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R I C A R D O F I G U E I R Ó C R U Z Acessar a trilha garante outras formas de aprendizagem no Ensino à distância: vídeos e objetos de aprendizagem! TÓPICO 1 – ESTRUTURAS ECONÔMICAS TÓPICO 2 – INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DO SEGUNDO IMPÉRIO TÓPICO 3 – ESTRUTURAS SOCIOCULTURAIS TÓPICO 4 – O ESFACELAMENTO DO IMPÉRIO TÓPICO 1 – ESTRUTURAS ECONÔMICAS Podemos dividir a História do Império de acordo com o ocupante do trono. Entre 1822 e 1831, D. Pedro I é Imperador do Brasil, num período denominado Primeiro Reinado. Uma crise na Coroa Portuguesa acaba convencendo o Imperador a deixar o Brasil, assumindo o trono de Portugal e legando ao seu filho o trono brasileiro. Entre 1831 e 1840 temos um período em que o país assistiu a uma sucessão de regências, enquanto D. Pedro II não ocupasse o trono, em virtude de sua pouca idade. D. Pedro II tem, assim, sua maioridade decretada quando contava com 15 anos, em 1840, marcando o início do Segundo Reinado, que durará até 1889, com a proclamação da República. As forças políticas do período regencial lutaram para influenciar no processo de condução da política do segundo reinado. Durante o Período Regencial, podemos identificar três forças políticas importantes: A coroação representou uma agenda carregada, com muito peso sobre os cofres públicos, mas que teve uma importância fundamental para a consolidação do “império tropical” do Brasil. A mobilização para a cerimônia de coroação deu feição especificamente política a uma narrativa imperial que, pela primeira vez, teve impacto no país, ligando o dia do Fico à Independência, e agora aos ilustres da pátria com nomes gravados em peças de arquitetura. Quando passa da condição de Colônia para a de Império, o Brasil mantém sua economia calcada na exportação de produtos agrícolas para as nações que se industrializavam naquele momento. Gilberto Freyre já havia dito em Casa-Grande e Senzala, em 1933 (FREYRE, 2003), que o Brasil acabou se constituindo a partir do patriarcalismo, do patrimonialismo, da escravidão e do estamento. Em certa medida, mesmo com os esforços capitalistas que se apoderavam de determinadas fatias das elites monarquistas do segundo reinado, esses referentes parecem não ter sido quebrados, visto que a base da manutenção econômica do império continuaria por muito tempo sendo escravista-exportadora. Caio Prado Júnior (2007, p. 157)) considera que, nas transformações ocorridas no Brasil no curso do século XIX, nenhuma terá contribuído para modificar a fisionomia do país como a verdadeira revolução que se opera na distribuição de suas atividades produtivas No Segundo Reinado, a exploração detinha-se especialmente no açúcar e no café, dois setores agrícolas que alimentavam diretamente a organização burocrático-administrativa e política do Estado imperial, em pleno acordo com a lógica da presença e do domínio privado sobre os interesses públicos e a confusão entre público e privado, característica da política brasileira. A mecanização da agricultura e das fábricas, impulsionada pela revolução que tomou conta da tecelagem na Inglaterra a partir do final do século XVIII, e sua intensificação na metade do século XIX, ampliou o consumo e a produção de algodão brasileiro, embora fossem os EUA os principais fornecedores para a Inglaterra. O Brasil teve sua industrialização limitada pelo pacto colonial, mas mesmo durante os primeiros anos da independência não foram feitos esforços no sentido de industrializar o país. Podemos dizer que será a partir de 1840 que medidas industrializantes serão implementadas pelo Império, e o sucesso do Barão de Mauá é exemplo do dinamismo econômico que marcou o período. No entanto, novas diretrizes modificarão este cenário já na década de 1860, impedindo uma sólida industrialização, que viria a acontecer apenas no século XX. ESCRAVIDÃO A base para essa estruturação da economia brasileira foi, obviamente, a mão de obra escrava, especialmente quando o assunto era a agricultura de exportação. Essa escravidão tem sido motivo de pesquisas cada vez mais acuradas na história sociocultural, principalmente no que diz respeito à sua instituição no mundo moderno. Vale destacar que a escravidão moderna é distinta de outras formas de escravidão encontradas na história humana e que, mesmo no caso do Brasil, os africanos não foram os primeiros a ser escravizados. No início da ocupação do território foi largamente utilizada a mão de obra escrava dos nativos do continente. A escravidão é uma situação em que um indivíduo, ou grupo, está sujeito às vontades de outro indivíduo. Quando o Brasil se transforma em um país autônomo, no século XIX, a escravidão de africanos era um elemento fundamental da dinâmica social. A presença dos escravos era notável tanto no campo quanto nas cidades. “Vale lembrar que o Rio de Janeiro, onde a Corte estava sediada, era o local com o maior contingente de escravos do Império, com aproximadamente 20% da população total sendo composta de cativos” (CASTRO apud ALENCASTRO, 1997, p. 342). O status destes cativos era o de uma propriedade. A distribuição dos cativos era irregular entre as províncias e regiões do Brasil. Segundo o censo de 1872, no Amazonas apenas 1,7% da população total era formada por escravos africanos. Os africanos não aceitaram pacificamente a escravatura, e os episódios de revoltas e resistências estão sendo cada dia mais investigados pelos historiadores. Podemos pensar em dois fenômenos que nos permitem acompanhar as estratégias de luta contra a opressão. “Alguns escravos que conseguiam fugir acabaram criando reduções, que passavam a acolher fugitivos das fazendas ou das cidades” (LOSSO, 2008, p. 23). Estes refúgios eram nomeados Quilombos, e seus habitantes são conhecidos como quilombolas. Ainda hoje, descendentes destas populações ocupam a terra de seus ancestrais. O mais conhecido e importante dos quilombos foi o Quilombo dos Palmares, onde viveu Zumbi dos Palmares, ainda hoje celebrado pelas populações de origem africana como um herói que lutou contra a escravidão. O ABOLICIONISMO E O FIM DA ESCRAVIDÃO A luta pela abolição foi travada tanto no Parlamento quanto na imprensa. José do Patrocínio, um republicano intransigente, destacou-se por seus libelos abolicionistas, creditando à escravidão grande parte dos males da sociedade do seu tempo. “Publicando seus textos em jornais como a Gazeta de Notícias ou Gazeta da Tarde (ambos no Rio de Janeiro), Patrocínio fez de sua pena uma arma contra a escravidão, defendendo tanto os cativos quanto aqueles que propunham indenizações pelos maus-tratos” (LOSSO, 2008, p. 25). TÓPICO 2 – INSTITUIÇÕES POLÍTICAS DO SEGUNDO IMPÉRIO Império do Brasil estabeleceu um sistema baseado numa monarquia democrática representativa e parlamentar, onde o Imperador era o chefe de Estado e chefe de governo, ao mesmo tempo, embora fosse o presidente do Conselho de Ministros efetivamente o mandatário, em meio a um sistema multipartidário A instituição do Poder Moderador remete-nos ao papel do imperador no Brasil. Ele representava a unicidade, a permanência e a estabilidade governamentais, além da ordem legal, da identidade nacional e era a soma das variações de região, de classe, de partido, de raça. A legitimidade do Brasil e dos brasileiros passava, portanto, pela personificação do império e pela centralidade do imperador como símbolo da nação. A divisão constitucional das competências entre governos provinciais e o governo central acabava por garantir relativa independência de interesses, uma vez que cada província tinha o direito de decidir sobre cobrança de impostos, força policial, serviços públicos, empregos etc. Nos 58 anos de império de D. Pedro II, o Brasil consolidava-se, a partir da institucionalização do próprio império, da pulverização de sua máquina administrativa, do desenvolvimento de protocolos capazes de explicar o que seria esseBrasil, Império dos Trópicos. A primeira figura desenhada sobre D. Pedro II era a de “pai dos brancos”, representação que significava muitas coisas, desde a figura de pai da nação, até a de bom administrador, civilizado, que sabia distribuir riqueza. Certamente, grande parte desses aspectos derivava do Poder Moderador. POLÍTICAS INTERNAS Durante todo o Período Regencial, o país foi sacudido por revoltas, que apesar de suas particularidades, tinham em comum o fato de se insurgirem contra o poder da Corte sediada no Rio de Janeiro. Outro elemento marcante do Império do Brasil é formado pelo conjunto de conflitos que tem lugar no extremo sul do continente, ao longo de todo o século XIX, tornando instável toda a bacia do Rio da Prata. Já em 1851 o exército foi enviado para uma campanha no Uruguai, onde o caudilho argentino Juan Manuel Rosas e o presidente uruguaio – Manuel Oribe – pretendiam criar um Estado formado pelos territórios da Argentina, Uruguai e Paraguai. Guerra do Paraguai começou em 1864 e acabou em 1870, deixando a economia paraguaia destruída e 75% da população do país morta. Entre os acontecimentos marcantes da guerra, figuram uma aproximação argentino-brasileira com vistas a pacificar o Uruguai e o equipamento dos exércitos brasileiro e argentino com a realização de empréstimos da Inglaterra. TÓPICO 3 – ESTRUTURAS SOCIOCULTURAIS Elites regionais, principalmente as de caráter bastante liberal, respondiam com a construção de culturas regionais às tentativas de centralização do poder, tendo por base investimentos derivados da grande propriedade, com interesses diferentes dos do Estado, porém mascarados quando aproximados a esse. Às tentativas de centralização do poder, elites regionais, principalmente as de caráter bastante liberal, respondiam com a construção de culturas regionais, tendo por base investimentos derivados da grande propriedade, com interesses diferentes dos do Estado, porém mascarados quando aproximada a esse. Jean Leon Pallière (1823-1887) No ambiente urbano, ou melhor, rurbano que se desenvolve nesse país, a mulher acabou sendo retratada em três formas: a imperatriz, a senhora da fazenda e a escrava. Elas quase sempre não são mencionadas, ou pintadas, mas alguns visitantes acabam detectando sinais de mudança significativos nas vidas de mulheres com o passar dos anos do império. Machado de Assis reforçou inúmeras vezes a ligação entre casamento e propriedade, entre casamento e patriarcado. Personagens como Virgília, ao se casar com Brás Cubas, em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1885) eram o exemplo desse binômio, que aparecia para o jovem personagem na figura de uma vaga de senador ou deputado seguida de uma festa de casamento. Em outros casos, a possibilidade do enlace matrimonial era cortada transversalmente pela classe social, travestida de problemas físicos, como é o caso de Eugênia, filha de Dona Eusébia, no mesmo livro de Machado de Assis. O personagem principal, apesar de ter-se interessado pela moça, resolveu abandoná-la quando percebeu a frugalidade de seus hábitos e de sua vida, argumentando que ela não servia para o casamento porque “era coxa”. (MACHADO DE ASSIS, 2010 [1885]). Uma família brasileira clássica consistia numa família patriarcal, com a presença de um marido autoritário, cercado de concubinas escravas, que dominava os filhos, e uma mulher submissa, passiva, indolente, que vivia enclausurada em casa, gerava inúmeras crianças e abusava dos escravos. A vida urbana no Brasil precisa ser colocada entre parênteses durante o Império. Há poucas cidades que têm ar de cidades propriamente ditas: Belém do Pará, Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre, mas, principalmente, Rio de Janeiro. São Paulo desponta na segunda metade do século XIX. Curitiba é um vilarejo, e no Paraná, por exemplo, é fácil encontrar uma Paranaguá mais equipada do que a atual capital. Desterro (atual Florianópolis) é o exemplo de uma cidade capital de província que respira ares nada cosmopolitas. Mas as cidades são, em sua maioria, acanhadas, embora enfrentando pressões sociais e econômicas que podem ser aproximadas, se pensarmos em termos de diferenciação de classe e de raça, bem como de uma eminente política urbana que se aproxima cada vez mais de um discurso técnico para querer minar seu caráter propriamente ideológico, classista, racista etc. Na medida em que a classe “sobe” em importância e relevância social no Brasil do segundo império, a ideia de classe pobre como território de perigo social começa a se alicerçar, e a discursividade que opera para essa construção parte de diversos setores também emergentes na segunda metade do século XIX, tais como o setor científico. Um desses exemplos da emergência do conhecimento científico, acompanhado da pejorativização e da problematização, na esfera pública, dos pobres e das condições das cidades brasileiras reside na “ideologia da higiene”, no Rio de Janeiro, que vai culminar em eventos como a Revolta da Vacina (1904), já no regime republicano, mas que aparece anteriormente disseminada em explicações sobre epidemias de Febre Amarela. Até meados do século XIX, enquanto ainda perdura o comércio internacional de escravos, a imigração permanece quase um simples projeto e discurso. Fazendeiros de café ou de cana não tinham interesse algum em fomentar a mão de obra assalariada como base para suas empresas, e continuavam a empregar maciçamente escravos. Essa situação mudará com a Lei de Terras de 1850, que impulsionará, por meio da proibição de tráfico de escravos, uma política imigrantista, promovendo até a possibilidade de serem criadas colônias estrangeiras em diversas regiões do Brasil. O resultado efetivo é que um contingente cada vez maior de imigrantes ajudava a construir o país. Ao longo de todo o século XIX (e inclusive durante as primeiras décadas do século XX), o país foi destino de europeus que viam no Brasil uma opção às dificuldades sociais profundas pelas quais passavam seus países. Alemães, italianos, poloneses e outros povos chegaram ao Brasil com um status bem diferente daquele desfrutado pelos africanos: não eram escravos, mas sim trabalhadores livres e, em alguns casos, pequenos proprietários rurais. Muitos destes trabalhadores se instalaram em fazendas de café no Estado de São Paulo, trabalhando em esquema de parceria ou de forma assalariada. Já outros seguiram outro modelo de imigração, criando comunidades homogêneas etnicamente no sul do Brasil, em especial nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. TÓPICO 4 – O ESFACELAMENTO DO IMPÉRIO Durante o século XIX, o Ocidente foi sacudido por uma série de agitações sociais e políticas, resultantes do mundo industrializado que se expandia, criando situações inusitadas e desigualdades sociais e econômicas com novos contornos. Uma das ideias típicas desta conjuntura, e que se difundiu também no Brasil, foi o republicanismo. A ideia republicana está alicerçada na defesa dos interesses públicos, na satisfação dos interesses dos indivíduos, sem os privilégios nobiliárquicos que caracterizam os regimes monarquistas. No Brasil, as agitações republicanas ainda estavam ligadas ao abolicionismo, criando uma situação de insatisfação tanto em relação aos escravismos quanto à monarquia. A Coroa, por sua vez, passava a desagradar também os proprietários de escravos, que além de ver sua mão de obra principal ser retirada de sua tutela, não recebiam indenizações pelo que acreditavam ser sua propriedade, no caso os escravos. Já havia precedentes para o questionamento da monarquia, materializados nas várias revoltas que tiveram o país como palco. • Inconfidência Mineira • Revolução Pernambucana de 1817 • Confederação do Equador • Revolução Farroupilha são exemplos de movimentos que tinham em seu ideário ideias republicanas. A insatisfação com a monarquia foi apresentadaem panfletos como o Manifesto Republicano, publicado num jornal sugestivamente intitulado “A República”, que defendia o federalismo, a extinção do cargo de senador vitalício e a separação entre a Igreja e o Estado. Também foram organizados partidos que defendiam a ideia, sendo o mais conhecido o Partido Republicano Paulista, que contou com a adesão dos grandes produtores de café de São Paulo. Polemistas liberais, como Rangel Pestana, viram suas ideias difundirem-se pela sociedade após a publicação do Manifesto Republicano, inspirando a criação de associações que defendiam ideias republicanas, conhecidas como Clubes Republicanos. Estes clubes foram comuns no Estado de São Paulo, principalmente nos municípios de Sorocaba, Jundiaí, Piracicaba e Itu. Os republicanos realizaram em 1873, na cidade de Itu, a primeira convenção republicana do país, criando o Partido Republicano Paulista. A Guerra do Paraguai foi um momento crucial para a formação do Exército brasileiro. Antes desta campanha existia uma força pública que não estava organizada e comandada nacionalmente, a Guarda Nacional. Durante a guerra, o Exército se constitui como uma força política. De um lado, as batalhas forjaram uma identidade para o Exército, dotando-o de autoridade. OS MILITARES, GUERRA E POLÍTICA Ao longo da guerra, os militares brasileiros também tiveram contato com outros países, cujas ideias republicanas organizavam a sociedade, e os militares passaram a possuir um espaço político mais largo do que o ocupado pelos militares brasileiros. A QUEDA DA MONARQUIA A insatisfação com a monarquia era patente no final da década de 1880. Militares, grandes proprietários rurais e o clero estavam em franca discordância com os rumos tomados pelo país. Um evento simboliza muito bem este conflito, que envolveu um regime político que estava por desaparecer no Brasil: o Baile da Ilha Fiscal. A Coroa organizou este baile em 9 de novembro de 1889, sendo que a opulência marcou a decoração da festa, até o cardápio da janta que foi servida aos convidados. Compareceu ao baile toda a família imperial, além de políticos e militares alinhados com a monarquia. “
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