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Kelly Cristina Kazzadore Ps ico pe da go gia Teorias e Fundamentos da Psicopedagogia Te or ia s e F un da m en to s d a P sic op ed ag og ia K el ly C ri st in a K az za d o re da de 3 Uni Tendências Contemporâneas e Âmbito de Atuação do Profissional em Psicopedagogia Tendências Contemporâneas e Âmbito de Atuação do Profissional em Psicopedagogia 56 Caro Aluno, Seja bem-vindo a nossa segunda aula. Dare- mos orientações sobre as tendências contemporâne- as da Psicopedagogia e seu âmbito de atuação. Bons estudos! Objetivos desta Unidade Ao final desta Unidade você deverá ser ca- paz de dissertar sobre os campos em que a psicope- dagogia atua, bem como, apontar a importância do psicopedagogo como profissional atuante. Conteúdos da Unidade Nesta unidade iremos estudar os seguintes conteúdos: Tendências Contemporâneas da Psicopedagogia; O Psicopedagogo na Prática Institucional; O Psicopedagogo na Prática Clínica. 57 No capítulo anterior, vimos que o processo histórico da Pscicopedagogia perpassa na Europa, mais precisamente na França, passando pela Argentina que, por sua vez, influencia os trabalhos desenvolvidos nesta área aqui no Brasil. Neste capítulo abordaremos sobre a atual ten- dência da Psicopedagogia, ou seja, o que tem se discu- tido sobre o trabalho desenvolvido pelos psicopedago- gos em sua vasta área de aplicabilidade, bem como, seu campo de atuação. Para que possamos recordar, a psicopedagogia é um campo de atuação profissional com conhecimen- tos em saúde e educação que tem como foco o proces- so de ensino/aprendizagem do aluno. Ou ainda, ocupando-se da aprendizagem hu- mana, a psicopedagogia discute a problemática da aprendizagem, situada além dos limites da psicologia e da pedagogia. Em outra definição, temos que o objeto cen- tral de seu estudo tem se estruturado em torno do processo de aprendizagem humana, bem como, seus 3. Tendências Contemporâneas da Psicopedagogia 58 padrões evolutivos normais e patológicos e suas influ- ências nos ambientes familiar, escolar e social de seu desenvolvimento. O psicopedagogo argentino Jorge Visca é o idealizador da Epistemologia Convergente que integra de forma simultânea as contribuições da Psicanálise, da Escola de Genebra e da Psicologia Social de Pichon- -Riviére. Essas contribuições possibilitam “uma reflexão a partir da ideia de se articular saberes, proporcionando um melhor fluxo do conhecimento, abrindo caminhos para a compreensão do fenômeno da aprendizagem” (SANTOS, s/d, p.3). A concepção da Epistemologia Convergente está relacionada aos aspectos afetivos e cognitivos que se estabelecem desde o nascimento, passando para o contato materno e ampliando-se para as relações com a família, a comunidade e a escola. Dessa forma, se- gundo sua teoria, o aprender não estaria somente re- lacionado à escola, mas sim, ao desenvolvimento hu- mano durante toda a existência do sujeito, através das interações com o outro. (SANTOS, op. cit) Dessa forma, cabe ao psicopedagogo saber como se constitui o sujeito e como este se transforma nas diferentes etapas de sua vida, quais os recursos de conhecimento que dispõe e a forma pela qual produz esse conhecimento e aprende. Em sua obra “Tendências Contemporâneas em Psicopedagogia”, Mota (2004) enfatiza que é de 59 responsabilidade do psicopedagogo enquanto profis- sional no âmbito das escolas: Prevenção dos problemas escolares, participação de pro- gramas de saúde e educação abrangendo a área insti- tucional, comunitária e social; adequação dos objetivos do sistema educacional às necessidades da comunidade escolar; manutenção da saúde mental no ambiente es- colar; busca da compreensão dos valores, da motivação para aprendizagem e do processo cognitivo de todos os alunos; aproximação entre teoria e prática no seu tra- balho rotineiro; apoio ao professor e equipe escolar nos aspectos de sua competência, isto é, da psicologia na educação favorecendo o bom andamento da educação escolar, reflexão junto à equipe escolar e comunidade sobre o papel da educação escolar, seu caráter ideológico e sua prática pedagógica (p.25). Também cabe ao psicopedagogo contempo- râneo saber o que é ensinar e o que é aprender, bem como, de que forma interferem os sistemas e métodos educativos e os problemas estruturais que interferem no surgimento de transtornos de aprendizagem e no processo escolar. A psicopedagogia tem se caracterizado como um im- 60 portante campo de atuação, estudos e pesquisas sobre a aprendizagem humana. Nascida na intersecção entre áreas da pedagogia, psicologia e saúde, tem-se configu- rado como campo interdisciplinar, priorizando a in- terlocução com as diferentes áreas do saber, bem como a construção de um corpo teórico que lhe seja próprio, capaz de fundamentar a prática e a pesquisa na área (BOSSA, 1994, p. 58). De acordo com Fernández (1987 apud MOT- TA, 2011), o educando deve ser considerado em seu total que engloba quatro aspectos: o organismo, o cor- po, o seu desejo e sua inteligência. Organismo: deve ser entendido no seu funciona- mento fisiológico, pois doenças e dores físicas per- turbam a aprendizagem; Corpo: como o aluno se percebe e se movimenta no espaço, qual a sua imagem e conceito corporal, qual a reação da criança frente ao espelho, dentre outras; Desejo: motivação, querer, auto-estima, forças e fragilidades, demanda, necessidade. Inteligência: refere-se à capacidade do discente em solucionar desafios que se configuram à sua fren- te, no seu cotidiano. Como o aluno aborda os pro- blemas e consegue ou não, solucioná-los. 61 Diante do exposto, o profissional em psi- copedagogia com vistas a suprir as necessidades no desenvolvimento do processo de ensino-aprendiza- gem, pode atuar de forma preventiva (institucional- mente) e, na recuperação de transtornos (clinicamen- te). Cabe também a esse profissional, atuar como pesquisador dos processos de ensino-aprendizagem e seu desenvolvimento. Na atuação clínica, sua função pode estar re- lacionada com o atendimento no consultório (tera- pêutico) tendo a finalidade de reconhecer e atender às alterações de aprendizagem de natureza patológi- ca (diagnóstico psicopedagógico). Já na atuação pre- ventiva ou institucional, a prática seria a adoção de uma postura mais crítica frente ao fracasso escolar. 3.1 O Psicopedagogo na Prática Institucional No âmbito escolar, a psicopedagogia tem como objetivo ampliar as possibilidades de aprendi- zagem de todos na escola. O psicopedagogo ouve e discute os assuntos da instituição, propõe mudanças, elabora propostas educativas, faz mediação entre 62 os diferentes grupos envolvidos na relação ensino- -aprendizagem (alunos, professores, famílias e fun- cionários), bem como, aprimora e cria metodologias e estratégias que garantam uma melhor aprendiza- gem. Também é papel do psicopedagogo na institui- ção escolar, colaborar na formação dos professores, possibilitando a ampliação de seus conhecimentos sobre o aluno, metodologias e estratégias de ensino que sejam adequadas. De acordo com Bossa (1994), o papel do psicopedagogo nas instituições escolares é de suma importância por dar suporte, diagnosticar e investi- gar as causas que impedem a aprendizagem institu- cional, a circulação de conhecimento, o papel das li- deranças e dos liderados, bem como, os motivos que levam ao insucesso na aprendizagem das crianças. Segundo a mesma autora... Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, pro- movendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já no ca- ráter existencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticaseducacionais, fa- 63 zendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docên- cia e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem (p. 23). Ainda na escola, o psicopedagogo pode tra- balhar prestando assessoria aos professores e demais educadores para que os mesmos possam melhorar a qualidade de sua atuação em sala de aula, através de reflexões sobre questões pedagógicas e novas alter- nativas de trabalho, propiciando assim uma análise de como acontece o processo de ensino/aprendiza- gem, levando sempre em consideração a importân- cia dos fatores orgânicos, cognitivos, afetivo-sociais e pedagógicos na construção do conhecimento. Cabe também a este profissional a instala- ção de um clima de cooperatividade entre todos os profissionais da instituição escolar, possibilitando a participação destes, na construção do projeto peda- gógico, em discussões sobre situações e casos espe- ciais ocorridos com os alunos. De acordo com Custódio (2011), A psicopedagogia institucional, em seu saber fazer, busca acompanhar o processo educativo, para que este venha organizar a aprendizagem de forma que o fra- 64 casso escolar não seja presença marcante no aprendi- zado das crianças e que o professor compreenda sua responsabilidade frente ao sucesso no ato de aprender. Verifica-se, no entanto, mudança na realidade brasi- leira quanto a essa problemática, exigindo mudanças quanto ao aprendizado. Cada vez mais o professo- rado preocupa-se com a qualidade da educação, apri- morando sua formação e, diante dessa perspectiva, a psicopedagogia institucional vem dar o suporte ao acompanhamento da aprendizagem das crianças, aos seus familiares, e juntamente com a escola, acompanha o processo educativo e a ação pedagógica do professor. Ainda na escola, o profissional em psicope- dagogia pode prestar atendimento aos alunos com problemas de aprendizagem (como ex: realizar ativi- dades em grupo), ou ainda, na prevenção dos mes- mos, buscando o desenvolvimento do raciocínio e resgate da autoestima com a finalidade de despertar o prazer e a vontade de aprender dos educandos. Nessa perspectiva, Bassedas (1996) discute que a psicopedagogia institucional... [...] busca conhecer, olhar e escutar a relação do sujeito com o conhecimento objetivando a melhoria do ensino e da aprendizagem, ou seja, para ajudar a família, 65 a escola (em todos os níveis: administrativo, docente, técnico, discente) a cumprir o seu papel, atuando como um articulador do ensino e da aprendizagem (p. 24). Em sala de aula, Santos (s/d), discute que é no interjogo das relações que se estabelecem verda- des cristalizadas e impermeáveis às mudanças, ten- do-se muitas vezes que lidar com anos de verdades absolutas, criando assim uma dicotomia na relação de ensinar e aprender que não deixa espaço para a percepção do outro como parte do processo. Nesse paradigma, a autora discute que mui- tas vezes é comum a desistência de uma educação que vise à qualidade, cabendo ao psicopedagogo, no âmbito institucional se configurar como um impor- tante aliado na tarefa de romper barreiras à apren- dizagem, possibilitando assim, a construção de um trabalho educacional coletivo. Sendo assim, cabe ao psicopedagogo en- quanto profissional da prática institucional... Transformar pensamento linear em pensamento dialéti- co, que mostre as contradições, as resistências, os medos que criam impossibilidades à aprendizagem e tratam o saber escolar como privilégio de uns em detrimento de outros, com a perda da conotação social e de inclusão. 66 A instituição que se articula com o saber psicopeda- gógico é uma instituição que trabalha com a pergunta, com a humanização das relações como processo funda- mental para a aprendizagem, que não é só do aluno, mas do grupo, e com as mudanças que envolvem confli- tos significativos (Santos, s/d, p.5). Dentre as habilidades desempenhadas enquan- to profissional de psicopedagogia na instituição escolar, temos: Auxiliar os professores na melhor forma de ela- borar um plano de aula com a finalidade de melhor assimilação dos conteúdos por parte dos educandos; Ajudar na elaboração do projeto pedagógico; Orientar o professor na ajuda aquele aluno que apresenta dificuldades de aprendizagem; Realização de um diagnóstico que visa constatar possíveis problemas pedagógicos que porventura esteja prejudicando o processo de ensino/aprendi- zagem; Encaminhar o educando a um profissional habili- tado para o tratamento de seu problema (psicólogo, fonoaudiólogo etc), a partir de avaliações psicope- dagógicas; Conversar com os pais para o fornecimento de orientações; 67 Auxiliar na instituição escolar para que os profissio- nais que ali trabalham tenham um bom relacionamen- to entre si; Conversar com a criança ou o adolescente quando o mesmo precisar de alguma orientação. Complementando o que foi descrito acima, Noffs (1995) salienta que cabe ao psicopedagogo: Administrar ansiedades e conflitos, trabalhar com gru- pos; Identificar sintomas de dificuldades no processo de ensino-aprendizagem; Organizar projetos de prevenção; Clarear papéis e tarefas nos grupos; Criar estratégias para o exercício da autonomia; Fazer a mediação entre os subgrupos envolvidos na relação ensino-aprendizagem (pais, professores, fun- cionários); Criar espaços de escuta; Levantar hipóteses; Observar, entrevistar e fazer devolutivas; Utilizar-se da metodologia clínica e pedagógica, “olhar clínico”; Estabelecer um vínculo psicopedagógico; Não fazer avaliação psicopedagógica clínica indivi- dual dentro da instituição escolar, pode, porém, fa- zer sondagens, encaminhamentos e orientações; 68 E por fim, compor a equipe técnica-pedagógica, ne- cessitando assim, de supervisão e formação pessoal. Entretanto, quando falamos em psicopeda- gogia institucional, não podemos nos atrelar somen- te na escolar. Existem outros campos de atuação em que este profissional poderá desempenhar seu tra- balho com a finalidade de apoiar e ampliar o desen- volvimento institucional. Dentre eles podemos citar as instituições de saúde, como hospitais e empresas privadas ou públicas. Nas empresas, o profissional atua ampliando formas de treinamento, desenvolvendo criatividade e melhoria nas relações, participando na elaboração, no desenvolvimento e na avaliação de projetos, bem como, propondo e coordenando cursos de atualização. No âmbito empresarial, a psicopedagogia deve atuar preventivamente de forma a alcançar o desenvolvimento do grupo numa organização, escla- recendo sobre os diferentes papéis, para que assim, os sujeitos possam entender e compreender suas ca- racterísticas, suas limitações, seu desempenho, evi- tando assim, cobranças de atitudes ou pensamentos que não são próprios da pessoa. Também pode atuar o psicopedagogo de forma terapêutica, identifican- do, analisando, planejando e intervindo através das etapas de diagnóstico e tratamento. 69 Em uma empresa, são trabalhadas as rela- ções hierárquicas, as parcerias, o processo de comu- nicação entre as pessoas, o que elas dizem e o que querem dizer. Dessa forma, o psicopedagogo desen- volve nas empresas o ser humano em sua relação com o mundo e consigo mesmo, visando à melhoria da empresa como parceria. Já nas instituições de saúde, o atendimento psicopedagógico é realizado como uma alternativa de apoio ao paciente visando assim, minimizar suas perdas e diminuir o impacto causado pela doença, ou seja, no âmbito hospitalar, cabe ao psicopedago- go ajudar o paciente a enfrentar de forma mais posi- tiva sua enfermidade. Para Mello (2004) o psicopedagogo nesse caso é tido como “[...] um mediador para manter aque- cido ou recuperar sentimentos de amor próprio, autoestima, aceitação, segurança e valorização da vida do paciente” (p.1). Nesta perspectiva, Maluf (2007) discuteque são funções dos psicopedagogos nas instituições hos- pitalares: Intervenção nas instituições de saúde, integrando equipes multidisciplinares, com a finalidade de cola- borar com outros profissionais de saúde e orientan- do seu procedimento no trato com o paciente e sua família; Elaborar diagnósticos das condições de aprendiza- 70 gem das pessoas internadas; Adaptar os recursos psicopedagógicos para o con- texto da saúde, utilizando recursos para a elaboração de programas terapêuticos de ensino/aprendizagem nas instituições em que as pessoas estejam com as suas capacidades adaptativas diminuídas por razões de saúde; Elaborar e aplicar programas comunitários de pre- venção de comportamentos de risco e de promoção de comportamentos saudáveis; Criar e desenvolver métodos e programas psicope- dagógicos em contextos de reabilitação psicossocial, para pessoas em recuperação hospitalar; Elaborar relatórios de condições terapêuticas de ensino/aprendizagem e outras comunicações. Ainda a mesma autora salienta que... A Psicopedagogia, em qualquer âmbito em que seja aplicada, trabalha as questões ligadas, principal- mente, à ansiedade, baixa auto-estima e depressões; minimiza os prejuízos de ordem cognitiva no pro- cesso de aprendizagem, facilita a relação saudável do indivíduo com o meio e o prepara para aprender inclusive questões ligadas à sua maneira de ser, limi- tes e potencialidades. Como especificamente, a enfer- midade, a capacidade de conhecer sua nova situação 71 A prática psicopedagógica clinica ocupa-se da investigação e da intervenção no processo edu- cativo, com a finalidade de se compreender o signi- ficado, a causa e a modalidade da aprendizagem do indivíduo, tendo como finalidade sanar suas dificul- dades. De acordo com Motta (2011), a psicopeda- 3.2 O Psicopedagogo na Prática Clínica e gerenciá-la de modo otimista, produtiva e saudável pode fazer toda diferença na realização futura dessa pessoa, especialmente aquela que é hospitalizada por longos períodos (p. 14). Ao se atender psicopedagogicamente a criança hospitalizada cria-se um mecanismo prote- tor que neutraliza as adversidades da enfermidade e da hospitalização. Ou seja, uma eficiente ação psi- copedagógica facilita o processo de recuperação, su- perando as adversidades e o estresse característicos da hospitalização (YUNES & SZYMANSKI, 2001 apud MALUF, 2007). 72 gogia clínica procura compreender de forma globa- lizada os processos cognitivos, emocionais, sociais, culturais, orgânicos e pedagógicos que interferem na aprendizagem, tendo como finalidade possibilitar si- tuações que estimulem, resgatem ou ativem o prazer de aprender em sua totalidade, incluindo a promo- ção da interação entre pais, professores, orientadores educacionais e demais especialidades que caminham no universo educacional. Ou ainda, a psicopedagogia clínica tem como missão retirar as pessoas da sua condição de inadequação de aprendizagem, fazendo com que percebam suas potencialidades nos aspectos cogniti- vo, afetivo-emocional e de conteúdos acadêmicos. O atendimento clínico é realizado geralmen- te em centros de atendimento ou clínicas psicopeda- gógicas e as atividades ocorrem de forma individual. O atendimento clínico psicopedagógico está vinculado a qualquer pessoa que necessite dos be- nefícios dessa prática, são pessoas que apresentam dificuldades relacionadas à aprendizagem, geralmen- te crianças de qualquer idade que são encaminhadas por seus responsáveis com queixas de dificuldades no processo educativo. No mundo atual, os espaços e tempos de aprender estão para além das escolas e dever ser percebidos na 73 complexidade e na totalidade da vida de cada sujeito inserido na dinâmica relacional do viver e conviver com ou outros, ou seja, de ensinantes e aprendentes, educadores e educandos. Esta mudança de olhar, sobre as relações existentes de ensinar e aprender, presentes na aquisição do conhecimento mostra que a flexibilidade no exercício de cada um desses papéis visto que nesta dinâmica, em determinados momen- tos o sujeito é o ensinante e em outros, o aprendente. Cada ser humano apresenta um modo peculiar e singular de entrar em contato com o conhecimento e com a aprendizagem. Constrói-se essa aprendizagem desde o nascimento do indivíduo, através do qual ele se enfrenta com a angústia inerente ao conhecer-des- conhecer (CALDAS, ESCOCARD & BÁR- BARA, 2008, p.03). Assim, cabe ao psicopedagogo clínico esta- belecer uma investigação que permita o levantamen- to de hipóteses, indicando assim, estratégias capazes de criar a situação terapêutica que vise facilitar um vínculo satisfatório adequado para a aprendizagem. Este profissional também pode trabalhar a atitude, a disponibilidade e a relação com a apren- dizagem do indivíduo, tendo a finalidade que seu cliente/aluno torne-se autônomo e independente 74 na construção de seu conhecimento e na sua valori- zação de modo a aprimorar o máximo possível seu potencial. Ou ainda, clinicamente, cabe ao psicopeda- gogo: Avaliar e diagnosticar as condições de aprendiza- gem, identificando as áreas de competência e de in- sucesso do educando; Realizar devolutivas para os responsáveis pelo aprendente, para a escola e para o próprio aluno; Atender o aluno, estabelecendo um processo cor- retor psicopedagógico com o objetivo de superar as dificuldades encontradas na avaliação; Orientar os pais e professores com relação a suas atitudes para com os educandos; Pesquisar e conhecer a etiologia ou a patologia do educando. Vale lembrar que o profissional em psicope- dagogia deve ter conhecimentos multidisciplinares, pois em um processo de avaliação diagnóstica, é ne- cessário que o mesmo estabeleça e interprete dados em diversas áreas (auditiva e visual, motora, intelec- tual, cognitiva, acadêmica e emocional). O diversificado conhecimento nas mais va- riadas áreas favorecerá o profissional na compreen- são do diagnóstico do aluno, auxiliando na escolha 75 da metodologia que seja mais adequada, com vistas à superação das inadequações do aprendente. Entretanto, vale ressaltar que nos últimos tempos o campo de atuação do psicopedagogo está se expandindo, como salienta Muller et. al. (2000) apud Motta (2011), segundo este autor, na Argen- tina há uma valorização do diálogo interdisciplinar entre as várias áreas do conhecimento, sendo que a mesma tem sido diretamente influenciada pelos co- nhecimentos da psicologia social. Também nesse processo, existe a tendência da não valorização somente do aprendizado restri- to aos bancos escolares, mas também na busca de construção de sentidos da vida. Sendo assim, sua atuação estaria ganhando espaço entre: grupos de terceira idade; vítimas de violência; grupos conside- rados socialmente excluídos; dependentes químicos e, como já vimos anteriormente, clínicas, hospitais e empresas. 76 Leitura Complementar Texto extraído do artigo Fundamentos da Psicopedagogia de autoria de Daniel Caraúna da Motta. Fonte: http://www.artigonal.com/ciencia-artigos/fundamentos-da-psi- copedagogia-4890392.html Interdisciplinaridade na Psicologia A atuação psicopedagógica como a sua efi- ciência e eficácia em determinadas situações perpas- sa pela interdisciplinaridade de vários conhecimen- tos como: neuropsicologia, neuromotricidade, fonoaudiologia, psicanálise, medicina, etc., e não apenas a pedagogia e psicologia como alguns podem pensar. A práxis psicopedagógica apresenta propostas educacionais que convidam a criança a participar ativamente de seu processo de aprendizagem, o que configura a necessidade de uma mudança qualitativa no ensinar e no aprender. O aprender vivido de forma mais integrada propõe intrínsecas e extrínsecas {questões} à aquisição do conhecimento. Segundo Viça (1987), a psicopedagogia nas- ceu com uma ocupação empírica pela necessidade de atender crianças com dificuldades deaprendiza- gem, cujas causas eram estudadas pela medicina e psicologia. Com o decorrer do tempo, o que inicial- 77 mente foi uma ação subsidiária destas disciplinas, foi se perfilando como um conhecimento indepen- dente e complementar, possuidor de um objeto de estudo (o processo de aprendizagem) e de recursos diagnósticos, corretores/tratamento e preventivos próprios. Multidisciplinaridade Psicopedagógica Normalmente, o caráter multidisciplinar da Psicopedagogia se revela pelo número de gradua- ções diferenciadas que frequentemente compare- cem a tal curso: pedagogos, psicólogos, fonoaudi- ólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, licenciados, médicos (pediatras, psiquiatras, neuro- logistas etc.). Proposta Psicopedagógica O especialista em Psicopedagogia pode atuar tanto em nível clínico quanto institucional, pois ele se propõe a compreender e atuar nos vínculos pre- sentes entre o ato de ensinar e a ação de aprender, assim como nas possíveis barreiras que impedem seu fluir harmonioso. Para Fagali (1987) a proposta da Psicopedagogia é trabalhar basicamente com as relações afetivas ocorridas durante a aprendizagem, 78 de modo a garantir que o sujeito seja criativo, espon- tâneo, perseverante e transformador ao trabalhar seu próprio pensamento. Objeto de Estudo A psicopedagogia então passa a ser um ramo do conhecimento aplicado que estuda a conduta hu- mana em situações sócio/educativas como também dos processos de aprendizagem a partir da contex- tualização teórico-prática de várias ciências. A ela se inter-relacionam a psicologia evolutiva, psicologia da aprendizagem, psicologia da educação, didática, epistemologia, psicolinguística etc. É importante a sua atuação nos campos da: Educação especial, Terapias educativas, Avaliação curricular, Programas educativos e, Política educativa. Atividades Psicopedagógicas O psicopedagogo, para Allessandrini (1996) pode: 79 Reprogramar projetos educacionais, facilitadores de uma aprendizagem mais dinâmica e significante; Supervisionar programas, treinando educadores e atuando junto a profissionais de educação; Aprimorar a qualidade de aprendizagem do sujeito que apresenta dificuldades escolares. Atividades Propostas 01) “A escola tem como tarefa essencial o ensino, ou seja, o conjunto de ações que os professores realizam para que os alunos incorporem os bens culturas do país, da sociedade, da comunidade e desenvolvam os diferentes aspectos da persona- lidade por meio de um processo de aprendizagem significativo do ponto de vista pessoal e social” (COLL, 2000, p. 68). Diante do que foi apresentado acima, discuta o pa- pel do psicopedagogo na instituição de ensino. 02) De acordo com Vera Ferreti (2007 p.9,10) é “de grande relevância desenvolver trabalhos psicopedagógicos, no âmbito da saúde, em diferentes instâncias, considerando as funções e necessidades dos integrantes que constituem a Ins- tituição, não deixando de valorizar os recursos do lúdico e da arteterapia nas intervenções. Deve-se levar em conta questões sobre os mitos da cura entre os profissionais, os 80 doentes e familiares, mitos que podem favorecer ou paralisar todos aqueles envolvidos com a doença”. Quando a autora discursa sobre a importância da psicopedagogia no âmbito da saúde, ela está se referindo propriamente da clínica ou institucional? Diante do que foi dis- cutido até o presente momento, discorra sobre a importância do profissional em psicopedagogia na instituição de ensino. Justifique sua resposta. 03) “Quando se refere ao termo APRENDIZAGEM quanto objeto de estudo e atuação do psicopedagogo pode-se incorrer no risco de acentuar as abrangências das práticas dessa profissão. Condicionar a atuação do psicopedagogo quanto a tudo que abranja o ato de aprender seria como não limitar sua atuação, considerando que a aprendizagem está contida em todos os aspectos do viver. Assim, quando se apresenta dificuldades para aprender a nadar, dirigir, to- car um determinado instrumento ou mesmo uma profissão, a qual profissão estaria vinculada a tentativa de resolução desses problemas? Apesar de cada profissão ter sua área de abrangência definida, seria incoerente não admitir a inter- disciplinaridade da dissolução da diversidade de desafios que vida nos apresenta” (MOTTA, 2011, s/p). O texto acima nos menciona a interdiscipli- naridade nos campos de atuação do profissional em psicopedagogia. Sendo assim, sua atuação estaria vinculada somente nas práticas institucionais dos 81 bancos escolares e hospitalares como foi discutido no capítulo em questão ou estaria ligada também a outras áreas do saber? Justifique sua resposta. Uni da de 4 O Processo de Profissionalização em Psicopedagogia O Processo de Profissionalização em Psicopedagogia 84 Caro Aluno, Seja bem-vindo a nossa quarta aula. Dare- mos orientações sobre o processo de profissionali- zação em psicopedagogia e suas particularidades. Bons estudos! Objetivos desta Unidade Ao final desta Unidade você deverá ser ca- paz de dissertar sobre o processo de profissionali- zação do Psicopedagogo, suas dificuldades e pecu- liaridades. Conteúdos da Unidade Nesta unidade iremos estudar os seguintes conteúdos: O Processo de Profissionalização em Psicopeda- gogia; Desafios do Profissional em Psicopedagogia; Formação do Profissional em Psicopedagogia; Desafios na Formação do Psicopedagogo. 85 Como vimos nos capítulos anteriores, a pro- fissão de psicopedagogia é relativamente recente quan- do comparada a outras profissões, entretanto, já existe há décadas em países da Europa, nos Estados Unidos, Argentina e Brasil. Como vimos também, quando surgiu, acredi- tava-se que sua especificidade estaria concentrada na problemática de aprendizagem vinculada somente ao aluno, desconsiderado assim, o ambiente em que o su- jeito estivesse inserido. “Quando surgiram, os primeiros psicopedagogos eram profissionais da educação que queriam ajudar a reintegração da- queles que estavam à margem”. (MASINI, 2006, p. 251). Ou ainda, No início, seu objeto são os sintomas das dificuldades de aprendizagem, como desatenção, lentidão etc. e, as- sim, seu objeto é remediar esses sintomas. A dificulda- de de aprendizagem seria apenas um mau desempenho, um produto a ser tratado (SILVA, 1998, p. 25). 4. O Processo de Profissionalização em Psicopedagogia 86 Já na década de 60 na França começaram as primeiras críticas acerca do papel dos centros psicope- dagógicos que vinculavam o problema da aprendiza- gem somente ao educando. Argumentavam que, sem considerar as manifestações da criança em sua classe e outras situações na escola e fora dela, corria-se o risco de estar apenas comparando- -a com padrões abstratos. [...] todos sabiam falar de diagnósticos e encaminhar para reeducação, para adap- tar a criança ao que a sociedade e a escola esperavam, o que [...], não era educar, mas forçá-la a submeter-se, docilmente, às instituições que reproduziam os valores sociais, adestrando-as. (MASINI, 2006, p.251). Entretanto, há alguns anos, essa visão tem se modificado, ampliando a discussão sobre o papel que a sociedade desempenha sobre o processo de aprendi- zagem do educando, passando assim, o profissional de psicopedagogia a se defrontar com a maior problemá- tica do século XXI: a educação. Sob essa ótica, Masini (op. cit) discute que no Brasil, a psicopedagogia ainda tem muito que cami- nhar no que concerne sobre seu campo de atuação, seja tanto institucional quanto clínico. Para a autora 87 existe uma trajetória paralela, ou seja, a psicopedago- gia caminha “sem complementaridades de pesquisa referentes à aprendizagem e de atividades de entidades e profissionais da área da psicopedagogia” (p.252). Em síntese, os profis- sionais da área psicopedagógica no Brasil estão sem um redirecionamento quanto a sua atuação uma vez que são utilizados nos trabalhos nesta área,pesquisas de autores consagrados em outros países que pos- suem realidades e culturas distintas das existentes em nosso país. Para nossa reflexão a esse respeito, retomamos as ideias de Erney Camargo – presidente do CNPq, uma das mais renomadas instituições responsáveis por pesquisas no território nacional. De acordo com esse experiente pesquisador, é coletando dados do pró- prio contexto social, organizando-os e sistematizan- do-os que as ciências sociais, em cada comunidade científica, fortalecem-se e sua contribuição passa a ser reconhecida. Há, além disso, necessidade da comuni- dade científica estar unida para um aperfeiçoamento do sistema de avaliação de sua produção científica, participando ativamente e conjuntamente. Essas ideias constituem sugestão para que sejam analisados os problemas de pesquisa em psicopedagogia no Bra- sil, nos seus vários aspectos, [...]. Sem a devida aten- ção aos dados de investigações da realidade nacional, 88 estaria a Psicopedagogia no Brasil dispersando-se em pesquisas e literatura importadas? Isso poderia estar refletindo no reconhecimento da Psicopedagogia no Brasil como área de estudos com seu próprio objeto de investigação? (MASINI, 2006, p.252, 253, 254). Sendo assim, cabe a nós, profissionais da edu- cação, repensarmos sobre esta questão e nos posicio- narmos frente a essa problemática relatada acima, para que dessa forma obtenhamos uma formação psicope- dagógica completa em seu aspecto profissional. 4.1. Desafios da Profissionalização em Psicopedagogia Como já vimos, são várias as concepções que definem o termo psicopedagogia, entretanto, to- das elas recaem sobre a discussão em termos educa- cionais, sendo em síntese, definida como um campo de conhecimento em saúde e educação que se tem como foco o processo de ensino-aprendizagem do educando. 89 Entretanto, o que quer dizer aprendizagem? O que os teóricos da área discutem sobre a proble- mática da educação e o processo de ensino-aprendi- zagem do século XXI – um dos maiores problemas da atualidade? Em sua definição, aprendizagem ou apren- der pode ser o modo como os seres adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mu- dam o comportamento. Ou ainda, “aprender é uma construção que envolve toda a atividade do ser humano: biológica, psicológica, social e cultural, nos seus múltiplos aspectos” (ALBUQUERQUE, COSTA & ALMEIDA, s/d, p. 148). 90 Também pode ser definido segundo o di- cionário como “tomar conhecimento de algo, retê-lo na memória, graças a estudo, observação, experiência etc”. (Ferreira, 2000). Em uma definição mais completa, Masini (2006) discute que o termo em questão pode ser compreendido como... [...] o processo responsável pelas transformações que acompanham o ser humano do seu nascimento à sua morte, transformações que emergem das inter-rela- ções sociais e interações ambientais no contexto da vida do indivíduo, são constituídas pelas aquisições de habilidades, raciocínios, atitudes, valores, vonta- des, interesses, aspirações, integração, participação e realização (p.255). Diante do exposto, nos perguntamos roti- neiramente sobre o papel do psicopedagogo como personagem indispensável na busca de soluções que buscam desencadear de forma satisfatória, que o educando obtenha um processo de aprendizagem completo para a sua vida pessoal e para o desenvol- vimento da nação. Estaria o psicopedagogo preparado para tentar solucionar problemas comuns do século XXI 91 relacionados à educação como: inflação escolar, vio- lência na escola, dificuldades de ensinar e de se defi- nir o que é escola? Estaria o psicopedagogo interes- sado, disponível e com conhecimentos específicos suficientes para lidar com essa situação? De acordo com os dados publicados pelo Instituto Nacional de Educação e pesquisa (INEP/ MEC) no ano de 1999 apontam que o percentu- al correto de alunos de escolas públicas que estão acima da idade escolar é de 45,8% na 1º série do ensino fundamental, 69,2% na 5º série e 67, 5% no ensino médio. A distorção idade/série no ensino fundamental de- monstra que o atraso no percurso escolar e o déficit de aprendizagem dessa etapa da educação básica são significativos. As novas gerações não podem ser priva- das do acesso aos conhecimentos – um patrimônio da sociedade -, sob pena de a educação escolar deixar de contribuir para o fim da desigualdade social e para o pleno exercício da cidadania (BRASIL, 2009). Corroborando com o que foi discutido aci- ma, podemos concluir que a distorção idade/série é uma das consequências dos elevados índices de reprovação. Mais de 40% dos alunos do ensino fun- 92 damental têm idade superior à faixa etária corres- pondente de cada série, sendo que, os alunos levam em média dez anos para concluir seus estudos nessa fase, sendo que, o normal seriam oito anos. Cresce também no Brasil, o número de alu- nos matriculados na rede pública de ensino. Da- dos da Avaliação do Plano Nacional de Educação 2001-2008 (BRASIL, 2009) mostram que o acesso de crianças e adolescentes com idade entre 07 e 14 anos no ano de 2006 foi de 97,6%. Entretanto, Brito e Costa (2010), discutem que “[...] não basta garantir vagas nas escolas públicas para toda a população em idade es- colar; é necessário também ter qualidade e equidade na oferta educativa” (p. 500). “A distorção idade/série e o número de alunos com idade acima de 14 anos no ensino fundamental demonstram que o atraso no percurso escolar e o déficit de aprendizagem dessa etapa da educação básica são significativos” (BRASIL, 2009, p.96). Como vimos, ao mesmo tempo em que tanto se fala em melhorias no desempenho escolar brasileiro, mudanças nas formas de se ensinar dos professores, e influências de outros profissionais au- xiliando na prática educativa com a finalidade de que se tenha êxito no ato da transmissão desse conheci- mento, existe ainda, uma grande disparidade como discutido acima pelos dados oficiais do próprio Go- 93 verno Federal. Quando se pensa no profissional de psico- pedagogia como remediador dessa problemática, Masini (2006) nos faz uma indagação. Um ponto de sutileza, e que requer uma análise cui- dadosa de todos que lutam por definir o objeto de estu- dos da psicopedagogia e sua delimitação, é refletir se a ação de um psicopedagogo pode legitimar as improprie- dades do ensino. Sua atuação corre o risco de constituir recurso remediador para o baixo rendimento escolar? Quando o aluno é encaminhado ao psicopedagogo para diagnóstico e tratamento para recuperar-se, ao realizar o atendimento sem analisar métodos e pro- gramas da escola para o processo de aprendizagem, o psicopedagogo estará reiterando a posição da escola de que o problema é do aprendiz? (p. 254). Ainda de acordo com a mesma autora (p.255), A Psicopedagogia tem algo a dizer para assegurar que essa aprendizagem ocorra? Teria algo a contribuir para conservar vivos no ser humano (adulto, jovem ou criança), neste cenário de século XXI, seus interes- ses, aspirações, integração, participação e realização? Teria sugestões que apontassem alguma perspectiva à problemática evidenciada [...]. 94 Diante do exposto até o presente momento, é importante se repensar sobre o papel do psicope- dagogo em sua função fundamental, seja tanto cli- nicamente quanto institucionalmente, para que sua atuação não fique somente na teoria. 4.2. Formação do Profissional em Psicopedagogia Como já vimos, são várias as concepções que definem o termo psicopedagogia, entretanto, todas elas recaem sobre a discussão em termos educacionais, sendo em síntese, definida como um campo de conhecimento em saúde e educação que se tem como foco o processo de ensino-aprendiza- gem do educando. Como vimos no capítulo dois deste trabalho (Aspectos Históricos da Psicopedagogia), a formação profissional do psicopedagogo no Brasil, teve inicioa partir de 1979 na cidade de São Paulo através de um curso de pós-graduação no Instituto Sedes Sapientae. A partir de então só tem crescido em nosso país o número de instituições, tanto públicas quanto 95 privadas, que oferecem esse tipo de formação em nível de Lato Sensu (especialização). A formação em psicopedagogia foi regu- lamentada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) em cursos de pós-graduação (especializa- ção), com carga horária mínima de 360 horas. O curso em questão deve atender às exigên- cias do Conselho Federal de Educação quanto à car- ga horária, critérios de avaliação, corpo docente en- tre outras regulamentações. Entretanto, não existem normas e critérios para a grade curricular do curso, o que leva a uma grande diversificação quanto à for- mação desses profissionais. Outra característica, é que o curso que for- ma psicopedagogos pode ser multidisciplinar, uma vez que profissionais de diversas áreas (pedagogia, psicologia, medicina, biologia, entre outros) que queiram atuar com a educação, podem escolher este curso como alternativa para a obtenção do título de especialista. Ainda, o psicopedagogo possui a Associa- ção Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), que teve início com um grupo de estudos formado por pro- fissionais que se preocupavam com os problemas de aprendizagem apresentados na época, esse mesmo grupo busca hoje o reconhecimento do profissional em questão através do Projeto de Lei de nº 3124 de 96 1997 do Deputado Federal Barbosa Neto. O projeto em questão foi aprovado no dia 03 de setembro de 1997 pela Comissão de Trabalho de Administração e Serviço Público, sendo poste- riormente encaminhado à 2º comissão, que é a de Educação, Cultura e Desporto, tendo sua aprovação ocorrida nessa comissão no dia 12 de setembro de 2001. No dia 20 de setembro de 2001, houve mais um avanço político quanto a essa questão com o Projeto de lei 10891, de autoria do Deputado Esta- dual de São Paulo – Claury Alves da Silva. O Projeto “autoriza o poder executivo a implantar assistência psicoló- gica e psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino básico público, com o objetivo de diagnosticar e prevenir pro- blemas de aprendizagem” (BRASIL, s/d). Atualmente, o Projeto de Lei que regula- menta a profissão do Psicopedagogo no Brasil, está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação es- perando para ser aprovado. Quando isso ocorrer, o mesmo irá para o Senado onde terá de passar por três comissões: Trabalho, Educação e Constituição; Justiça e Redação para, finalmente, ser sancionado pela Presidência da República. No momento, a profissão de Psicopedagogo tem amparo legal no Código Brasileiro de Ocupa- ção, isto quer dizer que já existe a ocupação de psi- 97 copedagogo, entretanto, ainda há a necessidade de que esta profissão seja regulamentada. Outro momento histórico para a Psicopeda- gogia diz respeito ao surgimento de seu Código de Ética, que entra em vigor em 1992, aprovado pela assembleia que ocorreu durante o V Encontro e II Congresso de Psicopedagogia, que discute dentre outras coisas que “a psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendiza- gem humana”, bem como, seus padrões patológicos, considerando assim, a influência do meio (família, escola e sociedade). (ART 1º DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS PSICOPEDAGOGOS). Conscientes do momento histórico que atravessávamos, elaboramos o Código de Ética, o que era essencial, já que não tínhamos (como até hoje não temos) nossa profissão reconhecida. Este passou a ser o documento norteador dos princípios da Psicopedagogia, das Res- ponsabilidades Gerais da Psicopedagogia, das Rela- ções deste com outras Profissões, sobre a Importância do Sigilo etc. (MENDES, 1998, p. 202-203 apud GONÇALVES, 2007). Ainda quanto ao Código de Ética, é impor- tante ressaltar que os profissionais em Psicopedago- gia devem seguir certos princípios éticos que estão 98 4.3. Desafios na Formação do Psicopedagogo dispostos no Código, entretanto, o mesmo não esta- belece regras, sua principal característica é a reflexão sobre a ação do ser humano. De acordo com Masini (2006) os cursos que formam psicopedagogos precisam contemplar um redirecionamento teórico-prático que possibilite ao psicopedagogo: 1. Vivenciar situações para lidar com o próprio aprender e o aprender do outro; 2. Desenvolver o uso de recursos específicos, seja para assessorar professores, ou outros profissionais, em situações específicas de aprendizagem, ou então, para o atendimento do educando; 3. Saber, de forma cientificamente fundamentada, o porquê de utilizar um ou outro recurso com o aluno com quem está lidando. Ainda a mesma autora salienta que sua for- 99 mação deve conter princípios que propiciem for- mas de: 1. Ampliar sua percepção e acuidade às manifesta- ções do ser humano em situações de aprendizagem, considerando as relações que facilitam ou limitam o ato de aprender; 2. Assegurar sua atenção na situação do ato de apren- der do educando, considerando-o no seu contexto, em sua afetividade, valores, hábitos e linguagem; 3. Garantir a aquisição de conhecimentos sobre o desenvolvimento do ser humano, teorias de aprendi- zagem, relações com o outro; 4. Desenvolver visão crítica sobre as teorias que em- basam sua ação em relação ao contexto no qual atua profissionalmente e sobre a utilização dos recursos propostos (instrumentos e técnicas) para o desen- volvimento do educando, considerando-o em seu meio social específico e em seu momento histórico; 5. Ter cuidado em analisar quando os recursos cientí- ficos e tecnológicos da atualidade estariam distancian- do o aprendiz de si próprios e de seus significados. E por fim, para finalizarmos esse capítulo, Gonçalves (2007, p. 43), discursa sabiamente sobre a importância do profissional em psicopedagogia que seja muito bem qualificado para o exercício de sua função quando diz... 100 Diferentemente dos primórdios do movimento edu- cacional preocupado em compreender as razões do insucesso das crianças na escola, buscando apenas no aluno as respostas, a atual tendência considera o insucesso enquanto sintoma social e não apenas como uma patologia. Portanto, não há como desco- nhecer o papel relevante desta profissão que, cada vez mais, tem contribuído para a integração entre criança e instituições onde o aprendizado é o centro e que, por razões diversas, estão desarticuladas. Hoje é evidente o reconhecimento da contribuição social da Psicopedagogia na realidade educacional brasileira. 101 Leitura Complementar Parte do documento que visa à regulamentação da profissão em Psico- pedagogia. Disponível na integra no site: http://www.abppsc.com.br/modules/mas- top_publish/?tac=139 Diretrizes Básicas da Formação de Psicopedagogia no Brasil Documento revisado pela comissão de Cursos e Regulamentação da As- sociação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) São Paulo, 12/12/2008. A Psicopedagogia é uma área de conheci- mento, atuação e pesquisa, que se constitui na in- terface entre Educação e Saúde e lida com o pro- cesso de aprendizagem humana. Recomenda-se aos cursos de formação, o desenvolvimento e a implementação de propostas de natureza transdisciplinar, decorrentes de efeti- vas articulações e integração de diversas áreas do conhecimento. A associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), como órgão representativo dos psicope- dagogos, entende que o curso de Psicopedagogia deve visar à formação do psicopedagogo, objeti- vando seu exercício profissional consequente de 102 um projeto pedagógico de qualidade. Assim, reco- menda-se que os projetos de cursos tenham como base estas Diretrizes. 1. Perfil Profissional O psicopedagogo é o profissional qualifica- do para lidar com os processos de aprendizagem e suas intercorrências, atuando junto aos indivíduos, aos grupos, às instituições e às comunidades.Em 2002, pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) do Ministério do Trabalho e Emprego (TEM), a Psicopedagogia foi inserida na Família Ocupacional 2394-25 dos Programadores, Avaliadores e Orientadores de Ensino. A ABPp reitera a característica da Psicope- dagogia como área de interface, fundamental para a preservação das fronteiras de atuação com os demais profissionais da Educação. A partir desta visão compreende que o psicopedagogo é o profis- sional capaz de: - ampliar as possibilidades e interesses relativos ao aprender e ao ensinar; - oportunizar aprendizagens significativas; - propiciar autonomia de pensamento; - produzir e difundir o conhecimento científico e tecnológico relacionado à aprendizagem humana; 103 - assumir compromissos éticos e políticos com a Educação de qualidade para todos; - contribuir com os demais profissionais da Edu- cação para a construção de uma sociedade justa, equânime e igualitária. 2. Competências e Habilidades A formação em Psicopedagogia deve pro- piciar o desenvolvimento das seguintes competên- cias e habilidades: - utilização de bases teóricas da Psicopedagogia para análise específica da aprendizagem; - atualização constante dos conhecimentos relacio- nados à aprendizagem; - planejamento, intervenção e avaliação do proces- so de aprendizagem e suas intercorrências, em vá- rios contextos, mediante a utilização de instrumen- tos e técnicas próprias da Psicopedagogia; - utilização de métodos, técnicas e instrumentos que tenham por finalidade a pesquisa e a produção de conhecimento na área; - participação na formulação e na implantação de políticas públicas e privadas em saúde e educação relacionadas à aprendizagem e à inclusão social; - inserção nos espaços multidisciplinares voltados para a atuação nos diferentes níveis de prevenção 104 da aprendizagem (primários, secundários e terciá- rios); - consultoria e assessoria psicopedagógica; - orientação, coordenação, docência e supervisão em cursos de Psicopedagogia; - atuação, coordenação e gestão em serviços de Psi- copedagogia de estabelecimentos públicos e privados. 3. Princípios Norteadores da Formação A formação do psicopedagogo deve orientar-se pe- los seguintes princípios: - consciência da diversidade, respeitando as dife- renças de natureza cultural e ambiental, étnico- -racial, de gêneros, de faixas geracionais, de classes sociais, de religiões, de necessidades especiais, de escolhas sexuais, entre outras; - promoção de ações de inclusão e de qualidade de vida; - desenvolvimento do pensamento reflexivo, crítico e transformador; - consciência da importância do trabalho coletivo pautado pela ética da solidariedade; - respeito aos saberes específicos das áreas afins e dos profissionais; - atuação pautada pelo sigilo profissional. 105 4. Habilidades E Ênfase O profissional formado em Psicopedago- gia está habilitado a atuar no âmbito institucional e clínico, realizando avaliações processuais, diag- nósticas e/ou, de desempenho; planejamentos e in- tervenções; prognósticos e acompanhamentos dos processos de aprendizagem nos campos da educa- ção formal e da informal; da orientação vocacional; da educação especial e inclusiva; da educação pro- fissional; da educação e formação continuadas; da educação a distancia; da educação empreendedora; da aprendizagem organizacional; da educação am- biental; entre outras, considerando que a aprendi- zagem humana ocorre ao longo da existência e em diversos espaços sócio-educativos. A ênfase é baseada em uma compreensão da indissociabilidade do campo de conhecimento e de atuação clínico e institucional, de tal forma que a formação não deve dissociá-los, permitindo que o profissional seja capaz de compreender e inte- grar procedimentos psicopedagógicos da avaliação à intervenção como um continuum, independente- mente do espaço e da atuação. Os espaços de atuação podem ser, entre outros: - estabelecimentos educacionais; 106 - hospitais e clínicas de saúde; - organizações não-governamentais e centros co- munitários; - asilos; - creches; - empresas; - consultórios e ambulatórios; - setores e serviços públicos de atenção à saúde e à educação; - setores e serviços públicos de assistência social. 107 Atividades Propostas 01) “Ao tratar de aprendizagem no Século XXI – um cenário onde o homem se debate no movimento entre o real e o virtual, submerso cada dia mais em profusão de infor- mações – a Psicopedagogia enfrenta um dos maiores desafios de nossa época. Como lidar com o aprender do ser humano neste cenário? A busca de uma resposta demanda, em pri- meiro lugar, a definição precisa de seu objeto de estudos e especificidade, como quadro referencial de delimitação dessa área” (MASINI, 2006, p. 248). Em seu trabalho, fica claro que a autora em questão faz uma crítica à formação do Psicopeda- gogo, enfatizando que ainda falta ao mesmo em sua formação, uma especificidade quanto à sua atuação profissional. Você como futuro profissional da área psicopedagógica concorda com a análise crítica da autora acima citada? Justifique sua resposta. 02) De acordo com Masini (2006, p. 249), “a identi- dade da Psicopedagogia não está ainda bem delimitada como área de estudos apesar de décadas de existência, no Brasil e na Europa, comprovados em livros e revistas especializa- das. Permanecem discussões e embates com os próprios pares, em meio a mal entendidos sobre fins, locais, modalidades e recursos de atuação. Persistem questionamentos de outros profissionais sobre a especificidade de seu objeto de estudos 108 frente a: 1) diversidade de atividades sobre essa denomi- nação, em publicações, na atuação dos que se denominam psicopedagogos, em cursos de extensão, especialização e pós- -graduação lato sensu; 2) desempenho de funções de áreas com as quais apresenta interfaces: Psicologia, Educação, Didática e Ensino, Psicoterapia, Psicologia Institucional e Educação Especial. Esses embates assinalam a necessidade de precisão e clareza sobre o objeto de estudo e a especificidade da Psi- copedagogia, tornando-se indispensável a composição de um quadro referencial de delimitação dessa área”. Diante do exposto e, como sabemos, está em tramitação na Comissão de Constituição, Justiça e Redação esperando para ser aprovado, o Projeto de Lei que regulamenta a profissão do Psicopeda- gogo no Brasil, apesar do mesmo ter amparo legal no Código Brasileiro de Ocupação. Pelas críticas de Masini, você acha que a profissão de psicope- dagogo, apesar de anos esperando para ser regu- lamentada, ainda não aconteceu pela falta de sua especificidade enquanto profissão, como acredita a autora acima citada? Justifique sua resposta. 03) Como discutido na “Leitura Complementar” deste capítulo, são competências do psicopedago- go pela visão da Associação Brasileira de Psicope- dagogia (ABPp): “- ampliar as possibilidades e interesses 109 relativos ao aprender e ao ensinar; - oportunizar aprendi- zagens significativas; - propiciar autonomia de pensamento; - produzir e difundir o conhecimento científico e tecnológico relacionado com a aprendizagem humana; - assumir com- promissos éticos e políticos com a Educação de qualidade para todos; - contribuir com os demais profissionais da Edu- cação para a construção de uma sociedade justa, equânime e igualitária”. Diante da problemática da educação do sé- culo XXI – que todos nós conhecemos - em sua formação, você acredita que o profissional da psi- copedagogia é capaz de desempenhar essas funções de forma eficiente? O que poderia ser feito para que fosse melhorada a atuação do Psicopedagogo frente suas atividades desempenhadas? Justifique sua resposta.
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