Buscar

Pode a Psicologia se tornar uma ciência? - Lilienfeld (2010) [tradução]

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A Psicologia pode tornar-se uma ciência?1
Scott O. Lilienfeld
Department of Psychology, Emory University, Room 473, 36 Eagle Row, Atlanta
30322, Georgia
Tradução: João Paulo Galhardo Brum
Resumo
Eu sou profundamente grato a Tom Bouchard por me ajudar a pensar
cientificamente. O pensamento científico, que é caracterizado por um conjunto
de defesas contra vieses de confirmação, não é natural para a espécie
humana, como o surgimento relativamente recente da ciência na história
comprova. Mesmo hoje, o pensamento científico está, lamentavelmente,
escasso em vários domínios da psicologia, incluindo a psicologia clínica e
disciplinas relacionadas. Eu examinei cinco ameaças fundamentais para a
psicologia científica – (a) o politicamente correto, (b) ambientalismo radical, (c)
a ressureição do “senso comum” e da intuição como árbitros da verdade
científica, (d) o pós-modernismo e (e) a pseudociência – e concluí que essas
ameaças devem ser confrontadas diretamente pela psicologia científica. Eu
proponho um conjunto de reformas educacionais e institucionais que devem
colocar a psicologia em firme solo científico.
1. A Psicologia pode tornar-se uma ciência?
Quando eu entrei na pós-graduação em psicologia na Universidade de
Minnesota no outono de 1982, eu era um garoto de 21 anos com um olhar vivo
e um cabelo de rabo de cavalo faminto por aprender sobre os mistérios da
mente. Eu estava repleto de energia, intelectualmente curioso e profundamente
apaixonado com a psicologia. No entanto, apesar da minha graduação em uma
excelente instituição, a Universidade de Cornell, algo importante estava
notavelmente ausente do meu repertório intelectual, apesar de eu não saber
disso na época. Eu não tinha aprendido como pensar.
Como um dos sintomas da minha falta de racionalidade (dysrationalia no
original), eu confiantemente possuía diversas crenças profundamente
equivocadas sobre diferenças individuais. Entre outras coisas, eu tinha certeza
de que:
- Influências genéticas na maioria dos traços psicológicos são triviais,
- Genes e ambiente sempre interagem,
- Genes e ambiente nunca podem ser separados,
1 Essa é uma tradução apenas para uso pessoal. A referência para o texto original é: Lillienfeld, S. O.
(2010). Can psychology become a Science? Personality and Individual Differences, 49, 281-288.
- Testes de QI são inválidos para medir performance cognitiva,
- Testes de QI são fortemente enviesados contra minorias.
Naquele tempo, nunca me ocorreu que algumas dessas crenças não só
eram fracamente sustentadas, como eram também contraditórias. Por exemplo,
nunca passou pela minha cabeça que se não é possível separar as influências
de genes e do ambiente, não é possível afirmar se os genes e o ambiente
interagem estatisticamente. Também nunca pensei que para os testes de QI
serem enviesados contra certos subgrupos, seria necessário que eles
possuíssem validade acima de zero para ao menos um subgrupo.
Claro, um estudante ingênuo de pós-graduação pode ser perdoado por tais
erros lógicos, especialmente um iniciando seu treinamento quase trinta anos
atrás. Porém, como Faulkner (1951) notou, “O passado nunca está morto, na
verdade, nem é mesmo passado”. Ainda hoje, nas páginas dos nossos jornais
e revistas, nós podemos achar erros similares sobre a psicologia das
diferenças individuais. Veja, por exemplo, duas passagens recentes da APS
Observer, a revista da Associação de Psicologia Científica:
“... dividir os determinantes das características comportamentais em
causas genéticas e ambientais separadas é tão insensível quanto
perguntar quais áreas formadoras de um retângulo são causadas por
comprimento e quais por largura” (Mischel, 2005, p.3).
“... essa abordagem (genética de comportamento tradicional) não
escapa à dicotomia da natureza-cultura, e perpetua a ideia de que
fatores genéticos e ambientais podem ser quantificados precisamente e
sua influência no desenvolvimento humano medida... genes e o
ambiente estão sempre interagindo, e seria impossível considerar um
sem o outro” (Champaigne, 2009, p.2).
Ambas citações confundem a transação entre genes e o ambiente
dentro de indivíduos com as influências separadas dos genes e do ambiente
entre os indivíduos (Rowe, 1987). A afirmação de Mischel, como muitas outras
na literatura (por exemplo, Ferris, 1996; LeDoux, 1998), sugere erroneamente
que não se pode examinar a questão de que ter bons quarterbacks é mais
importante para o sucesso de um time de futebol americano do que ter bons
recebedores, pois quarterbacks dependem dos recebedores para funcionarem,
e vice-versa. No entanto, é completamente possível dividir fontes de variância
ao longo de indivíduos mesmo quando essas fontes dependem umas das
outras dentro de cada indivíduo (Waldman, 2007). A afirmação de
Chaimpaigne exemplifica o mesmo erro, e o agrava ao dizer simultaneamente
que (1) genes e o ambiente sempre interagem, mas que (b) não se pode
separar ou quantificar as influências relativas dos genes e do ambiente, apesar
do fato de que não se pode afirmar que os genes e o ambiente interagem
estatisticamente sem separá-los como fontes de variância. Incidentalmente, eu
suspeito fortemente que como um estudante iniciante de pós-graduação, eu
acharia ambas citações mencionadas acima persuasivas, em parte porque elas
se encaixariam com meus próprios vieses contra influências genéticas, ou ao
menos contra os principais efeitos genéticos no comportamento.
Foi só no meu segundo ano de pós-graduação em Minnesota, quando eu
me inscrevi no curso de Tom Bouchard sobre diferenças individuais, que eu
comecei a aprender a pensar cientificamente – isto é, a tentar deixar de lado
meus vieses em um esforço para alinhar minhas crenças mais próximas com a
realidade (sobre isso, eu sou sem pudor aderente da teoria da verdade por
correspondência; O’Connor, 1975). Tom me ensinou que o politicamente
correto não tem lugar na ciência: O desejo de descobrir a verdade deve triunfar
sobre o desejo de se sentir confortável (ver também Sagan, 1995). Tom
também me ensinou que nós devemos ser corajosos em encarar as evidências,
independentemente de onde isso possa nos levar, e que sendo cientistas nós
devemos nos preparar para ter nossos preconceitos desafiados, até mesmo
destruídos. Mais do que isso, Tom inculcou em mim uma apreciação profunda
pela honestidade intelectual, a qual B.F Skinner (1953) definiu como “o oposto
do pensamento por desejo” (p.12). Por essa sabedoria, a qual eu sempre tentei
levar a sério como um pesquisador e professor, eu sempre serei grato.
2. A natureza artificial do pensamento científico
Por que eu comecei esse artigo apresentando afirmações errôneas minhas
e de outros psicólogos? Para colocar uma questão honestamente: o
pensamento científico não surge naturalmente para nenhum de nós. Em vários
aspectos, a ciência é o “senso incomum”, porque requer que nós deixemos de
lado nosso pressentimento e intuição e priorizemos os dados convincentes (
Cromer, 1993; McCauley, 2000; Wolpert, 1993). Até mesmo grandes
pensadores falharam em compreender essa profunda verdade. Huxley (1902),
o “bulldog” de Darwin, escreveu que “a ciência não é nada mais do que senso
comum treinado e organizado” e o filósofo-matemático Whitehead (1916)
escreveu que “a ciência é enraizada no completo aparato do pensamento do
senso comum”.
Em contraste, outros estudiosos, incluindo eminentes psicólogos,
ofereceram uma perspectiva diametralmente oposta, mais em consonância
com a que eu apresento aqui. Titchener (1929) sustentou que “o senso comum
é o oposto da ciência”, e Skinner (1971) perguntou retoricamente, “O que,
afinal, nós temos para mostrar sobre bom julgamento não-científico, ou senso
comum, ou sobre os insights adquiridos com a experiência pessoal? (p. 160).”
A resposta curta e grossa de Skinner: “É ciência ou nada” (p.160). Como
Cromer (1993) notou, “Todo sistema não-científico de pensamento aceita a
intuição, ou o insight pessoal, como uma fonte válida de conhecimento
definitivo... A ciência, por outro lado, é a rejeição dessacrença, e sua
substituição pela ideia de que o conhecimento do mundo externo só pode
provir de uma investigação objetiva (p. 21) ”.
A observação perspicaz de Cromer ajuda a explicar porque a ciência é um
desenvolvimento relativamente recente na história. A ciência nos exige
substituir modos de pensamento automáticos, sem esforço e intuitivos por
outros mais controlados, esforçados e reflexivos (Stanovich, 2009). De acordo
com diversos estudiosos, a ciência surgiu somente uma vez na história da
humanidade, a saber, na Grécia antiga, reaparecendo de forma plena no
renascimento Europeu (Wolpert, 1993). Até mesmo o conceito de grupo
controle, que é considerado como consolidado hoje, não emergiu na psicologia
até o começo do século XX (Dehu, 2000). A necessidade de grupos controle é
decididamente contra intuitiva, já que esses grupos são criados para eliminar
explicações alternativas que residem fora da nossa consciência sensorial
imediata. Nosso realismo do senso comum ou o “realismo ingênuo” – A crença
sedutora, mas errada de que o mundo é exatamente como nós o vemos (Ross
& Ward, 1996) – nos mostra que se um grupo de clientes depressivos melhora
depois de terapia, nós podemos concluir que a terapia funcionou. Nosso
realismo ingênuo nos assegura de que “nós vimos a mudança com nossos
próprios olhos” e de que “ver é acreditar”. Porém, essas conclusões são
equivocadas, pois elas não possuem controle sobre várias outras explicações
rivais que se escondem no contexto causal, tais como a regressão à média,
efeitos placebo, remissão espontânea, justificação do esforço, dentre outras
(Lilienfeld, Lohr & Olatunji, 2008).
3. O que é ciência, afinal?
Até aqui, eu disse pouco ou quase nada sobre o que é ciência. Alguns
estudiosos insistem que qualquer tentativa de definir a ciência está fadada ao
fracasso, já que certos procedimentos metodológicos usados em um domínio
(por exemplo, astronomia) frequentemente, apresentam mínima ou nenhuma
semelhança com os procedimentos usados em outros (por exemplo, psicologia;
Bauer, 1992). Porém, esse argumento negligencia a possibilidade de que
certas semelhanças epistêmicas de ordem superior passam transversalmente
pela maioria dos domínios científicos.
Eu concordo com diversos autores que sustentam que a ciência é um
conjunto de defesas sistemáticas contra o viés de confirmação, isto é, a
tendência de buscar uma evidência consistente com nossa hipótese e de
negar, ou dispensar evidências que são contrárias a ela (Hart et al., 2009,
Nickerson, 1998; ver também Lilienfeld, Ammirati, & Landfield, 2009). O
aforismo do físico ganhador do prêmio Nobel, Feynman (1985), que diz que a
essência da ciência é “nos virar do avesso para nos provar que estamos
errados”, incorpora sucintamente essa visão. Assim como a conclusão de
Skinner (1953) de que a ciência exige uma “disposição para aceitar os fatos
mesmo quando eles são opostos aos desejos” (p.12). Essa ênfase maior na
desconfirmação do que na confirmação está de acordo com as visões
Popperianas e neo-Popperianas sobre a filosofia da ciência (Meehl,1978), a
qual destaca a necessidade de sujeitar nossa mais adorada hipótese ao risco
de falsificação. Mais abrangente, essa ênfase combina com a crença de que a
ciência é uma prescrição para a humildade (McFall, 1996) e um método de
‘’controle da arrogância” (Tavris & Aronson, 2007). A adoção de procedimentos
científicos, tais como grupo controle, é um reconhecimento explícito de que
nossas crenças podem estar erradas (Sagan, 1995), já que esses
procedimentos são feitos para nos proteger de nos enganarmos.
Como todos sabemos, os cientistas não são imunes aos vieses de
confirmação (ver Kelley & Blashfield, 2009, para uma ilustração precisa no
domínio da pesquisa de diferenças do sexo). Mahoney (1977) pediu para 75
avaliadores de revistas acadêmicas que tinham uma forte orientação
comportamental para avaliar artigos simulados que apresentavam modelos de
pesquisa idênticos, mas resultados diferentes. Em metade desses casos, os
resultados eram consistentes com visões tradicionais de comportamento
(motivação fortalecida por reforço), enquanto na outra metade dos casos os
resultados eram inconsistentes com as visões tradicionais de comportamento
(motivação enfraquecida por reforço). Apesar das seções de Introdução e
Método do artigo serem idênticas, Mahoney descobriu que os avaliadores eram
muito mais propensos a avaliar o estudo positivamente se ele confirmasse suas
visões (possuindo citações dos avaliadores como “Um estudo muito bom” e
“Um excelente artigo”) do que se ele as contrariasse (possuindo citações dos
avaliadores como “Um artigo seriamente equivocado” e “Existem tantos
problemas com esse artigo que é difícil saber por onde começar”). Ainda, por
causa dos métodos científicos minimizarem o risco de viés de confirmação, a
inevitável deficiência do processo de revisão de pares (por exemplo, Peters &
Ceci, 1982) tende a ser corrigida pelo tempo pela força de achados
consistentemente replicados (Lykken, 1968).
4. O problemático estado da ciência em psicologia clínica e em
campos cognitivos
Alguns meses atrás, enquanto atendia uma pequena conferência científica,
eu vi uma intrigante conversa sobre a prevalência de equívocos psicológicos
entre os graduandos, não coincidentemente algo de meu interesse (Lilienfels,
Lynn, Ruscio, & Beyerstein, 2010). Um dos itens do levantamento que os
autores apresentaram aos seus sujeitos foi “Psicologia é uma ciência”, com
uma resposta “falsa” aparentemente representando um equívoco. No entanto,
enquanto ouvindo essa conversa, eu achei difícil não me perguntar, “Se eu
fosse um participante desse estudo, como eu iria responder a essa pergunta?”.
Mesmo com o benefício de vários meses terem passado, eu não tenho certeza,
porque alguns domínios da psicologia são claramente científicos, outros nem
tanto, e ainda outros descaradamente são pseudociência (Lilienfeld, Lynn,
Namy, & Woolf, 2009). Essa compreensão forma a base para o título desse
artigo, o qual levanta a questão se nós podemos ou não colocar a psicologia no
campo robusto da ciência.
No meu próprio campo da pesquisa e prática em saúde mental, o estado da
ciência pode muito bem ser descrito de forma benevolente como preocupante,
talvez de forma mais acurada como desolador (por exemplo, Dawes, 1994;
Lilienfeld, Lynn & Lohr, 2003; Sarnoff, 2001; Singer & Lalich, 1996). Em alguns
domínios de prática clínica, existe uma indiferença à pesquisa científica, em
outros uma antipatia completa. Uma recente anedota de uma estudante
brilhante que completou seu Ph.D ano passado destaca esse ponto. Ela estava
participando de uma conversa sobre uma lista de discussão dedicada a
“terapias de energia” – tratamentos que supostamente curam indisposições
psicológicas ao desbloquear campos de energia invisíveis dos clientes – e
estava levantando diplomaticamente um número de questões sobre a notável
ausência de evidência dessas intervenções. A resposta de um dos membros da
discussão foi ilustrativa: “O meu entendimento foi de que isso era uma lista
clínica, não uma lista sobre evidências científicas”. Aparentemente, esse
participante não achou bem-vinda a intrusão de perguntas científicas em uma
discussão clínica.
Claro, anedotas são úteis para propósitos ilustrativos, mas não para
probatórios, então pode-se legitimamente perguntar se as fundações científicas
da psicologia clínica e das disciplinas relacionadas são tão frágeis quanto eu
afirmei. Na verdade, existem muitas evidências para o vão entre
“cientista-praticante” (Fox, 1996), o abismo profundo entre evidência de
pesquisa e prática clínica destacado pela resposta do participante da
discussão. Considere, por exemplo, os dados da recente pesquisa sobre o uso
– em alguns casos, o não-uso – de intervenção entre profissionais de saúde
mental:
● A maioria dos clientes com depressão e ataques de pânico não
recebe tratamentos apoiados cientificamente, tais como
comportamental, cognitivos-comportamental, e terapias interpessoais
(Kessler et al., 2001).● A maioria dos terapeutas que tratam os clientes com distúrbios
alimentares não administra terapias com suporte cientifico, tais como
as três mencionadas acima (Mussell et al., 2000).
● A maioria dos terapeutas que tratam desordem
obsessiva-compulsiva não administram o tratamento claro de escolha
baseado na literatura científica, a saber, exposição e prevenção de
resposta; números crescentes estão administrando terapias de
energia e outros tratamentos desprovidos de suporte científico
(Freiheit, Vye, Swan, & Cady, 2004).
● Quase um terço das crianças com autismo e espectro autista
recebem intervenções sem suporte científico, tais como o
treinamento de integração sensório-motora e comunicação facilitada
(Levy & Hyman, 2003).
● Mais de 70000 profissionais de saúde mental foram treinados em
dessensibilização e reprocessamento de movimento dos olhos
(EMDR), um tratamento para distúrbios de ansiedade baseado na
noção sem suporte científico de que os movimentos laterais do olho
facilitam o processamento cognitivo de memórias traumáticas (ver
Herbert et al., 2000).
A resposta tépida e, muitas vezes, antagonista do campo clínico ao
movimento de desenvolvimento de uma lista de terapias empiricamente
apoiadas (ESTs), e de intervenções comprovadamente eficientes para
distúrbios específicos em testes controlados randomizados, é grave. Apesar de
alguns terapeutas e pesquisadores terem apoiado o esforço para desenvolver
uma lista de ESTs, que quase sempre reduz o risco de dano aos clientes
(Lilienfeld, 2007), outros tem sido bruscamente resistentes ao esforço de
colocar a área da psicoterapia em um campo científico mais sólido (Baker,
Mcfall, & Shoham, 2009). Por exemplo, alguns críticos apontaram que um
número de estudos nos quais a lista EST é baseada são metodologicamente
imperfeitos (Por exemplo, Westen, Novotny, & Thompson-Brenner, 2004).
Outros autores argumentam eu a lista EST é inerentemente falha pois é
baseada em grupos, não em indivíduos. Por exemplo, o atual diretor da prática
profissional da Associação Americana de Psicologia escreveu que “Nós
devemos perceber as limitações da ciência a respeito da generalização de
resultados de pesquisas ao paciente individual. Estudos nem sempre levam em
conta ou oferecem uma compatibilidade para a complexidade dos problemas
do paciente ou para a diversidade de fatores em um paciente tais como o
histórico cultural, escolhas de vida, valores, ou preferências de tratamento”
(Nordal, 2009). Ambos argumentos negligenciam o ponto crucial de que a
ciência busca reduzir o erro humano ao minimizar vieses de confirmação.
Portanto, qualquer lista que aumente a proporção no campo entre intervenções
cientificamente comprovadas e intervenções sem suporte é um passo na
direção certa, na medida em que seja considerada passível de falhas,
temporária e aberta a revisão (Chambless & Ollendick, 2001). Além disso,
muitos programas de treinamento em psicologia, incluindo os de clínica,
aconselhamento, e psicologia escolar, parecem relutantes em colocar
restrições em quais intervenções seus alunos podem aprender e administrar,
mesmo quando muitas dessas intervenções carecem de suporte científico. O
resultado de um levantamento revelou que 72% dos estágios reconhecidos
pela Associação Americana de Psicologia ofereciam menos de 15 horas de
treinamento em ESTs (Hays et al., 2002); o tempo restante é presumidamente
gasto em aprender sobre técnicas de terapias “não-específicas” (por exemplo,
relacionamento, empatia) e tratamentos que apresentam menos suporte de
pesquisa do que os ESTs. Um outro mostrou que entre os programas de
pós-graduação clínica, apenas 34% e 53% exigiam treinamento em terapias
comportamentais e cognitivo-comportamentais, respectivamente. Os números
correspondentes entre os programas de Serviço Comunitário foram 13% e
21%, respectivamente (Weissman et al., 2006). Essas porcentagens são
perturbadoras dado que as terapias comportamentais e
cognitivo-comportamentais estão entre as que tem maior suporte científico para
o tratamento do humor, da ansiedade e de distúrbios alimentares, e ocupam a
maior fatia das ESTs (Hunsley & DiGuilio, 2002).
5. Cinco ameaças à psicologia científica
Eu espero que até aqui eu tenha convencido o leitor de que nem tudo está
bem no campo da psicologia (ver também Dawes, 1994; Lilienfeld et al., 2003;
Lykken, 1991; Meehl, 1978), especialmente na psicologia clínica e nas áreas
associadas. Tendo em vista as crescentes evidências de que algumas
psicoterapias, tais como debriefing de crise para indivíduos traumatizados e
programas como o Scared Straight para adolescentes com distúrbios de
conduta, parecem fazer alguns clientes piorarem (Lilienfeld, 2007), o estado
marginal da ciência nesses campos é inaceitável.
Eu afirmo que existem cinco ameaças principais à psicologia científica; irei
revisar cada uma por vez. Apesar das suas diferenças superficiais, todas essas
ameaças compartilham uma uniformização de ordem superior: um fracasso em
controlar vieses de confirmação. Como consequência, todas são marcadas por
uma ausência de defesas essenciais contra à tendência humana de ver o que
deseja ver. Para posicionar a psicologia em um campo científico mais sólido,
nós devemos reconhecer essas ameaças e as confrontar diretamente. Essas
ameaças são, frequentemente, ignoradas dentro da academia, principalmente
porque os pesquisadores aninhados de forma segura nos confins da torre de
marfim, compreensivelmente, preferem concentrar-se nas suas pesquisas e
nas escritas financiadas (Bunge, 1984). Porém, tal negligência veio com um
preço alto, pois permitiu que ciências dúbias, não ciência, e até pseudociências
ganhassem espaço e florescessem em diversos círculos.
5.1. Politicamente correto
O politicamente correto julga certas questões científicas como “fora de
questão” meramente porque elas ofendem nossas sensibilidades políticas (Ver
Satel, 2000). Infelizmente, como notado por Koocher (2006), muitas pessoas
usam “a ciência comportamental como uma justificativa para promover ou ir
contra agendas políticas e sociais” (p. 5). As ameaças apresentadas pelo
politicamente correto à psicologia originam-se de ambos grupos de extrema
esquerda e de extrema direita (Hunt, 1999), e impregnam-se em diversos
domínios, incluindo as diferenças individuais e grupais de inteligência
(Gottfredson, 2009), recuperação de memória traumática infantil (Loftus, 1993),
os efeitos da creche no desenvolvimento infantil (Belsky, 1986), e o potencial
impacto do abuso sexual na psicopatologia adulta (Lilienfeld, 2002a).
Um caso em que eu estava pessoalmente envolvido ajuda a ilustrar essas
ameaças. Em 1998, uma das primeiras revistas da APA, Psychological Bulletin,
publicou uma meta-análise que revelou somente correlações fracas entre uma
história de CSA (abuso sexual infantil) e subsequente psicopatologia em
estudantes de faculdade. Logo após o artigo, de autoria de Rind, Tromovitch e
Bauserman (1998), aparecer na publicação, ele foi bastante condenado por
críticos da esquerda política, que argumentaram que ele subestimava a grave
ameaça às vítimas de abuso infantil, e da direita política, incluindo a
personalidade de rádio Dra. Laura Schlessinger, que argumentou que o artigo
representava um esforço explícito da APA de normalizar a pedofilia (Lilienfeld,
2002ª). O artigo sofreu a adicional indignidade de se tornar o primeiro artigo
científico a ser condenado pelo congresso dos Estados Unidos, com um voto
de 355 a 0 (com 13 membros se abstendo) na Casa dos Representativos. Sob
intensa pressão de membros do congresso, a APA, sob a liderança do então
Chefe do Gabinete Executivo Raymond Fowler, essencialmente pediu
desculpas por publicar o artigo, afirmando que as conclusões de Rind et al.
“deveriam ter nos feito avaliar o artigo baseado no seu potencial de desinformar
sobre os processos de política pública. Isso é algo em que falhamos em fazer,
mas faremos no futuro” (Fowler, 1999, p.1).
A controvérsia não acabou ali. Um ano depois, eu submeti um artigo à
revista da APA AmericanPsychologist, recontando a história de Rind et al. e
criticando o que eu via como uma falha da APA em defender o processo de
revisão de pares que levou à publicação do artigo de Rind et al. Apesar de meu
artigo ter sido normalmente aceito pela editora de ação Nora Newcombe após
diversas rodadas de revisão de pares, essa decisão foi anulada pelo editor da
American Psychologist Richard McCarty, que solicitou uma nova rodada de
revisão por pares sem informar o autor ou a editora de ação (o artigo foi
eventualmente publicado após um amplo clamor pelos membros da APA; ver
Lilienfeld, 2002a). Em sua conversa comigo, McCarty – cujas ações como
chefe da diretoria de ciência da APA estavam entre essas que eu critiquei
nesse artigo – justificou sua ação de não aceitar meu já aceito artigo com base
no fato de que a APA deve ser circunspecta sobre a informação publicada que
ela dissemina para seus diversos membros (Lilienfeld, 2002b). Notavelmente,
McCarty não criou problema com a substância das minhas conclusões; ao
invés disso, ele temeu que muitos membros da APA achassem a mensagem do
meu artigo intragável. Quando nossas principais organizações profissionais se
rendem ao politicamente correto, a integridade científica da nossa disciplina é
seriamente minada.
5.2. Ambientalismo radical
Nosso campo percorreu um longo caminho desde a especulação
precipitada de Watson (1930) de que ele poderia pegar “... uma dúzia de
crianças saudáveis, bem formadas, e meu próprio mundo específico para
cria-las e eu garanto escolher qualquer uma de forma aleatória e a trinar para
que se torne qualquer tipo de especialista que eu selecionar- doutor, advogado,
artista, comerciante e, sim, até mesmo, mendigo ou ladrão, independentemente
de seus talentos, predileções, tendências, habilidades, vocação, e a raça de
seus ancestrais” (p. 182). Hoje, as noções de que virtualmente todas as
diferenças individuais importantes são, pelo menos em parte, (a) herdadas
(Bouchard, Lykken, McGue, Segal, & Tellegen, 1990) e (b) não são
infinitamente maleáveis, são consideradas certezas na maioria dos
departamentos de psicologia, um sinal inegável de progresso intelectual.
Porém, nas suas formas mais sutis, o ambientalismo radical permanece
vivo e forte hoje. O popular livro do jornalista Gladwell, Outliers, oferece um
exemplo esclarecedor. A tese central de Gladwell é que a habilidade intelectual
é relevante para o sucesso no mundo real até um certo limite. Depois disso, os
maiores determinantes são sorte, oportunidade, e estar no lugar certo na hora
certa. Para Gladwell, o talento inato é, tipicamente, de mínima importância para
grandes conquistas sociais; os principais contribuintes são os ambientais,
especialmente esses que fornecem prática prolongada. Por exemplo, Gladwell
atribuiu o enorme sucesso dos Beatles, considerados por muitos especialistas
como a banda de rock mais influente de todos os tempos, menos ao talento
individual dos quatro membros (que Gladwell reconhece) do que ao fato de que
seus recorrentes shows em Hamburgo, Alemanha, os possibilitou uma prática
intensa de milhares de horas. De fato, Gladwell dedicou pouco espaço para a
possibilidade de o arco causal ser invertido: altos níveis de talento talvez levem
à prática recorrente mais do que o inverso.
Gladwell disse em uma entrevista, “Outliers não são outliers. Pessoas que
parecem ser responsáveis por conta própria de terem atingido coisas
extraordinárias, são, na verdade, bastante ordinárias. ...elas estão lá... por
causa de uma série de circunstâncias e ambientes e legados culturais que
realmente afetam a todos nós”. Porém, as afirmações de Gladwell vão contra
dados que demonstram um elo consistente entre aptidão intelectual
excepcional no início da adolescência e ambas realizações criativas e
ocupacionais na vida adulta (Lubinski, Benbow, Webb, & Bleske-Rechek,
2006), e a ausência notável de um efeito limite na associação entre escores de
aptidão intelectual e realizações no mundo real (Sackett, Borneman, &
Connelly, 2008).
Nós podemos ainda testemunhar a tendência subjacente do ambientalismo
radical em muitos domínios da psicologia acadêmica e da psiquiatria. Uma
ainda variante popular do ambientalismo radical é a visão “centrada no trauma”
da psicopatologia (Giesbrescht, Lynn, Lilienfeld, & Merceckelbach, 2010), que
afirma que o trauma infantil, especialmente abuso sexual ou físico, é de
importância causal primordial para uma ampla variedade de doenças mentais.
Por exemplo, um grupo proeminente de autores referem-se a um “espectro
contínuo de trauma e distúrbios psiquiátricos “ (p. 368) e apresentam um
diagrama (p. 369) mostrando ligações causais entre trauma infantil e 16
fenômenos psicopatológicos, incluindo depressão, ansiedade, ataques de
pânico, somatização, distúrbios de identidade, e sintomas dissociativos
(Bremner, Vermetten, Southwick, Krystal, & Charney, 1998). Ross e Pam
(2005) foram adiante, afirmando que “ o trauma infantil severo é o motor
principal da psicopatologia na civilização ocidental” (p.122). Esses e outros
autores (por exemplo, Gleaves, 1996) presumem a correlação entre abuso
sexual ou físico precoce e futura psicopatologia como sendo estritamente
ambiental, muitas vezes, sem o reconhecimento de potenciais confusões
genéticas (DiLalla & Gottersman, 1991; Lilienfeld et al., 1999). Poucos iriam
disputar a afirmação de que o abuso precoce, quando severo ou repetido, pode
exercer efeitos nocivos no ajuste pessoal adulto. Entretanto, o crescente
reconhecimento de que a psicologia convencional subestimou ambas
resiliências adultas e infantis face a estresses (Garmezy, Masten & Tellegen,
1984; Paris, 200) deveria nos lembrar que as associações causais entre o
abuso infantil e o posterior desajuste são prováveis de serem muito mais
complexas do que é sugerido pela visão centrada no trauma.
5.3. A ressureição do “senso comum” e da intuição como árbitros da
verdade científica
Existem várias definições de senso comum, mas a mais próxima da qual eu
apresento aqui é a forma de raciocínio que Meehl (1971) descreveu como
compreendendo “induções ao pé da lareira”: “ as generalizações empíricas do
senso comum sobre o comportamento humano que nós aceitamos com base
na autoridade cultural, na introspecção e nas evidências da vida comum. De
forma brusca, a frase “induções ao pé da lareira” designa aqui o que todo
mundo (exceto, talvez, o cientista social cético) acredita sobre a conduta
humana” (p.66). O quão acurado são as “induções ao pé da lareira” na
psicologia cotidiana?
Nos últimos anos vimos uma série de livros populares propagando os
benefícios do senso comum e da intuição na hora de se tomar decisões, mais
notavelmente o livro de Gladwell Blink: The Power of Thinking Without Thinking
(2005) (Blink - A Decisão Num Piscar de Olhos) e do psicólogo Gigerenzer Gut
Feelings: The Intelligence of the Unconscious (Frio na barriga: A inteligência do
Inconsciente). Tais livros de fato possuem algum mérito, já que há crescente
evidência de que a “cognição rápida” e que intuições de fração de segundo
podem ser úteis para certos tipos de decisões, incluindo preferências afetivas
(Lehrer, 2009). No entanto, muitos desses livros podem deixar os leitores com
a impressão de que os julgamentos de senso comum são, em geral, superiores
à evidência científica para a maioria dos casos, incluindo julgar disputas
complexas sobre o funcionamento profundo da mente humana.
De fato, ao longo da última década, a psicologia testemunhou uma volta da
outrora popular, mas amplamente desacreditada visão de que o senso comum
e a intuição podem ser altamente úteis, até mesmo decisivos, na avaliação de
teorias psicológicas. Em um artigo em uma revista de Direito, Redding (1998)
argumentou que “O senso comum e a intuição servem como “sinais de alerta”
sobre a provável validez ou invalidez de certas descobertas científicas” (p.142).
De acordo com isso, nós deveríamos questionar sobre achados psicológicos
que entram em conflito com a nossa sabedoria convencional. Em um editorial
altamentedebatido do New York Times chamado “Em defesa do senso
comum”, o proeminente escritor de ciência John Horgan (2005) clamou por um
retorno do senso comum na avaliação das teorias científicas, incluindo aquelas
de psicologia e neurociência. Teorias que entrassem em conflito com a intuição,
insistiu Horgan, deveriam ser vistas com grande suspeita. Ele escreveu que “eu
também acho o senso comum – cotidiano, conhecimento e julgamento não
especializado – como sendo indispensável para avaliar pronunciamentos de
cientistas”. Em uma entrevista com a Science News (2008), Gigerenzer
argumentou que “a heurística rápida e parcimoniosa demonstra que existe uma
razão para acreditarmos em nossas intuições...Nós devemos confiar no nosso
cérebro e nas nossas entranhas”.
Esses argumentos ganharam espaço nas páginas de importantes revistas
de psicologia. Em um artigo na Psychological Bulletin, Kluger e Tikochinsky
(2001) argumentaram a favor da “ressureição das hipóteses de senso comum
na psicologia” (p. 408). Eles revisaram nove domínios, tais como a associação
entre personalidade e desempenho no trabalho, a relação entre atitudes e
comportamento, a congruência entre relatos pessoais e de observadores, a
validade da grafologia (análise da escrita à mão) e remédios pessoais,
alternativos para o câncer, e a existência da hierarquia de necessidades de
Maslow (1943), na qual os julgamentos de senso comum (por exemplo, que
atitudes predizem comportamentos) eram, aparentemente, derrubados pela
ciência, para depois serem corroborados por pesquisas melhores conduzidas.
Porém, a maioria desses domínios, tais como a relação entre relatos pessoais
e de observadores e a hierarquia de Maslow, não estão entre os quais uma
pessoa leiga possui fortes intuições. Além disso, várias associações que Kluger
e Tikochinsky dizem ser bem suportadas ou promissoras, como a validade da
grafologia ou a eficácia de remédios alternativos para o câncer, não foram, de
fato, corroboradas por pesquisas bem conduzidas (Della Sala, 2007; Lilienfeld
et al., 2010).
Mais importante, as induções de senso comum sobre o mundo natural
possuem uma história decididamente quadriculada. Por séculos, as pessoas
acreditavam que o mundo era plano e que o sol girava em torno da terra por
causa do que seu realismo ingênuo e suas impressões sensoriais cruas os
diziam. Além disso, vários estudos de levantamento demonstraram,
convincentemente, que grandes proporções de alunos de psicologia (que eram
mais bem informados psicologicamente do que uma pessoa leiga)
evidenciaram uma série de equívocos sobre a natureza humana (Lilienfeld et
al., 2010). Muitos desses equívocos parecem combinar com a definição de
Meehl (1971) de induções ao pé da lareira e vão de acordo com os julgamentos
intuitivos ordinários das pessoas. Abaixo está uma pequena amostra desses
equívocos derivadas de levantamentos, seguidas pelas porcentagens de
alunos de faculdade (ou no caso do equívoco final, pessoas com educação
superior) que afirmaram cada equívoco:
● Os opostos se atraem em uma relação romântica (77%) (McCutcheon,
1991).
● Expressar raiva reprimida reduz a raiva (66%) (Brown, 1983).
● Comportamentos estranhos são, especialmente, prováveis de ocorrerem
durante a lua cheia (65%) (Russell & Dua, 1983).
● Pessoas com esquizofrenia possuem múltiplas personalidades (77%)
(Vaughan, 1977).
● A maioria das pessoas só usa 10% da capacidade do cérebro (59%)
(Herculano-Houzel, 2002).
Esses e outros achados de levantamentos (Lilienfeld, 2005a; Lilienfeld et
al., 2010) levantam sérias questões sobre a noção cada vez mais popular de
que julgamentos de senso comum sobre a natureza humana tendem a ser
corretos. Eles também não oferecem nenhum suporte para a alegação (por
exemplo, Kluger & Tikochinsky, 2001; Redding, 1998) de que quando achados
científicos entram em conflito com o senso comum, nós devemos apoiar o
segundo.
5.4. Pós-modernismo
O pós-modernismo não é facilmente definido, mas é, geralmente, tratado
como uma reação contra a visão de que métodos científicos, quaisquer que
sejam suas imperfeições como defesas contra o erro, podem nos levar mais
perto de uma visão objetiva da realidade (Gross & Levitt, 1994). Algumas
variantes do pós-modernismo até mesmo negam que tal realidade exista.
Como Bunge (1994) e outros observaram, o pós-modernismo e movimentos
aliados, tais como o pós-estruturalismo, compartilham diversas premissas
fundamentais, incluindo (a) uma profunda desconfiança da razão,
especialmente aquela transmitida pela ciência e pela lógica; (b) uma rejeição à
ciência como um meio privilegiado de se obter conhecimento, junto com a
crença de que outros meios de aquisição de conhecimento são igualmente
válidos; (c) pessimismo sobre o progresso científico; (d) subjetivismo, e a
noção conjunta de que o mundo é construído principalmente socialmente; e (e)
relativismo extremo, junto com a negação de verdades científicas universais.
Apesar de alguns autores (por exemplo, Mooney & Kirshenbaum, 2009) terem
argumentado que o pós-modernismo apresentam pouca ameaça à ciência,
essa posição negligencia a influência das visões pós-modernas na prática
clínica (por exemplo, ver Herbert et al., 2000 para uma discussão do impacto
do pós-modernismo no marketing de EDMR (Dessensibilização e
Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares) e outras terapias
relacionadas).
Particularmente, o pós-modernismo tem sido associado com uma crescente
aceitação do papel da “experiência clínica” e do “julgamento subjetivo” em
obter conhecimento em ambientes clínicos. Sem dúvida, a experiência clínica é
uma fonte inestimável de hipóteses ricas para serem testadas em
investigações mais rigorosas. Mas se as últimas décadas de pesquisa em
avaliação e previsão clínica nos ensinaram alguma coisa, foi que tal
experiência é, frequentemente, ofuscada por uma série de vieses (por exemplo,
vieses de confirmação, vieses a posteriori) e heurísticas (por exemplo,
representação, disponibilidade) que, geralmente, prejudicam sua acurácia
(Dawes, Faust, & Meehl, 1989; Garb, 1998). Como consequência, a
experiência clínica tende a ser, significativamente, limitada quanto à utilidade
para o “contexto de justificação” de Reichenbach (1938), isto é, para o teste
sistemático de hipóteses.
Esse ponto crítico tem sido negligenciado por muitos autores que escrevem
nas páginas da American Psychologist e outras publicações importantes.
Tsoi-Hoshmand e Polkinghorne (1992) argumentaram que a intuição clínica
deveria ser equivalente à evidência científica no treinamento de
psicoterapeutas. Eles clamam por uma epistemologia chamada “conhecimento
prático”, afirmando que “ relacionando a teoria à prática, a pesquisa tipicamente
serve como uma guardiã para a entrada em um corpo de conhecimento de uma
disciplina”, mas no “conhecimento prático, no entanto, o teste de admissão é
feito através do pensamento reflexivo” (p. 62). Nesse modelo, a avaliação
subjetiva derivada do ambiente clínico triunfa sobre evidências científicas bem
replicadas. Em outro artigo na American Psychologist, Hunsberger (2007)
escreveu de forma similar que:
“O conhecimento e as habilidades subjetivas estão no centro da
psicologia... Para preservar a vital essência subjetiva da psicologia clínica, eu
sugiro que a APA deveria não só abrir lugar na definição de políticas para “ o
conhecimento clínico”, mas também priorizar fontes de dados subjetivas e
clínicas – a essência do psicológico – e criar políticas que assegurem que
dados objetivos, tais como comportamentos e diagnósticos do DSM, sejam
considerados em seu “contexto subjetivo” (p. 615).
Os leitores que se perguntam se essas citações refletem visões periféricas
deveriam investigar a recente Declaração da APA sobre a Prática Baseadas
em Evidências (APA Presidential Task Force on Evidence-Based Practice,
2006), a qual tem como função servir como guia oficial para a prática clínica.
Essa declaração reconhece que a experiência clínica, às vezes, entra em
conflito com evidências científicas e afirma que “Dada umasituação clínica,
psicólogos de boa fé e bom julgamento podem discordar sobre a melhor forma
de se medir diferentes formas de evidência; ao longo do tempo, nós
presumimos, que uma ampla investigação empírica e sistemática... irá apontar
o caminho para a melhor prática integrar a melhor evidência” (p. 280; ver
também Nordal, 2009). Isto é, nenhuma prioridade inerente deveria ser
concedida para a evidência científica sobre a avaliação clínica, e os praticantes
deveriam se sentir livres para usar seus próprios critérios ao decidir qual tem
maior peso.
5.5. Pseudociência
Nós podemos pensar na pseudociência como sendo uma falsa ciência
mascarada como ciência genuína; a pseudociência possui muitos dos
ornamentos superficiais da ciência sem sua substância. A pseudociência é
caracterizada por diversos elementos fundamentais, tais como uma
dependência excessiva em táticas imunizantes ad hoc (saídas de
emergência ou brechas) para evitar a falsificação, ênfase em confirmação
ao invés de falsificação, uma ausência de autocorreção, uso exagerado de
anedotas e evidências testemunhais, evasão de revisão de pares como
uma defesa contra o erro, e o uso de linguagem muito técnica ausente de
substância (Lilienfeld et al., 2003; Ruscio, 2006). No geral, a maioria das
pseudociências carecem de defesas contra vieses de confirmação que
marcam as ciências maduras. Como consequência, elas se parecem com
programas de pesquisa degenerativos no sentido delineado por Lakatos
(1978), isto é, domínios de investigação que estão, continuamente,
invocando hipóteses ad hoc em um esforço desesperado de explicar
resultados negativos.
Como nós já vimos, a pseudociência está viva e bem em muitos
domínios da psicologia, incluindo a psicologia clínica (Lilienfeld et al., 2003).
Um caso perturbador em voga é a duradoura popularidade da comunicação
facilitada (CF). CF é baseada na noção não suportada cientificamente de
que crianças com autismo são intelectualmente e emocionalmente normais,
mas sofrem de uma deficiência motora (apraxia do desenvolvimento) que os
impedem de articular palavras ou usar o teclado sem assistência (Lilienfeld,
2005b). Com a ajuda de um “facilitador” que oferece uma resistência sútil
aos seus movimentos de mão, os defensores da CF afirmam que crianças
com autismo mudas ou com uma deficiência linguística severa podem
digitar sentenças completas, usando um teclado de computador, uma
máquina de escrever ou um bloco de notas. Porém, numerosos estudos
controlados demonstraram que a CF é ineficaz (Jacobson, Foxx, & Mulick,
2005), e que sua aparente eficácia é devido ao bem documentado efeito
ideomotor (“tabuleiro de Ouija”) (Wegner, 2002), na qual facilitadores
desconhecidos guiam os dedos das crianças às letras que eles têm em
mente. Além de, gratuitamente, aumentarem e depois derrubarem as
esperanças dos pais de crianças com autismo e outros distúrbios, a CF
agravaram o problema ao produzirem diversas alegações não corroboradas
de abuso sexual e físico contra esses pais (Herbert, Sharp, & Gaudiano,
2002).
Apesar de ter sido convincentemente descreditada pela comunidade
científica, a CF está longe do seu fim, e, na verdade, parece estar
planejando uma volta em muitas áreas. Há alguns anos atrás, a CF estava
sendo usada por aproximadamente 200 crianças em Whittier, California
(Rubin & Rubin, 2005), e estava presente em um documentário indicado ao
Oscar de 2005 (“Autism is a World”). Em novembro de 2009, grande parte
da mídia de notícias apresentou, entusiasticamente, um vídeo de um
homem belga de 46 anos, que estava em coma por 23 anos, usando CF
para digitar sentenças. Além disso, o número de menções positivas à CF na
mídia aumentou muito nos últimos anos (Wick & Smith, 2006), apesar da
notável ausência de qualquer evidência nova que apoie sua eficácia.
6. Soluções construtivas: Colocando a psicologia em firme solo
científico
Apesar dessas cinco ameaças sérias à psicologia científica, existe motivo
para um otimismo cauteloso. Em particular, eu argumento que a atual
tendência de se permitir programas de psicologia clínica selecionarem seus
próprios modelos de treinamento e avaliarem o quão bem eles adaptam esses
modelos foi um grave erro (Lilienfeld, 1998). Ao invés disso, o treinamento
formal em pensamento científico deveria ser exigido para todos os estudantes
em psicologia, incluindo estudantes em psicologia clínica e de campos aliados.
Especificamente, estudantes de todos os domínios da psicologia devem
apreciar sua própria falibilidade e propensão a vieses, incluindo vieses de
confirmação e vieses a posteriori. (Arkes, Wortmann, Saville, & Harkness,
1981), e aprender que os métodos científicos (por exemplo, designs de
randomização controlada, designs cegos) são essenciais, embora imperfeitos,
defesas contra múltiplas fontes de erro. Trabalho de curso em avaliação e
previsão clínica (por exemplo, Garb, 1998; Ruscio, 2006) deveriam, igualmente,
ser exigidos para todos os estudantes do campo da saúde mental e integrados
ao longo de todas as fases do trabalho didático e prático do estudante.
Organismos de acreditação devem fazer do treinamento formal em
pensamento científico um desiderato para o treinamento na graduação em
disciplinas de saúde mental.
Como Meehl nos lembrou, aprender sobre a história dos erros em outras
ciências, tais como na física e na medicina, pode ajudar também os estudantes
a entenderam que os métodos científicos são a melhor ferramenta disponível
para superar tais erros e minimizar vieses de confirmação. A ciência é, afinal,
uma disciplina de correção de erros (Wood & Nezworski, 2005). Tal
conhecimento deveria ajudar a tornar os alunos de graduação melhores
pesquisadores, praticantes, e professores, sendo então, autocríticos,
epistemologicamente humildes, e continuamente tentando eliminar os erros da
sua rede de crenças.
Uma reforma educacional, por mais essencial que seja, não é o suficiente;
uma reforma institucional também é seriamente necessária. Acadêmicos
devem ser encorajados a combater ameaças à ciência, assim como a
disseminar uma ciência de alta qualidade à mídia popular (Lilienfeld et al.,
2003; Mooney & Kirshenbaum, 2009). Para fazer isso, departamentos de
faculdades e de universidades devem considerar a popularização acurada e
cuidadosa da ciência como um aspecto valioso do serviço acadêmico e devem
recompensar esse serviço. Lamentavelmente, a habilidade de transmitir ciência
psicológica para o público em geral sem simplificar demais seus achados e
implicações é raramente enfatizada no treinamento acadêmico. Sobre isso,
Tom Bouchard tem sido um exemplo para seus colegas acadêmicos na sua
disposição de tanto falar claramente contra afirmações não amparadas pela
ciência (por exemplo, o ambientalismo radical) quanto educar o público sobre
as implicações científicas e sócias das descobertas em genética
comportamental.
Então, para retornar à questão constituinte do título desse artigo, “Pode a
psicologia tornar-se uma ciência? ” Minha resposta é direta e otimista. Com a
implementação dessas reformas educacionais e institucionais, e com o
encorajamento de mais professores e mentores como Tom Bouchard, “sim”.
Agradecimentos
Eu agradeço a Wendy Johnson e Matt McGue pelos comentários
prestativos em uma versão prévia desse artigo, e eu dedico esse artigo a Tom
Bouchard, que me ajudou a me tornar um cientista.
Referências
APA Presidential Task Force on Evidence-Based Practice (2006).
Evidence-based practice in psychology. American Psychologist, 61,
271–285
Arkes, H. R., Wortmann, R. L., Saville, P. D., & Harkness, A. R. (1981).
Hindsight bias among physicians weighting the likelihood of diagnoses.
Journal of Applied Psychology, 66, 252–254.
Baker, T. B., McFall, R. M., & Shoham, V. (2009). Current status and future
prospects of clinical psychology: Toward a scientifically principled
approach to mental and behavioral health care. Perspectives on
Psychological Science, 9(2), 67–103.
Bauer, H. H. (1992). Scientific literacy and the myth of the scientific method.
Urbana,Ill: University of Illinois Press.
Belsky, J. (1986). Infant day care: A cause for concern? Zero to Three, 6, 1–19.
Bouchard, T. J., Jr., Lykken, D. T., McGue, M., Segal, N., & Tellegen, A. (1990).
Sources of human psychological differences: The Minnesota study of twins
reared apart. Science, 250, 223–228.
Bremner, J. D., Vermetten, E., Southwick, S. M., Krystal, J. H., & Charney, D. S.
(1998).Trauma, memory, and dissociation: An integrative formulation. In J.
D. Bremner & C. R. Marmar (Eds.), Trauma, memory, and dissociation
(pp. 365–402). Washington: American Psychiatric Press.
Brown, L. T. (1983). Some more misconceptions about psychology among
introductory psychology students. Teaching of Psychology, 10, 207–210.
Bunge, M. (1984). What is pseudoscience? Skeptical Inquirer, 9, 36–46.
Bunge, M. (1994). Counter-enlightenment in contemporary social studies. In P.
Kurtz & T. J. Madigan (Eds.), Challenges to the Enlightenment: In defense
of reason and science (pp. 25–42). Amherst, NY: Prometheus Books.
Chambless, D. L., & Ollendick, T. H. (2001). Empirically supported
psychological interventions: Controversies and evidence. Annual Review
of Psychology, 52, 685–716.
Champaigne, F. (2009). Beyond nature vs. nurture: Philosophical insights from
molecular biology. APS Observer, 22(4), 1–3.
Cromer, A. (1993). Uncommon sense: The heretical nature of science. Science,
265, 688.
Dawes, R. M. (1994). House of cards: Psychology and psychotherapy built on
myth. New York: Free Press.
Dawes, R. M., Faust, D., & Meehl, P. E. (1989). Clinical versus actuarial
judgment. Science, 243, 1668–1674.
Dehue, T. (2000). From deception trials to control reagents: The introduction of
the control group about a century ago. American Psychologist, 55,
264–269.
Della Sala, S. (Ed.). (2007). Tall tales about the mind and brain: Separating fact
from fiction. London: Oxford University Press.
DiLalla, L. F., & Gottesman, I. I. (1991). Biological and genetic contributions to
violence – Widom’s untold tale. Psychological Bulletin, 109, 125–129.
Faulkner, W. (1951). Requiem for a nun. London: Vintage.
Ferris, C. G. (1996). The rage of innocents. The Sciences, 36(2), 22–26.
Feynman, R. P. (1985). Surely you’re joking, Mr. Feynman: Adventures of a
curious character. New York: Norton.
Fowler, R. D. (1999). APA letter to the Honorable Rep. DeLay (R-Tx).
Fox, R. E. (1996). Charlatanism, scientism, and psychology’s social contract.
American Psychologist, 51, 777–784.
Freiheit, S. R., Vye, D., Swan, R., & Cady, M. (2004). Cognitive-behavioral
therapy for anxiety: Is dissemination working? The Behavior Therapist, 27,
25–32.
Garb, H. N. (1998). Studying the clinician: Judgment research and
psychological assessment. Washington, DC: American Psychological
Association.
Garmezy, N., Masten, A. S., & Tellegen, A. (1984). The study of stress and
competence in children: A building block for developmental
psychopathology. Child Development, 55, 97–111.
Giesbrescht, T., Lynn, S. J., Lilienfeld, S. O., & Merckelbach, H. (2010).
Cognitive processes, trauma, and dissociation: Misconceptions and
misrepresentations (Reply to Bremner, 2009). Psychological Bulletin, 136,
7–11.
Gigerenzer, G. (2007). Gut feelings: The intelligence of the unconscious. New
York: Viking.
Gigerenzer, G. (2008). Sound reasoning requires statistical understanding.
Science News, 32.
Gladwell, M. (2005). Blink: The power of thinking without thinking. New York:
Little, Brown, and Company.
Gladwell, M. (2009). Outliers: The story of success. New York: Little, Brown,
and Company.
Gleaves, D. H. (1996). The sociocognitive model of dissociative identity
disorder: A reexamination of the evidence. Psychological Bulletin, 120,
42–59.
Gottfredson, L. S. (2009). Logical fallacies used to dismiss the evidence on
intelligence testing. In R. Phelps (Ed.), Correcting fallacies about
educational and psychological testing (pp. 11–65). Washington, DC:
American Psychological Association.
Gross, P. R., & Levitt, N. (1994). Higher superstition: The academic left and its
quarrels with science. Baltimore: Johns Hopkins University Press.
Hart, W., Albarracin, D., Eagly, A. H., Lindberg, M. J., Merrill, L., & Brechan, I.
(2009). Feeling validated versus being correct: A meta-analysis of
selective exposure to information. Psychological Bulletin, 135, 555–588.
Hays, K. A., Rardin, D. K., Jarvis, P. A., Taylor, N. M., Moorman, A. S., &
Armstead, C. D.(2002). An exploratory survey on empirically supported
treatments: Implications for internship training. Professional Psychology:
Research and Practice, 33, 207–211.
Herbert, J. D., Lilienfeld, S. O., Lohr, J. M., Montgomery, R. W., O’Donohue, W.
T., Rosen, G. M., et al. (2000). Science and pseudoscience in the
development of eye movement desensitization and reprocessing:
Implications for clinical psychology. Clinical Psychology Review, 20,
945–971.
Herbert, J. D., Sharp, I. R., & Gaudiano, B. A. (2002). Separating fact from
fiction in the etiology and treatment of autism: A scientific review of the
evidence. Scientific Review of Mental Health Practice, 1, 25–45.
Herculano-Houzel, S. (2002). Do you know your brain? A survey on public
neuroscience literacy at the closing of the decade of the brain. The
Neuroscientist, 8(2), 98–110.
Horgan, J. (2005). In defense of common sense. The New York Times, A34.
Hunsberger, P. H. (2007). Reestablishing clinical psychology’s subjective core.
American Psychologist, 62, 614–615.
Hunsley, J., & DiGuilio, G. (2002). Dodo bird, phoenix, or urban legend? The
question of psychotherapy equivalence. Scientific Review of Mental Health
Practice, 1, 11–22.
Hunt, M. (1999). The new know-nothings: The political foes of the scientific
study of human nature. New Brunswick, NJ: Transaction.
Huxley, T. H. (1902). Science and education. New York: D. Appleton and
Company.
Jacobson, J. W., Foxx, R. M., & Mulick, J. A. (Eds.). (2005). Controversial
therapies for developmental disabilities: Fad, fashion, and science in
professional practice. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum.
Kelley, L. P., & Blashfield, R. K. (2009). An example of psychological science’s
failure to self-correct. Review of General Psychology, 13, 122–129.
Kessler, R. C., Soukup, J., Davis, R. B., Foster, D. F., Wilkey, S. A., Van
Rompay, M. I., et al.(2001). The use of complementary and alternative
therapies to treat anxiety and depression in the United States. American
Journal of Psychiatry, 158, 289–294.
Kluger, A. N., & Tikochinsky, J. (2001). The error of accepting the theoretical
null hypothesis: The rise, fall, and resurrection of common sense
hypotheses in psychology. Psychological Bulletin, 127, 408–423.
Koocher, G. (2006). Psychological science is not politically correct. APA Monitor
on Psychology, 37(9), 5–6.
Lakatos, I. (1978). In J. Worral & G. Currie (Eds.), Philosophical papers: Vol. 1.
The methodology of scientific research programmes. New York:
Cambridge University Press.
LeDoux, J. E. (1998). Nature vs. nurture: The pendulum still swings with plenty
of momentum. Chronicle of Higher Education, B7.
Lehrer, J. (2009). How we decide. Boston: Houghton-Mifflin.
Levy, S. E., & Hyman, S. L. (2003). Use of complementary and alternative
treatments for children with autism spectrum disorders is increasing.
Pediatric Annals, 32, 685–691.
Lilienfeld, S. O. (1998). Pseudoscience in contemporary clinical psychology:
What it is and what we can do about it. The Clinical Psychologist, 51, 3–9.
Lilienfeld, S. O. (2005a). Challenging mind myths in introductory psychology
courses. Psychology Teacher Network, 15(3), 1, 4, 6.
Lilienfeld, S. O. (2005b). Scientifically supported and unsupported treatments
for childhood psychopathology. Pediatrics, 115, 761–764.
Lilienfeld, S. O. (2002a). When worlds collide: Social science, politics, and the
Rind et al. child sexual abuse meta-analysis. American Psychologist, 57,
176–188.
Lilienfeld, S. O. (2002b). A funny thing happened on the way to my American
Psychologist publication. American Psychologist,57, 225–227.
Lilienfeld, S. O. (2007). Psychological treatments that cause harm. Perspectives
on Psychological Science, 2, 53–70.
Lilienfeld, S. O., Ammirati, R., & Landfield, K. (2009). Giving debiasing away:
Can psychological research on correcting cognitive errors promote human
welfare? Perspectives on Psychological Science, 4, 390–398.
Lilienfeld, S. O., Lohr, J. M., & Olatunji, B. O. (2008). Encouraging students to
think critically about psychotherapy: Overcoming na realism. In D. S.
Dunn, J. S. Halonen, & R. A. Smith (Eds.), Teaching critical thinking in
psychology: A handbook of best practices (pp. 267–271). Malden, MA:
Wiley-Blackwell.
Lilienfeld, S. O., Lynn, S. J., Kirsch, I., Chaves, J., Sarbin, T., Ganaway, G., et
al. (1999). Dissociative identity disorder and the sociocognitive model:
Recalling the lessons of the past. Psychological Bulletin, 125, 507–523.
Lilienfeld, S. O., Lynn, S. J., & Lohr, J. M. (2003). Science and pseudoscience in
clinical psychology. New York: Guilford.
Lilienfeld, S. O., Lynn, S. J., Namy, L., & Woolf, N. (2009). Psychology: From
inquiry to understanding. Boston: Allyn and Bacon.
Lilienfeld, S. O., Lynn, S. J., Ruscio, J., & Beyerstein, B. L. (2010). 50 great
myths of popular psychology: Shattering widespread misconceptions
about human behavior. New York: Wiley-Blackwell.
Loftus, E. F. (1993). The reality of repressed memories. American Psychologist,
48, 518–537.
Lubinski, D., Benbow, C. P., Webb, R. M., & Bleske-Rechek, A. (2006). Tracking
exceptional human capital over two decades. Psychological Science, 17,
194–199.
Lykken, D. T. (1968). Statistical significance in psychological research.
Psychological Bulletin, 70, 151–159.
Lykken, D. T. (1991). What’s wrong with psychology anyway? In D. Cicchetti &
W. M. Grove (Eds.), Thinking clearly about psychology Volume 1: Matters
of public interest (pp. 2–39). Minneapolis, MN: University of Minnesota
Press.
Mahoney, M. J. (1977). Publication prejudices: An experimental study of
confirmatory bias in the peer review system. Cognitive Therapy and
Research, 1, 161–175.
Maslow, A. (1943). A theory of human motivation. Psychological Review,
50,370–396.
McCauley, R. N. (2000). The naturalness of religion and the unnaturalness of
science. In F. Keil & R. Wilson (Eds.), Explanations and cognitions (pp.
68–85). Cambridge, Mass: MIT Press.
McCutcheon, L. E. (1991). A new test of misconceptions about psychology.
Psychological Reports, 68, 647–653.
McFall, R. M. (1996). Making psychology incorruptible. Applied and Preventive
Psychology, 5, 9–16.
Meehl, P. E. (1971). Law and the fireside inductions: Some reflections of a
clinical psychologist. Journal of Social Issues, 27, 65–100.
Meehl, P. E. (1978). Theoretical risks and tabular asterisks: Sir Karl, Sir Ronald,
and the slow progress of soft psychology. Journal of Consulting and
Clinical Psychology, 46, 806–834.
Mischel, W. (2005). Alternative futures for our science. APS Observer, 18(3),
2–3.
Mooney, C., & Kirshenbaum, S. (2009). Unscientific America: How scientific
illiteracy threatens our future. New York: Basic Books.
Mussell, M. P., Crosby, R. D., Crow, S. J., et al. (2000). Utilization of empirically
supported psychotherapy treatments for individuals with eating disorders:
A survey of psychologists. International Journal of Eating Disorders, 27,
230–237.
Nickerson, R. S. (1998). Confirmation bias: A ubiquitous phenomenon in many
guises. Review of General Psychology, 2, 175–220.
Nordal, K. (2009). Taking issue with Newsweek. Your Mind, Your Body:
American Psychological Association, 1.
O’Connor, D. J. (1975). The correspondence theory of truth. London, UK:
Hutchinson.
Paris, J. (2000). Myths of childhood. New York: Brunner/Mazel.
Peters, D. P., & Ceci, S. J. (1982). Peer-review practices of psychological
journals: The fate of published articles, submitted again. Behavioral and
Brain Sciences, 5, 187–255.
Redding, R. E. (1998). How common-sense psychology can inform law and
psycholegal research. Roundtable, The University of Chicago Law School,
5, 107–142.
Reichenbach, H. (1938). Experience and prediction. Chicago: University of
Chicago Press.
Rind, B., Tromovitch, P., & Bauserman, R. (1998). A meta-analytic examination
of assumed properties of child sexual abuse using college samples.
Psychological Bulletin, 124, 22–53.
Ross, C., & Pam, A. (2005). Pseudoscience in biological psychiatry: Blaming
the body. New York: Wiley.
Ross, L., & Ward, A. (1996). Na realism: Implications for social conflict and
misunderstanding. In T. Brown, E. Reed, & E. Turiel (Eds.), Values and
knowledge (pp. 103–135). Hillsdale, New Jersey: Lawrence Erlbaum.
Rowe, D. C. (1987). Resolving the person-situation debate: Invitation to an
interdisciplinary dialogue. American Psychologist, 42, 218–227.
Rubin, R., & Rubin, R. A. (2005). Response to ‘‘scientifically supported and
unsupported interventions for childhood psychopathology: A summary”.
Pediatrics, 116, 289.
Ruscio, J. (2006). Critical thinking in psychology: Separating sense from
nonsense. Pacific Grove, CA: Wadsworth.
Russell, G. W., & Dua, M. (1983). Lunar influences on human aggression.
Social Behavior and Personality, 11, 41–44.
Sackett, P. R., Borneman, M., & Connelly, B. S. (2008). High stakes testing in
education and employment: Evaluating common criticisms regarding
validity and fairness. American Psychologist, 63, 215–227.
Sagan, C. (1995). The demon-haunted world: Science as a candle in the dark.
New York: Random House.
Sarnoff, S. K. (2001). Sanctified snake oil: The impact of junk science on public
policy. Hillsdale, NJ: Praeger.
Satel, S. (2000). PC, M.D.: How political correctness is corrupting medicine.
New York: Basic Books.
Singer, M. T., & Lalich, J. (1996). Crazy therapies: What are they? Do they
work? San Francisco: Jossey-Bass.
Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. New York: Macmillan.
Skinner, B. F. (1971). Beyond freedom and dignity. New York: Bantam.
Stanovich, K. E. (2009). What intelligence tests miss: The psychology of rational
thought. New Haven, CT: Yale University Press.
Tavris, C., & Aronson, E. (2007). Mistakes were made (not by me): Why we
justify foolish beliefs, bad decisions, and hurtful actions. Boston:
Houghton-Mifflin.
Titchener, E. B. (1929). Systematic psychology: Prolegomena. Ithaca, NY:
Cornell University Press.
Tsoi-Hoshmand, L., & Polkinghorne, D. (1992). Redefining the science-practice
relationship and professional training. American Psychologist, 47, 55–66.
Vaughan, E. D. (1977). Misconceptions about psychology among introductory
psychology students. Teaching of Psychology, 4, 139–141.
Waldman, I. D. (2007). Behavior genetic approaches are integral for
understanding the etiology of psychopathology. In S. O. Lilienfeld & W. T.
O’Donohue (Eds.), The great ideas of clinical science: 17 principles that
every mental professional should understand (pp. 219–242). New York:
Routledge.
Watson, J. B. (1930). Behaviorism (revised edition). Chicago: University of
Chicago Press.
Wegner, D. M. (2002). The illusion of conscious will. Cambridge, MA: MIT
Press/Bradford Books.
Weissman, M. M., Verdeli, H., Gameroff, M. J., et al. (2006). National survey of
psychotherapy training in psychiatry, psychology, and social work.
Archives of General Psychiatry, 63, 925–934.
Westen, D., Novotny, C. M., & Thompson-Brenner, H. (2004). The empirical
status of empirically supported psychotherapies: Assumptions, findings,
and reporting in controlled clinical trials. Psychological Bulletin, 130,
631–663.
Whitehead, A. N. (1916). Presidential address, British Association for the
Advancement of Science. New Castleo-n-Tyne.
Wick, J., & Smith, T. (2006). Controversial treatments for autism in the popular
media. Poster presented at the international meeting for autism research,
Montreal, Quebec, Canada.
Wolpert, L. (1993). The unnatural nature of science: Why science does not
make (common) sense. Cambridge, Mass: Harvard University Press.
Wood, J. M., & Nezworski,M. T. (2005). Science as a history of corrected
mistakes. American Psychologist, 60, 657–658.

Continue navegando