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12 - CONSTRANGIMENTO ILEGAL

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CONSTRANGIMENTO 
ILEGAL 
(art. 146 do CP) 
Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou grave 
ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro 
meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei 
permite, ou a fazer o que ela não manda: 
Pena — detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
 
 
Objetividade jurídica 
 
• A liberdade das pessoas de fazer ou não fazer o que bem lhes 
aprouver, dentro dos limites legais. 
Tipo objetivo e meios de 
execução 
• No crime em tela, o agente constrange, coage, obriga a vítima a 
fazer ou não fazer algo. O crime, portanto, se aperfeiçoa em duas 
hipóteses: 
 
1) Quando a vítima é obrigada a fazer algo 
 
2) Quando a vítima é obrigada a não fazer algo 
 
*Abrange, também, a hipótese em que ela é obrigada a tolerar que o 
agente faça algo. 
 
“Se o agente, através da promessa de mal, exerce sobre a vítima ação inibitória, obstando-lhe a 
realização de trabalho para o qual fora contratado, comete o crime de constrangimento ilegal e, não 
o de ameaça, uma vez que tal conduta deu-se para fim determinado, qual seja, não fazer a tarefa” 
(Tacrim-SP— Rel. Gonzaga Franceschini — RJD 11/56); 
• Para a tipificação do crime de constrangimento ilegal, é, ainda, 
necessário que o agente force a vítima a realizar ou deixar de 
realizar a conduta pelo emprego de violência, grave ameaça 
ou qualquer outro meio que lhe reduza a capacidade de 
resistência. Delito exclusivamente comissivo. 
 
• Violência é o emprego de força física ou de atos agressivos 
sobre a vítima (socos, pontapés etc.). 
 
• Grave ameaça é a promessa de mal grave a ser causado no 
próprio agente ou em terceiro que lhe é querido. (não é 
necessário que o mal prometido à vítima seja injusto). 
 
• Forma genérica, consistente no emprego de qualquer outro 
meio que reduza a capacidade de resistência da vítima 
Sujeito ativo 
 
• Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido por 
qualquer pessoa. 
 
Sujeito passivo 
 
• Pode ser qualquer pessoa que tenha capacidade de 
determinação. 
 
• Caso a pessoa, ainda que de pouca idade ou doente mental, 
possa entender o caráter intimidatório da ameaça, o crime se 
configura. 
Caráter subsidiário e distinção 
• Levando-se em conta o montante da pena prevista para o crime de 
constrangimento ilegal, bem como o fato de o seu tipo penal ser 
genérico, a conclusão inevitável a que se deve chegar é de que 
referido delito é eminentemente subsidiário. 
 
• a) Na extorsão (art. 158 do CP) - obter indevida vantagem 
econômica como consequência da ação ou omissão da vítima. 
 
• b) No estupro (art. 213), o agente emprega violência ou grave 
ameaça para forçar a vítima a atos de natureza sexual. 
 
• c) Se o agente emprega a violência ou grave ameaça para forçar a 
vítima a confessar um crime, configura-se uma das modalidades do 
crime de tortura, previsto no art. 1º, inc. I, a, da Lei n. 9.455/97. 
• d) Caso o agente mantenha a vítima privada de sua liberdade 
por tempo relevante, estará configurado o crime de sequestro 
ou cárcere privado (art. 148). 
 
• e) Se a intenção do agente é forçar o consumidor a pagar 
alguma dívida, configura-se crime especial do art. 71 da Lei n. 
8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). 
 
• f) A conduta de coagir idoso a doar, contratar, testar ou 
outorgar procuração, constitui crime especial do art. 107 da 
Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). 
 
• g) Quem usa de violência ou grave ameaça para forçar alguém 
a votar, ou não votar, em determinado candidato ou partido, 
ainda que tal fim não seja atingido, incorre no crime do art. 
301 da Lei n. 4.737/65 (Código Eleitoral). 
Elemento subjetivo 
• O dolo, que, nesse crime, significa a vontade de empregar a 
violência ou grave ameaça e a consciência de que a ação ou omissão 
pretendidas são ilegítimas. 
 
• A ilegitimidade da pretensão pode ser: 
 
a) Absoluta: quando o agente não tem qualquer direito à ação ou 
omissão da vítima. Ex.: obrigar alguém a ingerir uma bebida alcoólica. 
 
b) Relativa: quando existe o direito, mas a vítima não pode ser forçada 
por não haver lei que a obrigue. Ex.: obrigar alguém a pagar dívida de 
jogo (a vantagem pode ser considerada devida, mas a lei civil não 
fornece instrumentos para a cobrança desse tipo de dívida). 
Consumação 
 
• Trata-se de crime material, em que a consumação só ocorre 
quando a vítima, coagida, faz o que o agente mandou que 
ela fizesse, ou deixa de fazer o que ele ordenou que não 
fizesse. 
 
Tentativa 
 
• É possível quando o agente emprega a violência, grave 
ameaça ou a violência imprópria e não obtém, por 
circunstâncias alheias à sua vontade, a ação ou omissão da 
vítima. 
Causas de aumento de pena 
Art. 146, § 1º — As penas aplicam-se cumulativamente e em 
dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de 
três pessoas, ou há emprego de armas. 
 
• A lei, portanto, pressupõe a existência de, ao menos, quatro 
coautores, pois apenas estes realizam ato executório, não 
sendo considerado os partícipes. 
 
• A menção à palavra “armas”, no plural, refere-se ao gênero e 
não ao número de armas. 
 
• O aumento deverá ser aplicado, quer se trate de armas 
próprias, quer de armas impróprias. 
Art. 146, § 2º — Além das penas cominadas, aplicam-se as 
correspondentes à violência. 
 
• Caso a violência empregada para a prática do constrangimento 
ilegal provoque lesões corporais, ainda que leves na vítima, o 
agente responderá pelos dois crimes. 
 
• É pacífico, ainda, que as penas dos dois crimes deverão ser 
somadas, já o texto legal estabelece que as penas referentes 
ao crime de lesões corporais deve ser aplicada “além das 
cominadas” para o constrangimento ilegal. 
Excludentes de tipicidade 
Art. 146, § 3º — Não se compreendem na disposição deste 
artigo: 
I — a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do 
paciente ou de seu representante legal, se justificada por 
iminente perigo de vida. 
 
• O dispositivo em análise foi inserido no Código Penal para 
abarcar situações em que existe expressa discordância do 
paciente ou de seu representante legal em relação ao 
procedimento médico ou cirúrgico, embora esteja presente 
risco iminente de morte. 
Art. 146, § 3º — Não se compreendem na disposição deste 
artigo: 
II — a coação exercida para impedir suicídio. 
 
• Considerando que o suicídio ou sua tentativa não constituem 
crime, poder-se-ia argumentar que as pessoas têm o direito 
de se matar, e, caso alguém as impeça com violência ou grave 
ameaça, estaria incursa no constrangimento ilegal. 
 
• Por isso, entendeu por bem o legislador deixar expressa a não 
configuração do delito em tais casos. 
Ação penal 
 
• Pública incondicionada, de competência do Juizado Especial 
Criminal, esmo nas figuras qualificadas, em que a pena 
máxima não supera dois anos. 
Classificação Doutrinária 
OBJETIVIDADE 
JURÍDICA 
SUJEITO ATIVO MEIOS DE 
EXECUÇÃO 
MOMENTO 
CONSUMATIVO 
ELEMENTO 
SUBJETIVO 
- Simples - Comum - De ação livre e 
exclusivamente 
comissivo 
- Material e 
instantâneo 
- Doloso

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