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Direito Internacional Público e Privado Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites Introdução ao Direito Internacional Público • Introdução • Definição e Objeto de Estudo • Direito Interno e Direito Internacional • Denominação da Disciplina • Fontes do Direito Internacional · Entender o que é o Direito Internacional Público e qual é o seu ob- jeto de estudo. Em seguida, conhecer cada uma de suas fontes, utili- zando, em especial, aquelas indicadas no Estatuto da Corte Interna- cional de Justiça. OBJETIVO DE APRENDIZADO Introdução ao Direito Internacional Público Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Introdução ao Direito Internacional Público Introdução Em geral, as questões de nosso cotidiano e os litígios que inevitavelmente nele ocorrem são regidos pelo nosso sistema jurídico interno (Constituição Federal, leis, decretos e diversos outros atos normativos), sendo que, em nossa falha percepção da realidade, desconhecemos a existência de uma ordem jurídica internacional que tem importantes reflexos em nossas vidas. É essa jurídica internacional, que rege as relações entre os estados e as organizações internacionais e que traz uma série de reflexos na vida de todos nós, o objeto de estudo do Direito Internacional Público. Definição e Objeto de Estudo Podemos definir o Direito Internacional Público como: O conjunto de normas jurídicas que rege a comunidade internacional, determina direitos e obrigações dos sujeitos, especialmente, nas relações mútuas dos Estados e, subsidiariamente, das demais pessoas internacionais, como determinadas organizações, bem como dos indivíduos (ACCIOLY, 2014, p. 28). O Direito Internacional Público surgiu com a preocupação de reger as relações que envolviam os estados, sendo que, com o surgimento da Sociedade das Nações (ou Liga das Nações), em 1919, as organizações internacionais também passaram a ser objeto de especial interesse desse ramo da Ciência Jurídica. Isso se deu, em especial, pela importância que essas organizações, pouco a pouco, foram ganhando nas relações internacional, pois elas se tornaram um importante canal institucional para o trato de questões que envolvem interesses conjuntos dos estados. Embora as relações internacionais tragam importantes reflexos para a vida dos indivíduos, o Direito Internacional Público, originalmente, não reconhecia a pessoa humana como sujeito de direitos internacionais. Nessa visão, as pessoas integram os estados e esses é que podem ser sujeitos de obrigações das relações internacionais. Essa concepção começa a se modificar com a sucessão de situações decorrentes do término da Segunda Guerra Mundial, quando se viu a necessidade de que o Direito Internacional Público deixasse de ter como objeto somente as relações interestatais, passando a se preocupar com os indivíduos. Nesse Direito Internacional da Pós-Modernidade, o ser humano tem um crescente papel, especialmente, em razão da preocupação em se estabelecer e proteger direitos a ele inerentes, os quais devem ser universalmente observados. Há, contudo, uma série de importantes autores que não reconhecem os indivíduos como sujeitos de direito internacional, é essa a posição, por exemplo, de Rezek (2000, p. 146): 8 9 Não têm personalidade jurídica de direito internacional os indivíduos, e tampouco as empresas, privadas ou públicas. A proposição, hoje frequente, do indivíduo como sujeito do direito das gentes pretende fundar-se na assertiva de que certas normas internacionais criam direitos para as pessoas comuns, ou lhes impõem deveres. É preciso lembrar, porém, que os indivíduos – diversamente dos estados e das organizações – não se envolvem, a título próprio, na produção do acervo normativo internacional, nem guardam qualquer relação direta e imediata com esse corpo de normas. Muitos são os textos internacionais voltados à proteção do indivíduo. Entretanto, a flora e a fauna também constituem objeto de proteção por normas de direito das gentes, sem que se lhes tenha pretendido, por isso, atribuir personalidade jurídica. Direito Interno e Direito Internacional Podemos afirmar que as relações jurídicas internas em nosso sistema são regidas, sobretudo, pela lei e pelo importante papel do Estado na pacificação dos conflitos. Precisamos entender que os conflitos são inevitáveis nas sociedades humanas, tendo o Estado o importante papel de resolvê-los aplicando o direito interno, o que, em muitos casos, acarreta a aplicação de sanções e a imposição de obrigações não desejadas pelas partes – mesmo que, para isso, seja necessário o uso da força. Nesse particular, é destacado o papel do Poder Judiciário que atua por meio de juízes e tribunais em diversas áreas. Na ordem internacional, contudo, os mecanismos são diferentes. Em primeiro lugar, precisamos destacar os seguintes elementos: • Nas relações internacionais sempre deve ser respeitada a soberania dos estados; • Os organismos internacionais não são um poder central. Eles não têm características que possibilitem que suas decisões sejam impostas, pois isso afetaria a soberania dos Estados envolvidos; • Nesses organismos internacionais, os estados possuem todos o mesmo poder de decisão. Dessa forma, por exemplo nas votações, o voto de um Estado possui o mesmo poder que o voto de qualquer outro Estado; • Os principais mecanismos de decisão estão voltados para a negociação e o consenso. Podemos encontrar situações que excetuam os elementos acima apontados, mas, em geral, eles são respeitados. No Direito Internacional, os tratados e outras fontes são importantes instrumentos para a solução de controvérsias, sendo que, em alguns casos, também podem ser utilizados tribunais 9 UNIDADE Introdução ao Direito Internacional Público Muitos de nós têm uma grande dificuldade de entender o funcionamento da solução de controvérsias sem que haja uma “lei” para reger as relações envolvidas; mas não podemos confundir “lei” e “Direito”. Como veremos, o Direito Internacional possui outras fontes que podem e devem ser exploradas! Com isso, podemos afirmar que: • O Direito Interno é marcadopor uma hierarquia de normas (constituição, normas legais, normas infralegais etc.), as quais formam um sistema que se destaca pela sua verticalização. Já o Direito Internacional, caracteriza-se pela horizontalização de seu sistema normativo, sem que haja uma noção de subordinação, em uma verdadeira coordenação normativa; • As condutas interestatais são reguladas difusamente por acordos negociados e firmados bilateral ou multilateralmente entre os sujeitos de Direito Internacional, bem como por outras fontes, em especial, os costumes e princípios gerais. Há, contudo, nas últimas décadas, uma particular situação na Europa com a criação de seu bloco regional (União Europeia), que, dentre outras características, desenvolveu um órgão legislativo comum (para algumas questões), o Parlamento Europeu. Pode o Direito Internacional interferir no Direito Interno de cada Estado? Ex pl or Essa é umas das questões mais complexas de nossa disciplina e que enseja dúvidas práticas e teóricas! Para respondê-la, é interessante examinar o que disciplina a Carta das Nações Unidas1 de 1945 sobre o tema: Carta das Nações Unidas Artigo 2º. A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos mencionados no Artigo 1º, agirão de acordo com os seguintes princípios: [...] 7. nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qual- quer Estado ou obrigará os Membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este princípio, porém, não prejudi- cará a aplicação das medidas coercitivas constantes do Capitulo VII. Dessa forma, qualquer medida de Direito Internacional deve respeitar a ordem interna de cada Estado, ou seja, a soberania de cada Estado, mesmo que, com isso, ele esteja sujeito a sanções estabelecidas em tratados e acordos internacionais. 1 Disponível em <https://goo.gl/FV9xHj>. 10 11 Denominação da Disciplina Historicamente devemos destacar a denominação Direito de Gentes2 (Law of Nations ou Völkerrecht) cunhada por Richard Zouch (1650), que é ainda mantida em uso por alguns autores. Já a expressão internacional foi criada por Jeremias Bentham, em seu Plano para a Paz Perpétua e Universal, publicado em 1831. Embora haja críticas, a denominação Direito Internacional se firmou como a mais comum e de uso corrente, sendo que, em algumas situações, modifica-se para Direito Internacional Público, quando necessário fazer um confronto com o Direito Internacional Privado. Fontes do Direito Internacional Antes de esclarecer quais são as fontes do Direito Internacional, convém esclarecer o que essa expressão significa. Por fontes do direito internacional, entendam-se os documentos ou pronunciamentos de que emanam direitos e deveres das pessoas internacionais, configurando os modos formais de constatação do direito internacional (ACCIOLY, 2014, p. 144). As fontes do direito Internacional estabelecem padrões de comportamentos (direitos e deveres), servindo, em várias situações, como importante elemento nas decisões de controvérsias. O principal órgão judiciário da Organização das Nações Unidas (ONU) é a Corte Internacional de Justiça (CIJ)3, cujo estatuto está anexo à Carta da ONU4. Nele, especificamente em seu artigo 38, encontraremos quais são as principais fontes do Direito Internacional. Estatuto da Corte Internacional de Justiça Artigo 38. 1. A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos estados litigantes; b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; c) os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas; 2 Ou na sua variação Direitos das Gentes. 3 O sítio da CIJ na internet está disponível em <http://www.icj-cij.org/en>. 4 Em nosso país, o Estatuto da Corte Internacional de Justiça foi promulgado, como anexo da Carta da ONU, pelo Decreto n. 19.841, de 22 de outubro de 1945. Disponível em: <https://goo.gl/9yMYWu>. 11 UNIDADE Introdução ao Direito Internacional Público d) sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. 2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir sobre uma questão ex aeque et bano, se as partes com isso concordarem. Simplificando, podemos afirmar que essas fontes são as seguintes: • Tratados e convenções internacionais; • Costume internacional; • Princípios gerais do direito; • Decisões judiciais das cortes internacionais; • Doutrina dos juristas de maior competência de todas as nações. Nessa listagem, devemos destacar que as duas últimas fontes são, na verdade, meios auxiliares para a determinação das regras de direito, ou seja, são fontes auxiliares. Também deve ser destacado que o artigo 38.2 do estatuto permite que a Corte decida em uma questão ex aeque et bano, ou seja, “segundo a equidade e o bem” (SILVA, 1998), mas desde que as partes com isso concordem. Julgar por equidade significa que o julgador deve se aproximar da consciência coletiva e percepção de justiça, sem buscar fundamento em outras fontes do Direito. Sobre o emprego da equidade, menciona Rezek (2000, p. 141) que: Parece generalizada a convicção de que a equidade pode operar tanto na hipótese de insuficiência da norma de direito positivo aplicável quanto naquela em que a norma, embora bastante, traz ao caso concreto solução inaceitável pelo senso de justiça do intérprete. Embora haja essa diversidade de fontes indicadas pelo Estatuto da Corte Internacional de Justiça (além de outras indicadas pela doutrina, tais como as resoluções emanadas de organizações internacionais e os atos unilaterais), não há entre elas qualquer forma de hierarquia. Conheceremos cada uma dessas fontes. Tratados Internacionais Se nos afastarmos das definições apresentadas pela doutrina, podemos encon- trar na Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1986 uma escla- recedora conceituação. 12 13 Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1986 ARTIGO 2º - Expressões empregadas 1. Para os fins da presente Convenção: a) “tratado” significa um acordo internacional regido pelo Direito Internacional e celebrado por escrito i) entre um ou mais Estados e uma ou mais organizações internacionais; ou ii) entre organizações internacionais, quer este acordo conste de um único instrumento ou de dois ou mais instrumentos conexos e qualquer que seja sua denominação específica; Em 1969, foi firmada a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados5, sendo que essa norma somente reconhecia o direito de participação dos estados na formulação desse instrumento. Essa convenção, em razão de sua importância para disciplinar essa fonte elementar do Direito Internacional, é conhecida como Lei dos Tratados, Código dos Tratados ou Tratado dos Tratados. Em 1986, foi realizada uma segunda convenção na mesma cidade de Viena, que, complementando a primeira, expressamente, reconheceu a possibilidade de participação de organizações internacionais na formulação dos tratados. Também ficou estabelecida a possibilidade de que tratados sejam criados tendo por signatários somente organizações internacionais. A grande vantagem dos tratados em relação às outras fontes é que eles possuem maior estabilidade e segurança. Isso porque pressupõem uma participação mais ativa e consensual dos pactuantes (em razão da oportunidade de ampla negociação e exercício da vontade livre), além de constituírem normas escritas (que permitem maior facilidade de comprovação de seu conteúdo). Podemos apontar três fundamentos para a formação dos tratados: • Princípio do Livre Consentimento; • Princípio da Boa-fé; • A regra pactasunt servanda6. Esses três fundamentos são apresentados expressamente no preâmbulo da Convenção de Viena de 1969. Convenção de Viena de 1969 Os Estados Partes na presente Convenção, [...] Constatando que os princípios do livre consentimento e da boa-fé e a regra pacta sunt servanda são universalmente reconhecidos, [...] 5 Promulgada em nosso país pelo Decreto n. 7.030, de 14 de dezembro de 2009. Disponível em: <https://goo.gl/9eSKBJ>. 6 Essa regra se fundamenta no princípio de que as partes são livres para estabelecerem acordos (pactos), contudo, após esses serem estabelecidos, precisam ser respeitados. 13 UNIDADE Introdução ao Direito Internacional Público Deve ser destacado que a definição de tratado apresentada por essa convenção, em sua parte final, utiliza a expressão “qualquer que seja a sua denominação específica”, indicando que a denominação tratado é um termo genérico. Esse gênero possui diversas espécies, com variadas denominações usualmente empregadas; contudo, não há muita precisão técnica na escolha desses nomes: • A expressão Carta indica os tratados mais relevantes, tais como a Carta das Nações Unidas; • Já a expressão Estatuto acabou sendo utilizada para denominar as normas de regência da Corte Internacional de Justiça; • Tem sido bastante comum o uso da denominação Convenção em tratados multilaterais, em especial aqueles que estabelecem codificações7; • Já a expressão Concordata é utilizada em tratados assinados pela Santa Sé com estados que possuem população católica. Condições de validade As condições de validade dos tratados internacionais são as seguintes: • Capacidade das partes pactuantes; • Os agentes que participam de sua elaboração devem estar habilitados; • Consentimento; • Objeto lícito e juridicamente possível. Capacidade das partes pactuantes Seguindo as Convenções de Viena de 1969 e 1986, temos que os estados e as organizações internacionais têm capacidade para concluir tratados, ou seja, comprometerem-se a cumprir o pactuado nesse instrumento. Convenção de Viena de 1969 SEÇÃO 1 - Conclusão de Tratados Artigo 6º - Capacidade dos Estados para Concluir Tratados. Todo Estado tem capacidade para concluir tratados. Convenção de Viena de 1986 SEÇÃO 1 - CONCLUSÃO DE TRATADOS ARTIGO 6º - Capacidade das organizações internacionais para concluir tratados A capacidade de uma organização internacional para concluir tratados é regida pelas regras da organização. 7 Como exemplo, temos a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, que foi incorporado ao Direito brasileiro pelo Decreto n. 6.949/09. Disponível em <https://goo.gl/iEpMpc>. 14 15 Habilitação dos agentes Os representantes dos estados ou das organizações internacionais que participa- rão da confecção do tratado ou a ele irão aderir precisam possuir habilitação, sendo essa dada pela chamada carta de plenos poderes, assinada pelo Chefe de Estado ou pelo seu Ministro das Relações Exteriores. As Convenções de Viena de 1969 e 1986 apresentam situações em que a apresentação da carta de plenos poderes é dispensada, abrangendo, por exemplo, atos praticados pelos chefes de Estado, chefes de Governo e Ministros das Relações Exteriores. Convenção de Viena de 1969 Artigo 7º - Plenos Poderes 1. Uma pessoa é considerada representante de um Estado para a adoção ou autenticação do texto de um tratado ou para expressar o consentimento do Estado em obrigar-se por um tratado se: a) apresentar plenos poderes apropriados; ou b) a prática dos Estados interessados ou outras circunstâncias indicarem que a intenção do Estado era considerar essa pessoa seu representante para esses fins e dispensar os plenos poderes. 2. Em virtude de suas funções e independentemente da apresentação de plenos poderes, são considerados representantes do seu Estado: a) os Chefes de Estado, os Chefes de Governo e os Ministros das Relações Exteriores, para a realização de todos os atos relativos à conclusão de um tratado; b) os Chefes de missão diplomática, para a adoção do texto de um tratado entre o Estado acreditante e o Estado junto ao qual estão acreditados; c) os representantes acreditados pelos Estados perante uma conferência ou organização internacional ou um de seus órgãos, para a adoção do texto de um tratado em tal conferência, organização ou órgão. Convenção de Viena de 1986 ARTIGO 7º - Plenos poderes [...] 3. Uma pessoa é considerada representante de uma organização internacional para a adoção ou autenticação do texto de um tratado ou para expressar o consentimento da organização em obrigar-se por um tratado se: a) apresentar plenos poderes apropriados; ou b) as circunstâncias indicarem que a intenção dos Estados e organizações internacionais era considerar esta pessoa como representante da organização para esses fins, de acordo com as regras da organização, e dispensar os plenos poderes. 15 UNIDADE Introdução ao Direito Internacional Público Consentimento Nos tratados bilaterais, o consentimento dos Estados e das organizações internacionais participantes é essencial para a formulação e adoção de um tratado. Dessa forma, todos aqueles que participam de sua elaboração devem consentir seus termos. Já se o tratado é formulado em uma conferência mundial (tratado multilateral), a adoção de seu texto se faz se houver o consentimento pela maioria de dois terços dos estados presentes e votantes. Convenção de Viena de 1969 Artigo 9º - Adoção do Texto 1. A adoção do texto do tratado efetua-se pelo consentimento de todos os Estados que participam da sua elaboração, exceto quando se aplica o disposto no parágrafo 2. 2. A adoção do texto de um tratado numa conferência internacional efetua- -se pela maioria de dois terços dos Estados presentes e votantes, salvo se esses Estados, pela mesma maioria, decidirem aplicar uma regra diversa. Segundo o artigo 11 da Convenção de 1969, esse consentimento é demonstra- do pela: • Pela assinatura de seu representante habilitado; • Pela troca dos instrumentos constitutivos do tratado; • Aceitação; • Aprovação; • Adesão; • Qualquer outro meio, se assim for acordado. Em razão da necessidade de consentimento dos pactuantes, não pode um tratado criar obrigações para um Estado ou Organização Internacional que não participou de sua elaboração ou a ele não aderiu. Objeto lícito e possível Tal como ocorre em outras áreas do Direito, na formação dos tratados se faz necessária a presença do objeto lícito e possível, muito embora não haja disposição expressa na Convenção de Viena sobre esse ponto em particular. 16 17 Ratificação do tratado Após o consentimento de um Estado a obrigar-se por um tratado, em geral, faz- -se necessário realizar a sua ratificação. A ratificação é o ato administrativo mediante o qual o chefe de estado confirma tratado firmado em seu nome ou em nome do estado, declarando aceito o que foi convencionado pelo agente signatário. Geralmente, só ocorre a ratificação depois que o tratado foi aprovado pelo Parlamento, a exemplo do que ocorre no Brasil, onde essa faculdade é do Congresso Nacional (ACCIOLY, 2014, p. 165). Em nosso país, a ratificação decorre de duas disposições constitucionais: • Em primeiro lugar, devemos destacar o artigo 84, inciso VIII: Constituição Federal Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: [...] VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; Como vimos, é comum que um tratado seja adotado por um Estado mediante a ação de alguém que recebeu a carta de plenos poderes (denominada de ministro plenipotenciário), que tem a função de representar os interesses desse Estado naquele ato. Contudo, nos termos constitucionais, a celebração de atos dessa natureza cabe ao Presidente da República. Assim, dentre outras funções, a ratificação tem o condão de ajustar essaquestão ao dispositivo constitucional. Ocorre, contudo, que, em muitos casos, esse ato do Chefe do Poder Executivo precisa ser precedido de referendo do Congresso Nacional. • Sobre o referendo dado pelo Congresso Nacional, é necessário observar o artigo 49, inciso I: Constituição Federal Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; De forma esquemática, temos o seguinte procedimento: 17 UNIDADE Introdução ao Direito Internacional Público ADOÇÃO DO TRATADO REMESSA PARA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA ENCAMINHAMENTO AO CONGRESSO NACIONAL POR MEIO DE UMA "EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS" APROVAÇÃO PELO CONGRESSO NACIONAL APROVAÇÃO PELA CÂMARA DOS DEPUTADOS APROVAÇÃO PELO SENADO FEDERAL DECRETO LEGISLATIVO ENCAMINHAMENTO AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA RATIFICAÇÃO DO TRATADO POR MEIO DE DECRETO Figura 1 Após a adoção do tratado, o Presidente da República, por meio de uma Exposição de Motivos, encaminha o instrumento para o Congresso Nacional para referendo. No Congresso Nacional, é elaborado um Projeto de Decreto Legislativo, que inicia a sua tramitação pela Câmara dos Deputados. Após a aprovação por essa Casa Legislativa, o projeto é remetido para o Senado Federal. Com a aprovação do Senado, o Decreto Legislativo é promulgado pelo Presidente do Congresso Nacional (função essa desempenhada pelo Presidente do Senado Federal) e remetido para o Presidente da República que, por meio de um Decreto, ratifica o tratado. Após essas providências, segue-se o depósito do instrumento de ratificação. Depósito e Registro na Organização das Nações Unidades Em geral, após a ratificação, os tratados são depositados e registrados na Secretaria da Organização das Nações Unidas. Nesse particular, dispõe a Carta da ONU o seguinte: Carta das Nações Unidas Artigo 102 1. Todo tratado e todo acordo internacional, concluídos por qualquer Membro das Nações Unidas depois da entrada em vigor da presente Carta, deverão, dentro do mais breve prazo possível, ser registrados e publicados pelo Secretariado. 2. Nenhuma parte em qualquer tratado ou acordo internacional que não tenha sido registrado de conformidade com as disposições do parágrafo 1º deste Artigo poderá invocar tal tratado ou acordo perante qualquer órgão das Nações Unidas. 18 19 Como exemplo da necessidade de ratificação e de depósito na Organização das Nações Unidas, temos a Convenção de Viena de 1969. Convenção de Viena de 1969 Artigo 82 - Ratificação A presente Convenção é sujeita à ratificação. Os instrumentos de ratificação serão depositados junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas. Há a possibilidade de que esse depósito e registro ocorra em outras organizações internacionais, tal como a Organização dos Estados Americanos – OEA. Hierarquia dos Tratados Internacionais no Direito Interno Brasileiro Os tratados são instrumentos próprios do Direito Internacional, estabelecendo regras e princípios que devem ser observados pelos estados e pelas organizações internacionais em suas relações. Contudo, em nosso sistema jurídico, essas normas podem passar por um processo de internalização e estabelecer direitos e obrigações no Direito Interno. Especialmente após o julgamento do Recurso Extraordinário n. 466.343, o Supremo Tribunal Federal passou a entender que a hierarquia dos tratados internacionais (após a sua ratificação e internalização), dentro do ordenamento jurídico brasileiro, pode apresentar três situações distintas: • Regra geral: » o decreto legislativo deve ser aprovado por maioria simples em cada uma das duas casas do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal); » o tratado é incorporado ao Direito Interno com hierarquia Infraconstitucional, ou seja, equivalente à legislação federal ordinária. • Se a matéria do tratado ou convenção se refere a direitos humanos, pode ocorrer duas situações diferentes: » Se o Decreto Legislativo foi aprovado por maioria simples em cada uma das duas casas do Congresso Nacional, o tratado é incorporado ao Direito Interno com hierarquia supralegal, ou seja, está acima das normas infraconstitucionais, mas ainda abaixo da Constituição Federal; » Se o Decreto Legislativo foi aprovado, em dois turnos de votação, pelo quórum de 3/5, em cada uma das duas casas do Congresso Nacional, o tratado é incorporado ao Direito Interno com hierarquia constitucional (norma constitucional). Essa diferença em relação aos tratados de direitos humanos ocorre em razão de modificações no tratamento dessa questão em nossa Constituição Federal realizadas pela Emenda Constitucional n. 45/04, dessa forma: 19 UNIDADE Introdução ao Direito Internacional Público • Os tratados de direitos humanos ratificados e internalizados antes dessa Emenda Constitucional somente necessitarão de decisão da maioria simples dos membros das casas do nosso Congresso; • Após a Emenda Constitucional, esse tipo de procedimento precisa de um maior quórum de ratificação. O primeiro tratado internacional que passou por esse procedimento estabelecido pela Emenda Constitucional n. 45/04 foi a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008. Reservas Durante as negociações de um tratado multilateral, o Estado pode divergir de determinado dispositivo, formulando uma reserva, desde que admitida por esse instrumento internacional. Da mesma forma, essa reserva pode ser inserida na tramitação do referendo perante o Congresso Nacional. Em tratados bilaterais, esse direito não existe, em razão da necessidade de mútuo consenso de todas as cláusulas. Na Convenção de Viena de 1986, encontramos a seguinte definição: Convenção de Viena de 1969 ARTIGO 2º - Expressões empregadas 1. Para os fins da presente Convenção: [...] d) “reserva” significa uma declaração unilateral, feita por um Estado ou por uma organização internacional, seja qual for a sua redação ou denominação, ao assinar, ratificar, confirmar formalmente, aceitar, aprovar um tratado ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação a este Estado ou a esta organização; Costume Internacional O costume é uma prática geral e constante, aceita como sendo de direito, adotada em determinada situação de fato pelos sujeitos de Direito Internacional em razão da convicção de sua obrigatoriedade. O costume apresenta dois elementos constitutivos: • Elemento material (ou externo): são procedimentos repetidos, ou seja, realizados reiteradamente pela sociedade ao longo do tempo. O costume é mais amplo que o mero uso (que é um de seus elementos constitutivos) e tem natureza obrigató- ria, pois é prática consagrada de longa data nas relações internacionais; • Elemento subjetivo (ou psicológico): a opinio juris vel necessitatis, ou seja, a convicção de que tal prática funciona como lei, sendo jurídica e justa. 20 21 Accioly (2014, p. 153), ao referir-se ao entendimento da Corte Internacional de Justiça sobre os costumes, menciona: A Corte Internacional de Justiça teve oportunidade de exprimir seu entendi- mento a respeito do costume, ao afirmar ser a base deste a prática reiterada acompanhada da convicção quanto a ser obrigatória essa prática, em razão da existência de norma jurídica, em que “os estados devem ter consciência de se conformarem ao que equivale a uma obrigação jurídica” [...]. Os costumes foram e continuam a ser uma importante fonte do Direito Inter- nacional, não sendo incomum que tratados façam expressa menção a eles. Nesse particular, observe o que consta do preâmbulo da Convenção de Viena de 1969: Convenção de Viena de 1969 Os Estados Partes na presente Convenção, [...] Afirmando que as regras do Direito Internacionalconsuetudinário8 continuarão a reger as questões não reguladas pelas disposições da presente Convenção [...] Princípios Gerais do Direito Tratando desses princípios, menciona Accioly (2014, p. 174-175): Dentre as fontes de direito internacional, enumeradas pelo Estatuto da CIJ, os princípios gerais do direito, se considerados enquanto fonte formal, seriam os mais vagos, os de mais difícil caracterização, com consideráveis variações, desde autores que negam o seu valor, enquanto outros julgam que se trata, em última análise, de aspecto do costume internacional, ao passo que, considerados como fonte real, constituem o eixo de valores e princípios que poderá nortear a consolidação e interpretação das normas, por serem a fonte verdadeira ou fundamental, e a que pode fornecer elementos para a interpretação dos tratados e dos costumes, as duas grandes fontes incontestadas do direito internacional positivo, enquanto fontes formais ou positivas. A doutrina e a jurisprudência internacional atuais consideram os princípios gerais do direito elemento importante para a interpretação dos tratados e a aplicação dos costumes. Particularmente no Direito brasileiro, o artigo 4º da Constituição Federal brasileira consagra os princípios que devem nortear as relações internacionais do Brasil. Apesar de serem considerados como fonte interna, o conteúdo desses princípios acabam por nortear as nossas relações internacionais. 8 Direito consuetudinário é o direito formado com base nos costumes. 21 UNIDADE Introdução ao Direito Internacional Público Constituição Federal Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Decisões Judiciais das Cortes Internacionais A jurisprudência internacional e a doutrina são classificadas como fontes auxiliares de Direito Internacional Público. Como a própria terminologia sugere, não é somente a jurisprudência da Corte Internacional de Justiça que se considera fonte do Direito Internacional, sendo também considera aquela proveniente de outras cortes desse tipo. Doutrina dos Juristas de Maior Competência de Todas as Nações A doutrina é composta pelo trabalho dos profissionais que se dedicam ao estudo dos fenômenos jurídicos, buscando interpretar e aplicar o Direito para as diversas situações que se apresentam. No caso do Direito Internacional, a doutrina daqueles autores notoriamente reconhecidos no âmbito internacional deve ser aplicada como meio auxiliar para a solução de litígios. Além desses trabalhos individuais, desenvolveu-se também a ideia de uma doutrina coletiva. Trata-se de trabalhos de caráter científico que são expedidas por organizações destinadas ao estudo e desenvolvimento desse ramo do Direito, tais como: o Institut du Droit International9 e a International Law Association10, as quais são formadas por professores, advogados e diplomatas de todo o mundo, tendo como principal atividade o estudo científico dos grandes temas do Direito Internacional. 9 Cujo site é o seguinte: <http://www.idi-iil.org/en/>. 10 Cujo site na internet encontra-se no seguinte endereço eletrônico: <http://www.ila-hq.org>. 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Carta das Nações Unidas e Estatuto da Corte Internacional de Justiça https://goo.gl/FV9xHj Sítio da Corte Internacional de Justiça (CIJ) na Internet https://goo.gl/nyeoMA Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados https://goo.gl/9eSKBJ Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo https://goo.gl/iEpMpc 23 UNIDADE Introdução ao Direito Internacional Público Referências ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E. do Nascimento; CASELLA, Paulo Borba. Manual de direito internacional público. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. ARAÚJO, Luís Ivani de Amorim. Curso de direito internacional público. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. HUSEK, Carlos Roberto. Curso de Direito Internacional Público. 14. ed. São Paulo: LTr, 2017. REZEK, J.F. Direito internacional público. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. SEITENFUS, Ricardo. Manual das organizações internacionais. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. VARELLA, Marcelo Dias. Direito Internacional Público. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 24 Direito Internacional Público e Privado Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites Personalidade de Direito Internacional • Introdução • O Estado • Organização Internacional · Conhecer os dois mais destacados sujeitos de Direito Internacional Público, os estados e as organizações internacionais. Em relação aos estados, ver quais são seus elementos constitutivos e como eles são reconhecidos. Já em relação às organizações internacionais, conhe- cer as suas características para, em seguida, conhecer duas das mais destacadas delas: a Organização das Nações Unidas e o Mecorsul. OBJETIVO DE APRENDIZADO Personalidade de Direito Internacional Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Introdução Tradicionalmente, os estados figuram como os únicos detentores de personalidade internacional, ou seja, podem ser titulares de direitos e obrigações estipuladas pelas fontes do Direito Internacional. Porém, após a segunda metade do último século, passou-se a entender que as organizações internacionais também possuem esse mesmo qualificativo, ficando isso extremamenteevidente com a entrada em vigor da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1986, que expressamente menciona que essas organizações podem ser signatárias de tratados. Nesse particular, ensina Rezek (2000, p. 145): A personalidade jurídica do Estado, em direito das gentes, diz-se originária, enquanto derivada a das organizações. O Estado, com efeito, não tem apenas precedência histórica: ele é antes de tudo, uma realidade física, um espaço territorial sobre o qual vive uma comunidade de seres humanos. A organização internacional carece dessa dupla dimensão material. Ela é produto exclusivo de uma elaboração jurídica resultante da vontade conjugada de certo número de Estados. Muito embora haja uma importante divergência doutrinária a respeito de um terceiro sujeito do Direito Internacional, o indivíduo, o foco de nossa aula está naqueles primeiros sujeitos, ou seja, os estados e as organizações internacionais sob a ótica do Direito Internacional. O Estado Como vimos, inicialmente o Direito Internacional estava voltado para a relação entre estados e, somente nas últimas décadas, ocorreu um alargamento para reconhecer a personalidade das organizações internacionais. O estado é, antes de mais nada, uma realidade política e social, cabendo ao Direito Internacional estudar quais são seus elementos constitutivos e a forma como se dá o seu reconhecimento. Elementos constitutivos Se verificarmos os diversos autores, não encontraremos unanimidade na identificação dos elementos constitutivos do Estado. Com essa observação, deve ser destacado o ensinamento de Rezek (2000, p. 153): 8 9 O Estado, sujeito originário de direito internacional público, ostenta três elementos conjugados: uma base territorial, uma comunidade humana estabelecida sobre essa área e uma forma de governo não subordinado a qualquer autoridade exterior. Contudo, na Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados1 firmada por ocasião da Sétima Conferência Internacional Pan-americana, realizada em Montevidéu em 1938, estabeleceu-se que: Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados Artigo 1 O Estado como pessoa de Direito Internacional deve reunir os seguintes requisitos. I. População permanente. II. Território determinado. III. Governo. IV. Capacidade de entrar em relações com os demais Estados. Seguindo o disposto nessa convenção, analisaremos cada um desses elementos constitutivos. População permanente É o elemento humano do Estado. População é o conjunto de pessoas residentes em caráter permanente no território do Estado, abrangendo em sua maioria os nacionais e uma minoria de estrangeiros. Embora na linguagem comum muitas vezes a palavra povo acabe sendo empregada como equivalente à população, elas não se confundem. A palavra povo “tem sentido sobretudo social, ou seja, povo em oposição a governo, ou parte da coletividade determinada pelo aspecto social” (ACCIOLY, 2014, p. 248). Decorre da análise desse elemento a necessidade de sabermos o que é a nacionalidade. Nacionalidade é um vínculo político entre o Estado soberano e o indivíduo, que faz deste um membro da comunidade constitutiva da dimensão pessoal do Estado (REZEK 2000, p. 153). 1 Esta convenção foi ratificada em nosso país por meio do Decreto n. 1.570/37. Disponível em: <https://goo.gl/j3nLSv>. 9 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Embora tenha importantes reflexos no Direito Internacional, cabe a cada Estado estipular em seu Direito Interno as regras que adotará para estabelecer o vínculo de nacionalidade. Território É o espaço onde o Estado exerce sua soberania, ou seja, espaço em cujos limites ocorre o exercício do poder estatal. Nele, o Estado soberano exerce uma jurisdição geral e exclusiva. A generalidade da jurisdição significa que o Estado exerce no seu domínio territorial todas as competências de ordem legislativa, administrativa e jurisdicional. A exclusividade significa que, no exercício de tais competências, o Estado local não enfrenta concorrência de qualquer outra soberania. Só ele pode, assim, tomar medidas restritivas contra pessoas, detentor que é do monopólio do uso legítimo da força pública (REZEK, 2000, p. 154). Governo e a capacidade de manter relações com os demais estados Esses requisitos se referem à capacidade do Estado de tomar decisões sobre a sua gestão interna e suas relações internacionais de forma livre de interferências. Para ser reconhecido como tal, o Governo não pode sofrer interferências dos de- mais estados, seja no âmbito interno (gestão interna do país), seja nas suas relações com outros atores do direito internacional, ou seja, o Governo deve ter soberania. A soberania significa independência sem qualquer tipo de subordinação de suas decisões a qualquer tipo de autoridade ou ordem externa. Sem a sua presença, não podemos identificar um governo e, em decorrência, um Estado que possa manter relações em igualdade com os demais. Identificamos o Estado quando seu governo [...] não se subordina a qualquer autoridade que lhe seja superior, não reconhece, em última análise, nenhum poder maior que dependa a definição e o exercício de suas competências (REZEK 2000, p. 216). Para manter relações com outros sujeitos de direito internacional, é necessário que um Estado seja reconhecido como tal por esses sujeitos. Reconhecimento de Estado O reconhecimento de um Estado é uma manifestação de direito internacional diretamente relacionada à sua soberania. O reconhecimento do Estado é a manifestação unilateral e discricionária de outros Estados ou Organizações Internacionais no sentido de aceitar a criação de um novo sujeito de direito internacional, portanto, com direitos e obrigações (VARELLA, 2012, p. 246). 10 11 Sendo assim, formado um Estado, surge a necessidade do seu reconhecimento internacional. Trata-se de ato discricionário, unilateral, irrevogável e incondicional, por meio do qual o surgimento de um novo sujeito de direito internacional é atestado pelos demais estados. Esse reconhecimento pode ser expresso ou tácito. O reconhecimento expresso ocorre, por exemplo, em declarações conjuntas de reconhecimento e na confecção de tratados bilaterais. Já no reconhecimento implícito, não há atos formais, mas apenas o tratamento de questões comuns que demonstram esse reconhecimento mútuo. É o que ocorre, por exemplo, quando um Chefe de Estado em visita oficial é recebido por outro e esses passam a discutir questões internacionais comuns ou que se refiram ao relacionamento de seus estados. Para que haja o reconhecimento, é preciso que o governo seja independente e tenha o controle de forma efetiva de seu território, bem como cumpra as obrigações internacionais. Duas observações se fazem necessárias: • Não cabe à Organização das Nações Unidas decidir sobre a existência e o reconhecimento de um determinado Estado. Cada Estado, no uso da sua soberania e de acordo com seus interesses e conveniências, deve decidir se realiza esse reconhecimento de outro Estado; • Quando o Estado participa da elaboração ou adere a um tratado multilateral, ele não está reconhecendo outros estados que também se comprometeram nesse instrumento. Deve ficar claro que o reconhecimento mútuo da personalidade internacional só configura pressuposto necessário da celebração de tratados bilaterais. No plano da multilateralidade, a situação sempre foi diversa. Ninguém discute a certeza deste princípio costumeiro: o fato de certo Estado negociar em conferência, assinar ou ratificar um tratado coletivo, ou de a ele aderir, não implica, por sua parte, o reconhecimento de todos os demais pactuantes (REZEK, 2000, p. 219). Reconhecimento de Governo O reconhecimento de governo não se confunde com o reconhecimento do Estado. O reconhecimento de um novo governo dá-se quando a comunidade internacional vislumbra, em um Estado anteriormente já reconhecido, a alteração de sua direção. Em geral, quando não há uma ruptura da linha política interna,esse reconhecimento se dá sem maiores problemas. Tanto é assim que, normalmente, os países que mantêm relações diplomáticas com aquele Estado enviam representantes para a posse do novo mandatário. Contudo, a instalação de um novo governo em um Estado a partir da desconsi- deração do ordenamento jurídico vigente, tal como em casos de golpes de Estado e revoluções, acarreta a necessidade de que essa nova direção do Estado tenha que passar por um claro reconhecimento que, muitas vezes, chega a ser expresso. 11 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Extinção e sucessão de estados O desaparecimento de qualquer dos elementos constitutivos do Estado ocasiona a sua extinção total ou parcial. Será total, quando decorrente da fusão, anexação total ou desaparecimento do território, e parcial, quando estiver caracterizada, de qualquer forma, a restrição de sua soberania. A Convenção de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de Tratados (1978) dispõe que a “sucessão de estados significa a substituição de um Estado por outro na responsabilidade das relações internacionais de um território”, ou seja, há uma transferência de direitos e obrigações do Estado extinto para outro Estado – anteriormente existente ou formado nesse ato. As principais modalidades de sucessão de estados são: • Emancipação: é a aquisição da independência de uma colônia em relação ao estado controlador. Ex.: Brasil, em relação a Portugal; • Fusão: é a união de dois ou mais Estados para formar um terceiro, com nova personalidade jurídica internacional. Ex.: Unificações alemã e italiana; • Anexação total: ocorre quando um Estado é absorvido (anexado) plenamente por outro, extinguindo-se a personalidade internacional do primeiro. Ex.: Etiópia, quando anexada à Itália de Mussolini; • Anexação parcial: ocorre quando um Estado perde parcela de seu território em favor de outro. Ex.: transferências de territórios depois das guerras mundiais. Organização Internacional As primeiras organizações internacionais surgiram com a finalidade de criar condições para a cooperação e solução de problemas bastante específicos, tais como garantir a liberdade de navegação em determinados rios. Na verdade, o escopo da organização é conjugar forças, recursos e interesses em torno de objetivos transnacionais comuns. A primeira grande experiência de organização internacional de âmbito mundial foi a Liga das Nações. As organizações internacionais (ou intergovernamentais) são pessoas jurídicas de direito internacional que se caracterizam por possuir ordens jurídicas próprias que não se confundem com as dos estados que as integram. Como elas resultam da manifestação de vontade de sujeitos de direito internacional público, ou seja, de Estados ou de outras organizações internacionais, não são aceitos, em suas composições, sujeitos de direito interno, tais como indivíduos, empresas e organizações não governamentais (VARELLA, 2012, p. 285). 12 13 Podemos dizer que uma organização internacional é a associação voluntária de sujeitos de direito internacional (estados e outras organizações internacionais) constituída mediante ato internacional (um tratado), de caráter relativamente permanente, dotada de regulamento e de órgãos de direção próprios, cuja finalidade é a de atingir os objetivos comuns determinados por seus membros constituintes. A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1986 buscou dis- ciplinar as normas de direito internacional aplicáveis ao poder convencional das organizações internacionais. Essas organizações intergovernamentais, uma vez constituídas, adquirem personalidade internacional independente da de seus mem- bros constituintes, podendo, portanto, adquirir direitos e contrair obrigações em seu nome próprio – inclusive por intermédio da celebração de tratados com outras organizações internacionais e com estados, nos termos do seu ato constitutivo. Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1986 ARTIGO 6º – Capacidade das organizações internacionais para concluir tratados A capacidade de uma organização internacional para concluir tratados é regida pelas regras da organização. Vamos então conhecer a Organização das Nações Unidas e o Mercosul, duas das organizações mais importantes para o nosso Direito. Organização das Nações Unidas – ONU Antecedentes históricos É comum imaginar que somente no século XX os estados passaram a se preocupar em criar organizações internacionais mais estruturadas para a solução de problemas comuns, que necessitavam de uma coordenação de esforços para que fossem solucionados; contudo, não é essa a realidade. No século XIX, surgiram algumas iniciativas desse tipo, as quais redundaram na criação das mais antigas organizações internacionais, as quais ainda estão em plena atividade: • A União Internacional de Telecomunicações (International Telecommunication Union – ITU2) foi fundada em 1865 em Paris, tendo o nome inicial de International Telegraph Union; 2 O site da ITU na internet é <https://goo.gl/lsZEm>. Desde 1947, essa organização é uma agência especializada da ONU. Figura 1 − Símbolo da União Internacional de Telecomunicações 13 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional • A União Postal Universal (Universal Postal Union – UPU3) foi fundada em 1874. Figura 2 − Símbolo da União Postal Universal Também deve ser destacada a Conferência de Paz em Haia de 1899 (Países Baixos), que estabeleceu mecanismos para a criação de tribunais arbitrais para resolver conflitos e disputas que envolvessem estados. Fazia parte desses mecanismos a criação de um escritório permanente localizado em Haia para registro judicial e secretariado dos tribunais quando fossem criados. Esse escritório acabou sendo denominado de Corte Permanente de Arbitragem (The Permanent Court of Arbitration), sendo estabelecido em 1900 e iniciado seus trabalhos em 1902. Essa corte é a predecessora da Corte Internacional de Justiça4 da ONU. Outro ponto histórico marcante é a criação da Liga das Nações (ou Sociedade das Nações), que foi instituída em 28 de junho de 1919, pelo Tratado de Versailles, durante a conferência organizada em razão do final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Antes mesmo do final da guerra, o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, já havia apresentado uma proposta de criação dessa organização. Contudo, apesar desse entusiasmo, o Senado de seu país não ratificou o tratado, razão pela qual não houve a adesão daquele país àquela Liga. O grande propósito da Liga das Nações era o de estabelecer mecanismos para a manutenção da paz, evitando a ocorrência de um grande, conflito como a Primeira Guerra Mundial. Tratado de Versailles Art.11. Fica expressamente declarado que toda guerra ou ameaça de guerra, quer afete diretamente ou não um dos Membros da Sociedade, interessará à Sociedade inteira e esta deverá tomar as medidas apropriadas para salvaguardar eficazmente a paz das Nações. Em semelhante caso, o Secretário Geral convocará imediatamente o Conselho a pedido de qualquer Membro da Sociedade. 3 O site da UPU na internet é <http://www.upu.int/en.html>, sendo essa organização uma agência especializada da ONU. 4 O site da Corte Internacional de Justiça na internet é <http://www.icj-cij.org/en>. 14 15 Além disso, fica declarado que todo Membro da Sociedade tem o direito de, a título amigável, chamar a atenção da Assembleia ou do Conselho sobre qualquer circunstância de natureza a afetar as relações internacionais e que ameace, consequentemente, perturbar a paz ou o bom acordo entre as Nações, do qual depende a paz. Em razão do disposto no artigo 14 do Tratado de Versailles5, a Liga das Nações realizou a criação de um Tribunal a ela vinculado que tinha a função de resolver conflitos e de emitir pareceres consultivos em disputas que envolvessem estados que faziam parte da Liga. Tratado de Versailles Art. 14. O Conselho será encarregado de preparar um projeto de Tribunalpermanente de justiça internacional e de submetê-lo aos Membros da Sociedade. Esse Tribunal tomará conhecimento de todos os litígios de caráter internacional que as Partes lhe submetam. Dará também pareceres consultivos sobre toda pendência ou todo ponto que lhe submeta o Conselho ou a Assembleia. Esse tribunal, denominado Corte Permanente de Justiça Internacional (The Permanent Court of International Justice), foi instalado em Haia em 1922, dividindo o mesmo edifício da Corte Permanente de Arbitragem – o Palácio da Paz. Também decorrente do Tratado de Versailles se deu a criação da Organização Internacional do Trabalho6 (International Labour Organization – ILO), que também se vinculava à Liga das Nações. Apesar dos avanços, a Liga das Nações acabou sendo extinta em 1946. Entre outros fatores, isso se deu em razão de sua incapacidade de evitar a ocorrência de grandes conflitos, como a Segunda Guerra Mundial. Em consequência, foi realizada a criação da Organização das Nações Unidas – ONU (United Nations – UN7). Figura 3 − Palácio da Paz – Haia Fonte: Wikimedia Commons 5 Disponível em: <https://goo.gl/gH4EK7>. 6 O site da ILO na internet é <https://goo.gl/BeSYV>. 7 O site da ONU na internet é <https://goo.gl/RBr4VZ>. 15 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Criação A Organização das Nações Unidas foi fundada oficialmente em 24 de outubro de 1945, em São Francisco, Estados Unidos, por 51 países, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, sendo que a sua primeira Assembleia Geral foi realizada em 10 de janeiro de 1946 no Westminster Central Hall, localizado em Londres. Em 1952, foi inaugurada a sua atual sede, na ci- dade de Nova York, devendo ser destacado que entre as pessoas envolvidas na elaboração do projeto de suas instalações estava o brasileiro Oscar Niemayer. Seu principal documento de regência é a Carta das Nações Unidas8 que, dentre outros vários assuntos, indica seus propósitos. Carta das Nações Unidas Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são: 1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma perturbação da paz; 2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal; 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e 4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. Em razão de suas características, a Organização das Nações Unidas tem como línguas oficiais as seguintes: chinês, francês, russo, inglês e espanhol. 8 Esse documento foi elaborado por ocasião da Conferencia de Organização Internacional da Nações Unidas, em São Francisco (Estados Unidos), sendo assinada em 26 de junho de 1945. Em nosso país, essa Carta foi ratificada pela Decreto n. 19.841/45 – disponível em: <https://goo.gl/FV9xHj>. Figura 4 − Símbolo da ONU 16 17 Membros Atualmente9 a ONU é composta por 193 estados-membros, que participaram de sua criação ou que, posteriormente, solicitaram a sua filiação nos termos do artigo 4 da Carta. Carta das Nações Unidas Artigo 4. 1. A admissão como Membro das Nações Unidas fica aberta a todos os Estados amantes da paz que aceitarem as obrigações contidas na presente Carta e que, a juízo da Organização, estiverem aptos e dispostos a cumprir tais obrigações. 2. A admissão de qualquer desses Estados como Membros das Nações Unidas será efetuada por decisão da Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. Para ser admitido na ONU, um Estado deve, inicialmente, apresentar um pedido para o Secretário Geral atestando que se compromete com os princípios da Carta e solicita a sua admissão. Essa solicitação é encaminhada ao Conselho de Segurança (CS), onde precisa ser aprovado. Em seguida, esse requerimento é remetido para a Assembleia Geral (AG), na qual, novamente, precisa obter a aprovação. Estrutura Os principais órgãos da estrutura da ONU são: • Assembleia Geral; • Conselho de Segurança; • Conselho Econômico e Social; • Secretariado; • Conselho de Tutela; • Corte Internacional de Justiça. Carta das Nações Unidas Artigo 7 1. Ficam estabelecidos como órgãos principais das Nações Unidas: uma Assembleia Geral, um Conselho de Segurança, um Conselho Econômico e Social, um conselho de Tutela, uma Corte Internacional de Justiça e um Secretariado. 9 Em agosto de 2017. 17 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Assembleia Geral É o mais importante órgão deliberativo da ONU, sendo constituído por todos os membros dessa organização que se reúnem em sessões anuais (iniciadas em setembro de cada ano). Nela, cada membro tem um voto e não existe, tal como ocorre no Conselho de Segurança, o direito a veto. Figura 5 − Salão de Reuniões da Assembleia Geral Fonte: iStock/Getty Images Em cada sessão, é eleito um presidente desse órgão. Além das sessões anuais regulares, podem ocorrer sessões especiais, as quais podem ser convocadas, nos termos do artigo 20 da Carta da ONU, a pedido: • do Secretário Geral; • do Conselho de Segurança; • da maioria dos Membros das Nações Unidas. Há duas formas de os assuntos serem decididos: • Nas chamadas questões importantes, a decisão se dá pela maioria de dois terços dos membros presentes e votantes. As questões importantes são as seguintes: recomendações relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais; eleição dos Membros não permanentes do Conselho de Segurança; eleição dos membros do Conselho Econômico e Social; eleição dos Membros do Conselho de Tutela; admissão de novos Membros das Nações Unidas; suspensão dos direitos e privilégios de Membros; expulsão dos Membros; questões referentes ao funcionamento do sistema de tutela e questões orçamentárias; • Nas demais questões apreciadas pela Assembleia Geral, a decisão se dá por maioria de votos dos países presentes e votantes. 18 19 Muito embora tenha sido estabelecido o quórum de aprovação das suas deliberações, o costume desse órgão é que se busque, ao máximo, a formação de consenso para as questões de sua competência, assim sempre se persegue o ideal de que as decisões sejam unânimes, muito embora nem sempre isso seja possível. No que concerne às suas funções, a Assembleia deve discutir e fazer recomen- dações sobre temas relacionados às competências da ONU; discutir e fazer reco- mendações relativas sobre desarmamento e regulamentação de armamentos; considerar os princípios gerais de cooperação na manutenção da paz e da segurança internacionais” e fazer recomendações relativas a tais princípios (artigo 11); fazer estudos e recomendações sobre cooperação internacional, nos diferentes domínios econômicos, culturais e sociais, codificação e desenvolvimento do Direito Internacional e fazer recomendações para a solução pacífica de qualquer situação internacional. Conselho de Segurança O Conselho de Segurança (CS) é órgão permanente da ONU, vale dizer, e permanece em funcionamento ao longo do ano. Não obstante, embora se reuna ordinariamente na sede da ONU, em Nova Iorque, nada impede que o Conselho realize encontros em outras localidades. Figura 6 − Salão do Conselho de Segurança Fonte: Wikimedia Commons É formado por quinze membros, sendo: • Cinco Membros Permanentes: » China; » Estados Unidos; » Rússia; » França; e » Reino Unido. 19 UNIDADEPersonalidade de Direito Internacional • Dez Membros Não Permanentes: que são escolhidos pela Assembleia Geral (AG) para um mandato de dois anos. Os Cinco Membros Permanentes ou Cinco Grandes são os cinco Grandes Vitoriosos da Segunda Guerra Mundial que, nessa qualidade de protagonistas, angariaram privilégios e poderes diferenciados dos demais estados. Vale ressaltar que os membros permanentes possuem o poder de veto. Na eleição dos Dez Membros Não Permanentes, devem ser considerados os seguintes elementos descritos no artigo 23.1 da Carta da ONU: • a contribuição dos Membros das Nações Unidas para a manutenção da paz e da segurança internacionais e para os outros propósitos da Organização; • a distribuição geográfica equitativa. Os membros do Conselho de Segurança (permanentes e não permanentes) se alternam na presidência desse órgão, sendo que a troca ocorre mensalmente, considerando para tanto a ordem alfabética (em inglês) do nome dos estados que fazem parte dele. Dentre as funções do Conselho de Segurança, devem ser destacadas as mencionadas no artigo 24 da Carta da ONU: Carta da ONU Artigo 24 1. A fim de assegurar pronta e eficaz ação por parte das Nações Unidas, seus Membros conferem ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da paz e da segurança internacionais e concordam em que, no cumprimento dos deveres impostos por essa responsabilidade, o Conselho de Segurança aja em nome deles. Ao fazer suas recomendações, o Conselho de Segurança deve levar em consideração que as controvérsias de caráter jurídico devem, em regra geral, serem submetidas pelas partes à Corte Internacional de Justiça. Ao lado disso, o Conselho de Segurança ostenta atribuições outras, como a participação na escolha dos membros da Corte Internacional de Justiça. Pautando-se pelos princípios orientadores da ONU, o Conselho de Segurança deve buscar, precipuamente, uma solução pacífica para conflitos. Em casos extremos, ele pode impor as seguintes sanções: • A interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de co- municação ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radiofônicos, ou de qualquer outra espécie e o rompimento das relações diplomáticas (art. 41); • Se infrutíferas as sanções do art. 41, poderá levar a efeito, por meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessária para manter ou restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá compreender demonstrações, bloqueios e outras operações por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos Membros das Nações Unidas (art. 42). 20 21 Na verdade, a imposição das sanções pelo Conselho de Segurança ou outro órgão da ONU representa uma forma de trazer o Estado em litígio para negociação, buscando prevenir a eclosão de conflitos armados ou a sua interrupção. Forças de Paz Embora o processo de manutenção da paz não seja especificamente mencionado na Carta das Nações Unidas, essa norma confere ao Conselho de Segurança responsabilidade primária pela manutenção da paz e da segurança internacionais. Para desempenhar essa sua missão, o Conselho, em muitos casos, cria missões de manutenção da paz. Isso é feito por meio da estipulação de um mandato – uma descrição das tarefas e dos objetivos que devem ser perseguidos pela Missão de Paz. Além disso, os países membros da ONU e que não tenham ligação com o conflito são convidados a participar da formação dessa missão, sendo que eles devem disponibilizar pessoal e equipamentos para a sua realização. A Força de Paz apresenta periodicamente ao Conselho de Segurança relatórios sobre as dificuldades e as tarefas desempenhadas, para que esse acompanhe essas medidas e, se for o caso, realize outras deliberações para que os objetivos que motivaram a sua criação sejam atingidos. Muito embora deva haver a aceitação do Estado onde a Força de Paz atuará, ela não se subordina ou se reporta a autoridades locais, sendo que somente há vinculação de suas ações ao Conselho de Segurança. Processo decisório do Conselho de Segurança Para que uma matéria seja aprovada pelo Conselho de Segurança, deve haver a concordância de, pelo menos, nove de seus quinze membros. Nesse particular, os vo- tos dos Membros Permanentes e dos Membros Não Permanentes se equivalem. Contudo, para a aprovação, também é necessário que nenhum dos Membros Permanentes se utilize do poder de veto. Se algum ou alguns deles apresentar veto para a questão, não se considera aprovada a deliberação, muito embora tenham sido colhidos nove ou mais votos dos demais membros. Também é possível que um Membro Permanente se abstenha de participar da deliberação, situação em que não haverá qualquer prejuízo para a aprovação da questão em votação, sendo somente necessário que se atinja o quórum mínimo de deliberação – nove votos10. Secretariado É um órgão permanente composto pelo Secretário Geral e pelo pessoal necessário à gestão administrativa da Organização. Nos termos do artigo 97 da Carta da ONU, o Secretário Geral é o principal funcionário administrativo da Organização, sendo que nessa qualidade atuará em todas as reuniões da Assembleia Geral, do Conselho de Segurança e do Conselho Econômico e Social. 10 Membros Não Permanentes também podem se abster de participar de votações. 21 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional O Secretário Geral, no desempenho de suas funções, poderá chamar a atenção do Conselho de Segurança para qualquer assunto que, em sua opinião, possa ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais. Além disso, fazem parte de suas atribuições: • exercer tarefas conferidas pela Assembleia Geral, Conselho de Segurança, de Tutela, Econômico e Social; • fazer relatórios à Assembleia Geral sobre os trabalhos da Organização; • nomear os demais integrantes do Secretariado, seguindo o regramento estabelecido pela Assembleia Geral; • atuar na fase inicial de ameaças à paz. No desempenho de suas funções, o Secretário Geral e os demais membros do Secretariado devem estrito respeito ao disposto no artigo 100.1 da Carta: Carta da ONU Artigo 100. 1. No desempenho de seus deveres, o Secretário-Geral e o pessoal do Secretariado não solicitarão nem receberão instruções de qualquer governo ou de qualquer autoridade estranha à organização. Abster-se-ão de qualquer ação que seja incompatível com a sua posição de funcionários internacionais responsáveis somente perante a Organização. O Secretário Geral é eleito pela Assembleia Geral após prévia aprovação pelo Conselho de Segurança para um mandato de cinco anos, podendo ser reeleito. O Secretário Geral também é Presidente do Conselho de Coordenação dos Chefes Executivos do Sistema das Nações Unidas (CEB), que reúne os Chefes Executivos de todos os fundos, programas e agências especializadas das Nações Unidas duas vezes por ano a fim de promover a coordenação e a cooperação de todos eles em questões de maior relevância e para a gestão de desafios enfrentados pelo Sistema das Nações Unidas. Também é no secretariado que os tratados internacionais são registrados e depositados após a ratificação pelos estados que participaram de sua formação ou após a adesão de outros que, mesmo não participando de sua formação, concordaram expressamente com suas disposições. Conselho Econômico e Social O Conselho Econômico e Social (ECOSOC) é composto por cinquenta e quatro Membros das Nações Unidas eleitos pela Assembleia Geral, sendo que anualmente há uma renovação de um terço deles (18 Membros) em novas eleições. 22 23 Figura 7 − Salão do Conselho Econômico e Social Fonte: Wikimedia Commons Suas atribuições estão descritas nos artigos de 62 a 66 da Carta da ONU, podendo ser destacadas as seguintes: • Realizar estudos e relatórios a respeito de assuntos internacionais de caráter econômico, social, cultural, educacional, sanitário e conexos, podendo fazer recomendações a respeito deles para a Assembleia Geral, paraos Membros das Nações Unidas e para as entidades especializadas interessadas; • Fazer recomendações destinadas a promover o respeito e a observância dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos; • Preparar projetos de convenções a serem submetidos à Assembleia Geral sobre assuntos de sua competência; • Poderá convocar, de acordo com as regras estipuladas pelas Nações Unidas, conferências internacionais sobre assuntos de sua competência; • Estabelecer acordos com qualquer organização internacional, a fim de determinar as condições em que ela poderá se vincular à ONU, devendo esses atos serem submetidos à aprovação da Assembleia Geral; • Coordenar as atividades das entidades especializadas; • Pode fornecer informações ao Conselho de Segurança e, a pedido desse, prestar a ele assistência. Por meio do Conselho Econômico e Social há a integração de diversas organizações internacionais à Organização das Nações Unidas, sendo que essas formam as chamadas agências especializadas. Elas também são chamadas de integrantes da família das Nações Unidas. 23 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Apesar de laços formais com as Nações Unidas, as organizações especializadas não podem ser consideradas como sendo seus órgãos, tanto especiais quanto subsidiários. Elas conservam uma independência jurídica e de conteúdo. Assim, por exemplo, países que não fazem parte das Nações Unidas podem integrar os organismos especializados (SEITENFUS, 2003, p. 149-150). Como vimos, algumas das agências especializadas foram criadas antes da Organização das Nações Unidas, sendo que, posteriormente, vincularam-se a ela. As agências especializadas podem participar das reuniões da Assembleia Geral e nelas apresentar manifestações; contudo, não possuem direito de voto. Como exemplos de agências especializadas que fazem parte da família das Nações Unidas, temos as seguintes: • FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura; • ICAO (International Civil Aviation Organization) – Organização da Aviação Civil Internacional; • IFAD (International Fund for Agricultural Development) – Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola; • ILO (International Labour Organization) – Organização Internacional do Trabalho; • IMF (International Monetary Fund) – Fundo Monetário Internacional; • IMO (International Maritime Organization) – Organização Marítima Internacional; • ITU (International Telecommunication Union) – União Internacional de Telecomunicações; • UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organiza- tion) – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura; • UNIDO (United Nations Industrial Development Organization) – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial; • UNWTO (World Tourism Organization) – Organização Mundial de Turismo; • UPU (Universal Postal Union) – União Postal Universal; • WHO (World Health Organization) – Organização Mundial da Saúde; • WIPO (World Intellectual Property Organization) – Organização Mundial da Propriedade Intelectual; • WMO (World Meteorological Organization) – Organização Meteorológica Mundial; • WORLD BANK GROUP – Banco Mundial; • WTO (World Trade Organization) – Organização Mundial do Comércio. 24 25 • As agências especializadas se ligam ao Conselho Econômico e Social e à Assembleia Geral. Há, contudo, duas agências que reportam suas atividades para o Conselho de Segurança e para a Assembleia Geral, são elas: • IAEA (International Atomic Energy Agency) - Agência Internacional de Energia Atómica; • OPCW (Organization for the Prohibition of Chemical Weapons) – Organização para a Proibição de Armas Químicas. Conselho de Tutela Ao final da Segunda Guerra Mundial ainda existiam no mundo onze territórios aos quais a Carta das Nações Unidas se referia como: territórios cujos povos não tenham atingido a plena capacidade de se governarem a si mesmos (artigo 73). Eles eram constituídos, em geral, de ex-colônias de estados europeus. Figura 8 − Salão do Conselho de Tutela Fonte: Wikimedia Commons Para resolver a essa situação, a ONU estabeleceu o sistema de tutela, com o objetivo de dar aos povos desses territórios condições estruturais para que pudessem criar novos estados. Para tanto, foram designados sete estados-membros para que, nos termos do Capítulo XII da Carta da ONU, realizassem juntamente com o Conselho de Tutela essa transição. Todos esses territórios adquiriram a sua independência ou se juntaram a outros estados já constituídos, sendo que o último deles foi República de Palau (na Oceania), em 1994. Atingido o seu objetivo, o Conselho de Tutela suspendeu suas atividades em novembro de 1994, mas poderá se reunir quando necessário: • por decisão de seu Presidente; • a pedido da maioria de seus membros; • por decisão da Assembleia Geral ou do Conselho de Segurança. 25 UNIDADE Personalidade de Direito Internacional Parte de suas competências, contudo, foi destinada ao Quarto Comitê da Assembleia Geral, que foi encarregado de tratar da política de descolonização das Nações Unidas. Corte Internacional de Justiça Como parte dos esforços pela paz que resultaram na criação da Organização das Nações Unidas, também houve a criação da Corte Internacional de Justiça (CIJ). Figura 9 − Brasão da Corte Internacional de Justiça Fonte: icj-cij.org Trata-se de um órgão permanente da ONU, dotado de dupla função jurisdicional: • Consultiva; • Contenciosa – em matéria não penal. Esse órgão jurisdicional, cuja sede está instalada no Palácio da Paz, em Haia, foi criado na mesma Convenção de São Francisco que finalizou as tratativas para a criação da Organização das Nações Unidas, razão pela qual seu Estatuto (seu principal instrumento normativo) encontra-se anexado à Carta das Nações Unidas. O Estatuto da CIJ só admite a jurisdição de estados, dessa forma, indivíduos e organizações internacionais não têm legitimidade para apresentar seus litígios junto a esse órgão. Estatuto da Corte Internacional de Justiça Artigo 34 1. Só os Estados poderão ser partes em questões perante a Corte. Todos os membros da ONU podem apresentar questões a serem submetidas à CIJ, contudo, excepcionalmente, esse órgão também estará aberto a questões que envolvam estados que não fazem parte das Nações Unidas. 26 27 Estatuto da Corte Internacional de Justiça Artigo 35. 1. A Corte estará aberta aos Estados que são parte no presente Estatuto. 2. As condições pelas quais a Corte estará aberta a outros Estados serão determinadas pelo Conselho de Segurança, ressalvadas as disposições especiais dos tratados vigentes; em nenhum caso, porém, tais condições colocarão as partes em posição de desigualdade perante a Corte. Uma característica dos litígios apresentados na CIJ é que os estados-parte não precisam firmar qualquer compromisso prévio de reconhecimento da jurisdição desse órgão. Também deve ser destacado que a apresentação do litígio por um Estado não precisa contar com a prévia concordância do outro Estado litigante. Os juízes têm mandatos de nove anos, sendo franqueada a recondução. Sobre a composição desse órgão, estabelece seu estatuto que: Estatuto da CIJ Artigo 2. A Corte será composta de um corpo de juízes independentes, eleitos sem atenção à sua nacionalidade, entre pessoas que gozem de alta consideração moral e possuam as condições exigidas em seus respectivos países para o desempenho das mais altas funções judiciárias, ou que sejam jurisconsultos de reconhecida competência em direito internacional. Artigo 3. 1. A corte será composta de quinze membros, não podendo configurar entre eles dois nacionais do mesmo Estado. O processo de escolha dos juízes da CIJ envolve três etapas: • Escolha realizada pela Corte Permanente de Arbitragem; • Eleição pelo Conselho de Segurança da ONU; • Eleição pela Assembleia Geral da ONU. Estatuto
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