3,9 vezes, e as despesas reais per capita aumentaram 3,9 vezes. Em 1970, os gastos do governo corresponderam a 28,4% do Produto Interno Bruto; em 2011, foram de 35,9%. 10 PARTE I Primeiros passos nocresceu. Com mais de um terço do PIB passando pelo setor público, o governo é uma enorme força econômica. Algumas comparações internacionais podem ajudar a colocar os dados dos Estados Unidos em perspectiva. A Figura 1.1 mostra dados sobre as despesas do governo em rela- ção ao PIB de vários países desenvolvidos. Os dados indicam que os Estados Unidos não são o único país a ter um grande setor público. De fato, em comparação com países como a França e a Suécia, o setor público dos EUA é bastante pequeno. Embora os tamanhos relativos do setor público variem entre países, por muitas razões, as considerações ide- ológicas discutidas anteriormente neste capítulo provavelmente desempenham um papel importante. Uma explicação para o grande setor público da Suécia, por exemplo, é que o governo paga a maior parte do atendimento de saúde, que é considerado responsabilidade da comu- nidade. Nos Estados Unidos, por outro lado, a saúde é vista como uma responsabilidade preponderantemente individual, de modo que uma parte substancial dos gastos com saúde ocorrem no setor privado. Despesas Passamos agora da magnitude total das despesas do governo para sua composição. É im- possível refletir o enorme escopo da atividade de despesas do governo em uma breve tabe- la. No orçamento federal para o ano fiscal de 2012, a lista de programas e suas descrições tomaram mais de 1.300 páginas! (Detalhes podem ser encontrados no site: www.gpoac- cess.gov/usbudget/.) O painel à esquerda na Figura 1.2 mostra as principais categorias de despesas do governo federal e o painel à esquerda na Figura 1.3 mostra as despesas estaduais e municipais. Grande parte do orçamento do governo consiste dos chamados programas de direito (entitlement programs), que são programas cujo custo não é determinado por valores fixos em dólares, mas pelo número de pessoas que se qualificam. As leis que regem a Seguridade Social, muitos programas de bem-estar social e apoio aos preços agrícolas incluem regras programas de direito (entitlement programs) Programas cujas despesas são determinadas pelo número de pessoas que se qualificam e não em alocações orçamentárias pré- -estabelecidas. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Fr an ça Su éc ia R ei no U ni do A le m an ha C an ad á Ja pã o A us tr ál ia FIGURA 1.1 Despesas do governo como percentual do Produto Interno Bruto (2011, países selecionados). Em comparação com os Estados Unidos, outros países desenvolvidos têm gastos governa- mentais mais elevados em percentagem do Produto Interno Bruto. Fonte: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Paris, França, OECD Economic Outlook, Maio de 2012 (Tabela Anexa 25). Os números são de 2011. CAPÍTULO 1 Introdução 11 que determinam quem tem direito a benefícios e a magnitude dos benefícios. As despesas com programas de direito saem, portanto, em grande parte das mãos do atual governo, a menos que este mude as regras. Da mesma forma, os pagamentos de dívidas são determi- nados por taxas de juros e déficits anteriores, também em sua maior parte fora do controle dos atuais tomadores de decisão. Segundo a maioria das estimativas, cerca de 60% do or- çamento federal é relativamente incontrolável [Escritório de Administração e Orçamento, 2012]. No Capítulo 6, discutimos as questões políticas associadas à controlabilidade do orçamento federal. É útil fracionar as despesas totais por nível de governo. O governo federal é res- ponsável por cerca de 60% de todas as despesas diretas, os estados, por 20% e os mu- nicípios, por 20% [Escritório de Análise Econômica, 2012]. Os governos estaduais e locais são claramente atores importantes. Eles representam a maior parte dos gastos com itens como polícia e proteção contra incêndios, educação e transporte. Despesas substanciais com o bem-estar público também são feitas pelos estados. O Capítulo 22 discute as complicações que surgem na coordenação das atividades fiscais de diferentes níveis de governo. Receitas Os principais componentes do sistema fiscal federal são representados no painel à direita na Figura 1.2; as informações sobre impostos estaduais e locais encontram-se no painel à direita na Figura 1.3. No nível federal, a tributação da renda pessoal é atualmente a mais importante fonte de receitas, representando cerca de 47% da arrecadação de impostos. No- te-se a importância da categoria “Seguro Social” na Figura 1.2. Trata-se da cobrança de impostos de folha de pagamento utilizados para financiar a Seguridade Social e o Medicare (sistema de seguros de saúde dos EUA). Estes correspondem a quase 40% da arrecadação de receitas federais. O imposto de renda empresarial só é responsável por cerca de 8% das receitas federais, o que é muito menor do que no ano passado. Nos setores estadual e local, subsídios do governo federal correspondem a mais de 20% das receitas, o imposto sobre Defesa 5% do PIB US$ 751 bilhões Saúde 2,5% do PIB US$ 373 bilhões Medicare 3,2% do PIB US$ 486 bilhões Segurança de renda 4% do PIB US$ 597 bilhões Seguridade social 4,8% do PIB US$ 731 bilhões Juros líquidos US$ 1,5 do PIB US$ 230 bilhões Outros 2,9% do PIB US$ 436 bilhões Imposto de renda individual 7,2% do PIB US$ 1,092 trilhões Seguro social 5,4% do PIB US$ 819 bilhões Imposto corporativo 1,2% do PIB US$ 181 bilhões Outros 1,4% do PIB US$ 212 bilhões DESPESAS Em 2011, o governo dos EUA gastou US$ 3,6 trilhões. RECEITAS Em 2011, o governo dos EUA auferiu US$ 2,3 trilhões em receitas. FIGURA 1.2 Composição das despesas e receitas federais (2011). O governo federal dedica atualmente 21% de seu orçamento para a defesa nacional e 20% para a Seguridade Social. A tribu- tação da renda pessoal é a mais importante fonte de receitas, representando quase 50% da arrecadação de impostos. Fonte: Relatório Econômico do Presidente, 2012 [p. 413]. 12 PARTE I Primeiros passos vendas é de quase 18% e o imposto sobre a propriedade também corresponde a 18%, uma redução significativa em relação a anos anteriores. É importante notar que o sistema fiscal, além de aumentar as receitas, pode ser tam- bém um meio de fazer despesas. Para entender como, suponha que em vez de gastar 10 milhões de dólares na compra de um novo armamento, o governo federal oferece reduzir em 10 milhões de dólares os impostos devidos pelo fabricante do armamento. Embora as duas medidas apareçam de formas diferentes nas contas do governo, seu efeito orçamental é o mesmo: o governo gasta 10 milhões de dólares para adquirir o armamento. Discutimos tais despesas fiscais em maiores detalhes no Capítulo 17. Mudanças no valor real da dívida Em debates populares, os impostos são geralmen- te vistos como a única fonte de receita do governo. No entanto, quando o governo é devedor e os preços sobem, as mudanças no valor real da dívida podem ser uma importante fonte de receita. Para entender por que, suponha que, no início do ano, você deva a um credor 1.000 dólares, que devem ser reembolsado no final do ano. Suponha ainda que, durante o ano, os preços aumentem 10%. Os dólares que você usa para pagar seu credor valem 10% menos do que aqueles que você pediu a ele. Com efeito, a inflação reduziu o valor real de sua dívida em 100 dólares (10% de 1.000 dólares). Alternativamente, seu rendimento real aumentou em 100 dólares, como consequência da inflação. É claro que, ao mesmo tempo, a renda real de seu credor caiu em 100 dólares.9 No início do ano fiscal de 2011, a dívida do governo federal foi de cerca de 13,5 trilhões. Em 2011, a taxa de inflação foi de cerca de 2,1%. Aplicando a mesma lógica, a inflação reduziu o valor real da dívida federal em 284 bilhões de dólares (13,5 trilhões x 0,021). Com efeito, isso é uma receita para o governo, do mesmo modo que são os impos- tos enumerados na Figura 1.2. No entanto, procedimentos contábeis do governo excluem 9 Se a inflação é prevista por mutuários e credores, espera-se que a taxa de juros aumente para levar em conta a inflação.Este fenômeno é discutido no Capítulo 17 em “Impostos e inflação”. despesas fiscais Perda de receitas fiscais porque algum item é excluído da base de cálculo ou recebe algum outro tratamento preferencial. Educação 6% do PIB US$ 851 bilhões Rodovias 1,1% do PIB US$ 152 bilhões Bem-estar social 3% do PIB US$ 436 bilhões Outros 7,3% do PIB US$ 1,041 trilhão DESPESAS Em 2008, os governos estadual e local gastaram US$ 2,5 trilhões. Imposto sobre propriedade 3% do PIB US$ 424 bilhões Imposto sobre vendas 3% do PIB US$ 434 bilhões Imposto de renda individual 1,9% do PIB US$ 271 bilhões Imposto corporativo 0,3% do PIB US$ 46 bilhões Outros 4,9% do PIB US$ 703 bilhões Subsídios do governo federal 3,8% do PIB US$ 537 bilhões RECEITAS Em 2011, os governos estadual e local auferiram US$ 2,4 trilhões em receitas. FIGURA 1.3 Composição das despesas e receitas estaduais e locais (2011). Os governos estaduais e locais atualmente dedicam 34% de seu orçamento para a educação e 18% para o bem-estar público. Subsídios do governo federal representam mais de 20% das receitas, e o imposto sobre vendas compõe 18% das receitas. Fonte: Relatório Econômico do Presidente, 2012 [p. 419]. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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