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1 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 Amebíase Introdução: • Duas espécies: Entamoeba Histolytica (patogênica) e Entamoeba Dispar (não patogênica). • É definida como uma infecção sintomática ou assintomática causada pelo protozoário intestinal Entamoeba Histolytica. • Os sintomas estão associados à forma invasiva da doença. • Este parasito vive na luz do intestino grosso do hospedeiro, mas ocasionalmente pode penetrar a submucosa e, pela circulação portal pode alcançar o fígado e daí atingir outros órgãos. • As maiores prevalências são observadas em áreas onde as condições sanitárias e socioeconômicas da população são precárias. • É a segunda maior causa de óbitos, perdendo somente para a malária. • Não é a única espécie que pode colonizar o intestino grosso. Etiologia e morfologia: • O trofozoíto é a forma que coloniza a luz do intestino grosso, podendo, sob certas circunstâncias, ser encontrado em lesões da mucosa intestinal, fígado, pulmão, pele e, mais raramente, no cérebro. • A locomoção do parasito é feita pela emissão de pseudópodes grossos, hialinos e, em geral unidirecionais. • Seu citoplasma é distinto e apresenta-se diferenciado em ectoplasma (hialino) e endoplasma (observa-se o núcleo e os vacúolos digestivos, além de ser levemente granuloso), sobretudo, durantes a emissão dos pseudópodes. Nos trofozoítos presentes em fezes de pacientes com diarreia, é comum observar hemácias no citoplasma do parasito. Trofozoítos não apresentam organelas como mitocôndria, reticulo endoplasmático e aparelho de Golgi. Transmissão: • Os cistos excretados juntamente com as fezes do hospedeiro são as formas infectantes do parasito envolvidas na transmissão, que ocorre por contaminação fecal-oral. • O homem pode se infectar pela ingestão de cistos maduros (tetranucleados) presentes em água sem tratamento ou tratadas de forma inadequada e em alimentos contaminados, ou diretamente de pessoa-pessoa por meio de mãos contaminadas. • A mosca doméstica e as baratas, contribuem para a disseminação de cistos. Ciclo biológico: • É direto. • Após a ingestão de cistos maduros, tem inicio o processo de desencistamento que ocorre na porção distal do íleo e no ceco. Mediantes a ação do suco gástrico e das secreções intestinais, forma-se uma fenda na parede de cada cisto, por onde é liberada uma forma tetranucleada, que por divisão binaria da origem a oito trofozoítos uninucleados. Esses trofozoítos multiplicam-se por divisões binárias sucessivas e colonizam o intestino grosso, sobretudo na região do ceco. • No lúmen intestinal os trofozoítos se alimentam de bactérias e detritos e multiplicam-se indefinidamente. Muitos desses trofozoítos passam por um processo de encistamento, quando incialmente o parasito diminui de tamanho e se arredonda, transformando-se em uma forma denominada de pré-cisto. • Em seguida, essa forma da origem a um cisto uninucleado, quando ao seu redor é secretada uma membrana resistente e de natureza glicoproteica, essa é a parede cística. Após 2 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 divisões nucleares esses cistos tornam-se tetranucleados e podem ser excretados juntamente com as fezes do hospedeiro. Se ocorrer de algum trofozoíto invadir e colonizar a mucosa intestinal, causando lesões ao longo do epitélio do intestino grosso, esses vão possuir hemácias, restos celulares e hemoglobinas. Nos tecidos o parasito não é capaz de formar cistos, isso ocorre apenas na luz intestinal. Patogenia: • É um parasito que apresenta excepcional capacidade citolitica, e nas formas invasivas da infecção as lesões são produzidas em consequência da lise celular, necrose dos tecidos e degradação da matriz extracelular. • Após o contato com a célula do hospedeiro, o parasito libera produtos capazes de alterar a integridade da membrana da célula-alvo e promover a degradação dos tecidos. Alguns desses produtos correspondem a proteínas que se inserem na membrana plasmática da célula hospedeira e causam a formação de canais ou poros que provocam a lise celular – amebaporos. • A atividade citopatica do parasito é contato-dependente e pode ser dividida em quatro etapas: 1. Aderência; 2. Citólise após o contato; 3. Fagocitose; 4. Degradação intracelular. Amebíase intestinal: • Duas formas clinicas se destacam: 1. Colite não-disentérica: caracteriza-se por evacuações diarreicas ou não, com duas a quatro dejeções diárias, podendo o individuo eliminar fezes moles ou pastosas, e as vezes, com muco ou sangue. Durante a infecção, o indivíduo pode alternar períodos de funcionamento intestinal normal e quadros de diarreia. Além disso, sintomas intestinais, como flatulência, desconforto abdominal e cólicas, estão presentes na maioria dos casos. Febre geralmente não acompanha. 2. Colite disentérica ou disenteria amebiana: apresenta evolução aguda. Entre os sintomas destacam-se dores abdominais, cólicas intestinais intensas, diarreia liquida com evacuações frequentes (10-08) e muco sanguinolentas, inapetência, náuseas, vomito flatulência e febre moderada. Pode levar a morte. O agravamento do quadro de colite disentérica se deve ao extenso comprometimento do cólon, inclusive, devido a formação de úlceras profundas, muitas vezes, determinando perfurações intestinais múltiplas. Amebíase extra intestinal: • O fígado é o principal órgão acometido. • Na amebíase hepática destacam-se duas formas clinicas principais: a hepatite amebiana aguda e o abscesso hepático amebiano. • Na maioria dos casos, a lesão é única e localizada no hipocôndrio direito. Essa forma caracteriza-se pela tríade de sintomas que 3 Luiza D. V. Torriani ATM 2024/2 inclui febre, dor e hepatomegalia (se dor ao apalpar é grande sinal de abscesso hepático). • Entre as complicações advindas da amebíase hepática, a ruptura espontânea do abscesso nas cavidades peritoneal, pleural e pericárdica pode agravar o quadro, pois provoca a disseminação do parasito para outras localizações como pulmão e cérebro. • Se estendida para o pulmão, o paciente apresenta febre, dor torácica e tosse com expectoração de secreção cor de chocolate. Podem também possuir sintomatologia hepática. • As lesões no cérebro são raras, mas quando ocorrem são rápidas e fatais. Diagnóstico clinico: • Analisar se possui a tríade de sintomas. • Analisar o local onde o paciente vive. Diagnostico laboratorial: • Demonstração microscópica do protozoário nas fezes. • Detecção de anticorpos séricos específicos. • Detecção de antígenos do parasito presentes nas fezes e em aspirados de lesões tissulares. • Detecção do material genético do parasito em diferentes amostras biológicas. Diagnostico parasitológico: • Exame de fezes: esse exame não possibilita a diferenciação ente E. Histlytica e E. Dispar, para que isso ocorra somente é possível mediante a observação de trofozoítos que apresentam eritrócitos fagocitados, pois esse é um aspecto fortemente associado à amebíase invasiva, ou seja E. histolytica. Um aspecto importante a ser considerado no diagnóstico da amebíase intestinal é o fato de que os indivíduos parasitados não eliminam cistos de maneira continua. Essa eliminação caracteriza-se por ser intermitente e denomina-se “período negativo”, podendo durar dez dias. Isso se deve ao fato de a eliminação dos cistos não ser continua e o exame de uma única amostra de fezes pode gerar resultados falso-negativos. Para compensar tais limitações, recomenda-se para o diagnóstico de rotina o exame de pelo menos três amostras fecais obtidas em dias alternados. • Pesquisa nos tecidos: retossigmoidoscopia (permite a observação das lesões na mucosa e a curetagem das ulceras), e em caso de abscesso hepático amebiano, trofozoítospodem ser pesquisados em líquidos obtidos por punção das lesões. Tratamento: • Entre os amebicidas tissulares disponíveis, os derivados nitroimidazolicos, sobre tudo o metronidazol, são os quimioterápicos mais eficazes no tratamento das formas invasivas, incluindo o abscesso hepático amebiano. • Os medicamentos disponíveis para o tratamento da infecção por E.H não tem atividade sobre as formas císticas. • Para o tratamento das infecções assintomáticas: paramocina, furoato de diloxamina e iodoquinol. • Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, vertigens, dores de cabeça e pancreatites ocasionais e, em alguns pacientes, toxicidade do sistema nervoso central. Profilaxia: • Medidas de higiene pessoal. • Saneamento ambiental. • Educação sanitária. • Tratamento e identificação precoce. Tais medidas podem prevenir ou evitar a contaminação do meio ambiente e a ingestão de água e alimentos contaminados com os cistos do parasito.
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