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Ecopedagogia Ivanil Nunes Introdução Unidade I. O fenômeno da Globalização e sua interferência no meio ambiente 1.1 Globalização e meio ambiente 1.2 Como a economia global atinge o meio ambiente? 1.2.1 Dez lugares do mundo que podem ser engolidos pelo mar 1.2.2 Problemas Ambientais Globais e a Industrialização 1.3 Globalização, mudanças sociais, culturais e meio ambiente Unidade II. Caracterizando o meio ambiente 2.1. Os principais desequilíbrios ambientais globais 2.2. Os atuais mecanismos oficiais de defesa do Planeta Unidade III. Educação ambiental na contemporaneidade 3.1 Superar a fragmentação do saber 3.2 Objetivos gerais para o ensino fundamental 3.3. O conteúdo de meio ambiente para terceiro e quarto ciclos 3.4. Critérios de seleção e organização dos conteúdos Unidade IV - Mudanças econômicas estruturais e questão ambiental FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 2 Introdução Segundo Galvão (2007:62) há mais de quatro décadas se registra profundas transformações no modo como vem ocorrendo as articulações internacionais em relação ao “ritmo do crescimento do comércio de bens e serviços, na aceleração no movimento dos fluxos dos ativos financeiros, na rapidez com que novas tecnologias são criadas e transferidas internacionalmente, no desenvolvimento de novos e mais velozes sistemas de comunicações (transportes, telecomunicações, Internet etc.), na transferência e absorção do conhecimento e da informação”. Essas mudanças profundas levaram os países a um cenário internacional marcado por um tipo de economia cada vez mais interdependente. Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) apontam para crescimento do comércio internacional, após a Segunda Guerra Mundial a “uma taxa média de mais de 6%, em termos reais, multiplicando o volume das transações internacionais em aproximadamente 15 vezes e fazendo com que a fração da produção mundial exportada de mercadorias passasse de 7%, em 1950, para algo em torno de 25%, na década de 2000” – ainda que a quase totalidade deste comércio tenha se realizado na modalidade intrafirmas (tipo de comércio realizado entre empresas pertencentes ao mesmo grupo - realizado entre matrizes e filiais ou subsidiárias, ou entre filiais e subsidiárias). Os objetivos nesta disciplina é entender o processo de globalização em seus múltiplos aspectos, econômicos, políticos, sociais e culturais e a interferência deste no meio ambiente; analisar os conceitos fundamentais relacionados ao meio ambiente; identificar os principais desequilíbrios ambientais que tem afetado os ecossistemas do mundo; discutir quais são os conceitos básicos da educação ambiental, na contemporaneidade; e, por fim, Discutir algumas das mudanças econômicas em curso que podem impactar (para o bem e para o mal) a questão ambiental. FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 3 Assim, na Unidade I Analisa-se a maneira pela qual o processo de globalização interfere no meio ambiente. Como a economia global atinge o meio ambiente? De que maneira as políticas globais (como, por exemplo, aquelas ligadas à abertura econômica), mudanças sociais, culturais, provocadas pelo processo de globalização, impactam o meio ambiente? Na unidade II, busca-se caracterizar o meio ambiente. Quais são os principais desequilíbrios ambientais globais que tem afetado os ecossistemas do mundo? Como cada um destes desequilíbrios ambientais está sendo enfrentado pelas autoridades mundiais (ONU)? Na Unidade III, busca-se entender os conceitos básicos da educação ambiental, na contemporaneidade. E, por fim, na Unidade IV busca-se discutir algumas das mudanças econômicas estruturais em curso que podem impactar (para o bem e para o mal) na questão ambiental. Foram acrescentadas, ainda, ao longo do texto, chamadas denominadas “Leia Mais” e “Veja mais”, composto por textos, artigos, etc., ou vídeos (respectivamente), disponíveis nas redes sociais, com o propósito de sugerir à leitora e ao leitor outras perspectivas sobre o tema tratado neste material. Boa leitura! FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 4 Unidade I. O fenômeno da Globalização e sua interferência no meio ambiente Tem sido lugar corrente definir a globalização como um fenômeno associado à universalização do progresso técnico e do acesso a novos mercados. Segundo essa percepção comumente divulgada pela imprensa as inovações no campo das comunicações permitiram o encurtamento das distâncias facilitando os negócios que passaram a ser concretizados em tempo real em qualquer parte do mundo. Esse aumento da comunicação teria estimulado também a se ampliar o conhecimento, que cada vez mais disseminado, teria retirado os países em desenvolvimento do isolamento. No mundo dos negócios, as fronteiras dos países teriam se tornado apenas referências geográficas e políticas, frente às ações das empresas transnacionais e multiculturais. Para completar, segundo os apologistas da globalização, o avanço no campo das comunicações teria facilitado as atuações das grandes empresas em qualquer parte do mundo onde fosse possível produzir e disseminar o progresso técnico de modo a beneficiar a todos indistintamente. Assim, a grande empresa transnacional faria parte do mundo e não de um território específico, conforme os ensinamentos dos gurus do marketing de negócios. No entanto, segundo Batista Jr (2000), o processo de internacionalização das últimas décadas não é nem tão novo nem abrangente como sugerem os “arautos” da globalização. Mas, o termo como ideologia cumpre bem ao seguinte propósito: Um dos efeitos práticos da mitologia da “globalização”, em especial da ideia de que estamos submetidos à ação de forças econômicas globais incontroláveis, é paralisar as iniciativas nacionais que passam a ser rotuladas como ineficazes, sem maior discussão. A mensagem central é que as políticas nacionais têm de se curvar aos imperativos da “nova economia global”. Qualquer desvio em relação aos supostos consensos da ‘globalização’ é imediatamente tachado de inviável em face do julgamento e das sanções dos mercados internacionais, vistos como todo-poderosos (p. 38). FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 5 Dentre as falsas novidades da globalização, Batista Jr destaca: O grau de internacionalização econômica observado nas últimas décadas tem precedente histórico; no período anterior à I Guerra mundial (a participação do comércio exterior na produção mundial só se igualou ao nível de 1913 nos anos 1970). No caso dos países desenvolvidos a relação entre exportações de mercadorias e o PIB era de 12,9% entre 1912-14; entre 1991-93, a participação das exportações de bens no PIB era de 14,3%, apenas um pouco maior do que a de 1912-14. Nas décadas anteriores à Primeira Guerra Mundial ocorreu uma revolução tecnológica em transportes e telecomunicações, que favoreceu a expansão dos fluxos internacionais (de mercadorias e mão de obra); entre 1870 e 1914 cerca de 36 milhões de pessoas deixaram a Europa. Estima-se que a emigração da China e Índia foi ainda maior. Diversos estudos sugerem que a tão comentada mobilidade internacional do capital desde os anos 1970 é menor, em muitos aspectos, do que a que se observa antes de 1914. No final do século XIX e início do século XX, os fluxos internacionais líquidos de capitais correspondiam a uma parcela consideravelmente maior da poupança mundial do que nos anos recentes. Por volta de 1913 a exportação líquida de capitais da Grã-Bretanha chegou ao ápice de 9% da renda nacional. Em contraste, nas décadas finais de século XX, poucos países registraram exportação ou importação líquida de capitais superior a 3% do PIB porperíodos longos – Japão e Alemanha, os dois maiores exportadores de capitais nos anos 80, chegaram a um máximo de 4 a 5% do PIB (BATISTA JR, 2000: 38-51). A crítica de Batista Jr, dirigida aos defensores da integração subordinada à economia internacional, se dá pelo fato de que este considera o conceito como uma ideologia, que “constitui um reforço considerável e falsamente moderno para a arraigada subserviência de muitos setores das camadas dirigentes do país (inclusive uma burocracia apátrida) sempre prontos a atuar como prepostos dos interesses internacionais dominantes” (p.5). A “globalização” funcionaria, portanto, como pretexto para o reforço de algumas posições tradicionais das elites locais. Ao contrário do que sugere o fatalismo associado à ideologia da globalização, o desempenho das economias e o raio de manobras dos governos continuam a depender crucialmente de escolhas nacionais (BATISTA JR, 2000: 52). Outro autor, José Luiz Fiori, corrobora com as afirmações de Batista Jr quanto ao aspecto ideológico e define como “novo pensamento vulgar” que define a globalização como resultante exclusiva das forças de mercado. Se por FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 6 um lado tem ocorrido transformações no plano da concorrência intercapitalista e do progresso tecnológico, por outro, há que se levar em conta, simultaneamente, a oligopolização e financeirização do mercado, as mudanças nas relações sociais de poder e a intensificação da competição interestatal – processos que se aceleraram e mudam conjuntamente de direção a partir dos anos 1970, tais como: Internacionalização (“globalização”) das finanças viabilizada pelas políticas liberais de desregulamentação de mercados, iniciada nos EUA e Inglaterra, e alavancada por taxas cambiais flutuantes. A “globalização” só é global do ponto de vista das finanças que passaram a operar num ‘espaço mundial’ hierarquizado a partir do sistema financeiro norte-americano... que é seguido pelos demais países industrializados... A “pré-história” destas finanças privadas e globalizadas ocorreu nos anos 1960 e foi obra inicial do governo britânico ao autorizar um mercado paralelo e autônomo com relação aos sistemas financeiros nacionais (o euromercado de dólares). Para lá foram canalizados os capitais norte-americanos que começavam a “fugir” das baixas taxas de lucros e das regulações internas do seu país de origem. Foi deste casamento que nasceu o embrião do (novo) espaço financeiro mundial – que se afirmará a partir da decisão política de suspensão do padrão dólar e introdução do sistema de taxas flexíveis de câmbio. Logo o processo de “globalização”, tal qual ficou conhecido nos anos finais da década de 1980, não pode ser considerado como um processo ‘natural’ do capitalismo; pois, foi estimulado pelos governos dos países centrais. Que adotaram políticas econômicas que consolidaram esse processo de abertura econômica global. Segundo Celso Furtado (1983:106-7) a transnacionalização irradiou-se inicialmente dos EUA, primeiramente na direção dos demais países capitalistas de industrialização avançada (Alemanha Ocidental e Japão); (Em 1967, 69% dos IDEs, no exterior estavam aplicados nesta “tríade” de países; em 1975, 78% destes investimentos eram realizados nos países centrais). Das aproximadamente 7.000 filiais de empresas norte-americanas instaladas no exterior, quase 70% delas o foram em países capitalistas industrializados. FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 7 Nos anos 1979-1980 os EUA decidem pela: Revalorização da moeda. Fim do controle do movimento de capitais (com a liberação da taxa de juros). Neste momento em que os governos passam a financiar os seus déficits colocando títulos da dívida pública nos mercados financeiros globais e transformando-se em reféns da “ditadura dos credores”. Na mesma década a liberação dos mercados de ações decidida pelo governo inglês, em 1986 e seguida pelos demais países industrializados. Numa quarta etapa, nos anos 1990, o antigo mundo socialista e a América Latina, e outros “mercados emergentes”, são incorporados ao mundo das finanças desreguladas e globalizadas. É a hora em que se universaliza a revolução neoliberal (FIORI, 1998:89-92). Maria da Conceição Tavares é taxativa ao se referir a este processo global: segundo ela “é um qualificativo vago”. A partir daí muitos aderem felizes ‘à modernidade’ e passam a discutir com afinco uma melhor ‘inserção internacional’ para o país. (...) de acordo com a doutrina neoliberal, continuaria a depender da estabilidade e da liberdade de mercados, sobretudo o de capitais que nos permitiriam a atrai ‘poupança’ suficiente para complementar o investimento doméstico e aumentar a eficiência de nossa economia. Internamente haver-se-ia de agregar apenas políticas sociais focalizadas, já que o crescimento se seguiria como uma decorrência da abertura e da estabilização, desde que cumpríssemos, bem comportados, às regras do jogo (TAVARES & BELLUZZO, 2002:149). Segundo Maria da Conceição Tavares e José Luís Fiori (“O poder do dinheiro: uma economia política da globalização”) a política do dólar forte está contida dentro de um contexto histórico específico: de retomada da hegemonia norte-americana durante a década de 1970. E este fenômeno não se limita à valorização do dólar, em si (entre 1979-1989), mas: FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 8 a) Na sua capacidade de reenquadramento econômico, financeiro e político-ideológico de seus parceiros e adversários. b) Consolidação de uma nova divisão internacional do trabalho em que os EUA passaram a condição de potência verdadeiramente cêntrica capaz de reordenar a economia mundial, com base num novo tipo de transnacionalização da sua própria economia nacional (1997:29). Vale observar que essa nova divisão internacional do trabalho mais evidente a partir do denominado Consenso de Washington, em que - por meio de uma série de reuniões [ocorridas em 1989] entre dirigentes do FMI, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Tesouro dos EUA, além de políticos e economistas latino-americanos - se reafirmaram os princípios neoliberais, tais como os preconizados pelo governo norte-americano [Reagan]. Em suas linhas gerais o “Consenso” passa a ser estruturado nas seguintes bases: 1) Disciplina fiscal – [defesa do superávit primário] a partir do diagnóstico monetarista, que aponta o excessivo déficit público como causa fundamental do desequilíbrio macroeconômico. 2) Racionalização dos gastos públicos – Pelo fato de o governo “gastar mal”, deve-se limitar os investimentos às áreas sociais e infraestrutura. 3) Reforma tributária – Ampliar a base de contribuintes, visando aumentar a arrecadação. 4) Liberalização financeira – Alterar a legislação de forma a atrair a poupança estrangeira; neste ponto incluem-se as privatizações e a supressão dos controles sobre a movimentação do capital. 5) Reforma cambial – Câmbio [flutuante] adequado às necessidades do comércio internacional. 6) Abertura comercial – Supressão das barreiras não tarifárias aos países estrangeiros e redução das alíquotas de importação de modo a estimular a concorrência e elevar a produtividade geral da economia local. 7) Abertura ao investimento direto estrangeiro (IDE) – supressão de qualquer tipo de restrição ao IDE. Igualdade de status entre empresas nacionais e estrangeiras além da eliminação de monopólios públicos e de outras reservas de mercado. 8) Privatização – Transferência das empresas públicas para o setor privado (que possui melhor capacidade gerencial); o saldo das vendas das estatais deve ser empregado no abatimento da dívida pública. FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA:ECOPEDAGOGIA 9 9) Desregulamentação – Remoção de qualquer tipo de “cartório” que privilegie setores específicos. 10) Respeito à propriedade intelectual – Adoção de uma Lei de Patente que assegure o direito dos inovadores. Vale lembrar que, na América Latina, tais políticas liberalizantes não foram implantadas apenas no Brasil. Algo similar ocorreu na Argentina, com Menen; no México, com Carlos Salinas de Gortari; no Peru, com Alberto Fugimori; na Bolívia, com Gonçalo Sanches de Lozada; na Venezuela, com Carlos Andrés Perez. Collor foi, assim, apenas mais um governante a fazer parte desta “onda” liberalizante. 1.1 Globalização e meio ambiente Diversas são as mudanças pelas quais passa o planeta. Desde a perda de biodiversidade, extinção de espécies, desaparecimento de manguezais e redução dos níveis da camada de ozônio, entre tantas outras, que compõem as mudanças ambientais globais. De acordo com Almeida (2010) tais alterações no ambiente físico e biogeoquímico, que incluem o solo, os oceanos e a atmosfera, são causadas tanto por fenômenos naturais como também induzidas por atividades humanas como o desmatamento, o consumo de combustíveis fósseis, urbanização, uso da terra, atividade agrícola intensiva, extração de água doce, sobre-exploração da pesca e produção de resíduos. Somam-se àquelas causas: as alterações climáticas, mudanças em sistemas hidrológicos e degradação do solo, cujos efeitos são sentidos em muitas atividades como, por exemplo, a produção de alimentos. Ao mesmo tempo, mudanças radicais nos padrões de produção e consumo, interdependência financeira e comercial, privatização de recursos naturais e avanço contínuo das telecomunicações são algumas das muitas características do processo de globalização. A globalização, portanto, tem impactos sobre praticamente FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 10 todos os domínios da vida, com efeitos sobre as dimensões culturais, econômicas, políticas e ambientais do planeta. De acordo com Barcellos (et al, 2009), as mudanças climáticas vem sendo apontadas por especialistas desde o final do século XIX; em particular, pelo pesquisador sueco Svante Arrherius, que levantara a probabilidade de aumento de temperatura devido às emissões de dióxido de carbono. A partir da década de 1950 a relação entre aquecimento global estimulado pela ação humana, passou a ganhar peso. No entanto, somente por volta década de 1980 é que se verifica o aumento da preocupação dos pesquisadores ligados a questões ambientais com o impacto dessas mudanças sobre ecossistemas. Na década seguinte, surgem os primeiros modelos que permitiram explicar a variação climática ocorrida ao longo do século, avaliar a contribuição de componentes naturais (vulcanismo, alterações da órbita da Terra, explosões solares, etc.) e as causas antropogênicas, segundo as quais se constatam que os humanos são responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa, desmatamento e queimadas, destruição de ecossistemas, etc. O primeiro relatório global sobre as mudanças climáticas e a saúde foi publicado pela OMS em 1990. Durante a ECO-92, foi instalada a convenção sobre mudanças climáticas, junto com as convenções sobre diversidade biológica e a desertificação. Observa-se, portanto, especialmente a partir da década de 1950 ao aumento do impacto ambiental em nível global; considerando-se como impacto ambiental qualquer modificação causada ao meio ambiente que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização (Norma ISO 14001). Vale observar que, este conceito refere-se apenas aos efeitos da ação humana sobre o meio ambiente. A Chuva ácida pode ser considerada como um fenômeno típico de impacto ambiental: Devido à queima de carvão e de combustíveis fósseis são lançados toneladas de poluentes industriais [enxofre FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 11 (SO2) e de nitrogênio (NO2)] na atmosfera. Ao caírem nas superfícies, alteram a composição química do solo e das águas, atingem as cadeias alimentares, destroem florestas e lavouras, atacam estruturas metálicas, monumentos e edificações. Como a economia global está estruturada por uma grande rede composta por fluxos e pontos diferentes, integrando os mercados em escala mundial, demandará crescente aumento da produção. Este aumento da produção, estimulado pelo aumento dos fluxos de comércio, acaba por estimular a superexploração dos recursos do planeta, aumentando os impactos ambientais. 1.2 Como a economia global atinge o meio ambiente? Atualmente, mais de 50% da população mundial vive em cidades. Isso quer dizer que aproximadamente 3,4 bilhões de pessoas se concentram em áreas urbanas e esse percentual pode chegar a 60% em 2030. A maior parte desse crescimento ocorrerá em países em desenvolvimento. No Brasil, mais de 80% dos brasileiros vivem em áreas urbanas e o acelerado crescimento urbano tem criado espaços fragmentados com ampla segregação espacial, agravando a desigualdade social e a degradação ambiental. A pressão causada pelo impacto da economia global pode ser sentido quando se observa os diversos problemas ambientais sofridos pelas “cidades globais”; aquelas onde estão localizadas as sedes de empresas multinacionais, bolsas de valores, etc. E, são nessas cidades globais em que estão concentradas as maiores riquezas do planeta; bem como os problemas relativos aos impactos ambientais. Veja mais: Vídeo: “Problemas Ambientais Globais e a Industrialização”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8eh3opZcFfE>. FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 12 O impacto ambiental, no entanto, não ocorre de modo uniforme, pois guarda relação com o tamanho das economias nacionais e a maneira como elas produzem mercadorias. Dentre as principais economias globais, a brasileira é responsável por cerca de 3% do PIB nominal global, liderado por Estados Unidos (23,%) e China (14%). Enquanto no Brasil e EUA são dominados pelo setor de serviços, a China ainda tem uma participação muito central da indústria. Fonte: HowMuch.net (site de informações de custos). Apud. Revista Exame.com Segundo o Grupo de Pesquisa em Mudanças Climáticas do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do INPE e a Universidade de São Paulo (USP), as megacidades de cada um dos países centrais que atraem milhões de pessoas que, ao consumirem em grande escala, potencializam o impacto ambiental. Acrescente-se ainda que as variações do clima causadas pela forma de apropriação dos recursos naturais e pela degradação ambiental provocam impactos cada vez mais acentuados. FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 13 Em geral, significativas transformações no clima local são geradas pelo modo como essas áreas urbanas se desenvolvem, através de intervenções desconexas com intensa verticalização, compactação e impermeabilização do solo, supressão de vegetação e cursos d’água. Considerando o acelerado processo de expansão urbana e o atraso na implantação de infraestrutura adequada ao ritmo de crescimento das cidades, estas não se encontram preparadas para os efeitos das mudanças climáticas. Esse é o caso da Região Metropolitana de São Paulo, onde as fontes de energias fósseis (petróleo, basicamente) são fartamente utilizadas, o que parecem contribuir ainda mais com as mudanças no clima. Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), são realizadas mais de 30,5 milhões viagens por dia, constituídas por 12 milhões de transportes coletivos e 8,1 milhões de transportes individuais. Nas ruas, praças e avenidas da capital, circulam em torno de três milhões de veículos por dia. As indústrias e os veículos são responsáveis pelo lançamento diário de6.575 toneladas de poluentes atmosféricos. Isso equivale a 2.400.000 t/ano. Atualmente, os veículos automotores são responsáveis por 40% das emissões de particulados e 31% do dióxido de enxofre (SO2), enquanto as indústrias são responsáveis pelos outros 10% de material particulado e 67% das emissões de dióxido de enxofre (SO2). A densa urbanização constitui importante fonte de calor. As partes mais densas da Região Metropolitana costumam se apresentar como as regiões mais quentes; a temperatura diminui à medida que a densidade urbana decresce. Os poluentes também afetam o balanço radiativo, em especial porque o particulado é composto por carbono e há presença significativa de ozônio (O3), dióxido de carbono (CO2) etc. Ainda de acordo com citado Grupo de Pesquisa em Mudanças Climáticas, se houver prosseguimento do padrão histórico de expansão da Região Metropolitana de São Paulo ocorrerá aumentando dos riscos de enchentes, inundações e deslizamentos na região, atingindo cada vez mais a FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 14 população como um todo e, sobretudo, os mais pobres. Isso acontece porque essa expansão deverá se dar principalmente na periferia, em loteamentos e construções irregulares, e em áreas frágeis, como várzeas e terrenos instáveis, com grande pressão sobre os recursos naturais. Estes estudos sugerem que, entre 2070 e 2100, haverá uma elevação média na temperatura da região de 2º C a 3º C que poderá dobrar o número de dias com chuvas intensas (acima de 10 milímetros) na capital paulista (INPE, USP, UNICAMP, UNESP, 2010). E logicamente, tais impactos ambientais não se limitam apenas às regiões metropolitanas. Diversos estudos, dentre estes os da agência de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA) vem mostrando que as temperaturas dos mares vêm subindo. Segundo Edmo José Dias Campos, professor titular de oceanografia física do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, em palestra realizada durante a 62º reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), existe evidências de que as águas do Atlântico Sul estão mais quentes, o que aumenta a possibilidade de furacões no Brasil. Campos, que é um dos autores do capítulo sobre oceanos do próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climática (IPCC - WG1 – AR5), explica em entrevista como será possível prever e adaptar-se ao aumento do nível dos mares. 1.2.1 Dez lugares do mundo que podem ser engolidos pelo mar Segundo a revista NATIONAL GEOGRAPHIC (e revista Exame, Disponível em “http://exame.abril.com.br/mundo/10-lugares-do-mundo-que-podem-ser- engolidos-pelo-mar/”) existem no mundo pelo menos 10 lugares do que podem ser engolidos pelo mar. Um levantamento da ONG Co+Life, baseado no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, mostra quais são os lugares mais vulneráveis à elevação do nível do mar, em consequência do aquecimento FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 15 global e que deve subir de 0,8 até 2 metros ainda neste século. Muitos destes lugares podem ser varridos do mapa com uma elevação brusca, alguns deles têm mais de 80% de seu território abaixo do mar, a saber: 1. Ilhas Maldivas As pequenas e numerosas ilhas das Maldivas são tão belas quanto frágeis. Pelo menos 80% do arquipélago localizado no oceano Índico está apenas um metro acima do nível do mar. De acordo com o levantamento da Co+Life, uma elevação brusca das águas poderia varrer do mapa esse paraíso de praias de areia branquinha, palmeiras e atóis de corais. No último século, o nível do mar já subiu 20 centímetros em algumas partes do país. Temendo o pior, o governo local estuda comprar um novo território para o seu povo. 2. Delta do Rio Mississipi, EUA O delta do Mississippi, nos Estados Unidos, cobre uma área de 75 mil km², onde vivem cerca de 2,2 milhões de pessoas. É na cidade de Nova Orleans, castigada pelo furacão Katrina em 2005, que se concentra a maior parte da população. Localizada a meio metro abaixo do nível do mar, a região que tem na pesca uma de suas principais atividades econômicas, está sujeita a constantes enchentes. 3. Veneza, Itália Com cerca de 270 mil habitantes, e mais de 60 mil turistas por dia, Veneza carrega a fama de cidade submersa há tempos - e é daí que vem boa parte de sua fama. De acordo com pesquisadores da Scripps Institution of Oceanography da Universidade da Califórnia, San Diego, a cidade afunda a uma taxa de 2 milímetros por ano. Pode não parecer muito, mas considere que ao longo de cinco anos, a cidade desaparece mais um centímetro, e o cenário certamente se torna preocupante para gerações futuras. 4. Tuvalu Assim como as Maldivas, o pequeno conjunto de nove ilhas localizado no oceano pacífico, entre a Austrália e o Havaí, sofre as consequências do FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 16 aquecimento global. Com área de 26 km², o minúsculo Estado corre o risco de submergir diante do aumento do nível do mar. Nos últimos anos, as inundações constantes já vêm atrapalhando a produção de cultivos locais e a obtenção de água potável. 5. Roterdã, Holanda A localização ao lado do Mar do Norte gera uma série de possibilidades para negócios no porto de Rotterdam, um dos maiores do mundo. Por outro lado, representa uma luta constante contra a água, uma vez que aproximadamente um terço do país fica abaixo do nível do mar, sendo que o ponto mais baixo está quase 7 metros abaixo do nível da água. Sem uma extensa rede de barragens, diques e dunas, a Holanda seria especialmente propensa a inundações. Mas segundo cientistas, nem mesmo a sofisticação do sistema de gerenciamento de água holandês poderá dar conta de uma elevação brusca do nível do mar até o final do século. 6. Delta do Rio Nilo Na Antiguidade, o Delta do Nilo, uma planície com 160 km de comprimento e 250 km de largura, era onde se localizava o chamado Baixo Egito, a região que mais sofreu a influência do período helênico. É aí que o rio Nilo se divide em vários braços para desaguar no mar Mediterrâneo, ao norte. Hoje, a região é uma das mais ameaçadas do mundo pelo aumento do nível do mar, que, segundo previsões, pode afetar até quatro milhões de pessoas, e, destruir boa parte da produção agrícola local. 7. Rio Tâmisa, Londres A capital britânica também não está a salvo da variação do nível do mar, que vem subindo cerca de um milímetro por ano. Preocupados com a questão, a firma de arquitetura britânica Baca desenvolveu uma casa anfíbio capaz de resistir às enchentes. Primeiro projeto deste tipo a receber autorização do governo inglês, a casa de 225 metros quadrados de área está sendo construída FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 17 a apenas 10m da margem do rio Tâmisa, em Male, no condado de Buckinghamshire. 8. Bangkok, Tailândia Localizada sobre o delta do rio Chao Phraya, Bangok está, aos poucos, afundando, de 1,5 a 5 centímetros por ano. Partes da capital da Tailândia podem ficar totalmente submersas já nas próximas duas décadas. A cidade vem sofrendo com um crescimento populacional e urbano desorganizado, que se torna alvo fácil das enchentes constantes e cada vez mais intensas que assolam o país. 9. Delta do Mekong Densamente povoado, a região do Delta do Mekong, uma das mais férteis do Vietnã, pode tornar-se vítima das mudanças climáticas. Um aumento do nível do mar inundaria rapidamente as fazendas de camarões, os vilarejos e os cultivos agrícolas, que garantem trabalho e sustento para os moradores locais. Segundo as previsões mais pessimistas, até 2100, o mar engolirá 5% do território, 7% das terras agrícolas e 11% de sua população. 10. Delta do Ganges, Bangladesh Só em Bangladesh, 120 milhões de pessoas que vivemno delta do Ganges estão ameaçadas pela elevação do nível do mar. O Bangladesh é um país com poucas elevações acima do nível do mar, com grandes rios em todo seu território situado ao sul da Ásia. Os desastres naturais como inundações, ciclones tropicais, tornados e marés em rios são normais no Bangladesh todos os anos. Outras cidades importantes como Nova Iorque, Xangai, e Sidney estão entre as metrópoles em risco de ficar submersas. Estudo do instituto Climate Central indica que com um aumento de apenas 2.º na temperatura média global, várias grandes metrópoles como Xangai, Bombaim, Londres e Nova Iorque correm o risco de desaparecer. O estudo indica que o nível da água do mar continuará a subir para cobrir territórios onde vivem atualmente 280 milhões de pessoas. Com mais 4ºC, o fenómeno afetará mais de 600 milhões de FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 18 habitantes e nem as grandes metrópoles como Nova Iorque, Sidney e Rio de Janeiro vão resistir. O relatório do Climate Central, que se baseia nas projeções de subida do nível médio das águas do mar publicadas por esse instituto na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences no mês passado, foi acompanhado por imagens alteradas, criadas pelo artista gráfico Nickolay Lamm. Para criar as projeções de subida das águas foram utilizados mapas topográficos de algumas das maiores metrópoles mundiais. Durban, na África do Sul, é o exemplo perfeito de como uma inteira cidade pode desaparecer sob as águas com o aquecimento global. A imagem abaixo mostra o que podemos esperar da cidade quando o planeta for 2º ou 4º mais quente. Londres, a cosmopolita capital do Reino Unido terá graves problemas com qualquer tipo de subida de temperatura. Tanto com mais 2º C como com mais 4ºC, a cidade tornar-se-á uma nova versão de Veneza, com grandes canais de água a correr por entre os prédios e os barcos quase como única forma de circulação. Nova Iorque, por outro lado, ainda será habitável com uma subida de 2ºC, mas se a temperatura aumentar para o dobro, a cidade vai tornar-se inóspita para a circulação e talvez sobrevivência. No Rio de Janeiro, cidade com mais de 6 milhões de habitantes, o nível da água chegará à altura dos carros se o planeta aumentar 4ºC. Com mais 2ºC, não haverá grandes alterações a registar. Em termos de população, a China, país mais populoso do mundo, será a mais afetada: com 4ºC, a subida das águas afetará um território onde vivem atualmente 145 milhões de pessoas, de acordo com este estudo que não avalia a evolução demográfica, nem a construção de infraestruturas, como diques. Em Xangai, a cidade mais populosa do país, com um aumento global de 2ºC ainda existirão áreas verdes e estradas, mas os acessos e a circulação dentro da cidade serão gravemente afetados. Com mais, 4ºC apenas os grandes arranha-céus estarão acima do nível da água. Bombaim, cidade mais populosa da Índia, será parcialmente submersa pelo Oceano Índico caso a temperatura suba 2 ou 4ºC. Mais uma vez apenas os FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 19 pontos altos da cidade resistirão. Na Austrália, na cidade de Sidney, a água ocupará lugares reservados às pessoas quando o aquecimento for irreversível. Com mais 2ºC a cidade ainda conseguirá manter as principais condições de sobrevivência. Ben Strauss, um dos autores do estudo, destacou o perigo que as grandes cidades correm mesmo com as previsões mais otimistas. Mas as medidas tomadas para reduzir rápida e drasticamente as emissões de gases com efeito de estufa, que alteram o clima e persistem na atmosfera durante centenas de anos, podem fazer a diferença: "Ainda temos perante nós um vasto leque de escolhas", acrescentou o investigador. Ao mesmo tempo, o estudo da Climate Central admite que essa diferença poderá não ser o suficiente para evitar o aquecimento do globo, mas apenas para retardá-lo. Com apenas mais 2ºC, o mar ganha 4,7 metros. Com uma subida da temperatura máxima de 1,5ºC, objetivo exigido pelas nações mais vulneráveis como os pequenos Estados insulares, as águas ficarão pelos 2,9 metros e a população afetada rondará os 137 milhões de pessoas. Já a este ponto, a alteração permanente de paisagens de cidades costeiras será inevitável. Se as emissões de gases com efeito de estufa continuarem a sua progressão como têm feito até agora, levando a um aquecimento de 4ºC, o nível das águas subirá, em média, 8,9 metros, avança o estudo. Algumas cidades não vão resistir de todo à mudança. Outros países serão particularmente afetados: Bangladesh, Vietname, Indonésia, Japão, Filipinas, Egito, Tailândia, Birmânia e Holanda. Entre as principais cidades contam-se Hong Kong, Calcutá, Dacca, Jacarta, Hanói, Buenos Aires ou Tóquio. Steven Nerem, da universidade do Colorado (EUA), considerou após uma análise à metodologia do estudo existirem "alguns erros em locais", mas considerou ser "o melhor que se pode fazer com os dados públicos disponíveis". Jean-Pascal van Ypersele, do grupo internacional de peritos sobre o clima (GIEC), afirmou tratar- se de "um estudo sólido". A temperatura planetária subiu, desde a Revolução FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 20 Industrial, 0,8ºC, um ritmo inédito gerado pelos gases emitidos pelos combustíveis fósseis. A comunidade internacional fixou o objetivo de manter a temperatura abaixo dos 2ºC, porém, somente um acordo mundial poderá possibilitar um alcance desse valor. 1.2.2 Problemas Ambientais Globais e a Industrialização Vale observar que o movimento ambiental começou já há alguns séculos, na forma de resposta à industrialização. No século XIX, os poetas românticos britânicos exaltaram as belezas da natureza, enquanto o escritor americano Henry David Thoreau pregava o retorno da vida simples, regrada pelos valores implícitos na natureza. A industrialização surge como um dilema humano. Afinal, seria boa ou ruim para a humanidade? Seria mais benéfica ou mais prejudicial? E esse dilema continuou durante todo o século XX, século no qual a ação da Organização das Nações Unidas (ONU) passou a ser crescente, especialmente no período pós-Segunda Guerra Mundial, em que ocorre a expansão da industrialização no mundo. Foi neste contexto de risco de uma guerra nuclear que surgiram os receios de um novo tipo de poluição: a radiação. Durante este período da chamada “Guerra Fria” que o movimento ambientalista ganhou impulso, particularmente a partir de 1962 com a publicação do livro, “A Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, que fez um alerta sobre o uso agrícola de pesticidas químicos sintéticos. A cientista A Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, disputando a hegemonia política, econômica e militar no mundo - teve seu início logo após a Segunda Guerra Mundial (1945) e durou até a extinção da União Soviética (1991). Com o fim da Segunda Guerra Mundial o contraste entre o capitalismo e socialismo era predominante entre a política, ideologia e sistemas militares. Apesar da rivalidade e tentativa de influenciar outros países, os Estados Unidos não conflitou a União Soviética (e vice-versa) com armamentos, pois os dois países tinham em posse grande quantidade de armamento nuclear, e um conflito armado direto significaria o fim dos dois países e, possivelmente, da vida em nosso planeta. Porém ambos acabaram alimentando conflitos em outros países como, por exemplo, na Coréia e no Vietnã. Fonte: Só História. Disponível em: <http://www.sohistoria.com.br/ef2/guerrafria/>. Acessado em 30/06/2017. FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 21 defendia a necessidade de se respeitaro ecossistema em que vivemos para proteger a saúde humana e o meio ambiente; humanos e meio ambiente, segundo esta autora deveriam ser pensados dentro de uma mesma estratégia. Anos depois, em 1969, a primeira foto da Terra vista do espaço estimulou ainda mais a preocupação mundial com a saúde do Planeta. Ver pela primeira vez este “grande mar azul” em uma imensa galáxia chamou a atenção para o fato de que vivemos em uma única Terra – um ecossistema frágil e interdependente, o que estimulava a percepção de responsabilidade de se proteger a saúde e o bem-estar desse ecossistema e por consequência uma maior consciência coletiva do mundo. Com o fim da tumultuada década de 1960, seus mais altos ideais e visões começaram a ser colocados em prática. Entre estes estava a visão ambiental – agora, literalmente, um fenômeno global. Enquanto a preocupação universal sobre o uso saudável e sustentável do planeta e de seus recursos continuou a crescer, em 1972 a ONU convocou a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo (Suécia). A industrialização passou a ser considerada como um dos fatores que contribuem para a poluição do planeta. Um consenso passou a se formar em torno da ideia de que industrialização e urbanização possuem relação direta e indireta com os processos urbanização, uma vez que há uma relação mútua de fortalecimento de uma sobre a outra. Foi com os avanços e transformações proporcionados, por exemplo, pelas Revoluções Industriais na Europa que esse continente concebeu o crescimento exponencial de suas principais cidades, aquelas mais industrializadas. Ao mesmo tempo, o processo de urbanização intensifica o consumo nas cidades, o que acarreta a produção de mais mercadorias e o aumento do ritmo da atividade industrial. A industrialização é um dos principais fatores de transformação do espaço geográfico, pois interfere nos fluxos populacionais, reorganiza as atividades nos FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 22 contextos da sociedade e promove a instrumentalização das diferentes técnicas e meios técnicos, que são essenciais para as atividades humanas. A atividade industrial, por definição, corresponde ao arranjo de práticas econômicas em que o trabalho e o capital transformam matérias-primas ou produtos de base em bens de produção e consumo. Com o avanço nos sistemas de comunicação e transporte – fatores que impulsionaram a globalização –, praticamente todos os povos do mundo passaram a consumir produtos industrializados, independentemente da distância entre o seu local de produção e o local de consumo. Estabelece-se, com isso, uma rede de influências que atua em escalas que vão do local ao global. Graças ao processo de industrialização e sua ampla difusão pelo mundo, incluindo boa parte dos países subdesenvolvidos e emergentes, a urbanização também cresceu, a ponto de, segundo dados da ONU, o mundo ter se tornado, pela primeira vez, majoritariamente urbano, isto é, com a maior parte da população residindo em cidades, feito ocorrido no ano de 2010 em diante. Mas como a industrialização interfere na urbanização? É errôneo pensar que a industrialização é o único fator que condiciona o processo de urbanização. Afinal, tal fenômeno está relacionado também a outros eventos, que envolvem dinâmicas macroeconômicas, sociais e culturais, além de fatores específicos do local. No entanto, a atividade industrial exerce uma influência quase que preponderante, pois ela atua tanto no espaço das cidades, que apresentam crescimento, quanto no espaço rural, que vê uma gradativa diminuição de seu contingente populacional em termos proporcionais. No meio rural, o processo de industrialização interfere com a produção e inserção de modernos maquinários no sistema produtivo, como tratores, colheitadeiras, semeadeiras e outros. Dessa forma, boa parte da mão de obra anteriormente empregada é substituída por máquinas e técnicos qualificados FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 23 em operá-las. Como consequência, boa parte dessa população passa a residir em cidades, por isso, elas tornam-se cada vez maiores e mais povoadas. Vale lembrar que a mecanização não é o único fator responsável pelo processo de migração em massa do campo para a cidade, o que chamamos de êxodo rural, mas é um dos elementos mais importantes nesse sentido. Além disso, a industrialização das cidades faz com que elas se tornem mais atrativas em termos de migrações internas, o que provoca o aumento de seus espaços graças à maior oferta de empregos, tanto na produção fabril em si quanto no espaço da cidade, que demandará mais trabalho no setor comercial e também na prestação de serviços. Não por acaso, os primeiros países a industrializem-se foram também os primeiros a conhecer a urbanização em sua versão moderna, tornando-se territórios verdadeiramente urbano-industriais. Atualmente, esse processo vem ocorrendo em países emergentes e subdesenvolvidos, tal qual o Brasil, que passou por isso ao longo de todo o século XX. Segundo a ONU, até 2030, todas as regiões do mundo terão mais pessoas vivendo nas cidades do que no meio rural. O grande gargalo desse modelo é o crescimento acelerado das cidades, que contribui para fomentar a macrocefalia urbana, quando há o inchaço urbano, com problemas ambientais e sociais, além da ausência de infraestruturas, crescimento da periferização e do trabalho informal, excesso de poluição, entre outros problemas. Estima-se, por exemplo, que até 2020 quase 900 milhões de pessoas estarão vivendo em favelas, em condições precárias de moradia e habitação. Após a industrialização o problema da poluição que antes era restringida a alguns locais, passou a se tornar global. Essa poluição global não é só em decorrência dos gases poluentes eliminados pelas indústrias, mas também porque após a revolução industrial o capitalismo passa a ser o modelo econômico adotado pela maior parte do mundo. Com esse modelo FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 24 econômico o consumo passou a aumentar e como consequência a produção de lixo aumentou, as indústrias foram tomando o lugar da natureza, córregos foram canalizados para a passagem de asfalto, o homem passou a interferir na natureza para que o seu desenvolvimento acontecesse. A natureza passou por muitas alterações para que a indústria pudesse se desenvolver. A industrialização é um processo que serviu para o desenvolvimento urbano da população mundial, mas por ter acontecido muito rapidamente tornou-se desorganizada e trouxe alguns sérios problemas ambientais. Animais que antes moravam nas matas ficaram sem lugar para viver, pequenos vilarejos foram removidos e deram lugar a indústrias. No Brasil existe uma lei que obriga os poluidores a indenizarem os danos ambientais causados por ele ao meio ambiente, independentemente se ele tem culpa ou não. É a Lei 6.938, chamada de Política Nacional de Meio Ambiente e foi criada em 17 de janeiro de 1981. Considerando essa Lei, quem quiser construir ou aumentar a capacidade de uma indústria, deve primeiramente consultar um Órgão Ambiental para que o mesmo defina se há ou não a necessidade de uma licença ambiental para as reformas. A produção de automóveis aparece como a forma mais explícita da relação indústria-poluição. Os automóveis são os meios de locomoção mais comuns principalmente em cidades grandes com problemas comuns a grandes metrópoles, como por exemplo, o meio de transporte público inadequado. O grande número desses veículos circulando nas vias impacta diretamente no meio ambiente causando transtornos e um leque de problemas, que citaremos mais adiante. É comum a quase todas as famílias e a indústria relacionada à venda e manutenção do automóvel está em ascensão.A aquisição de um carro remete a escolha dentre vários modelos, cores, preços, potência do motor, e marca. Existem cerca de 14 montadoras instaladas no território nacional e 42 marcas de veículos. FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 25 Com a abertura de mercado para importação na década de 90, houve uma modernização na fabricação de veículos no país e trouxe junto grandes investimentos de montadoras de toda região do planeta. Atualmente, no Brasil, existem 14 montadoras de marcas diferentes, e a facilidade para se financiar um automóvel acabou realizando o sonho de carro próprio. Mas apenas com a preocupação de comercializar esses automóveis, pouco se fez em relação a infraestrutura que já não comporta tantos automóveis em suas cidades. No caso de São Paulo, nos últimos anos, teve um aumento de 64% em relação ao último ano medido. Nesse mesmo período o investimento em relação ao transporte público, que seria uma solução para o transito caótico da cidade não acompanhou esse crescimento de vendas de veículos, causando ainda mais na população a necessidade de se ter um meio de transporte independente. O aumento nos grandes centros urbanos gera alguns desconfortos no ambiente e consequentemente afeta a saúde de quem mora nesses locais. Tendo a poluição atmosférica como o principal causador das doenças respiratórias, tem se investido pouco em transporte público de maior qualidade e que possa dispersar menos agentes poluidores como trólebus, trens e metro. As políticas para este tipo de investimento é pouco perto do que as cidades crescem a cada dia, não acompanha o ritmo de seu desenvolvimento e acabando viabilizando mais ainda o transporte individual, como os carros e motos. Para agravar mais ainda, o desmatamento e a retirada de parques para fazer as vias estão em constante crescimento, hoje o que se vê na cidade é um mar de asfalto e prédios altíssimos, dificultando a dispersão dos poluentes na atmosfera e colaborando para o aumento da temperatura e o acúmulo de partículas poluidoras, principal causadora de doenças respiratórias e para agravar ainda mais, o estado tem se mostrado omisso em relação à saúde pública e o tratamento adequado a pessoas que possuem problemas FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 26 respiratórios causados pela poluição. O investimento no setor da saúde ainda é pouco perto do que se faz para que se tenha local impermeabilizado para a passagem dos automóveis. É verdade que os automóveis trazem conforto, independência e comodidade. Atualmente é quase um item básico. O automóvel faz parte do dia a dia das pessoas e é indispensável para a maioria da população. Esse meio de transporte, além de levar para qualquer lugar se tornou um item obrigatório para atividades diárias como fazer uma compra no supermercado ou levar as crianças na escola. Funciona independentemente do horário, diferentemente dos meios de transporte publico de massa que são limitados a itinerários e horários para funcionamento. O automóvel é também um objeto de status social. Existe no mundo automóvel com preço comparável a de uma luxuosa mansão. Em alguns locais do mundo são feitos por mão de obra quase 100% artesanal. Conforto, status, luxo. Realmente são bons motivos para o número alto de veículos transitando. Na cidade de São Paulo, segundo o Departamento Estadual de Transito – Detran, são 5.242.103 veículos, cerca de um automóvel para cada 2 habitantes. “O carro é um luxo cujo verdadeiro preço tem sido subestimado” (TEUFEL, 1994). Infelizmente, um item tão necessário ora cobiçado e hoje acessível a muitos se tornou vilão nas grandes cidades com impactos “inesperados” como poluição, congestionamentos, acidentes, contribuição para aumento do efeito estufa pela excessiva emissão de dióxido de carbono (CO2), problemas de saúde, alta cobrança de impostos, transtornos em reformas e construção de vias, impermeabilização do solo, impacto visual, geração de resíduos, contribuição para práticas criminais, mortes em acidentes, uso indevido do solo, poluição sonora em alguns casos e utilização de recursos não renováveis como o petróleo. Nas grandes cidades como São Paulo o problema da poluição do ar tem- se constituído numa das mais graves ameaças à qualidade de vida de seus FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 27 habitantes. Os veículos automotores são os principais causadores dessa poluição em todo mundo. As emissões causadas por veículos carregam diversas substâncias tóxicas que, em contato com o sistema respiratório, podem produzir vários efeitos negativos sobre a saúde (CETESB). O tráfego intenso mudou drasticamente a rotina da população. Programas e compromissos sofreram severas restrições e limitações, já que em determinados dias e horários é impossível transitar e alguns locais da cidade. Em horários de pico as principais avenidas da cidade param. Ninguém entra ninguém sai. Este é um forte motivo para o paulistano levar fama de apressado e estressado. A população acostumada com essa realidade se adaptou na medida do possível evitando trajetos morosos. A saúde é afetada diretamente por problemas que vão de respiratórios, devida às emissões de CO produzidas pelos veículos, ao stress. Em épocas de estiagem os índices de umidade se mostram abaixo do “aceitável”. A quase total impermeabilização do solo nas cidades também se dá devido ao intenso número de veículos nas ruas e tendenciosamente se espalhou por toda a cidade. A impermeabilização também é um dos principais causadores de alagamentos e enchentes. Há quem diga que a construção de novas vias para o trânsito de veículos não é a solução já que impulsionaria os motoristas utilizarem mais seu carro. Os inúmeros impostos, multas, e pedágios arrecadados são mal distribuídos em uma cidade mal planejada que teve seu crescimento desenfreado, que é o caso da cidade de São Paulo. Com relação aos resíduos gerados, o Instituto de Meio Ambiente e Projeções de Heidelberg, na Alemanha, fez um balanço ecológico médio de um automóvel, desde sua gestação ao desmonte. No caso dos veículos, espanta ver que um único carro consome em toda sua vida energia suficiente para suprir durante seis anos, as necessidades de um alemão que não tem automóvel, incluindo-se aí eletricidade, transporte e calefação para enfrentar o rigoroso inverno europeu. Um indiano precisaria de FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 28 nada menos que 76 anos para consumir a mesma energia. Produzir um veículo significa, antes de mais nada, um enorme dispêndio de energia, que se traduz, por sua vez, na inevitável contaminação do meio ambiente. Mas não é só: tudo o que envolve a fabricação, uso e desgaste do novo carro gera resíduos de todo tipo, o que amplia a carga pesada que se deposita constantemente sobre os ombros da natureza. Não há dúvida que esse processo sai caro, em termos econômicos. 1.3 Globalização, mudanças sociais, culturais e meio ambiente. Conforme vem sendo amplamente divulgado pelas diversas mídias, ao longo das últimas décadas vem ocorrendo um conjunto de mudanças no meio ambiente, em âmbito global. Segundo um estudo canadense (liderado por Katarzyna Tokarska, da Universidade de Victoria, no Canadá), publicado no site do periódico Nature Climate Change, a Terra poderá esquentar, na média, nove graus Celsius e meio nos próximos 250 a 300 anos caso a humanidade resolva se utilizar de todas as reservas de combustíveis fósseis existentes. O Ártico, por ser uma região mais sensível, esquentaria até 19,5 graus centígrados. E o centro-sul do Brasil, por exemplo, que já aqueceu mais do que o resto do mundo, poderia chegar quase lá (OBSERVATÓRIO DO CLIMA, 2016). Tais mudanças, por sua vez, vêm gerando profundoprocesso de mudanças sociais com implicações diretas sobre o atual funcionamento da economia, do desenvolvimento (e por consequência, da geração de empregos) no mundo. Segundo o citado estudo: Um mundo de 9,5oC não teria gelo em lugar nenhum. A Antártida e a Groenlândia inteiras derreteriam, elevando o nível global dos mares em pelo menos 60 metros. Temperaturas extremas e mudanças nos oceanos causariam extinções em massa. Já com 4oC de média alguns estudos têm sugerido que vários milhões de pessoas poderiam morrer em regiões como o centro-sul do Brasil, que neste século pode ficar 8oC mais quente (idem). FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 29 Portanto, este fenômeno climático global que acaba por gerar a degradação dos solos, da água e do ar e seus impactos sobre as sociedades contemporâneas acabara por entrar na agenda política global tornando-se objeto de atenção de governos, das organizações não governamentais e da sociedade de modo geral; o que acabou por pressionar à própria ONU para uma tomada de posição incisiva a respeito do assunto, nas últimas décadas. Conforme ocorrido na 21ª Conferência do Clima (COP 21) realizada em dezembro de 2015, em Paris, as autoridades dos diversos países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) vêm buscando assinar (e fazer valer) um novo acordo para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, com o propósito de se diminuir o aquecimento global com o objetivo de se limitar o aumento da temperatura global em 2ºC até 2100. Vale lembrar que esta Conferência não se trata de uma iniciativa isolada, pois é parte de um enorme esforço que vem sendo realizado no âmbito da ONU desde a Convenção Rio- 92, realizada no Brasil. Assim, Felizmente, por um lado, a economia política global parece estar nos desviando dessa trajetória. O consumo de carvão mineral parece ter chegado ao pico em países como EUA e China ao mesmo tempo em que fontes renováveis estão cada vez mais baratas e são adotadas em escala cada vez maior. As promessas feitas pelos países no Acordo de Paris propõem algum grau de redução de emissões: mesmo que insuficiente para garantir a estabilização da temperatura em menos de 2oC, elas permitem afastar cenários de 4oC ou mais (OBSERVATÓRIO DO CLIMA, 2016). Não por acaso se assiste a profundas mudanças estruturais que vem ocorrendo na economia mundial – que começam a modificar aquela (economia) estruturada ao longo do século XX, baseada no consumo de energias fósseis. Em linhas gerais, estas mudanças, que visam substituir o consumo de combustíveis fósseis por energias renováveis, poderiam ser apontadas como parte de um amplo conjunto de ações que vem construindo, em âmbito global, a uma nova prática econômica, denominada genericamente por Economia Verde – na qual prevalecem processos FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 30 produtivos (industriais, comerciais, agrícolas e de serviços) que se aplicados em um determinado país, cidade, empresa, comunidade, contribuirá para se gerar desenvolvimento sustentável nos aspectos ambiental e social. Prevaleceria como princípios da Economia Verde: A redução do uso de combustíveis fósseis (gasolina, carvão, diesel, etc.) e aumento do uso de fontes limpas e renováveis de energia; Eficiência na utilização de recursos naturais; Práticas e processos que visam à inclusão social e erradicação da pobreza; Investimento e valorização da agricultura verde; Tratamento adequado do lixo com sistemas eficientes de reciclagem; Qualidade e eficiência nos sistemas de mobilidade urbana. Segundo Rovere (2012: 102-105), a economia brasileira, por exemplo, participa deste processo de substituição de fonte energética fósseis por não fósseis, por meio de diversas ações, dentre elas: a produção de energia por meio de biomassa (florestas plantadas com espécies de crescimento rápido (eucalipto e pinus) para a produção de carvão vegetal); produção e o uso automotivo do bioetanol de cana-de-açúcar, uma realidade comercial no país desde 1975; criação do Programa Nacional de Biodiesel que permite a adição de 5% de biodiesel a todo o óleo diesel consumido no país, graças ao expressivo aumento da produção de biodiesel (fabricado principalmente a partir de óleo de soja); aproveitamento mais eficiente do bagaço de cana, subproduto das usinas de açúcar e álcool com a crescente utilização na cogeração de energia elétrica injetada na rede, com um potencial de 10 mil MW em 2012; o Brasil se situa, ainda, em segundo lugar, em nível mundial, quanto à energia solar. Em média, sobre uma superfície horizontal do território nacional, incidem entre 1.500 e 2.000 kWh/m2 por ano, variando conforme o local do país. Isso significa que, tomando-se uma eficiência média de conversão de 6% da energia solar em eletricidade por meio de células fotovoltaicas. Quanto a energia eólica, o país tem um potencial estimado de 143,5 mil MW, para ventos médios anuais iguais ou superiores a 7,0 m/s, possibilitando uma geração anual estimada de 272,2 bilhões de kWh/ano; Quanto à energia nuclear, o Brasil dispõe de dois reatores PWR em operação, localizados em Angra dos Reis, no litoral do Estado do Rio de Janeiro: Angra I (626 MW), importado turn-key (fabricado pela Westinghouse), e Angra 2 (1.245 MW), o primeiro reator construído no país, no âmbito de um acordo Consumo, Consumismo e seus impactos no Meio Ambiente Por Tais Queiroz Disponível em: < http://www.recicloteca.org.br/consumo/consumo-e-meio-ambiente/>. Acesso em 20/06/2016. O ato de consumo em si não é um problema. O consumo é necessário à vida e à sobrevivência de toda e qualquer espécie. Para respirar precisamos consumir o ar; para nos mantermos hidratados, temos que consumir água; para crescermos e nos mantermos saudáveis, necessitamos de alimentos. O mesmo acontece com outras espécies que compartilham este planeta conosco. São atos naturais que sempre existiram e (nos mantém vivos) que precisamos para nos mantermos vivos. O problema é quando o consumo de bens e serviços acontece de forma exagerada, levando à exploração excessiva dos recursos naturais e interferindo no equilíbrio estabelecido do planeta. Relatórios de respeitadas organizações ambientais defendem que nós, seres humanos, já estamos consumindo mais do que a capacidade do planeta de se regenerar, alterando o equilíbrio da Terra. Segundo o relatório Planeta Vivo (WWF, 2008), a população mundial já consome 30% a mais do que o planeta consegue repor. Outro relatório, o Estado do Mundo 2010, do World Watch Institute(WWI) coloca que hoje extraímos anualmente 60 bilhões de toneladas de recursos naturais. Isto representa 50% a mais do que extraíamos 30 anos atrás. É verdade que a população mundial cresceu muito desde sua existência. No século XVIII (durante a revolução industrial) éramos cerca de 750 milhões de habitantes. Hoje, somos 6,8 bilhões de seres humanos na Terra. E segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial deve chegar a 8,9 bilhões de habitantes até 2050. Isso naturalmente proporciona um aumento no consumo dos recursos do planeta. No entanto, esse consumo é extremamente desigual. Enquanto uns consomem muito mais do que suas necessidades básicas, outros sofrem com a falta de recursos. De acordo com o mesmo relatório do WWI (2010), um estudo do ecologista Stephen Pacala, da Universidade de Princeton, sobre a emissão de gás carbônico na atmosfera, revela que as 500 milhões de pessoas mais ricas do planeta (7% da população mundial) são responsáveis pela emissão de 50% do gás carbônico, enquanto três bilhões de pessoas mais pobres são responsáveis por apenas 6% das emissões deste gás. Neste caso, o gás carbônico pode ser usado como referência para expressar a produção e o consumo de bens e serviços.Assim, os números mostram que, embora a população mundial tenha crescido muito, a desigualdade social e o consumo excessivo de uma pequena parcela da população são os principais agravantes. FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 32 Brasil-Alemanha. Embora, a energia nuclear fornece apenas 1,5% da energia elétrica consumida no país. Outras fontes e tecnologias energéticas alternativas se destacam, no Brasil. Entre as mais promissoras, já com projetos de Leia Mais: Doenças da Globalização Fonte: REVISTA RADIS, 01/02/2015. Disponível em: <http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista- radis/149/reportagens/doencas-da-globalizacao Acesso em 20/06/2016. O mundo é uma bola. Se reparar bem, parece miúdo como uma bola de gude. Pelo menos é esta a sensação em tempos de globalização, quando o deslocamento de pessoas, capital e mercadoria por diversos pontos do planeta ocorre com extrema facilidade. Esse fator, típico da sociedade contemporânea, também faz com que alguns vírus viajem com velocidade acelerada contribuindo para a disseminação de doenças e para o reaparecimento de outras inúmeras enfermidades – algumas ressurgem sob formas mais letais; outras se renovam tornando-se imunes aos medicamentos. Em 2003, uma síndrome respiratória aguda grave, mais conhecida como Sars, cujo primeiro caso foi registrado na China, provocou pânico mundial espalhando-se por outros países da Ásia e chegando ao Canadá em um período de sete meses. Em 2006, na Indonésia, foi a vez da gripe aviária fazer soar o sinal amarelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a possibilidade de uma pandemia da doença, depois que uma mulher infectada por contato com aves repassou o vírus a seis parentes. Três anos depois, no México, foi registrada a ocorrência de um novo tipo de gripe, causada pelo vírus Influenza tipo A/H1N1, inicialmente conhecida como gripe suína, que rapidamente se alastrou por Estados Unidos, Canadá e Espanha, levando a OMS a declarar essas incidências como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). Recentemente, a epidemia de ebola, na África, tem levado susto, precaução e também preconceito a diversas regiões do planeta, inclusive ao Brasil. A cada novo alerta de risco de uma pandemia provocada pelas chamadas “doenças globalizadas”, são impostas barreiras ao trânsito de pessoas. Medidas em portos e aeroportos são comuns e, até certo ponto, necessárias. Mas, de acordo com a Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS), órgão do Ministério da Saúde responsável, em âmbito nacional, por todas as ações de vigilância, prevenção e controle de doenças transmissíveis, essas medidas por si só não garantem que o país esteja protegido. Isso porque, durante o período de incubação da doença, é possível viajar o mundo inteiro, mais de uma vez, como explica o médico epidemiologista e sanitarista Jarbas Vasconcelos, titular da SVS. “E no período de incubação, você não tem mecanismos absolutamente eficazes pra detectar a presença ou não de determinado vírus”, diz Jarbas.(...) FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 33 demonstração, podem ser destacadas as células de combustível, viabilizando o uso do hidrogênio como vetor energético (por exemplo, em motores de ônibus urbanos), e o aproveitamento da energia das ondas. Ainda em estágio de pesquisa e desenvolvimento, pode-se mencionar o aperfeiçoamento das tecnologias atuais de combustão, gaseificação e liquefação de carvão e outras biomassas, o projeto de reatores nucleares intrinsecamente seguros, a concepção da fusão nuclear e o progresso das tecnologias de aproveitamento das diversas outras formas de energia dos oceanos: marés, correntes, gradientes de salinidade e térmico entre a superfície e o fundo do mar. De onde se conclui que em um prazo não muito distante, num contexto de expansão da economia verde, diversas serão as aplicações dessas tecnologias e fontes de energia que acabarão por modificar profundamente a maneira de organização da produção com enormes impactos sociais sobre a organização do espaço socioeconômico global. Uma das consequências desse processo é que são crescentes as desigualdades entre os países. Tem se ampliado a disparidade econômica, tecnológica e social entre os países do planeta. Assim, apesar do crescimento mundial na produção, o mesmo não acontece com o consumo, uma vez que esse cresce muito mais nos países desenvolvidos ou em populações elitizadas de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, ou seja, em uma restrita parcela dos habitantes do planeta. O grupo de países mais ricos do mundo detém, juntos, cerca de 25% da população mundial, porém são responsáveis por cerca de 80% dos recursos extraídos da natureza. E esse formato de consumo desigual tem implicado em enormes desequilíbrios ambientais, conforme se pode ler em matéria (Consumo, Consumismo e seus impactos no Meio Ambiente) destacada, acima. Vale repetir, que essa quantidade monumental de lixo, originária deste consumo global crescente, provoca um grande impacto socioambiental, FACULDADE CAMPOS ELÍSEOS | CURSO DE PEDAGOGIA | DISCIPLINA: ECOPEDAGOGIA 34 especialmente se considerarmos que a maioria das cidades (não apenas brasileiras, mas, em diversas outras partes do mundo) não possui destinação adequada par a montanha de lixo que se produz diariamente no Planeta. Assim, em todo o globo se assiste a uma situação de agravamento dos impactos ambientais causados pelo lixo (logo, pelas ações humanas), dentre estes: problemas a saúde pública; poluição da água; comprometimento de recursos hídricos; poluição do ar; poluição do lençol freático (solo)- ocasionando na poluição de poços artesianos, resultando em endemias e também no desenvolvimento de surtos epidêmicos, proliferação de vetores de doenças (ratos, moscas, baratas, mosquitos entre outros). Essa conjuntura, somada aos fluxos migratórios e às mudanças ambientais tem sido alguns dos fatores que aumentam a disseminação de doenças pelo globo; diversos são as revistas especializadas que alertam para o fato de que medidas pontuais são insuficientes para evitar pandemias - Doenças típicas da Globalização (Leia Mais: Doenças da Globalização, acima), que tanto tem modificado hábitos e costumes culturais dos cidadãos dos mais variados países do mundo, que acabam por impor barreiras ao trânsito de pessoas. Medidas de restrições ou controle de entrada de pessoas em portos e aeroportos têm se tornado cada vez mais comuns, e, até certo ponto necessárias. No entanto, contrariamente ao suposto objetivo de 'fim das fronteiras' - e a livre circulação de pessoas e mercadorias apregoadas pelos entusiastas da globalização econômica - tais barreiras acabam por barrar normalmente as pessoas; em especial aquelas provenientes de regiões pobres e desassistidas de condições sanitárias básicas.
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