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CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA DA MARCHA Francisco Xavier de Araujo Biomecânica e Cinesiologia MARCHA • A marcha é o método pelo qual os mamíferos terrestres se movimentam de um lugar a outro; • Também pode ser referida como locomoção, mas este inclui toda a forma de movimento de um lugar a outro; • O termo utilizado como sinônimo, do ponto de vista clínico, de marcha é deambulação. CICLO DE MARCHA • Caminhar envolve a ação alternada das duas extremidades inferiores. Este padrão de marcha é estudado como um ciclo de marcha; • Um ciclo de marcha é o período entre o momento em que o calcanhar de um pé toca o solo até o momento em que ele volta a tocá-lo; • O ciclo de marcha é também conhecido como passada. CICLO DE MARCHA CICLO DE MARCHA • Uma passada (sinônimo de ciclo de marcha) é a sequência de eventos que se realizam entre os contatos sucessivos do calcanhar do mesmo pé; • Em comparação, o passo é a sequência de eventos que ocorre nos contatos sucessivos do calcanhar do pé oposto; • Um ciclo de marcha, portanto, tem dois passos: um à direita e um à esquerda. CICLO DE MARCHA • O ciclo de marcha é dividido em duas fases: fase de apoio e fase de balanço; • As fases de apoio e balanço, por sua vez, são subdivididas em diversas fases; • A fase de apoio tem cinco subfases e a de balanço, três. CICLO DE MARCHA CICLO DE MARCHA • Quando o pé faz o primeiro contato com o solo, inicia- se o ciclo de marcha; assim, o início do ciclo é em 0% e continua até um ciclo completo de 100%, quando o mesmo pé começa a tocar o solo novamente; • Em velocidades normais de caminhada, a fase de apoio compreende cerca dos primeiros 60% e a fase de balanço inclui os últimos 40% de um único ciclo de marcha. CICLO DE MARCHA FASE DE APOIO • A fase de apoio se inicia quando o pé faz o primeiro contato com o solo. O calcanhar costuma ser a seção do pé que faz o contato inicial; • Após, o pé movimenta toda sua superfície plantar e entra em contato com o solo; essa é a fase de resposta à carga. Durante essa fase, são absorvidas as forças de impacto do corpo com o solo; • Com a continuidade da fase de apoio, o centro de massa do corpo move-se diretamente sobre o pé; é o apoio médio; • Conforme o corpo continua o movimento para a frente e o calcanhar se eleva do solo a fase de apoio avança para o apoio final; • O apoio termina no pré-balanço, quando os dedos deixam o solo. FASE DE BALANÇO • O balanço começa no momento em que o pé não está mais em contato com o solo; é o balanço inicial; • Quando a tíbia está perpendicular ao solo e durante a parte média do balanço, ocorre a fase de balanço médio; • Quando a perna se prepara para fazer o contato com o solo novamente ocorre o balanço final; • No momento em que o pé entra em contato com o solo, a fase de balanço termina e a fase apoio se inicia novamente. Existem dois momentos no ciclo de marcha em que os dois pés estão em contato com o solo, totalizando cerca de 20% do ciclo de marcha: 10% no início e 10% no final da fase de apoio. REQUISITOS FUNCIONAIS REQUISITOS FUNCIONAIS CINEMÁTICA DA MARCHA • O estudo da cinemática inclui a descrição da marcha em termos de suas características espaciais e temporais (como e quando o pé encosta no solo) e como todo o corpo e seus segmentos se movem através do espaço. CINEMÁTICA DA MARCHA • As características espaciais são as variáveis facilmente visualizadas observando-se os pés enquanto eles seguem um padrão de caminhada no solo, como ao serem visíveis as pegadas produzidas durante uma caminhada na areia da praia. • As características espaciais incluem: tamanho do passo, comprimento da passada, largura do passo e ângulo de progressão; CINEMÁTICA DA MARCHA • As características temporais são as variáveis que descrevem qualquer característica que tenha a ver com o tempo • Por exemplo: velocidade, duração do passo e cadência. CINEMÁTICA DA MARCHA • O comprimento do passo é a distância entre o contato inicial (medido no ponto médio do calcanhar) do pé para o contato inicial do pé oposto; • O comprimento da passada é a distância entre o contato inicial de um pé e o contato inicial do mesmo pé. CINEMÁTICA DA MARCHA • A comparação do comprimento do passo direito com o passo esquerdo pode contribuir para avaliar a simetria da marcha entre os membros inferiores. CINEMÁTICA DA MARCHA • A largura do passo é a distância horizontal entre os dois pés, medida do ponto médio do contato de um calcanhar até o ponto médio do calcanhar seguinte. Em geral, a largura do passo mede entre 5 e 10 cm em adultos; • O ângulo de progressão é o ângulo formado entre a linha de progressão em uma linha reta e uma linha que corta o pé no ponto médio do calcanhar, e corre entre o segundo e o terceiro dedo. A saída do pé em torno de 7° é comum em adultos. CINEMÁTICA DA MARCHA CINEMÁTICA DA MARCHA • Velocidade é a distância coberta durante uma unidade de tempo como metros por segundo ou quilômetros por hora (velocidade do passo ou da passada); • O número de passos completados por unidade de tempo, usualmente dado em passos por minuto, é chamado de cadência. CINEMÁTICA DA MARCHA CINEMÁTICA DA MARCHA ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA • Os padrões de ativação muscular recrutados durante a marcha humana geram sequências com períodos em que um músculo trabalha e períodos em que ele repousa, de modo a criar uma sequência muito suave e eficiente; • Existem vários momentos durante a marcha em que um músculo muda de uma função excêntrica para uma concêntrica em frações de segundos, enquanto outros músculos podem realizar apenas um tipo de atividade; • A atividade muscular é necessária em um período relativamente curto do ciclo de marcha, e existem grandes intervalos no ciclo de marcha em que o membro é, na verdade, levado à frente pela própria inércia; • Os músculos dos membros superiores e do tronco oferecem uma contribuição importante para um sistema eficiente de deambulação; • Os músculos dos membros inferiores, porém, geram a maior parte do esforço que impulsiona os indivíduos de um local a outro; • O sequenciamento da atividade muscular, com períodos de atividades seguidos por períodos de repouso no ciclo de marcha, permite que as pessoas deambulem por longas distancias sem se cansar. Quando esse sequenciamento temporal é disfuncional, a marcha exige mais esforço e maior gasto energético. ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA • Extensores do quadril: • O glúteo máximo e os isquiotibiais e começam a atuar excentricamente no final do balanço final para desacelerar o membro; • Esses músculos continuam atuando durante o contato inicial e a resposta à carga, mas passam a realizar contração concêntrica a fim de estender o quadril e manter o tronco ereto sobre o membro que sustenta o peso. ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA • Flexores do quadril: • Os principais flexores do quadril – iliopsoas, reto femoral, e sartório – estão ativos a partir do pré-balanço (excêntricamente, já que o quadril ainda está estendendo neste momento) até o início do balanço. • Esses músculos movem o quadril da extensão máxima, que ocorre no pré balanço, para a flexão, para impulsionar o membro inferior para frente; • Apesar de a flexão do quadril continuar no balanço final, os flexores atuam apenas no início do balanço. A flexão do quadril na segunda metade desta fase é resultado do impulso e de força inercial. ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA • Abdutores do quadril: • Os glúteos médio e mínimo e o tensor da fáscia lata estabilizam a pelve no plano frontal durante o apoio unilateral. A atividade do glúteo médio inicia-se durante o balanço final (excêntricamente) em preparação para o contato inicial; • Glúteo médio, mínimo e tensor da fáscia lata aumenta acentuadamente sua atividade parachegar a seu ápice no apoio médio, quando o membro está em apoio unilateral. • Os músculos tornam-se inativos no apoio final, depois que o calcanhar deixa o solo e ambos os membros dividem a carga do peso corporal. ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA • Adutores do quadril: • Os adutores apresentam dois picos de atividade, um no contato inicial e outro no pré balanço; • Seu primeiro pico de atividade é quase simultâneo aos picos do dos extensores e abdutores, para estabilizar o quadril. • O segundo pico ocorre para auxiliar a flexão do quadril. Quando o quadril se encontra em extensão os adutores atuam como flexores secundários. ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA • Extensores do joelho: • O quadríceps está ativo no balanço final, para extensão do joelho em preparo para o contato inicial. Porém esta atividade é relativamente limitada visto que a extensão do joelho ocorre quase passivamente em função da força inercial provocada pela flexão do quadril; • A partir do contato inicial e durante os primeiros 15% da fase de apoio, quando os joelhos atingem cerca de 15° de flexão, a atividade excêntrica do quadríceps é mais visível; • A atividade excêntrica possibilita a absorção do choque a fim de reduzir as forças de impacto que ocorrem no contato com o solo, além de controlar a taxa de flexão durante o apoio inicial e manter o controle de uma leve flexão dos joelhos para que eles não se curvem. ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA • Flexores do joelho: • Os Isquiostibiais são mais ativos pouco antes e logo após do contato inicial; • Antes do contato inicial os Isquiostibiais desaceleram a extensão do joelho, em preparação para a colocação do pé no solo; • Nos 10% iniciais do apoio, os Isquiostibiais estão ativos para auxiliar a extensão do quadril; • É importante observar que a atividade dos Isquiostibiais nestes momentos tem função mais importante como extensores de quadril do que como flexores de joelho. ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA • Flexores Dorsais: • Os músculos flexores dorsais como o tibial anterior, extensor longo do hálux e extensor longo dos dedos têm funções fundamentais na marcha, em dois momentos, com contrações diferentes; • Se contraem concêntricamente e posteriormente isométricamente em toda a fase de balanço a fim de manter o tornozelo e os dedos neutros para que se afastem do solo. • Esses músculos contraem-se excentricamente durante a resposta à carga para controlar a velocidade em que o pé baixa em direção ao solo. Essa atividade também proporciona a absorção de impacto. ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA • Flexores Plantares: • A atividade do tríceps sural (gastrocnêmio e sóleo) começa na resposta à carga, tornando-se cada vez maior durante todo o restante da fase de apoio até o último terço, quando atinge seu pico de produção. O pico de atividade dos músculos gastrocnêmio e sóleo ocorre logo após o apoio final, quando o calcanhar sai do solo; • Embora classificados como flexores plantares, o tibial posterior, o flexor longo dos dedos e o flexor longo do hálux contribuem pouco nesse papel. No entanto, eles possuem importantes atividades sobre as articulações do tarso e dos dedos. Esses músculos flexores longos dos dedos sustentam o arco longitudinal conforme ele se achata e se eleva em pronação e supinação, respectivamente, e ajudam a estabilizar os dedos no solo. ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA • Intrínsecos do Pé: • Os músculos intrínsecos do pé (abdutor do dedo mínimo, abdutor do hálux, extensor curto dos dedos, flexor curto dos dedos e interósseos) apresentam atividade durante a segunda metade da fase de apoio, mas não durante a fase de balanço ou a de apoio antes do apoio médio; • Ocorre atividade intrínseca quando o pé, flexível, passa a ser uma alavanca rígida. Os músculos plantares, intrínsecos, e os flexores dos dedos, extrínsecos, auxiliam a fáscia plantar nessa função. ATIVIDADE MUSCULAR NA MARCHA MUDANÇAS NA MARCHA AO LONGO DA VIDA MUDANÇAS NA MARCHA AO LONGO DA VIDA MUDANÇAS NA MARCHA AO LONGO DA VIDA • O padrão de marcha de uma criança é muito diferente daquele de um adulto maduro. Em geral, a idade média da caminhada independente varia de 11 a 15 meses de idade; • As crianças apresentam uma marcha de base ampla, com os passos iniciando principalmente nos quadris, enquanto os joelhos permanecem relativamente rígidos. O contato inicial costuma ser com o pé inteiro, com rotação lateral evidente no quadril; • Os passos são curtos e há um tempo exagerado de apoio duplo, em comparação com os adultos. Quando as crianças começam a caminhar pela primeira vez, os membros superiores são essenciais para o equilíbrio. MUDANÇAS NA MARCHA AO LONGO DA VIDA • A capacidade de equilíbrio, as mudanças na força dos músculos da perna, a flexibilidade, a amplitude de movimento e as informações sensoriais alteram as características da marcha na terceira idade; • As características da marcha dos muito jovens e dos muito idosos apresentam várias semelhanças. Ambos os grupos demonstram menor duração do apoio simples e maior tempo de apoio; • Características comuns da marcha na terceira idade incluem uma base de sustentação mais larga, diminuição do balanço recíproco dos braços e menor cadência. ALTERAÇÕES NO PADRÃO DE MARCHA • Existem algumas causas comuns de alterações no padrão normal de marcha. Podem ocorrer patologias específicas ou situações mais gerais (como dor inespecífica); • Os desvios podem representar um ref lexo direto do comprometimento específico ou podem ser uma compensação biomecânica por algum aspecto da deficiência; • Dor, distúrbios do sistema nervoso e distúrbios do sistema musculoesquelético são possíveis causas de alteração nestes padrões. ALTERAÇÕES NO PADRÃO DE MARCHA • A marcha antálgica é autoprotetora e decorrente de alguma lesão. A fase de apoio sobre o membro inferior afetado é mais curta do que sobre o não afetado, pois o paciente procura remover o peso que incide sobre o membro inferior afetado; • Por essa razão, a duração da fase de apoio sobre cada membro inferior deve ser observada. A fase de balanço do membro inferior que não é comprometido diminui. O resultado é um menor comprimento do passo no lado não afetado e a diminuição da velocidade da marcha e da cadência. Marcha Antálgica ALTERAÇÕES NO PADRÃO DE MARCHA • A marcha artrogênica é consequência de rigidez ou deformidade articular, e pode ser dolorida ou indolor. Se o joelho ou o quadril for submetido a uma artrodese ou a um aparelho gessado recentemente, a pelve deve ficar elevada em decorrência da flexão plantar exagerada do tornozelo oposto e da circundução do membro inferior rígida (marcha com circundução) para permitir a elevação dos dedos; • O paciente com este tipo de marcha eleva todo o membro inferior mais do que o normal para tirá-lo do solo por causa da rigidez do quadril ou do joelho; • Por causa da perda de flexibilidade do quadril e/ou do joelho, os comprimentos de marcha dos dois membros inferiores são diferentes. Marcha Artrogênica ALTERAÇÕES NO PADRÃO DE MARCHA Marcha Artrogênica ALTERAÇÕES NO PADRÃO DE MARCHA Marcha Artrogênica ALTERAÇÕES NO PADRÃO DE MARCHA • Déficit muscular do Glúteo Médio: • A fraqueza do glúteo médio pode ocorrer como lesão direta ao músculo ou como consequência de uma lesão em outro aspecto do membro. A marcha típica vista com a presença de fraqueza do glúteo médio é a marcha de Trendelenburg. ALTERAÇÕES NO PADRÃO DE MARCHA • Déficit muscular do Glúteo Máximo: • Quando o músculo glúteo máximo, que é o principal extensor do quadril, é fraco, o paciente impulsiona o tórax para trás no momento do contato inicial (toque do calcanhar) para manter a extensão do quadril do membro inferior de apoio. A marcha resultante inclui uma queda do tronco para trás. ALTERAÇÕES NO PADRÃO DE MARCHA • Déficit muscular do Quadríceps: é uma ocorrência comum após uma lesão agudaou crônica do joelho, cirurgia, dor e edema. O paciente com fraqueza do quadríceps coloca o joelho em hiperextensão na fase de apoio; ALTERAÇÕES NO PADRÃO DE MARCHA • Déficit muscular do Tibial Anterior: • Déficit muscular dos dorsiflexores podem resultar em uma queda do pé durante a fase de balanço, exigindo do quadril e do joelho uma flexão excessiva para a retirada dos dedos do chão, à medida que o membro é avançado para frente durante o balanço.
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