Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Leandra Bitencourt - Turma XVI - MED UESB ➢ CARACTERÍSTICAS GERAIS - a Entamoeba é um protozoário habitante do intestino grosso humano; - são organismos eucariotas, unicelulares que se deslocam por meio de pseudópodes; - há espécies parasitas e outras de vida livre → algumas apresentam uma fase flagelada; - as formas que podem ser encontradas no humano são: 1. Entamoeba coli; 2. Entamoeba díspar; 3. Endolimax nana; 4. Entamoeba gingivalis; 5. Entamoeba polecki; 6. Entamoeba histolytica; 7. Iodamoeba butschlii; 8. Diantamoeba fragilis. - dessas oito espécies, a E. gengivalis vive na cavidade bucal e as demais vivem no intestino grosso; - a E. histolytica é a única que em determinadas situações pode ser patogênica → apresenta uma fase de vida comensal → 90% dos casos de amebíase são assintomáticos; - o parasito pode ser tornar patogênico → provoca quadros disentéricos de gravidade variável; - a amebíase é a segunda causa de morte entre as doenças parasitárias no mundo, perdendo apenas para a malária; - no Brasil, a amebíase também constitui um sério problema de saúde pública → maior prevalência em populações de nível socioeconômico mais baixo e condições precárias de saneamento básico → resulta em altos índices de morbidade. ➢ MORFOLOGIA DAS FORMAS EVOLUTIVAS - as amebas se distinguem umas das outras por: 1. tamanho do trofozoíto e do cisto; 2. estrutura e número dos núcleos nos cistos; 3. número e formas das inclusões citoplasmática. - trofozoítos → encontrados no intestino, nas úlceras e nas fezes diarreicas; - cistos imaturos ou maduros (bi ou tetranucleados) → presentes nas fezes normais. ✓ ENTAMOEBA COLI - trofozoíto mede cerca de 20 a 50 micrometros; - citoplasma não é diferenciado em endo e ectoplasma; - núcleo apresenta a cromatina grosseira e irregular; - o cariossoma é grande e excêntrico; - cisto apresenta-se como uma pequena esfera medindo 15-20 micrometros → contém até 8 núcleos, com corpos cromatóides finos, semelhantes a feixes ou agulhas. ✓ ENDOLIMAX NANA - menor ameba que vive no homem; - trofozoíto mede 10- 12 micrometros → citoplasma claro, membrana nuclear fina e sem grãos de cromatina, cariossoma grande e irregular; - cisto mede 8 micrometros → possui formato oval, contendo 4 núcleos pequenos e às vezes podem ser vistos corpos cromatóides pequenos e ovóides; - é uma ameba comensal → vive na luz da região cólica do homem e de alguns primatas. Leandra Bitencourt - Turma XVI - MED UESB ✓ ENTAMOEBA GINGIVALIS - muito comum no tártaro dentário e em processos inflamatórios da gengiva; - não é patogênica; - não possui cistos; - trofozoítos medem de 5 a 35 micrometros, semelhante aos da E. histolytica. ✓ ENTAMOEBA HARTMANNI - vive como um comensal na luz do intestino grosso; - cistos são frequentemente confundidos com os de E. histolytica; - é pequena, medindo 7 a 12 micrometros; - cariossoma é pequeno (punctiforme), às vezes é visto no centro do núcleo → mais comumente visto em posição ligeiramente excêntrica; - cistos medem 5 a 10 micrometros de diâmetro → apresenta 4 núcleos. ✓ ENTAMOEBA HISTOLYTICA/ ENTAMOEBA DÍSPAR - trofozoíto possui tamanho variando de 15 a 60 um e forma geralmente irregular; - citoplasma com nítida diferença entre ectoplasma e endoplasma; - núcleo único, apresentando anel de cromatina nuclear formado por grânulos pequenos e regulares e cariossoma puntiforme e central; - cistos possuem tamanho variado de 15 a 20 um → forma geralmente esférica e presença de até 4 núcleos com anel de cromatina também delicado; - o cariossoma é puntiforme e central, com corpo cromatoide em forma de bastonete, com extremidades arredondadas. Leandra Bitencourt - Turma XVI - MED UESB ➢ CICLO BIOLÓGICO - é monoxêmico; - inicia pela ingestão de cistos maduros em alimentos e água contaminados; - os cistos passam pelo estômago e resistem à ação do suco gástrico → chegam até o final do intestino delgado e início do intestino grosso; - o desencistamento ocorre no intestino delgado → saída do metacisto por uma pequena fenda na parede cística; - trofozoítos migram para o intestino grosso → aderidos à mucosa do intestino → vivem de forma COMENSAL, se alimentando de detritos e bactérias; - podem desprender-se da parede e na luz do cólon multiplicam-se por divisão binária → produz cistos que são eliminados nas fezes normais; - proteção conferida pelas paredes císticas → cistos podem sobreviver dias a semanas no ambiente externo → responsáveis pela transmissão; - o equilíbrio parasito-hospedeiro pode ser rompido → trofozoítos invadem a submucosa intestinal → multiplicam-se ativamente no interior das úlceras; - através da circulação porta, podem atingir outros órgãos → fígado e, posteriormente, pulmão, rim, cérebro ou pele → causa amebíase extra intestinal; - trofozoítos podem ser eliminados em fezes diarreicas → uma vez fora do corpo, são rapidamente destruídos → se ingeridos, não sobrevivem quando expostos ao ácido gástrico. ➢ VIAS DE TRANSMISSÃO - mecanismo de transmissão ocorre através de ingestão de cistos maduros através de alimentos e líquidos contaminados; - o uso de água sem tratamento, contaminada por dejetos humanos, é um modo frequente de contaminação; - a ingestão de alimentos contaminados (verduras cruas e frutas) é importante veículo de cistos; - alimentos também podem ser contaminados por cistos veiculados nas patas de baratas e moscas; - a falta de higiene domiciliar pode facilitar a disseminação de cistos dentro da família → “portadores assintomáticos” que manipulam alimentos são os principais disseminadores. ➢ PATOGENIA - após infecção pelos cistos contaminados, o parasita se transforma em trofozoíto → invade o epitélio intestinal e causa destruição tecidual; - a capacidade de causar doença invasiva que possui o trofozoíto depende de: 1. secreção de proteases; 2. lise de células-alvo por contato ou apoptose; 3. formação de poros em membranas lipídicas; 4. alteração de permeabilidade intestinal. - processo de INVASÃO TECIDUAL → iniciado pelo reconhecimento de moléculas do epitélio intestinal pelo parasito; - processo de ADESÃO CELULAR → formação de um espaço intercelular denominado foco de adesão → ocorre a secreção de proteínas necessárias ao processo de invasão tecidual; - à medida que a lesão progride, a superfície mucosa sobrejacente é privada de fluxo sanguíneo → torna-se necrosada, com perfuração da parede intestinal e infecção sistêmica; Leandra Bitencourt - Turma XVI - MED UESB - após invadir a mucosa, os trofozoítos se multiplicam → prosseguem penetrando nos tecidos sob a forma de microulcerações; - na submucosa, as amebas podem progredir em todas as direções → determina inicialmente a típica ulceração chamada “botão de camisa” ou “colo de garrafa”; - as lesões amebianas são mais frequentes no ceco e na região retossigmodiana; - as úlceras variam muito em tamanho e forma → podem estender-se a grandes proporções do intestino grosso; - início da invasão tecidual → imunidade inata do hospedeiro exerce importante papel; - enterócitos reconhecem moléculas antigênicas de padrão moleculares associadas ao patógeno (PAMPs); - polimorfismo na estrutura dessa molécula determina se a cepa é patogênica ou não → se os receptores das células epiteliais são capazes de se ligar aos PAMPs; - após o reconhecimento dos PAMPs pelos receptores → ocorre ativação intracelular e liberação de citocinas pró-inflamatórias e fatores solúveis (IL-1, IL-6 e IL-8, TNF-α, GMCF, entre outras); - neutrófilos e monócitos são rapidamente recrutados → ativados em resposta a estes fatores e lisados pelos trofozoítos → liberação de mediadores químicos provenientes de seus grânulos citoplasmáticos → resulta em dano tecidual e necrose; - mediadores químicos (histamina, prostaglandinas, leucotrienos, quininas e citocinaspró- inflamatórias) induzem alteração intestinal → dificulta a absorção alimentar; - mesmo quando não existem danos macro ou microscópicos, há evidências de que a presença de células inflamatórias possa prejudicar o processo de absorção intestinal → desencadeia crises diarreicas; - ao final da doença, pode ocorrer a formação de tecido granulomatoso → caracterizado pela angiogênese → indica a cura da lesão; - não se sabe se esse processo de reparo ocorre espontaneamente ou é secundário à quimioterapia antiamebiana. Leandra Bitencourt - Turma XVI - MED UESB ➢ SINTOMATOLOGIA ✓ AMEBÍASE ASSINTOMÁTICA - representa a grande maioria (80- 90%); - infecção é detectada pelo encontro de cistos no exame de fezes. ✓ AMEBÍASE SINTOMÁTICA ❖ AMEBÍASE INTESTINAL 1. FORMA DESINTÉRICA - mais frequente de modo agudo; - se manifesta por 8-10 episódios de evacuações diarreicas mucossanguinolentas ou com predominância de muco ou de sangue, acompanhadas de: → cólicas intensas; → tenesmo; → tremores de frio. - as complicações mais comuns são: → perfurações e peritonite; → hemorragias; → colites pós-disentéricas. - mais raramente, pode ocorrer: → estenose; → apendicite; → ameboma: caracterizada pela invasão da parede intestinal pelos trofozoítos → formação de um grande nódulo e pode provocar a obstrução intestinal e ser confundido com câncer. 2. FORMA NÃO DESINTÉRICA - forma clínica mais frequente; - se manifesta por 2-4 evacuações, diarreicas ou não, por dia → fezes moles ou pastosas, às vezes contendo muco ou sangue; - pode apresentar desconforto abdominal ou cólicas → geralmente na porção superior; - raramente há manifestação febril; - paciente apresenta alternância entre manifestação clínica e períodos silenciosos. Leandra Bitencourt - Turma XVI - MED UESB ❖ AMEBÍASE EXTRAINTESTINAL - é uma forma mais rara. ❖ AMEBÍASE HEPÁTICA - mais comum em homens com 20-60 anos; - os fatores que podem predispor o seu aparecimento incluem imunossupressão e lesão hepatocelular pelo álcool → cria condições para o desenvolvimento da amebíase hepática; - geralmente, as lesões são usualmente únicas ou solitárias → mais frequentemente localizadas no lobo direito, continuamente à cápsula hepática; - manifestações clínicas do abscesso hepático amebiano são representadas pela tríade: 1. dor → se localiza no quadrante superior direito do abdome; 2. febre → intermitente e irregular e varia de 38-40°C com calafrio, anorexia e perda de peso; 3. hepatomegalia. - o abscesso amebiano no fígado é geralmente simples, com uma única lesão em 80% dos casos; - não é comum a invasão bacteriana → quando ocorre, agrava o quadro; - abcesso hepático pode eventualmente se estender para cavidade peritoneal ou região torácica → em caso de ruptura pode ocorrer peritonite; - alguns pacientes apresentam quadro crônico de febre, perda de peso e dor abdominal com ou sem hepatomegalia. ❖ AMEBÍASE PLEURO PULMONAR - é rara → ocorre principalmente em desnutridos, alcóolatras e pacientes com cardiopatias congênitas; - o envolvimento pulmonar incluí principalmente a pleura → aparecimento de efusão serosa; - as manifestações clínicas são variadas, sendo as principais: 1. febre; 2. dor torácica direita; 3. tosse e expectoração, podendo conter pus com cor e odor. - consolidação pulmonar → frequente à direita, principalmente em lobos inferior e médio; - as efusões pleurais se resolvem rapidamente com a drenagem e a terapia antimicrobiana. ❖ AMEBÍASE CEREBRAL - o envolvimento cerebral ocorre por disseminação hematogênica da infecção; - pacientes apresentam início abrupto dos sintomas; - progressão rápida para a morte se não for tratada. ❖ AMEBÍASE CUTÂNEA - relacionada a lesões ulcerativas → rosto (região nasal), períneo e órgãos genitais. ➢ DIAGNÓSTICO - as manifestações clínicas atribuídas à E. histolytica podem ser errôneas devido aos sintomas comuns à várias doenças intestinais; - na maioria dos casos, principalmente na fase aguda, poderá ser facilmente confundida com a disenteria bacilar, salmoneloses, síndrome do cólon irritado e esquistossomose; - dificuldades de diagnóstico → só deve ser considerado definitivo pelo encontro de parasitos nas fezes; - diagnóstico laboratorial é realizado com fezes, soros e exsudatos → pesquisa de cistos e/ou trofozoítos → microscopia de preparações fecais coradas pelo lugol; - detecção de anticorpos ou antígenos é uma importante ferramenta para o diagnóstico da amebíase e pode ser associado ao diagnóstico de imagem e histopatológico; - para a detecção de antígenos é realizado o teste de ELISA → pesquisam a presença de anticorpos IgM ou IgG antilectinas; Leandra Bitencourt - Turma XVI - MED UESB - apesar de raros, resultados falso-positivos podem ocorrer → colonização do lúmen intestinal pela E. díspar, que também é capaz de estimular a secreção de anticorpos antilectinas. ➢ TRATAMENTO ✓ AMEBICIDAS QUE ATUAM DIRETAMENTE NA LUZ INTESTINAL - possuem ação direta e por contato sobre a E. histolytica; ◊ derivados da quinoleína, diiodo-hidroxiquinoleína, iodocloro-hidroxiquinoleína e cloridroxiquinoleína; ◊ antibióticos: paramomicina e eritromicina; ◊ outros derivados: furoato de diloxamina, clorobetarnida e clorofenoxarnida. ✓ AMEBICIDAS TISSULARES - atuam na parede do intestino e no fígado; - compostos de cloridrato de emetina, cloridrato de diidroemetina e cloroquina (só atua no fígado). ✓ AMEBICIDAS QUE ATUAM TANTO NA LUZ INTESTINAL QUANTO NOS TECIDOS - antibióticos: metronidazol, ornidazol, nitroimidazol e secnidazol são os mais utilizados. ➢ PROFILAXIA Está intimamente ligada à engenharia e à educação sanitária: 1. Tratamento da população; 2. Educação sanitária e ambiental; 3. Saneamento básico; 4. Incentivo financeiro ao desenvolvimento de fármacos.
Compartilhar