Prévia do material em texto
Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -1 09.06.21 Trauma abdominal INTRODUÇÃO • Avaliação do abdome e pelve – desafiador. • Perfil da vítima: geralmente pouco colaborativa. • Lesões não diagnosticadas após trauma torácico: causa de morte evitável. • Lesões que atingem o tórax, mas têm repercussão abdominal – se não tratadas, desfecho pode ser desfavorável. • Volumes de sangue no abdome sem sinais diretos. ANATOMIA REVER ESSA PARTE MECANISMO DO TRAUMA • Compreender o mecanismo: o Como foi a lesão? – geralmente, perguntar para quem trouxe o paciente. o Capotamento? o Vítima estava fora ou dentro do carro? o Ferimento por arma branca? o Ferimento por arma de fogo? Quantos tiros? Que tipo de arma? • Identificação precoce das lesões. • Orientação de exames: fechado x penetrante. • Necessidade de transferência: ambiente comporta tratamento que o paciente necessita? • Indicação cirúrgica? o Cinto de segurança: cinto, apesar de ferir, ainda protege – em desaceleração brusca, os órgãos fixos podem se romper. o Cinto de 2 pontas: causa mais lesões que o cinto de 3 pontas. Se o paciente está instável, não tem tempo de fazer exames para nortear uma conduta, pode ser necessário levá-lo diretamente para a cirurgia. Trauma fechado. Cinto de segurança – 3 pontas. Avaliar hemodinâmica. Trauma fechado. Cinto de segurança – 2 pontas. TRAUMA FECHADO • Órgãos mais acometidos. • Baço: 40–55%. • Fígado: 35 – 35%. Lesão de baço ou de fígado não implicam necessariamente em cirurgia, existem tratamentos conservadores. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -2 • Intestino delgado: 5 – 10% Se rompe uma víscera oca, pode contaminar a cavidade com conteúdo intestinal. Se tiver apenas sangue não tem problema. • Hematoma retroperitoneal: 15% DISPOSITIVOS DE CONTENÇÃO • Previnem ferimentos mais graves. • Acarretam padrões específicos de lesões (ex: marca de cinto de segurança). • Airbag não impede lesão abdominal, pode apenas minimizar. TRAUMA PENETRANTE FERIMENTO POR ARMA BRANCA Órgãos mais acometidos • Fígado: 40% • Intestino delgado: 30% • Diafragma: 20% • Cólon: 15% Não tirar a arma branca no pronto atendimento – objeto pode estar tamponando a lesão - hipovolemia ao retirar. Retirar objeto apenas no centro cirúrgico, através de laparotomia. Manobras para ver se o paciente precisa de laparotomia: • Exploração digital: se paciente estiver estável, e com anestesia local – aponeurose perfurada: arma entrou na cavidade abdominal - não se sabe se algum órgão foi atingido – cirurgia. • Paciente instável: centro cirúrgico • Se não houve perfuração da aponeurose: internação e observação por, no mínimo, 24 horas FERIMENTO POR ARMA DE FOGO Órgãos mais acometidos: • Intestino delgado – 50% • Cólon – 40% • Fígado – 30% • Estruturas vasculares abdominais – 25% Lembrar de lesões laterais ao seu trajeto, pois pode deixar calor muito perto de onde passa e fazer uma queimadura em uma alça intestinal que depois vem a perfurar. Não precisa fazer exame, vai direto para cirurgia porque a probabilidade de ter atingido a cavidade é muito alta. Apenas se o paciente estiver assintomático, pode fazer TC. AVALIAÇÃO • Doentes hipotensos: causa? • Pode ser trauma de pelve ou de abdome. Procedimento de choque hipovolêmico: 2 acessos periféricos + volume + decidir se o paciente precisa de cirurgia. Pelve possui vasos muito calibrosos. Se rompidos, sangram muito • História + exame físico + exames rápidos: controle urgente? • Pacientes estáveis: avaliação detalhada. HISTÓRIA • Colisões automobilísticas (velocidade, tipo de colisão, entrada de compartimentos, tipos de controle, air bags, posição do paciente no veículo, estado dos passageiros). • Quedas (altura). • Trauma penetrante (hora, tipo de arma, distância do agressor, quantidade de facadas, quantidade de sangue na cena). • Ferimento por arma de fogo (quantidade, tipo…). Quando possível - localização e intensidade da dor. Se o SAMU está levando paciente com ferimento por arma de fogo: preparar centro cirúrgico e chamar cirurgião – probabilidade de necessidade é grande. Se SAMU está levando paciente com Glasgow 3 por capotamento: preparar centro cirúrgico e chamar cirurgião. Se SAMU está levando paciente com ferimento por arma branca: pode- se pensar que ele esteja um pouco melhor Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -3 EXAME FÍSICO • Inspeção o Abdome anterior e posterior, torácico e períneo, flancos, escroto, meato uretral - áreas de sangramento, edema ou hematomas. • Ausculta: difícil, pois sala de trauma há tumulto. o A ausculta na fase inicial do trauma abdominal tem pouco valor – ela se altera depois. • Percussão: difícil pois paciente pode estar intubado • Palpação: toque retal – próstata deslocada cranialmente deve- se suspeitar de trauma de pelve. • Palpação da pelve: pode deslocar hematoma contido – não palpar mais de uma vez Deslocamento da pelve: pode ocorrer choque hipovolêmico por sangramento da pelve. Análise da estabilidade pélvica: • Diagnóstico deve ocorrer rapidamente. • Hipotensão inexplicável. Indicações do deslocamento da pelve no EF: • Próstata deslocada cranialmente. • Hematoma escrotal – sinal indireto. • Sangue no meato uretral – sinal indireto. • Diferença de tamanho dos membros. Sangramento no meato uretral. Avaliação da estabilidade pélvica. Deslocamento pélvico. RX de pelve AP: auxilia o diagnóstico de fraturas pélvicas. • Não passar sonda – para controle de diurese: punção suprapúbica – cistostomia. • Sangue no meato uretral, hematoma ou equimose no escroto e períneo: sugestivo de ferimento uretral. • Deslocamento cranial da próstata - não utilizar sonda de Foley. • Não passar cateter urinário em potes com hematoma perineal ou sangramento no meato uretral antes da estabilização. • Examinar vagina: presença de tamponamento, pode causar sepse. • Tônus do esfíncter. • Sangramento - perfuração intestinal. MEDIDAS AUXILIARES • Contraindicação - indicação de laparotomia. • Estável: avaliação mais minuciosa. Só transportar, para TC, por exemplo, se estiver estável. Instável: centro cirúrgico – hipotensão, taquicardia. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -4 SONDAGEM GÁSTRICA • Aliviar dilatação gástrica. • Remover conteúdo gástrico. • Antes: lavado peritoneal diagnóstico. • Reduzir incidência de broncoaspiração – esvaziar estômago. • Pode desencadear vômito e pcte com reflexo gástrico ativo. • Sangue - lesão esôfago ou trato gástrico superior – não confundir com trauma nasal com sangue, onde acaba engolindo. • Fraturas graves de face ou de base de crânio: nunca passar sonda nasogástrica – sonda pode chegar ao cérebro, inserir tubo pela boca. Se precisar de sonda: sonda orogástrica SONDAGEM VESICAL • Injetar contraste na uretra: se chegar até a bexiga – sondar. • Aliviar retenção urinária. • Descomprimir bexiga – importante fazer antes do lavado peritoneal. • Monitorar débito urinário – importante em paciente vítima de trauma. • Presença de hematúria – lesão. • Ausência de hematúria - não descartar lesão. Sinais de possível lesão uretral: • Incapacidade de urinar • Fratura pélvica instável • Sangue na uretra • Hematoma escrotal • Equimose perineal • Próstata cranialmente - uretrograma retrógrado (paciente impossibilitado de urinar) Sem lesão – vai direto para bexiga. Nesse caso há lesão → não vai direto para bexiga. RADIOGRAFIAS Em caso de paciente estável. Pneumoperitôneo: laparotomia – ar na cavidade abdominal é indicação cirúrgica Sem orifício de saída da bala:RX para saber localização da bala. Utilizar eletrodos. FAST Avaliação ultrassonográfica direcionada para o trauma (FAST). Usado na dúvida diagnóstica. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -5 Ultrassom feito na beira do leito para ver abdome – para ver se tem líquido, não me interessa qual líquido. • Paciente com trauma fechado, instável, quando não se tem certeza se há trauma abdominal – TCE pode estar hipotenso. • Se ele estiver instável com líquido no abdome - laparotomia, porque provavelmente a instabilidade é causada pelo abdome. • Se ele estiver estável – TC. 4 locais: espaço pericárdico (procura de derrame pericárdico), espaço hepatorrenal, espaço hepatoesplênico e pelve Levar paciente para cirurgia. Provavelmente esse líquido é sangue. LAVAGEM PERITONEAL DIAGNÓSTICA (LPD) Se não tiver o FAST, pode-se fazer uma LPD. Mini laparotomia, para verificar se a instabilidade desse paciente vem do abdome ou não – mesma indicação do FAST. • Invasivo • Também avalia víscera oca – saída de fezes • Pacientes instáveis • Estáveis sem TC ou FAST Contraindicação: • Cirurgia abdominal prévia – acesso ao abdome vai ficar mais comprometido (pode ter aderência). • Obesidade mórbida – não alcança. • Coagulopatia. Resultado: • Se sair sangue: laparotomia. • Se sair fezes: lesão de víscera oca – laparotomia. • Se sair bile: rompimento de vesícula ou fígado – cirurgia. • Se não sair nada: colocar uma sonda calibrosa no abdome + 1.000 ml de soro fisiológico - deixar 1-2 minutos e depois aspira uma seringa desse líquido para avaliá-lo. Lavado positivo: * Avaliação desse líquido cai em prova! • 100.000 glóbulos vermelhos por mm3 • 500 glóbulos brancos por mm3 • Bactérias pela coloração de gram TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA • Paciente estável, sem indicação de laparotomia de emergência • Transporte do doente • Contraste endovenoso • Lesões retroperitoneais e pélvicas – LPD não avalia retroperitôneo Contraindicação: instabilidade, demora, falta de colaboração do paciente (sedado e intubado: ideal), alergia ao contraste (fazer TC sem contraste) Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -6 Sem contraste EV. Com contraste EV. É possível ver o baço fragmentado. INDICAÇÕES DE LAPAROTOMIA • Trauma abdominal fechado com hipotensão e com FAST positivo ou evidência clínica de hemorragia intraperitoneal • Trauma abdominal fechado ou penetrante com LPD positiva • 55 - 60% de ferida por arma branca que apresenta penetração no peritônio tem hipotensão, peritonite ou evisceração do omento ou intestino delgado. - laparotomia de emergência • Hipotensão associada a ferimento penetrante no abdome. • Ferimento por arma de fogo que atravessa a cavidade peritoneal. • Evisceração. • Peritonite. • Sangramento do estômago, reto ou TGU de trauma penetrant.e Não operatório: paciente hemodinamicamente estáveis sem sinais peritoneais ou eviscerações Diagnóstico menos invasivo: exame físico em 24 h (com ou sem FAST), LPD, TC, ou laparotomia diagnóstica. FAST negativo: não exclui a possibilidade de ferida visceral sem grande volume de fluido intra-abdominal. LESÕES DE ÓRGÃOS SÓLIDOS Indicação laparotomia de emergência. Laparotomia X Tratamento conservador Lesões de vísceras ocas ocorrem concomitantemente em menos de 5% dos doentes suspeitos inicialmente de terem lesões isoladas de órgãos sólidos. Baço: pode ser retirado, mas se o paciente estiver bem, pode ser feito o tratamento conservador. Fígado: órgão nobre – pode retirar apenas um pedaço FRATURAS PÉLVICAS • Fratura pélvica + hipotensão = alta mortalidade. • Lençol – paciente com pelve instável pode chocar. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 -7 CIRURGIA PARA CONTROLE DE DANO – DAMAGE CONTROL Tríade da morte: coagulopatia + acidose metabólica + hipotermia. • Resolver lesões mais nobres primeiro – paciente muito tempo aberto evolui para tríade da morte. • Cirurgia dos órgãos nobres - UTI - cirurgia novamente (24-48h após, com mais estabilidade hemodinâmica). • Uso de compressas + cirurgia inacabada + peritoniostomia - bolsa de Bogotá. 1. Laparotomia abreviada; 2. Tratamento clínico em UTI; 3. Reoperação planejada; “SOBREVIVÊNCIA NO TRAUMATIZADO GRAVE É INVERSAMENTE PROPORCIONAL À OBSESSÃO DO CIRURGIÃO EM REPARAR TODAS AS LESÕES EM UM PRIMEIRO TEMPO.”