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FACULDADE ESTÁCIO DE ALAGOAS CURSO PSICOLOGIA FILOSIFOFIA : IDADE MÉDIA PROFESSOR: REINALDO BATISTA A patrística – Com Santo Agostinho de Hipona (354 d.C.-430 d.C.). O termo é uma homenagem a líderes cristãos cuja literatura floresceu a partir do ano 95 d.C. e que foram considerados os “pais” da Igreja. Também se refere à Filosofia cristã daqueles primeiros séculos, mesmo quando não escrita por líderes religiosos (POLESI, 2014). A escolástica – Com Santo Tomás de Aquino (1225-1274). No estágio final, de transição para a Filosofia moderna – com o nominalismo, de Guilherme de Ockham (1285-1349), e a escolástica ibérica, de Francisco de Vitória (1483-1546), em Salamanca, e Francisco Suárez (1548-1617), em Coimbra –, a razão filosófica foi se tornando cada vez mais independente da revelação bíblica. Iniciando o diálogo • Introduziu algumas distinções que romperam com a ideia grega de uma participação direta e harmoniosa entre o nosso intelecto e a verdade do nosso ser e o mundo. A perspectiva cristã SÉCULO - V e XV A baixa idade média é um período da história medieval que compreende os séculos X a XV e foi marcado por um contexto histórico de grandes mudanças econômicas, políticas e sociais, principalmente para a Europa. Alta Idade Média estendeu-se do século V ao X. • Relação entre a fé e a razão, entre a revelação divina e as exigências da razão humana. No desenrolar dessa trajetória, vários desdobramentos se sucederam com a ocorrência também de maneiras diversas de pensamentos e suas respectivas correntes e pensadores. A relação entre a fé e a razão ➢ A Idade Média inicia-se com a desorganização da vida política. A diminuição da atividade cultural transforma o homem comum num ser dominado por crenças e superstições. ➢ Sob a influência da Igreja, as especulações se concentram em questões filosófico- teológicas, tentando conciliar a fé e a razão. E é nesse esforço que Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino trazem à luz reflexões fundamentais para a história do pensamento cristão. • O cristianismo fez distinção entre fé e razão, verdades reveladas e verdades racionais, matéria e espírito, corpo e alma; • Afirmou que o erro e a ilusão são parte da natureza humana em decorrência do caráter pervertido de nossa vontade, após o pecado original. • O cristianismo, ao introduzir a noção de pecado original, introduziu a separação radical: Os humanos (pervertidos e finitos) # Divindade (perfeita e infinita) • Auxiliada pela graça divina, a fé iluminava nosso intelecto e guiava nossa vontade, permitindo à nossa razão o conhecimento do que está ao seu alcance, ao mesmo tempo em que nossa alma recebia os mistérios da revelação. A fé nos fazia saber (mesmo que não pudéssemos compreender como isso era possível) que, pela vontade soberana de Deus, era concedido à nossa alma imaterial conhecer as coisas materiais. (CHAUÍ, 1999) • A Filosofia Medieval se desenvolveu na Europa durante a Idade Média (entre os séculos V e XV d.C). Período marcado por grande influência da Igreja Católica nas diversas áreas do conhecimento, os temas religiosos predominaram no campo filosófico. Em que medida é possível falar de uma Filosofia cristã? Filosofia na Idade Média Elaborada pelos padres Responsável pela elucidação progressiva dos dogmas cristãos Escolástica Método do pensamento crítico dominante no ensino nas Universidades medievais europeias Tentava conciliar a fé cristã com um pensamento racional. Principais questões debatidas e analisadas pelos filósofos medievais • Relação entre razão e fé; • Existência e natureza de Deus; • Fronteiras entre o conhecimento e a liberdade humana; • Individualização das substâncias divisíveis e indivisíveis. A Filosofia Patrística • Patrística é o nome dado ao período do pensamento cristão que se seguiu à época do novo testamento e chega até ao começo da Escolástica. • Trata-se da filosofia cristã dos primeiros séculos, elaborada pelos Pais da Igreja, consiste na elaboração doutrinal das verdades de fé do Cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos “pagãos”. Chama-se de literatura patrística o conjunto das obras cristãs que datam da idade dos padres da igreja, mas nem todas têm como autores padres da igreja. Enquanto o século I é o dos Padres Apostólicos Clemente Romano, Inácio de Antióquia, Policarpo de Esmirna, Pápias de Hierápolis, Barnabé e Hermes. (Novo Testamento) - procuraram em tudo mostrar, a partir da esperança do retorno de Jesus Cristo, a importância da salvação. No século II nos traz a presença dos Padres Apologistas, daqueles que se esforçaram por divulgar a fé em Cristo entre os romanos e, mais precisamente, entre os mais cultos. (São Justino) • A Filosofia, portanto, fora utilizada por eles para que melhor explicassem o cristianismo e aquilo que lhes era revelado pela fé. Já entre os séculos IV e V viveu Santo Agostinho. Ele, que foi considerado o Mestre do Ocidente e conduziu a patrística ao seu auge, nasceu em 354 e morreu em 430. ➢ Dentre os padres, sobressai no Ocidente a figura de Santo Agostinho. ➢ Quando ele nasceu em Tagaste (norte da África, na atual Argélia), o cristianismo já tinha liberdade de culto (desde 325, sob o imperador Constantino). ➢ Sua mãe, Mônica (que seria canonizada como santa católica), embora muito devota, seguindo um costume de então, não batizou seu filho quando bebê, e ele não cresceu como católico praticante. A Patrística tem três períodos: • Antes de Agostinho, tempo de Agostinho e depois de Agostinho. • No período antes de Agostinho, os padres defendiam o cristianismo contra o paganismo, os padres defendiam a fé e deixam de lado a razão grega. • No período de Agostinho houve um crescimento - descoberta de ser possível estudar filosofia com fé. • No pós-Agostinho, inicia-se uma batalha muito forte na defesa da fé e da razão. • Diziam que as verdades religiosas não podiam ser compreendidas a não ser pela fé. Santo Agostinho • Agostinho nasceu no ano de 354, em uma província do Império Romano ao norte da África chamada Numídia. Cidadão do Império recebeu educação típica romana e aos vinte anos foi para Roma, junto com sua companheira e os filhos. • Pouco tempo depois se mudou para Milão e trabalhou como professor. Inicialmente professou a fé cristã na vertente Maniqueísta(que ensinava o dualismo entre o deus do bem e o deus do mal), , contudo, por influência de sua mãe e por decisão própria, aderiu à igreja ortodóxica. No ano de 387, Agostinho recebeu o sacramento do batismo por Ambrósio, outro expoente da ortodoxia cristã. Retornou, então, à África, já como membro da direção da igreja, e em 396 foi nomeado Bispo de Hipona, tendo permanecido nesta função até a sua morte em 430. • Nessa sua emancipação espiritual, é bom que se destaque a presença da Filosofia de Platão, do neoplatonismo e da figura marcante de Santo Ambrósio. • Preocupava-se, principalmente, com a teologia cristã. Mesmo quando se ocupava de grandes questões filosóficas seu objetivo sempre era amalgamar os ensinamentos bíblicos com a herança filosófica da escola platônica. • O problema sobre o qual se debruçou era de demonstrar que a onipotência de Deus e a criação do mundo, como descrita no livro do Gênese, seriam compatíveis. ➢ Em A Cidade de Deus, Agostinho (2006) defende que uma sociedade se forma a partir do amor de vários indivíduos pelo mesmo objeto. ➢ Ele exemplifica com os espetáculos: os espectadores ignoram-se mutuamente, mas, ao admirarem a performance do ator, também passam a nutrir simpatia uns pelos outros. ➢ Atualmente, poderíamos ver algo semelhante nas competições esportivas: uma torcida de futebol, formada por pessoas que não se conhecem, estabelecem um vínculo de simpatia por causa do time que as empolga. A Cidade de Deus Unida pelo amor divino e que dirige sua existência temporal à glória de Deus. A Cidade dos homens Unida pelo amor às coisas temporais, de costas para Deus. É por isso que Agostinhopreocupou-se com a arte de governar, pois, para ele, a política deve contemplar o homem em sua plenitude constituída de corpo e de alma. Portanto, não haverá política verdadeira se esta não estiver ligada a Deus. Haveria fundamentalmente duas cidades: Há um fim comum a toda sociedade, seja qual for, e este fim é, segundo Agostinho, a “paz”. A paz que as sociedades desejam é pura tranquilidade de fato, mas a paz verdadeira é a que satisfaz plenamente as vontades de todos tão bem que, ao ser obtida, nada mais se deseja. Afinal, “uma coisa não é a ventura da cidade e outra a do homem, pois toda cidade não passa de homens que vivem unidos” (AGOSTINHO, 2006). A condição fundamental para que a paz seja permanente é a ordem. Para que um conjunto de partes concorde na busca de um mesmo fim, é preciso que cada qual esteja em seu lugar e desempenhe sua própria função corretamente. •A paz do corpo é o equilíbrio bem ordenado dos apetites ou das paixões. •A paz da alma racional é o acordo entre o conhecimento e a vontade. •A paz doméstica é a concórdia dos moradores da mesma habitação quanto ao comando e à obediência. •A paz da cidade é a concórdia da família estendida a todos os cidadãos. •A paz da cidade cristã é uma sociedade ordenada de homens que amam a Deus e se amam mutuamente em Deus. Na paz final, entretanto, que deve ser a meta da justiça que tratamos de adquirir aqui na Terra, como a natureza estará dotada de imortalidade, de incorrupção, carecerá de vicias, e não sentiremos nenhuma resistência interior ou exterior, não será necessário a razão mandar nas paixões, pois não existirão [...]. Tal estado será eterno, e estaremos certos de sua eternidade. Por isso, na paz dessa felicidade e na felicidade dessa paz, consistirá o soberano bem. (AGOSTINHO, 2006) Obviamente, Agostinho considera a paz da Cidade dos homens uma paz aparente, uma desordem. Por essa razão, ainda que seus ensinamentos expressem a transitoriedade da cidade terrena e a definitiva paz na cidade celestial, ele chamava atenção daqueles que não praticavam as virtudes. Assim, promoviam os vícios que desqualificam os sentidos da política terrena, conforme destaca o trecho a seguir: ➢ A justiça é a virtude que realiza a ordem, que dá a cada um o que é devido: subordina o inferior ao superior, mantém a igualdade entre coisas iguais e dá a cada um o que lhe pertence. ➢ A justiça deriva da lei eterna, que nos ordena conservar a ordem e impedir que ela seja perturbada. Essa lei imutável ilumina nossa consciência moral como a luz do Mestre interior — que é Cristo, “o Verbo que ilumina todo homem” — ilumina nossa inteligência. ➢ Assim, também há em nós uma lei, chamada “lei natural”, que é como a “transcrição” da lei eterna ou divina em nossa alma. A exigência fundamental da lei é que tudo esteja ordenado. E é a justiça que estabelece no homem a ordem pela qual o corpo submete-se à alma e essa a Deus, como declara Agostinho: Das coisas temporais devemos usar, não gozar, para merecermos gozar as eternas. Não como os perversos, que querem gozar do dinheiro e usar de Deus, porque não gastam o dinheiro por amor a Deus, mas prestar culto a Deus por causa do dinheiro. (AGOSTINHO, 2006) Porém, apenas Deus pode dar ao homem a virtude da justiça e as demais virtudes. Nos termos do teólogo: A verdadeira virtude consiste, portanto, em fazer bom uso dos bens e males e em referir tudo ao fim último, que nos porá na posse da perfeita e incomparável paz. (AGOSTINHO, 2006) ➢ O conceito de “cidade” de Santo Agostinho, que é “o conjunto de homens unidos pelo amor comum a certo objeto”. ➢ O conceito agostiniano de “justiça” é análogo à questão da “iluminação” da verdade. ➢ A consciência humana é iluminada por Deus para agir em conformidade com a lei eterna. ➢ Nesse contexto, dirigia-se aos que pretendiam governar a “Cidade dos homens” para que não se esquecessem desse princípio e, assim, fizessem da cidade terrena uma antecipação da “Cidade de Deus”: a Pátria Celestial. ➢ Se os que governam não pensarem na política como uma arte e que esta não pode ser pensada sem a presença de Deus, não haverá concórdia na cidade terrena. Assim, as virtudes não serão praticadas e os vícios reinarão. • Separação da Fé e Razão: • [...] uma delas consiste naqueles que vivem segundo critérios humanos, a outra no que se submetem à vontade de Deus [...] Por duas cidades, entendo duas sociedades de seres humanos, uma das quais está predestinada a reinar com Deus por toda a eternidade, e a outra condenada a sofrer punições eternas com o demônio (Livro XV, 1) (MORRISON, 2006 p. 74). • Assim, o pensamento de Agostinho reflete, em grande parte, os principais passos de sua trajetória, que em resumo são: • Do maniqueísmo ficou uma concepção dualista, simbolizada pela luta entre o bem e o mal, a alma e o corpo. Neste sentido, dizia que o homem tem uma inclinação natural para o mal. Insistia em que já nascemos pecadores e somente um esforço consciente pode nos fazer superar essa deficiência natural. • Considerando o mal como o afastamento de Deus, defendia a necessidade de uma intensa educação religiosa. Escolhe desde já o teu caminho, a fim de poderes ter glória verdadeira, não em ti, mas em Deus [...]. Nós te convidamos, nós te exortamos a vir a esta pátria, para que constes no número de seus cidadãos, cujo asilo é, de certo modo, a verdadeira remissão dos pecados. Não prestes ouvido aos que degeneram de ti. [...] É que nos tempos não buscam o repouso da vida, mas a segurança do vício. [...] Volte-te, agora, para a pátria celeste. Por ela trabalharás pouco e nela terás eterno e verdadeiro reino. Não encontrarás o fogo de veste nem a pedra do Capitólio, mas Deus, uno e verdadeiro, que não te porá limites ao poder nem duração a império [...]. Nela, a vitória é a verdade, a honra é a santidade, a paz é a felicidade, e a vida é a eternidade. [...] Evita, por conseguinte, comunhão com os demônios, se queres chegar à cidade bem-aventurada. (AGOSTINHO, 2006) • Com o cristianismo, defendeu a via do autoconhecimento, o caminho da interioridade, como instrumento legítimo para a busca da verdade. Somente o íntimo de nossa alma, iluminada por Deus poderia atingir a verdade das coisas. Provoca, com isso, a submissão do espírito à matéria, equivalente à subordinação do eterno ao transitório, da essência à aparência. • Assim, a teoria agostiniana estabelece que todo conhecimento verdadeiro é o resultado de um processo de iluminação divina. Nesse tipo de conhecimento a própria luz divina não é vista, mas serve apenas para iluminar as ideias. • Isso significa que, para Agostinho, a fé revela verdades ao homem de forma direta e intuitiva. • Transição para o Mundo Cristão (século V e VI) • A maioria dos pensadores deste período defendia que a fé não deveria ficar subordinada a razão. Escolástica (século IX ao XIV) • A Escolástica foi um movimento que pretendia usar os conhecimentos greco-romanos para entender e explicar a revelação religiosa do cristianismo. As ideias dos filósofos gregos Platão e Aristóteles adquirem grande importância nesta fase. • Os teólogos e filósofos cristão começam a se preocupar em provar a existência da alma humana e de Deus. Para os filósofos escolásticos a Igreja possuía um importante papel de conduzir os seres humanos à salvação. • No século XII, os conhecimentos passam a ser debatidos, armazenados e transmitidos de forma mais eficiente com o surgimento de várias universidades na Europa. O “método” da escolástica madura era a disputatio, que consistia em um embate dialético de opiniões contrárias e favoráveis a determinada tese. Ele foi inaugurado por Pedro Abelardo (1079-1142), no século XII, iniciando- se a era das grandes “sumas”. As “sumas” buscavam compendiar todo o saber teológico e filosófico, reunindo as teses dos padres da Igreja e dos filósofos, confrontando-as entre si e com a Bíblia, e buscando a melhor solução para os problemasfilosóficos e teológicos. ➢ À época de Aquino, já haviam sido fundadas as primeiras universidades do Ocidente, a Igreja havia atingido o auge de seu poder temporal — quando reinava o Papa Inocêncio III (1161-1216) — e começava a se mundanizar, com o apego dos eclesiásticos à riqueza e ao luxo. ➢ Foi quando surgiram as ordens “mendicantes” dos “irmãos menores” ou franciscanos, de São Francisco de Assis (1182-1226), e dos “pregadores”, de São Domingos de Gusmão (1170-1221), para pregar a pobreza como ideal de vida cristã. • Os principais representantes: Anselmo de Cantuária, Albertus Magnus, São Tomás de Aquino, John Duns Scotus e Guilherme de Ockham. • Escolástica no seu sentido literal significa filosofia da escola. • Contudo, a Escolástica não era uma filosofia autônoma, como por exemplo, a grega, pois, se destinava ao ensino religioso, à verificação do dogma. A Escolástica tem como função levar até aos homens a compreensão da verdade revelada nas escrituras sagradas, no Evangelho. • A Escolástica fazia o uso de algum outro método filosófico (neoplatônico ou aristotélico) com a finalidade de promover um exercício de racionalidade, que pretendia demonstrar a existência de verdade nas afirmações religiosas, promovendo a sua demonstração ou seu esclarecimento, na medida dos limites da compreensão humana. • Portanto, pode-se conceituar a Escolástica como sendo uma filosofia que, utilizando-se do método racional (normalmente emprestado de outra escola filosófica), tem como função demonstrar, fundamentar, justificar e defender uma determinada tradição ou religião. • Enquanto anteriormente, tomado pelo desespero, o homem abdica da em nome da fé, agora a fé precisa da razão para iluminar-se. Neste período ( mais precisamente no século XII) surgiram as primeiras universidades que promoviam seus estudos teológicos por meio da lógica e da razão. A Igreja buscou nestes estudos as explicações racionais para provar a existência de Deus e da alma humana, resgatando, assim a sua importância para a salvação da humanidade. • Cabe destacar que as universidades foram cruciais para a divulgação destes conhecimentos e este período recebeu o nome de escolástico. Seu principal representante foi São Tomás de Aquino. Tomás de Aquino • Diferentemente de Santo Agostinho, Tomás de Aquino viveu intensamente os conflitos intelectuais, típicos de sua época, que opunha o conhecimento pela razão, a teologia à filosofia, a crença na revelação bíblica às investigações dos filósofos gregos. • Inserida no movimento escolástico, a filosofia de Tomás de Aquino (o tomismo) já nasceu com objetivos claros: não contrariar a fé. De fato, a finalidade de sua filosofia era organizar um conjunto de argumentos para demonstrar e defender as revelações do cristianismo. • Tomás (1225-1274) era membro de uma família de nobres italianos (Condes de Aquino), sua base territorial encontra-se próxima ao Monte Cassino, na aldeia de Aquino, onde começou seus estudos. Já mais velho estudou por seis anos na Universidade de Nápoles. No ano de 1244 foi aceito na ordem dos Dominicanos e seguiu para Colônia (Alemanha) para continuar seus estudos e trabalhos espirituais. Em 1259, após passar por Paris e novamente por Colônia, volta à Itália e escreve sua obra mais importante: Suma contra os gentios. Em 1266 começou a escrever sua obra mais conhecida, a Suma teológica. É como nos diz José Ortega y Gasset: • “Se por um lado (o homem) necessita da iluminação sobrenatural da fé, por outro se dá que esta necessita por sua vez da iluminação por parte do homem. Dentro da fé começa a incorporar-se a razão humana. A revelação, a palavra de Deus necessita integrar-se com uma ciência humana da palavra divina. Essa ciência é a teologia escolástica.” Santo Tomás de Aquino é o maior expoente do período escolástico da teologia e Filosofia católica, cujo nome deriva das “escolas” monásticas ou catedralícias, nas quais eram ensinadas a teologia e as “artes liberais”: Trivium Artes da linguagem (gramática, retórica e lógica). Quadrivium Artes das relações numéricas (aritmética, geometria, astronomia, música). • Para ele o conhecimento se origina de duas ordens: a natural e a sobrenatural. • A ordem natural é adquirida pelo uso da razão e que busca o conhecimento por meio da ciência. • Esta tem métodos próprios de investigação e a filosofia é um forte instrumento para a obtenção da verdade. • Já a ordem sobrenatural é adquirida por revelações divinas e a verdade é obtida por meio da fé. • Para este filósofo estas duas ordens não são opostas, como aparentam, e sim complementares. • Segundo Costa (1993, p. 41) a razão pode se beneficiar da fé porque esta pode ajudar a “ilustrar, esclarecer, explicar e defender os dogmas revelados”. • Já a fé pode servir para orientar a razão “seja negativamente, impedindo-a de incorrer em muitos erros, seja positivamente, indicando-lhe a direção correta que deverá seguir em determinados temas da reflexão racional”. (p.41) • O homem que até então, desde o início do cristianismo, havia se diminuído diante da fé e da entrega ao divino, por encontrar-se desesperado, passa, a partir de agora, a acreditar cada vez mais em si mesmo por causa do redescobrimento da importância de sua racionalidade, não nos esquecendo, é claro, que aí ele ainda se vê como dependente do criador, de Deus. • Ele acrescenta que os dois tipos de conhecimento (com base na fé e com base na razão) têm a mesma origem: Deus. E, para provar racionalmente a existência de Deus, ele desenvolve ‘as cinco vias da prova da existência de Deus’ que, segundo Marcondes (2002) consistem em: • Tomás de Aquino reviveu em grande parte o pensamento aristotélico com a finalidade de buscar nele os elementos racionais que explicassem os principais aspectos da fé cristã. 1ª prova: O argumento do movimento Partindo da premissa de que tudo que se move é movido por outro ser, ao fazer uma retrospectiva, chegamos ao primeiro ser movente que não precisa de outro ser para movê-lo. Este ser movente é Deus. 2ª prova: A causa eficiente Para ele nada surge do nada e isto sendo verdade tudo é efeito de algo ou alguma coisa. Porém, se, novamente fizermos uma retrospectiva, chegaremos a primeira causa existente que não foi efeito de algo, ou seja, Deus. 3ª prova: conceitos de necessidade e possibilidade. Todos os seres estão em permanente transformação, alguns sendo gerados, outros se corrompendo e deixando de existir. 4ª prova: A metafísica É conhecida, também, pelo termo ‘grau de perfeição’. Para o filósofo tudo possui qualidades em um grau maior ou menor. Desta forma, as qualidades das coisas são comparativas, ou seja, só podemos afirmar se uma coisa é boa ou ruim, se é melhor ou pior quando a comparamos com outra coisa. Por exemplo, para eu afirmar que uma coisa é boa, preciso compará-la com outra coisa. Assim sendo, chegamos a conclusão de que existe algo que possui o grau maior de qualidade, algo perfeito e que é nosso parâmetro máximo de comparação. Este ser perfeito é Deus. 5ª prova: O argumento teológico Parte do pressuposto de que existe uma ordem e uma finalidade no universo. Assim, as coisas não existem e acontecem a esmo porque, se isto fosse verdade, a vida seria um caos. Esta ordem não acontece do nada, é preciso uma inteligência ordenadora para organizar as coisas direcionando-as para a sua finalidade e esta inteligência é Deus. Para melhor entendermos podemos fazer uma analogia com o ato de escrever: Para escrevermos uma carta, por exemplo, as letras não surgem do nada, é preciso colocá-las em uma sequência para que a finalidade da escrita aconteça e, para colocar em uma ordem, é preciso que alguém as ordene. • Segundo Santo Tomás a razão pode provar a existência de Deus por meio de cinco vias, todas de índole realista: considera-se algum aspecto da realidade dada pelos sentidos como o efeito do qual se procura a causa. • A primeira fundamenta-se na constatação de que no universo existe movimento.Baseado em Aristóteles, Santo Tomás considera que todo o movimento tem uma causa. • A segunda via diz respeito à ideia de causa em geral. Todas as coisas ou são causas ou são efeitos, não se podendo conceber que alguma coisa seja causa de si mesma. • A terceira via refere-se aos conceitos de necessidade e possibilidade. Todos os seres estão em permanente transformação, alguns sendo gerados, outros se corrompendo e deixando de existir. • A quarta via tomista para provar a existência de Deus é de índole platônica e baseia-se nos graus hierárquicos de perfeição observados nas coisas. • A quinta via fundamenta-se na ordem das coisas. Resumo das 5 vias: ÉTICA DA LEI NATURAL E DAS VIRTUDES Assim como para Agostinho, para Aquino (2011), a lei eterna de Deus é participada à mente humana como “lei natural”, e o papel de tal lei — como de todas — é orientar o homem à sua finalidade e felicidade, que é Deus. Como conteúdo, essa lei é um hábito — que Tomás também chama de “sindérese” — dos princípios da vida moral. O primeiro desses princípios: “O bem é o que todos desejam”. Dele deriva o primeiro preceito da lei natural: “O bem deve ser feito, e o mal, evitado”. A razão prática apreende como bem as coisas para as quais o homem tem uma inclinação natural: seguir vivendo, propagar a espécie e educar os filhos, buscar a verdade e viver em sociedade. ➢ A virtude é definida por Aquino (2011) como “uma boa qualidade da mente pela que se vive retamente, da qual ninguém usa mal, produzida por Deus em nós sem intervenção nossa”. ➢ Em sentido lato, “virtudes” são aquelas humanas, que destinam-se aos fins da razão humana e que podem ser obtidas pela reiteração dos atos. Contudo, para Santo Tomás de Aquino a virtude em sentido próprio é a “infusa”, inseparável da virtude teologal da caridade, com a qual Deus incrementa as virtudes humanas ou cardeais — prudência, justiça, fortaleza e temperança — para o cumprimento do fim último e sobrenatural da vida humana, que é o próprio Deus. Prudência ➢ Esta é a virtude pela qual o homem aplica os princípios da sindérese (hábito) ou lei natural à situação concreta. Por ela, conhecendo a verdade dos princípios e da situação, o homem atua com justiça. O querer e o agir devem ser conformes à verdade. A prudência não se refere ao fim último, mas às vias que a ele conduzem, isto é, ela não decide o que é a felicidade, mas apenas como chegar lá. A unidade viva de sindérese e prudência é o que chamamos de “consciência”. ➢ A prudência é cognoscitiva e imperativa: apreende a realidade para, depois, ordenar o querer e o agir. O essencial na prudência é que o saber da realidade transforme-se em império prudente, e este, em ação boa. Sem a vontade do bem em geral, o esforço por descobrir o prudente e o bom aqui e agora seria ilusório e vão. Justiça ➢ Esta é a constante e perpétua vontade de dar a cada um o seu direito. A matéria da justiça é a operação exterior, enquanto esta, ou a coisa que por ela usamos, é proporcionada à outra persona, à qual estamos ordenados pela justiça. ➢ A justiça legal é a mais preclara (notável) entre todas as virtudes morais, na medida em que o bem comum é preeminente sobre o bem singular de uma pessoa considerada individualmente. ➢ A justiça particular também sobressai entre as outras virtudes morais por duas razões: a primeira se toma pelo sujeito, porque se acha na parte mais nobre da alma, na vontade; a segunda razão deriva de parte do objeto, porque o justo comporta-se bem a respeito de outro, e, assim, a justiça é, de certo modo, um bem de outro. Fortaleza ➢ Sua essência não é se expor a qualquer risco, mas entregar-se, de maneira razoável, ao verdadeiro valor do real. A autêntica fortaleza supõe uma valoração justa das coisas, tanto das que se arrisca como das que se espera proteger ou ganhar. ➢ O bem do homem é a realização de si conforme a razão, e o bem da razão vem da prudência. A justiça quer realizar esse bem. A fortaleza e a temperança o conservam (com primazia da fortaleza). ➢ Sem a “coisa justa”, não há fortaleza: a coisa é o que decide, e não o dano que se possa sofrer. Ser forte não é o mesmo que não ter medo: a fortaleza supõe o medo do homem ao mal, e sua essência é não deixar que o medo a force ao mal ou a impeça de realizar o bem. ➢ O mais próprio da fortaleza é a resistência e a paciência, e não o ataque, pois o mundo real é de tal forma, que só o caso de extrema gravidade exige a mais profunda força anímica do homem. Temperança ➢ O sentido da temperança é realizar a ordem no interior do homem, com absoluta ausência de egoísmo. Dela brota a tranquilidade do espírito. A tendência natural ao prazer sensível que se obtém na comida, na bebida e no deleite sexual manifesta as forças naturais mais potentes que atuam na conservação do homem. ➢ Essas energias vitais, que se puseram no ser para conservar no indivíduo e na espécie a natureza, dão as três formas originais do prazer e destroem a ordem interior quando se desordenam. Disso resulta que as funções mais específicas da temperança sejam a abstinência e a castidade (ordenação do comer, do beber e da sexualidade segundo a razão). ➢ Quando a exigência natural do homem de vingar uma injustiça desemboca em desatada cólera, é destruído o que deveria ser edificado à base de mansidão e doçura. Inclusive a natural ânsia de conhecer pode degenerar, sem temperança, em ansiedade ou em mania patológica. Santo Tomás de Aquino chama essa depravação de “curiosidade” e a temperança que a modera, de “estudiosidade”. ✓ Castidade, sobriedade, humildade e mansidão, junto com a estudiosidade, são formas da temperança. ✓ Luxúria, desenfreio, soberba e uma cólera irracional, junto com a curiosidade, são formas da destemperança. POLÍTICA Para Aquino (2011), o homem é um “animal sociável e político”: desprovido de instrumentos que lhe garantam automaticamente a sobrevivência, mas dotado de razão para buscar os meios da existência, ele não pode, sozinho, encontrar tudo que necessita. Portanto, a vida social lhe é natural. A política é a arte de dirigir a multidão à consecução do bem comum — e não meramente um jogo de luta pelo poder —, para a qual é imprescindível a presença de um governante que saiba harmonizar os interesses presentes na sociedade, subordinando-os aos interesses mais gerais. Quando o governante busca seu bem privado, o governo é injusto e perverso, implicando: •Tirania – Governo injusto de um só. •Oligarquia – Governo injusto de alguns poucos ricos. •Democracia – Governo injusto de muitos. Os governos justos são: •Politia – Governo da multidão. •Aristocracia – Governo de poucos, porém virtuosos (os “melhores”). •Realeza ou monarquia – o governo de um só (o rei). A princípio, Tomás de Aquino diz preferir o governo do rei para realizar o objetivo primordial da sociedade, que é a unidade da paz, precisamente porque considera que um só tem mais condições de evitar o conflito. Depois, no entanto, Aquino (2016) inclina-se a um governo misto, que combina os três regimes justos. Em suas palavras: Esta é a organização política mais perfeita, bem mesclada do reino, enquanto um preside; da aristocracia, enquanto muitos exercem o principado segundo a virtude; e da democracia, isto é, do poder do povo, porque dentre os populares podem ser eleitos os príncipes, e ao povo pertence a eleição dos príncipes. (AQUINO, 2016) ➢ Leia o artigo: A filosofia durante a Idade Média disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/escolastica-a- filosofia-durante-a-idademedia.htm ➢ Vídeo: A Filosofia medieval e suas características https://www.youtube.com/watch?v=aTrhu3tIlfQ Indicação de leituras:
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