Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Agentes Anti-inflamatórios Processo inflamatório: ● Resposta do tecido à lesão celular que caracteriza-se por um fenômeno complexo, dinâmico e multimediado; ● Mediadores inflamatórios potencialmente hiperalgésicos e importantes na produção da dor. ● Derivados do ácido araquidônico → prostaglandinas, leucotrienos, PAF (fator de ativação plaquetária). Lesão tecidual → fosfolipase A2 → degradação de fosfolipídios de membrana → ácido araquidônico → 7 vias. Vias das cicloxigenases → prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos. Vias das lipoxigenases → leucotrienos e lipoxinas. AINES Compõe um grupo heterogêneo de compostos que consiste de um ou mais anéis aromáticos ligados a um grupamento funcional. Apresentam partes importantes para o reconhecimento das cicloxigenases → grupos sulfonamidas, ácidos carboxílicos, hidroxilas, amidas → bioisósteros clássicos ou não clássicos do resíduo de ácido carboxílico que compõe o ácido araquidônico. Os anéis aromáticos mimetizam as insaturações do ácido. Três isoformas de COX são conhecidas: ● A COX-1 é constitutivamente expressa no estômago, rins e plaquetas, é considerada importante na proteção da mucosa estomacal; ● A COX-2, antes dita como induzida pela inflamação, foi constatada como sendo constitutiva no endotélio vascular, rins, pulmão e cérebro. ● A COX-3 é uma isoforma encontrada principalmente no sistema nervoso central e seu papel ainda é desconhecido. As enzimas cicloxigenases 2 e 1 são diferenciadas pelos aminoácidos valina e isoleucina, respectivamente. Esta mudança permite acesso à região hidrofóbica próxima à entrada adjacente ao canal central hidrofóbico do sítio ligante, aumentando muitas vezes o volume do sítio ativo ligante da COX-2, o que resulta numa influência do volume molecular do inibidor sobre a seletividade à isoforma da enzima. Grupos dos AINES: ● Derivados do ácido acético; ● Derivados ácido salicílico; ● Derivados do ácido enólico (oxicans); ● Derivados da pirazolona; ● Derivados do ácido propiônico; ● Inibidores seletivos da COX-2; ● Derivados do para-aminofenol. Derivados do ácido acético 1. Derivados do ácido indolacético: Indometacina Desacoplamento da fosforilação oxidativa celular; Atividade anti-inflamatória, analgésica e antipirética; Também pode inibir as fosfolipases A e C. Grupo carboxilato → equivalência ao carboxilato do ácido araquidônico; atividade de derivados de ésteres e amidas é geralmente associada aos seus produtos de hidrólise. Quanto maior a acidez (probabilidade de ionizar), maior atividade. Anéis aromáticos → sistema correspondente aproximadamente às ligações duplas do ácido araquidônico. Espaçador → normalmente um átomo de carbono separa o anel do grupo carboxilato → importante para que o resíduo de ácido tenha mais liberdade para reconhecer os resíduos específicos de aminoácidos. O aumento da distância abole a atividade. Ramificação até metila tende a aumentar a atividade anti-inflamatória, maior do que metila, reduz. Substituições: Carboxilato por amida torna a molécula inativa → amidas são mais estáveis e se ionizam menos. Anéis aromáticos → substituição por grupos alifáticos reduz a atividade; grupos F, Cl, CF3, SCH3 aumentam a atividade. Anel indólico → substituição é flexível - aumenta atividade - volume e polaridade variável; o átomo de nitrogênio não é essencial à atividade, mas é importante para garantir o acoplamento do anel aromático clorado. ↪ Metabolismo: Sofre metabolização hepática através de uma reação de O-desmetilação, seguida de uma N-desacilação. (Primeira passagem → redução da atividade). A indometacina livre, conjugada com o ácido glicurônico ou em forma de metabólitos livres, é eliminada pela urina, bile ou fezes (antes de conjugar → fração não absorvida). 2. Derivados do ácido fenilacético: Diclofenaco Sódico Atividade analgésica, antipirética e anti-inflamatória; Cerca de 40 a 50% do diclofenaco são biotransformadas na primeira passagem pelo fígado (meia-vida curta) em 4-hidroxidiclofenaco (posições para de ambos os anéis aromáticos são livres). Derivados do ácido salicílico Principal representante → ácido salicílico = produto natural extraído do Salgueiro. Derivados: Ácido acetilsalicílico Reação de acetilação do ácido salicílico, fenol ou ácido carboxílico → ataque nucleofílico do grupo funcional -OH fenólico sobre o carbono do anidrido acético → eliminação do ácido acético (uso de ácido sulfúrico como catalizador). Mecanismo de ação: ● Atua na COX-1 e COX-2; ● Efeito decorrente da acetilação da hidroxila → inibição irreversível da enzima (COX-1), resultando na diminuição da conversão do ácido araquidônico em prostaglandina G2 e, consequentemente da redução da síntese de PGs e TXA2. ● A aspirina atua sobre a COX-2 produzindo a acetilação da serina 530, impedindo, consequentemente, a ligação do ácido araquidônico no sítio ativo da enzima e assim bloqueando a atividade enzimática na formação de PGs. ● Na estrutura da COX-2, a aspirina produz acetilação da serina na posição 516. A interação fármaco-receptor é de natureza irreversível em função da formação de uma ligação covalente resultante do ataque nucleofílico da hidroxila do aminoácido serina 530 ao grupamento eletrofílico acetila. Ação anti-inflamatória decorre da transferência do grupo acetil para o resíduo de serina. Entretanto, a aspirina só tem ação anti-inflamatória na dose de 500 mg. Em doses usuais de 100 mg, o efeito é anti-agregante plaquetário. Relação estrutura atividade dos salicilatos: ● Grupo carboxilato → farmacóforo. A modulação da acidez (substituição bioisostérica por amida, gerando salicilamida) mantém a atividade analgésica, mas reduz as propriedades anti-inflamatórias. ● Orto-hidroxila → essencial para atividade, uma vez que o ácido benzóico não possui atividade, essa hidroxila parece garantir uma maior interação com as COX. Substituição nas posições meta e para abole a atividade. ● Anel aromático → importante para mimetizar as insaturações do ácido araquidônico. Adição de halogênios aumenta tanto a potência quanto a toxicidade. Substituições na posição 5 aumentam a atividade anti-inflamatória. ↪ Metabolismo: As esterases da mucosa gastrointestinal hidrolisam o ácido acetilsalicílico a ácido salicílico, que é absorvido no organismo. Derivados do ácido enólico Oxicams → apresentam na sua estrutura básica um anel tiazinínico, farmacóforo importante para a atividade. As substituições em R1 normalmente são com grupamentos metil, pois grupos maiores que isso tendem a diminuir a atividade, e em R2, anéis que podem ser substituídos por bioisósteros de anéis. Piroxicam Ação analgésica e anti-inflamatória; Inibidor não seletivo da COX; Pertence junto ao Tenoxicam a uma série de N-carboxamidas heterocíclicas de 1,2-benzotiazina e 1,1-dióxido. É extensamente metabolizado pelas vias de hidroxilação do anel 5-piridínico, formação de glicuronídeos, ciclodesidratação e hidrólise amídica. O principal metabólito é originado por hidroxilação do anel piridínico e formação de glicuronídeos. Apresenta uma das maiores meia-vida de todos os AINES, entre 20 e 70 horas. Derivados da pirazolona Os principais representantes são a Dipirona e a Fenilbutazona. → Pirazolona → Dipirona → Fenilbutazona A Fenilbutazona foi retirada do mercado, mas sua estrutura é importante e deu origem a outra classe de fármacos que são os inibidores seletivos da COX-2. Dipirona É uma droga antiinflamatória não esteroidal, utilizada como analgésico e antitérmico (atravessa a BHE). Quimicamente é conhecida como ácido 1-fenil-2,3-dimetil-5-pirazolona-4metilaminometano ssulfônoco. É comercializada na forma de sal de sódio → dipirona sódica. ↪ Metabolismo: Completamente hidrolisada em sua porção ativa 4-N-metilaminoantipirina (MAA). É um inibidor seletivo de prostaglandina. O metabolismo também leva à liberação de formaldeído, que é extremamente reativo e tóxico, o que pode justificar as toxicidades relacionadas à dipirona. Fenilbutazona Sofre metabolização a nível do sistema microssomal hepático, dandoorigem a dois metabólitos: ● Oxifembutazona → produzido por hidroxilação do grupo fenólico; ● Gama-hidroxifenilbutazona → produzido por hidroxilação da cadeia butílica lateral. Foi removido do mercado porque causava morte súbita. Derivados do ácido propiônico Os principais representantes são o Ibuprofeno, Cetoprofeno e Naproxeno. Apresentam um radical carboxila que é um farmacóforo importante para a inibição da COX-1. Ibuprofeno Nome químico: ácido 2-(4-isobutilfenil) propiônico. Apresenta um carbono assimétrico → dois enantiômeros possíveis. Substituições no grupamento Ⲁ-metil do ácido carboxílico melhora a atividade anti-inflamatória e reduz efeitos colaterais. Baixa solubilidade aquosa e alta permeabilidade. A solubilidade aumenta com o aumento do pH → ionização. SAR → espaçador: grupo metila aumenta a atividade anti-inflamatória e reduz efeitos colaterais. Grupamentos maiores que CH3 no carbono alfa do ácido podem reduzir a atividade. Enantiômeros: S(+)-ibuprofeno (D-ibuprofeno) é a forma ativa do medicamento. Melhora no processo produtivo → formulação apenas com o enantiômero ativo - sem sucesso. Enzima isomerase (2-arilpropionil-coA epimerase) → responsável pela inversão metabólica da configuração. Formulações comerciais: mistura racêmica. In vivo → conversão do R-ibuprofeno à forma ativa S-ibuprofeno. O S-ibuprofeno não retorna para S-ibuprofeno-CoA pois, para isso, precisaria ser reconhecido pela acil coA sintase, mas esta só reconhece a configuração R. Naproxeno Possível de se obter como um único enantiômero e não era convertido no isômero inativo no organismo → alto custo de produção. Cetoprofeno Nome químico: ácido 2-(3-benzoifenil) propiônico. Mais hidrossolúvel que o Ibuprofeno (anel aromático), mas praticamente insolúvel em água. Metabolização: conjugação do ácido carboxílico a glicuronídeos, hidroxilação do anel aromático e redução da função cetona. Muito solúvel em solventes orgânicos. Rapidamente absorvido por via oral. Inibidores não seletivos: A COX-2 se diferencia da COX-1 por apresentar um resíduo de valina e um bolsão hidrofóbico. Outras diferenças são resíduos de arginina e aminoácidos que poderão facilitar a interação neste receptor. Os AINES bloqueiam a entrada do ácido araquidônico no sítio ativo da COX e sua interação com o resíduo de ferro heme, impedindo que ocorra a peroxidação e formação dos autacóides. Os não seletivos inibem as COX pela interação no mesmo resíduo de Arg 120. Inibidores seletivos da COX-2 Os Coxibes ligam a sua porção de bioisóstero de ácido carboxílico, que é a sulfonamida, no resíduo de arginina 513 no bolsão lateral, que não está presente na COX-1. Logo, fármacos que apresentam tamanho e topologia adequada e resíduos que possam fazer o reconhecimento do resíduo de aminoácido no bolsão lateral, acabam sendo seletivos para a COX-2. Exceção → Nimesulida → não seletiva, mas maior afinidade pela COX-2 (tamanho, desenho e função sulfonamida). Os Coxibes geralmente apresentam uma função sulfonamida ou uma metilsulfonil. Não apresentam radical carboxila, farmacóforo importante dos inibidores de COX-1. Propriedades físico-químicas: ● Importância da hidrofobicidade (medida pelo ClogP) e dos fatores estéricos (mediado por refratividade molar - peso molecular, densidade e refração). ● Compostos com melhores seletividades à COX-2 apresentam ClogP = 3,3 (3,2-5,7) e RM = 9. Modelo farmacofórico proposto para COX-2 e distâncias entre regiões ligantes: ● Regiões distintas e específicas para os ligantes → as distâncias entre as regiões são explicadas pela dinamicidade das enzimas (não são estáticas); ● Resíduos de aminoácidos importantes para a ação; ● P1 e P2 são grupos doadores e receptores de ligações de H; ● P3 e P4 são grupos que fazem interações hidrofóbicas. Celecoxibe → 4 interações com a COX-2 nas regiões P1, P2 e P3 → seletivo. Lumiracoxibe → 2 interações com a COX-2 nas regiões P3 e P2 → não tem perfil interessante para a seletividade para essa isoforma. Celecoxibe O primeiro inibidor seletivo da COX-2 lançado no mundo e também no Brasil (1999). Foi descoberto pela Pfizer; Porém, assim como com os outros coxibes, houveram vários questionamentos sobre sua segurança, especialmente com relação à toxicidade cardiovascular → vendido sob retenção de receita. Dup-697 → análogo da Fenilbutazona, a partir da estrutura privilegiada destacada em azul → SC-58612 (inibidor seletivo da COX) → meia-vida de 12 horas. A partir do SC-58612, por modificações para modular o pKa com troca do bromo na posição para por um grupamento metil → posição benzílica vulnerável à ação do CYP450 → redução da meia-vida → Celecoxibe. Rofecoxibe Foi retirado do mercado por ser extremamente seletivo, assim como outros fármacos contendo grupamento metilsulfonas. A COX-2 mostrou-se uma forma constitutiva do músculo cardíaco → coxibes causam toxicidade cardiovascular. Devido ao grande número de interações com sítio ativo → maior seletividade e maior toxicidade por inibição da COX-2. Inibição forte da COX-2 → modificação do equilíbrio basal de prostaglandinas e tromboxanos envolvidos na agregação plaquetária. Derivados do p-aminofenol Descoberta acidental da Acetanilida → em 1886, foi introduzida na medicina com o nome de antifebrina por Cahn e Hepp. Era extremamente tóxica. Procura de compostos substitutos para acetanilida → p-aminofenol foi experimentado, acreditando-se que o organismo oxidava a acetanilida a p-aminofenol. A toxicidade não foi menor → foram testados vários derivados químicos do p-aminofenol. Fenacetina (acetofenetidina) foi mais satisfatória. Fenacetina Introduzida na terapêutica em 1887; Foi extensivamente utilizada em misturas analgésicas; Derivado éter correspondente ao paracetamol; Causa nefrotoxicidade no caso de super dosagens. Efeitos farmacológicos → sugere-se inibição da COX-3, não clinicamente importante. Sugestões propostas → ativação do canal de íons tipo TRPV1, além de efeitos nos receptores de canabinóides CB1 via formação de análogo da Anandamida. Acetaminofeno (Paracetamol) Redução da hepatotoxicidade: introdução de um grupo 2-metila na posição meta em relação ao grupo hidroxila, o que ocasiona também a redução na ação analgésica → desfavorável → aumento da dose. Metabolismo e toxicidade: A oxidação do paracetamol pelo CYP2E1/3A4 gera um metabólito extremamente instável formado por uma ligação de dois átomos eletronegativos (O e N), essa ligação é quebrada e ocorre um rearranjo. Isso leva à formação do metabólito hepatotóxico NAPQI. Esse, por sua vez, pode conjugar com N-acetilcisteína, que mimetiza a glutationa, originando um metabólito inativo. Além disso, o NAPQI pode conjugar com a própria glutationa natural, sendo excretado por via renal. Contudo, esse metabólito também pode conjugar com proteínas hepáticas que atuam como bionucleófilos, levando a problemas hepáticos, como cirrose ou necrose, ou até mesmo, deficiências renais. Hipótese de que exista uma variante da COX (COX-3) sensível ao acetaminofeno: ● Mecanismo importante para analgesia → inibição das enzimas metabolizadoras de endocanabinóides. ● Acetaminofeno aumenta os níveis de endocanabinóides nos tecidos traumatizados. ● AINES e ibuprofeno inibem a amida hidrolase de ácidos graxos (FAAH) e aumentam os níveis de endocanabinóides. ● Agonistas dos receptores canabinóides são conhecidos por terem ações analgésicos e hipotérmicas. Um inibidor conhecido da FAAH, o AM404, pode ser formado a partir do metabólito desacetilado do paracetamol. Ésteres de acetaminofeno inibem a FAAH. Paracetamol como um pró-fármaco ou como produtor de um metabólito ativo. Mecanismo via inibição da FAAH O acetaminofeno é metabolizado a p-aminofenol, capaz de ser condensado com o ácido araquidônico pela ação da FAAH, formando o AM404, semelhante à Anandamida, agonista dos receptores dos endocanabinóides, causando assim, efeitos de analgesia e hipotermia.
Compartilhar