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Especial inclusiva Educação Ed u c a ç ã o e sp ec ia l in c lu si v a Ed u c a ç ã o e sp ec ia l in c lu si v a Transtornos Globais do Desenvolvimento e Altas Habilidades Estratégias Educacionais para Trabalho de Inclusão Fernando Ulisses Rosalino Fe rn an d o U lis se s R o sa lin o Tr an st or no s G lo ba is Editora 1ª Edição | Julho | 2012 Impressão em São Paulo/SP TransTornos Globais do desenvolvimenTo e alTas Habilidades Estratégias Educacionais para Trabalho de Inclusão Fernando Ulisses Rosalino Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 R788n Rosalino, Fernando Ulisses. Noções básicas de transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades. / Fernando Ulisses Rosalino. – São Paulo : Know How, 2012 212p. : 21 cm. Inclui bibliografia. 1. Educação especial. 2. Transtorno global do desenvolvi- mento. 3. Superdotados. 4. Alta habilidade. I. Título. CDD – 371.9 Coordenação Geral Nelson Boni Coordenação de Projetos Leandro Lousada Coordenadora Pedagógica de Cursos EaD Esp. Maria de Lourdes Araujo Professor Responsável Fernando Ulisses Rosalino Projeto Gráfico, Diagramação e Capa Janine Lopes Revisão Ortográfica Célia Ferreira Pinto 1a Edição: Julho de 2012 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD Know How 2012 Nenhuma parte desta públicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Noções Básicas de Transtornos Globais do Desenvolvimento e Altas Habilidades Apresentação É com grande satisfação que apresentamos este livro sobre Transtorno Global do Desenvolvimento e Altas Habilidades, com a oportunidade de oferecer um pouco de conhecimento sobre o tema, de despertar o interesse e a curiosidade sobre o assunto e de iniciar uma jornada de estudos, e apenas iniciar, dada a complexi- dade e amplitude da temática e, assim, sem a pretensão de abarcar o objeto de estudo em sua plenitude e nem de se aproximar disso, mas conferindo subsídios iniciais suficientes para uma atuação edu- cacional sólida e que, enquanto tal, sempre precisará de aprofunda- mentos e atualizações. Neste livro veremos as distinções conceituais em torno dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, seu conceito; o pro- cesso de aprendizagem neste contexto, epistemologia e aspectos importantes para a educação formal inclusiva junto a este público. Ainda, veremos de forma bem geral e panorâmica sobre a curiosa questão das altas habilidades, passando pelo conceito, as causas, as características das pessoas com altas habilidades e as implicações educacionais voltadas a este público. Esperamos, sinceramente, que gostem dos assuntos abor- dados, pois foram elaborados pensando em acrescentar um pou- quinho de conhecimento na área aos leitores e, assim, colaborar no processo de formação acadêmica e profissional e oferecer um ma- terial simples, mas que possa servir de consulta e pesquisa quando necessário. Que este seja apenas um pontapé, um começo de uma longa jornada enriquecedora dentro da Educação Especial e de suas riquezas humanas e de sua grandeza social. PLANO DE ESTUDOS UNIDADE 1 ► Conceituação do Transtorno Global do Desenvolvimento. UNIDADE 2 ► Diferentes compreensões do Autismo, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da infância e outros Transtornos Globais não especificados. UNIDADE 3 ► Formação e aprendizagem da criança com Transtorno Global de Desenvolvimento. UNIDADE 4 ► Aspectos importantes do Transtorno Global de Desenvolvimento para a educação escolar. UNIDADE 5 ► A origem e principais características das altas habilidades. UNIDADE 6 ► Desafios educacionais com alunos que apresentam altas habilidades. REFERÊNCIAS 49 13 9 75 119 169 189 207 Sumário 9 Plano de Estudos Ementa ► Conceituação do Transtorno Global do Desenvolvimento. ► Diferentes compreensões do Autismo. ► Aspectos importantes do Transtorno Global do Desenvolvi- mento para a educação escolar. ► Formação e aprendizagem da criança com Transtorno Global do Desenvolvimento. ► Síndrome de Rett. ► Síndrome de Asperger. ► A origem e principais características das altas Habilidades. ► Desafios educacionais com alunos que apresentam altas Habilidades. Competências ► Planejar e executar atividades profissionais de sua área, articula- das com os conhecimentos sobre Transtornos Globais do Desen- volvimento e altas Habilidades, de modo crítico e sob o paradigma da inclusão social. ► Analisar de modo qualificado situações de inclusão educacional e pesquisar, com eficiência, aprofundamentos necessários às deman- das, na resolução de problemas inerentes a estas, a partir da prope- dêutica apresentada aqui. 10 Habilidades ► Conhecer e entender os conceitos básicos sobre Transtorno Global do Desenvolvimento e sobre altas Habilidades. ► Identificar as principais características das pessoas com Transtor- no Global do Desenvolvimento e das pessoas com altas Habilidades. ► Tornar-se apto a aplicar estes conhecimentos ao contexto edu- cacional inclusivo. Carga horária: 30 horas 12 Unidade CONCEITUAÇÃO DO TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO 1 15 Caro(a) aluno(a) Seja bem-vindo (a)! Nesta primeira unidade, daremos explicações gerais sobre os Transtornos Globais do Desenvolvimento, introduzindo o tema e buscando despertar os primeiros interesses e curiosidades sobre o assunto, partindo de sua conceituação. Desejamos uma ótima caminhada, que se inicia aqui e agora, dentro da amplitude deste tema instigante e gratificante. Boas leituras, atividades, bons estu- dos e reflexões. Mãos à obra! 16 17 1. CONCEITUAÇÃO DO TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO O Transtorno Global do Desenvolvimento refere-se a um conjunto determinado de síndromes distintas que, porém possui em comum o fato de, todas, apresentarem alterações globais ou de nível mais generalizado, de amplitudes e alcances mais integrais, no desenvolvimento da pessoa. Portanto, o termo Transtorno Global do Desenvolvimento designa um leque bem delimitado de síndromes que apresentam, en- tre si, um ponto em comum fundamental: a característica de maior globalidade no acometimento, nos indicadores, no alcance das im- plicações psíquicas e/ou físicas da síndrome, enfim, em seu caráter menos restrito ou específico nas alterações do desenvolvimento. Precisamente por este motivo é que tal transtorno é cha- mado também de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, quer dizer, implicando características e indicadores mais invasivos, que invadem de forma mais proeminente e significativa o curso normal do desenvolvimento. Tal acometimento afeta funções psíquicas di- versas (como cognição, sensação, percepção, imaginação, criativida- de, abstração..., com destaque para socialização e comunicação). O termo Transtornos Globais (ou Invasivos) do Desenvol- vimento é utilizado para diferenciar e para opor-se aos denominados Transtornos Específicos do Desenvolvimento. Nestes transtornos específicos, como o próprio nome já sugere, inserem-se alterações mais focais e restritas do desenvolvimento, como na fala e lingua- gem, ou na coordenação motora, ou nas habilidades escolares. Na verdade, a designação por “invasivo”, ao invés de “glo- bal”, é uma tradução inglesa do termo, que corresponde a “pervasive 18 development disorder” (transtorno ou desordem invasiva do desenvol- vimento), também indicada apenas pela sigla PDD. Porém, alguns autores têm preferido e defendido mais o termo “global”, por considerarem que o termo “invasivo” carregue uma noção mais agressiva, corrosiva, de algo que vá invadindo, pe- netrando e, assim, talvez, remetendo a associações mais negativas e menos fiéis ao que de fato consiste o transtorno. Desse modo, uma tradução mais adequada ao sentido que se pretende, seria Trans- torno Global do Desenvolvimento, também designado pela sigla TGD. Neste contexto, é importante destacar desde jáque, dentro da Educação Especial, verifica-se um entrave, uma dificuldade e uma preocupação histórica com a utilização dos termos, com a mu- dança periódica destes, com autores que se ocupam em focar sobre tais debates terminológicos, semânticos ou de exclusiva nomencla- tura. Isso no intuito de evitar termos que possam reforçar precon- ceitos e associar com aspectos negativos e depreciativos para com o público a que se designa. Portanto, a discussão terminológica não é exclusiva do campo de estudos especializados sobre os Transtornos Globais do Desenvolvimento. O mesmo se verifica, por exemplo, com os termos portadores de necessidades especiais (quando se vem abolindo o termo portador pelo termo pessoa com necessida- des especiais), os termos deficiência mental e deficiência intelectual, cego e pessoa com deficiência visual; superdotado e pessoa com altas habilidades etc. Para se ter uma ideia, a deficiência intelectual já foi chama- da de idiotia, depois de retardo mental, depois de deficiência mental e, hoje, existe a tendência de designá-la por deficiência intelectual, embora termos anteriores, sobretudo deficiência mental, ainda per- durem muito nas falas e produções escritas. Evidentemente, não é apenas alterando palavras que se al- 19 tera todo um quadro de segregação existente; não se trata de um problema verbal, mas estrutural, pois a própria sociedade está or- ganizada de forma necessariamente excludente. Por outro lado, por trás de todo termo existe um conceito e uma explicação teórica que a embasa e a justifica, deixando de ser apenas um termo ou apenas um amontoado de letras, inocentes e neutras; pelo contrário, apre- senta um significado histórico, intencional, planejado e refletido, sendo capaz de contribuir na solidificação de rótulos, de estereóti- pos, de comparações ou relações inadequadas, podendo influenciar na própria identidade da pessoa a que se refere. Poder-se-ia, assim, defender o poder das palavras como possuidoras de certo alcance transformador, embora limitado, nas interações humanas, sendo, ao mesmo tempo, produto destas. As- sim, as palavras podem legitimar e reproduzir a prática ou podem contradizê-la a fim de transformá-la. “As palavras têm o poder de moldar imagens dos objetos de referência e a sua escolha é im- portante na construção ou na destruição de estereótipos”. (VACH, 1988, p. 26 apud ANACHE, 1991, p. 38) Por outro lado, podemos dizer que uma transformação real e significativa depende de mudanças estruturais, não apenas de mu- danças verbais: alterar discursos não altera o quadro de segregação de uma sociedade estruturalmente preconceituosa e desigual. Nesse sentido, entende-se que: “Se, num primeiro momento, a impressão que se tem é de que o discurso contraria a prática num círculo que não se supera, na medida em que propõe integração sem alcançá-la, já num segundo momento, ao aprofundarmos a análise, po- demos perceber que a ambiguidade do discurso abre brechas suficientemente largas para permitir a continuidade de uma prática equivocada. Uma prática que não se transforma através da alteração do discurso.” (ANACHE, 1991, p. 112) 20 Ao subestimar o poder transformador das palavras chega- se ao fato de que as mudanças não podem se operar exclusivamente no nível do discurso e da institucionalização e oficialização de conceitos, mas, por outro lado, também incluem esses aspectos, pois participam da totalidade em questão, sem com isso, constituir o único determinante desta. Em outras palavras, o discurso possui seu poder, mas não um poder absoluto e pleno sobre a realidade, que é sempre multideterminada. Vários aspectos podem contribuir, mas não determinar o real, porque sempre será mais determinante o entrelaçamento ou a relação entre esses diferentes aspectos. Diante do exposto, registre-se que será adotado o termo Transtornos Globais do Desenvolvimento ao longo deste livro, por considerá-lo mais condizente, mais atual, mais aceito pela comunidade científica e por ser o termo usado no Código Internacional de Doenças - CID-10 (OMS, 2008), em sua última versão. Inclusive, nas versões anteriores do CID-10 (OMS, 1993), utilizava-se o termo “invasivo” (como na versão de 1993), mas, nas revisões posteriores, uma das mudanças foi justamente este termo, substituindo-o por “global”, sendo, portanto, o termo mais atual. Sobre este código, cabe esclarecer que constitui um parâmetro utilizado por profissionais da área da saúde por todo o mundo. Como ilustração, vale citar que, para conferir-se um atestado médico ou psicológico, por exemplo, é necessário indicar o código da doença no atestado, conforme o CID-10. Nele se encontram catalogadas praticamente todas as doenças, síndromes, afecções e alterações existentes, ordenadas por ordem alfabética e numérica. Evidente, porém, que com os constantes avanços científicos, descobertas e novas descrições de enfermidades, em certos períodos intervalares, vão se tornando necessárias atualizações no código internacional de doenças; e precisamente por isso que o mesmo já se encontra em sua décima versão e, esta, ainda, por sua vez, com várias revisões. 21 A classe das doenças mentais encontra-se ordenada dentro da letra F no CID-10 e, dentro desta letra, aparecem divididas por números. Os Transtornos Globais do Desenvolvimento, por exemplo, enquadram-se no código F84. Logo antes destes se encontram os Transtornos Específicos do Desenvolvimento. Existem, atualmente, muitos estudos ponderando a devida ressalva ao mero enquadramento do paciente nos códigos do CID-10. Estes estudos buscam uma visão crítica dos diagnósticos psicológicos que, em alguns casos podem servir apenas para rotular o paciente, enquanto deveria buscar-se uma avaliação estratégica, voltada ao potencial único de cada paciente, não aos “problemas”, “defeitos” ou sintomas que se enquadrem em um código despersonalizado, “massificante” e padronizado, no qual, algumas vezes, o profissional tem de forçar algum enquadramento, apenas para classificar o paciente dentro de uma categoria, invés de buscar compreendê-lo em sua singularidade. Por outro lado, muitas vezes, o diagnóstico e a classificação no CID-10 também podem ser bastante úteis para as intervenções posteriores com a pessoa, seja clinicamente ou educacionalmente. Por isso, não se pode descartá-lo e o mesmo foi utilizado neste livro para descrições e diferenciações entre os tipos e subtipos de transtornos aqui em estudo, e somente para isso, deixando claro, contudo, que o uso profissional do CID-10 só é permitido para profissionais da saúde, não da área educacional, a não ser para fins de pesquisas. Assim como o CID-10, existe ainda outra obra bastante conhecida no meio científico, que também tem servido de parâmetro ou referência universal para descrição e conceituação das alterações mentais e/ou comportametais. Trata-se do DSM-IV (DORNELLES, 2002), que é reconhecido e utilizado praticamente no mundo todo como um eixo norteador de definições, 22 classificações, dados censitários de abrangência internacional sobre cada transtorno, critérios para diagnósticos e, enfim, constituindo uma ferramenta bastante conhecida como um direcionamento básico acerca dos transtornos mentais. A sigla DSM, como ficou conhecida, na verdade, compila o título: Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais e está em sua quarta edição. Ele possui equivalência e compatibilidade com o CID-10, já sendo elaborado com tal preocupação; apenas, porém se focaliza nas alterações mentais, enquanto que o CID-10 traz classificadas todas as formas de doenças já catalogadas na humanidade até o momento, não apenas as mentais. Além do CID-10 e do DSM-IV, há ainda o Código Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, conhecido como CIF (OMS, 2001), o qual foi elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e apresenta uma preocupaçãonotória em não rotular e estigmatizar, através de classificações, as pessoas com deficiências em geral, buscando uma visão mais conjuntural, ressaltando as condições de saúde e não somente a sintomatologia das doenças. É evidente que não se pode conceber o CID-10, nem o DSM-IV e nem o CIF como algo completo e suficiente em si, que esgota toda a gama de conhecimentos sobre os quais trata, ou como algo absoluto, como receita de bolo e fórmula mágica para efetivar-se qualquer avaliação e diagnóstico. Porém, podem ser bastante úteis como ponto de partida e como primeiro contato na caracterização básica dos diferentes transtornos. E neste momento, é precisamente este primeiro contato que se visa aqui, no presente contexto de estudo. Deve-se deixar bem claro que um educador não terá como responsabilidade realizar avaliações e diagnósticos de saúde mental e, assim, os estudos aqui apresentados servem para uma 23 caracterização mais elementar que permita ao profissional educador suspeitar, indagar, problematizar, identificar e encaminhar de forma mais eficiente os casos em que, por ventura, venha a deparar-se, de presença de Transtornos Globais do Desenvolvimento no contexto escolar. Limitado a isso, pode-se afirmar que, do contrário, caso o foco fosse o aprofundamento na avaliação e diagnóstico, então, seria necessário definir e apresentar as diferenças entre avaliação, diagnóstico e triagem, que são aspectos distintos, embora inter- relacionados, mas que, escapa aos objetivos a que se dispõe este estudo aqui apresentado. Quando se fala aqui em encaminhamentos, refere-se a direcionar para profissionais da área, especializados, para avaliação e diagnóstico, quando se suspeita ser tal procedimento necessário e benéfico para a pessoa suspeita. Todavia, não se afirma com isso que encaminhamento signifique, no atual contexto, retirar da escola comum. Como foi dito, refere-se à avaliação ser feita por quem de direito e com formação para tal, não em retirar de todo um processo de ensino-aprendizagem, até porque se visa um ensino inclusivo; uma preparação para atuação dentro desta vertente e com esta preocupação. A questão é se uma pessoa com TGD deverá manter-se no ensino comum ou ir para uma instituição especializada depende muito de cada caso, das especificidades em jogo. Este tema da inclusão será abordado posteriormente ainda nesta obra. Por ora, serão vistos os aspectos basais sobre os TGD. Não obstante, desde já, é válido deixar claro que se pretende, com tais estudos, instrumentalizar e deixar subsídios para uma atuação inclusiva de fato. Tendo explanado sobre as questões terminológicas em torno do assunto e também sobre as obras básicas referenciais (CID-10, DSM-IV e CIF) e retomando a conceituação sobre a temática em estudo, como já foi visto, deve-se ter bem claro, portanto, a grande diferença entre os Transtornos Específicos do 24 Desenvolvimento e os Transtornos Globais do Desenvolvimento. Os Transtornos Específicos do Desenvolvimento são basicamente quatro, cada um com seus subtipos. Estes quatro transtornos seguem descritos a seguir: ► Transtornos específicos do desenvolvimento da fala e da linguagem; ► Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares; ► Transtorno específico do desenvolvimento motor; ► Transtornos específicos mistos do desenvolvimento. Estas quatro condições constituem o que se denomina por Transtornos Específicos do Desenvolvimento. Segue agora os subtipos de cada um destes quatro transtornos específicos, com seus devidos códigos, conforme o CID-10 (OMS, 2008): “(F80-F89) Transtornos do desenvolvimento psicológico: ► (F80) Transtornos específicos do desenvolvimento da fala e da linguagem: ► (F80.0) Transtorno específico da articulação da fala; ► (F80.1) Transtorno de linguagem expressiva; ► (F80.2) Transtorno de linguagem receptiva. ► (F80.3) Afasia adquirida com epilepsia (síndrome de Landau- -Kleffner); ► (F80.8) Outros transtornos de desenvolvimento da fala e linguagem; ► (F80.9) Transtorno do desenvolvimento da fala ou da linguagem, não especificado; ► (F81) Transtornos específicos do desenvolvimento das habili- dades escolares: ► (F81.0) Transtorno específico de leitura; ► (F81.1) Transtorno específico da soletração; ► (F81.2) Transtorno específico de habilidades aritméticas; ► (F81.3) Transtorno misto das habilidades escolares; 25 ► (F81.8) Outros transtornos do desenvolvimento das habilida- des escolares; ► (F81.9) Transtorno do desenvolvimento das habilidades escolares, não especificado; ► (F82) Transtorno específico do desenvolvimento motor; ► (F83) Transtornos específicos mistos do desenvolvimento.” Estes constituem, portanto, as formas de transtornos específicos do desenvolvimento psicológicos e seus subtipos. Logo após estes, no CID-10 (OMS, 2008), conforme já dito, seguem descritos os Transtornos Globais do Desenvolvimento, que é o que interessa para o presente momento. Foi apresentado, porém, os transtornos específicos, justamente para diferenciá-los dos globais, tendo maior clareza sobre o que define e conceitua cada uma destas duas categorias distintas de transtornos de desenvolvimento. Ainda, logo após a descrição dos Transtornos Globais do Desenvolvimento no CID-10 (OMS, 2008), este ainda apresenta as seguintes situações: “►(F88) Outros transtornos do desenvolvimento psicológico; ► (F89) Transtorno do desenvolvimento psicológico não especificado.” Dado tal contexto e tal diferenciação dos demais transtornos de desenvolvimento psicológico, então, resta apresentar e depois melhor detalhar aqueles que são mais globais ou abrangentes e que constituem os TGD, objeto de estudo no presente contexto. Os Transtornos Globais do Desenvolvimento consistem em quatro tipos de transtornos, afora aqueles que se apresentam de tal forma que não podem ser precisamente especificados ou enquadrados em nenhum destes quatro tipos anteriores; quando os sintomas 26 apresentados não são suficientes para tal e, por isso, incluindo-se em um tipo não especificado de transtorno global. Assim, os transtornos que compõem os TGD, segundo o DSM-IV, (APA, 2003), são os seguintes: Autismo Infantil, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância e, por fim, os Transtornos Globais do Desenvolvimento sem outra Especificação. O DSM-IV apresenta uma organização mais sintética ou econômica dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, listando quatro modalidades, como se vê acima, e é a partir desta estruturação e classificação que serão seguidos os desdobramentos neste livro, inclusive, na próxima unidade, ao detalhar cada um dos transtornos. Todavia, é válido esclarecer que a CID-10 (OMS, 2008) inclui mais componentes na listagem dos TGD, acrescendo três em relação à sistematização do DSM-IV. A CID-10 acresce o Autismo Atípico, o Transtorno com Hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados e, além dos TGD sem outra especificação que o DSM-IV prevê, a CID-10 ainda inclui outros Transtornos Globais do Desenvolvimento. Para ficar mais claro, cabe apresentar, a seguir, a sistematização sobre os TGD posta pelo CID-10 (OMS, 2008): "F84 Transtornos globais do desenvolvimento: ► F84.0 Autismo infantil; ► F84.1 Autismo atípico; ► F84.2 Síndrome de Rett; ► F84.3 Outro transtorno desintegrativo da infância; ► F84.4 Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados; ► F84.5 Síndrome de Asperger; ► F84.8 Outros transtornos globais do desenvolvimento; ► F84.9 Transtornos globais não especificados do desenvolvimento." 27 Registre-se, novamente, que ao longo deste estudo será utilizada a sistematização mais sintética do DSM-IV (APA, 2003). Neste, o Autismo Atípico e Outros Transtornos Globais do Desenvolvimento, são incluídos nos Transtornos Globais do Desenvolvimento sem outra Especificação, e deixa-seo Transtorno Hipercinético restrito ao conjunto dos Transtornos de Hiperatividade, mais especificamente à classe dos Transtornos de Déficit de Atenção e de Comportamento Disruptivo, sem fechar as inúmeras variações de co-morbidades que são possíveis. Explicita- se que co-morbidade refere-se à associação de uma doença ou síndrome à uma ou mais outras doenças e/ou síndromes. Retomando, portanto, quando se fala em Transtornos Globais do Desenvolvimento, em síntese, está remetendo-se a um rol de cinco transtornos, incluido aqueles não especificados. Agora, de modo mais genérico, abarcando todas as modalidades ou tipos de alterações que constituem os Transtornos Globais do Desenvolvimento, pode-se definir a estes, de maneira geral, da seguinte forma, conforme o CID-10 (OMS, 2008): “Grupo de transtornos caracterizados por alterações qua- litativas das interações sociais recíprocas e modalidades de comunicação e por um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Estas anomalias quali- tativas constituem uma característica global do funciona- mento do sujeito, em todas as ocasiões.” Esta definição ampla ajuda a integrar os diferentes transtornos desta mesma classe de alterações globais, no intuito de agregar e apontar os aspectos comuns a estes transtornos e que permitem agrupá-los sob o mesmo fenômeno dos TGD. Foi colocada aqui a distinção e até a oposição entre estes 28 transtornos globais e aqueles específicos, descritos anteriormente. Pois bem, esta distinção também se faz necessária no que tange aos Transtornos Psiquiátricos da Infância, ou seja, igualmente se trata de aspectos distintos. Os Transtornos Psiquiátricos da Infância constituem um espectro bem mais amplo que os Transtornos Globais do Desenvolvimento, pois aqueles, a rigor, englobam todos os transtornos com início específico na fase infantil e, dentro disso, assim, incluem-se os próprios Transtornos Globais do Desenvolvimento, os Transtornos Específicos do Desenvolvimento e demais transtornos que se iniciem na infância, podendo abarcar, por exemplo, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), os Transtornos Depressivos da Infância, outros transtornos com início na infância, mas, sobretudo, aqueles transtornos cuja incidência é mais comum para a fase infantil e que, no CID-10 (OMS, 1993), encontram-se em F93 a F98.8, incluindo, em suas subdivisões, os transtornos de: ansiedade de separação, fóbicas, de rivalidade entre irmãos, sociais, de tiques, de enurese, de encoprese, alimentar, de esteriotipia, tartamudez e outros sem especificações; todos na infância, mas, alguns destes transtornos podendo também ter início na adolescência. Dessa forma, os Transtornos Psiquiátricos da Infância denominam um conjunto muito mais amplo de transtornos, referindo-se a todos aqueles tipos que se iniciam na infância; sendo que os Transtornos Globais do Desenvolvimento abarcam somente aqueles transtornos da infância mais abrangentes ou, como o próprio nome diz, com características mais globais. Portanto, estes TGD inserem-se dentro da amplitude de transtornos com início na infância, mas, não se confundem com os transtornos psiquiátricos da infância. Pôde-se verficar que está sendo utilizado bastante o termo 29 “transtorno”, o que obviamente já era previsto, haja vista ser este o tema em estudo e, neste contexto, aproveitando o ensejo das conceituações e diferenciações, é importante definir então o que é transtorno e apontar as diferenças entre transtorno, doença, síndrome e deficiência, já que constituem aspectos distintos entre si, embora, muitas vezes, possam estar relacionados e coexistindo em uma mesma pessoa, um podendo, inclusive, levar ao outro aspecto. O CID-10 (1993, p. 5) define transtorno da seguinte forma. “O termo ‘transtorno é usado por toda a classificação, de forma a evitar problemas ainda maiores inerentes ao uso de termos tais como “doença” ou “enfermidade”. “Transtorno” não é um termo exato, porém, é usado aqui para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecível associado, na maioria dos casos, a sofrimento e interferência com fun- ções pessoais. Desvio ou conflito social sozinho, sem disfun- ção pessoal, não deve ser incluído em transtorno mental, como aqui definido.” (CID-10, 1993, p. 5) Assim, portanto, se define transtorno, segundo a conceituação oficial do CID-10. Já, o termo síndrome significa um conjunto de sinas e/ou sintomas sem relação obrigatória com uma doença. O termo síndrome vem do grego syndromé ou syndromos, que designa ação conjunta, que correm juntos, que se acompanham. (REZENDE, 2004). Portanto, um conjunto de sintomas ou sinais inter- relacionados, coexistentes, que se acompanham em um conjunto integrado e que reaparece em outros casos com a mesma integração típica, ou seja, que apresenta certa incidência ou repetição deste conjunto específico de sintomas/sinais constituem, então, uma 30 síndrome, independente deste conjunto ter alguma relação com uma doença ou não. Diz-se que uma dada condição é sindrômica quando apresenta um conjunto específico de sinais e sintomas e este quadro sindrômico pode ter relação com alguma doença ou não, ou seja, pode até ser conseqüência de uma doença ou levar a uma doença, assim como também, por outro lado, pode perfazer um conjunto próprio e específico de sinais/sintomas, sem que estes indiquem, necessariamente, a presença de alguma uma doença. Isso porque doença, diferentemente de síndrome, significa um distúrbio, disfunção ou desordem funcional e estrutural de um ou mais órgãos. Trata-se de uma alteração quantitativa e/ou qualitativa, de causa externa (exógena) ou interna (endógena), congênita ou adquirida, genética ou ambiental, que compromete o bom funcionamento do organismo e que pode levar a desconforto, sofrimento ou padecimento. Inclusive, o próprio termo doença vem do latim dolentia, que significa padecimento. Além disso, para ser considerada doença, uma dada condição precisa possuir três fatores fundamentais: ► Etiologia reconhecida; ► Grupo específico e identificado de sinais e sintomas; ► Alterações morfológicas/somatoformes (anatômicas) e/ou fisiológicas, quer dizer, alterações estruturais e/ou funcionais do organismo. Atendidos estes três elementos, então, pode-se falar em doença (MELDAU, 2011). A definição de doença, conferida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e que, inclusive, tem sido alvo de inúmeras críticas de muitos especialistas, é a seguinte: 31 “Doença é qualquer perturbação ou anormalidade ob- servada no funcionamento orgânico do indivíduo ou no seu comportamento, quer no aspecto intelectual, quer do ponto de vista moral e social, de tal forma que lhe afete notavelmente aquele estado de bem-estar geral sugestivo de saúde.” (CUBAS, s/d) Tem se debatido bastante e afirmado que saúde não é apenas ausência de doença, mas algo mais amplo e complexo, pois se pode não apresentar doença e viver em condições não saudáveis de vida, como por exemplo, em ambientes de grande estresse, ou de pouca higiene e insalubre, ou em periculosidade, ou com hábitos alimentares não recomendados e potencialmente prejudiciais à saúde, uso de substâncias nocivas (mesmo sem constituir ainda uma doença de dependência química, mas iniciando a possibilidade desta), de ambientes violentos, de opressão etc. Assim, a saúde não significa apenas ausência de doença, mas a promoção de contextos saudáveis de saúde (incluindo as condições do corpo e da mente e do ambiente físico e social), que não constituam potencialidades de doenças futuras, estando relacionados aos hábitos, costumes, modus vivendis, à sensação subjetiva de bem estar e à qualidade de vida. A saúde física e mental pode ser basicamente entendida como um conjunto de características e processosdinâmicos, contextuais, conjunturais, mutáveis (porque sempre em desenvolvimento) e multifatoriais (também chamados de multideterminados, multicausais ou multidimensionais, e que incluem aspectos educacionais, ambientais, médicos, psicológicos, sociais, profissionais, de higiene, lazer etc.) que assegurem a integridade biopsicossocial de uma pessoa ou de um grupo, e assegurem a condição de bem-estar sustentável, de forma consciente, autônoma e consequente, respeitando as especificidades 32 e necessidades individuais e culturais de cada caso. Assim, a saúde pode ser entendida, muito resumidamente, como o conjunto de condições biopsicossociais que possibilitam, ao máximo possível, o bem-estar no presente e no futuro, em referência ao grupo social, aos elementos culturais e subjetivos de cada contexto, o qual define e idealiza um conceito próprio de bem-estar. De qualquer forma, definir o que é saúde tem sido um desafio e alvo de inúmeros debates entre os profissionais da área da saúde, constituindo algo extremamente polêmico e complexo; e nem cabendo aprofundar no presente contexto, pois, obviamente, escaparia aos objetivos. Mas, fez-se importante situar e apresentar ao menos uma noção básica de como se encontra tal discussão e entendimento, sobretudo porque, cada vez mais, se faz presente um diálogo, muito necessário, entre saúde e educação (principalmente quando se trata de educação especial). Esta interface é imprescindível para ambos os campos, pois educação é promoção de saúde, assim como esta é condição basal para um bom desenvolvimento daquela. Cabe esclarecer que as intervenções na área da saúde são divididas classicamente em três níveis: promoção de saúde, prevenção e reabilitação. Também são chamados, respectivamente, de intervenção primária, secundária e terciária, também de baixa, média e alta complexidade. Ainda, nesta ordem, são de baixo, médio e alto custo. A promoção também é chamada de prevenção primária e o segundo nível também é chamado de prevenção secundária. A diferença entre estes dois níveis é que, o primeiro refere-se a uma conscientização e sensibilização mais ampla e precoce, a segunda refere-se a campanhas pontuais para diminuir incidências epidemiológicas que estão sendo ou já foram registradas (como por exemplo, uma campanha contra a dengue, quando os números já mostraram ser algo preocupante). A forma mais ideal e eficiente de intervenção é a promoção de saúde, depois a prevenção e por 33 último a reabilitação. Esta é mais complexa, de resultados menos satisfatórios, de maior custo para os atendidos e para o Governo e, paradoxalmente, é de longe a forma mais usada de intervenção em todo o mundo, não só no Brasil. A reabilitação já pressupõe a presença/instalação da doença, a prevenção pressupõe a iminente preocupação com a possibilidade de doença, e a promoção pressupõe a preocupação com a saúde e não com a doença, é a preocupação com a manutenção e aperfeiçoamento das condições saudáveis de vida. Neste contexto, a educação constitui um canal fundamental de promoção de saúde. Por tudo o que foi visto até aqui já é possível compreender que saúde não é apenas a ausência de doença e que esta é diferente de síndrome. A síndrome não necessariamente precisa ter identificada sua etiologia, nem a alteração anatômico-funcional e não necessariamente compromete o bom funcionamento do organismo e nem precisa levar a condições de sofrimento e/ ou padecimento pelo acometido. Pelas definições de síndrome e de doença apresentadas anteriormente é possível identificar as diferenças conceituais. Em síntese, uma doença (também designada por enquadramento nosológico) sempre prescinde de um conjunto de sinais e sintomas (não se resumindo a estes, mas incluindo estes); enquanto que, por outro lado, apenas um conjunto específico de sinais e sintomas (e que constitui uma síndrome), não necessariamente irá compor ou caracterizar uma doença. Por exemplo: a síndrome de Estocolmo (onde a vítima identifica-se e cria um vínculo afetivo com seu sequestrador) possui sintomatologia específica, mas não constitui uma doença, pois não tem alteração anatômica e nem funcional, não se sabe ao certo a origem ou causa desta identificação com a vítima e não levou a padecimento da pessoa, pelo contrário, podendo até ajudar na soltura da vítima. Por outro lado, muitas vezes, uma síndrome pode sim vir correlacionada com uma doença. Por exemplo: a síndrome 34 de Down pode levar a uma cardiopatia; a síndrome de Burnout (estresse específico do trabalho) pode levar à doença mental da depressão ou de uma farmacodependência; uma síndrome autística pode levar à doença mental da psicose; um transtorno de estresse grave pode levar à síndrome da epilepsia (a qual, equivocadamente, é considerada uma doença, mas na verdade, é uma síndrome, isto é, um conjunto de sinais/sintomas que podem ser comuns a variadas e distintas doenças), uma doença de dependência química pode levar a uma síndrome amnestésica (memória remota comprometida com memória imediata preservada); um quadro de esquizofrenia pode levar a uma síndrome de despersonalização-desrealização, entre vários outros exemplos. Dessa forma, é perfeitamente possível haver uma doença instalada, sem a presença de uma síndrome (como no caso de uma depressão, por exemplo), ou também pode haver uma síndrome sem doença associada (como no caso de uma síndrome epilética, isolada (CID-10 G40), sem associação a nenhuma enfermidade; ou uma síndrome da fadiga pós-viral (G93.3) ou uma síndrome dolorosa do membro fantasma (G54.6), na qual, mesmo após perder um membro, a pessoa sente dores com a sensação de provirem do local amputado; entre vários outros exemplos de síndromes não associadas a nenhuma doença (CID-10, 2008). Por outro lado, uma mesma síndrome pode vir associada a várias doenças distintas, ou seja, não havendo correlação automática e nem exclusiva com nenhuma doença específica. Os sinais e sintomas podem ser patognomônicos (próprios ou exclusivos de uma doença específica; por exemplo, ter uma autoimagem de obesa, enquanto se tem uma magreza extrema, sendo isso patognomônico da anorexia, isto é, não presente em outros quadros) ou podem constituir um conjunto específico de sintomatologia que pode estar presente em variadas e distintas enfermidades; ou ainda, pode constituir um conjunto de sinais/ 35 sintomas que não tenham relação alguma com nenhuma doença, sendo apenas um conjunto de características específicas e identificáveis em seu conjunto, mas que não necessariamente leva a alguma enfermidade à pessoa. Pelo fato dos termos sinais e sintomas serem frequentes no presente estudo, cabe esclarecer sobre eles: ► Sinais: referem-se às marcas, mensagens não-verbais, atos, pis- tas e informações que o profissional (ou cuidador, ou familiar etc.) percebe na pessoa avaliada. Os sinais são dados percebidos ou iden- tificados por outrem e que sugerem ou indicam estados, alterações, condições, que podem ser interpretados e conferidos certas signi- ficações. A própria pessoa não identifica e não verbaliza nada, mas um familiar, um amigo, um educador ou um profissional da área de saúde desconfia ou reconhece determinado sinal como sendo sugestivo de uma determinada doença, por exemplo. ► Sintomas: referem-se a tudo aquilo que a pessoa relata sobre seu próprio estado, suas condições físicas e/ou mentais; constituem as queixas dos pacientes; as sensações que o próprio avaliado identifi- ca em si, sendo, portanto, de natureza subjetiva. Deste modo, quando se afirma que uma síndrome é um conjunto de sinais e sintomas, estamos referindo-nos a um conjunto de informações sobre o estado de saúde da pessoa, identificadas pelo avaliador ou pelo próprio avaliado. Entrementes, determinados sinais e sintomas podem ser indicativos de doença ou não. O fatode um educador conhecer os sintomas de determinadas síndromes e transtornos, certamente contribui para que ele identifique mais rapidamente e dê o direcionamento ou encaminhamento mais adequado para o seu aluno. Obviamente que o educador não poderá efetuar um diagnóstico clínico, mas, poderá reconhecer ou compreender melhor determinadas dificuldades no contexto de seu aluno, proceder ao encaminhamento correto para o 36 profissional especializado e, sobretudo, estar mais instrumentalizado ou habilitado a lidar de modo pedagogicamente assertivo com este aluno em seu contexto educacional. Ainda faz-se mister explanar que, assim como doença e síndrome são aspectos distintos, da mesma forma, diferenciam-se de deficiência. Em outras palavras: doença, síndrome e deficiência são condições e situações distintas, com definições e conceituações também distintas. Tendo definido e distinguido doença e síndrome, anteriormente, agora, cabe discorrer então sobre o conceito de deficiência; mesmo porque, muitas vezes, um transtorno global do desenvolvimento pode vir acompanhado de uma alguma deficiência, em especial a deficiência mental, porém, não necessariamente havendo a presença desta em todos os casos. Abordando mais especificamente a deficiência mental, conforme definição do DSM-IV (DORNELLES, 2002, p. 73), a deficiência intelectual caracteriza-se por um funcionamento intelectual significativamente inferior à média, que existe com limitações associadas em duas ou mais das seguintes áreas de habilidade adaptativa: comunicação, autocuidado, vida no lar, habilidades sociais, utilização da comunidade, autodireção, saúde e segurança, habilidades acadêmicas funcionais, lazer e trabalho. A deficiência intelectual, como transtorno do desenvolvimento, deve manifestar-se antes dos dezoito anos de idade. A deficiência intelectual constitui um transtorno do desenvolvimento e, portanto, se déficits cognitivos são identificados após os dezoito anos de idade (após o ciclo médio de desenvolvimento e de amadurecimento mais significativo das estruturas psíquicas do indivíduo), então, não poderá ser considerada uma deficiência intelectual, pois não será um transtorno no desenvolvimento das faculdades psicointelectivas e, assim, poderá ser algum tipo de demência ou outras formas de afetação do intelecto devido a 37 alguma doença mental. Desse modo, somente atendendo precisamente à definição supracitada é que poderá ser considerada uma condição de deficiência intelectual. Ao contrário do que muitos pensam, de que qualquer pessoa com atrasos ou dificuldades no raciocínio, poderá ser chamada de retardada ou com deficiência mental, como foi visto, isso é um equívoco: existem definições e conceituações precisas, bem delimitadas e condicionadas, do que pode vir a configurar uma deficiência intelectual. Inclusive, quando um aluno apresenta muitas dificuldades escolares, vulgarmente podem considerá-lo com certa deficiência intelectual, mas, pode estar apresentando, entre outras hipóteses, por exemplo, distúrbios de aprendizagem, como discalculia, disgrafia, dislexia (integrantes dos transtornos específicos de aprendizagem) ou um transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, ou mesmo, poderia apresentar uma deficiência auditiva ou visual ainda não identificada e que influi na aprendizagem, ou mesmo problemas afetivos (advindos, por exemplo, de um contexto familiar desfavorável) e que possa afetar negativamente na aprendizagem, entre outras hipóteses possíveis. Portanto, é preciso sempre muita cautela antes de rotular qualquer pessoa com a característica de deficiência mental, sobretudo quando se trata de profissionais da área, que se pressupõe serem preparados para lidarem com tais públicos e não emitirem juízos precipitados que nada venham a colaborar no desenvolvimento daquela pessoa. Partindo da visão da vertente da Psicologia Histórico- Cultural, tem-se o imperativo de “conceber a deficiência como uma construção social e não como algo intrínseco ao sujeito, enxergar o contexto escolar como um sistema social complexo de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos que deles participam”. (MARTÍNEZ, 2005, p. 98 apud ANACHE, 2005, p. 13) Nessa concepção, portanto, destacam-se a necessidade e 38 a importância da mediação no desenvolvimento ontogenético dos sujeitos e, dessa forma, o termo pessoa que apresenta deficiência intelectual refere-se, nesta visão, a toda pessoa que, por razões biológicas ou sociais, congênitas ou adquiridas, necessite de recursos e instrumentos específicos (subjetivos ou objetivos) para um determinado nível de desenvolvimento psicossocial que lhe habilite construir, da melhor maneira possível, a sua própria autonomia como pessoa e como sujeito de sua própria vida, enquanto mecanismos intencionais compensatórios do déficit apresentado. A deficiência, ainda que possua uma base orgânica denominada de deficiência primária, também está necessariamente relacionada à forma específica como se desenvolveu o processo de ensino-aprendizagem (seja este formal ou informal), enquanto acúmulo social de conhecimento teórico e prático da humanidade, ou seja, também possui um aspecto relacional e social, denominado de deficiência secundária, sobre a qual cabe à Educação Especial intervir, no aspecto formal, sistemático e metódico do processo de ensino-aprendizagem. Assim, torna-se incoerente falar da pessoa com deficiência de forma descontextualizada, sem se remeter ao contexto da Educação Especial e ao processo de ensino-aprendizagem no qual a pessoa insere-se. Trata-se, pois, de um diálogo inseparável e somente nessa visão relacional e educativa da deficiência intelectual é que se podem vislumbrar avanços, superações e saltos qualitativos, os quais são, indubitavelmente, os maiores objetivos dos que estão envolvidos na e com a Educação Especial. Dados censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2000, indicam que 8,3% dos tipos de deficiência são de natureza intelectual, o que equivale a 2.844.936 pessoas (sendo 1.545.462 homens e 1.299.474 mulheres). Com relação à etiologia, especificamente, da deficiência intelectual, os 39 dados censitários ressaltam que muitas vezes (em 42% dos casos), mesmo com a utilização de sofisticados recursos diagnósticos, não é possível definir com clareza a etiologia da deficiência intelectual, pois ela, invariavelmente, decorre de inúmeras e complexas causas, que englobam fatores genético-cromossômicos (29%), hereditários (19%) e ambientais (10%), segundo o censo supracitado (IBGE, 2000 apud INSTITUTO INDIANÓPOLIS, s.d.). Em geral, são feitas muitas confusões conceituais e terminológicas entre deficiência intelectual e doença mental. Essa última, porém, caracteriza-se por ser uma variação mórbida do normal, capaz de produzir prejuízo no desempenho global da pessoa nos âmbitos social, ocupacional, familiar e pessoal. Dessa forma, se na deficiência o indivíduo apresenta desenvolvimento intelectual reduzido ou incompleto, não dispondo, por conseguinte, de instrumentos necessários à boa compreensão de todas ou de parte das coisas, na doença ou no transtorno mental, detém os instrumentos intelectuais necessários, os quais, entretanto, apresentam funcionamento comprometido. Dito de outra forma, na deficiência há um déficit, uma perda, uma falta total ou parcial de elementos ou funções intelectuais. Esse déficit é decorrente de alterações no desenvolvimento infanto-juvenil. Já, na doença, não há perda ou falta de elementos intelectuais, pois estes existem, ou já se desenvolveram conforme as médias da faixa etária e da cultura em que se encontram, apenas, esses elementos intelectuais estão comprometidos ou disfuncionais, independente da idade da pessoa, segundoa definição e diferenciação da Associação Americana de Deficiência Mental (AADM ou, em inglês, AAMR) (INSTITUTO INDIANÓPOLIS, s.d.). Não obstante, na definição e diferenciação adotada pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC) do Brasil, e explicitada também pela Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande (SEMED), MS, em suas divulgações, a deficiência intelectual e a doença 40 mental distinguem-se porque na primeira, a pessoa acometida não apresenta a percepção de si e da realidade e, portanto, não pode, juridicamente, tomar decisões por si, já na doença mental, pode legalmente fazê-lo. No entanto, cerca de 20% a 30% dos casos de deficiência intelectual apresentam associação com algum tipo de doença mental, como a síndrome do pânico, a depressão, a esquizofrenia, entre outros. Todavia, as doenças mentais podem afetar negativamente outras áreas do funcionamento psíquico, que não só a inteligência, necessariamente, mas, por exemplo, o humor, a capacidade de concentração, a motricidade, a criatividade, o pensamento etc. (CAMPO GRANDE, 2004) Desse modo, doença não se confunde com deficiência e esta também não se confunde com síndrome. Nem toda síndrome vem associada a uma deficiência intelectual, por exemplo, uma Síndrome Autística ou uma Síndrome de Asperger pode apresentar-se sem deficiência intelectual, assim como esta também pode apresentar-se sem associação a nenhuma síndrome e a nenhuma doença. Para que fique mais clara a explicação sobre o conceito de Transtornos Globais do Desenvolvimento e as diferenciações conceituais envolvidas ou circunscritas a esta temática em discussão, vale remeter-se às elucidações que o CID-10 (1993, p. 246-247) apresenta: “Esse grupo de transtornos é caracterizado por anormalida- des qualitativas em interações sociais recíprocas em padrões de comunicação e por um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Essas anormalidades qua- litativas são um aspecto [global] do funcionamento do indi- víduo em todas as situações, embora possam variar em grau. Na maioria dos casos, o desenvolvimento é anormal desde a infância e, com apenas poucas exceções, as condições manifes- tam-se nos primeiros 5 anos de vida. É usual, mas não invari- 41 ável, haver algum grau de comprometimento cognitivo, mas os transtornos são definidos em termos de comportamento que é desviado em relação à idade mental (seja o indivíduo retardado ou não). Há algum desacordo quanto à subdivisão desse grupo global de transtornos do desenvolvimento. Em alguns casos, os transtornos estão associados, e são pre- sumivelmente decorrentes, a alguma condição médica das quais espasmos infantis, rubéola congênita, esclerose tuberosa, lipoidose cerebral e anomalia da fragilidade do cromossoma X estão entre as mais comuns. Entretanto, o transtorno deve ser diagnosticado com base nos aspectos comportamentais, independente da presença ou ausência de quaisquer condições médicas associadas; qualquer condição associada deve, toda- via, ser codificada separadamente. Se um retardo mental está presente, é importante que ele também seja codificado à par- te, sob F70 – F79, porque ele não é um aspecto universal dos transtornos [globais] do desenvolvimento.” Deve-se registrar, aqui, que se percebem determinadas desatualizações terminológicas na passagem em questão e que, porém deve ser licenciosa nisso, dada a dinâmica das pesquisas científicas e das mudanças constantes; e, neste sentido, onde se lê retardo mental, leia-se deficiência intelectual, pois no presente contexto adota-se tal nomenclatura, pois o termo “retardo” mental, já foi abolido pela comunidade científica pelo seu aspecto depreciativo a que acabou, com o tempo, constituindo-se no imaginário popular e, também, optou-se pelo termo deficiência intelectual ao invés de deficiência mental, pois, além de mais atual, o termo deficiência mental apresenta-se muito generalizante, na medida em que a mente constitui a totalidade dos aspectos subjetivos individuais, e no caso em questão, não se trata de toda uma mente comprometida, mas apenas um de seus aspectos: o 42 intelecto. Assim, o termo “intelectual” delimita melhor e retira a ideia de comprometimento completo da totalidade subjetiva do sujeito. Ainda, conforme já se sabe, a partir de mecanismos compensatórios e da neuroplasticidade cerebral, o psiquismo é capaz de remodelação e superação, portanto, não é toda a mente que apresenta déficit, apenas o aspecto intelectual que, ainda assim, pode ser compensado. Portanto, com a terminologia “intelectual”, não se colocam a afetividade, a sensopercepção, o comportamento motor, entre outros aspectos, todos no mesmo patamar. 43 Síntese da Unidade Sintetizando tudo o que foi visto até aqui sobre conceituação dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, pode- se afirmar que compõem os transtornos psiquiátricos da infância, mas, sendo distintos destes; que possui a característica oposta aos dos transtornos específicos do desenvolvimento psicológico, e que é justamente a sua globalidade; que abarca um conjunto de quatro tipos de transtornos: Autismo, Transtorno de Asperger, Transtorno de Rett e Transtorno Desintegrativo da Infância, além de outros transtornos globais do desenvolvimento não especificados. Ainda, viu-se que síndrome difere-se de doença e de deficiência e que nem sempre estão necessariamente associados. Pode haver uma síndrome sem deficiência intelectual, sendo a recíproca verdadeira. Viu-se, ainda, que o termo “invasivo” vem sendo substituído pelo termo “global”, também sobre os parâmetros e referenciais universais do CID-10; as ressalvas e cautelas necessárias no uso desta codificação padronizada nos diagnósticos, sem um olhar problematizador para cada caso, sendo que tal instrumento deve servir somente como um norteador, não como uma bíblia ou fórmula mágica, na qual tudo tem de enquadrar-se; por outro lado, também não pode ser descartado enquanto ferramenta auxiliar na condução das intervenções e no entendimento das diversas alterações já catalogadas pela ciência ao longo da história, em diferentes partes do mundo. Viu-se que estes transtornos globais do desenvolvimento vem catalogado no CID- 10 em F84 e também que os TGD caracterizam-se sobremaneira pelo comprometimento nas interações sociais e na comunicação. De modo suscinto pode-se afirmar que: “Os transtornos “globais” do desenvolvimento constituem um grupo de condições psiquiátricas nas quais as habilida- 44 des sociais, o desenvolvimento da linguagem e o repertório comportamental esperados não se desenvolvem adequada- mente ou são perdidos no início da infância. Em geral, os transtornos afetam múltiplas áreas do desenvolvimento, manifestam-se precocemente e causam disfunção persisten- te.” (KAPLAN; SADOCK; GREBB, 1997, p. 979) Enfim, a partir de tais elementos básicos e introdutórios, concernentes à conceituação acerca da temática, é possível iniciar uma melhor compreensão sobre o assunto e, assim, aprofundar um pouco nas próximas unidades. Neste sentido, na unidade a seguir serão vistos separadamente, mais de perto, cada transtorno que compõe o grupo ou categoria dos Transtornos Globais do Desenvolvimento. Exercícios Propostos Com base no que foi visto nesta unidade, realize as atividades pro- postas a seguir, com vistas a avaliar a sua compreensão do conteú- do, a aprofundá-la através das reflexões que as atividades exigem e a fixar melhor o seu estudo. Seguem os exercícios, boa sorte! 1. O que você pensa a respeito das discussões terminológicas exis- tentes dentro da Educação Especial? Você considera importante a preocupação com a escolha das nomenclaturas que designam as pessoas com alterações significativas no curso do desenvolvimen- to? Por quê? 2. O que vem a ser o CID-10, o DSM-IV e o CIF e quais as 45 ressalvas ou cautelas são necessárias ao considerá-los como re-ferenciais na identificação, reconhecimento e entendimento dos transtornos mentais? 3. Você considera que o educador possui a responsabilidade de re- alizar diagnósticos de saúde mental e que está autorizado profissio- nalmente para isso? E para que serve ao educador a caracterização mais elementar dos transtornos globais do desenvolvimento, apre- sentada nesta unidade? 4. Quando se fala em encaminhamento, no contexto escolar, a que está se referindo e o que isso significa? 5. Em que consistem os Transtornos Globais do Desenvolvimento? 6. Qual a definição genérica dos Transtornos Globais do Desenvol- vimento, segundo a CID-10 (OMS, 2008)? 7. Em que se diferem os Transtornos Psiquiátricos da Infância e os Transtornos Globais do Desenvolvimento? 8. Foi visto, nesta unidade, importantes distinções conceituações entre os transtornos específicos do desenvolvimento, os transtor- nos psiquiátricos da infância e os transtornos globais do desenvol- vimento, assim como entre doença, deficiência, síndrome, mos- trando que não correspondem ao mesmo aspecto e nem sempre “andam juntos”, necessariamente. Diante disso, dê no mínimo dois exemplos de síndrome não associada a nenhuma doença? 46 9. Defina o que são sinais e o que são sintomas? 10. Reflita e responda as seguintes questões: a) Em que contribui para um educador, no bom desempenho de suas funções, conhecerem os sintomas de determinadas síndromes e transtornos? b) Imagine você atuando em uma sala, em um contexto inclusivo, junto a pessoas com transtornos globais do desenvolvimento. Ago- ra, se existem, quais os receios e ansiedades ocorrem-lhe à mente? Você acha que conseguiria atuar de modo eficiente e, se não, por que não? Quais seriam as suas possíveis dificuldades pessoais? Re- flita sobre isso e, a partir das perguntas feitas nesta questão, elabore uma redação, de modo a organizar e explicitar aquilo que você sente e pensa a respeito do tema. 48 DIFERENTES COMPREENSÕES DO AUTISMO, SÍNDROME DE ASPERGER, SÍNDROME DE RETT, TRANSTORNO DESINTEGRATIVO DA INFÂNCIA E OUTROS TRANSTORNOS GLOBAIS NÃO ESPECIFICADOS Unidade2 51 Caro(a) aluno(a) Seja bem-vindo (a)! Nesta segunda unidade, daremos explicações sobre cada um dos quadros de alterações mental-comportamentais que com- põem os Transtornos Globais do Desenvolvimento, abordando também as diferentes compreensões teóricas existentes sobre tais transtornos. Esperamos que você familiarize-se com o tema, já aprofundando um pouco mais nesta segunda unidade, e que tal leitura possa despertar aos poucos seu interesse pelo assunto, cada vez mais. Tenha bons estudos. Até... 53 2. DIFERENTES COMPREENSÕES DO AUTISMO, SÍNDROME DE ASPERGER, SÍNDROME DE RETT, TRANSTORNO DESINTEGRATIVO DA INFÂNCIA E OUTROS TRANSTORNOS GLOBAIS NÃO ESPECIFICADOS Tendo visto na unidade anterior sobre a conceituação bási- ca concernente aos Transtornos Globais do Desenvolvimento, cabe agora analisar separadamente cada um dos transtornos que compõe os TGD e que, como foi visto, são: Autismo, Síndrome de Asper- ger, Síndrome de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, e os Transtornos Globais do Desenvolvimento não Especificados. Por- tanto, seguem abaixo explanações sobre estes transtornos, inician- do pelo transtorno autista. Para tanto, será utilizado como base ou parâmetro o DSM-IV (APA, 2003, p. 66-70), pois conforme visto na unidade anterior apresenta direcionamentos sintéticos reconhe- cidos internacionalmente. Assim, pode-se afirmar que, para que uma pessoa seja de- signada como apresentando determinado quadro de um dos trans- tornos globais descritos a seguir, é necessário satisfazer os seguintes critérios dos referenciais estabelecidos do DSM-IV (APA, 2003, p. 66-70): Transtorno Autista a) Um total de seis ou mais aspectos dos itens 1), 2) e 3), com pelo menos dois do item 1), um do item 2) e um do item 3): 54 1. Comprometimento qualitativo da interação social, manifestado por pelo menos dois dos seguintes aspectos: a) Comprometimento acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais, tais como contato visual direto, expressão facial, postu- ras corporais e gestos para regular a interação social; b) Fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares, próprios do nível de desenvolvimento; c) Ausência de tentativas espontâneas de compartilhar prazer, inte- resses ou realizações com outras pessoas (por exemplo, não mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse); d) Ausência de reciprocidade social ou emocional. 2. Comprometimento qualitativo da comunicação, manifestado por pelo menos um dos seguintes aspectos: a) Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada (não acompanhado por uma tentativa de compensar por meio de mo- dos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímicas); b) Acentuado comprometimento da capacidade de iniciar ou manter uma conversa em indivíduos com fala adequada; c) Uso estereotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem idios- sincrática; d) Ausência de jogos ou brincadeiras de imitação social, variados e espontâneos próprios do nível de desenvolvimento; e) Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e ativi- dades, manifestados por pelo menos um dos seguintes aspectos; f) Preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse, anormais em intensidade ou foco; g) Adesão aparentemente inflexível a rotinas ou rituais específicos e não-funcionais; h) Maneirismos motores estereotipados e repetitivos (por exemplo: agi- tar ou torcer mãos ou dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo); i) Preocupação persistente com partes de objetos. 55 b) Atrasos ou funcionamento anormal em pelo menos uma das se- guintes áreas, com início antes dos 3 anos de idade: a) Interação social; b) Linguagem para fins de comunicação social ou c) Jogos imaginati- vos ou simbólicos. c) A perturbação não é mais bem explicada por Transtorno de Rett ou Transtorno Desintegrativo da Infância. Transtorno de Rett a) Todos os quesitos abaixo: 1. Desenvolvimento pré-natal e perinatal aparentemente normal; 2. Desenvolvimento psicomotor aparentemente normal durante os pri- meiros cinco meses da vida; 3. Perímetro cefálico normal ao nascer. b) Início de todas as seguintes características após o período de desen- volvimento normal: 1. Desaceleração do crescimento cefálico entre a idade de 5 a 48 meses; 2. Perda de habilidades manuais voluntárias anteriormen- te adquiridas entre a idade de 5 a 30 meses, com o desen- volvimento subsequente de movimentos estereotipados das mãos (por exemplo: gestos como torcer ou lavar as mãos); 3. Perda do envolvimento social no início do transtorno (embora, em geral, a interação social desenvolva-se posteriormente); 4. Incoordenação da marcha ou dos movimentos do tronco; 5. Desenvolvimento das linguagens expressiva ou receptivo severa- mente comprometido, com severo retardo psicomotor. 56 Transtorno Desintegrativo da Infância a) Desenvolvimento aparentemente normal durante pelo menos os 2 primeiros anos de vida, manifestado pela presença de comunicação verbal e não-verbal, relacionamentos sociais, jogos e comportamento adaptativo próprios da idade. b) Perda clinicamente importante de habilidades já adquiridas (an- tes dos 10 anos) em pelo menos duas das seguintes áreas: 1. Linguagem expressiva ou receptiva; 2. Habilidades sociais ou comportamento adaptativo; 3. Controle esfincteriano; 4. Jogos; 5. Habilidades motoras; C) Funcionamento anormal em pelo menos duas das se- guintes áreas: 1. Comprometimento qualitativo da interação social (por exemplo, comprometimento de comportamentos não-ver- bais, fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares, falta de reciprocidade social ou emocional); 2. Comprometimento qualitativo da comunicação (por exemplo, atraso uo ausência de linguagem falada, fracasso em iniciar ou manter uma conversa, uso estereotipado e repetiti- vo da linguagem, ausência de jogosvariados de faz de conta; 3. Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de compor- tamento, interesses e atividades, incluindo estereotipias motoras e maneirismos; d) A perturbação não é mais bem explicada por outro Transtorno Global do Desenvolvimento específico ou por Esquizofrenia. 57 Transtorno de Asperger a) Comprom etimento qualitativo da interação social, manifestado por pelo menos dois dos seguintes quesitos: 1. Comprometimento acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais, tais como contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a interação social; 2. Fracasso em desenvolver relacionamentos próprios do nível de desenvolvimento com seus pares; 3. Ausência de tentativas espontâneas de compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas (por exemplo, não mostrar, trazer ou apontar objetos de inte- resse a outras pessoas); 4. Ausência de reciprocidade social ou emocional. b) Padrões repetitivos e estereotipados de comportamen- to, interesses e atividades, manifestados por pelo menos um dos seguintes quesitos: 1) Insistente preocupação com um ou mais padrões estereoti- pados e restritos de interesses, anormal em intensidade ou foco; 2) Adesão aparentemente inflexível a rotinas e a rituais específicos e não-funcionais; 3) Maneirismos motores estereotipados e repetitivos (por exemplo, dar pancadinhas ou torcer as mãos ou os dedos, ou movimentos complexos de todo o corpo); 4) Insistente preocupação com partes de objetos. C) A perturbação causa comprometimento clinicamente importante nas áreas social e ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento. d) Não existe um atraso geral clinicamente importante na linguagem (por exemplo, utiliza palavras isoladas aos 58 2 anos, frases comunicativas aos 3 anos). e) Não existe um atraso clinicamente importante no desen- volvimento cognitivo ou no desenvolvimento de habilida- des de autocuidados próprios da idade, no comportamento adaptativo (outro que não na interação social) e na curiosi- dade acerca do ambiente na infância. F) Não são satisfeitos os critérios para outro Transtorno Global do Desenvolvimento ou Esquizofrenia. Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação (incluindo autismo atípico) Esta categoria deve ser usada quando existe um comprometi- mento grave e global do desenvolvimento da interação social recíproca ou de habilidades de comunicação verbal ou não- -verbal, ou na presença de estereotipias de comportamento, interesses e atividades, sem que sejam satisfeitos os critérios para um Transtorno Global do Desenvolvimento específico, Esquizofrenia, entre outros transtornos. Esta categoria inclui o Autismo Atípico, que não satisfaz os critérios para Trans- torno Autista em vista da idade tardia de seu início. Basicamente, estas são as descrições caracteriológicas de cada um dos cinco transtornos (incluindo aqueles sem especificação) que compõem os Transtornos Globais do Desenvolvimento. Esta descrição básica é útil para o cotidiano profissional, por ser mais prática e econômica, para recapitulações rápidas, para situar, retomar, introduzir um entendimento do assunto (para um aprofundamento melhor posteriormente), oferecendo um direcionamento mais pragmático e objetivo na definição de cada 59 um dos transtornos globais. Não obstante, faz-se necessário ir um pouco, além disso, e detalhar mais sobre cada um destes transtornos, oferecendo uma visão mais ampla, que possa problematizar e embasar de modo também analítico, e não somente técnico, a temática aqui em foco, ainda que de modo sintético e, indubitavelmente, ao longo da atuação profissional ou mesmo de continuidade acadêmica, far-se-á necessário maiores aprofundamentos, pois impossível esgotar o assunto nesta obra, e nem é o objetivo desta, mas o de disponibilizar noções básicas, as quais seguem, separadamente, para cada Transtorno Global do Desenvolvimento: a) Transtorno Autista: há quase sete décadas estuda-se o autismo, que foi descrito pela primeira vez em 1942 pelo Dr. Leo Kanner (médico austríaco, residente nos EUA) no seu histórico artigo em inglês: Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo, onde descreve onze casos, dos quais o primeiro, Donald T., chegou até ele em 1938. Em 1934, Hans Asperger (outro médico austríaco) escreveu em alemão outro artigo: Psicopatologia Autística da Infância. Assim, Asperger e Kanner foram os primeiros identificadores do autismo (ROSALINO, 2003). Para alguns autores, o que realmente diferenciaria a Síndrome de Asperger de uma simples forma atenuada de Autismo seriam as elevadas habilidades cognitivas da pessoa com transtorno de Asperger, além das funções de linguagem, aparentemente normais nesta, se comparadas com as demais do espectro contido no Autismo Clássico. No entanto, esta não é uma definição oficial da Síndrome de Asperger, pois, a rigor, é concebida e tratada como um transtorno distinto e independente do grau ou atenuação em referência ao Transtorno Autista, porém é fato que existem muitas similaridades com o Autismo sem deficiência mental e o Autismo de Alto Funcionamento, o qual constitui uma forma mais atenuada 60 de autismo nas funções intelectivas, afetivas e sociais. Inclusive, Klin & Volkmar (1995 apud Rosalino, 2003) afirmam que no que o autismo de alto funcionamento difere ou não do Transtorno de Asperger ainda é uma questão não resolvida. De cada 1000 crianças, 1 ou 2 são autistas, sua incidência é de 2 a 4 vezes mais frequente no sexo masculino e tem sido encontrado em todo o mundo, em famílias de todas as raças, classes sociais e étnicas. Com relação às classes sociais, destaca-se que: “Os primeiros estudos sugeriam que uma situação socioe- conômica elevada era comum nas famílias com crianças autistas, entretanto esses achados eram baseados, provavel- mente, em tendências do encaminhamento. Nos últimos 25 anos, uma proporção crescente de casos tem sido encon- trada nos grupos de baixa situação socioeconômica. Isto pode muito bem ser devido a uma maior conscientização sobre a síndrome e à disponibilidade aumentada de profis- sionais da saúde mental para crianças pobres.” (KAPLAN, SADOCK & GREBB, 1997, p. 979) Destaca-se ainda que, estatisticamente, no Brasil, devem existir de 65.000 a 195.000 autistas. Estima-se que em 30% dos casos de autismo ocorre epilepsia (mais comum no começo da vida ou na adolescência). Cerca de 10% a 15% dos casos de autistas conseguem chegar num nível de possibilidade de trabalho. Enquanto na Síndrome de Down o QI médio é de 64, na Síndrome Autista o QI médio é de 82 (ressalvando, contudo, que a psicometria tem sido muito questionada, não cabendo, porém entrar no mérito desta questão no presente contexto). (ROSALINO, 2003) O Autismo não piora com o tempo, não é progressivo. 61 Alguns autores apontam até que na fase adulta possam ocorrer melhoras. O curioso é que os adultos autistas tendem a parecer sempre mais jovens do que realmente são (talvez por se utilizarem de poucas expressões faciais, preservando a face íntegra). Pessoas autistas têm um tempo de vida normal (ROSALINO, 2003). Quanto aos sintomas ou sinais, há uma tríade que caracteriza o autismo, baseada em três alterações: na comunicação, na interação social e na imaginação. De modo mais detalhado, as características do autismo ainda podem abarcar os seguintes aspectos (não necessariamente todos estes): 1 ► Dificuldade significativa e generalizada para estabelecer relações sociais; ► Atraso na aquisição da linguagem, criando obstáculos para a compreensão, a representação da realidade (atribuir sentido e significado aos objetos, bem como de relacioná-los) e a generalização; ► Ecolalia tardia (quando apenas repete verbalmente aquilo que ouviu há horas ou há dias) e/ou ecolalia imediata (repete o que acabou de ser dito), e inversão pronominal (não fala sobre si em primeira pessoa, refere-se a si mesmoem terceira pessoa); ► Fenômenos ritualistas ou compulsivos; ► Movimentos repetitivos e estereotipados, configurando maneirismos, principalmente de mãos e dedos; ► Condutas autolesivas ou de autoflagelação (não presentes em todos os casos); ► Atraso no controle esfincteriano (não presentes em todos os casos); ► Apego a rotinas e aversão a mudanças; ► Bom desempenho da memória, problemas de coordenação motora e fixações por objetos ou coisas peculiares tais como 1 Idem, 2003. 62 calendários, animais pré-históricos, planetas, bíblia, lista telefônica, castelos etc. (não presentes em todos os casos – tanto em relação à memória e à psicomotricidade quanto às fixações, as quais podem ter inúmeras variações objetais); ► Risos e gargalhadas inadequadas, assim como crises e choros por razões não discerníveis; aversão a contatos afetivos como abraço; não manter contato visual; ausência de medo a perigos reais; usar as pessoas como ferramentas para conseguir o que quer (empurrando alguém para pegar um copo para ele, por exemplo); ► Focalização excessiva em detalhes, havendo, portanto, alta distratibilidade: é como se todas as sensações fossem igualmente novas e excitantes, o que dificulta a sua concentração, ou a centraliza em detalhes. (...) “eles podem se concentrar na visão do fio de linha que está balançando enquanto atravessam a rua, e não perce- ber a aproximação de um ônibus que estiver chegando; ou eles podem entrar em uma sala e comentar sobre os sons dos ventiladores, ignorando o fato de que o almoço está na mesa.” (MESIBOV & SHEA, p.2 apud ROSALINO, 2003) ► Incapacidade de sequenciar e de compreender o sentido das etapas em relação ao objetivo final; ► Incapacidade de generalizar: se aprendem a escovar os dentes com uma escova azul, podem resistir a escovar depois com uma escova de dentes verde, ou podem aprender a lavar copos sem perceber que o mesmo procedimento básico é usado para lavar pratos, por exemplo; ► Forte impulsividade e ansiedade excessiva; ► Anormalidades senso-perceptivas: alguns autistas têm, por exemplo, assincronismo auditivo (ouve primeiro com um ouvido e 63 depois com o outro) que pode chegar até um segundo; ► Sensibilidade altamente aguçada (seja tátil, auditiva, visual, olfativa, gustativa, postural, de equilíbrio, dor ou uma combinação destes). Ainda, em alguns casos, pode haver atraso na dominância cerebral e lateralidade, ou seja, a criança pode permanecer ambidestra em uma idade em que as crianças já apresentam uma dominância cerebral estabelecida. (KAPLAN, SADOCK & GREBB, 1997, p. 980) Além destas características (não obrigatórias para a identificação de um transtorno autista), ainda, em grande parte dos casos vem associado com outras patologias, o que dificulta um diagnóstico mais exato, a identificação dos sintomas e um tratamento mais especializado e eficaz. Isso ocorrendo mesmo com o autismo sendo, entre todos os transtornos globais, o que apresenta maior acúmulo na literatura especializada. Entre os achados das pesquisas neuroanatômicas foi sugerido, embora não comprovado, anormalidades no lobo temporal, com base em observação comparativa de lesão nesta área em animais. Outro apontamento concerne ao número diminuído de células de Purkinje no cerebelo e, entre as pesquisas bioquímicas, foi encontrado um nível elevado de serotonina em 1/3 das pessoas autistas pesquisadas, sem deficiência associada, mas não sendo isso específico do autismo, pois o mesmo se encontrou, por exemplo, em pessoas com deficiência mental sem autismo (KAPLAN, SADOCK & GREBB, 1997, p.980). Portanto, são dados não passíveis de atribuir causalidade direta ao transtorno. Quanto às causas do autismo, é algo que vem sendo pesquisado e que deve ainda ser melhor esclarecido, havendo divergências teóricas neste sentido. Existem teorias sócio-afetivas que tentam dar soluções defendendo uma causa pós-natal (baseada em traumas ou experiências ambientais desencadeantes e 64 determinantes) e outras – mais aceitas atualmente – defendendo uma gênese pré-natal neurológica (baseada na constatação de alterações em autistas na função da dopamina, nos efeitos do estresse sobre a epinefrina – popularmente conhecida como adrenalina – e principalmente sobre o tamanho reduzido do cerebelo, o que comprometeria funções como: orientação, mudança, distribuição de atenção, capacidade de converter sinais aferentes em impulsos eferentes organizados, entre outros aspectos). O fato é que existem muitas divergências quanto à etiologia e à dinâmica do transtorno em questão. Inclusive, há alguns autores que enquadram o autismo como uma forma de psicose infantil, não como um quadro que configure um transtorno próprio e distinto, é o caso da escola francesa que remete, de maneira genérica, a uma desorganização da personalidade, compreendendo o autismo dentro das variações dos quadros esquizoides, assim como entende Leibovici (1991), Housel (1991) e compreendia o próprio CID-9 (OMS, 1990), depois reformulado. (GAUDERER, 1993, p. 164). As divergências etiológicas também podem ser estendidas ao entendimento dos demais transtornos globais, não sendo exclusividade do transtorno autista. Aliás, a questão da etiologia está intrínseca a uma questão mais ampla e complexa que é a epistemologia, sobre a qual será explanado mais adiante, na próxima unidade. b) Transtorno de Asperger: historicamente, nas descrições inicias acerca deste transtorno, era afirmado que o mesmo afetava somente meninos. Atualmente, sabe-se que meninas podem também serem afetadas, ainda que em uma probabilidade menor pelos dados estatísticos, aceitando-se uma proporção de 9/1 (GAUDERER, 1993, p. 173). A primeira vez foi descrita pelo cientista austríaco Hans Asperger em 1944 (KAPLAN, SADOCK & GREBB, 1997, p. 65 986), que denominou o transtorno por “psicopatia autista”, e desconhecia os trabalhos de Kanner nesta área. Além das discussões de alguns autores, sobre as quais se comentou anteriormente, de que o Transtorno de Asperger seria uma modalidade atenuada do Transtorno Autista, outros cientistas, pelo contrário, propuseram critérios de identificação, na tentativa de deixar menos árdua a tarefa de reconhecer a presença deste transtorno e até de diferenciá-lo de outros. Assim, foram apresentadas as seguintes características inerentes ao Transtorno de Asperger: - prejuízo severo na interação social; - interesses circunscritos muito limitados; - imposição de rotinas ou interesses; - problemas de linguagem a despeito de aparente habilidade no as- pecto expressivo; - problemas na comunicação não-verbal; - desajeitamento motor. (GILLBERG & GILLBERG, 1989 apud GAUDERER, 1993, p. 172). De modo mais detalhado, concernente a estas características definidoras do transtorno, em seu caráter descritivo, Sztmari, Bremmer & Nagy (1989 apud GAUDERER, 1993, p. 172), observam o seguinte (não sendo necessário todos estes sinais para contemplar o transtorno, mas parte destes): - Isolamento: não tem amigos próximos, evita os outros, não demonstra interesse em fazer amigos, solitário. - Prejuízo na interação social: somente procuram os ou- tros para satisfazer suas necessidades; desajeitado no conta- to social; dificuldade em perceber sentimentos dos outros, “desligado” em relação ao sentimento dos outros. 66 - Prejuízo na comunicação não-verbal: expressão facial li- mitada; incapaz de entender expressões faciais dos outros; não se comunica pelo olhar; não olha para os outros; não usa as mãos para se expressar; os gestos são amplos e desa- jeitados; aproxima-se muito dos outros. - Fala peculiar: anormalidades na inflexão, fala pouco ou fala demais; falta de sentido na conversação; uso de pala- vras idiossincráticas; padrões repetitivos na fala. - Não preenche os critérios do DSM-III para desordem autística. Pelo fato do Transtorno de Asperger
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