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. 1 SEE-PB Gestão Escolar. .................................................................................................................................. 1 Conselho Escolar. Conselho de Classe. ............................................................................................ 10 Projeto Político-Pedagógico da Escola. ............................................................................................. 26 Planejamento e Plano Escolar/Ensino. .............................................................................................. 41 Formação Continuada. ...................................................................................................................... 59 Educação Inclusiva: Fundamentos, Políticas e Práticas Escolares. ................................................... 67 Educação e Sociedade. ..................................................................................................................... 75 O Papel da Didática na formação do Professor: saberes e competências. ........................................ 94 Tendências pedagógicas e as abordagens de ensino. ..................................................................... 109 Currículo escolar e a construção do conhecimento. ......................................................................... 137 Interdisciplinaridade no ensino. ........................................................................................................ 162 Questões atuais de seleção e organização do conhecimento escolar.............................................. 169 Métodos de ensino: enfoque teórico e metodológico. ...................................................................... 185 Candidatos ao Concurso Público, O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom desempenho na prova. As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar em contato, informe: - Apostila (concurso e cargo); - Disciplina (matéria); - Número da página onde se encontra a dúvida; e - Qual a dúvida. Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. Bons estudos! 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 1 Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores@maxieduca.com.br Gestão democrática e a mobilização da equipe escolar1 E por falar em gestão, como proceder de forma mais democrática nos sistemas de ensino e nas escolas públicas? A participação é educativa tanto para a equipe gestora quanto para os demais membros das comunidades escolar e local. Ela permite e requer o confronto de ideias, de argumentos e de diferentes pontos de vista, além de expor novas sugestões e alternativas. Maior participação e envolvimento da comunidade nas escolas produzem os seguintes resultados: - Respeito à diversidade cultural, à coexistência de ideias e de concepções pedagógicas, mediante um diálogo franco, esclarecedor e respeitoso; - Formulações de alternativas, após um período de discussões onde as divergências são expostas. - Tomada de decisões mediante procedimentos aprovados por toda a comunidade envolvida - Participação e convivência de diferentes sujeitos sociais em um espaço comum de decisões educacionais. A gestão democrática dos sistemas de ensino e das escolas públicas requer a participação coletiva das comunidades escolar e local na administração dos recursos educacionais financeiros, de pessoal, de patrimônio, na construção e na implementação dos projetos educacionais. Mas para promover a participação e deste modo implementar a gestão democrática da escola, procedimentos prévios podem ser observados: - Solicitar a todos os envolvidos que explicitem seu comprometimento com a alternativa de ação escolhida; - Responsabilizar pessoas pela implementação das alternativas acordadas; - Estabelecer normas prévias sobre como os debates e as decisões serão realizados; - Estabelecer regras adequadas à igualdade de participação de todos os segmentos envolvidos; - Articular interesses comuns, ideias e alternativas complementares, de forma a contribuir para organizar propostas mais coletivas. - Esclarecer como a implementação das ações serão acompanhadas e supervisionadas; - Criar formas de divulgação das ideias e alternativas em debate como também do processo de decisão. Gestão democrática implica compartilhar o poder, descentralizando-o. Como fazer isso? Incentivando a participação e respeitando as pessoas e suas opiniões; desenvolvendo um clima de confiança entre os vários segmentos das comunidades escolar e local; ajudando a desenvolver competências básicas necessárias à participação (por exemplo, saber ouvir, saber comunicar suas ideias). A participação proporciona mudanças significativas na vida das pessoas, na medida em que elas passam a se interessar e se sentir responsáveis por tudo que representa interesse comum. Assumir responsabilidades, escolher e inventar novas formas de relações coletivas faz parte do processo de participação e trazem possibilidades de mudanças que atendam a interesses mais coletivos. A participação social começa no interior da escola, por meio da criação de espaços nos quais professores, funcionários, alunos, pais de alunos etc. possam discutir criticamente o cotidiano escolar. Nesse sentido, a função da escola é formar indivíduos críticos, criativos e participativos, com condições de participar criticamente do mundo do trabalho e de lutar pela democratização da educação. A escola, no desempenho dessa função, precisa ter clareza de que o processo de formação para uma vida cidadã e, portanto, de gestão democrática passa pela construção de mecanismos de participação da comunidade 1 Dourado, L. F.Progestão: como promover, articular e envolver a ação das pessoas no processo de gestão escolar? Brasília : CONSED – Conselho Nacional de Secretários de Educação, 2001. Gestão Escolar. 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 2 escolar, como: Conselho Escolar, Associação de Pais e Mestres, Grêmio Estudantil, Conselhos de Classes etc. Para que a tomada de decisão seja partilhada e coletiva, é necessária a efetivação de vários mecanismos de participação, tais como: o aprimoramento dos processos de escolha ao cargo de dirigente escolar; a criação e a consolidação de órgãos colegiados na escola (conselhos escolares e conselho de classe); o fortalecimento da participação estudantil por meio da criação e da consolidação de grêmios estudantis; a construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico da escola; a redefinição das tarefas e funções da associação de pais e mestres, na perspectiva de construção de novas maneiras de se partilhar o poder e a decisão nas instituições. Não existe apenas uma forma ou mecanismo de participação. Entre os mecanismos de participação que podem ser criados na escola, destacam-se: o conselho escolar, o conselho de classe, a associação de pais e mestres e o grêmio escolar. Conselho escolar O conselho escolar é um órgão de representação da comunidade escolar. Trata-se de uma instância colegiada que deve ser composta por representantes de todos os segmentos da comunidade escolare constitui-se num espaço de discussão de caráter consultivo e/ou deliberativo. Ele não deve ser o único órgão de representação, mas aquele que congrega as diversas representações para se constituir em instrumento que, por sua natureza, criará as condições para a instauração de processos mais democráticos dentro da escola. Portanto, o conselho escolar deve ser fruto de um processo coerente e efetivo de construção coletiva. A configuração do conselho escolar varia entre os estados, entre os municípios e até mesmo entre as escolas. Assim, a quantidade de representantes eleitos, na maioria das vezes, depende do tamanho da escola, do número de classes e de estudantes que ela possui. Conselho de classe O conselho de classe é mais um dos mecanismos de participação da comunidade na gestão e no processo de ensino-aprendizagem desenvolvido na unidade escolar. Constitui-se numa das instâncias de vital importância num processo de gestão democrática, pois "guarda em si a possibilidade de articular os diversos segmentos da escola e tem por objeto de estudo o processo de ensino, que é o eixo central em torno do qual desenvolve-se o processo de trabalho escolar" (DALBEN, 1995). Nesse sentido, entendemos que o conselho de classe não deve ser uma instância que tem como função reunir-se ao final de cada bimestre ou do ano letivo para definir a aprovação ou reprovação de alunos, mas deve atuar em espaço de avaliação permanente, que tenha como objetivo avaliar o trabalho pedagógico e as atividades da escola. Nessa ótica, é fundamental que se reveja a atual estrutura dessa instância, rediscutindo sua função, sua natureza e seu papel na unidade escolar. Associação de pais e mestres A associação de pais e mestres, enquanto instância de participação, constitui-se em mais um dos mecanismos de participação da comunidade na escola, tornando-se uma valiosa forma de aproximação entre os pais e a instituição, contribuindo para que a educação escolarizada ultrapasse os muros da escola e a democratização da gestão seja uma conquista possível. Grêmio estudantil Numa escola que tem como objetivo formar indivíduos participativos, críticos e criativos, a organização estudantil adquire importância fundamental. O grêmio estudantil constitui-se em mecanismo de participação dos estudantes nas discussões do cotidiano escolar e em seus processos decisórios, constituindo-se num laboratório de aprendizagem da função política da educação e do jogo democrático. Possibilita, ainda, que os estudantes aprendam a se organizarem politicamente e a lutar pelos seus direitos. Articulado ao processo de constituição de mecanismos de participação colegiada dentro da escola destaca-se também a necessidade da participação e acompanhamento da aplicação dos recursos financeiros, tanto na escola como nos sistemas de ensino. A responsabilidade de acompanhar e fiscalizar a aplicação dos recursos para a educação é de toda a sociedade. Todos os envolvidos direta e indiretamente são chamados a se responsabilizar pelo bom uso das verbas destinadas à educação. Nesse sentido, pais, alunos, professores, servidores administrativos, associação de bairros, ou seja, as 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 3 comunidades escolar e local têm o direito de participar, por meio dos diferentes conselhos criados para essa finalidade. O processo de participação na escola produz, também, efeitos culturais importantes. Ele ajuda a comunidade a reconhecer o patrimônio das instituições educativas – escolas, bibliotecas, equipamentos – como um bem público comum, que é a expressão de um valor reconhecido por todos, o qual oferece vantagens e benefícios coletivos. Sua utilização por algumas pessoas não exclui o uso pelas demais. É um bem de todos; todos podem e devem zelar pelo seu uso e sua adequada conservação. A manutenção e o desenvolvimento de um bem público comum requerem algumas condições: 1. Recursos financeiros adequados, regulares e bem gerenciados, de modo a oferecer as mesmas condições de uso, acesso e permanência nas escolas a alunos em condições sociais desiguais; 2. Transparência administrativa e financeira com o controle público de ações e decisões. Desse modo, cabe ao gestor informar com clareza e em tempo hábil a relação dos recursos disponíveis, fazer prestações de contas, promover o registro preciso e claro das decisões tomadas em reuniões; 3. Processo participativo de tomada de decisões, implementação, acompanhamento e avaliação. Ressaltamos que o cotidiano de trabalho das escolas deve ter por referência um projeto pedagógico construído coletivamente e o apreço às decisões tomadas pelos órgãos colegiados representativos. Em síntese, a gestão democrática do ensino pressupõe uma maneira de atuar coletivamente, oferecendo aos membros das comunidades local e escolar oportunidades para: - Reconhecer que existe uma discrepância entre a situação real (o que é) e o que gostaríamos que fosse (o que pode vir a ser). - Identificar possíveis razões para essa discrepância. - Elaborar um plano de ação para minimizar ou solucionar esses problemas. Envolvendo a comunidade na gestão da escola A gestão escolar constitui um modo de articular pessoas e experiências educativas, atingir objetivos da instituição escolar, administrar recursos materiais, coordenar pessoas, planejar atividades, distribuir funções e atribuições. Em síntese, se estabelecem, intencionalmente, contatos entre as pessoas, os recursos administrativos, financeiros e jurídicos na construção do projeto pedagógico da escola. A gestão democrática, por sua vez, requer, dentre outros, a participação da comunidade nas ações desenvolvidas na escola. Envolver a comunidades escolar e local é tarefa complexa, pois articula interesses, sentimentos e valores diversos. Nem sempre é fácil, mas compete às equipes gestoras pensar e desenvolver estratégias para motivar as pessoas a se envolver e participar na vida da escola. As possibilidades de motivação são várias, desde a concepção e o uso dos espaços escolares até a organização do trabalho pedagógico. A mobilização das pessoas pode começar quando elas se defrontam com situações-problema. As dificuldades nos incentivam a criar novas formas de organização, de participar das decisões para resolvê-las. Espaços de discussão possibilitam trabalhar ideias divergentes na construção do projeto educativo. Como criar, ou então fortalecer, ambientes que favoreçam a participação? Na construção de ambientes de participação e mobilização de pessoas, algumas estratégias tornam-se fundamentais. Vejamos algumas: - Estar atento às solicitações da comunidade. - Ouvir com atenção o que os membros da comunidade têm a dizer. - Delegar responsabilidades ao máximo possível de pessoas. - Mostrar a responsabilidade e a importância do papel de cada um para o bom andamento do processo. - Garantir a palavra a todos. - Respeitar as decisões tomadas em grupo. - Criar ambientes físicos confortáveis para assembleias e reuniões. - Estimularcadapresentenasreuniõesounasassembléiasaseresponsabilizar por trazer, pelo menos, mais uma pessoa para o próximo encontro. - Tornar a escola um espaço de sociabilidade. - Valorizar o trabalho participativo. - Destacar a importância da integração entre as pessoas. - Submeter o trabalho desenvolvido na escola às avaliações da comunidade e dos conselhos ou órgãos colegiados. - Valorizar a presença de cada um e de todos. - Desenvolver projetos educativos voltados para a comunidade em geral, não só para os alunos. 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 4 - Ressaltar a importância da comunidade na identidade da unidade escolar. - Tornar o espaço escolar disponível para comunidade. Gestão escolar para o sucesso do ensino e da aprendizagem2 Práticas de organização e gestão e escolas bem sucedidas Pesquisas acerca dos elementos da organização escolar que interferem no sucessoescolar dos alunos mostram que o modo como funciona uma escola faz diferença em relação aos resultados escolares dos alunos. Embora as escolas não sejam iguais, essas pesquisas indicam características organizacionais úteis para compreensão do funcionamento das escolas, considerados os contextos e as situações escolares específicos. Os aspectos a seguir aparecem em várias dessas pesquisas: a) Em relação aos professores: boa formação profissional, autonomia profissional, capacidade de assumir responsabilidade pelo êxito ou fracasso de seus alunos, condições de estabilidade profissional, formação profissional em serviço, disposição para aceitar inovações com base nos seus conhecimentos e experiências; capacidade de análise crítico-reflexiva. b) Quanto à estrutura organizacional: sistema de organização e gestão, plano de trabalho com metas bem definidas e expectativas elevadas; competência específica e liderança efetiva e reconhecida da direção e coordenação pedagógica; integração dos professores e articulação do trabalho conjunto e participativo; clima de trabalho propício ao ensino e à aprendizagem; práticas de gestão participativa; oportunidades de reflexão conjunta e trocas de experiências entre os professores; c) Autonomia da escola, criação de identidade própria, com possibilidade de projeto próprio e tomada de decisões sobre problemas específicos; planejamento compatível com as realidades locais; decisão e controle sobre uso de recursos financeiros; planejamento participativo e gestão participativa, bom relacionamento entre os professores, responsabilidades assumidas em conjunto; d) Prédios adequados e disponibilidade de condições materiais, recursos didáticos, biblioteca e outros, que propiciem aos alunos oportunidades concretas para aprender; e) Quanto à estrutura curricular: adequada seleção e organização dos conteúdos; valorização das aprendizagens acadêmicas e não apenas das dimensões sociais e relacionais; modalidades de avaliação formativa; organização do tempo escolar de forma a garantir o máximo de tempo para as aprendizagens e o clima para o estudo; acompanhamento de alunos com dificuldades de aprendizagem. f) Participação dos pais nas atividades da escola; investimento em formar uma imagem pública positiva da escola. Essas características reforçam a ideia de que a qualidade de ensino depende de mudanças no âmbito da organização escolar, envolvendo a estrutura física e as condições de funcionamento, a estrutura organizacional, a cultura organizacional, as relações entre alunos, professores, funcionários, as práticas colaborativas e participativas. É a escola como um todo que deve responsabilizar-se pela aprendizagem dos alunos, especialmente em face dos problemas sociais, culturais, econômicos, enfrentados atualmente. Ampliando o conceito de organização e de gestão de escolas Para a perspectiva que compreende a escola apenas como organização administrativa, também conhecida como perspectiva técnico-racional, a organização e gestão da escola diz respeito, comumente, à estrutura de funcionamento, às formas de coordenação e gestão do trabalho, ao estabelecimento de normas administrativas, ao provimento e utilização dos recursos materiais e financeiros, aos procedimentos administrativos, etc., que formam o conjunto de condições e meios de garantir o funcionamento da escola. A concepção técnico-racional reduz as formas de organização apenas a esses aspectos, prevalecendo uma visão burocrática de organização, decisões centralizadas, baixo grau de participação, separação entre o administrativo e o pedagógico. Abdalla indica os inconvenientes dessa concepção funcionalista e produtiva: “A organização se fecha, os professores se individualizam, as interações se enfraquecem, regras são impostas, potencializa-se o campo do poder com vistas a controlar as estruturas administrativas e pedagógicas”. 2 LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática; 6ª edição, São Paulo, Heccus Editora, 2013. 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 5 Na perspectiva da escola como organização social, para além da visão “administrativa”, as organizações escolares são abordadas como unidades sociais formadas de pessoas que atuam em torno de objetivos comuns, portanto, como lugares de relações interpessoais. A escola é uma organização em sentido amplo, uma “unidade social que reúne pessoas que interagem entre si, intencionalmente, e que opera através de estruturas e processos próprios, a fim de alcançar os objetivos da instituição”. Destas duas perspectivas ampliou-se a compreensão da escola como lugar de aprendizagem, de compartilhamento de saberes e experiências, ou seja, um espaço educativo que gera efeitos nas aprendizagens de professores e alunos. As formas de organização e de gestão adquirem dois novos sentidos: a) o ambiente escolar é considerado em sua dimensão educativa, ou seja, as formas de organização e gestão, o estilo das relações interpessoais, as rotinas administrativas, a organização do espaço físico, os processos de tomada de decisões, etc., são também práticas educativas; b) as escolas são tidas como instituições aprendentes, portanto, espaço de formação e aprendizagem, em que as pessoas mudam com as organizações e as organizações mudam com as pessoas. A organização escolar como lugar de práticas educativas e de aprendizagem A escola entendida como espaço de compartilhamento de idéias, práticas socioculturais e institucionais, valores, atitudes de modos de agir, tem recebido várias denominações, com diferentes justificativas: comunidade de aprendizagem, comunidade de práticas, comunidade aprendente, organizações aprendentes, aprendizagem colaborativa, entre outras. Adotaremos aqui a noção de ensino como “atividade situada em contextos”. Conforme a teoria histórico-cultural da atividade a atividade humana mediatiza a relação entre o ser humano e o meio físico e social. Esta relação é histórico-social, isto é, depende das práticas sociais anteriores, de modo que a atividade conjunta acumulada historicamente influencia a atividade presente das pessoas. Ao mesmo tempo, o ser humano, ao pôr-se em contato com o mundo dos objetos e fenômenos, atua sobre essa realidade modificando-a e transformando-se a si mesmo. Este entendimento decorre da lei genética do desenvolvimento cultural, segundo a qual “todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social e, depois, no nível individual. Primeiro, entre pessoas (interpsicológica) e, depois, no interior da criança (intrapsicológica)”. Esse princípio acentua as origens sociais do desenvolvimento mental individual, especialmente o peso atribuído às mediações culturais. Sendo assim, os contextos socioculturais e institucionais atuam na formação do pensamento conceitual o que, em outras palavras, significa dizer que as práticas sociais em que uma pessoa está envolvida influenciam o modo de pensar dessa pessoa. A teoria da atividade, assim, possibilita compreender a influência das práticas socioculturais e institucionais nas aprendizagens e o papel dos indivíduos em modificar essas práticas. De que práticas se trata? Elas referem-se tanto ao contexto mais amplo da sociedade (o sistema econômico, as contradições sociais, por exemplo), quanto ao contexto mais próximo, por exemplo, a comunidade em que está inserida a escola, as práticas de organização e gestão, o tipo de relacionamento entre as pessoas da escola, as atitudes dos professores, as rotinas cotidianas, o clima organizacional, o material didático, o espaço físico, o edifício escolar, etc. Desse modo, as práticas sociais e culturais que ocorrem nos vários espaços da escola são, também, mediações culturais, que atuam na aprendizagem das pessoas (professores, especialistas, funcionários, alunos). Tais práticas institucionais afetam significativamenteo significado e o sentido, ou seja, atuam, positivamente ou negativamente, na motivação e na aprendizagem dos alunos, já que, de alguma forma, eles participam nessas práticas. O ensino é, portanto, uma atividade situada, ou seja, é uma prática social que se realiza num contexto de cultura, de relações e de conhecimento, histórica e socialmente construídos. Isso significa que não é apenas na sala de aula que os alunos aprendem, eles aprendem também com os contextos socioculturais, com as interações sociais, com as formas de organização e de gestão, de modo que a escola pode ser vista como uma organização aprendente, uma comunidade democrática de aprendizagem. As pessoas – alunos, professores, funcionários - respondem, com suas ações, a um contexto institucional e pedagógico preparado para produzir mudanças qualitativas na sua personalidade e na sua aprendizagem. A noção de cultura organizacional é útil para compreender melhor o papel educativo das práticas de organização e gestão. Ela é constituída do conjunto dos significados, modos de pensar e agir, valores, comportamentos, modos de funcionar que revelam a identidade, os traços característicos, de uma 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 6 instituição – escola, empresa, hospital, prisão, etc. - e das pessoas que nela trabalham. A cultura organizacional sintetiza os sentidos que as pessoas dão às coisas e situações, gerando um modo característico de pensar, de perceber coisas e de agir. Isso explica, por exemplo, a aceitação ou resistência frente a inovações, certos modos de tratar os alunos, as formas de enfrentamento de problemas de disciplina, a aceitação ou não de mudanças na rotina de trabalho, etc. Segundo o sociólogo francês Forquin “A escola é, também, um mundo social, que tem suas características de vida próprias, seus ritmos e seus ritos, sua linguagem, seu imaginário, seus modos próprios de regulação e de transgressão, seu regime próprio de produção e de gestão de símbolos”. Essa afirmação mostra que, nas escolas, para além daquelas diretrizes, normas, procedimentos operacionais, rotinas administrativas, há aspectos de natureza sociocultural que as diferenciam umas das outras, a maior parte deles pouco perceptíveis ou explícitos, traço que em estudos sobre currículo tem sido denominado de “currículo oculto”. Essas diferenças aparecem nas formas de interação entre as pessoas, nas crenças, valores, significados, modos de agir, configurando práticas que se projetam nas normas disciplinares, na relação dos professores com os alunos na aula, na cantina, nos corredores, na preparação de alimentos e distribuição da merenda, nas formas de tratamento com os pais, na metodologia de aula etc. As atividades compartilhadas entre direção, professores e alunos. A cultura organizacional aparece sob duas formas: como cultura instituída e como cultura instituinte. A cultura instituída refere-se a normas legais, estrutura organizacional definida pelos órgãos oficiais, rotinas, grade curricular, horários, normas disciplinares etc. A cultura instituinte é aquela que os membros da escola criam, recriam, nas suas relações e na vivência cotidiana, podendo modificar a cultura instituída. Neste sentido, as escolas são espaços de aprendizagem, comunidades democráticas de aprendizagem onde se compartilham significados, criam-se outros modos de agir, mudam-se práticas, recria-se a cultura vigente, aprende-se com a participação real de seus membros. As ações realizadas na escola nesta perspectiva implicam a adoção de formas de participação real das pessoas nas decisões em relação ao projeto pedagógico-curricular, ao desenvolvimento do currículo, às formas de avaliação e acompanhamento da aprendizagem escolar, às normas de funcionamento e convivência, etc. Para uma revisão das práticas de organização e gestão das escolas Conclui-se que não é possível à escola atingir seus objetivos de melhoria da aprendizagem escolar dos alunos sem formas de organização e gestão, tanto como provimento de condições e meios para o funcionamento da escola, quanto como práticas socioculturais e institucionais com caráter formativo. Uma revisão das práticas de organização e gestão precisa considerar cinco aspectos, que apresentamos a seguir: a) As práticas de organização e gestão devem estar voltadas à aprendizagem dos alunos. As práticas de organização e gestão, a participação dos professores na gestão, o trabalho colaborativo, estão a serviço da melhoria do ensino e da aprendizagem. Mencionou-se anteriormente que o que faz a diferença entre as escolas é o grau em que conseguem melhorar a qualidade da aprendizagem escolar dos alunos. Desse modo, uma escola bem organizada e gerida é aquela que cria as condições organizacionais, operacionais e pedagógico-didáticas que permitam o bom desempenho dos professores em sala de aula, de modo que todos os seus alunos sejam bem sucedidos em suas aprendizagens. b) A qualidade do ensino depende do exercício eficaz da direção e da coordenação pedagógica Há boas razões para crer que a instituição escolar não pode prescindir de ações básicas que garantem o seu funcionamento: formular planos, estabelecer objetivos, metas e ações; estabelecer normas e rotinas em relação a recursos físicos, materiais e financeiros; ter uma estrutura de funcionamento e definição clara de responsabilidades dos integrantes da equipe escolar; exercer liderança; organizar e controlar as atividades de apoio técnico-administrativo; cuidar das questões da legislação e das diretrizes pedagógicas e curriculares; cobrar responsabilidades das pessoas; organizar horários, rotinas, procedimentos; estabelecer formas de relacionamento entre a escola e a comunidade, especialmente com as famílias; efetivar ações de avaliação do currículo e dos professores; cuidar das condições do edifício escolar e de todo o espaço físico da escola; assegurar materiais didáticos e livros na biblioteca. Tais ações representam, sem dúvida, o primeiro conjunto de competências de diretores e coordenadores pedagógicos. Falamos da escola como espaço de compartilhamento, lugar de 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 7 aprendizagem, comunidade democrática de aprendizagem, gestão participativa, etc., mas as escolas precisam ser organizadas e geridas como garantia de efetivação dos seus objetivos. Uma escola democrática tem por tarefa propiciar a todos os alunos, sem distinção, educação e ensino de qualidade, o que põe a exigência de justiça. Isto supõe estrutura organizacional, regras explícitas e sua aplicação igual para todos sem privilégios ou discriminações, garantia de ambiente de estudo e aprendizagem, tratamento das pessoas conforme critérios públicos e justificados. Por mais que tais exigências pareçam como excesso de “racionalidade”, elas se justificam pelo fato de as escolas serem unidades sociais em que pessoas trabalham juntas em agrupamentos humanos intencionalmente constituídos, visando objetivos de aprendizagem. As escolas recebem hoje alunos de diferentes origens sociais, culturais, familiares, portadores vivos das contradições da sociedade. É preciso que o grupo de dirigentes e professores definam formas de gestão e de convivência que regulem a organização da vida escolar e as práticas pedagógicas, precisamente para conter tendências de discriminação e desigualdade social e assegurar a todos o usufruto da escolarização de qualidade. c) A organização e a gestão implicam a gestão participativa e a gestão da participação A organização da escola requer atender a duas necessidades: a participação na gestão, enquanto requisito democrático, e a gestão da participação, como requisito técnico. Por um lado, as escolas precisam cultivar os processos democráticos e colaborativos de trabalho, em função da convivência e da tomada de decisões. Por outro, precisam funcionar bem tecnicamente, a fim de poder atingir eficazmenteseus objetivos, o que implica a gestão da participação. A gestão participativa significa alcançar de forma colaborativa e democrática os objetivos da escola. A participação é o principal meio de tomar decisões, de mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos, os conteúdos, as formas de organização do trabalho e o clima de trabalho desejado para si próprias e para os outros. A participação se viabiliza por interação comunicativa, diálogo, discussão pública, busca de consensos e de superações de conflitos. Nesse sentido, a melhor forma de gestão é aquela que criar um sistema de práticas interativas e colaborativas para troca de idéias e experiências para chegar a ideias e ações comuns. Já a gestão da participação implica repensar as práticas de gestão, seja para assegurar relações interativas, democráticas e solidárias, seja para buscar meios mais eficazes de funcionamento da escola. A gestão da participação refere-se à coordenação, acompanhamento e avaliação do trabalho das pessoas, como garantia para assegurar o sistema de relações interativas e democráticas. Para isso, faz- se necessária uma bem definida estrutura organizacional, responsabilidades claras e formas eficazes de tomada de decisões grupais. As exigências de gestão e liderança por parte de diretores e coordenadores se justificam cada vez mais em face de problemas que incidem no cotidiano escolar: problemas sociais e econômicos das famílias, problemas de disciplina manifestos em agressão verbal, uso de armas, uso de drogas, ameaças a professores, violência física e verbal. Os problemas se acentuam com a inexperiência ou precária formação profissional de muitos professores que levam a dificuldades no manejo da sala de aula, no exercício da autoridade, no diálogo com os alunos. Constatar esses problemas implica que não pensemos apenas em mudanças curriculares ou metodológicas, mas em formas de organização do trabalhado escolar que articulem, eficazmente, práticas participativas e colaborativas com uma sólida estrutura organizacional. d) Projeto pedagógico-curricular bem concebido e eficazmente executado O projeto pedagógico-curricular é uma declaração de intenções do grupo de profissionais da escola, é expressão da coletividade escolar. Em sua elaboração, é sumamente relevante levar-se em conta a cultura da escola ou a cultura organizacional e, também, seu papel de instituidor de outra cultura organizacional. Para isso, uma recomendação inicial é de que a equipe de dirigentes e professores tenha conhecimento e sensibilidade em relação às necessidades sociais e demandas da comunidade local e do próprio funcionamento da escola, de modo a ter clareza sobre as mudanças a serem esperadas nos alunos em relação ao seu desenvolvimento e aprendizagem. Com base nos dados da realidade, é preciso que o projeto pedagógico-curricular dê respostas a esta pergunta: em que comportamentos cognitivos, afetivos, físicos, morais, estéticos, etc., queremos intervir, de forma a produzir mudanças qualitativas no desenvolvimento e aprendizagem dos alunos? Além disso, é necessário ter clareza sobre os objetivos da escola que, em minha opinião, é o de garantir a todos os alunos uma base cultural e científica comum e uma base comum de formação moral e de práticas de cidadania, baseadas em critérios de solidariedade e justiça, na alteridade, na descoberta e respeito pelo outro, no aprender a viver junto. Isto significa: uma escolarização igual, para sujeitos diferentes, por meio de um currículo comum a todos, na formulação de Gimeno Sacristán. A partir de uma base comum de cultura geral para todos, o currículo para sujeitos diferentes significa acolher a diversidade 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 8 e a experiência particular dos diferentes grupos de alunos, propiciando na escola e nas salas de aula, um espaço de diálogo e comunicação. Um dos mais relevantes objetivos democráticos no ensino será fazer da escola um lugar em que todos os alunos e alunas possam experimentar sua própria forma de realização e sucesso. Para tudo isso, são necessárias formas de execução, gestão e avaliação do projeto pedagógico-curricular. e) A atividade conjunta dos professores na elaboração e avaliação das atividades de ensino A modalidade mais rica e eficaz de formação docente continuada ocorre pela atividade conjunta dos professores na discussão e elaboração das atividades orientadoras de ensino. É assim porque a formação continuada passa a ser entendida como um modo habitual de funcionamento do cotidiano da escola, um modo de ser e de existir da escola. Para Moura, o projeto pedagógico se concretiza mediante a realização de atividades pedagógicas. Para isso, os professores realizam ações compartilhadas que exigem troca de significados, possibilitando ampliar o conhecimento da realidade. Desse modo, “a coletividade de formação constitui-se ao desenvolver a ação pedagógica. É essa constituição da coletividade que possibilita o movimento de formação do professor”. Questões 01. (IF-PI- Pedagogo- FUNRIO) Os estudos sobre a administração escolar não é novo, bem como a da organização do trabalho aí realizado. É sempre útil distinguir, no estudo desta questão, a existência de duas concepções, que norteiam as análises: a científico-racional e a crítico, de cunho sócio-político. Na primeira delas, que é o modelo mais comum de funcionamento das instituições de ensino, as escolas dão muita ênfase à estrutura organizacional, que pode ser planejada, organizada e controlada, de modo a alcançar maiores índices de eficácia e eficiência, uma vez que a organização escolar se embasa numa percepção de “realidade objetiva, neutra, técnica, que funciona racionalmente". Na segunda concepção, a organização escolar se estabelece “basicamente como um sistema que agrega pessoas, importando bastante a intencionalidade e as interações sociais, o contexto sócio-político etc., constituindo-se numa construção social a ser construída pelos professores, alunos, pais e integrantes da comunidade próxima, caracterizada pelo interesse público. A visão crítica da escola resulta em diferentes formas de viabilização da... (A) administração empresarial. (B) administração escolar. (C) gestão democrática. (D) gestão empresarial. (E) administração colegiada. 02. (IF-PB- Técnico em Assuntos Educacionais- IF-PB) Dentre os princípios e características da gestão escolar participativa, destaca-se a autonomia como o fundamento da concepção democrático- participativa de gestão escolar. Com base nessa informação, a autonomia na concepção democrático- participativa de gestão escolar está expressa em: (A) A faculdade de uma pessoa de autogovernar-se, decidir sobre o próprio destino, gerenciamento das ações e recursos financeiros. (B) A organização escolar depende exclusivamente de decisões do poder central. (C) O êxito da gestão da escola está no controle emanado pelo poder central. (D) A gestão da autonomia não implica corresponsabilidade dos membros da equipe escolar. (E) A autonomia é um princípio que implica que um líder tome as decisões para que os demais membros possam participar do processo de gestão. 03. (IF-MT- Auxiliar em Administração- UFMT) 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 9 O novo gestor escolar Escrito por Roberta Braga Publicado em 03, Novembro de 2014. As mudanças na sociedade, nas famílias e na forma de as pessoas perceberem a vida são constantes. Ideais autoritários ficam cada vez mais enfraquecidos, e ações colaborativas ganham mais força. A escola como ambiente de convívio e educação é impactada por essas mudanças de comportamento. Nesse cenário, o gestor escolar passa a ter papel ainda mais importante, uma vez que a maneira como a escola é administrada pode refletir um melhor ambiente, tanto de trabalho quanto de aprendizagem. Apesar de não existir uma receita pronta de administraçãoque funcione em todas as escolas, alguns princípios ajudam a nortear o trabalho dos gestores [...]. “A tendência é de uma gestão em que o poder é distribuído, em que existe incentivo ao trabalho coletivo e às decisões tomadas em conjunto com os envolvidos", observa Helena Machado de Paula Albuquerque, doutora em Educação e coordenadora do curso de especialização em Gestão Educacional e Escolar da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para a especialista, o momento atual pelo qual o sistema de ensino passa é o de perceber as novas necessidades e migrar, pouco a pouco, para esse tipo de gestão. “Nós ainda estamos engatinhando para perceber a escola como ela está e atender às necessidades reais do processo educativo", considera [...]. (Disponível em http://www.gestaoeducacional.com.br/. Acesso em 13/07/2015.) De acordo com o texto, qual é o modelo de gestão que possibilita a distribuição do poder e incentiva o trabalho coletivo e as decisões tomadas em conjunto com os envolvidos? (A) Gestão participativa (B) Gestão autoritária (C) Gestão por competência (D) Gestão mecanicista Respostas 01. C "A gestão, numa concepção democrática, efetiva-se por meio da participação dos sujeitos sociais envolvidos com a comunidade escolar, na elaboração e construção de seus projetos, como também nos processos de decisão, de escolhas coletivas e nas vivências e aprendizagens de cidadania. 02. A Segundo Libâneo (2004) “autonomia é a faculdade das pessoas de autogovernar-se, de decidir sobre seu próprio destino”. Autonomia de uma instituição significa ter o poder de decisão sobre seus objetivos e suas formas de organização, manter-se relativamente independente do poder central, administrar livremente recursos financeiros. 03. A A gestão participativa significa alcançar de forma colaborativa e democrática os objetivos da escola. A participação é o principal meio de tomar decisões, de mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos, os conteúdos, as formas de organização do trabalho e o clima de trabalho desejado para si próprias e para os outros. A participação se viabiliza por interação comunicativa, diálogo, discussão pública, busca 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 10 de consensos e de superações de conflitos. Nesse sentido, a melhor forma de gestão é aquela que criar um sistema de práticas interativas e colaborativas para troca de ideias e experiências para chegar a ideias e ações comuns. Conselho Escolar e Conselho de Classe Antes de adentramos especificamente nos aspectos encontrados nesses dois assuntos, vale fazermos a conceituação de Conselho Escolar, passando as suas especificidades, passando posteriormente ao Conselho de Classe. I - O que é Conselho Escolar?3 Para responder a essa pergunta, iremos nos valer dos apontamentos trazidos pelo Estatuto do Conselho Escolar: O Conselho Escolar é um órgão colegiado de natureza deliberativa, consultiva e fiscal, não tendo caráter político-partidário, religioso, racial e nem fins lucrativos, não sendo remunerados seu Dirigente ou Conselheiros. Tem como objetivo efetivar a gestão escolar, na forma de colegiado, promovendo a articulação entre os segmentos da comunidade escolar e os setores da escola, constituindo-se no órgão máximo de direção. Feitas essas considerações sobre sua formação, conceitualmente tratamos o Conselho Escolar como sendo um processo que regula o funcionamento da escola, englobando a tomada de decisão, planejamento, execução, acompanhamento e avaliação das questões administrativas e pedagógicas, efetivando o envolvimento da comunidade, no âmbito da unidade escolar, baseada na legislação em vigor e nas diretrizes pedagógicas administrativas fixadas pela Secretaria de Educação. As partes que compõem o Conselho Escolar visam o interesse dos alunos, para cumprimento da função escolar, que traz como foco, o ensino na escola. Segundo o artigo Art. 9º do Estatuto do Conselho Escolar: Art. 9º - A autonomia do Conselho Escolar será exercida com base nos seguintes compromissos: a) A legislação em vigor; b) A democratização da gestão escolar; c) As oportunidades de acesso, permanência e qualidade de ensino na escola pública de todos que a ela têm direito. Relação do Conselho Escolar com os Direitos Humanos4 Os Conselhos Escolares, como espaços de reflexão de temáticas que se acham diretamente ligadas ao cotidiano da ação educativa escolar, devem ter, entre seus compromissos, a abordagem de questões relativas aos Direitos Humanos. Isso se justifica pelo fato de que, hoje, essas questões ocupam lugar importante tanto nas agendas políticas nacionais e internacionais, como em organismos de alcance mundial. Por causa da relevância dos Direitos Humanos para a educação, torna-se necessário que os Conselhos Escolares conheçam a trajetória de sua construção no fazer histórico do homem, entendendo como os mesmos foram se configurando até o presente momento e sendo capazes de reconhecer que a garantia de sua aplicação se impõe como uma condição básica para que as nações estejam situadas no campo das novas democracias. 3 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/pr_lond_sttt.pdf 4 Programa Nacional de Fortalecimento dos Escolares Conselhos Conselho Escolar e Direitos Humanos. Ministério da Educação. Brasília – DF. Novembro de 2008 Conselho Escolar. Conselho de Classe. 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 11 O processo de democratização a que hoje assistimos na maioria dos países que, na sua história recente, foram marcados por regimes autoritários, abre espaços não apenas para a afirmação de direitos, como também assume publicamente a pretensão de reparar as violações de Direitos Humanos cometidas nos anos de autoritarismo que aconteceram no Brasil e no conjunto dos países da América Latina, assim como as violações cometidas ao longo da história do país, legitimadas pela cultura escravocrata, machista e patriarcal, que atingem principalmente as pessoas negras, indígenas e as mulheres. Esse avanço se observa no Brasil, especialmente a partir da última década, à medida que governos de tradição democrática se tornaram signatários dos pactos internacionais de Direitos Humanos. Pretende-se que os Direitos Humanos deixem de ser uma questão de governo e passem a ser uma questão de Estado. Assim, educação e Direitos Humanos possuem uma íntima e estreita relação, cabendo aos Conselhos Escolares serem agentes motivadores de sua reflexão, difusão e implementação nas práticas educativas escolares. O papel do Conselho Escolar é imprescindível, tanto no aspecto administrativo, quanto na dimensão pedagógica. Neste caderno, estamos o tempo todo reforçando a importância e urgente necessidade de fortalecer, cada vez mais, o Conselho Escolar, introduzindo uma questão que, historicamente, tem sido vital para a humanidade: a Educação em Direitos Humanos. Difundir essa cultura por meio das escolas constitui passo importante, pois torna conscientes alunos (as), trabalhadores (as) em Educação e representantes de comunidade na luta pela garantia de direitos e pela conquista de novos direitos. Lefort5 nos ensina que a garantia de direitos implica na luta pela conquista de novos direitos. Desse modo, pensar em Direitos Humanos implica instalar e difundir uma cultura em Direitos Humanos na escola. Nessa tarefa, o Conselho Escolar pode e deve contribuir como protagonista, ao exercer ação mediadora nos processos de articulação entre a escola e outras organizações da sociedade na defesa e proteção dos Direitos Humanos. Nesse sentido, o Conselho Escolar, ao assumir papel decisivo na vivência da proposta curricular e na construção e implementação do projeto político-pedagógico da escola, deve fazer com que a Educação em Direitos Humanos seja contemplada. A criação de espaços para apromoção de estudos, reflexões e discussões no cotidiano da escola deve constituir uma ação inovadora do Conselho Escolar, ação essa que necessita do envolvimento de todos os segmentos da comunidade escolar, criando condições para a formação da consciência crítica acerca da importância da instalação de uma cultura de Direitos Humanos. Na condição de um organismo de base, o Conselho Escolar é espaço da prática da democracia participativa. E essa, quando bem exercitada, concorre, efetivamente, para a ampliação e para o fortalecimento dos diferentes segmentos que compõem a escola e a comunidade. A atuação articuladora entre a escola, a comunidade e outras instituições sociais confere ao Conselho Escolar poder social, possibilitando-lhe agir como interlocutor de diferentes instâncias da educação e da própria sociedade. Enquanto força social, o Conselho Escolar pode influenciar nas políticas educacionais e nos projetos da escola, propondo ações inovadoras que contribuam para melhoria da qualidade do ensino, para a democratização da gestão e para a garantia dos Direitos Humanos. Nessa perspectiva, além das funções que lhe vêm sendo atribuídas - deliberativa, consultiva, fiscalizadora e mobilizadora – o Conselho Escolar deve assumir uma nova função: propositiva, mediante a qual poderá exercitar a sua capacidade de criar, de inovar e de ter uma atuação mais decisiva na prática educativa escolar. Ao exercer papel propositivo, o Conselho Escolar estará, de fato, assumindo a condição de um sujeito político coletivo, ou seja, um ator social capaz de interagir e intervir, como uma força coletiva, na construção de projetos sociais. Nesses termos, o Conselho Escolar, como espaço privilegiado da prática da participação e da vivência de experiências democráticas, é local, por excelência, de promoção e exercício de cidadania e, por conseguinte, de Educação em Direitos Humanos. 5 LEFORT, Claude A invenção democrática: os limites do totalitarismo. São Paulo: Brasiliense, 1987. 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 12 Conselhos escolares e a valorização da diversidade: uma dimensão mais democrática na escola Maria Cecília Luiz Sandra Aparecida Riscal José Roberto Ribeiro Junior Democracia e respeito ao diferente Os conselhos escolares são parte de um esforço que visa à implantação e implementação de processos de democratização das decisões nas escolas públicas, através da participação da comunidade escolar e local na vida da escola. Na perspectiva da legislação atual, eles têm como foco a constituição de uma sociedade democrática por meio da participação da comunidade nas instituições públicas. A gestão democrática, princípio sobre o qual se assenta o processo de democratização da educação no país e, particularmente, na escola, tem nos conselhos escolares sua pedra angular, porque é pela participação da comunidade escolar nos processos decisórios da escola que se implementa a democratização das relações escolares. Se, por definição, a gestão democrática é o resultado de um trabalho coletivo que tem os conselhos escolares como sua principal instância, a possibilidade de participação coletiva deve se apresentar, necessariamente, como um dos aspectos fundantes da vida escolar. Seu princípio deve nortear o dia a dia da escola, em suas relações cotidianas e na valorização das especificidades e singularidades do contexto histórico e social dessa instituição, de sua comunidade e de suas expectativas de futuro. Por esse motivo, não se pode pensar que seja possível estabelecer um modelo de conselho escolar para todas as escolas. Cada escola é única, sua comunidade é única, e o debate que subsidiará as decisões relativas aos diferentes aspectos de cada escola é único, não podendo ser reproduzido em outro ambiente. A escola constitui um espaço privilegiado para a implementação de práticas que combatam todos os tipos de discriminação e preconceito, porque abriga, em seu interior, todas as formas de diversidade étnico-racial ou cultural, origem social, gênero, sendo o conselho escolar uma instância que representa os segmentos da escola, mas não toda a diversidade da escola. Ele deve ser a instância que garante a participação e a manifestação dessa diversidade na escola. É necessário, por isso, que se estabeleça uma clara definição do campo de ação dos conselhos escolares, colocando-os, de fato, como uma instância de caráter deliberativo, normativo, fiscal, mobilizador e inclusive pedagógico na vida escolar, que determina os caminhos das ações políticas, sociais, culturais e pedagógicas da escola. A nova forma de organização dos conselhos escolares, decorrente da concepção de gestão democrática, é, ainda, incipiente e encontra obstáculos em práticas tradicionais que consideram os conselhos como órgão assessor de atividades recreativas e financeiras da escola. Essa concepção assistencialista em nada contribui para a constituição da vida escolar como um espaço de respeito às diferenças, porque atua, precisamente, no sentido contrário: ao estabelecer que a participação de todos seja limitada à esfera do trabalho, não consolida um espaço de decisões e permite que poucos continuem tendo o privilégio de determinar o destino dos demais. A concepção de gestão democrática da educação está, indissociavelmente, vinculada ao estabelecimento de mecanismos legais e institucionais de participação política e à organização de ações voltadas para a participação social. A participação política da população tem papel fundamental na formulação das políticas educacionais, em seu planejamento, no processo de tomada de decisões ou ainda na definição de onde, quando e como utilizar os recursos públicos com o objetivo de implementar as deliberações coletivas. A participação da comunidade na gestão da escola constitui um mecanismo que tem como finalidade não apenas a garantia da democratização do acesso e da permanência com vistas à universalização da educação mas também a propagação de estratégias democratizantes e participativas que valorizem e reconheçam a importância da diversidade política, social e cultural na vida local, regional ou nacional. Constitui, portanto, elemento fundamental da propagação das concepções de diversidade e direitos humanos. A escola é parte da sociedade, e nela podem-se iniciar práticas democráticas e igualitárias. O grande problema é que tal concepção tem se firmado como um discurso e tem revelado que o conceito de democracia equivale a um produto exposto nas prateleiras da mídia. Como mercadoria, a democracia está pronta para ser consumida, seja em projetos governamentais, seminários ou propostas de trabalho. Ela é apresentada como algo que pode ser adquirido, assimilado e posto em uso imediatamente. Nos meios de comunicação televisivos, jornais e revistas especializados, a democracia é 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 13 vendida como um remédio miraculoso, capaz de solucionar todas as dificuldades da vida escolar. Longe de ser apresentada como um processo que deveria se constituir pelas mudanças das práticas cotidianas da escola, a democracia tornou-se uma fórmula ou um receituário que, ao ser seguido, deve garantir o sucesso social da escola. É como se bastasse vestir as escolas com uma roupagem democrática para que toda a estrutura e os educadores escolares se tornassem, desse ponto para frente, democráticos. É frequente escutar afirmações como: Implantaremos a democracia a todo custo, A partir de agora, seremos todos democráticos, ou Agora, que sabemos como funciona, fica mais fácil. A democracia deixa de ser um processo que, de maneira gradual, conquista espaço por meio de mudanças das práticas cotidianas para se tornar, ironicamente, objeto de imposição. A democracia e, em particular, a gestão democrática na educação tornaram-se um cobiçado produto de moda, algoque todas as escolas e secretarias municipais e estaduais de educação almejam adquirir para que possam, publicamente, se apresentar como democráticas. Se continuarmos nesses passos, logo teremos selos que certificarão as escolas democráticas, permitindo que se estabeleça um ranking das escolas mais democráticas. O sucesso da democracia como produto social acabou por contaminar todas as esferas sociais e, hoje, dificilmente se aceita que um diretor de escola ou autoridade educacional afirmem que não adotam a democracia como prática em sua escola. Como a estrutura do pensamento é, também, a estrutura da ação, todos os aspectos simbólicos de que se revestem os discursos sobre a democracia revelam as práticas intersubjetivas do campo escolar. As manifestações discursivas permitem compreender a estratégia de integração e a busca de incorporação de uma estrutura simbólica aceita coletivamente. Por isso, para a compreensão do caráter do discurso veiculado acerca da democracia, é necessário que se entenda o tipo de estratégia social que constitui. O consenso representado pela democracia como forma de ação política vem exigindo que os diferentes agentes sociais demonstrem publicamente sua adesão. A adoção da democracia parece significar, de maneira pública, um modo de acumulação de prestígio que confere status àqueles que se mobilizam muito mais para cumprir um ritual do que para exercitar a interação democrática. Assumindo caráter cerimonial, o efeito mobilizador e unificador do discurso democrático, quando voltado para as massas, tende, frequentemente, a tornar-se catarse coletiva, passando a ter a forma de populismo. Quando proferido para autoridades, significa a demonstração de adesão ao modelo político adotado e constitui uma espécie de propaganda pessoal de quem o faz. O discurso democrático pode remeter, assim, à necessidade de reconhecimento dos agentes escolares, quer por parte do coletivo da escola, quer por parte das autoridades superiores. Corresponde, portanto, a uma espécie de marketing pessoal constituído do consenso representado pela opinião geral. Isso significa que é preciso distinguir o discurso democrático, que visa a atender à opinião pública, da ideia de democracia, como processo que instaura a livre e autônoma participação coletiva. A maneira como a opinião pública se constitui pode ser concebida atualmente como o resultado da circulação dessas opiniões pelos meios de comunicação amplificados pelas novas tecnologias. A sociedade em que vivemos é homogeneizante e burocratizada, em um mundo cujas fronteiras e espaços se contraem com a aceleração da capacidade de comunicação e informação. À medida que aumenta o contato entre uma quantidade cada vez maior de pessoas, mais sensíveis elas se tornam à opinião umas das outras. Riesman6 chama esse tipo social, próprio da sociedade contemporânea, de alterdirigido (other-directed). Segundo Riesman, o que caracteriza o tipo social alterdirigido é que seus contemporâneos são fonte da orientação para o indivíduo – tanto aqueles que lhe são conhecidos quanto aqueles que eles conhecem indiretamente, através de amigos e dos meios de comunicação de massa. Essa fonte, naturalmente, é ‘internalizada’, no sentido de que se implanta bem cedo no indivíduo a dependência em face dela, para a orientação da vida. As metas rumo às quais a pessoa alterdirigida se conduz mudam com essa orientação: apenas o processo mesmo de empenhar-se e o de prestar muita atenção aos sinais dos outros é que permanecem inalterados através da vida. O tipo de caráter descrito por Riesman como alterdirigido parece permitir que se estabeleçam algumas características dos sujeitos que nascem do mundo interativo, dos meios de comunicação de massa, da internet e da informação globalizada. Esse processo contínuo e infinito é tão rápido quanto superficial, pois a finalidade é a informação, a familiarização, não o aprofundamento nem a análise ou a crítica. A voracidade com a qual se procuram e se consomem as informações tem a rapidez da leitura dos textos virtuais, que logo são substituídos por uma nova página acessada e esquecidos no espaço virtual informe. 6 RIESMAN, D. A multidão solitária: um estudo da mudança do caráter americano. São Paulo: Perspectiva, 1971. 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 14 Não cabem nesse processo os procedimentos tradicionais de análise e síntese, mas o estabelecimento pragmático de relações entre a informação acessada e sua utilidade, no conjunto de possibilidades. A diversidade e a cultura escolar O direito às diferenças se constitui da desnaturalização das desigualdades, que devem deixar de ser percebidas como uma perversão às leis da natureza e passar a ser enxergadas como uma constituição legítima da vida social. Essa compreensão exige uma concepção transdisciplinar, algo que não rotule, que passe por cima dos estereótipos e estigmatizações, que separe cada segmento em um campo disciplinar próprio e que recolha, nas diferentes ciências, o saber necessário para compreender a correlação entre as formas de discriminação e estabelecer jeitos para sua superação, construindo maneiras igualmente transdisciplinares de promover a igualdade. O conhecimento das diferentes possibilidades de manifestação cultural e de comportamentos sexuais é a maneira mais eficiente de demonstração da falência do discurso conservador naturalizado. A disseminação do conhecimento acerca dessas manifestações é um contraponto aos meios de comunicação de massa, que têm se constituído em um dos principais instrumentos de propagação do preconceito É possível compreender o importante papel da educação e da escola tanto na constituição dos preconceitos e na reprodução de práticas sociais preconceituosas quanto na luta pela superação desses preconceitos. O predomínio de livros didáticos e paradidáticos nos quais a figura da mulher é ausente ou caracterizada como menos qualificada que o homem contribui para uma imagem de inferioridade feminina, por um lado, e de superioridade masculina, por outro. A escolha das cores, o rosa e o azul, os papéis representados nas brincadeiras, a ausência das crianças negras nas salas de nível mais avançado vão, entre outras questões, demarcando e referendando as posições machistas e racistas que persistem em nossa sociedade. Ao identificarmos o cenário de discriminações e preconceitos, vemos no espaço da escola as possibilidades de particular contribuição para a alteração desse processo. A escola abriga em seu interior todas as diferentes formas de diversidade, quer sejam de origem social, sexual, étnico-racial, cultural ou de gênero. É, portanto, um espaço privilegiado na construção dos caminhos para a eliminação de preconceitos e de práticas discriminatórias. A escola democrática deve educar para a valorização da diversidade e formar indivíduos capazes de exercer a cidadania com dignidade. Ressalta-se que esse papel não cabe somente às escolas mas também às políticas públicas, que precisam prevenir, investigar, estimular o debate e punir crimes de ódio baseados em orientação sexual ou identidade de gênero. Questões de gênero, religião, raça/etnia ou orientação sexual direcionam práticas preconceituosas e discriminatórias da sociedade contemporânea. Se o estereótipo e o preconceito estão no campo das ideias, a discriminação está no da ação, ou seja, trata-se de uma atitude. A superação das discriminações implica a elaboração de políticas públicas específicas e articuladas. Os exemplos relativos às mulheres, aos homossexuais masculinos e femininos, às populações negra e indígena tiveram a intenção não apenas de explicitar que as práticas preconceituosas e discriminatórias – misoginia, homofobia e racismo – existem no interior da nossa sociedade mas também de mostrar que essas mesmas práticas vêm sofrendo profundas transformações em função da atuação dos próprios movimentossociais, feministas, LGBT, negros e indígenas. Tais movimentos têm evidenciado o quanto as discriminações se dão de formas combinadas e sobrepostas, refletindo um modelo social e econômico que nega direitos e considera inferiores mulheres, gays, lésbicas, transexuais, travestis, negros, indígenas. A desnaturalização das desigualdades exige um olhar transdisciplinar, que convoca as diferentes ciências, disciplinas e saberes para compreender a correlação entre essas formas de discriminação e construir maneiras igualmente transdisciplinares de enfrentá-las e de promover a igualdade. Durante muito tempo, a escola foi encarada como local onde deveria prevalecer a homogeneidade cultural. Questões como direitos individuais, diferenças étnicas, culturais, sociais ou de gênero não eram objeto de atenção. Na sala de aula, prevalecia a autoridade inquestionável do professor; na escola, a autoridade do diretor. Tendendo a ignorar as diferenças, a cultura escolar se estabeleceu por meio de um jogo de pressupostos preconceituosos jamais explicitamente enunciados, mas carregados de violência simbólica, cujo resultado era incutir em toda a comunidade escolar práticas sociais impregnadas de preconceitos. Embora se constituíssem como espaço público, muitos dos problemas eram considerados tabus, porque, acreditava-se, pertenceriam à vida privada, como o racismo, a sexualidade ou o assédio, portanto eram do âmbito da família. A escola, por sua vez, positivista desde sua origem, deveria ser uma instituição ascética que, imaginava-se, privilegiaria a propagação de conhecimentos objetivos e neutros. 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 15 Ignorando as diferenças, a escola tornou-se um dos sustentáculos da propagação dos preconceitos. Nos conteúdos escolares, encontravam-se subjacentes padrões identitários de etnia, cultura ou gênero, que excluíam (e ainda excluem) aqueles que não se encontravam na concepção cultural ocidental tradicional. O espaço escolar sempre foi elemento essencial dos processos sociais de estigmatização e discriminação, que devem e podem ser combatidos em benefício de um ambiente mais respeitoso com relação à diversidade e aos direitos humanos. A concepção adotada aqui baseia-se no princípio de que a possibilidade de criação de um espaço escolar plural passa pelo direito de todos, em suas diferenças, serem reconhecidos como iguais. A diversidade é um dos aspectos fundamentais da atual concepção de direitos humanos. Característica daquilo que é diverso e, portanto, diferente, a diversidade é um dos aspectos fundamentais da existência humana, e ser diferente constitui um direito de todos os seres humanos. Na esfera escolar, é um tema ainda incipiente e permeado de tensões, rejeições e recusas. A escola é um espaço de saber-poder que veicula significados e práticas; o reconhecimento do direito a ser diferente exige a compreensão de que não existe o diferente em si; a diferença é o resultado da comparação com o que não é considerado diferente e constitui a norma ou o padrão. Assim, afirmar diferença significa eliminar o padrão homogeneizante, que impõe a negação da diferença. A noção de diversidade remete, no espaço escolar, quase sempre às questões de gênero e etnia ou aos direitos de minorias, como indígenas ou pessoas com deficiência. Entretanto, o reconhecimento do diferente deve ultrapassar essas distinções, abarcando outras possibilidades de ser e viver, na diversidade de expressões culturais, linguísticas, artísticas ou nas diferenças físicas, que vão desde peso ou altura até modos de vestir e falar. Trata-se de questões que não têm encontrado acolhimento na escola e apenas agora têm experimentado alguma repercussão, com discussões sobre bullying ou assédio. São expressões não sistematizadas e não institucionalizadas e, por isso, se encontram marginalizadas nas representações da sociedade; constituem novas demandas, que devem encontrar na escola uma possibilidade de expressão. Diversidade: conselho escolar e inclusão do aluno com deficiência Anderson de Lima Walkiria Gonçalves Reganhan Conselho escolar e diversidade: por uma escola mais democrática As discussões envolvendo os direitos das pessoas com deficiência no Brasil ganharam impulso significativo na década de 1980. Desse processo de mobilização, resultou um conjunto de direitos estabelecidos pela Constituição de 1988, alguns deles expressos na Lei 7.853/89 – posteriormente regulamentada pelo Decreto 3.298/99. No artigo 4o, inciso III, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, fica garantido “III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) A aquisição de instrumentos variados para o ensino também foi apontada pela Lei Federal no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, no artigo 59, inciso I, que assegura aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação “currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos para atendê-los” Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional os currículos deverão ajustar-se, em todos os locais de ensino, às condições do educando com necessidades educacionais especiais. Cabem aos estabelecimentos de ensino a organização e a operacionalização dos currículos escolares em seu projeto pedagógico, incluindo as devidas disposições para o atendimento das necessidades especiais dos alunos. Mais uma vez, o conselho escolar, como lugar do debate e da decisão, ganha relevância na perspectiva da adequação curricular e da escola como um todo, ajustando-a ao aspecto legal e às demandas que surgem da comunidade na qual se insere. Não há por que haver dois sistemas paralelos de ensino, mas um único que seja capaz de prover educação a todo o seu alunado. 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 16 Conselho escolar no contexto inclusivo A busca por uma escola de todos e para todos traz consigo a ideia de inclusão e valorização do humano. A inclusão, como forma de construção de cidadania, passa pelo acesso à escola e pela permanência nela enquanto principal instituição responsável pela educação, requisito para o exercício do papel cidadão. Trata-se de um direito garantido constitucionalmente, que abarca o ser humano de modo indistinto e amplo. A escola verdadeiramente voltada à formação do indivíduo-cidadão se vê, hoje, inserida em um contexto social mais amplo, de reivindicação de direitos e de consolidação de uma sociedade que se faz cada vez mais responsável pelos rumos sociopolítico-econômico-ambientais que a determinam. A cidadania torna-se, portanto, condição da própria existência humana, e a participação, enquanto prática, assume papel de alta relevância na perspectiva de efetivação do exercício da cidadania. Implica, assim, a tomada de decisão, a deliberação, a construção coletiva. A escola – espaço primeiro de convivência e de vivência de regras, de organização social coletiva – oferece, por sua própria dinâmica, a possibilidade de experimentação e efetivação da cidadania via participação democrática de todos aqueles que a compõem. O conselho escolar, nesse contexto, assume relevância significativa para a viabilização dessa prática de cidadania ao agregar a representatividade dos segmentos que constituem o universo escolar e dar a eles a voz e a vez no processo de construção de uma educação mais democrática, porque cidadã, porque, essencialmente, participativa. O deficiente, ao ser incluído, ao se tornar partícipe do dia a dia da escola, toma seu lugar e se faz ouvido nesse processo, que, além de político, é social, é transformador da realidade que encontramos hoje na escola pública. É noconselho escolar que a democracia e a cidadania se complementam e se consolidam pela participação igualitária de todos (profissionais, comunidade, alunos), no esforço da construção de uma escola de qualidade. É considerando a força do poder local no processo de construção das políticas públicas e, portanto, de afirmação do Estado Democrático e de Direito que o conselho escolar representa instância privilegiada de discussão de questões que dizem respeito à vida das pessoas, da escola, da comunidade e, num plano mais amplo, da própria sociedade. O conselho escolar abriga, no contexto da inclusão e da garantia de direitos do cidadão, o papel fundamental de alicerçar ações que assegurem, no interior da escola, uma educação de qualidade, socialmente referenciada, capaz de democratizar o conhecimento e possibilitar que todas as necessidades decorrentes da inclusão do deficiente possam ser, de fato, atendidas e trabalhadas a fim de lhe assegurar as melhores possibilidades de aprendizado e desenvolvimento. Ao exercer suas funções (consulta, mobilização, deliberação, fiscalização), o conselho escolar viabiliza e potencializa a capacidade de reivindicação de uma escola para todos e, nesse processo, canaliza a ação de todos os envolvidos para a construção de ações que possam gerar as condições necessárias ao acesso e à permanência – com aprendizado, desenvolvimento, integração, sem restrições ou nenhum tipo de segregação – do aluno deficiente. Como espaço de convivência e aprendizado, a escola compreende um pluralismo e um multiculturalismo que lhe são próprios e fazem desse lugar o lugar do aprendizado do respeito ao outro, ao diferente, do respeito à divergência e à compreensão da multiplicidade que envolvem o ser humano em suas relações pessoais e no mundo em que vive. A prática da cidadania e a busca por uma escola e uma sociedade mais democráticas passam por esse aprendizado, pela ética e pela ação solidária que nos caracterizam enquanto humanidade e que revestem o papel da escola de uma importância ainda maior. Nela, serão construídas e estimuladas as possibilidades de um convívio harmônico entre as diferenças, as limitações e os anseios daqueles que dela fazem parte. No conselho escolar, dada sua constituição, estão postos, em princípio, todos os pontos de vista, representados por seus membros e expostos de modo a gerar, no debate, a busca por consensos que possam significar a procura pela qualidade do trabalho da e na escola. Nele, serão articulados meios capazes de valorizar a pluralidade da escola em favor da constituição de uma educação que represente os anseios e necessidades que se colocam socialmente e que adentram seu universo no dia a dia da sala de aula. Inclusão e conselho escolar ganham um valor único no contexto da democratização da escola, complementam-se e revestem-se de sentido enquanto caminhos na busca pela escola de qualidade para todos, que há tanto almejamos. 1363597 E-book gerado especialmente para MARCOS MARCIEL ALVES . 17 Conselho Municipal de Educação, conselho escolar e formação continuada: democratização, participação e qualidade de ensino Flávio Caetano da Silva Maria Cecília Luiz Ana Lucia Calbaiser da Silva Levando em conta a atual conjuntura mundial e o delineamento das políticas públicas no que se refere à educação brasileira, este texto tem como objetivo refletir sobre alguns aspectos presentes na formação continuada a distância em conselhos escolares e de conselheiros municipais de educação, principalmente quanto às formas de participação no processo de democratização da educação com qualidade de ensino. Para tanto, nos utilizamos do conceito de gestão democrática e participação para uma melhor compreensão da formação continuada. Nossa análise tem como base acontecimentos e situações de aprendizagem que ocorreram em ambos os cursos. O curso de conselheiros municipais de educação foi ofertado para membros do Conselho Municipal de Educação (CME) de municípios do Estado de São Paulo; e o de conselhos escolares, aos técnicos das secretarias municipais e estadual de educação dos seguintes estados: São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco e Piauí. Essa análise permitiu o entendimento da importância da formação continuada e a observação dos problemas existentes nessas duas formações. Gestão democrática: domínios legais e sociais Se pensarmos na sociedade atual, em que o individualismo e a concorrência são características predominantes, fica difícil concebermos um espaço no qual a democracia, a participação e o diálogo se ressaltem. Sem aprendizado, o exercício da participação e das tomadas de decisão não muda a realidade – trata-se de um processo que deve ser construído coletivamente, por meio do diálogo igualitário. A gestão democrática e sua efetiva implantação em estabelecimentos públicos de ensino sucederam- se sob a égide de duas perspectivas: a primeira esteve pautada pelos movimentos sociais e pelas políticas públicas da década de 1980, resultando na Constituição de 1988; a segunda, por sua vez, moldada pelo neoliberalismo e denominada de gestão por resultados, é conhecida como gerencialista ou managerialista. A respeito da primeira, verifica-se que, no começo da década de 1980, tem início um processo de retomada da democracia e da reconquista dos espaços políticos que a sociedade civil brasileira havia perdido. Os movimentos sociais centravam-se na consolidação e na conquista de novos espaços de participação na esfera do Estado. Estes se fortaleceram com a Constituição de 1988, que estabeleceu a democracia participativa por meio de conselhos de cogestão nos diferentes âmbitos de atuação do Estado (conselhos de educação, de saúde, de assistência social, entre outros). Os princípios defendidos – de igualdade de condições – para o acesso dos estudantes à escola e sua permanência nela propiciaram um novo entendimento para a educação, possuindo, agora, um fator de realização da cidadania, com padrões de qualidade de oferta e produto na luta pela superação das desigualdades sociais e da exclusão. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não só confirmava como também materializava a garantia do direito público subjetivo à educação, determinando a eliminação de toda e qualquer forma de discriminação para a matrícula ou permanência na escola. Isso garantiria ao estudante brasileiro o direito de aprender e prosseguir seus estudos com um ensino de qualidade. Para tais alterações, teve-se como meta a descentralização da administração escolar, por meio da gestão democrática, assegurando, pelos colegiados, a participação de professores, funcionários, alunos e pais nas decisões da escola. Destaca-se a importância do entendimento da sociedade civil, neste momento histórico, de compartilhar as decisões na escola, garantindo a participação de todos. Em consonância com a Constituição Federal, outras leis e decretos foram se regularizando para a implantação da gestão democrática. Um exemplo disso é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96), que, no artigo 14, declara a relevância da “participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e da participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes” (Brasil, 1996). Na contramão dessas mobilizações, no início dos anos 1990, não só por causa da crise econômica mas também pelo esgotamento do modelo de Estado brasileiro, o pensamento neoliberal, alicerçado na defesa da sociedade de livre mercado, tornou-se referência para a redefinição do papel do Estado. Assim, alguns termos aparecem associados à ideia de participação, tais como empowerment e accountability.7 7 Accountability é uma palavra recente no vocabulário político brasileiro. De origem inglesa, é associada à transparência, à prestação de contas e à responsabilização. 1363597 E-book
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