Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONSTRANGIMENTO ILEGAL (art. 146 do CP) Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena — detenção, de três meses a um ano, ou multa. Objetividade jurídica • A liberdade das pessoas de fazer ou não fazer o que bem lhes aprouver, dentro dos limites legais. Tipo objetivo e meios de execução • No crime em tela, o agente constrange, coage, obriga a vítima a fazer ou não fazer algo. O crime, portanto, se aperfeiçoa em duas hipóteses: 1) Quando a vítima é obrigada a fazer algo 2) Quando a vítima é obrigada a não fazer algo *Abrange, também, a hipótese em que ela é obrigada a tolerar que o agente faça algo. “Se o agente, através da promessa de mal, exerce sobre a vítima ação inibitória, obstando-lhe a realização de trabalho para o qual fora contratado, comete o crime de constrangimento ilegal e, não o de ameaça, uma vez que tal conduta deu-se para fim determinado, qual seja, não fazer a tarefa” (Tacrim-SP— Rel. Gonzaga Franceschini — RJD 11/56); • Para a tipificação do crime de constrangimento ilegal, é, ainda, necessário que o agente force a vítima a realizar ou deixar de realizar a conduta pelo emprego de violência, grave ameaça ou qualquer outro meio que lhe reduza a capacidade de resistência. Delito exclusivamente comissivo. • Violência é o emprego de força física ou de atos agressivos sobre a vítima (socos, pontapés etc.). • Grave ameaça é a promessa de mal grave a ser causado no próprio agente ou em terceiro que lhe é querido. (não é necessário que o mal prometido à vítima seja injusto). • Forma genérica, consistente no emprego de qualquer outro meio que reduza a capacidade de resistência da vítima Sujeito ativo • Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa. Sujeito passivo • Pode ser qualquer pessoa que tenha capacidade de determinação. • Caso a pessoa, ainda que de pouca idade ou doente mental, possa entender o caráter intimidatório da ameaça, o crime se configura. Caráter subsidiário e distinção • Levando-se em conta o montante da pena prevista para o crime de constrangimento ilegal, bem como o fato de o seu tipo penal ser genérico, a conclusão inevitável a que se deve chegar é de que referido delito é eminentemente subsidiário. • a) Na extorsão (art. 158 do CP) - obter indevida vantagem econômica como consequência da ação ou omissão da vítima. • b) No estupro (art. 213), o agente emprega violência ou grave ameaça para forçar a vítima a atos de natureza sexual. • c) Se o agente emprega a violência ou grave ameaça para forçar a vítima a confessar um crime, configura-se uma das modalidades do crime de tortura, previsto no art. 1º, inc. I, a, da Lei n. 9.455/97. • d) Caso o agente mantenha a vítima privada de sua liberdade por tempo relevante, estará configurado o crime de sequestro ou cárcere privado (art. 148). • e) Se a intenção do agente é forçar o consumidor a pagar alguma dívida, configura-se crime especial do art. 71 da Lei n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). • f) A conduta de coagir idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração, constitui crime especial do art. 107 da Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). • g) Quem usa de violência ou grave ameaça para forçar alguém a votar, ou não votar, em determinado candidato ou partido, ainda que tal fim não seja atingido, incorre no crime do art. 301 da Lei n. 4.737/65 (Código Eleitoral). Elemento subjetivo • O dolo, que, nesse crime, significa a vontade de empregar a violência ou grave ameaça e a consciência de que a ação ou omissão pretendidas são ilegítimas. • A ilegitimidade da pretensão pode ser: a) Absoluta: quando o agente não tem qualquer direito à ação ou omissão da vítima. Ex.: obrigar alguém a ingerir uma bebida alcoólica. b) Relativa: quando existe o direito, mas a vítima não pode ser forçada por não haver lei que a obrigue. Ex.: obrigar alguém a pagar dívida de jogo (a vantagem pode ser considerada devida, mas a lei civil não fornece instrumentos para a cobrança desse tipo de dívida). Consumação • Trata-se de crime material, em que a consumação só ocorre quando a vítima, coagida, faz o que o agente mandou que ela fizesse, ou deixa de fazer o que ele ordenou que não fizesse. Tentativa • É possível quando o agente emprega a violência, grave ameaça ou a violência imprópria e não obtém, por circunstâncias alheias à sua vontade, a ação ou omissão da vítima. Causas de aumento de pena Art. 146, § 1º — As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. • A lei, portanto, pressupõe a existência de, ao menos, quatro coautores, pois apenas estes realizam ato executório, não sendo considerado os partícipes. • A menção à palavra “armas”, no plural, refere-se ao gênero e não ao número de armas. • O aumento deverá ser aplicado, quer se trate de armas próprias, quer de armas impróprias. Art. 146, § 2º — Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. • Caso a violência empregada para a prática do constrangimento ilegal provoque lesões corporais, ainda que leves na vítima, o agente responderá pelos dois crimes. • É pacífico, ainda, que as penas dos dois crimes deverão ser somadas, já o texto legal estabelece que as penas referentes ao crime de lesões corporais deve ser aplicada “além das cominadas” para o constrangimento ilegal. Excludentes de tipicidade Art. 146, § 3º — Não se compreendem na disposição deste artigo: I — a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida. • O dispositivo em análise foi inserido no Código Penal para abarcar situações em que existe expressa discordância do paciente ou de seu representante legal em relação ao procedimento médico ou cirúrgico, embora esteja presente risco iminente de morte. Art. 146, § 3º — Não se compreendem na disposição deste artigo: II — a coação exercida para impedir suicídio. • Considerando que o suicídio ou sua tentativa não constituem crime, poder-se-ia argumentar que as pessoas têm o direito de se matar, e, caso alguém as impeça com violência ou grave ameaça, estaria incursa no constrangimento ilegal. • Por isso, entendeu por bem o legislador deixar expressa a não configuração do delito em tais casos. Ação penal • Pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal, esmo nas figuras qualificadas, em que a pena máxima não supera dois anos. Classificação Doutrinária OBJETIVIDADE JURÍDICA SUJEITO ATIVO MEIOS DE EXECUÇÃO MOMENTO CONSUMATIVO ELEMENTO SUBJETIVO - Simples - Comum - De ação livre e exclusivamente comissivo - Material e instantâneo - Doloso
Compartilhar