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Disciplina: Introdução ao Antigo Testamento Aula 1: Antigo Testamento e Bíblia Hebraica Apresentação Nesta aula, apresentaremos os principais conceitos para começarmos a analisar o Antigo Testamento. A grande utilização dessas Escrituras por grupos diversos e de vários períodos históricos as torna um conjunto de textos com muitos nomes: Torah, Velho Testamento, Antigo Testamento, Segundo Testamento, Bíblia Hebraica. Tais nomenclaturas constituem, em certa medida, juízos distintos e abordagens muitas vezes diferentes em relação ao texto do Antigo Testamento. Além disso, o grande número de obras na coleção que o compõe motivou divisões de tais livros em subcoleções, especialmente duas: a Bíblia Hebraica (divisão tripartite) e sua tradução em língua grega – a Septuaginta [LXX] (divisão quadripartite). Cada subconjunto desses foi formado em um processo de redação e de colecionamento, que pode ser historicamente identificado e que serve para compreender melhor não apenas o conteúdo dos textos do Antigo Testamento, mas a ordem dos livros como se apresenta hoje. Objetivos Explicar a diferença entre as nomenclaturas referentes ao Antigo Testamento; Analisar as divisões tripartite (Bíblia Hebraica) e quadripartite (Septuaginta); Página 1 de 234 Antigo Testamento: nomes e conceitos Os escritos que compõem o Antigo Testamento cristão ou a Bíblia Hebraica estão entre os mais influentes da história ocidental. Em parte, é possível atribuir sua influência à grande qualidade da literatura veterotestamentária. Entretanto, uma vez que nem todos os livros da Bíblia são clássicos literários, sua importância não depende tanto de seu mérito literário quanto da consideração de seu caráter sagrado. Há quem tenha crenças sobre a natureza da Bíblia, mas não conheça seu conteúdo. Por isso, é necessário analisar os textos bíblicos, a história de sua composição e seus gêneros literários. A investigação desses e de outros temas relacionados à origem, às características e à disseminação do Antigo Testamento é um conhecimento introdutório importante que procuraremos elucidar aqui. Bíblia. Vejamos: Nomes Judaicos <galeria/aula1/anexo/nomes_judaicos.pdf> Nomes Cristãos <galeria/aula1/anexo/nomes_cristaos.pdf> Página 3 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/galeria/aula1/anexo/nomes_judaicos.pdf file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/galeria/aula1/anexo/nomes_cristaos.pdf Divisão da Bíblia Hebraica: tripartite A Bíblia Hebraica é uma coleção de 24 livros – às vezes referidos pelo acrônimo Tanak – com três divisões: Lei (Torah) Composta de cinco livros tradicionalmente atribuídos a Moisés: Gênesis; Êxodo; Levítico; Números; Deuteronômio. Profetas (Nevî’îm) Divididos em: Quatro livros dos Profetas Anteriores 1. Josué; 2. Juízes; 3. Samuel (1 e 2 Samuel são contados como um só livro); 4. Reis (1 e 2 Reis são contados como um livro). Quatro livros dos Profetas Posteriores Página 4 de 234 1. Isaías; 2. Jeremias; 3. Ezequiel; 4. Os Doze Profetas Menores (contados como um livro) I. Oseias; II. Joel; III. Amós; IV. Obadias; V. Jonas; VI. Miqueias; VII. Naum; VIII. Habacuque; IX. Sofonias; X. Ageu; XI. Zacarias; XII. Malaquias. Escritos (Ketûbîm) Somam 11 livros: 1. Salmos; 2. Provérbios; 3. Jó; 4. Cântico dos Cânticos (Cantares); 5. Rute; Página 5 de 234 6. Lamentações; 7. Eclesiastes (Qoheleth); 8. Ester; 9. Daniel; 10. Esdras e Neemias (reunidos em apenas um livro); 11. Crônicas (1 e 2 Crônicas são contados como um livro). Veja o índice de livros da Bíblia Hebraica em latim e hebraico: Biblia Hebraica Sttutgartensia. 5. ed. – publicada pela Deutsche Bibelgesellschaft Divisão da Bíblia Grega (Septuaginta [LXX]): quadripartite A tradução dos escritos hebreus para a língua grega foi um processo relacionado à mudança do panorama geopolítico no Antigo Oriente Próximo. Página 6 de 234 Quando Alexandre, o Grande, liderou seus exércitos de língua grega e conquistou os persas, incorporou os vastos territórios desse império. Ao mesmo tempo, entrou em operação uma política de dominação cultural: a helenização . Embora Alexandre tenha morrido antes de realizar seu suposto ideal de sedimentar conquistas por meio da unidade política, mediante um conjunto de ações de uniformização cultural, seus sucessores estabeleceram vários reinos duradouros, com base nos quais promoveram a língua, a literatura e a religião gregas em toda a região do Mediterrâneo Oriental. - Regido por descendentes de Ptolomeu – general de Alexandre –, o Egito era habitado por uma grande comunidade de judeus da diáspora em sua principal cidade portuária: Alexandria. Em cerca de 250 a.C., durante o reinado de Ptolomeu II (285-246 a.C.), estudiosos judeus se comprometeram a traduzir para o grego a Bíblia Hebraica, começando pela Torah. De acordo com uma lenda preservada na Carta de Aristeas, 72 estudiosos de Jerusalém trabalharam em pares 72 dias para produzir uma tradução grega da Bíblia Hebraica. Conhecida pelo nome Septuaginta – também chamada de LXX e, popularmente, de Tradução dos Setenta –, essa tradução dos textos hebraicos e aramaicos em língua grega comum . (κοινὴ γλῶσσά [koinḕ glôssa]) foi muito utilizada nas comunidades judaicas da diáspora. Eventualmente adotada pela comunidade cristã primitiva, é essa edição grega da Bíblia Hebraica que a maioria dos escritores do Novo Testamento cita. 1 2 Página 7 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula1.html file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula1.html Primeiras linhas da Carta de Aristeias para Filócrates Manuscrito da Biblioteca Apostólica Vaticana (século XI d.C.) A divisão dos textos da Septuaginta é diferente da divisão da Bíblia Hebraica. Também há a questão dos livros que aparecem, de sua divisão e extensão. A Septuaginta inclui traduções de alguns livros que foram escritos em hebraico, mas não foram incluídos na Bíblia Hebraica – como, por exemplo, Eclesiástico e 1 Macabeus. Há, ainda, alguns livros que foram compostos em grego – 2 Macabeus, Sabedoria de Salomão. Tal dado levantou o seguinte problema: Os judeus de Alexandria tinham uma coleção maior de Escrituras do que os judeus na terra de Israel? A resposta é: SIM e NÃO.. Por um lado, não há evidências de que exista uma lista de livros em Alexandria distinta dos livros usados pelos judeus na Palestina. Por outro, é indiscutível que os judeus de Alexandria não estabeleceram um limite para o número de escritos sagrados, como os rabinos fizeram após a queda de Jerusalém. A comunidade judaica em Alexandria foi praticamente aniquilada no início do século II d.C. Os cristãos que assumiram as Escrituras Judaicas em língua grega herdaram uma coleção maior e mais fluida Página 8 de 234 de textos. Séculos mais tarde, foi possível observar uma variação considerável de livros nas listas canônicas do Antigo Testamento citadas pelos pais da Igreja. Ainda que haja tais variações, os livros que compuseram a LXX são organizados em uma divisão quadripartite: Lei ou Pentateuco Os mesmos livros presentes na Torah hebraica recebem, em grego, o nome de Pentateuco (πέντε [pénte], ‘cinco’, e τεύχος [téukhos] rolo) ou livros da Lei. São cinco: 1. Gênesis; 2. Êxodo; 3. Levítico; 4. Números; 5. Deuteronômio. Históricos Incluem os seguintes livros: 1. Josué; 2. Juízes; 3. Rute; 4. 1 Reis (= 1 Samuel); 5. 2 Reis (= 2 Samuel); Página 9 de 234 6. 3 Reis (= 1 Reis); 7. 4 Reis (= 2 Reis); 8. 1 Paraleipoménon (= 1 Crônicas); 9. 2 Paraleipoménon (= 2 Crônicas); 10. 1 Esdras; 11. 2 Esdras (= Esdras-Neemias); 12. Tobias; 13. Judite; 14. Ester; 15. 1 Macabeus; 16. 2 Macabeus; 17. 3 Macabeus. Sabedoria ou Poéticos Inclui os seguintes livros: 1. Salmos; 2. Salmo 151; 3. Oração de Manassés; 4. Jó; 5. Provérbios; 6. Eclesiastes; 7. Cântico dosCânticos; 8. Sabedoria de Salomão; 9. Sabedoria de Jesus, filho de Sirac; Página 10 de 234 10. Salmos de Salomão. Profetas Coleção que fecha a LXX com os seguintes livros: 1. Os Doze Profetas Menores I. Oseias; II. Joel; III. Amós; IV. Obadias; V. Jonas; VI. Miqueias; VII. Naum; VIII. Habacuque; XI. Sofonias; X. Ageu; XI. Zacarias; XII. Malaquias. 2. Isaías; 3. Jeremias; 4. Baruc; 5. Lamentações; 6. Epístola de Jeremias; 7. Ezequiel; 8. Daniel. Página 11 de 234 Saiba mais A Septuaginta tem um apêndice que, eventualmente, surge em edições manuscritas: 4 Macabeus. Primeira página do livro de 4 Macabeus com os 29 primeiros versículos do texto Septuaginta, Codex Sinaiticus (metade do século IV d.C.), fólio 34. Divisão do Antigo Testamento Protestante O Antigo Testamento das Igrejas Protestantes tem o mesmo conteúdo que a Bíblia Hebraica, mas organiza os livros de forma diferente. Os primeiros cinco são os mesmos, mas, geralmente, são chamados de Pentateuco, e não de Torah. Samuel, Reis, Esdras-Neemias e Crônicas são divididos, cada um deles, em dois livros. Por fim, os Doze (ou Profetas Menores) são contados, cada um, como um livro. Página 12 de 234 Logo, o mesmo conteúdo da Bíblia Hebraica está no Antigo Testamento Protestante. Mas a divisão dos livros é distinta: os 24 da Bíblia Hebraica correspondem aos 39 do Antigo Testamento. Bíblia. Ainda em relação à nomenclatura e à divisão, os protestantes consideram os Profetas Anteriores Livros Históricos. Tais livros (Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis) são agrupados a 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. Já os livros Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos formam o conjunto dos Poéticos por sua forma, que contrasta com a prosa dos Históricos. O próximo (e último) grupo é formado pelos Livros Proféticos, postos no final da coleção, apontando para o Novo Testamento. Eles são compostos por: 1. Isaías; 2. Jeremias; 3. Lamentações de Jeremias; 4. Ezequiel; 5. Daniel; 6. Os Doze Profetas, cujos livros são considerados individualmente I. Oseias; Página 13 de 234 II. Joel; III. Amós; IV. Obadias; V. Jonas; VI. Miqueias; VII. Naum; VIII. Habacuque; IX. Sofonias; X. Ageu; XI. Zacarias; XII. Miqueias. Frontispício da Bíblia de Lutero (1541) com ilustrações de Lucas Cranach, o moço. Página 14 de 234 Divisão do Antigo Testamento na Igreja Católica Apostólica Romana O cânon Católico-Romano contém vários livros que não estão no Antigo Testamento Protestante ou na Bíblia Hebraica. São eles: Tobias; Judite; Sabedoria de Salomão; Eclesiástico ou Sabedoria de Jesus, filho de Siraque – também chamado de Sirácida; Baruc; 1 e 2 Macabeus. Além disso, os livros de Daniel e Ester contêm passagens que não são encontradas na Bíblia Hebraica, como, por exemplo, a chamada Oração de Azarias e a Canção dos Três Jovens, inseridas em Daniel 3. As histórias de Susana e Bel e o Dragão também estão presentes no livro de Daniel em sua versão presente no cânon católico. Em relação à divisão, não há distinção entre protestantes e católicos. Lei, Históricos, Poéticos e Proféticos são os títulos usados para organizar os livros em corpora . Maiestas Domini (Cristo em Majestade) com os quatro evangelistas 3 Página 15 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula1.html Página que indica o início do Novo Testamento do Códice Amiatinus, fólio 796 v (século IX d.C.). Biblioteca Medicea Laurenziana. Contém o texto da Vulgata Latina com os livros adotados pelo Catolicismo Romano sob a influência da tradução de Jerônimo. Divisão do Antigo Testamento na Igreja Ortodoxa Grega e na Igreja Etíope A Igreja Ortodoxa Grega tem um cânon ainda maior, que inclui: 1 Esdras – que reproduz a substância do livro de Esdras e partes de 2 Crônicas e Neemias; Salmo 151; Oração de Manassés; 3 Macabeus. Página 16 de 234 O 4 Macabeus está nas Bíblias gregas, mas é considerado um apêndice para o cânon. Já 2 Esdras aparece como apêndice na Vulgata Latina. Apócrifos/deuterocanônicos e pseudepígrafos Os livros denominados apócrifos (= escondidos) são aqueles que, para os protestantes, não fazem parte dos canônicos. Os católicos referem-se a tais livros como deuterocanônicos (= secundariamente canônicos) em reconhecimento ao fato de que não são encontrados na Bíblia Hebraica. As Igrejas Cristãs Orientais possuem cânones mais extensos da Escritura. Por exemplo, os livros dos Jubileus e 1 Enoque alcançaram o status canônico na Igreja Etíope. Já os livros pseudepígrafos são aqueles atribuídos a autores que não correspondem aos verdadeiros escritores. Enoque, o Apocalipse de Moisés, 2 Esdras etc. são livros cuja autoria mencionada concede-lhes caráter autoritativo, sem, contudo, corresponder a seu autor original – geralmente desconhecido. Os livros do gênero apocalíptico, que apelam ao extraordinário para se referir à intervenção salvadora e divina no mundo diante dos opressores do povo de Deus, recorrem, normalmente, à pseudepigrafia. Página 17 de 234 Exemplo Um exemplo do uso do livro apocalíptico é a adoção pela Comunidade de Qumran do calendário presente em Enoque. O manuscrito 4Q208-211 mostra que os qumranitas (talvez essênios) adotavam um ano de 364 dias, como proposto no livro apocalíptico. A tabela a seguir apresenta a reconstituição desse calendário: Meses 1, 4, 7, 10 Meses 2, 5, 8, 11 Meses 3, 6, 9, 12 Quarta 1, 8, 15, 22, 29 6, 13, 20, 27 4, 11, 18, 25 Quinta 2, 9, 16, 23, 30 7, 14, 21, 28 5, 12, 19, 26 Sexta 3, 10, 17, 24 1, 8, 15, 22, 29 6, 13, 20, 27 Sábado 4, 11, 18, 25 2, 9, 16, 23, 30 7, 14, 21, 28 Domingo 5, 12, 19, 26 3, 10, 17, 24 1, 8, 15, 22, 29 Segunda 6, 13, 20, 27 4, 11, 18, 25 2, 9, 16, 23, 30 Terça 7, 14, 21, 28 5, 12, 19, 26 3, 10, 17, 24 Estrutura do Antigo Testamento Os cinco livros da Torah foram os primeiros a formar uma coleção, o que foi atribuído na tradição à atuação de Esdras (escriba), no século V a.C. Entretanto, uma vez que os livros exerceram grande importância no período de exílio dos judeus na Babilônia (586-539 a.C.), é possível que a Torah tenha sido completada um século antes da atuação de Esdras, na parte final do exílio. Também é provável que tenha sofrido alterações e modificações após o tempo de Esdras. Página 18 de 234 A coleção hebraica dos profetas parece ter sido formada antes do século II a.C. É possível encontrar referências à Lei (Torah) e aos Profetas como Escrituras no século II a.C., especialmente no livro de Eclesiástico (ou Sirácida). Grupo de judeus. Os Manuscritos do Mar Morto apresentam cópias desses livros e referências nos livros da comunidade (Rolo da Guerra e Regra da Comunidade) à Lei e aos Profetas. Outro fator importante é que o livro de Daniel, composto em cerca de 164 a.C., não encontrou um lugar entre os Profetas na Bíblia Hebraica. Essa é uma evidência significativa de que a coleção dos Profetas já estava estabelecida no momento da composição de Daniel. Mas a primeira lista de livros do Antigo Testamento tardou a aparecer. O próprio Novo Testamento e a maioria das referências ao que hoje chamamos de Antigo Testamento nos escritos judaicos do século I d.C. mencionam apenas “a Lei e os Profetas”. Os Salmos são, eventualmente, referidos como terceira categoria: a dos Escritos. É provável que quem os mencionou tenha feito alusão a toda a coleção de livros que tem nos Salmos seu maior e mais 4 Página 19 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula1.html significativo representante. Ainda assim, os Manuscritos do Mar Morto ajudam a entender o caráter indefinido da coleção dos Escritos e, até mesmo, do livro de Salmos entre os séculos I a.C. e I d.C.: a comunidade que produziu esses manuscritos incluiu Salmos adicionais, o que parece indicar que a coleção canônica ainda não foi feita. Leitura Para saber mais sobre o assunto, leia o texto A Comunidade de Qumran e a BíbliaHebraica. <galeria/aula1/anexo/comunidade_qumran.pdf> Atividades 1. Abra uma Bíblia de orientação protestante – como a tradução de Almeida Revista e Atualizada (ARA) ou Almeida Revista e Corrigida (ARC), ou a Nova Versão Internacional (NVI), e analise a divisão dos livros e a relação de livros no sumário. Em seguida, abra uma Bíblia de orientação católico-romana – como a Bíblia de Jerusalém (BJ), a tradução dos Monges de Maredsous (Bélgica), chamada no Brasil de Ave Maria (editora) – e faça o mesmo. Anote o número de livros em cada divisão e os nomes de cada um. Página 20 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/galeria/aula1/anexo/comunidade_qumran.pdf 2. A divisão e os livros da Bíblia Hebraica e da Septuaginta servem de base para o Antigo Testamento Protestante e Católico. Explique, em linhas gerais, a relação entre a Bíblia Hebraica e a Septuaginta, e as Bíblias Protestante e Católica. 3. Defina os conceitos de apócrifo, deuterocanônico e pseudepígrafo. Quando se diz que um universo é homogêneo, significa que: a) Os cristãos consideram as Escrituras produzidas pela Igreja Cristã o Novo Testamento e estabelecem mediante o nome Antigo Testamento um vínculo, uma relação íntima entre os escritos autoritativos de origem judaica e os textos cristãos em grego. b) No Novo Testamento, o advento da graça torna o Antigo – texto que apresenta a lei – um livro superado, pois assim afirma a Escritura: “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (João 1.17). c) Marcião e os superssessionistas rejeitam o texto do Antigo Testamento. d) Cristo e os autores do Novo Testamento chamam o Antigo de a Lei e os Profetas, ou a Lei, os Profetas e os Salmos. Notas Página 21 de 234 Disciplina: Introdução ao Antigo Testamento Aula 2: Introdução geral do Antigo Testamento Apresentação Na aula anterior, apresentamos a Bíblia Hebraica: seu nome, sua divisão e estruturação. Agora, nós nos aprofundaremos no Antigo Testamento. A chamada Introdução Geral do Antigo Testamento é o estudo da formação dos textos, da consideração progressiva de sua sacralidade e autoridade religiosa (canonicidade), e da transmissão do Antigo Testamento. Para esse estudo, faremos a análise de como a Bíblia Hebraica foi redigida, entenderemos como tais textos foram canonizados, e como os manuscritos foram transmitidos em papiros e pergaminhos, os quais são a origem do Antigo Testamento, traduzidos nas várias línguas para a leitura e a devoção de cristãos, judeus e muçulmanos. Objetivos Explicar o processo de formação dos livros do Antigo Testamento (Redaktiongeschichte); Definir o conceito de cânon – desde a formação dos livros até seu agrupamento e sua sacralização; Identificar os principais manuscritos do Antigo Testamento, as edições críticas da Bíblia Hebraica e as principais traduções em língua portuguesa. Página 24 de 234 Redação O processo de composição do Antigo Testamento e de definição do cânone foi longo e gradual. Em nenhum momento, algum conselho ou alguma autoridade religiosa decretou os livros que os hebreus deveriam aceitar ou rejeitar. A Bíblia Hebraica surgiu, cresceu e foi organizada lentamente: seus conteúdos foram redigidos e se expandiram de forma intermitente, em um processo complexo de redação e incorporação de novos documentos. Durante muitas gerações, escritores registraram e interpretaram as experiências políticas e espirituais de sua nação, mas sem a pretensão de que tais registros fossem se transformar em sagrados. Livro antigo com uma pena de pássaro. O exílio babilônico (564-539 a.C.) é o episódio que explica muito a razão por que os escritos legais e proféticos de Israel foram se tornando cada vez mais importantes. A destruição do templo e da cidade de Jerusalém, o fim da monarquia israelita e o desterro destituíram os judeus de elementos fundamentais para a constituição de sua identidade étnica e religiosa. Logo, a identidade coletiva do povo de Israel passou a ser mantida e divulgada por sua memória traditiva, posta cada vez mais na forma escrita. Esses textos foram: Página 25 de 234 1 Citados, debatidos e lidos publicamente em festivais nacionais. 2 Ensinados com o objetivo de formar os mais jovens na fé judaica. 3 Recitados para explicar a própria razão do exílio. Isso tornou tais escritos, tanto por uso quanto por hábito, livros sagrados para Israel. É provável que, no século IV a.C. – época em que os administradores persas encorajavam ativamente a publicação das leis religiosas da Judeia –, as tradições legais de Moisés tenham sido reformuladas, editadas e publicadas nos cinco livros da Torah, e, em seguida, proclamadas como vinculativas para todos os judeus. Essa coleção (Pentateuco) foi a primeira parte da Bíblia Hebraica a alcançar o status autoritativo. No tablete de argila, está o mais antigo texto conhecido a documentar o exílio de Judá na Babilônia (Bible Lands Museum, Jerusalém) As linhas 11 a 18 afirmam: “Testemunhas: Tub-shalam, filho de Ahiqar; Azar-Yama, filho de Yahu-Kullu; Ah-lumur, filho de Balassu, e o escriba, Nabu Na’id, filho de Nabu-zar-iqisha. [Escrito em] Al-Yahudaia (Cidade dos Judeus), no dia 20 de Nizã, ano 33 de Nabucodonosor, rei da Babilônia”. Página 26 de 234 Tablete de argila de 572 a.C. (Fonte: https://goo.gl/oD6Ron <https://goo.gl/oD6Ron> ) De acordo com certos indícios, na esteira da formação, organização e redação da Torah, a segunda divisão principal da Tanak – os Profetas (Nevî’îm) – pode ter sido aceita por volta de 200 a.C. Isso deve ter acontecido, ao menos, com alguns grupos influentes dentro da comunidade judaica. A referência mais antiga a todas as três partes da Tanak como livro imbuído de autoridade ocorre no prefácio do Sirácida (Eclesiástico): Em grego Página 27 de 234 https://goo.gl/oD6Ron 1 Mas de quem dá a sua vida e reflete na LEI do Altíssimo, investigará a sabedoria de todos os antigos e se dedicará nas PROFECIAS. 2 preservará os ESCRITOS dos homens célebres e penetrará na sutileza das parábolas. 3 procurará o segredo dos provérbios e ocupa-se do sentido oculto dos provérbios e viverá o enigma das parábolas. Sirácida 39.1-3 Embora alguns dos Escritos (como os Salmos) tenham sido usados no culto de Judá por gerações, essa parte da Escritura pode ter permanecido aberta até o primeiro século. Afinal, alguns grupos judeus, como aqueles que viviam no Egito, aceitavam livros que, em última instância, não estavam incluídos na Tanak. A atividade literária de Israel ocorre não só no âmbito da religião mas também no contexto mais amplo das práticas do Antigo Oriente Próximo. É fato que a elite dos escribas de Israel, em alguma extensão, transmitiram, revisaram e expandiram os textos bíblicos. O Antigo Testamento é, em grande parte, resultado da atuação dos escribas profissionais de Israel. Em vez de meros copistas de materiais mais antigos, os escribas israelitas preservaram as tradições e as leis ancestrais de Israel por escrito. O processo de produção desse material escrito envolveu revisões, edições e reedições. Página 29 de 234 Saiba mais Tradicionalmente, Esdras – o escriba sacerdote – publicou a edição autorizada da Torah durante o período de dominação persa. Basta analisarmos os livros de Esdras e Neemias, que correspondem à memória da atuação de Esdras. É bem provável, ainda, que escribas tenham adicionado, posteriormente, coleções de oráculos proféticos e outros livros sagrados – como Salmos, Jó e Eclesiastes. Ao produzirem e reproduzirem cópias escritas da Torah, dos Profetas e dos Escritos, de alguma forma, os escribas orientaram o processo de compilação de livros sagrados, dando a eles alguma aprovação prévia. Entretanto, ao que tudo indica, outros grupos judeu-helenísticos não estritamente vinculados ao templo de Jerusalém (como os essênios) aceitaram outros textos para além dos que entraram na Tanak. Selo de Elishama, escriba citado em Jeremias 41.1e 2 Reis 25.25. Analisado por: Avigad, 1997, p. 53. (Fonte: https://goo.gl/eBsD3t <https://goo.gl/eBsD3t> ) Página 30 de 234 https://goo.gl/eBsD3t Ainda assim, os escribas da Judeia parecem ter contribuído muito para a organização, redação, revisão e determinação do conteúdo final da Bíblia Hebraica. Esse processo, do qual os escribas podem ter participado, é a canonização. Ruínas do Scriptorium dos escribas na Comunidade de Qumran (Fonte: https://goo.gl/7HZ2hH <https://goo.gl/7HZ2hH> ) Cânon Cânon é a lista de livros incluídos nas várias Bíblias. Como já foi possível constatar, quando se trata do Antigo Testamento, há várias extensões diferentes para o cânon e listas distintas de livros que compõem as Escrituras hebraicas – consideradas, por judeus e cristãos, autoritativas em matéria de fé e religião. As distinções entre os vários cânones remontam às diferenças entre: As Escrituras que se tornaram o Antigo Testamento – originalmente escritas em hebraico (com algumas porções em aramaico); 1 Página 31 de 234 https://goo.gl/7HZ2hH file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula2.html A coleção mais ampla que circulava em língua grega – majoritariamente formada por traduções dos textos hebraicos e aramaicos. A determinação dos livros do Antigo Testamento foi atribuída, durante muito tempo, ao chamado sínodo de Jâmnia. Após a guerra dos judeus contra Roma (66-73 d.C.) e a vitória das tropas romanas, um grupo de rabinos teria se reunido na cidade costeira de Jâmnia (Yavneh) para consolidar e unificar o judaísmo pós-guerra. De acordo com essa tradição, tal reunião (ocorrida em cerca de 90 d.C.) teria definido o cânon, decidindo, exatamente, quais livros eram sagrados. No entanto, não há evidências documentais que provem que rabinos em Jâmnia tenham se reunido para fechar o cânon. E há quem duvide que uma assembleia rabínica tenha, de fato, ocorrido. Ao que parece, os limites precisos do cânon – especialmente dos Escritos (Nevî’îm) – só ocorreram mais tarde, com participação importante dos escribas. Foram eles que criaram um texto bíblico padrão – protótipo do Texto Massorético posterior. Essa padronização dos manuscritos bíblicos ocorreu, aparentemente, durante o período compreendido entre as duas guerras dos judeus contra Roma: 2 Página 32 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula2.html 1 1ª guerra 66-73 d.C. 2 2ª guerra 132-135 d.C. Uma evidência da definição do cânon judaico no período entre as duas guerras é destacada pelo historiador judeu Flávio Josefo (37-100 d.C.). Ele parece assumir a existência de um cânone estabelecido em Contra Apião: Em grego Página 33 de 234 Não temos miríades de livros junto a nós, discordando e lutando uns com os outros, mas vinte e dois livros que têm tudo [...] cinco são de Moisés [...] os profetas depois de Moisés anotaram o que foi feito em seus tempos em treze livros. Os quatro livros restantes contêm hinos para Deus e preceitos para a condução da vida humana. Josefo, Contra Apião, 1.38-40 A referência de Josefo a um total de 22 livros na Bíblia Hebraica traz algumas dificuldades. Ao que parece, os 24 livros presentes na atual Tanak são divididos de forma distinta por Josefo: o livro de Rute foi adicionado ao livro de Juízes, e o livro de Lamentações foi adicionado a Jeremias. Mas tal inferência é apenas uma hipótese. Portanto, é praticamente impossível identificar a data precisa em que os conteúdos do Antigo Testamento assumiram a forma em que se encontram no chamado Texto Massorético medieval. Ainda assim, a presença de manuscritos contendo material apócrifo – ou deuterocanônico, na perspectiva católico-romana –, como os Manuscritos do Mar Morto e as listas cristãs dos primeiros séculos do cristianismo, mostra que a questão dos conteúdos precisos da Bíblia Hebraica ainda não foi resolvida. Página 35 de 234 Atividade 1. Defina o conceito de cânon. Principais manuscritos As traduções modernas da Bíblia baseiam-se em edições impressas da Bíblia Hebraica. Essas edições, por sua vez, são o resultado do trabalho de crítica textual crítica textual sobre manuscritos do passado. No caso da Bíblia Hebraica, os manuscritos mais importantes são dos séculos X e XI d.C., ou seja, os medievais. O texto hebraico presente nesses manuscritos é chamado de Texto Massorético, que utiliza o alfabeto quadrado e adiciona às consoantes sinais diacríticos para representar as vogais, os acentos e as orientações para a leitura – prosódicas, métricas, pontuação etc. Os massoretas pertencem à família de Ben Asher, de Tiberíades (Galileia). Bíblia Hebraica (Fonte: Shutterstock / Alexander Dvorak) Leitura 3 4 Página 36 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula2.html file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula2.html Para aprofundar-se no assunto, leia mais sobre O Texto Massorético e os massoretas <galeria/aula2/anexo/a02_doc1.pdf> . O primeiro manuscrito medieval importante para a reconstituição do texto hebraico do Antigo Testamento é o Códice de Aleppo (ֶּכֶתר ֲאָרם צֹוָבא), do início do século X d.C. Esse manuscrito foi mantido pela comunidade judaica da cidade de Aleppo, na Síria, e é proveniente da tradição de Ben Asher. Em 1947, perdeu 1/4 de seu conteúdo em um incêndio na sinagoga que o conservava e, hoje, está guardado no Israel Museum (Jerusalém). Os esforços para a recuperação do que se perdeu do Códice de Aleppo estão sendo feitos desde que o manuscrito passou a ser cuidado pelas autoridades de Israel. Os esforços para reconstituição do Códice de Aleppo continuam pelas consultas às citações do manuscrito em obras rabínicas. Página do Códice de Aleppo, com destaque aos sinais massoréticos (Fonte: https://goo.gl/zfavfK <https://goo.gl/zfavfK> ) Outro manuscrito fundamental para a reconstituição do Antigo Testamento é o Códice de Leningrado B19A, do século XI d.C. (ano 1008 ou 1009). Esse manuscrito é a fonte mais completa de todos os livros bíblicos veterotestamentários. Sabe-se que foi corrigido de acordo com um manuscrito de Ben Asher e escrito por Samuel Ben Jacob Jam’a – tanto as consoantes quanto as vogais e notas massoréticas. 5 6 Página 37 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/galeria/aula2/anexo/a02_doc1.pdf file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula2.html file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula2.html https://goo.gl/zfavfK O Códice de Leningrado foi emprestado à Universidade de Leipzig e analisado por Paul Kahle, que o utilizou na edição da Biblia Hebraica Sttutgartensia (BHS) – a mais importante já impressa, que serve de base para as traduções modernas do Antigo Testamento. Desde a terceira edição da BHS (1937) – hoje, está em execução a quinta –, o texto apresentado é a publicação diplomática do Códice de Leningrado, que representa o impresso de um manuscrito. Página do Códice de Leningrado (fólio 474a) (Fonte: https://goo.gl/3h7irp <https://goo.gl/3h7irp> ) Saiba mais Há, ainda, outros manuscritos hebraicos – como o Códice do Cairo, contendo os Profetas (896 d.C.) – e outros manuscritos datados a partir do século X, inclusive os manuscritos iluminados (ilustrados), presentes na Biblioteca Digital da Universidade de Cambridge <http://cudl.lib.cam.ac.uk/collections/hebrew> . Página 38 de 234 https://goo.gl/3h7irp http://cudl.lib.cam.ac.uk/collections/hebrew Esses manuscritos são as mais antigas evidências do texto hebraico vocalizado. Na Antiguidade, a língua hebraica era escrita sem vogais. As evidências fragmentárias mais antigas de textos vocalizados pertencem ao século VI ou, talvez, ao século V d.C. Manuscritos do Mar Morto A descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto nas cavernas perto de Qumran, ao sul de Jericó,a partir de 1947, trouxe à luz manuscritos de livros bíblicos datados 1.000 anos antes do Códice de Aleppo. Todos os livros bíblicos, exceto Ester, são atestados na coleção de Qumran, mas muitos manuscritos estão em fragmentos. Analisá-los exigiu – e ainda exige – grande esforço dos críticos textuais. Não há, nos manuscritos de Qumran, sinais massoréticos, uma vez que o sistema foi desenvolvido séculos mais tarde. Sendo assim, esses manuscritos ajudam a reconstituir a história do texto consonantal. Ainda que a maioria dos textos esteja fragmentada, há textos praticamente integrais, como o rolo de Isaías (1QIsaª). Esse pergaminho contém todo o livro de Isaías e data de cerca de 100 a.C. Há manuscritos bíblicos em Qumran que datam do século III a.C. A maioria dos rolos compreende apenas um livro bíblico, mas três manuscritos da Torah continham dois livros consecutivos. Os Doze Profetas – chamados, também, de Profetas Menores – estavam em um único rolo. Muitos desses textos concordam, substancialmente, com o texto copiado pelos massoretas 1.000 anos depois. Reprodução fotográfica de 1QIsaª (rolo de Isaías). O mais preservado manuscrito encontrado nas Cavernas de Qumran (Fonte: https://goo.gl/za9dZz <https://goo.gl/za9dZz> ) Página 39 de 234 https://goo.gl/za9dZz Apesar da concordância em um âmbito mais geral, há textos entre os Manuscritos do Mar Morto que contêm outras formas de textos bíblicos. Vários destes, incluindo uma cópia importante do livro de Êxodo (4QpaleoExodm), estão mais próximos da forma do texto preservada na tradição samaritana. Atenção Há uma tradição do Pentateuco utilizada em Samaria – cidade do centro da Palestina (Pentateuco Samaritano) – que é, muitas vezes, mais longa do que o Texto Massorético – representado pelo Códice de Leningrado –, porque adiciona frases ou citações de outras passagens bíblicas, ou, ainda, uma declaração para indicar o cumprimento de algo escrito. Os manuscritos de Qumran que utilizam o texto próximo ao Pentateuco Samaritano mostram não apenas a antiguidade dessas versões mas também sua circulação. Em outros casos, alguns livros bíblicos se assemelham mais à versão do texto na Septuaginta do que à versão do Texto Massorético. Outros manuscritos As cópias mais antigas dos textos do Antigo Testamento são as traduções em grego, exceto os Manuscritos do Mar Morto. Há fragmentos de manuscritos bíblicos gregos do século II a.C. Os manuscritos completos mais antigos datam do século IV d.C.: Códice Vaticanus e Códice Sinaiticus. Outro importante manuscrito (Códice Alexandrinus) data do século V d.C. Esses manuscritos são conhecidos como unciais, pois se utilizam apenas vogais e consoantes maiúsculas. Geralmente, os manuscritos da Antiguidade, com traduções gregas dos livros bíblicos, são muito literais e refletem o texto hebraico de perto. No entanto, há casos em que a LXX difere do Texto Massorético .7 Página 40 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula2.html Portanto, não há uma cópia perfeita do texto autógrafo , e sim cópias feitas séculos depois que os livros foram originalmente compostos, as quais, geralmente, divergem entre si. Entretanto, o número de textos disponíveis proporciona a possibilidade de reconstituir o bíblico em termos bem razoáveis: um escrito que sirva de base para as traduções do texto hebraico do Antigo Testamento nas muitas línguas modernas. Reprodução fotográfica do Códice Vaticanus contendo Esdras 2.1-8 (Fonte: https://goo.gl/axGiDx <https://goo.gl/axGiDx> ) 8 Página 41 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula2.html https://goo.gl/axGiDx Atividade 2. Veja a relação de livros, na ordem em que aparecem no Códice de Leningrado <galeria/aula2/anexo/a02_doc2.pdf> (Codex Leningradendis, 1009 d.C. – conhecido, também, pela letra L ou por Firkovich B 19). Depois, compare essa relação de livros e sua ordem com os nomes dos livros e as respectivas ordens na Bíblia Almeida Revista e Atualizada <galeria/aula2/anexo/a02_doc3.pdf> , publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil. Os livros são os mesmos, mas a organização é diferente. Traduções em língua portuguesa Vamos analisar, agora, uma linha do tempo que destaca os momentos marcantes das traduções do Antigo Testamento em português: Séculos XIII-XIX A primeira tradução é do século XIII. Dom Dinis (1261-1325), o poeta – Rei de Portugal entre 1279 e 1325 –, traduziu os 20 primeiros capítulos de Gênesis a partir da Vulgata Latina . Um século depois, D. João I (1357-1433) traduziu os Salmos. Em 1491, foi publicado o Pentateuco, mas as iniciativas de tradução foram encerradas em 1547, visto que a Inquisição, além de perseguir os judeus, proibia versões da Bíblia que não fossem a Vulgata. Ainda assim, o Pentateuco foi publicado nesse ano, em Constantinopla, por judeus portugueses. A primeira tradução completa do Antigo Testamento foi feita por por João Ferreira de Almeida (1628-1691) até Ezequiel 48.12, a partir do Texto Massorético. A tradução foi completada por Jacobus op den Akker e concluída em 1694. 9 Página 42 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/galeria/aula2/anexo/a02_doc2.pdf file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/galeria/aula2/anexo/a02_doc3.pdf file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula2.html Após as revisões, a edição da tradução da Bíblia completa (Antigo e Novo Testamento) foi publicada em 1748. Entre 1782 e 1790, António Pereira de Figueiredo traduziu o Antigo Testamento a partir da Vulgata e publicou-o em 17 volumes. A primeira tradução no Brasil a partir do hebraico foi realizada por D. Pedro II, que traduziu Neemias e outras porções do Antigo Testamento a partir do Texto Massorético, mas não publicou seu trabalho. A tradução da Bíblia feita por João Ferreira de Almeida – e completada por Jacobus op den Akker – foi revista e corrigida em 1898. Século XX Em 1917, Hugh Clarence Tucker, William Cabel Brown, Eduardo Carlos Pereira, Ruy Barbosa, José Veríssimo e Virgílio Várzea terminaram o trabalho de tradução e publicaram a chamada Tradução Brasileira. Nesse mesmo ano, Esteves Pereira traduziu o livro do profeta Amós a partir de um manuscrito etíope. Traduções católicas a partir da Vulgata e de outras línguas foram realizadas em: 1950 – tradução de Manoel de Matos Soares; 1959 – tradução dos monges de Maredsous a partir da versão belga; 1976 – tradução da Bíblia de Jerusalém a partir da edição francesa. Além disso, a tradução da Bíblia feita por João Ferreira de Almeida foi revista e atualizada em 1959. O judaísmo produziu duas significativas edições da Bíblia Hebraica. A primeira é de Meir Matzliah Melamed – rabino que traduziu e publicou a Torah em 1962. Os protestantes publicaram, ainda, em: 1967 – Versão Revisada, promovida pela Imprensa Bíblica Batista; 1981 – Bíblia Viva, feita a partir da versão inglesa de Kenneth Taylor; 1990 – Edição Contemporânea da Bíblia de Almeida, feita pela Editora Vida; 1994 – João Ferreira de Almeida Corrigida e Fiel, promovida pela Sociedade Bíblica Trinitariana. Há, também, traduções católicas a partir do Texto Massorético. São elas: Página 43 de 234 1982 – Bíblia Vozes, traduzida por uma comissão presidida por Ludovico Garmus; 1990 – Edição Pastoral, traduzida por uma comissão presidida por Ivo Storniolo. A versão que representa o esforço ecumênico, unindo protestantes, católicos, ortodoxos e judeus, é a Tradução Ecumênica da Bíblia, publicada em 1997. Século XXI Uma versão da Torah Viva, publicada, originalmente, em inglês, foi feita por Adolfo Wesserman e divulgada em 2001. Outras traduções católicas a partir da Vulgata e de outras línguas foram realizadas em: 2002 – Bíblia do Peregrino, traduzida por Luis Alonso Schökel; 2009 – Reina-Valera, traduzida a partir do espanhol. A segunda edição da Bíblia Hebraica produzidapelo judaísmo foi a Tanak, traduzida por David Gorovits e Jairo Fridlin e publicada em 2006. Os protestantes publicaram, ainda, em: 2007 – Bíblia Almeida Século XXI, publicada pelas editoras Vida Nova, Atos e Hagnos; 2012 (revisada em 2017) – Bíblia King James Atualizada; 2014 – Bíblia Viva revisada. Página 44 de 234 Atividade 3. Quais são os três grupos de manuscritos importantes para reconstituir os textos do Antigo Testamento? a) Texto Massorético, Manuscritos do Mar Morto e Septuaginta. b) Pentateuco, Profetas e Escritos.. c) Septuaginta, Vulgata e 1QIsaª. d) Texto Massorético, Vulgata Latina e Traduções Siríacas. e) Vulgata, Manuscritos do Mar Morto e Septuaginta. Notas Cânon Em termos mais estritos e etimológicos, a palavra cânon provém do vocábulo grego kánṓn, que significa “regra” ou “vara de medir”. O termo foi usado no plural por bibliotecários e estudiosos da antiga Alexandria no período helenístico (terceiro e segundo séculos a.C.) para fazer referência aos clássicos literários em oposição às demais obras, como as tragédias gregas, por exemplo. Na teologia cristã, o termo passou a ser usado no singular para designar as Escrituras como “regra da fé”, a partir do século IV d.C. Em seu uso teológico, portanto, cânon é um conceito cristão mais tardio. Logo, é anacrônico em relação ao contexto do judaísmo antigo ou mesmo do cristianismo mais antigo. Em linguagem comum, no entanto, cânon passou a significar, simplesmente, o corpus (conjunto de textos) das Escrituras, que, como vimos, varia entre as Igrejas Cristãs – e entre as Igrejas Cristãs e o judaísmo. Massorético Do vocábulo aramaico massorah, que significa “tradição”. Crítica textual 1 2 3 Página 45 de 234 Análise, comparação e adoção de critérios científicos para reconstituição de textos. Massoretas Escribas responsáveis pelas cópias do Texto Massorético. Incêndio na sinagoga O fogo destruiu: • As primeiras 7 páginas do manuscrito com comentários gramaticais dos massoretas; • 118 páginas com o Pentateuco até Deuteronômio 28.17; • 3 páginas do livro de Reis (de 2 Reis 14.21 a 2 Reis 18.13); • 3 páginas do livro de Jeremias (de 29.9 a 31.34) – a página que as precede está parcialmente rasgada; • 3 páginas de Doze Profetas – de Amós 8.13 a Miqueias 5.1 (incluindo os livros Obadias e Jonas); • 4 páginas do fim dos Doze Profetas – do fim de Sofonias até Zacarias 9.17 (incluindo Ageu); • 2 páginas de Salmos (de 15.1 a 25.1); • 36 páginas dos Escritos – do Cântico dos Cânticos (3.11) até o fim dos Escritos (incluindo Eclesiastes, Lamentações, Ester, Daniel, Esdras e Neemias); • 1 página com uma descrição do Códice de Aleppo; • 20 páginas no final do Códice de Aleppo – como anotações dos massoretas. Recuperação Em 1982, foi recuperado um fólio do manuscrito com 2 Crônicas 35.7-36.19. Em 1988, sete ou oito linhas do livro de Êxodo (capítulo 8) foram restauradas. Duas fotografias centenárias do manuscrito continham mais três fólios do Pentateuco. Casos em que a LXX difere do Texto Massorético 4 5 6 7 Página 46 de 234 Os livros de Jeremias e de Jó, por exemplo, são mais breves na LXX. A ordem dos capítulos em Jeremias também difere da ordem no Texto Massorético – mas coincide com a ordem de alguns manuscritos de Jeremias de Qumran. Todavia, há outros que se assemelham ao Texto Massorético. A história de Davi e Golias da LXX (1 Samuel 16-18) é muito mais curta. Daniel 4-6 tem, na LXX, um texto muito diferente do encontrado no Texto Massorético. Os Manuscritos de Qumran ajudam a entender que as diferenças entre o texto grego da Septuaginta e o Texto Massorético não advêm de problemas de tradução, mas da circulação de um texto hebraico mais curto. Contudo, no caso de Jó, os Manuscritos do Mar Morto não apresentam uma versão abreviada de Jó nem um texto diferente de Daniel 4-6. Texto autógrafo Proveniente da mão do autor. Vulgata Latina Tradução do hebraico para o latim feita por Jerônimo. Referências AVIGAD, N. Corpus of West Semitic Stamp Seals. Jerusalém: Israel Academy of Sciences and Humanities, 1997. FRANCISCO, E. F. Manual da Bíblia Hebraica. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2005. GOTTWALD, N. K. Introdução socioliterária à Bíblia Hebraica. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1997. HILL, A. E.; WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Acadêmica, 2006. SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2013. Próximos Passos Civilizações mesopotâmicas; 8 9 Página 47 de 234 Disciplina: Introdução ao Antigo Testamento Aula 3: Relações entre o Antigo Testamento e seu contexto Introdução A aula anterior foi dedicada à formação, canonização e transmissão do Antigo Testamento. Nesta aula, passaremos diretamente àquilo que conforma seus textos: o contexto social, político, cultural e religioso em que os escritos da Bíblia Hebraica surgiram. Começaremos pelas civilizações mesopotâmicas, pelo Egito e por Canaã, pois as relações desses povos com os hebreus influenciaram a redação das Escrituras. Analisar tais influências e os limites étnico-religiosos entre os hebreus e os povos circunvizinhos é tarefa essencial para entender o Antigo Testamento. É isso o que faremos a partir de agora! Objetivos Explicar as relações entre Israel e as civilizações mesopotâmicas, o Antigo Egito e as civilizações de Canaã. Página 49 de 234 Civilizações mesopotâmicas e Antigo Testamento A história dos primeiros assentamentos no Antigo Oriente Próximo remonta ao nono milênio a.C., quando Jericó foi ocupada pela primeira vez. A vida em pequenas aldeias foi se desenvolvendo em todo o Crescente Fértil, desde o Neolítico (8000-4000 a.C.) até a Antiga Idade do Bronze (3200-2000 a.C.). Os rios – especialmente os caudalosos Nilo, Tigre e Eufrates – atraíram populações mais numerosas por proporcionar melhores condições para o desenvolvimento da agricultura. Mesopotâmia (=“terra entre rios”) é o nome atribuído pelos gregos à região que, hoje, é o sul do Iraque. Foi nessa área plana e pantanosa, perto da foz dos rios Tigre e Eufrates, que nasceu a primeira civilização urbana do mundo. Pouco depois de 3500 a.C., os sumérios fundaram as primeiras cidades: Ur – que a Bíblia afirma ser o local de nascimento de Abraão; Uruk – lar de Gilgamesh (o primeiro herói da literatura de que se tem notícia). Página 50 de 234 Mapa da Suméria com as principais cidades (Fonte: https://goo.gl/7t3NVU <https://goo.gl/7t3NVU> ) Os sumérios foram extraordinariamente inovadores: Eles construíram sistemas de irrigação elaborados e templos monumentais para seus deuses. Além disso, conceberam os primeiros códigos de lei para proteger as propriedades e promover a ordem social. No quarto milênio a.C., inventaram a roda, o que facilitou as viagens e o comércio, e aumentou a prosperidade econômica. Os comerciantes da Suméria exportaram mercadorias para o Egito .1 Página 51 de 234 https://goo.gl/7t3NVU file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula3.html Em cerca de 3200 a.C., os sumérios inventaram um sistema de escrita, conhecido como cuneiforme. Na década de 1920, arqueólogos encontraram obras de arte notáveis nos túmulos reais da Terceira Dinastia de Ur (2060-1950 a.C.), incluindo uma obra no padrão da cidade: um mosaico decorativo de concha embutida e lápis lazúli. Estandarte de Ur (Fonte: http://www.britishmuseum.org <http://www.britishmuseum.org> ) Além de obras de arte que representam cenas do cotidiano, os arqueólogos encontraram tabletes de argila com uma escrita em forma de cunha feita com um estilete de metal. Uma parte significativa da literatura cuneiforme presente nesses tabletes antecipa temas encontrados na Bíblia Hebraica: a criação do mundo e a inundação pré-histórica estão registradas em sumério. Página 52 de 234 http://www.britishmuseum.org/ Carta do sumossacerdote Lu’enna para o rei de Lagash, de cerca de 2400 a.C., informando que seu filho morrera em combate (Fonte: https://goo.gl/ih33sW<https://goo.gl/ih33sW> ) As contribuições duradouras dos sumérios para as culturas subsequentes vão desde a religião e a literatura até a matemática e a arquitetura. O sistema numérico baseado no número 60 – símbolo do Deus do céu e chefe do panteão sumério (Anu) – regula a divisão da hora em 60 minutos e a atribuição de 360 graus para a circunferência. Além disso, na falta do granito e da pedra calcária, as construções sumérias utilizavam tijolos de argila recozidos ou vidrados, produzidos em massa pelos sumérios. Esses tijolos foram empregados na construção de zigurates , cuja parte superior era usada para abrigar a divindade a quem o prédio era dedicado. Amplas escadas conectavam os vários níveis dos zigurates. A importância dos zigurates e do local urbano sagrado em que se encontravam é expressa em nomes de lugares na Mesopotâmia . Saiba mais Uma história bíblica que diz respeito à religião da Mesopotâmia é a narrativa da Torre de Babel (Gênesis 11). No episódio narrado, a tentativa orgulhosa da humanidade de erguer uma estrutura alta o 2 3 Página 53 de 234 https://goo.gl/ih33sW file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula3.html file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula3.html suficiente para “chegar ao céu” é uma ofensa contra a Yahweh. Consequentemente, Yahweh frustra a ambição humana ao derrubar o zigurate e espalhar os construtores após confundir sua linguagem. Essa narrativa explica por que os habitantes da Terra estão separados pelas barreiras geográficas e linguísticas. A invasão acadiana e a formação do primeiro império A Suméria foi invadida em cerca de 2500 a.C. pelos acadianos. Esse povo foi radicado, principalmente, em Acade e assimilou grande parte da antiga cultura suméria, incluindo sua escrita cuneiforme, que eles adaptaram para representar a própria língua. Sargão I (2334-2279 a.C.) e os acadianos estabeleceram o primeiro império de que se tem notícia. A partir desse momento, determinou-se a união de cidades-estados, anteriormente independentes. Depois de conquistar Ur, Sargão I nomeou sua filha alta sacerdotisa de Sin, deusa da lua acadiana. Tal ato tornou-se regra: os governantes da Mesopotâmia passaram a nomear, desde então, suas filhas para oficiarem o templo de Deus da lua. O nome da montanha em que Moisés se encontrou com Yahweh (Sinai) toma o nome de Sin. Página 54 de 234 Mapa do Império Acádio (Fonte: https://goo.gl/aPChK7 <https://goo.gl/aPChK7> ) O sucessor mais célebre de Sargão foi seu neto Naram-Sin, que se proclamou “rei dos quatro quartos da Terra”. Entre as muitas façanhas de Naram-Sin está a destruição de Ebla : uma cidade importante no norte da Síria. Mapa do Império Acádio e de Ebla com indicações das principais cidades (Fonte: https://goo.gl/4LCAeD <https://goo.gl/4LCAeD> ) Depois de dominar a Mesopotâmia por dois séculos, o império de Sargão foi derrotado pelos amorreus (ou “ocidentais”), que dominaram grande extensão do Crescente Fértil. Os amorreus se estabeleceram em outros pontos da Mesopotâmia, construindo novas cidades no norte e no oeste de Canaã. Eles também fundaram ou expandiram duas cidades-estados importantes na Mesopotâmia: Mari A primeira foi Mari, no meio do Eufrates, no segmento sul do rio. Localizada perto da fronteira moderna da Síria e do Iraque, a escavação do sítio arqueológico onde estava a cidade de Mari descobriu mais de 20.000 tabletes com, aproximadamente, 4.000 anos de idade. Alguns desses textos cuneiformes contêm informações sobre os costumes sociais da Era do Bronze, que fornecem valiosos antecedentes para as histórias de Gênesis sobre Abraão, Isaque e Jacó. Nuzi 4 5 Página 55 de 234 https://goo.gl/aPChK7 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula3.html https://goo.gl/4LCAeD file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula3.html A segunda cidade importante é Nuzi, na parte superior do rio Tigre. Os tabletes ali encontrados iluminam a compreensão a respeito das práticas legais e maritais de meados do segundo milênio – período pouco depois das datas tradicionais atribuídas à era patriarcal. Apesar dos supostos paralelos entre a organização familiar em Nuzi e as questões domésticas envolvendo Abraão e Sara, ou entre Jacó e sua família, o estudo dos tabletes de Nuzi sugere que os costumes sociais que refletem não são aqueles presentes nas narrativas de Gênesis. Atenção Embora os arqueólogos possam encontrar vestígios materiais de civilizações desaparecidas, presumivelmente contemporâneas a personagens e eventos bíblicos, eles não conseguiram verificar a historicidade dos antepassados de Israel. Observe, abaixo, o mapa da Mesopotâmia no segundo milênio a.C., mostrando as cidades de: Nínive (Nineveh), Karana (Qattara), Dur-Katlimmu, Assur, Arrapha, Terqa, Nuzi, Mari, Eshnunna, Dur-Kurigalzu, Der, Sippar, Babilônia (Babylon), Kish, Susa, Borsippa, Nippur, Isin, Uruk, Larsa e Ur: Página 56 de 234 Mapa da Mesopotâmia (Fonte: https://goo.gl/aPChK7 <https://goo.gl/aPChK7> ) O Tigre e o Eufrates determinam o nome geral dado aos povos que ocuparam as planícies férteis banhadas por esses rios: Mesopotâmia. A região da Mesopotâmia corresponde ao atual Iraque. O segundo milênio antes de Cristo é testemunha da ascensão da Babilônia com Hammurabi (século XVIII a.C. – a Média Idade do Bronze [2200-1500 a.C.]). A civilização babilônica pertence, como a acadiana, à seção média da Mesopotâmia. Uma evidência significativa do domínio babilônico é o código de leis em vigor, que exerce grande influência sobre populações de origem semítica (ou reflete a cultura, os usos, os costumes e valores desse grande grupo étnico): o Código de Hammurabi. Feito em nome do deus Shamash – protetor da justiça –, tal código aponta para a vinculação estreita entre direito e religião na Babilônia. Página 57 de 234 https://goo.gl/aPChK7 Estela contendo o Código de Hammurabi (Fonte: https://goo.gl/q1rojV <https://goo.gl/q1rojV> Civilização egípcia e o Antigo Testamento O Egito começou como uma coalizão de pequenos distritos políticos de vários nomes, que evoluiu para dois reinos distintos, conhecidos como: Alto Egito (em egípcio, Ta Shemau [= “terra de juncos”]) – situado ao sul; Baixo Egito (em egípcio, Ta-Mehu [= “terra do papiro”]) – situado ao norte. Página 58 de 234 https://goo.gl/q1rojV Em aproximadamente 3100 a.C., esses dois reinos foram fundidos em um só sob o domínio de Narmer, rei do Alto Egito. Mapa do Egito, destacando o Baixo Egito e o Alto Egito, e as cidades e sítios do período dinástico (entre 3150 a 30 a.C.) (Fonte: https://goo.gl/Rt4BdV <https://goo.gl/Rt4BdV> ) Os historiadores dividem a história egípcia antiga em três períodos principais que antecedem a ocupação efetiva da Palestina por Israel: Página 59 de 234 https://goo.gl/Rt4BdV 1 Reino Antigo ou Império Antigo Menfita Da 3ª à 6ª dinastia faraônica (cerca de 2686-2175 a.C.). 2 Reino do Médio ou Época Feudal Da 7ª à 17ª dinastia (cerca de 2175-1550 a.C.). 3 Novo Reino Da 18ª à 20ª dinastia (cerca de 1550-1069 a.C.). Sob o império, os faraós do Novo Reino, como Thutmoses, estenderam o domínio do Egito para o nordeste em Canaã. Por volta de 1490 a.C., as forças egípcias derrotaram uma coalizão de mais de 100 governantes das cidades-estados sírias e cananeias na Batalha de Megido: um sítio que, na história posterior, foi o palco de várias derrotas israelitas. Até perto do fim do Novo Reino, o Egito manteve uma série de fortalezas militares em Canaã. O Novo Reino Posterior testemunhou um declínio gradual no Egito, uma vez que divisões internas, dificuldades econômicas e agressões estrangeira diminuíram, progressivamente, o poder egípcio. Durante o período dinástico tardio (da 21ª à 31ª dinastia, do sétimo ao quarto século a.C.), o Egito foi invadido tanto pela Assíria quanto pela Pérsia. O fim do regime autóctoneegípcio aconteceu com a invasão de Alexandre, o Grande, em 332 a.C. As dinastias seguintes foram fundadas a partir do governo do sucessor de Alexandre (Ptolomeu I) e duraram 300 anos, até que Roma incorporou o Egito a seu império em 30 a.C. Página 60 de 234 Atenção Conhecemos bem vários períodos da história egípcia, porque a evidência arqueológica (material e documental) é abundante e relevante. Registros escritos em hieróglifos e um calendário de 365 dias, baseado no ano solar, permitem a datação desses achados. O Egito também é importante, porque sua agricultura desenvolvida tornou-o um polo produtor que atrai até mesmo nômades na esperança de garantir alimentos. De acordo com Gênesis, os antepassados de Israel estavam entre muitos que se estabeleceram temporariamente na região do delta do Nilo. Uma teoria popular sustenta que os nômades semíticos eram bem-vindos no Egito, porque, na época, a terra era governada por estrangeiros, conhecidos como hicsos. Embora o controle egípcio raramente fosse entregue a um estrangeiro, no século XVII, os hicsos semitas se infiltraram na população, usurpando o trono do faraó. Em 1560 a.C., uma revolta expulsou os governantes hicsos e estabeleceu a 18ª dinastia. O governo hicso incluiu alguns dos governantes mais famosos do Egito, como: Rainha Hatshepsut. Página 61 de 234 Grande estrategista militar Thutmoses III. Amenhotep IV. Amenhotep IV – que mudou seu nome para Akhenaton (1364-1347 a.C.) – provocou profundas mudanças na religião egípcia ao determinar que apenas uma divindade (o deus do sol Aton) fosse reconhecida. Embora a experiência religiosa promovida por Akhenaton tenha sido breve – seu sucessor, Tutankhamen, revogou suas reformas –, ele pode ter estabelecido um precedente que, indiretamente, influenciou o conceito mosaico de zelo de Yahweh. Página 62 de 234 A crença de que um único deus exige exclusividade é uma pedra angular da religião de Moisés. A correspondência preservada nos arquivos de Tel el-Amarna, que Akhenaton moveu de sua capital, dá uma imagem vívida do Egito durante o domínio de Aton. A era de Amarna, o período do reinado de Akhenaton e o culto exclusivo do sol foram deixados de lado após Ramsés fundar, em 1306 a.C., uma nova dinastia real: a 19ª. O governo de Ramsés II (1290-1224 a.C.) foi marcado por grande prosperidade e prestígio. Muitos historiadores acreditam que esse líder vigoroso e vitorioso foi o faraó do Êxodo. A primeira referência inquestionavelmente feita a Israel como povo é egípcia: a inscrição de Merneptah, filho de Ramsés II e seu sucessor, faz menção às conquistas em Canaã. Entre tais conquistas, Merneptah afirma que destruiu Israel: uma evidência de que os israelitas já estavam estabelecidos em Canaã logo após 1220 a.C. – tempo aproximado da campanha de Merneptah. Página 63 de 234 Pedra de Roseta (Fonte: https://goo.gl/iytTmq <https://goo.gl/iytTmq> ) Uma das descobertas mais importantes da arqueologia moderna é a famosa pedra de Roseta: uma estela grande e plana de basalto com uma inscrição em três línguas diferentes (grego, hieróglifo e demótico). Na década de 1820, Jean-François Champollion decifrou as inscrições e, assim, descobriu a chave para a leitura de hieróglifos egípcios. A descoberta da Champollion permitiu aos estudiosos compreender, pela primeira vez, obras anteriormente inacessíveis da literatura egípcia. Os estudiosos já traduziram muitos documentos egípcios relacionados ao texto bíblico, encontrando vários paralelos com o Livro de Provérbios, Jó e outros – especialmente sapienciais. Há muitas semelhanças e afinidades entre as culturas egípcia e israelita. O nome Moisés é egípcio, derivado do verbo egípcio msw (= “para nascer”) ou do substantivo mesu (= “filho”). A mesma raiz aparece em nomes egípcios como Thutmoses e Ahmoses. Além do empréstimo linguístico, é possível que conceitos egípcios tenham influenciado Israel, como, por exemplo, o conceito de Maat, que combina justiça, verdade, pensamento correto e conduta. Talvez, o contributo mais duradouro do Egito para a religião bíblica seja a prática ritual da circuncisão . De acordo com Heródoto, essa é uma prática originalmente egípcia (Histórias, II.37; Josué 5.2-6; Jeremias 9.25-26). Israel e seus vizinhos Localizados estrategicamente entre o Egito e a Mesopotâmia, Israel e seus vizinhos canaanitas compartilharam a cultura e a vulnerabilidade com a invasão estrangeira. As escavações no antigo assentamento de Ugarit (hoje, Ras Shamra, na Síria) revelaram uma biblioteca de textos cuneiformes que antecipam ideias surgidas mais tarde na Bíblia Hebraica. 6 Página 65 de 234 https://goo.gl/iytTmq file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula3.html Compostos em língua semítica com afinidades com o hebraico bíblico, os textos ugaríticos fornecem uma fonte importante de informações sobre a religião canaanita, incluindo contos sobre conflitos entre deuses e forças naturais. Datando de cerca de 1600 a 1400 a.C., esses documentos revelam que El , o principal deus canaanita, foi pensado da mesma forma que os primeiros conceitos israelitas de Yahweh. Entrada do Palácio Real de Ugarit (atual Ras Shamra) (Fonte: https://goo.gl/Bufdmq <https://goo.gl/Bufdmq> ) Apesar de os líderes religiosos de Israel terem resistido firmemente a qualquer compromisso com o filho de El – Baal, o deus cananeu da tempestade, chuva e fecundidade –, muitos estudiosos acreditam que as qualidades e os atributos de El foram assimilados na imagem bíblica de Yahweh. Quando se estabeleceram em Canaã, os israelitas assumiram, gradualmente, os santuários canaanitas mais antigos de Betel, Siquém e Salém (Jerusalém). O estudo comparativo da literatura canaanita e bíblica indica que os israelitas também adotaram alguns hinos canaanitas, poemas e títulos religiosos, aplicando-os ao culto de Yahweh. Embora fosse um território muito pequeno, Israel desempenhou um papel dominante na política internacional do primeiro milênio a.C. Os livros de Samuel e Reis mostram que o reino israelita construído por Davi e Salomão estendia suas fronteiras do Egito até o rio Eufrates, no norte. Tal reino foi, pelo menos no início, militarmente bem-sucedido, subjugando Moabe, Amom e Edom. 7 Página 66 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula3.html https://goo.gl/Bufdmq Concomitante a isso, no mesmo período, as principais potências da Mesopotâmia e do Egito estavam politicamente fracas. Após a morte de Salomão, em 922 a.C., a maior parte de seu reino se separou e formou o reino do norte (Israel). Ao sul, o território de Judá ainda continuou a ser governado por reis davídicos. No século IX a.C., os assírios começaram uma série de conquistas e formaram o mais temido de todos os antigos impérios do Oriente Próximo. Império Neoassírio (Fonte: https://goo.gl/DExFgK <https://goo.gl/DExFgK> ) No século VIII a.C., os reinos de Israel e Judá eram essencialmente vassalos do imperador assírio. Enormes somas de tributo cobrados pelos assírios empobreciam o reino do norte e do sul. Divididos em: Em Israel No século VIII a.C., os reinos de Israel e Judá eram essencialmente vassalos do imperador assírio. Enormes somas de tributo cobrados pelos assírios empobreciam o reino do norte e do sul. Quando Israel se revoltou contra a opressão assíria, Sargão II sitiou a capital israelita (Samaria), destruindo-a em 722-721 a.C. e deportando as altas classes urbanas. 8 Página 67 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula3.html https://goo.gl/DExFgK De acordo com 2 Reis, os assírios estabeleceram estrangeiros no antigo território de Israel, que se misturaram com outros israelitas e adotaram o culto de Yahweh. Seus descendentes – conhecidos como samaritanos – foram condenados severamente pelos escritores do sul por manterem o santuário de Yahweh perto da antiga Siquém. Alguns refugiados israelitas se estabeleceramem Judá, trazendo consigo suas tradições religiosas, que podem ser notadas em passagens do Antigo Testamento relativas à melhor condição do norte em relação ao sul ou às peregrinações de patriarcas em santuários da região (Gênesis 12.6; Juízes 21). Em Judá Outro monarca assírio, Senaqueribe, invadiu Judá e destruiu a maioria de suas cidades fortificadas, mas não conseguiu capturar Jerusalém. A libertação aparentemente milagrosa da cidade sagrada de Judá pareceu confirmar que os reis davídicos que governavam ali seriam protegidos pela presença de Yahweh no santuário nacional. Durante a crise assíria, o profeta Isaías instou o rei Ezequias a não fazer alianças estrangeiras contra os invasores, mas a confiar unicamente na salvação de Yahweh (Isaías 10, 14, 20, 23, 27 e 36). Por algum tempo, Jerusalém escapou do destino de Samaria, mas seus governantes tiveram de pagar um tributo humilhante para manter os assírios distantes (2 Reis 18.13-16). O decorrer dos séculos VII e VI a.C. trouxe o crescente enfraquecimento da Assíria e, com ele, mudanças rápidas no Antigo Oriente Próximo. Aproveitando o declínio assírio, o rei Josias (640-609 a.C.) expandiu o território de Judá e proibiu o sacrifício em qualquer santuário, exceto o templo de Jerusalém. Entretanto, a alegria de Judá pelo fim da dominação estrangeira durou pouco: em 609 a.C., o faraó egípcio Neco invadiu Judá e matou Josias em Megido, pondo fim à revitalização do culto de Judá. Página 68 de 234 Em 605 a.C., Neco enfrentou Nabucodonosor, rei da Babilônia, na Batalha de Carquemish (cidade síria) e foi derrotado. A Babilônia tornou-se o império dominante no Antigo Oriente Próximo. Os próximos capítulos dessa história consistem no exílio de Judá, cuja população foi deportada para a Babilônia em 587 a.C. Mapa do Império Neobabilônico (626-539 a.C.) (Fonte: https://goo.gl/d4mLrM <https://goo.gl/d4mLrM> ) Leitura Para saber mais sobre o assunto, leia o texto A Bíblia Hebraica e os textos do Antigo Oriente Próximo <galeria/aula3/anexo/a03_doc1.pdf> . Página 69 de 234 https://goo.gl/d4mLrM file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/galeria/aula3/anexo/a03_doc1.pdf Atividades 1. Veja o seguinte mapa do Antigo Oriente Próximo: Mapa do Antigo Oriente Próximo – reinos da Antiguidade (Fonte: https://goo.gl/Xno41X <https://goo.gl/Xno41X> ) Em seguida, indique, a partir do mapa: a) O rio que banha o Egito é o rio digite a resposta . b) O rio que banha a Assíria é o rio digite a resposta . c) O rio que banha a terra de Acade é o rio digite a resposta . d) O mar que estabelece a fronteira suleste da Suméria é o digite a resposta . e) A divisão territorial da região da Palestina é digite a resposta . 2. Quais são as primeiras alusões extrabíblicas a Israel de que se tem notícia? Página 70 de 234 https://goo.gl/Xno41X 3. Quais são as relações entre a religião de Israel e a religião do Antigo Egito? 4. Assinale a opção que apresenta nomes de impérios do Antigo Oriente Próximo: a) Persa, Romano, Egípcio, Hitita e Micênico. b) Sírio, Babilônico, Persa, Sumério e Bárbaro. c) Romano, Egípcio, Grego, Babilônico e Persa. d) Sumério, Egípcio, Assírio, Babilônico e Persa. e) Romano, Grego, Macedônio, Babilônico e Sumério. Notas Egito Civilização altamente sofisticada e situada no nordeste da África. Zigurates Edifícios imponentes que dominavam a vista da cidade. Nomes de lugares na Mesopotâmia Babilônia, que, eventualmente, tornou-se a maior cidade da região, significa “portão de deus”, indicando seu status de lugar sagrado de Marduk – criador do universo e rei dos deuses. 1 2 3 Página 71 de 234 O significado do zigurat babilônico de Marduk também é sugerido por seu nome, Etemenanki, que se traduz como a “casa que é o fundamento do céu e da terra”. Elba Em 1975, os arqueólogos que escavavam os arquivos reais de Ebla descobriram uma extensa biblioteca escrita em cuneiforme, proveniente do século XXII a.C. Uma coleção de hinos, provérbios, mitos e rituais de Ebla oferece um vislumbre fascinante para uma sofisticada cultura mesopotâmica do noroeste que floresceu vários séculos antes de Abraão. Pouco depois da descoberta de Ebla, alguns estudiosos fizeram alegações abrangentes sobre sua suposta conexão com a Bíblia Hebraica. Um propôs que o panteão de Ebla incluísse um deus chamado Ya – forma abreviada de Yahweh –, e que um rei chamado Ebrum pode ter sido um antepassado de Abraão. No entanto, a maioria dos estudiosos rejeitou tais afirmações por serem prematuras e não verificáveis. Embora seja necessário um estudo mais aprofundado antes que a possível relevância de Ebla para as tradições bíblicas seja entendida, algumas descobertas iniciais podem ser significativas. Um nome pessoal que aparece nos documentos (Ishra-il) parece muito semelhante a Israel para ser meramente coincidente. O texto de Ebla sugere que o nome existia muito antes de ser concedido ao progenitor das 12 tribos de Israel. Textos cuneiformes 4 5 Página 72 de 234 Disciplina: Introdução ao Antigo Testamento Aula 4: Dos patriarcas à ocupação romana Introdução Já analisamos os nomes dados à Bíblia Hebraica, sua divisão, estrutura, formação, canonicidade e transmissão. Além disso, explicamos o contexto circunvizinho aos hebreus. Agora, contaremos, em linhas gerais, a história do Antigo Testamento, passando pelos seguintes momentos: o período dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, a migração para o Egito, o Êxodo, a peregrinação no deserto, a conquista da Terra Prometida, o ciclo dos Juízes, a transição para a monarquia, a divisão dos reinos do norte e do sul, a aniquilação do reino do norte pelos assírios, o exílio babilônico do reino do sul, o retorno do exílio, a invasão e o domínio grego (macedônio), o período asmoneu e a ocupação romana. Conhecer a história bíblica é útil para a análise de seus conteúdos literários e de sua mensagem. Por meio do estudo desta aula, convidamos, então, você a caminhar pelas terras bíblicas e a conhecer seus personagens. Objetivos Esclarecer o ciclo patriarcal; Explicar a história de Israel – desde o Êxodo até o Exílio; Identificar, no período pós-exílico, as relações entre os judeus e os persas, grecomacedônios e romanos. Página 75 de 234 Patriarcas: memória das origens A origem de Israel é narrada na única história dos hebreus (Gênesis 12-50). No relato, em língua hebraica, de sua própria história, o redator (judeu) rastreia as origens do povo de Israel a partir de um único indivíduo: Abraão – chamado, no início da narrativa, de Abrão e original da Mesopotâmia. Em geral, a história dos hebreus pré-egípcios é denominada Idade dos Patriarcas e dificilmente pode ser datada: a época em que foi escrita (mais de 1.000 anos depois) e os episódios narrados remontam a, aproximadamente, 1950 e 1500 a.C. Vários aspectos emergem da história dos patriarcas, que indica a eleição especial dos hebreus: primeiro, Abrão e, depois, seus descendentes (Isaque e Jacó) foram escolhidos por Yahweh para serem seu povo. Abraão era um semita que vivia em Harã – cidade do norte da Mesopotâmia –, cujo pai (Terá) veio da cidade de Ur, no sul da Mesopotâmia. Ele foi visitado repentinamente por Yahweh, que o chamou para deixar sua família. A ideia da migração da Mesopotâmia é sensata, uma vez que a região estava entrando em colapso. Migrando para o oeste, Abraão se estabeleceu em Siquém e foi novamente visitado por Yahweh, que lhe disse: “Toda essa terra será dada a você e a seus descendentes”. Portanto, a eleição dos hebreus envolve uma vocação seguida da obediência inabalável de Abraão. Os primeiros eram Nômades . 1 2 Página 76 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula4.html file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula4.html Desenho de Abrão e Isaque (Fonte: Shutterstock/Irmhild B) Israel no Egito, Êxodo, conquista de Canaã e período dos Juízes Êxodo (cerca de 1280a.C.) O Êxodo aconteceu por volta de 1280 a.C., mas essa data é questionável. Alguns estudiosos acreditam que o movimento ocorreu antes, em cerca de 1450 a.C. Para os próprios israelitas, esse foi o início de sua história nacional. O livro de Êxodo, que trata da libertação da escravidão no Egito, começa com os hebreus como escravos não organizados no país. Nele, registra-se o fato de os israelitas terem se tornado uma nação. 3 Página 77 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula4.html A saída do Egito constitui o ponto de partida no curso do desenvolvimento nacional que está registrado nos livros históricos da Bíblia. Aqui, vamos conhecer alguns dados significativos para a datação e contextualização do Êxodo. O primeiro deles é o próprio nome Moisés (em egípcio, = “filho de”): um elemento de nomes reais da 18ª (1570-1305 a.C.) e da 19ª (1305-1208 a.C.) dinastias dos faraós. Além disso, é digna de nota a presença dos hapiru, mencionados nos registros egípcios como escravos asiáticos que trabalhavam como construtores, assim como os hebreus. Por fim, uma passagem chave para o cenário histórico desse movimento é Êxodo 1.11, que afirma que os israelitas construíram Pítom e Ramsés – cidades edificadas por Ramsés II no início do 13º século – para o faraó. Página 78 de 234 Mapa com a rota do Êxodo (Fonte: https://goo.gl/YSL2L4 <https://goo.gl/YSL2L4> ) Peregrinação no deserto antes da conquista de Canaã (cerca de 1280-1240 a.C.) A rota de peregrinação no deserto passa pelo Monte Sinai – também chamado de Monte Horebe. Alguns encontraram uma relação entre o Monte Sinai e Cades, mas isso está em conflito com a tradição de que os israelitas foram ao Sinai antes de passar por Cades. Outros localizaram o Monte Sinai no noroeste da Arábia, porque os madianitas viviam lá, e porque os fenômenos na entrega da lei (fogo, nuvem) refletiriam uma erupção vulcânica que ocorreu nessa área. Monte Sinai (Fonte: https://goo.gl/hb1fPq <https://goo.gl/hb1fPq> ) O primeiro objetivo dos israelitas na peregrinação pelo deserto foi chegar ao Monte Sinai – a montanha de Deus –, onde Moisés recebeu: O chamado para libertar os filhos de Israel; As leis e direções morais, civis e religiosas; As instruções para erigir o Tabernáculo . Os 10 mandamentos – escritos em tabuletas de pedra – foram colocados na Arca . No Monte Sinai, os israelitas fizeram uma aliança com o Senhor para adorá-lo e manter suas leis. 4 5 Página 79 de 234 https://goo.gl/YSL2L4 https://goo.gl/hb1fPq file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula4.html file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula4.html Conquista de Canaã (cerca de 1240-1200 a.C.) Os israelitas se aproximaram de Canaã, conquistaram o território do rio Jordão e se estabeleceram nele. Eles não atacaram os edomitas ou os moabitas devido à relação ancestral com esses povos. Mas o rei amorreu se recusou a deixar os israelitas passarem e foi derrotado por eles. Como resultado, os israelitas ocuparam grande parte da terra entre os rios Arnon e Jaboque. Líder dos israelitas, Moisés não entrou na Terra Prometida. Josué foi seu sucessor e comandante do exército. Para entrar no oeste de Canaã, o povo teve de atravessar o rio Jordão. Os israelitas atacaram Jericó, que guardava os vales que levavam a Canaã central. Os israelitas subiram, então, um vale e, no cume central, atacaram Ai. Desse momento em diante, ocorreram os seguintes acontecimentos: As cidades no centro e no sul de Canaã foram tomadas. Realizou-se uma campanha militar na Galileia. Após as batalhas derradeiras de conquista, os representantes das tribos foram reunidos na cidade central de Siquém. A terra foi dividida entre 12 tribos : Rubem, Gade e parte da tribo de Manassés já haviam se estabelecido no leste do Jordão. No oeste de Canaã, Simeão estava localizado no extremo sul. Mais ao norte dessa região estavam as porções de: Judá Issacar 6 Página 80 de 234 file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/aula4.html Dã Zebulom Benjamim Asser Efraim Naftali Parte de Manassés Para os levitas (sacerdotes auxiliares), foram atribuídas as cidades do oeste e leste do Jordão. Aos sacerdotes (descendentes de Arão) foram dadas cidades em Simeão, Judá e Benjamim. Essa atribuição de território ilustra a organização tribal dos israelitas. Página 81 de 234 As doze tribos de Israel (Fonte: https://goo.gl/2BkNyQ <https://goo.gl/2BkNyQ> ) Na última parte do século XIII, os israelitas estavam instalados em muitas partes de Canaã. A estela do faraó Marnepta (cerca de 1230 a.C.) lista Israel entre as nações que venceu em Canaã. Essa é a primeira referência extrabíblica de que se tem notícia em relação a Israel como nação. As listas de cidades capturadas pelos israelitas mostram que aquelas importantes – especialmente nas planícies e nas terras baixas – ainda estavam sob controle cananeu. No oeste de Canaã, Israel ficou limitado às montanhas centrais. Período dos Juízes (cerca de 1200-1020 a.C.) Os Juízes de Israel não atuavam em processos judiciais: eles eram líderes especiais que salvaram seu povo em tempos de conflito com nações vizinhas. Os Juízes eram de tribos diferentes e ativos em distintas áreas. Página 82 de 234 https://goo.gl/2BkNyQ As ameaças que motivaram a atuação dos Juízes são várias. Os cananeus do norte sob Jabin de Hazor e seu general Sísera tentaram subjugar os israelitas. A juíza e profetisa Débora convocou as tribos israelitas para que enviassem soldados no afã de se livrar do jugo cananeu. Seis das tribos do norte responderam, e as forças israelitas foram lideradas por Baraque. Sísera aumentou o número de seus carros de ferro (900 no total) na planície de Esdrelon. Uma chuva torrencial fez o rio Quisom transbordar, e os carros cananeus ficaram atolados. Os israelitas, que não tinham carros, desceram do Monte Tabor e derrotaram os cananeus. Essa vitória foi celebrada na canção de Débora (Juízes 5). Débora – profetiza e juíza - Estátua em Aix-en- Provence (França) (Fonte: https://goo.gl/LqTMs8 <https://goo.gl/LqTMs8> ) O perigo mais persistente para a independência israelita no período dos Juízes veio dos filisteus. Como os israelitas, eles eram invasores recentes. Logo depois que os israelitas vieram do deserto ao sudoeste, os filisteus vieram pelo mar do noroeste, particularmente de Creta. Página 83 de 234 https://goo.gl/LqTMs8 Os egípcios os chamavam de Povos do Mar, visto que atacaram as margens do Egito ao mesmo tempo em que enfrentaram Israel, e foram retratados nas paredes do templo de Ramsés III (cerca de 1175-1144 a.C.) em Madinat Habu, no oeste de Tebas. Os filisteus se estabeleceram em cidades perto da costa de Canaã, particularmente em: Gaza Gate Asquelom Gerar Ecron Dorb Os filisteus trouxeram a fundição, o que lhes deu uma superioridade sobre os israelitas, que tinham armas e ferramentas de cobre e bronze. Os filisteus forçaram a tribo de Dã a se deslocar de sua localização original, entre Judá e Efraim, para o norte, na Galileia, perto de uma das fontes do Jordão. O período dos Juízes foi marcado pela instabilidade religiosa, pelo domínio periódico dos israelitas por nações vizinhas e pela desunião tribal, como fica evidenciado na guerra entre Benjamim e o restante das tribos. Havia necessidade de um governo forte e centralizado em Israel. Abimeleque – filho de Gibeão – tentou estabelecer uma monarquia, mas a falta de apoio profético e popular fez com que essa tentativa perecesse após sua morte. Página 84 de 234 Monarquia de Israel-Judá Monarquia unida (cerca de 1090-922 a.C.) – Saul e os princípios da monarquia Quando Samuel envelheceu, os anciãos de Israel pediram que nomeasse um rei para trazer unidade política e constituir uma liderança militar contra seus inimigos. Samuel escolheu, então, Saul, da tribo de Benjamim. Assim, foi estabelecida
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