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TRAB AV1 DC III

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FACULDADE ESTÁCIO DO PARÁ 
GRADUAÇÃO EM DIREITO 
DIREITO CONSTITUCIONAL III 
DOCENTE: PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA 
 
 
 
 
 
 
ADRIANE ELINE ISACKSSON MAGALHÃES - 201902111931 
ANTÔNIO GONÇALVES DA SILVA - 201902195931 
EBERTH DUARTE MELGAÇO - 201902272994 
JENNIFER BEATRIZ BRITO DOS SANTOS - 201902037863 
LELA CAROLINE ARANTES MESQUITA - 201901166864 
 
 
 
 
 
 
AV1 - ESTUDO DE CASO AVALIATIVO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELÉM 
2020 
 
O presente trabalho versa sobre a Arguição ​de Descumprimento de Preceito 
Fundamental (ADPF), especificamente, tratamos sobre o acórdão da ADPF ​526, 
onde o Supremo Tribunal Federal (STF) analisou a aplicação do projeto “escola sem 
partido” e a proibição nas escolas da utilização dos termos “ideologia de gênero”, 
“gênero” e “orientação sexual”. 
Brevemente, é necessário conceituar a ADPF, bem como, seu cabimento, 
legitimação ativa e procedimento. 
A ADPF é uma ação inovada com a promulgação da Constituição da 
República Federativa do Brasil de 1988 e, conforme disponível no site​1 do STF, 
nasce 
“com o objetivo de suprir as lacunas deixadas pelas ações diretas de 
inconstitucionalidade (ADIs), que não podem ser propostas contra leis ou 
atos normativos que entraram em vigor antes da promulgação da CF nem 
contra atos municipais”. (2018) 
 
É importante ressaltar que a referida ação está regulamentada pela Lei 
9.882/1999​2​, sendo nesta, possível identificar que sua proposição tem por objeto, 
afastar lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal (art. 1º, inciso I) que 
ofenda preceito fundamental, sendo possível ser proposto pelos mesmos agentes 
legitimados para propor a ação direta de inconstitucionalidade (art. 2º, inciso I). 
Contudo, para diferenciar a ADPF da ADI, nos ensina Guilherme Peña de 
Moraes​3​ que, 
 
“a relação de subsidiariedade é estabelecida entre os instrumentos de 
proteção do sistema objetivo, logo, entre a ação direta de 
inconstitucionalidade e a arguição de descumprimento de preceito 
fundamental. Portanto, sendo cabível a ação direta de inconstitucionalidade, 
não caberá a arguição [...]” (2018, p. 649). 
 
A proposição da ADPF deve ser realizada através de petição inicial, conforme 
o artigo 3º da Lei 9.882/1999, onde deve constar (i) a indicação do preceito 
1 BRASÍLIA. Supremo Tribunal Federal. ​Constituição 30 anos: ADPF está entre as inovações 
trazidas pela Carta de 88.​ 2018. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.a 
sp?idConteudo=393978>. Acesso em 21 de set 2020. 
2 BRASIL. Lei 9.882/1999. ​Dispõe sobre o processo e julgamento da argüição de 
descumprimento de preceito fundamental, nos termos do § 1o do art. 102 da Constituição 
Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9882.htm>. Acesso em 21 set. 
2020. 
3 MORAES, Guilherme Peña de. ​Curso de direito constitucional. – 10. ed. rev., atual. e ampl. – 
São Paulo: Atlas, 2018. 
 
fundamental considerado violado, (ii) o ato a ser questionado, (iii) a prova da 
violação, (iv) o pedido especificado e, se for possível, (v) indicação de jurisprudência 
relevante que trate sobre mesma violação ao preceito fundamental. 
Após apreciação do pedido, o relator redigirá o relatório e este será analisado 
pelas ministras e ministros, findando com o julgamento da ação em sessão com, 
pelo menos, dois terços do ministros presentes. Provida a ADPF, esta produzirá 
efeito ​erga omnes ​e vinculante aos demais órgãos do poder público. 
Após breve conhecimento sobre o conceito e rito da ADPF, dedicaremos 
nosso texto à análise do inteiro teor do acórdão sobre a ADPF 526. 
A referida ação foi ajuizada em 26.06.2018, com pedido de medida cautelar, 
pelo Partido Comunista do Brasil, no intuito de impugnar a aplicação do § 5º do art. 
162 da Lei Orgânica do Município de Foz do Iguaçu (Emenda n. 47/2018), conforme 
o acórdão​4​: 
Art. 162. [...] § 5º Ficam vedadas em todas as dependências das instituições 
da rede municipal de ensino a adoção, divulgação, realização ou 
organização de políticas de ensino, currículo escolar, disciplina obrigatória, 
complementar ou facultativa, ou ainda atividades culturais que tendam a 
aplicar a ideologia de gênero, o termo ‘gênero’ ou ‘orientação sexual. (2020, 
p. 3). 
 
Atendendo aos requisitos do artigo 3º da Lei 9.882/1999, após a distribuição, 
a inicial foi conhecida, passando à Ministra Cármen Lúcia a posição de relatora. O 
voto desta indica a concessão da medida cautelar, pelo Ministro Dias Toffoli, 
apresentando a fundamentação dada pelo mesmo e seguindo em consonante 
direcionamento, bem como, em sintonia, os votos dos Ministros Alexandre de 
Moraes e Gilmar Mendes acompanham a fundamentação da relatora. 
Por unanimidade, o tribunal julgou procedente o pedido formulado na ADPF 
526 e declarou a inconstitucionalidade do § 5º do art. 162 da Lei Orgânica do 
Município de Foz do Iguaçu. 
Na inicial do autor e na fundamentação da Ministra e dos Ministros, foram 
elencados os dispositivos constitucionais que sofreram grave ameaça com a 
aplicação da norma municipal, dentre eles: 
1. O princípio de uma sociedade livre, justa e solidária, disposto no inciso 
4 BRASÍLIA. Supremo Tribunal Federal. ​ADPF 526. ​Relatora: CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, 
julgado em 11/05/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-137 DIVULG 02-06-2020 PUBLIC 
03-06-2020. Disponível em: <https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur425819/false>. Acesso 
em 18 set. 2020. 
 
I do art.3°/CF​, tendo em vista que a existência de uma Lei que traz em 
suas entrelinhas a proibição da aplicação do termo “ideologia de 
gênero”, “gênero” ou “orientação sexual” nas instituições municipais de 
ensino, jamais promoveria o disposto neste preceito, mas sim a 
segregação e a discriminação, e cultivaria cada vez mais uma 
sociedade preconceituosa e repressora diante das mais diversas 
orientações sexuais existentes dentro de uma sociedade livre; 
2. O direito à igualdade prevista no caput do art.5°/CF​, pois a Lei 
Orgânica de Foz do Iguaçu excluiria a possibilidade de aplicação de 
termos que podem promover a inclusão dos grupos que por uma 
questão de tradicionalismo são excluídos, e ainda manteria a 
desigualdade advinda da exclusão dos homossexuais, lésbicas, 
bissexuais, transexuais e assexuais; 
3. A vedação à censura em atividades culturais, constante no inciso IX do 
art. 5º/CF​, já que a Constituição assegura a liberdade de expressão da 
atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, 
independentemente de censura ou licença, o advento da Lei municipal 
censuraria a atividade intelectual dentro do ensino municipal; 
4. A laicidade do Estado prevista no inciso I do art. 19/CF​, pois a norma 
impugnada está enraizada em concepções patriarcais religiosas, que 
ferem a liberdade individual e trazem à tona a influência de 
concepções religiosas ao exercício do poder político; 
5. A competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases 
da educação nacional, predisposta no inciso XXIV do art. 22/CF​, tendo 
em vista que não compete à lei municipal legislar acerca de conteúdo 
curricular e orientação pedagógica nas escolas municipais de ensino, 
sendo que compete privativamenteà união legislar acerca da matéria 
erroneamente citada na norma impugnada; e 
6. O pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas disposto no 
inciso I do art. 206/CF​, assim como, o ​direito à liberdade de aprender, 
ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber constante 
no inciso II do art. 206/CF​, pois ambos os preceitos foram afrontados à 
medida que a Lei do Município de Foz do Iguaçu restringiu o direito de 
 
expressão do professor e de aprender do estudante, excluiu a 
diversidade de pensamentos e pluralismo de ideias no âmbito da 
educação. 
No geral, a razão mais imperativa utilizada para alicerçar a decisão da relatora 
e dos ministros que acompanharam seu entendimento, fundamentou-se em que a 
aplicação do § 5º do art. 162 da Lei Orgânica do Município de Foz do Iguaçu, 
representava incontestável ofensa à competência privativa da União para editar as 
normas gerais que tratem sobre educação. Ato contínuo, os votos expressam a 
percepção que, a proibição de aplicação da chamada “ideologia de gênero”, através 
dos termos “gênero” ou “orientação sexual”, são claros atentados aos princípios e 
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, no tocante ao pluralismo 
político e na construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Do mesmo modo, 
os votos foram equivalentes em resguardar a liberdade de cátedra dos professores e 
o direito aos estudantes em dialogar com as diferenças, reconhecendo no pluralismo 
de ideias, exercício fundamental para o fortalecimento de uma sociedade 
democrática. 
Neste ponto, é essencial apontar o histórico de ADPFs julgadas procedentes, 
que tratam sobre o mesmo tema, demonstrando que as tentativas de disseminação 
normativa da aplicação do projeto “escola sem partido” e a proibição nas escolas da 
utilização dos termos “ideologia de gênero”, “gênero” e “orientação sexual”, é de 
recorrência nacional. A realização de uma consulta jurisprudencial​5 no site do STF, 
indicou que, além da ADPF 526, em outras sete arguições foi declarada a 
inconstitucionalidade das lei municipais, a saber, ADPF 457 (Novo Gama/ GO), 
ADPF 460 (Cascavel/PR), ADPF 461 (Paranaguá/PR), ADPF 465 (Palmas/TO), 
ADPF 467 (Ipatinga/MG), ADPF 522 (Petrolina e Garanhuns/PE) e ADPF 600 
(Londrina/ PR). 
Diante de todo o exposto, é possível inferir que as ideias alimentadas no bojo 
do projeto “escola sem partido”, estão reverberando de norte a sul do país. Em 
contrapartida, a cada julgamento, o entendimento do STF é no sentido de repudiar o 
5 BRASÍLIA. Supremo Tribunal Federal. ​Resultado da consulta com os termo: "gênero" 
"orientação sexual" "ensino"​. Disponível em: <encurtador.com.br/hvHV6>. Acesso em 18 set. 
2020. 
 
 
afronta que essas ideias geram ao texto constitucional. 
A inaceitabilidade de atos normativos e leis orgânicas com o objetivo de 
impedir que a educação, por meio da escola, dos professores e outros profissionais 
da educação exerçam suas funções, de forma plena, com todo o amparo previsto na 
Constituição, reforça que o STF, a cada julgado, pacifica a inconstitucionalidade do 
projeto de lei 7180/14​6​, conhecido como “escola sem partido” ou “lei da mordaça. 
De tal sorte que, em recente decisão sobre Ação Direta de 
Inconstitucionalidade (ADI), que trata de leis e atos normativos federais ou 
estaduais, o resultado da ADI 5537 apontou para a inconstitucionalidade de Lei 
estadual que implementava o chamado programa “escola livre”, nos moldes do 
“escola sem partido”. 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE 
INCONSTITUCIONALIDADE. PROGRAMA ESCOLA LIVRE. LEI 
ESTADUAL. VÍCIOS FORMAIS (DE COMPETÊNCIA E DE INICIATIVA) E 
AFRONTA AO PLURALISMO DE IDEIAS. AÇÃO DIRETA DE 
INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PROCEDENTE. I. VÍCIOS 
FORMAIS DA LEI 7.800/2016 DO ESTADO DE ALAGOAS: 1. Violação à 
competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da 
educação nacional (CF, art. 22, XXIV): a ​liberdade de ensinar e o pluralismo 
de ideias são princípios e diretrizes do sistema (CF, art. 206, II e III); [...] 5. 
Violação do direito à educação com o alcance pleno e emancipatório que 
lhe confere a Constituição. [...] 6. Vedações genéricas de conduta que, a 
pretexto de evitarem a doutrinação de alunos, podem gerar a ​perseguição 
de professores que não compartilhem das visões dominantes. [...] 7. Ação 
direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI 5537, Relator(a): 
ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 24/08/2020, 
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-229 DIVULG 16-09-2020 PUBLIC 
17-09-2020) (Grifo nosso). 
 
A repercussão do julgamento procedente da ADI 5537, juntamente com a 
recorrência de mesmo resultado para o tema nas ADPFs, culminou na declaração 
de afastamento do fundador do movimento Escola Sem Partido, o advogado Miguel 
Nagib, e no encerramentos das redes sociais do movimento administradas por ele​7​, 
demonstrando que as ideias disseminadas podem até encontrar seguidores pelo 
país, mas não se sustentam legalmente. 
6 BRASÍLIA. Câmara dos Deputados. ​Projeto de Lei 7180/2014. Altera o art. 3º da Lei nº 9.394, de 20 
de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: 
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=606722> . Acesso em 
22 de set. 2020. 
7 UOL. ​Após derrota no STF, fundador do Escola Sem Partido diz que deixa movimento. 2020. 
Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/noticias/2020/08/22/apos-derrota-no-stf-fundador-do-esc 
ola-sem-partido-diz-que-deixa-movimento.htm?cmpid=copiaecola>. Acesso em 24 set 2020.

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