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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI PSICOLOGIA AMANDA IZAIAS; JACKELINE BERNARDO; LAURA ARIOSO; KAUE LISBOA ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA PSICANÁLISE SÃO PAULO 2021 2 SUMÁRIO 1. Introdução ………………………………………………………………………….. 3 2. Desenvolvimento …………………………………………………............................ 4 1.1 Resenha: Psicologia das Massas e análise do eu ………………………………... 4 1.2 Contexto de Massas e Pandemia ………………………………………………… 7 1.3 Atitudes Negacionistas á Ciência ……………………………………………….. 8 1.4 O Adoecimento Mental em Massa ……………………………………………..... 9 3. Considerações Finais ……………………………………………………………… 10 4. Referências Bibliográficas ………………………………………………………… 11 3 INTRODUÇÃO Inicialmente, a psicologia das massas é um estudo da psicologia social que visa analisar e apresentar os principais comportamentos do indivíduo dentro de multidões. De acordo com a teoria psicanalítica, o senso de universalidade de comportamento e o enfraquecimento das singularidades influenciam vigorosamente o comportamento coletivo emergente à medida que o número de pessoas no grupo cresce. Em suas abordagens clássicas, os teóricos focaram em eventos que agora são de suma importância histórica, caracterizadas excepcionalmente por suas disseminações fascistas, nazistas e de bolhas especulativas. Na literatura contemporânea, o comportamento de massas ainda é visado. Com o alastramento da tecnologia, emerge uma nova manipulação em massa através de mídias sociais, tanto que, um recente trabalho proposto por pesquisadores da Universidade de Indiana indica que humanos conectados por redes sociais são vulneráveis à manipulação por meio de mecanismos automatizados de difusão da desinformação.² O intuito desse trabalho é apresentar as principais ideias de Freud em relação ao comportamento de massas diante de escritos já publicados por Le Bon em ‘‘Psicologia das Multidões’’. E diante desse contexto apresentar as principais adversidades pandemicas que atualmente se sucedem no mundo. 4 DESENVOLVIMENTO 1.1 Resenha: Psicologia das Massas e Análise do Eu Devemos destacar primeiramente o fato de que o livro Psicologia das Massas foi escrito por Freud em 1921, logo após a Primeira Guerra Mundial que sucintamente repercutiu para um grande impacto psicológico, tanto na sociedade em volta à guerra quanto naqueles que fizeram parte e estavam na linha de frente dos ataques militares. Tanto que, Freud cita como exemplo de massa artificial no capítulo V o exército, comparando um General a um pai, que ama igualmente todos seus soldados, denotando sua ideia de que os indivíduos dessa massa artificial possuem uma ligação libidinal ao seu líder. É importante enfatizar, a iniciativa de Freud em analisar o comportamento das pessoas a partir desse evento e retomar estudos anteriores a ele por outros teóricos, sobretudo Le Bon. A partir disso, Freud enceta de suas fundamentações teóricas trabalhando com a obra desses outros autores, não deixando de destacá-los de suas principais concepções e discorrendo em cima disso, nos permitindo até mesmo um debate e argumentação com os mesmos. Freud dá início a sua obra prontamente com um raciocínio indutivo ao leitor, de que a psicologia individual é também social, em um sentido ampliado. Visando da ideia de que uma pessoa só se constitui em comparação ao outro, logo, o outro indivíduo se torna um elemento constitutivo do Eu. Posteriormente, Freud começa a ratificar sobre Le Bon, diante do entendimento de que na massa desaparecem as singularidades do indivíduo, ou seja, a massa torna as pessoas indistintas carregando um sentimento de invencibilidade, que consequentemente faz o sujeito se entregar a instintos do inconsciente. (...) na massa o indivíduo é colocado sob condições que lhe permitem se livrar dos recalcamentos de suas moções de impulso inconscientes. As qualidades que ele então mostra são justamente as manifestações desse inconsciente, que, afinal,contém tudo o que há de malvado na alma humana; o desaparecimento da consciência moral ou do sentimento de responsabilidade nessas circunstâncias não oferece qualquer dificuldade para nossa compreensão. (FREUD, 2016, p.44) 5 Na massa há o que eles chamam de contágio, um comportamento do sujeito contaminando o do outro, sucintamente denotando a sugestionabilidade da sugestão. Que nada mais é do que uma corrente de imitações, o que o outro sujeito fizer eu farei também. Dessa forma podemos então diferenciar a massa de um grupo, que possui características distintas, visto que na massa há uma ligação entre indivíduos e uma ligação do líder com o grupo. Freud concorda com a ideia de que o comportamento dos seres humanos em massa é similar ao de crianças e compara também ao indivíduo primitivo. Mas nesse caso, temos uma interpretação do primitivo não como um ser atrasado, mas sim, no sentido de um ser sem regras sociais para cumprir, um ser movido a seus instintos. É interessante refletir que essa ideia não deve ser considerada como algo negativo, e muito menos considerar a ideia de uma civilização ou construção social como inteiramente positiva, há sempre duas condições com pontos negativos e positivos possibilitando a necessidade em conjugar as duas coisas. É inegável de que, não podemos ser sempre civilizados e nem sempre primitivos, isso afetaria diretamente em nosso convívio social. A partir dessa ideia Freud acrescenta do comportamento parecido com o indivíduo sob a hipnose. Embora Freud tivesse usado a hipnose desde que abriu seu consultório em 1887, em decorrência de resultados não favoráveis ele mudou para o método catártico, mas ainda sim carregava o conhecimento do método e usou dele para comparar o comportamento da massa. Freud retoma essa ideia, pois a hipnose tem relação com a sugestionabilidade. A sugestão veio de um líder e é com isso que o psicanalista se debruça mais em sua obra, questionando a falta de estudo de outros autores sobre a influência do líder no comportamento das pessoas. E com a hipnose temos o papel de um líder forte sugerindo ações. Nesse trecho Freud cita a ideia de um líder. Nos tomando novamente á questionar do que seriam essas relações das pessoas da massa entre si e seu líder, o que há ali que causa este fenômeno comportamental. Desse ponto, Freud inicia sua teoria psicanalítica de que o que se transcorre é a líbido. O conceito de Freud para líbido é dessemelhante a apenas uma ideia de pulsão sexual, e logo cita: (…) Ele próprio tem de estar fascinado por uma forte crença (numa ideia), para despertar crença na massa; ele tem de possuir uma vontade forte, imponente, que a massa sem vontade vai aceitar. (FREUD, 1921, p.21) 6 Logo, essa pulsão vital de querer uma aproximação, é uma energia vital de afeto. E essa afetividade faz com que a massa se torne coesa e que faz com que o indivíduo abra mão de sua singularidade para agir de maneira sugestionada. Para exemplificar essa ideia, na obra, Freud analisa o comportamento de dois tipos de massa artificial, o Exército e a Igreja. Nesse caso, os sujeitos acreditam que são amados da mesma forma pelo seu líder. Há uma coesão entre eles por serem iguais perante si, o que sugestiona ou comanda a ação da massa. Freud também destaca algumas associações com a atividade clássica. Podemos retomar que assim como Le Bon, Freud compara o comportamento do indivíduo na massa com o comportamento de um ser primitivo, o que traz ao leitor a questão da mitologia grega acerca do sujeito que disparou no páreo, no herói que destronou o próprio pai. Freud repassa uma abstração de que as pessoas dentro da massa, possuem uma aspiração pelo paternalismo. Carecemos de um pai celestial que nos olha e nos prescreve coisas, em vista disso, carregamosessa ligação com um líder e abandonamos nossas individualidades. Pois a massa prefere obedecer a ordens a ter que responsabilizar pelos seus atos quando agem com autonomia. Então Freud conta que é por conta do nosso ranço atávico e esse substrato do nosso inconsciente que faz com que esse comportamento na massa seja predominante, abrindo mão de nossas racionalidades e agindo de forma extintiva. O ser abandona seu verniz e construção civilizatória dada pela cultura, realçando a ideia do ser primitivo, das atitudes infantis e da conduta hipnótica. Freud cita que na mitologia a saída dada, é a saída que foi construída pelos poetas é o herói. O herói que subverte as regras, mata seu pai e é castigado pelos seus deuses, exaltando da ideia de que o herói possui sua autonomia, ele não segue uma massa e é movido por uma pulsão ditada por valores próprios. Freud critica essa divinização do herói, que ruminamos dessa concepção, podemos direcionar esse pensamento a ideia do protagonismo que se contrapõe ao comportamento da massa, e a sociedade por si própria defende essa ideia da autonomia e do protagonismo sem nem fruir da mesma. “Libido” é uma expressão proveniente da teoria da afetividade. Assim denominamos a energia, tomada como grandeza quantitativa — embora atualmente não mensurável —, desses instintos relacionados com tudo aquilo que pode ser abrangidopela palavra “amor”. O que constitui o âmago do que chamamosamor é, naturalmente, o que em geral se designa como amor e é cantado pelos poetas, o amor entre os sexos para fins de união sexual. (FREUD, 1921, p.32) 7 1.2 Contexto de Massas e Pandemia Em “Psicologia das Massas e Análise do Eu", Freud explana sobre pulsão de vida e pulsão de morte, faz uma revisão sobre sua teoria pulsional inicial, percebendo essa importante relação de amor e ódio sobre si e sobre o outro, satisfazendo as pulsões. Partindo dessa premissa, é possível observar no momento de pandemia, um desmerecimento do Outro. O momento é uma guerra declarada entre saúde e capitalismo, é também um momento de indistinção, onde raça, gênero, cor, ou qualquer outra característica são iguais. Momento este, que o capitalismo não consegue imperar, que o dinheiro perde seu valor e as pessoas se tornam simples iguais. Relacionando isso com o momento presente, podemos dizer que alguns países tiveram formas de acabar com a pandemia e outros países que por estarem numa massa artificial não mudaram mesmo com táticas apresentadas, a falta de união desses países por conta de suas massas artificiais e por seguirem apenas seus líderes fazem que com não haja essa identificação/compaixão. A massa causa no indivíduo uma personalidade individual, onde ele perde o seu questionamento, a sua crítica e isso milhares de pessoas passaram na pandemia pela falta de conhecimento e seriedade com a situação. Freud nos recorda da ideia de que aceitamos tudo o que é proposto, nós somos completamente influenciáveis, nossos representantes negam a pandemia e a maioria da população também, nos submetemos a coisas como por exemplo: o dirigente disse que estamos na fase amarela, então eu posso sair. Apenas pelo fato de que ele disse, mas até que ponto isso é verdade, até quando isso vai acontecer? Nós negamos a pandemia e não temos compaixão por nós e nem pelo outro e Freud disse isso à 100 anos, e isso tem muito haver com nosso momento presente. O mecanismo é aquele da identificação baseada em querer ou poder colocar-se na mesma situação. As outras também gostariam de ter um amor secreto, e sob o influxo da consciência de culpa também aceitam o sofrimento que ele envolve. Seria incorreto afirmar que se apropriam do sintoma por compaixão. Pelo contrário, a compaixão surge somente a partir da identificação, e a prova disso é que tal infecção ou imitação acontece também em circunstâncias nas quais se supõe uma simpatia preexistente ainda menor do que é habitual entre amigas de um pensionato”. (FREUD, 1921, p.49) 8 1.3 Atitudes Negacionistas á Ciência Negacionismo pode se definir como a nagação a conceitos e fatos científicos básicos, e incontestáveis. A escolha de negar a realidade para tentar sair de uma situação desagradáveis, ainda é muito presente na contemporaneidade e também se encontra no ‘’topo’’ da nossa sociedade, assim nos possibilita uma atual analogia. Atualmente passamos por difíceis situações devido a má condução e descaso do governo brasileiro desde o início da calamidade do Covid-19 que vem adentrando cada vez mais o país, e assim ainda se vê núcleos da sociedade em apoio incondicional ao atual governo, sendo esse um grande exemplo de atitudes negacionista á realidade que a ciência nos apresenta atualmente, também se vê um outro ponto da psicologia das massas também retratado no capítulo 2 do livro onde é citado um trecho onde diz: Este trecho relata a necessidade de alguém para seguir e obedecer, o que muitas vezes cega parte das massas sociais que tem conturbado seus próprios princípios e conceitos para negar o inegável. É perceptível que grande parte deste núcleo se trata de indivíduos voltados a classes econômicas de privilégio médias a altas, onde pode se relatar a falta de empatia com a realidade dos indivíduos são fortemente afetados pelos problemas governamentais. Ainda dentro da situação do Covid-19, quando as vacinas começaram a ser apresentadas foram divididas diversas opiniões de pessoas cogitando não tomar a vacina, por dúvida de sua eficácia, dos efeitos colaterais, mesmo que todos os riscos, e efeitos colaterais tenham sido intensamente pesquisados por grandes cientistas da atualidade, todas com seu método exposto. Outro exemplo que pode ser descrito é a inserção de instituições como a igreja, sendo vistas como uma verdade absoluta e extinguindo e contradizendo fatos cientificamente já comprovados. Desde os tempos antigos tais instituições se opõem a alguns fatos científicos. Freud enxergava esse fator como uma real negação a realidade, pois acreditava na ciência como uma via para a verdade, uma verdade vulnerável é incerto, sendo essas incertezas que nos levam a verdades salvadoras. O mesmo analisava sobre o negacionismo científico que somente quem vivia a realidade da frustrante poderia construir um verdadeiro conhecimento, ainda em um ''A massa é um rebanho dócil, que não pode jamais viver sem um senhor. Ela tem tamanha sede de obediência, que instintivamente se submete a qualquer um que se apresente como seu senhor.'' (FREUD, 1921, p.21) 9 outro livro (Acerca de uma visão de mundo, 1933) descreveu o fator: “O caminho da ciência é mesmo assim, lento, hesitante, laborioso. É algo que não se pode negar ou mudar (…). O progresso, no trabalho científico, ocorre de maneira muito semelhante ao de uma análise. Levamos expectativas para o trabalho, mas temos de refreá-las (…). E, afinal, que pretendem essas apaixonadas difamações da ciência? Apesar de sua atual imperfeição e das suas dificuldades intrínsecas, ela nos é indispensável e nada mais pode substituí-la 1.4 O Adoecimento Mental em Massa Em vez de darmos uma definição, começaremos desde que a OMS declarou a pandemia da Covid-19, cada país busca um modo de lidar com essa realidade e a saída mais importante, impondo uma transformação radical no nosso cotidiano, através do afastamento social ampliado que, por sua vez, tem levado a população ao adoecimento mental em massa e ganhando os contornos do que poderá vir a ser a quarta onda da Covid-19 atualmente. Trazendo uma referência ao campo dos fenômenos do qual a psicologia procura os motivos das intenções do indivíduo nas suas ações e nas relações com os mais próximos, se deparara subitamente com um problema novo, não resolvido. O medo da infecção, e a facilidade com a disseminação, somados ao curso da doença que é pouco conhecida,e a suscetibilidade à morte, causam evidente impactos a saúde mental. Durante o isolamento social, os níveis apontados de ansiedade e estresse de indivíduos considerados saudáveis elevou-se, por outro lado potencializou os sintomas já existentes em pessoas com transtornos psíquicos. Tem se destacado também o medo da população que tem algum membro da família contaminado pelo vírus, comprometendo assim mais sua rede afetiva. Fatores como notícias falsas, dificuldade de se manter e/ou realizar o tratamento, manter as normas vigentes referente ao isolamento social e as medidas da quarentena, trazem consigo também sentimentos de insegurança, pânico, afetando assim o psicológico. Podendo assim “Portanto, esvanecimento da personalidade consciente, predominância da personalidade inconsciente, orientação por via de sugestão e de contágio dos sentimentos e das ideias num mesmo sentido, tendência a transformar imediatamente em atos as ideias sugeridas, tais são as principais características do indivíduo na massa. Ele não é mais ele mesmo, mas um autômato cuja vontade se tornou impotente para guiá-lo” (FREUD, 1921, P.17.) 10 explicar o fato surpreendente de que esse indivíduo, que se tornara compreensível para a pandemia em geral, que após ser colocado em uma determinada condição pensa, sente e age de modo completamente distinto do esperado. Considerações Finais Diante do conhecimento apresentado por Freud em sua obra, o mesmo nos traz um questionamento ás ações da massa em um momento pandêmico. É evidente o comportamento de negação á própria saúde, o que nos confirma da ideia de um ser sem autonomia. Um caos causado não somente pela sociedade, mas também pelos seus representantes. Sem estes, não teria o seguimento em massa de suas crenças e críticas á conjuntura dos problemas atuais. 11 Referências Bibliográficas 1. Freud, S.Psicologia de Grupo e análise do ego, 1921. 2. Shao, C., Ciampaglia, GL., Varol, O., Yang, K., Flammini, A. and Menczer, F. The spread of low-credibility content by social bots, Available at: https://arxiv.org/pdf/1707.07592.pdf (Accessed: 6th December 2018). 3. LEOPOLDINO, Marcus M. P.; OLIVEIRA, Claudio. Do social ao individual: a psicologia das massas de Sigmund Freud. Rev. Dep. Psicol.,UFF, Niterói , v. 18, n. 1, p. 140, June 2006 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 80232006000100013&lng=en&nrm=iso>. access on 11 May 2021. https://doi.org/10.1590/S0104-80232006000100013.
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