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filosofia 1 P2

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FACULDADE PRESBITERIANA MACKENZIE 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
ATIVIDADE AVALIATIVA DE FILOSOFIA DO DIREITO 
VITORIA LETICIA MOURA DO NASCIMENTO 
TIA: 32076037 
2B 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2020 
 
 
1) Compare e analise o “direito de propriedade” na obra Leviatã de Thomas 
Hobbes e na obra Segundo Tratado sobre o Governo de John Locke. A resposta 
precisa apresentar pelo menos uma citação de cada uma das obras. (5.0) 
De acordo com o Leviatã o direito de propriedade emana do soberano, do estado todo 
poderoso. Deste modo, o direito a propriedade é concedido pela submissão as leis 
civis, visto que a propriedade privada não constituía um direito natural pois o homem 
não poderia possuir algo sendo que não possuía a capacidade de manter isto. Na 
concepção hobbesiana onde não há Estado (ausência de estabelecimento de poder 
coercitivo), não á propriedade, pois todos os homens têm direito às coisas. “A justiça 
e a propriedade têm início com a constituição do Estado...” (HOBBES, Thomas. Leviatã) 
“(...)E onde não foi estabelecido um poder coercitivo, isto é, onde não há Estado, não 
há propriedade, pois todos os homens têm direito a todas as coisas.” (HOBBES, 
Thomas. Leviatã) 
Já pela perspectiva de John Locke o direito à propriedade é um direito natural, inerente 
ao homem. Nesta linha de pensamento liberdade e igualdade eram considerados 
quase que interdependentes, a ideia de posse fica associada à condição natural de 
sobrevivência, não podendo este direito depender de um consentimento, que neste 
caso poderíamos denominar como contrato. Logo, a propriedade, no pensamento 
lockiano não é uma instituição da sociedade política e sim uma condição natural. 
“O estado de natureza tem uma lei da natureza para governá-lo, a que todos estão 
sujeitos; e a razão, que é aquela lei, ensina a todo o gênero humano... que, sendo 
todos iguais e independentes, ninguém deve prejudicar o outro em sua vida, saúde, 
liberdade ou posses”. (Segundo Tratado sobre o Governo) 
“O “estado de Natureza” é regido por um direito natural que se impõe a todos, e com 
respeito à razão, que é este direito, toda a humanidade aprende que, sendo todos 
iguais e independentes, ninguém deve lesar o outro em sua vida, sua saúde, sua 
liberdade ou seus bens;[...]” (Segundo Tratado sobre o Governo) 
 
 
2) O desrespeito de leis ou decisões judiciais injustas pode ser visto como um 
direito das pessoas? Discorra sobre as posições teóricas defendidas por 
 
 
Sócrates no diálogo Criton de Platão e por John Locke no Segundo Tratado 
sobre o Governo. Por último, apresente e fundamente a sua opinião sobre essa 
pergunta. (5.0) 
No que tange o desrespeito às decisões judiciais, ainda que injustas, é possível 
afirmar que Sócrates se mostra contrário a este posicionamento, ainda que esteja 
preso aguardando a execução da sentença condenatória. Apesar de Críton tentar 
convencer Sócrates de que ele pode fugir da cadeia, uma vez que ele e os amigos 
discordam da decisão judicial, Sócrates segue convicto de seu ideal de obediência. 
Críton afirma que sua reputação como amigo perante a sociedade será destruída 
caso ele não investisse na fuga do amigo, afirma também que Sócrates, tendo a 
possibilidade de fuga e preferindo obedecer às leis e à cidade está abandonando 
sua família. 
Mesmo com os argumentos apresentados por Críton, Sócrates mostra-se firme na 
obediência às leis, visto que caso o contrário fosse realizado ele estaria 
enfraquecendo as instituições da cidade. Sócrates contra argumenta Críton no que 
cerne à destruição de sua reputação como amigo, pois nem toda a opinião deve 
ser considerada. Sócrates defende que não devemos cometer injustiças 
voluntariamente, nem responder a uma injustiça com outra injustiça. Para ele não 
há diferença entre cometer o mal e cometer uma injustiça. 
Sócrates discorre sobre como não se deve retribuir uma injustiça com outra 
injustiça e que o caminho, quando se considera uma convenção injusta, ao invés 
da desobediência, é a modificação de tais a partir do Direito. 
Já tratando do posicionamento de John Locke, há na obra “O Segundo Tratado 
sobre o Governo” há uma defesa categórica de que as bases de legitimidade do 
governo são as mesmas que fundamentam e legitimam o direito de rebelião. De 
acordo com Locke, se o governo é instituído objetivando defender a vida, a 
liberdade e os bens dos homens contra as fragilidades que encontram quando 
expostos ao estado de natureza, sempre que houver rompimento ou atentado 
contra estes direitos naturais por parte daqueles que governam, indo em 
desacordo a finalidade do que é instituído ao governo, essas pessoas ou órgãos 
assumem uma posição de guerra contra o povo, que automaticamente torna-se 
legitimamente desobrigado da obediência a qual haviam consentido. Vale ressaltar 
 
 
o seguinte trecho da obra: “como não se pode jamais supor ser a vontade da 
sociedade que o legislativo tenha o poder de destruir aquilo que todos têm o 
propósito de proteger ao entrar em sociedade, e em nome de que o povo se 
submete aos legisladores por ele próprio instituídos, sempre que tais legisladores 
tentarem violar ou destruir a propriedade do povo ou reduzi-lo à escravidão sob 
um poder arbitrário, colocar-se-ão em estado de guerra com o povo, que fica, a 
partir de então, desobrigado de toda obediência e deixado ao refúgio comum 
concedido por Deus a todos os homens contra a força e a violência”. 
Outro fator capaz de originar o direito de rebelião é a hipótese de falha na 
promoção do bem comum e a atuação fora dos limites da lei positiva, visto que o 
abuso de poder retira a legitimidade indispensável para que haja obediência ao 
governo por parte dos cidadãos. Um terceiro fator, que também retira a 
legitimidade do governo, é a perda de confiança da maioria da comunidade, visto 
que se o governo perde o consentimento da maioria, ele perde também sua 
legitimidade, havendo possibilidade do direito de resistência por parte da 
população. 
Locke admite que todos os homens livres possuam tanto o direito de resistência 
quanto o direito de rebelião, pois todos se encontram englobados por uma 
responsabilidade moral e política além de uma igual participação na soberania. 
Locke admite o direito de resistência como válido a todas as comunidades, 
independentemente da forma de governo adotada. 
Por fim, a meu ver, é necessário que haja cautela nesta tentativa de combate às 
injustiças. Isto pois, por tratar-se de um conceito abstrato, às vezes o que se 
mostra justo a alguns pode mostrar-se injusto a outros. Sendo assim, se cada 
indivíduo que ao se deparar com algo que ele considerasse injusto decidisse 
combater, a sociedade acabaria por retornar a um estado de natureza, uma vez 
que pouco a pouco o poder legislativo iria esvair-se em prol desta busca por “justiça 
com as próprias mãos”. Se temos atualmente na sociedade um sistema que regula 
as atividades sociais, é porque esta se mostra necessária e mais efetiva na busca 
pelo bem comum. 
 
 
 
 FONTES BIBLIOGRÁFICAS: 
• HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e 
civil. Coleção Os pensadores, vol. XIV. Tradução João Paulo Monteiro e Maria 
Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril cultural, 1974. 
• Segundo Tratado sobre o Governo de John Locke.

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