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FUNDAMENTOS DO DESIGN AULA 1 Profª Shirlei Miranda Camargo 2 CONVERSA INICIAL Nesta disciplina você terá contato com os principais conceitos, nomenclaturas e características, além de uma visão da situação atual do design no mundo e no Brasil. Alguns desses conteúdos você verá de maneira mais aprofundada em outras disciplinas. Por isso, o nosso foco aqui é fornecer para você uma ideia geral sobre o design, uma espécie de “menu degustação”. Especificamente nesta aula, vamos definir o que é o design, conhecer também um pouco de sua história e saber o que fazem os diferentes tipos de designers. CONTEXTUALIZANDO O design é uma atividade social. Isso porque os designers raramente trabalham sozinhos, isolados. Sempre estão respondendo a clientes, instituições, colaboradores, publicitários etc. Enquanto seu trabalho é exposto publicamente, muitas vezes eles permanecem anônimos (Armstrong, 2009). Isso quer dizer que, obviamente, tirando os grandes nomes do design, a maioria dos designers permanecem praticamente anônimos. No entanto, as suas obras não. Estão ao nosso redor, nos acompanhando, nos ajudando, nos divertindo o tempo todo. Duvida? Olhe em volta nesse momento. Praticamente tudo que você vê foi pensado por um designer: o seu smartphone ou computador; o sofá ou banco de ônibus em que você está sentando; o tênis que você está calçando; até esta aula que você está lendo tem o trabalho de um designer, que escolheu as cores, as fontes das letras, a capa etc. São praticamente infinitos os produtos/serviços que um designer pode criar. Viu como você fez uma boa escolha ao optar por esse curso? O design é um campo muito diversificado e em franca expansão. Antes de qualquer coisa, apesar de parecer meio óbvio, vamos “começar pelo começo”. Você realmente sabe o que é design? TEMA 1 – O QUE É DESIGN? Caro aluno, você precisa ter muito claro em sua mente o que é design. Afirmamos isso porque muitas pessoas confundem dois termos que são 3 relacionados, mas que têm significados completamente diferentes. Observe o anúncio da Figura 1. Figura 1 – Uso incorreto do termo design e designer em anúncio Fonte: Adaptado de WCinco, 2019. Observe a frase: “Parabéns design gráfico”. Ela está errada! Na verdade, o nome correto do profissional não é “design”, mas sim “designer”, assim como outros tipos de profissionais que têm a origem de seu nome no inglês e geralmente terminam com as letras “-er”: personal trainER, personal shoppER, personal organizER etc. Portanto, por exemplo, nunca fale: • Adoro o designer daquele carro. • Estou estudando designer na faculdade. Mas sim: • Adoro o design daquele carro. • Estou estudando design na faculdade. Uma explicação para essa confusão é que o termo “design” foi importado para o Brasil há relativamente pouco tempo, na década de 1960 (Cardoso, 2008). Com a confusão desfeita, vamos conhecer um pouquinho mais sobre a origem dessa palavra. Geralmente, no senso comum, quando alguém fala que algo tem design (e não faz a confusão mencionada anteriormente), a pessoa quer dizer que se 4 trata de algo bonito, atraente, moderno. No entanto, como Borges (2002) alerta, design é muito mais que isso: Não é uma maquiagem superficial, nem um enfeite que se acrescenta quando o produto está pronto, o chantilly ou a cereja em cima do bolo. Design tem a ver com o bolo todo: a farinha que será usada, o jeito de juntar e mexer os ingredientes, o tempo e a temperatura do forno, o sabor, quantos e quais recheios serão usados, e como ele será montado e decorado ao final. É, portanto, um processo de concepção integral dos produtos. Complementando, Cardoso (2008, p. 1) ensina que “design refere-se à concepção e à elaboração de projetos”. Esse mesmo autor ainda afirma que, apesar de ser uma palavra inglesa, sua origem está no latim designare, palavra que resulta em outras duas palavras: “desenhar” e “designar”. Veja que interessante: o trabalho do designer é justamente representar conceitos por meio de algum código de expressão visual (desenhar) e de conjugar processos capazes de dar forma a estruturas e relações (designar) (Cardoso, 2008). Como comentado anteriormente, pelo fato de essa palavra ser “importada”, obviamente tentaram traduzi-la para “desenho” aqui no Brasil, mas agora que você já conhece o conceito de design, perceba que não é uma tradução correta. Tanto é que, no espanhol, existem palavras diferentes para os profissionais dessa área: dibujador para “ilustrador” e diseñador para “designer”. Segundo o dicionário Oxford, a palavra design foi utilizada pela primeira vez no ano de 1588. O termo era definido como um plano desenvolvido pelo ser humano ou um esquema que podia ser utilizado; o primeiro projeto gráfico de uma obra de arte; ou um objeto das artes aplicadas ou que seria útil para a construção de outras obras (Bürdek, 2010). Atualmente, Hsuan-an (2018) define design como “uma atividade profissional que envolve toda a criação e o desenvolvimento de produtos a fim de atender às necessidades da população em favor de uma vida melhor e mais prazerosa”. Ou seja, o design sempre é ligado a algo útil. Sabendo bem agora o que é design, você já percebe que ele realmente está em todos os lugares? Que ele nos “persegue”? Como diria Bürdek (2010): “A vida das pessoas não é mais imaginável sem o design”. 5 TEMA 2 – BREVE HISTÓRIA DO DESIGN Nesta aula vamos ter uma “pincelada” sobre a história do design, apenas para você ir se ambientando, já que esse assunto será abordado também em outras disciplinas. Leia a frase a seguir: “Toda construção deve obedecer a três categorias: a solidez, a utilidade e a beleza”. Você sabe de quem é essa frase? De que ano ela é? É uma frase muito coerente, que pode ser relacionada ao design e bem atual, certo? Certo em partes, pois essa afirmação, por incrível que pareça, foi feita por Vitruvius, que viveu entre 80-10 a.C., ou seja, há mais de dois mil anos! Ele era um engenheiro/construtor que escreveu os primeiros e mais completos trabalhos sobre regras do projeto e da construção de que se têm notícia. O nome de sua obra é Dez livros sobre a arte da construção. Portanto, apesar de não ser sobre design, esse livro traz os fundamentos do funcionalismo, que veio a ressurgir pelas “mãos” do design apenas no século XX (Bürdek, 2010). Isso demonstra que o ser humano sempre se preocupou em fazer coisas úteis, mas bonitas também. Porém, o design como conhecemos hoje deu seus primeiros passos somente na Revolução Industrial, na metade do século XIX. Vídeo Se você não sabe ou não se lembra bem do que se tratou essa Revolução que mudou o mundo, assista ao vídeo a seguir. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Y1S7_OD9Viw>. Contudo, para entender melhor o surgimento do design propriamente dito, vamos dar alguns “passos” para trás, até a Revolução Industrial. Na época do movimento renascentista (movimento cultural surgido na Itália no século XIV que enfatizava o antropocentrismo, ou seja, a valorização do ser humano), havia uma diferenciação muito clara entre arte e artesanato (assunto que também veremos com mais detalhes em breve). Para os renascentistas, o artista era um intelectual, ao contrário do artesão, que era visto com certo desprezo. Porém, esse pensamento foi muito criticado anos depois pela arte moderna (outro movimento cultural que começou no final do século XIX). Nessa época, na Inglaterra, teóricos e artistas se reuniram e fundaram um movimento chamado de arts and crafts (“artes e ofícios”). http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo355/arte-moderna http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo4986/arts-and-crafts 6 Com a liderança de John Ruskin e William Morris, eles enfatizavam a importância do trabalho artesanaldiante da mecanização industrial e da produção em massa que a Revolução Industrial havia trazido. Eles produziam tecidos tingidos e estampados à mão, móveis, livros etc. Inclusive os padrões de Morris para papéis de parede são muito conhecidos e comercializados até hoje (Figura 2) (Enciclopédia Itaú, 2019). Figura 2 – Padrão de papel de parede de William Morris Crédito: Natata/Shutterstock. Mais tarde, surgiu outro movimento: a art nouveau (“arte nova”) que se caracterizava pelas formas orgânicas (observadas na natureza), femininas e ricas em detalhes. Esse movimento se desenvolveu entre 1890 e 1918 e, apesar de valorizar também os trabalhos manuais, utilizava-se da indústria ao fazer uso dos novos materiais que a Revolução Industrial trouxe, como ferro, vidro e cimento. Ou seja, ela integrou arte, lógica industrial e sociedade de massas, indo contra os princípios básicos da produção em série em uma época em que se pregava o uso de materiais baratos e com design inferior. A arquitetura, os móveis, os objetos e as ilustrações foram altamente influenciados por esse movimento, como você pode ver na Figura 3, que apresenta um objeto de vidro de Émile Gallé. O objetivo dos artistas e designers dessa época era colocar a beleza ao alcance de todos. http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo909/art-nouveau 7 Figura 3 – Vaso em vidro Crédito: Jules2000/Shutterstock. Outro evento que marcou o design foi o surgimento da escola Bauhaus, na Alemanha, em 1919, que teve como um dos seus principais nomes Walter Gropius. Esse movimento fortaleceu a ligação entre arte e indústria. A principal ideia tida pela Bauhaus era de que a forma artística deveria se originar na solução de algum problema, reforçando o pensamento de que forma e função devem “andar” juntos. Esse movimento também influenciou vários produtos, como mobiliários, tapeçarias, luminárias etc. Nomes como Marcel Breuer e Michael Thonet se destacaram e suas criações se tornaram clássicos utilizados até os dias de hoje. Por exemplo, a cadeira conhecida como modelo 214, criada por Thonet, em 1859, foi a primeira cadeira produzida em massa, e, devido ao seu design simples e funcional, continua na moda (Figura 4). https://www.shutterstock.com/pt/g/jules 8 Figura 4 – Cadeira modelo 214, criada por Michael Thonet (1859) Crédito: Dr. Norbert Lange/Shutterstock. Outro exemplo é a cadeira Wassily (Figura 5), desenvolvida em 1925 por Marcel Breuer, que se tornou um ícone do design e é comercializada até hoje. Figura 5 – Cadeira Wassily, de Marcel Breuer (1925) Crédito: CC/DP. Enfim, como dito no início deste tema, você verá com mais profundidade a história do design em outras disciplinas; portanto, a ideia aqui era apresentar um panorama geral. 9 TEMA 3 – DESIGN DE PRODUTOS E DESIGN DE INTERIORES Como vimos no tema anterior, os movimentos que originaram o design eram amplos e acabavam por influenciar as concepções de móveis, objetos, ilustrações e arquitetura de sua época. O mesmo continuou acontecendo nos dias de hoje. Charlotte e Perter Fiell (1999, p. 6, grifo nosso) comentam sobre essa “amplitude” do design ao defini-lo como “[...] a concepção e planejamento de todos os produtos feito pelo homem [...]”. Se pensarmos em todos os produtos, percebemos que existe uma infinidade de áreas que criam produtos. Tal fato acaba por tornar o campo do design cada vez mais fracionado em muitas especialidades ditadas pelo mercado: design de produtos, de interiores, gráfico, editorial, de animação e de games, entre muitos outros. Neste tema, vamos abordar o design de produto e o design de interiores. 3.1 Design de produtos Segundo Gomes Filho (2006), o design de produto é a especialidade que se preocupa em conceber, elaborar, desenvolver e fabricar um produto de configuração física geralmente tridimensional. Figura 6 – Design de produto Crédito: RAWPIXEL.COM/Shutterstock. Como você pode imaginar, existe uma enormidade de desdobramentos, como mostra o Quadro 1, em que na primeira coluna vemos o termo original em inglês e na segunda seu equivalente aqui no Brasil. 10 Quadro 1 – Especialidades/áreas de atuação do Design de produto Contexto internacional Equivalência aproximada Contexto nacional Industrial Design Design industrial Design de produto Object Design Design de objeto Public Design Design de equipamento urbano Furniture Design Design de mobiliário Automobile Design Design automobilístico Computer Design Design de computador Hardware Design Design de máquinas e equipamentos Packaging Design Design de embalagem Food Design Design de alimento Jewelery Design Design de joias Sound Design Design de sistemas de som Lighting Design Design de sistemas de iluminação Textile Design Design têxtil Fonte: Gomes Filho, 2006 p. 14. No entanto, podem-se agrupar essas especialidades em quatro grandes grupos: 1. Produtos de uso (veículos, utensílios domésticos, eletrônicos, calçados, joias, embalagens etc.); 2. Máquinas e equipamentos em geral (instrumentos, dispositivos, maquinário etc.); 3. Produtos de componentes de ambiente em geral (produtos que compõem postos de trabalhos, posto de atividades etc.); 4. Artigos do lar (cortinas, tapetes, roupas de cama etc.; possui grande interface com o design têxtil). Realmente, a área de design de produtos é enorme. Tem para todos os gostos. E você, já se identificou com alguma? Não tenha pressa, pois agora vamos aprender um pouco sobre o design de interiores. 3.2 Design de interiores Gomes Filho (2006, p. 21) define design de interiores, chamado também de design de ambientes, como: “especialidade ou área de atuação que envolve a concepção de ambientes em geral: planejamento, organização, decoração e especificação de produtos (mobiliário, equipamentos, obras de arte e objetos em geral)”. Portanto é uma área que se preocupa com o layout espacial, ou seja, a distribuição de elementos em espaços, privados ou públicos, como residências, 11 comércios, indústrias, áreas de lazer, automóveis, navios etc. (Gomes Filho, 2006). O design de interiores é tão antigo quanto a própria humanidade. Os antigos egípcios, mesmo os mais simples, já decoravam suas cabanas com mobiliário e enfeitavam as paredes com pinturas, esculturas e vasos. Os mais ricos usavam ornamentos de ouro luxuosos, demonstrando ostentação, domínio e poder sobre a demais população do antigo Império Egípcio (Portal Educação, 2019). Como você deve ter percebido ao aprender o conceito de design de interiores, este acaba se sobrepondo a outras profissões, tanto é que muitas vezes é confundido com decoração ou arquitetura. O decorador é o profissional cuja função restringe-se à escolha de acessórios, móveis ou cores sem alterar fisicamente a obra. Por sua vez, o designer de interiores, além de poder fazer o trabalho do decorador, tem a função de distribuir adequadamente objetos em espaços internos seguindo normas técnicas de ergonomia, acústica, térmica e luminotécnica. Porém, não podem realizar qualquer alteração estrutural do ambiente, o que é atribuição do arquiteto ou engenheiro civil (Rizzo, 2013). Finalizando, atualmente vemos uma popularização do design de ambientes por dois motivos: o avanço da tecnologia, que trouxe um barateamento do preço dos materiais e também a automatização da fabricação de móveis. Ou seja, o design de interiores não está reservado somente para classes mais altas, pois ele está cada vez mais acessível (Portal Educação, 2019). Assim sendo, é um campo que está a “todo vapor” e que oferece muitas oportunidades. TEMA 4 – DESIGN GRÁFICO E DESIGN DE EDITORIAL Agora vamos abordar mais dois diferentes tipos de design: design gráfico e design editorial. Você os conhece? Sabe a diferença? 4.1 Design gráfico A palavra “gráfico” vem do grego graphein, quesignifica “escrever”, “descrever”, “desenhar”, e está ligada a outras palavras como grafar, grafismo, grafite, grafologia. Seu uso também está relacionado à tipografia, que surgiu com 12 a invenção da prensa para imprimir com tipos móveis, no século XV. Assim sendo, o termo gráfico é associado a vários processos de impressão, como gravura em madeira, metal, litografia, serigrafia, offset, entre outros métodos (Cardoso, 2008). Saiba mais Você conhece a história do surgimento da prensa móvel? Até ela ser inventada, o Oriente era muito mais avançado que o Ocidente. Contudo, depois da criação de Gutemberg, que foi seu inventor, isso mudou. Assista ao vídeo e conheça essa incrível história. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qz_pQpG056I>. De acordo com Gomes Filho (2006, p. 21), design gráfico é uma especialidade do design que envolve a concepção, elaboração, desenvolvimento do projeto e execução de sistemas visuais de configuração formal (física ou virtual) geralmente bidimensional. Ou ainda, é uma área de atuação que tem por objetivo criar produtos visuais para resolução de problemas de comunicação que podem envolver tanto aspectos práticos como simbólicos. Para isso, trabalha-se tanto com elementos verbais como não verbais, que são veiculados em materiais impressos ou suportes digitais (Mazzarotto, 2018). No entanto, muitas pessoas confundem design gráfico com publicidade – e com razão – porque são áreas que se relacionam fortemente e acabam por se sobrepor. Contudo, existe uma divisão teórica: a publicidade planeja a mensagem, o conteúdo, as estratégias de comunicação. Já o designer gráfico dá forma visual a essa mensagem, utilizando cores, composições, tipografia. Se uma única pessoa – seja ela designer, seja publicitária – cria um anúncio, ela está fazendo os papéis das duas áreas, o que é bem comum (Mazzarotto, 2018). Resumidamente, design gráfico é o conjunto de atividades voltadas para a criação e a produção de objetos de comunicação visual impressos ou virtuais. O designer gráfico realiza essas atividades utilizando um suporte (papel ou espaço virtual), a tipografia (o visual das letras, números, caracteres) e os elementos visuais (imagens, traços, sombras, cores). As principais atividades desse designer são planejar, diagramar e ilustrar (Cardoso, 2008). O site Guia da Carreira (2019) traz alguns exemplos das atividades de um designer gráfico: a. Criação e produção de animações para o meio digital; 13 b. Criação de logotipos, marcas e embalagens; c. Definição da aparência e formato de páginas de jornais e revistas (cores, formatos, tamanhos e tipos de letras e de papel); d. Criação visual de sites, blogs, banners para a internet; e. Planejamento e desenvolvimento de anúncios, panfletos, cartazes e vinhetas para a TV. Contudo, como já foi comentando, o mercado foi “pedindo” que algumas atividades realizadas por designers fossem se tornando mais especializadas, e assim surgiram outras subáreas, como design de animação e design editorial, que vamos abordar na sequência. 4.2 Design editorial Apfelbaum e Cezzar (2014) ensinam que design editorial é uma disciplina do design de comunicação (conhecido também por design de comunicação visual ou design gráfico) (Gomes Filho, 2006). Figura 7 – Design editorial Crédito: emka74/Shutterstock. Logo, ele é uma especialidade do design gráfico que realiza o projeto visual de uma edição (edição = planejamento de textos e imagens que compõem uma publicação) (Anderson, 2017). No entanto, apesar de ser “um braço” do design gráfico, é o setor que mais emprega os designers (Design your way, 2019). Isso porque se trata de um campo interessante que combina composições inteligentes, layout e tipografia criativa resultando em uma solução harmoniosa (Design your way , 2019). 14 Os produtos realizados por um designer editorial são publicações periódicas como livros, revistas, jornais, agendas, cadernos, inclusive e-books (Anderson, 2017; Gomes Filho, 2006). Ou seja, o designer editorial, atualmente, não trabalha apenas com o “papel”. Logo, criar revistas, livros e jornais que serão veiculados tanto no papel como na tela de celulares e computadores está se tornando um grande desafio (Design your way, 2019). Isso leva os designers de editorial a se aprimorarem e entenderem de outras tecnologias e conhecimentos (por exemplo, design de experiência) (Gomes Filho, 2006). Figura 8 – Design editorial Crédito: ESTUDIO MAIA/Shutterstock. Além disso, o designer de editorial precisa ter um bom relacionamento interpessoal, pois é um profissional que se relacionará com fotógrafos, jornalistas, redatores, ilustradores, além de manter contato com gráficas e setores de acabamento (Anderson, 2017). Enfim, o designer de editorial desempenha um papel muito importante na forma como a informação é compartilhada, apresentada e compreendida. Especialmente, dada a última função, essa área pode realmente trazer alguma mudança importante à sociedade (Design your way , 2019). TEMA 5 – DESIGN DE ANIMAÇÃO E DE GAMES Agora, vamos falar dos “irmãos mais novos” do design: design de animação e de games, especialidades atuais e em alta no mercado. 15 5.1 Design de animação De acordo com Mogadouro (2013), animar significa “dar alma”. Logo, fazer uma animação é dar vida a algo, no caso um desenho, que não tem vida própria. O desenho de animação, portanto, é marcado pelo movimento: na representação de deslocamentos, ações, coreografias, com a função de demonstrar ideias, emoções (Wells; Quinn; Mills, 2012). Apesar de atualmente ser vinculada à tecnologia, a animação é bem mais antiga do que parece. Já na época das cavernas, os homens pré-históricos faziam seus desenhos estáticos parecerem estar em movimento ao desenhar animais com patas a mais, dando a sensação de que eles estavam correndo (Mogadouro, 2013), como você pode observar na Figura 9 feita na caverna de Altamira, na Espanha, um importante sítio arqueológico. Figura 9 – Pintura rupestre Crédito: NSP-RF/ Alamy/ Fotoarena. Porém, foi após o desenvolvimento da ótica e do surgimento da fotografia e do cinema que as primeiras técnicas de animação surgiram no final do século XIX (Mogadouro, 2013). Nos dias de hoje, o designer de animação é aquele que planeja e cria animações fazendo uso de técnicas tanto 2D (bidimensional) como 3D (tridimensional), além do stop motion (disposição em sequência de fotos diferentes de algo inanimado para simular movimento). É um profissional que 16 desenvolve produtos para diferentes finalidades e aplicações como cinema, televisão, publicidade, games e até ensino (Matias, 2017). No cinema, ele vai fazer curtas e longas metragens; na TV, criar vinhetas e aberturas de programas; na publicidade, elaborar comercias, e na educação, realizar animações para cursos de educação à distância, por exemplo (Matias, 2017). No Brasil, o cenário para designers de animação tem sido promissor. Isso porque as animações brasileiras têm feito sucesso, logo, o número desse tipo de produção vem aumentando nas últimas duas décadas (Saga, 2018). O primeiro longa-metragem totalmente animado no computador aqui no Brasil, em 1996, foi Cassiopeia; desde então, a animação brasileira vem acumulando conquistas. Por exemplo, a animação O menino e o mundo escrito e dirigido por Alê Abreu, além de ter sido premiado no Festival de Annecy, principal evento de animações do mundo, foi também indicado ao Oscar no ano 2016 como melhor animação (Saga, 2018). Vídeo Você já assistiu O menino e o mundo? Veja este trailer e, caso goste, você vai encontrar facilmente a versão completa na internet. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6lFP8FVUwK8>. 5.2 Design de games O mercado de games no Brasil é promissor também. O faturamento dos jogos virtuaisno país (considerando só video games e computadores) deverá subir de R$ 2,2 bilhões, em 2017, para R$ 3,2 bilhões em 2022, com uma taxa média de crescimento de 8,9% ao ano (Marques, 2018). Obviamente, esse mercado em expansão necessita de uma série de profissionais. Um desses profissionais é o designer de games, que é a pessoa que vai criar, planejar e desenvolver jogos em diferentes plataformas: computador, tablet, smartphone e video game (Rocha, 2019). Ou seja, como Salem, Tekinbaş e Zimmerman (2004) já ensinavam, um designer de game é um tipo específico de designer, muito parecido com outros tipos de designer, como o gráfico ou industrial, porém, não se trata de um programador ou gerente de projeto, apesar de muitas vezes assumir esses papéis na criação de um game. Seu foco é projetar o jogo, criando regras e 17 estruturas que resultarão em uma experiência para os jogadores. Enfim, um game designer não cria tecnologia, ele cria experiências. Complementando, Arruda (2014) afirma que design de games é o processo de construção e elaboração de jogos, ou seja, é decidir como um jogo vai ser. Isso envolve uma série de decisões: qual é a história do jogo, as personagens, as regras, as plataformas em que o jogo vai rodar, entre outras. Portanto, para “dar conta do recado”, é preciso criatividade, capacidade de inovação, organização e conhecimento da área. Além disso, como Fullerton (2014) afirma, tornar-se um game designer é um processo vitalício, que nunca termina, pois é uma área altamente tecnológica e que está em constante mudança, obrigando o profissional a estar continuamente se atualizando. Assim sendo, como alerta Arruda (2014) citando Chandler (2012), ser jogador é essencial para saber o que é bom é o que não é; o que dá certo ou não; mas é necessário também ter um grande domínio da área. Então, se você é um ótimo jogador e quer ser um designer de games, já está um passo à frente. No entanto, só isso não é suficiente. Você vai precisar estudar e estar sempre atualizado, mas pode ter certeza que isso compensa. Vídeo Assista a esta reportagem sobre o mercado de games no Brasil para ter uma ideia da dimensão desse mercado. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=C43rBRkBDDw>. TROCANDO IDEIAS Nesta aula vimos um grande número de especialidades do design: gráfico, de interiores, de games, animação, editorial. No entanto, existem muitas outras. Vamos pesquisar? Quais outras você encontrou? Qual delas lhe causou mais estranheza? NA PRÁTICA Aprendemos neste encontro que existem profissionais atuando em diversas especialidades do design. Mas como será que é ser um designer? Quais os pontos negativos e positivos? Leia o artigo “No dia do Design, profissional conta as dificuldades da profissão”, de Wellington Márcio de Lima, 18 disponível no link a seguir, faça uma reflexão e depois escreva, com base nesse texto e em sua opinião, os pontos positivos e negativos de ser um designer. Disponível em: <http://www.douranews.com.br/dourados/item/68974-no-dia-do- design-profissio nal-conta-as-dificuldades-da-profiss%C3%A3o>. FINALIZANDO Então, gostou desta aula? Aprendeu coisas novas? Apostamos que você não sabia que os homens das cavernas já tentavam fazer animação em suas pinturas rupestres ou que cadeiras com um design de mais de 90 anos ainda fazem sucesso. Esperamos também que, além da evolução histórica do design, você tenha entendido bem o conceito de design e percebido que ele é muito mais amplo que apenas “um produto bonito”. Portanto, ser designer envolve resolver problemas, planejar, projetar. Além disso, você descobriu que existe um mundo de possibilidades para um designer trabalhar: em gráficas, fábricas, escritórios, cinema etc. Enfim, a ideia era abrir um “portal” para você dar uma “espiadinha” e conhecer esse mundo maravilhoso do design. 19 REFERÊNCIAS ALMEIDA, F. S.; FIALHO, F. A. Conceito em construção: considerações sobre a definição oficial de design gráfico ao longo dos anos. Projetica, v. 8, n. 2, p. 83- 96, 2017. ANDERSON, L. A história do design editorial. 2007. Disponível em: <https://en.calameo.com/read/00539735858709aa3f0d4>. 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Acesso em: 14 ago. 2019. HSUAN-AN, T. Design: conceitos e métodos. São Paulo: Blucher, 2017. MARQUES, P. Mercado de games no Brasil deve faturar US$ 803 milhões em 2022. R7, 21 set. 2018. Disponível em: <https://noticias.r7.com/tecnologia-e- ciencia/mercado-de-games-no-brasil-deve-faturar-us-803-milhoes-em-2022-2109 2018>. Acesso em: 14 ago. 2019. MATIAS, L. Animação: como é essa nova carreira. Guia do Estudante, 24 fev. 2017. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/blog/pordentrodas profissoes/animacao-como-e-essa-nova-carreira/>. Acesso em: 14 ago. 2019. MAZZAROTTO, M. Design gráfico aplicado a publicidade. Curitiba: InterSaberes, 2018. PRODUTO nacional: conheça 5 animações brasileiras para ficar de olho! Saga, 3 ago. 2018. Disponível em: <https://saga.art.br/produto-nacional-conheca-5- animacoes-brasileiras-para-ficar-de-olho/>. Acesso em: 14 ago. 2019 ROCHA, G. Design de games: conheça perfil dos cursos, o que faz e remuneração. G1, São Paulo, 7 jan. 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/guia-de-carreiras/noticia/2019/01/07/design-de- games-conheca-perfil-dos-cursos-o-que-faz-e-remuneracao.ghtml>. Acesso em: 14 ago. 2019. SALEN, K.; TEKINBAŞ; K. S.; ZIMMERMAN, E. Rules of play: game design fundamentals. MIT Press, 2004. WELLS, P.; QUINN, J; MILLS, L. Desenho de animação. São Paulo: Bookman, 2012. 21 WCINCO. [Peça publicitária]. Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/- Cw7vMCjUXQs/VFotscs6_TI/AAAAAAAAYNs/ktrm6CaIjNY/s1600/05.11%20- %20WCINCO%5B3%5D.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2019. FUNDAMENTOS DO DESIGN AULA 2 Profª Shirlei Miranda Camargo 2 CONVERSA INICIAL Futuro designer,nesta aula, você terá uma visão ampla do design, no Brasil e no Mudo. Começaremos falando sobre a globalização que influenciou profundamente o design; seguimos conhecendo os países que se destacam em relação ao design (os mais premiados) e finalizamos com os maiores nomes da atualidade: internacionais e nacionais. Espero que você se inspire, se dedique bastante ao longo do curso para, quem sabe, em breve, ver seu nome em uma destas listas! CONTEXTUALIZANDO O design passa por um grande momento! Muitas empresas estão contratando diretores de design e investindo em centros de design e inovação. Além disso, várias escolas de negócios e design de alto nível estão utilizando programas interdisciplinares para ajudar os executivos alunos de MBA a pensarem mais como designers e vice-versa. Isso porque, como Chandler et al. (2017) ensinam: “Os negócios quase sempre são melhores por conta do design”. TEMA 1 – DESIGN NO MUNDO E NO BRASIL Vivemos em um momento de constante evolução e mudança, em que as tecnologias estão cada vez mais abundantes, a sociedade mais complexa e as empresas tentando sobreviver. Nesse cenário, o design, como as demais profissões, também vem mudando suas características e metodologias, deixando de focar apenas no produto, para olhar, também, um horizonte bem mais amplo (Vogt, 2017). De acordo com Bürdek (2018), o termo produto evoluiu e hoje pode ser considerado, por exemplo, um serviço ou até um evento. Atualmente, as organizações no mundo todo reconhecem o valor estratégico do design (Bürdek, 2018). Boa parte disto pode ser atribuída à globalização. Globalização foi o fenômeno que fez aumentar as relações entre os países intensificadas principalmente pelo avanço tecnológico. Os reflexos da globalização, no Brasil, aconteceram em meados da década de 1990 repercutindo também no design. Como o designer brasileiro De Moraes em 1997 já afirmava, a grande mudança http://fortune.com/author/clay-chandler/ 3 foi que, com a globalização, os mesmos produtos tinham que ser comercializados em diversos países ao mesmo tempo. Conforme o referido autor, isso levou os designers a deixarem de lado referências unicamente regionais, tornando-as mais sutis, discretas, a fim de que seus produtos pudessem competir globalmente e serem utilizados por pessoas de diversos lugares. Porém, isso não significou o extermínio de produtos regionais, os quais continuaram em forma de artesanato ou com suas características “diluídas”. As empresas começaram a reconhecer o design como uma forma para alcançar esse novo público internacional e, assim, se diferenciar dos demais obtendo uma vantagem competitiva (Landim, 2010). Portanto, com a globalização, o design também passou a ser um fenômeno mundial (Landim, 2010) e criar os produtos globais se tornou um grande desafio para os designers (De Moraes, 1997). Landim (2010) ainda comenta que, no Brasil, as poucas empresas que investem em design se destacam, mas a grande maioria ainda não o faz. A autora afirma que, mesmo 40 anos depois da fundação dos primeiros cursos de design no Brasil, a área ainda é pouco conhecida por grande parte da população brasileira. E para aquela pequena parte da elite que já a conhece, o design é pouco explorado. Isso leva a existência de problemas crônicos de design no dia a dia do brasileiro: nos transportes, na saúde, nos equipamentos urbanos em geral (Landim, 2010). O que é um absurdo, já que o design possui uma variedade de campos e métodos justamente para auxiliar na resolução de muitos problemas (Vogt, 2017). A autora Vogt (2017) acredita que isso é por que, no Brasil, ainda termos uma visão focada em produto, na qual o designer tem um papel de “criar a forma das coisas”, nada mais que isso. De acordo com ela, esse conhecimento superficial do design pode ser consequência, em partes, da época em que o design foi implementado no Brasil e de como foi e é trabalhado nas empresas. No nosso país, a melhor oferta e o melhor preço garantem uma boa fatia do mercado. Dessa maneira, o design é relegado, quando existe na empresa, como um auxiliar do departamento de marketing, não sendo utilizado estrategicamente. Isso faz com que o designer se torne uma ferramenta braçal, sem questionar ou ser questionado se aquela solução é a melhor para a resolução de algum problema ou ainda, se realmente 4 existe um problema a ser solucionado, se há uma necessidade real de nosso cliente (Vogt, 2017). Mas, como nos vimos, o papel do designer vai muito, pois ele resolve problemas, cria soluções e não apenas serve para deixar “as coisas bonitas”. TEMA 2 – PAÍSES QUE SE DESTACAM EM DESIGN Anualmente, é divulgado o ranking mundial de design: World Design Rankings (WDR). O WDR tem como objetivo fornecer dados e informações a jornalistas e economistas sobre a indústria do design, destacando os bons profissionais e seus trabalhos em cada país. O ranking é feito por meio da colocação (acumulativa desde 2010) dos projetos individuais dos designers de cada país no A’Design: um renomado prêmio internacional. Os trabalhos são pontuados entre Platinum, Ouro, Prata, Bronze e Ferro (Mattos, 2016). Figura 1 – Ranking Mundial do Design Fonte: World..., 2018. Como podemos ver na Figura 1, o Brasil ficou com a 11ª posição em 2018, uma pequena melhora em relação a 2017, em que estava na 12ª posição. Contudo, ele já esteve em posições melhores, como em 2016 e 2015, quando ocupou, respectivamente, a 9ª e a 8ª posição (Mattos, 2016; 2017; 2018; 2019). 5 Por que será que o Brasil está nessa posição? Vamos analisar os primeiros colocados e tentar entender? Estados Unidos Uma possível justificativa para os Estados Unidos estarem em primeiro lugar nesse ranking pode ser o consumismo exacerbado que insaciavelmente exige novidades. E tal visão tem uma origem histórica. O impulso do design nos EUA ocorreu por conta da crise econômica de 1929 que arruinou as finanças do país. Para superar a crise, o governo tentou estimular o consumo utilizando o design para tornar os produtos mais atrativos. Surgia o movimento chamado de Styling, focado principalmente na estética, o qual se diferenciava do design europeu que possuía aspectos mais funcionalistas (Andrioli; Galafassi, 2015). Depois da Segunda Guerra, surgiu o American Way of Life (modo de vida americano) que incentivou o consumo em massa em todas as classes sociais. Nesse contexto, a televisão recém-chegada teve papel fundamental. Esse consumismo espalhou-se pelo globo e tornou-se um jeito de viver não só dos americanos, mas do mundo todo (Andrioli; Galafassi, 2015). Esse histórico se refletiu na nossa atualidade. De acordo com Flinchum (2008), o design americano se preocupa em fornecer soluções práticas de curto prazo, ao contrário dos europeus que dão ênfase a tradição. Segundo o autor, parte disso está na visão otimista de que o futuro fornecerá melhores soluções (novos materiais, processos e conhecimentos). Obviamente a desvantagem disto é uma negligência com o meio ambiente e uma sensação que tudo está disponível e que a cada ano se podem mudar as coisas (ex.: renovar os eletrodomésticos da casa, trocar de carro, de celular etc. A vantagem foi uma explosão de design livre da tradição e uma crença de que algo popular não é necessariamente “ruim” (FLINCHUM, 2008). Isso porque, para se “dar conta” dessa renovação constante, o design tradicional tem que dar lugar a um design popular, com custos menores. Como Flinchum (2008) comenta, dessa “descartabilidade” e “popularidade”: “a cultura americana é, em geral, popular”. Se, por vezes, algo é “um pouco vulgar, um pouco malfeito, derivado, ou banal – não se preocupe alguma coisa acontecerá a qualquer momento”. 6 Figura 2 – 1959 Cadillac Coupe de Ville, modelo que representa o ponto alto do design e luxo dos carros americanos.Crédito: James R. Martin/Shutterstock China Assim como a sua economia, o design da China está ganhando proporções mundiais (Globalizado..., 2014). A China tem passado por uma terceira abertura para o mundo relacionada ao grande desenvolvimento que a tornou a segunda economia mundial. Além disso, os estrangeiros estão “de olho” na China em busca de seu imenso mercado consumidor (a população da China representa 22% da população mundial). Por outro lado, a China também quer exportar seus produtos Designed (não apenas Made) in China para o mundo. Isso leva a uma necessidade de que os profissionais locais se tornem versáteis também nos padrões internacionais do design (Porto, 2011). Nesse cenário, o design acabou virando algo estratégico para o governo Chinês. De acordo com Buso (2016), a CIDA (China Industrial Design Association) possui um orçamento de aproximadamente 150 milhões de dólares para promover seu design. Além disso, o governo Chinês insere o design nas ações de políticas públicas em todo o país, ou seja, os investimentos em design são pesados. Em 2006, a revista Macau já sinalizava o tsunami Chinês: Uma revolução silenciosa toma corpo no mundo do design da China[...] É nas escolas de design da China, de onde saem todos os anos cerca de dez mil designers de “canudo” na mão, que está a geração que vai mudar tudo [...] Para reforçar, o designer australiano Ken Cato, com larga experiência no mercado chinês, aposta nos jovens formados no estrangeiro que estão a regressar à China: “Eles farão a diferença! (Design..., 2006). 7 Ou seja, “um mar” de designers sendo formados fora e dentro do país e os investimentos pesados do governo no design que é considerado estratégico levaram a China a estar na segunda posição do ranking global de design. Figura 3 – Modern Chinese Ming Chair Crédito: Dandesign86/Shutterstock Japão Como Foes (2006) afirma “os designers japoneses projetam hoje para atender as necessidades mundiais de amanhã. ” No entanto, nem sempre foi assim. Antigamente os japoneses copiavam e exportavam o design ocidental. Mas graças a um constante incentivo do governo e a grande competitividade das empresas privadas japonesas, o design japonês evoluiu. E foi essa competição que tornou os produtos japoneses extremamente competitivos no mercado internacional, ajudando o país a se reerguer depois da Segunda Guerra Mundial (Foes, 2006). Mais recentemente, o objetivo das empresas japonesas era criar produtos que proporcionassem prazer, alegria e se adaptassem à sensibilidade do consumidor. Pensando nisso, as empresas investiram pesadamente em pesquisas para entender melhor esses consumidores. Foram dessas pesquisas que surgiram objetos icônicos como walkman, filmadoras portáteis, tec toys, disc laser, entre outros (De Moraes, 1997). Atualmente, os japoneses produzem produtos compactos, simples, de qualidade e duráveis utilizando meios de produção extremamente eficientes (Foes, 2006). E a qualidade é um marco importante, pois, em 1957, foi criado um selo que atesta a qualidade do design japonês: o GMark que existe até os dias de hoje (Albano, 2013). 8 Contudo, o designer japonês tem grandes desafios. Quase que diariamente são lançados novos produtos no Japão, assim, o descarte e o reaproveitamento dos produtos é um grande desafio. Outro problema é a falta de espaço e de recursos naturais já que o Japão é um país muito pequeno, fazendo com que os designers pensem em produtos com o melhor arranjo e compactação. Tais fatos são as bases da miniaturização e da nanotecnologia. Ou seja, a tendência e o desafio dos designers japoneses é criar produtos compactos, precisos e simples que sejam úteis no futuro e não interfiram no meio ambiente (Foes, 2006). Figura 4 – Carro compacto, elétrico e futurista da Toyota Crédito: Borka Kiss/Shutterstock Itália Os Italianos são conhecidos mundialmente por sua preocupação estética. Um reflexo disso, por exemplo, é sua moda e seus automóveis, muito valorizados pelo seu design (Veiga, 2015). Ainda segundo Veiga (2015), na Itália “[...] existe toda uma estrutura que privilegia o experimento e o desenvolvimento dos novos talentos. ” Nenhum outro país teve tantos designers de destaque internacional. Além disso, há na Itália um grande número de publicações sobre o assunto que promove uma eterna e renovada discussão sobre o tema. Como o designer Andrea Branzi afirmou: “para história do design italiano, é uma sorte não ter havido um museu, mas as trienais; não ter havido uma escola, mas tantas faculdades; não ter havido uma história, mas muitos livros e revistas” (De Moraes, 1997). 9 De acordo com o teórico Atillio Marcollini, são três as características mais marcantes do design industrial italiano: é um design de “protagonistas”; não querem ser normativos, mas sim icônicos; as empresas lá valorizam o design de forma estratégica (De Moraes, 1997). Em relação a sua evolução, o design italiano passou por diversas fases. Na primeira fase (1945 -1950), o foco eram objetos do cotidiano: rádios e telefones, com formas simples. A segunda fase iniciou nos anos 1960, quando se buscava mais qualidade, levando as empresas a valorizar um desenho mais sofisticado, por exemplo, principalmente nos artigos domésticos. Aqui ganham destaque as famosas máquinas de calcular e de escrever da Olivetti que surgiram com um design bastante ousado para sua época. Já nos anos 1980, os produtos italianos ficaram conhecidos mundialmente e, dos anos 1990 para cá, os objetos italianos se caracterizaram pelo uso mais agressivo de formas e cores. Por exemplo, é nessa época que surge a banqueta Bombo de Stefano Giovannoni com um design inconfundível e cores fortes (Figura 5). Já as características dos anos 2000 no design italiano, além da “leveza nos objetos, foi seu uso não só em casas e carros, mas outros contextos como em navios, por exemplo. Outro foco deles é fazer um produto global, com linguagem local (A História..., 2002). Figura 5 – Banqueta Bombo de Stefano Giovannoni Crédito: Tinxi/Shutterstock TEMA 3 – EMPRESAS QUE SE DESTACAM EM DESIGN A tecnologia e a globalização estão nos levando a mudanças cada vez maiores e mais rápidas. As empresas, para ficar à frente de seus concorrentes, 10 estão se voltando para o design, a fim de se conectar melhor com os clientes e conseguir uma vantagem competitiva. A Revista Fortune fez uma pesquisa com a comunidade do design, executivos e pesquisadores para listar as empresas mais bem-sucedidas em design (de vários setores) (Chandler et al., 2017). A seguir comentaremos algumas delas. Apple Por criar uma geração de produtos inigualáveis, a Apple tornou-se a empresa mais valiosa do mundo. E mesmo após a morte de Steve Jobs, seu principal nome por muitos anos, contrariando os pessimistas, ela continua sendo um sucesso. Dyson Criada pelo desenhista industrial britânico James Dyson, que tinha como foco a tecnologia disruptiva e o minimalismo, a empresa queria transformar eletrodomésticos comuns (aspiradores de pó, ventiladores e secadores de cabelo) em produtos a serem cultuados pelas pessoas. Por exemplo, o secador de cabelo Dyson supersônico (Figura 6), que possui um motor digital com metade do peso e oito vezes a velocidade de um secador tradicional e ainda é silencioso. Figura 6 – Secador de cabelo Dyson Crédito: Papin Lab/Shutterstock Google Como acontece com muitas empresas de tecnologia – Apple, Yahoo e até Amazon –, a linguagem de design do Google já percorreu um longo caminho e mudou muito. Contudo, a maioria dos colegas do Google perdeu suas 11 peculiaridades e tornou-se mais minimalista, com cores mais discretas (ex.: Apple). Já a Google manteve a personalidade de sua juventude por meio de um sofisticado design industrial que usa formas diferenciadas,novos materiais e botões de cores brilhantes. Figura 7 – Celular Google Crédito: Framesira/Shutterstock Samsung Há algum tempo, a Samsung foi aos tribunais defender sua criatividade contra a Apple que a acusava de plágio. Mas o tempo passou e hoje a Samsung é a empresa que mais investe em pesquisa e desenvolvimento, refletindo na criação de TVs, telefones e eletrodomésticos cobiçados por todos. Amazon O bom design não se limita somente a estética, ele é também é função. E a Amazon, com suas lojas que vendem de tudo e com um foco fortíssimo no cliente, são extremamente funcionais. As demais empresas da lista são: Huawei, Microsoft, IBM, Airbnb, Musical.ly, Snap, Meitu, Instagram, Tesla, Ford, Audi, Hyundai, Starbucks, Ikea, PepsiCo, Capital One, Uniqlo, Nike, Zalando, Philips. Se quiser mais informações, acesse o link: <http://fortune.com/2017/12/22/business-design- apple-airbnb-tesla/>. TEMA 4 – DESIGNERS IMPORTANTES NO MUNDO A revista on-line de arquitetura, interiores e design, Dezeen, depois de uma pesquisa com mais de 100 milhões de visualizações de páginas e centenas de milhares de retornos de pesquisa de 1 de julho de 2015 a 30 de junho de 12 2016, elaborou uma lista com os 53 tops designers da atualidade. Na Figura 8, você consegue ver os 10 primeiros colocados (DESIGNERS...2016): Figura 8 – Lista dos 10 nomes principais do design mundial Position Name Tag 1 Oki Sato/Nendo Nendo 2 Thomas Heatherwick Thomas Heatherwick 3 Ronan and Erwan Bouroullec Ronan & Erwan Bouroullec 4 Tom Dixon Tom Dixon 5 Jasper Morrison Jasper Morrison 6 Naoto Fukasawa Naoto Fukasawa 7 Benjamin Hubert/Layer Benjamin Hubert 8 Barber and Osgerby Barber and Osgerby 9 Marc Newson Marc Newson 10 Patricia Urquiola Patricia Urquiola Fonte: Designers..., 2016. Vamos conhecer o primeiro nome da lista? Oki Sato Um dos designers mais influentes do mundo, o canadense Oki Sato, do estúdio Nendo, desenvolve produtos que tragam pequenos momentos prazerosos, de alegria para as pessoas: “Buscamos reconstituir o dia a dia, coletando insights simples e transformando-os em criações que sejam fáceis de compreender, quase intuitivas” (Müller, 2013). Como você deve ter percebido aluno, a lista é composta por uma única mulher. É algo a se pensar... por isso, vou contar um pouco mais sobre essa designer. Patricia Urquiola A designer espanhola radicada na Itália Patricia Urquiola, de 57 anos, é tão eclética quanto bem-sucedida. Fez o projeto do hotel cinco estrelas Il Sereno no Lago de Como, na Itália, um cesto de couro da coleção Mades, da Louis Vuitton e uma reedição da cadeira Lilo. Sobre o fato de ser uma das poucas mulheres que estão entre os designers mais renomados, ela comenta: “Acho um absurdo eu ainda ser uma das poucas representantes na área do sexo feminino. Faço networking com companheiras do mundo inteiro para emplacar ideias novas”. Suas peças são sedutoras e brincam com cores e formas (Di Pilla, 2018). 13 Figura 9 – Tapete Slinkie e Patrícia Urquiola Créditos: Tapete Double Slinkie Desenhado Por Patricia Urquiola Para Cc-Tapis. Marco Craig Para ver a lista completa com os 50 designers clique no link: <https://www.dezeen.com/dezeenhotlist/2016/designers-hot-list/>. Especificamente falando de designers gráficos, a lista de nomes importantes dessa área também é enorme e não há um consenso de quais seriam os melhores. Contudo, dois nomes chamam a atenção, portanto, vamos aprender um pouco sobre eles. David Carson David Carson é um ex-surfista e premiado designer gráfico que nasceu em 1956 nos Estados Unidos. Ele é conhecido mundialmente por seu trabalho inovador. A característica principal de seu trabalho é dar a impressão de desorganização, irracionalidade e falta de coerência. Ele não se preocupa com legibilidade, padrões e grids. Contudo, os elementos presentes em suas obras apresentam uma intensa relação. 14 Carson usa letras invertidas, recortes, tipos distorcidos, quebrados, sujeira, rabiscos e sobreposições que dão ao trabalho características únicas e além de liberdade de interpretação por parte do público. Paula Scher Paula Scher é uma das designers gráficas mais influentes do mundo. Scher abrange a linha entre a cultura pop e a arte no seu trabalho. Icônica, inteligente e acessível, suas imagens entraram para a história americana como, por exemplo, a logo do CityBank (Figura 12) (Paula..., 2019). Figura 10 – Logotipo do CityBank criado por Paula Scher Crédito: Ken Wolte/Shutterstock Similarmente, no design de interiores, não há consenso nas listas de melhores designers, porém, dois nomes costumam a se repetir e serão apresentados na sequência. Kelly Wearstler Conhecida como a "a grande dama do design de interiores da Costa Oeste", ela possui clientes famosos como Gwen Stefani e Gavin Rossdale (Oliveira, 2018). Possui um estilo que mistura o cru com refinado, sofisticação com espontaneidade e reúne móveis dos mais variados períodos. Seu portfólio inclui hotéis de luxo e grandes residências em Beverly Hills, Caribe ou em diferentes lugares do mundo (World’s..., 2019). Kelly Hoppen Kelly Hoppen é uma designer de interiores inglesa considerada uma das melhores do mundo. Sua ascendência judaica e irlandesa influencia seus 15 projetos que incluem não somente residências, mas também iates de luxo, restaurantes, escritórios e até aeronaves (Oliveira, 2018). Figura 11 – Designer de Interiores Kelly Hoppen Crédito: Featureflash Photo Agency/Shutterstock Agora, falando sobre animação e games, podem-se citar os nomes de John Lasseter e Hideo Kojima como designers renomados. John Lasseter Com o avanço da computação gráfica, John Lasseter ganhou destaque. Ele começou trabalhando nos estúdios da Disney e pregava que as animações deveriam ser feitas em computador, o que levou a sua demissão. Então, John foi trabalhar na Lucas Films, onde iria atuar no sistema de animação criado pela empresa, a Pixar Image Computer. No ano de 1986, a Pixar se tornou um estúdio independente e foi comprada por Steve Jobs. Lá, John foi responsável por obras incríveis como Toy Story 1 e 2, Vida de Inseto, Monstros S.A, Os Incríveis, entre outros. 16 Figura 12 – Designer de animação John Lasseter e suas criações Crédito: S_Bukley/Shutterstock Quando a Disney comprou a Pixar, em 2006, ele retornou para a mesma empresa que há 22 anos tinha o demitido, contudo, nesse momento, ele foi recebido com aclamação pelos funcionários e até hoje é diretor criativo (Aristides, 2017). Hideo Kojima O japonês Hideo Kojima é um nome certo entre os melhores game designers do mundo e trabalha na área há mais de duas décadas. Interessante que no início de sua carreira os jogos eram apenas um hobby, pois Kojima se interessava mesmo por cinema. Pode ser que daí vem sua grande capacidade de contar histórias complexas e fascinantes nos seus jogos. Isso o levou a criar o Metal Gear Solid, considerado o melhor jogo já criado em 1988 e vem evoluindo ao longo das décadas estando disponível até os dias de hoje (The 5 Most..., 2018). 17 Figura 13 – Game Designer Hideo Kojima e o jogo The New Metal Gear Solid 5 Créditos: Charnsitr/Shutterstock - Joe Seer/Shutterstock TEMA 5 – DESIGNERS IMPORTANTES NO BRASIL Conforme o ranking da World Design Rankings (WDR) que vimos no tema 2, para conhecermos os países mais premiados em design, os dez maiores designers brasileiros estão listados a seguir. Figura 14 – Melhores Designers Brasileiros Fonte: World..., 2019. Fernanda Marques Arquiteta premiada internacionalmente, formada pela USP, sua a carreira segue a mesma linha conceitual que caracterizou sua formação: o exercício integrado das várias disciplinas. Arquitetura, interiores, design de produto,http://www.worlddesignrankings.com/ 18 comunicação visual e paisagismo são as áreas que atua sempre com um estilo limpo e contemporâneo, em sintonia com o melhor da arte e do design internacionais. Figura 15 – Fernanda Marques e o Banco Infinito Créditos: Demian Golovaty Brazil e Murgel Os designers Fabio Brazil e Henrique Murgel trabalham com design de joias usando a natureza como inspiração, além de explorar tudo aquilo que os materiais podem oferecer. “Valorizamos as propriedades de cada matéria-prima e, assim, exploramos a elasticidade do ouro, o verde da turmalina, o brilho do diamante negro” (Designers, 2019). Um exemplo dessa aplicação foram as pulseiras Cypris que refletem “a natureza imprevisível do mar, com seus movimentos, formas e reflexos”. Este produto inclusive ganhou a categoria Gold no A’ Design Award (Brasileiros..., 2016). 19 Figura 16 – Brazil e Murgel e as Pulseiras Cypris Créditos: B&M Divulgação (1) / Erica Vighi(2) Studio MK 27 Esse estúdio possui uma equipe de 30 designers e foi fundando no final dos anos 1970 por Márcio Kogan, que ainda hoje é autor de todos os projetos que saem do estúdio. Como características marcantes, são grandes admiradores do modernismo brasileiro, valorizam a simplicidade formal e dão muita atenção a detalhes e acabamentos. De 2002 para cá já ganharam mais de 250 prêmios nacionais e internacionais (Studio MK27, 2019). Figura 17 – Sofá Quadrado e Marcio Kogan Créditos: Victor Affaro; Minotti 20 Mula Preta Design “O design da Mula Preta só faz ganhar altura... A Mula é bem-humorada, é uma peça, uma figura...” Fernando Serapião Por essa frase escrita no site do estúdio por Sergio Serapião, crítico de arquitetura e editor da revista Monolito, já se percebe que a principal característica do estúdio de design é a irreverência. Fundado em 2012 por Felipe Bezerra e André Gurgel em Natal, o nome do estúdio é inspirado na música do Rei do Baião, Luiz Gonzaga “que foi uma das mais completas, importantes e inventivas figuras da música popular brasileira. Ela representa a cultura Nordestina, traço marcado pela irreverência do desenho criativo do estúdio”. Ou seja, desde o nome do estúdio até os seus produtos, os traços marcantes são a irreverência, a criatividade e a cultura nordestina, características que os levaram a ganhar inúmeros prêmios, nacionais e internacionais. Figura 19 – Felipe Bezerra e André Gurgel e a Poltrona Basquete Créditos: Humberto Lopes Marcelo Lopes Marcelo Lopes é um designer que ganhou mais de 50 prêmios nacionais e internacionais e sócio fundador da agência Merchan-Design. As obras de Marcelo ganha destaque “graças ao seu processo criativo que resulta em peças lúdicas, interativas e sensoriais, a fim de promover uma experiência positiva no cotidiano das pessoas”. 21 Abro um parêntese aqui e saliento algo que falamos na nossa primeira aula, que o design não é feito de forma isolada e Marcelo reafirma isso ao falar: “O design é uma atividade coletiva e colaborativa” (Designer..., 2016). Além desses nomes, não se pode deixar de falar nos irmãos Campana (Humberto e Fernando), referência máxima no design de mobiliário brasileiro. Eles são reconhecidos internacionalmente por transforar o ordinário em extraordinário e possuem inclusive obras no MoMA, em Nova York. Criaram obras icônicas como a cadeira Favela e a poltrona Vermelha (Inspire-se..., 2018). TROCANDO IDEIAS Como você percebeu, nas listas de designers, tanto internacionais quanto nacionais, existem poucas mulheres. Pesquise mais algumas designers de destaque para conhecer melhor seus trabalhos, sua história e discuta com seus colegas por que essa situação acontece e o que pode ser feito para que seja mudada. NA PRÁTICA Vimos, nesta aula, vários designers e suas obras maravilhosas. Você prestou atenção na banqueta Bombo (Figura 5) de Stefano Giovannoni? Creio que você já deve ter visto essa banqueta em vários lugares, até pode ter uma em sua casa! Então, procure referências de design (nos objetos, ou na comunicação visual) que tenham tido como inspiração estilos ou designers consagrados. FINALIZANDO Caro aluno, nesta aula, você teve uma visão geral do design no mundo e no Brasil. Acredito que você percebeu que os países melhor sucedidos no ranking do design são aqueles em que há investimento do governo, onde o design é visto tanto pela esfera pública quanto pela privada como ferramenta estratégica. Podemos nos espelhar no caso da China que, por décadas, ficou vinculada a um país que só copiava e, agora, em decorrência principalmente da educação, está se tornando um grande expoente do design. O Brasil, apesar de 22 apresentar designers de renome, muito premiados, está ainda aquém de seu real potencial. Vimos, também, que as mulheres, infelizmente, são ainda minoria nessa área, tanto no Brasil, quanto em outros países. Portanto, deixo a você, futuro designer e seus colegas, a missão de tentar mudar essa situação. É possível sim! Pense nisso... 23 REFERÊNCIAS ANDRIOLI, I.; GALAFASSI, A. G. A contribuição do Styling, o design americano do século XX, para o mundo contemporâneo. Simpósio Científico FSG de Graduação e Pós-Graduação. 2015. A HISTÓRIA do design italiano, na Pinacoteca. O Estadão, 11 jun. 2002. Disponível em: <https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,a-historia-do- design-italiano-na-pinacoteca,20020611p7391>. Acesso em: 5 ago. 2019. ARISTIDES, R. Lista: os maiores animadores da história. 2017. Disponível em: <https://nosbastidores.com.br/lista-maiores-animadores-historia/>. Acesso em: 5 ago. 2019. BASTIAN, W. Ode a Jasper Morrison. Casa Vogue, 2015. Disponível em: <https://casavogue.globo.com/Colunas/Design-Do- Bom/noticia/2015/06/exposicao-retrospectiva-jasper-morrison-belgica.html>. Acesso em: 5 ago. 2019. BRASILEIROS se destacam no concurso A’Design Award. Design Brasil, 2015. Disponível em: <http://www.designbrasil.org.br/design-em-pauta/brasileiros-se- destacam-no-concurso-adesign-award/>. Acesso em: 5 ago. 2019. BÜRDEK, B. E. Design-história, teoria e prática do design de produtos. São Paulo: Blucher, 2010. BUSO, J. Impressões de uma designer na China! Design Brasil, 2016. 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E falando em sociedade, está mais do que na hora de nos preocuparmos com os quase 24% da população brasileira que apresentam algum tipo de deficiência e, portanto, clamam pela acessibilidade. Está nas nossas mãos mudar esse triste cenário. CONTEXTUALIZANDO Rio de Janeiro – Há mais de 80 anos no mercado brasileiro, Leite de Rosas é passado de geração em geração [...]. A revolucionária e chamativa embalagem rosa ganhou as gôndolas na década de 1960, quando o braço direito do fundador, Henrique Ribas, assumiu a empresa e optou pelo uso de plástico. Assim, mais barato, o produto se tornou acessível a todas as regiões do Brasil [...]. Apesar de focada apenas no Brasil, Leite de Rosas ganhou mais do que consumidores. Ganhou admiradores e seguidores. De maneira discreta e eficiente a marca ocupa quase todos os estabelecimentos comerciais de produtos de beleza e é presença garantida no banheiro da vovó. Já de sua cor não se pode dizer o mesmo. Nada discreta e, ao contrário, muito impactante, o objetivo de Henrique Ribas era destacar a embalagem de Leite de Rosas nas prateleiras ocupadas, em grande maioria, pelos comuns e sem graça frascos brancos (Terra, 2010) Mesmo assim, recentemente a companhia abandonou a sua principal característica física em nome da inovação. E se arrependeu. A demanda por embalagens modernas e o consequente acompanhamento mercadológico da marca não demorou a iniciar a produção das embalagens roll-on. Porém, a companhia cometeu um grave erro que imediatamente mostrou-se percebido por seus consumidores: o fracasso do produto em embalagem branca. “Quando lançamos o roll-on na cor branca, tivemos vendas entre 15 e 30 mil unidades no mês. Ao mudarmos a cor para o característico rosa, atingimos 100 mil produtos vendidos”, diz Juliana (Terra, 2010) Perceba a importância da cor, pois uma única mudança na embalagem fez com que as vendas da empresa aumentassem de 30 mil unidades/mês para 100 mil unidades/mês! E, assim como a cor, outros aspectos precisam ser considerados no desenvolvimento de um produto, como a ergonomia, a usabilidade, a acessibilidade e até a tipografia, a qual será o primeiro tema desta aula. 3 TEMA 1 – TIPOGRAFIA Segundo Mazzarotto (2018), tipografia se relaciona tanto ao ato de desenhar uma fonte como a fonte em si, e também aos estudos sobre como utilizar essa fonte de forma correta. O autor ainda complementa afirmando que a tipografia é “a evolução do processo milenar da escrita, proveniente da invenção da prensa de tipos móveis – que possibilitou a produção em larga escala” (Mazzarotto, 2018, p. 11). Saiba mais Você deve saber que a prensa móvel foi uma invenção do alemão Gutemberg, no século XV, que mudou o mundo. Saiba mais assistindo ao vídeo a seguir. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v= qz_pQpG056I>. No entanto, a história da tipografia é bem mais antiga. Iniciou quando o homem inventou sinais para traduzir os sons que emitia e mudou o destino da humanidade. Atualmente, as letras estão em todo lugar e seu uso deve ser bem planejado porque pode afetar o resultado final de um material. Veja o exemplo da Figura 1 (a) e (b). Figura 1 – Exemplo de uso de fontes (a) 4 (b) Crédito: Stocker Top/Shutterstock; adaptado de Stocker Top/Shutterstock. Qual dos exemplos anteriores você acha que o uso da fonte está mais adequado? No segundo exemplo (b), a fonte parece antiquada, difícil de ler, e não combina com o restante da composição. Ou seja, com esse simplesexemplo é possível notar que a tipografia realmente faz toda a diferença no trabalho final. No entanto, antes de aprender sobre tipografia, é preciso conhecer as estruturas de uma letra, que é formada por ápice, trave, haste, base e serifa (Figura 2). Figura 2 – Estrutura de uma letra Além disso, uma mesma fonte deve apresentar diversas variações em relação a inclinações, largura, tonalidade e uso ortográfico (Collaro, 2007). a. Inclinações: as fontes sem inclinações são chamadas de redondas, e as inclinadas, de itálicas ou grifos. Software & app development 5 b. Larguras: as fontes são classificadas em normais (médias), largas (expandidas) ou estreitas (condensadas). Quanto mais estreita ou mais larga, menor a legibilidade. c. Tonalidade: está ligada à forca da letra e à relação entre a espessura da haste e o espaço interno em branco. A tonalidade normal é chamada de normal (regular) e existe a bold (negrito) com variações extra bold, semibold para os mais espessos e light ou extra light para os mais finos. d. Uso ortográfico: são a caixa-alta (maiúscula) e caixa-baixa (minúsculas), e as versaletes (letras maiúsculas, mas com altura das minúsculas). Saiba mais Você sabe por que se usam esses termos caixa-alta ou caixa-baixa? Acesse o link a seguir e descubra. Disponível em: <http://www.formacerta.com.br/blog/qual-e-a-origem-do-termo-caixa-alta-e- caixa-baixa/> Agora que você aprendeu sobre a estrutura das letras e suas variações, que tal aprender sobre sua origem? Na verdade, a arte influencia fortemente a tipografia de seu tempo, ou seja, a arte influencia o desenho das letras também de determinada época. De acordo com Collaro (2007), para entender a evolução das artes e sua influência nas letras, pode-se utilizar a arquitetura como parâmetro. Veja, de forma resumida, os principais estilos arquitetônicos. • Estilo clássico: predominante na Antiguidade Greco-romana; • Estilo bizantino: inspirado na antiga Constantinopla (Bizâncio); • Estilo românico: dominou a Europa nos séculos XI e XII; • Estilo gótico: prevaleceu na Europa no final da Idade Média (XIII, XIV e XV); • Estilo renascentista: inicia-se no século XV e retoma o uso de elementos do estilo clássico (Barroco). Mais tarde, surgiram outros como o estilo floreal ou liberty, cubista e funcional. Enfim, toda essa evolução estética foi acompanhada pelo desenho das letras também, como veremos a seguir (Collaro, 2007). 6 1.1 Estilos clássicos 1.1.1 Gótico Com a invenção da impressa, o principal estilo utilizado foi o gótico e suas diversas versões, pois era esse o modelo predominante nos manuscritos da época e a tipografia, recém-criada, precisava fixar-se como meio de reprodução. Logo, tentava imitar os textos feitos à mão. Contudo, a legibilidade dos tipos góticos sempre foi contestada, o que ainda era piorado por meio de adornos que dificultavam ainda mais a leitura das páginas. Atualmente, esse estilo de letra ficou restrito a impressos que remontam ao clássico, como diplomas, mensagens e logos que queiram inspirar confiança e tradição (Collaro, 2007). 1.1.2 Românico Esse estilo pode ser subdividido em dois momentos. O românico antigo foi herdeiro da arte romana, criou fontes baseadas nas inscrições das ruínas romanas, com as serifas arredondadas. Ao longo de 200 anos, foram se desenvolvendo e se espalhando até darem origem às fontes conhecidas como Romanas de Transição (Gaspar, 2015) que são fontes serifadas tanto na versão de caixa-alta como em caixa-baixa. A sua principal característica é que, na junção da haste com a serifa, há um angulo arredondado. A diferença de espessura entre hastes também é pouco acentuada (Gaspar, 2015). 1.1.3 Egípcio As fontes criadas por designers italianos a pedido dos ingleses para diferenciar seus produtos na Revolução Industrial foram baseadas no estilo das inscrições egípcias (hieróglifos), que eram esculpidas em pedra (Collaro, 2007). 1.1.4 Lapidário Conhecido pela simplicidade e visibilidade, foram inspirados na escrita fenícia (cuneiforme), que era formada por hastes, sem maiores rebuscamentos (Collaro, 2007). 7 1.1.5 Romântico Este estilo começou a utilizar elementos decorativos e flores. Eram muito focados na estética, mas apresentavam pouca legibilidade. Dele se originou o estilo Floreal (Art Noveau) que tinha inspiração na natureza, nas flores, e também o estilo Liberty, uma estilização do gótico, com formas menos rebuscadas. Contundo, em contrapartida aos exageros desse estilo, surgiram o cubismo e o futurismo, estilos que pregavam a simplificação das formas e romperam em definitivo com os estilos clássicos (Collaro, 2007). 1.2 Nova tipografia Os movimentos cubistas e futuristas trouxeram uma simplificação das formas, rompendo com o desenho clássico das letras. Esses movimentos influenciaram a tipografia, geometrizando suas formas, valorizando as proporções e os espaços em branco. Com isso, surgiu a tipografia, dividida em: • Elementar, que queria romper com o óbvio; • Funcional, que atendia às necessidades do projeto (função); • Moderna, que uniu o avanço tecnológico com mudanças sociais. Resumindo, a fontes estão em todo lugar e seu uso deve ser bem planejado pelos profissionais porque ela será a “voz” de seu trabalho. TEMA 2 – ERGONOMIA É comum já ter se deparado com objetos nada “ergonômicos” no dia a dia. Pense naquela cadeira desconfortável que lhe causa dores nas costas, ou aquela embalagem de suco que derruba seu conteúdo quando está cheia e você vai servir o copo. A ergonomia, conhecida também como “fatores humanos”, se preocupa em conhecer o ser humano para fazer adaptações às suas capacidades e limitações (IIDA, 2018). Ela é uma ciência recente e surgiu como resultado de um trabalho multidisciplinar envolvendo engenheiros, fisiologistas e psicólogos durante a Segunda Guerra (IIDA, 2018). Segundo Falzon (2018), ela foi oficializada em 1957 com a fundação da Associação Internacional de Ergonomia, 8 na Holanda, que tinha como foco a adaptação do ambiente, do trabalho e das máquinas ao ser humano. No Brasil, temos a Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo), criada na década de 1980, que adota a seguinte definição para ergonomia: É uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Os ergonomistas contribuem para o planejamento, projeto e a avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas. (Abergo, 2019) Ergonomia é formalmente definido como o estudo da adaptação do trabalho ao ser humano, em que se entende por trabalho qualquer interação entre o ser humano e uma atividade produtiva de bens ou serviços (IIDA, 2018). Geralmente é associada ao mobiliário e aos objetos chamados de “ergonômicos” (por exemplo, mouses, cadeira) ou doenças do trabalho, como lesão por esforços repetitivos (LER) (Abrahão et al., 2009). No entanto, a ergonomia é muito mais abrangente e pode ser dividida em ergonomia física, cognitiva e organizacional. A ergonomia física estuda a anatomia humana, a antropometria, a fisiologia e a biomecânica. Ela analisa a postura no trabalho, o manuseio de materiais, os movimentos repetitivos, os distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao trabalho, a elaboração de projetos de postos de trabalhos, entre outros (Abrahão et al., 2009). No entanto, com a disseminação da informática na década de 1980, surgiram postos de trabalho informatizados e máquinas programáveis, levando a ergonomia a se preocupar com os aspectos cognitivos das atividades (IIDA, 2018). Por isso, a
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