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APOIO 01_ Desafios do desenho urbano para a cidade contemporânea _ vitruvius

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192.06 urbanismo ano 16, maio 2016
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arquitextos ISSN 1809-6298
Desafios do desenho urbano para a cidade contemporânea
Denise Falcão Pessoa
Alexanderplatz, Berlim 
Foto da autora
Dada a grande pluralidade das metrópoles, existe uma dificuldade para
compreendê-las como um todo, identificar os fatores que causam degradação
de algumas áreas, concomitantemente ao florescimento de outras. Somada a
essa dificuldade, há também uma demanda para que a cidade contemporânea
seja pujante e ofereça qualidade nos espaços públicos, reduza os tempos
de deslocamento e seja acessível a pessoas com mobilidade reduzida.
Projetos de desenho urbano deveriam contemplar essas expectativas.
Testemunha-se, hoje, o ocaso do espaço público nas cidades brasileiras e
o enfraquecimento do bem estar social, dos mecanismos de reivindicação da
população etc. Por outro lado, a iniciativa privada promove lugares
coletivos segregados como condomínios fechados, áreas de lazer privadas e
shopping centers, onde não há espaço para a diversidade social. Ao mesmo
tempo, privilegia-se o transporte individual em detrimento do coletivo.
Asher assim descreve esse cenário:
O desenvolvimento dos meios de transporte oferece novas
possibilidades de escolha das localizações residenciais,
provocando agrupamentos de população em bases que podem ameaçar a
coesão social urbana. Assiste-se, assim, em certos países, à
formação de bairros privados cercados de muros. Essas tendências
à fragmentação social e ao fechamento espacial se somam à
tentação de ruptura do pacto social e dos vínculos de
solidariedade local e nacional (1).
192.06 urbanismo 
sinopses 
como citar
idiomas
original: português
compartilhe
 
192
192.00 ensino
Colônia lunar
Uma experiência
didatica de projeto-
relâmpago no mestrado
integrado em
arquitetura do
Instituto Superior
Técnico de Lisboa
Ramon Silva Carvalho,
Teresa Valsassina
Heitor e Paulo Afonso
Rheingantz
192.01 patrimônio
Matriz de Santo Antônio
de Itatiaia MG
História e estado de
conservação
Alexandre Gutvilen,
Fernanda dos Santos
Silva, Joicidele
Pedrosa, Julia
Isenschmid e Tatiana
Paiva
192.02 avaliação
A habitação social
redesenhando a cidade
O caso da cidade de
Uberlândia-Minas Gerais
Simone Barbosa Villa,
Juliano Carlos Cecílio
Batista Oliveira, Rita
de Cássia Pereira
Saramago, Tamires Nunes
de Alcântara Nicolau e
Mariana Mundim Melo
192.03 projeto
Frank Lloyd Wright às
margens do rio Tigre,
Badgá
João Francisco Noll e
Gisele Odebrecht Noll
192.04 pesquisa
A pesquisa qualitativa
e o ente da arquitetura
e urbanismo
Contribuição para
estudos e o exercício
jornal
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agenda cultural
rabiscos
eventos
concursos
seleção
em vitruvius
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Motivado pelo medo e crescimento da violência urbana, espaços
enclausurados vão sendo construídos em muitas cidades em todo o planeta.
Ainda que bairros privados sejam do agrado de muitos, haja vista o
sucesso de vendas que esses empreendimentos atingem − o mercado
imobiliário não investiria nesse modelo não fosse o êxito comercial −, a
consequência desses locais é o desencorajamento de atividades e do
movimento de pessoas nas ruas que os cercam, empobrecendo assim a
vitalidade urbana.
Outro fator que aponta para a necessidade de se repensar as cidades é o
fato de que, até um passado recente, uma vasta gama de atividades do
âmbito da residência passaram a acontecer em locais públicos ou de uso
coletivo. O principal local onde ocorriam nascimentos, festejos,
tratamento para enfermidades, alimentação, encontros sociais, lazer,
morte, velórios, até meados do século 20, era a casa. Gradativamente,
essas funções foram deixando de ocorrer no âmbito da residência e
passando a acontecer em vários locais da cidade como hospitais,
restaurantes, lugares de eventos, centros de compra e velórios públicos.
A cidade do século 21 precisa estar preparada para atender às
necessidades dos seus cidadãos. Mobilidade e acessibilidade são hoje
essenciais para que se tenha uma vida plena. É fundamental que o
urbanista compreenda a cidade onde irá atuar, desenvolva um espírito
crítico e esteja apto a elaborar um desenho urbano eficiente para as
demandas da sociedade contemporânea. Nessa linha, o presente estudo tem
por objetivo discutir parâmetros para compreender o sítio urbano e o
espírito do lugar, o dito genius loci, e formar senso crítico frente ao
espaço urbano analisado estabelecendo critérios para um desenho urbano de
qualidade.
Algumas das teorias mais difundidas no ensino de desenho urbano
Na década de 1960, vários trabalhos são publicados, mostrando a
preocupação com as cidades existentes, buscando traçar princípios para
propostas de intervenção. A hegemonia da arquitetura e urbanismo
modernos, enunciados nos CIAMs (Congresso Internacional de Arquitetura
Moderna, 1928-1956), passa a ser colocada em questão. Nesse momento,
urbanistas criticam o Movimento Moderno e debatem a questão urbana no
sentido de traçar princípios e diretrizes. A cidade teorizada na Carta de
Atenas (1933) – baseada nas quatro funções da cidade: habitação,
trabalho, lazer e circulação – começa a ser colocada em cheque. A partir
dessa década, vários estudos são desenvolvidos com o intuito de
estabelecer novas diretrizes para o planejamento das cidades.
Kevin Lynch (2) escreveu vários livros tratando da forma urbana, como
Site Planning e A Boa Forma da Cidade. Publica, em 1960, o livro A Imagem
da Cidade no qual elabora uma teoria baseada em entrevistas com pessoas
de três cidades americanas: Los Angeles, Boston e Jersey City. Nesse
estudo, procura os elementos-chave através dos quais indivíduos formam a
imagem da cidade. Segundo Lynch, a cidade é o símbolo da sociedade e deve
representar seu passado, seu modo de vida e objetivos. Uma imagem nítida
tem um importante papel social, dando a seus habitantes segurança
emocional, elevando a intensidade da experiência humana. Segundo Lynch, a
qualidade do ambiente urbano está diretamente ligada à sua clareza. As
principais características de uma cidade devem ser aquelas que ajudam as
pessoas a se orientar e, ainda mais importante, o cidadão deve sentir que
está num lugar único, nunca o confundindo com outro. Isso não quer dizer
que o desenho deva ser óbvio, regular, repetitivo. Ao contrário. O
mistério, a surpresa são sinais de qualidade. Os usuários devem sentir-se
num espaço único e ter um sentido de orientação. Se o espaço tem
características fortes, ele será reconhecido por sua descrição.
No estudo de Lynch, as entrevistas apontam cinco elementos principais.
São eles, na ordem de importância: caminhos (ruas, avenidas, canais,
rios), limites (barreiras e elementos lineares como muros e orlas),
distritos (setores da cidade relacionados com outras áreas), pontos
nodais (junções de dois ou mais caminhos) e marcos (pontos focais como
obeliscos, esculturas, elementos naturais, mais eficientes quando vistos
a distância). A estrutura da cidade é formada pelas avenidas, ruas,
caminhos hierarquizados. Eles são os principais elementos da forma
urbana, pois as pessoas os utilizam para se deslocar. Sua eficiência
imagética aumenta à medida que estão relacionadas com outros elementos
como pontos nodais ou marcos. O mesmo é verdade quando ocorre a inter-
relação dos outros elementos. Quanto melhor os elementos se relacionem,
mais apurada é a imagem da cidade. Segundo Lynch, a presença desses cinco
elementos corrobora para formar uma forte imagem de cidade e, portanto,
promove uma boa qualidade de vida para os cidadãos. Ainda que essa teoria
seja questionável, pois muitas cidades possuem esses elementos em
abundância, mas não apresentam boa qualidade, ela chama a atenção de
planejadores urbanos para a importância da imagem que os cidadãos formam
da cidade onde vivem ou que visitam. Esse estudo aponta para a relevância
de valores sensoriais no desenho da cidade, valores esses menosprezados
na cidade modernista. Ao priorizar a experiência das pessoas no pensar a
cidade, Lynch inaugura uma preocupação com o usuário e com a valorização
de sua participação nos projetos de intervenção urbana.
Outro teórico que se pauta em aspectos sensoriais para fundamentar
conceitos sobre a cidade é Gordon Cullen (3). Seu livro Paisagem Urbana,
trata da qualidade visual do panorama das cidades. Sua teoria é baseada
na importância da formação da imagem na experiência urbana. Essa vivência
dá-se quando do deslocamento na cidade, e conforme os cenários vão
aparecendo à medida que as pessoas transitam por ela. Destaca o valor do
que chama de “visão serial”, que acontece quando um indivíduo desloca-se
pela cidade e vai se deparando com novos ambientes, entra em um
da profissão
Zuleica Maria Patrício
Karnopp, Maristela
Moraes de Almeida,
Elizabeth Campanella de
Siervi e Natalia
Nakadomari Bula
192.05 crítica
Tunga
Um pouco além do
espanto
Paulo Sergio Duarte
192.07 ensino
A Reforma Francisco
Campos e o ensino de
arquitetura no
Mackenzie
Aproximações 1931-1947
Fernanda Ciampaglia
192.08 história
Inventário da habitação
social pública na área
central de São Paulo
(1990-2012)
DéboraSanches e
Angélica Benatti Alvim
https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.192/6065
https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.192/6068
https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.192/6071
determinado espaço e se percebe diante de um local que surpreende pela
sua harmonia. O conceito de análise desenvolvido por Cullen é apoiado em
aspectos sensitivos como surpresa, prazer, emoção, identidade. Ao mesmo
tempo, o autor destaca a importância da observação dos lugares. Como
instrumento de registro da análise dos espaços, recomenda esboços,
anotações, fotografias, além da coleta de dados históricos e
socioculturais.
Nessa profícua década de 1960, Jane Jacobs (4) publica uma crítica aos
modelos urbanos adotados nos Estados Unidos e investiga condições
favoráveis para que uma cidade tenha qualidade e diversidade urbana. Faz
críticas contundentes aos conjuntos habitacionais construídos para a
população de baixa renda e destaca a sua monotonia, a precariedade e
ausência de identidade dos espaços que os rodeiam. Aponta a deficiência
do desenho desses conjuntos no que se refere a propiciar lugares de
permanência, convívio e lazer da população que ali vive. Também critica
os “shopping centers monopolistas e os monumentais centros culturais, com
o espalhafato das relações públicas, encobrem a exclusão do comércio – e
também da cultura – da vida íntima e cotidiana das cidades” (5).
Sua maior contribuição, no livro Morte e Vida de Grandes Cidades, não se
limita à análise de modelos urbanos e sim à investigação sobre o que
torna um lugar agradável, muito frequentado pelas pessoas, reforçando o
senso de pertencimento. A partir de seus estudos, traça alguns parâmetros
para o bom desenvolvimento do desenho das cidades, tais como: usos
combinados (residencial, comercial, institucional etc.), quadras curtas,
mescla de edifícios novos e antigos e adensamento populacional.
Em relação a usos combinados, Jacobs critica a cidade monofuncional e
recomenda a mistura, não só de usos, mas também defende a ideia de uma
população não homogênea. No que se refere a quadras curtas, Jacobs
observa que quanto mais possibilidades de caminhos, melhor. Quadras muito
grandes, sem opções de trajetos variados, configuram espaços urbanos
monótonos, pouco interessantes e aumentam a sensação de insegurança.
Ruas impessoais geram pessoas anônimas, e não se trata da
qualidade estética nem de efeito emocional místico no campo da
arquitetura. Trata-se do tipo de empreendimento palpável que as
calçadas possuem e, portanto, de como as pessoas utilizam as
calçadas na vida diária, cotidiana (6).
A variação de idade das edificações também é um fator importante. Uma
grande área construída na mesma época vai envelhecer ao mesmo tempo,
podendo sofrer uma degradação acentuada. Com a variação, a área é mais
interessante e diversificada. A variedade na idade das edificações
favorece a diversidade de renda dos ocupantes, pois os edifícios novos
tendem a ser mais caros do que os antigos, que podem ser usados por uma
população de renda mais baixa, favorecendo assim a vitalidade urbana.
Jacobs também trata a questão do adensamento. Lugares pouco densos não
têm número suficiente de pessoas circulando e, portanto, não promovem
lugares seguros nem convidativos. Determinada concentração de pessoas é
fundamental para o florescimento da diversidade e atrai interesse.
Em 1965, Christopher Alexander (7) publica, na Revista Architectural
Forum, o texto A Cidade não é uma Árvore, em que especula sobre as
diferenças entre uma cidade que surge espontaneamente, e cujo crescimento
se dá gradativamente, e uma cidade planejada, cuja forma é pensada em um
único momento e cujo traçado é feito numa prancheta. O que Alexander
procura explicar é: porque a cidade planejada, proposta pelo movimento
moderno, não produz lugares agradáveis, onde as pessoas sentem prazer de
estar durante a execução de tarefas cotidianas como se deslocar do
trabalho para a casa, fazer compras ou passear nas horas vagas? Usando
seu conhecimento em matemática (é mestre nessa ciência), Christopher
Alexander procura justificar essa deficiência nas cidades planejadas,
mostrando que uma cidade de crescimento espontâneo e gradativo tem
relações muito complexas e, portanto, impossíveis de serem simuladas por
planejadores de uma forma abrangente. Assim, enquanto o planejador prevê
um número limitado de inter-relações, o que ocorre na realidade é uma
infinidade de ações que não podem ser totalmente equacionadas num projeto
urbano.
Alexander designa a estrutura de cidades planejadas sem sobreposição de
funções, de estrutura em árvore e argumenta que cidades com crescimento
gradativo no tempo têm em geral estrutura em retícula (semilattice).
Afirma que esse tipo de estrutura constitui tecidos urbanos mais
saudáveis e que a extrema compartimentação e setorização em cidades
planejadas resulta em uma cidade pouco receptiva. Recomenda que
planejadores prevejam uma mistura de funções e abram espaço para ações
propostas pela população.
Nesse momento da história do Planejamento Urbano, inicia-se uma discussão
sobre os princípios do urbanismo vigentes e uma critica às ideias
modernistas para o desenho das cidades. Até o fim da década de 1970, as
escolas de arquitetura no Brasil ensinavam desenho urbano propondo
exercícios nos quais os alunos deveriam projetar uma cidade em uma área
ainda não urbanizada, projetando uma primeira ocupação, com desafios
semelhantes aos enfrentados por Le Corbusier em Chandigarh, Índia ou
arquitetos brasileiros quando foi realizado o concurso de Brasília em
1956. A ideia de se pensar a cidade a partir de uma área não urbanizada
fazia parte da didática corrente no ensino de urbanismo. A própria
postura modernista priorizava a tabula rasa, demolição completa do
terreno onde seria implantada uma nova urbanização, em detrimento da
adequação de um novo desenho ao sítio previamente ocupado. Isso foi sendo
modificado e a cidade consolidada passou a ser objeto de estudo.
Algumas recomendações para a abordagem do desenho urbano
Os trabalhos abordados acima têm sido um importante referencial teórico
para o desenho urbano atual. Embora ainda sejam usadas ferramentas do
tipo: análises de uso e ocupação do solo, observação de gabaritos de
altura das edificações etc., essa metodologia é fria e diz pouco sobre o
lugar. As teorias desenvolvidas a partir da década de 1960 colaboram no
sentido de instrumentar o urbanista a compreender uma área e propor
intervenções. Na sequência deste texto, destacam-se alguns aspectos que
devem ser considerados em projetos de desenho urbano, tanto na fase de
análise do local como na etapa propositiva.
Compreender o espírito do lugar
Qualquer análise histórica de um lugar é vazia se não for usada para dar
sentido ao momento presente. O conceito de genius loci (8), desvalorizado
no modernismo, readquire relevância, uma vez que contribuirá com o
sentido de lugar singular e não genérico de um projeto urbano. O espírito
do lugar só pode ser registrado através da percepção sensível que se dá
no momento de sua análise. Essa experiência é plena de nuances que se
modificam a cada vez que uma visita é repetida. Cada lugar, além de ser
único, é permanentemente mutável; de acordo com a hora do dia, com a
estação do ano, com as pessoas que ali estão e com a própria visão do
observador.
Ainda assim, alguns lugares seriam unanimidade com relação a qualidades
urbanas. A Praça de São Marcos, em Veneza, por exemplo, é apreciada por
muitos. Ao olhar dos observadores de hoje, a praça pode parecer projeto
de um único arquiteto e construída toda ela em um mesmo período. No
entanto, o quarto lado da praça, aquele que está no lado oposto à
Basílica, foi construído no século 19, enquanto a praça data do século
16. O que parece fruto do trabalho de um só autor, na verdade tem a
contribuição de muitos autores, num período de três séculos.
Essa também é uma característica da maioria dos espaços urbanos.
Raramente permanecem imutáveis ao longo do tempo.Enquanto um edifício
pode permanecer tal qual foi projetado e construído, a cidade está em
constante transformação. Elementos são adicionados, outros desaparecem e,
assim, a cidade vai sendo desenhada como um palimpsesto. Camadas de tempo
vão sendo agregadas sem que as camadas anteriores desapareçam
completamente.
Michigan Avenue, em Chicago: harmonia entre edifícios de várias épocas. O
edifício com fachada de vidro segue a volumetria dos vizinhos e usa uma
linguagem contemporânea 
Foto da autora
Identificar/projetar o lugar através de seus fluxos
Embora o projeto de uma área de uma cidade seja representado de uma
maneira estática, mostrando-se ruas, edifícios, praças etc., tão
importante quanto esses elementos é o movimento – de pessoas e carros –
que se dá através dos espaços entre edifícios. Ao longo do século 20, o
automóvel foi ganhando terreno a tal ponto que seu fluxo chegou a ter
prioridade sobre o do pedestre. Praças se tornaram estacionamentos,
calçadas foram reduzidas para dar lugar a vagas de carros, vias expressas
foram construídas para facilitar o trânsito. Ao mesmo tempo, ruas com
grande movimento de carros configuram-se como barreiras para a escala
humana. Felizmente, há hoje uma tendência à inversão da prioridade e as
cidades estão se transformando, no sentido de diminuir o espaço do carro
em detrimento dos transeuntes, diminuindo o número de vagas de
estacionamento nas ruas para dar lugar a ciclovias e calçadas mais largas
ou transformando ruas onde o movimento do comércio é intenso em ruas para
pedestres. Esse fenômeno teve início na Europa, na década de 1960 e vem
ganhando força em muitos países.
Vestergade, rua de pedestre em Copenhagen: grande movimento de pessoas em
qualquer hora do dia 
Foto da autora
O fluxo de pedestres deve prevalecer no planejamento da cidade. Para
tanto, deve ser compreendido e então ordenado. A largura das calçadas
deve estar de acordo com o movimento de pessoas, largos em áreas
comerciais e mais estreitos em áreas de predominância residencial. Também
é importante prever alternativas de trajetos, o que torna os
deslocamentos menos monótonos e mais prazerosos. Quando se pensa no fluxo
de pedestres, é necessário também prever lugares de descanso, tanto nos
espaços de estar, equipados com bancos, quanto nos que não foram
projetados para esse uso, mas que servem a essa função, como escadas,
fontes ou muretas que separam áreas verdes de áreas pavimentadas. Os
estabelecimentos comerciais também devem contribuir com a dinâmica do
espaço público, mas sem estrangular a passagem de pedestres, o que
acontece muitas vezes quando restaurantes colocam mesas em calçadas
estreitas, tirando, frequentemente, a acessibilidade do local.
Alexanderplatz, Berlim. Mesmo sem bancos, a praça oferece lugares para o
descanso e contemplação 
Foto da autora
Conhecer usuários, os que existem e os que serão atraídos
Muitos projetos urbanos fracassam por não levar em conta os usuários do
local antes da intervenção. Ainda que a requalificação de uma área urbana
busque atrair novos usuários, é fundamental que se conheçam seus
frequentadores no momento do projeto. Áreas que necessitam de melhorias
não são necessariamente áreas abandonadas e em geral têm moradores e
comércio ativo. É fundamental que se conheçam esses atores, pois essas
são as pessoas que devem ser beneficiadas com a requalificação. É preciso
ter clareza de quais são os novos usuários que o projeto busca atrair.
Uma falha nessa interpretação pode acarretar no fracasso do projeto. É
comum, e quase inevitável, em revitalizações urbanas, ocorrer algum grau
de gentrificação. O planejador deve ter consciência desse fato e procurar
minimizá-lo oferecendo possibilidades de permanência da população
original.
Prever uma densidade “interessante”
Jane Jacobs refere-se à densidade habitacional como um aspecto
fundamental para a boa qualidade de uma área urbana. Áreas pouco densas
têm número insuficiente de pessoas circulando e, portanto, não garantem
um ambiente que promova a sensação de segurança e bem estar. Cidades
densas tendem a ser mais interessantes e vivas que cidades onde sua
densidade é baixa. Difícil, no entanto, é determinar o que seria uma
densidade ideal, quais parâmetros seguir. O conceito de densidade ideal
pode variar de país para país e de cidade para cidade. O que é densidade
ideal para o Brasil, é baixa para o Japão, que tem problema de escassez
de terra. Existem também diferenças culturais para esse assunto, como
aborda Edward Hall (9) em seu livro A Dimensão Oculta, onde ele sugere
que a sensação de “estar perto” de outra pessoa varia de acordo com
valores socioculturais. Planos diretores definem coeficientes de
aproveitamento altos em áreas onde o adensamento é recomendado para
otimização de infraestrutura urbana. A possibilidade de um maior
aproveitamento de uma área não garante uma densidade alta, visto que, no
caso de edifícios residenciais, edifícios mais altos não necessariamente
abrigam mais pessoas, pois o número de habitantes de um edifício depende
também da tipologia dos apartamentos (número de dormitórios por
apartamento, número de apartamentos por andar etc.). Contudo,
considerando-se que não é possível impor um número fixo de habitantes por
unidade habitacional, é um recurso para promover adensamento.
Prever diversidade de usos
O movimento moderno estabeleceu parâmetros urbanos de setorização das
funções da cidade, separando áreas residenciais de comerciais,
industriais e institucionais. Áreas centrais de muitas cidades passaram a
abrigar apenas atividades comerciais. Isso as tornou áreas inóspitas à
noite e nos fins de semana, quando lojas e escritórios estão fechados.
Lugares vazios passam a sensação de perigo e hostilidade. Áreas
estritamente residenciais, sem comércio nas proximidades, faz com que as
pessoas percorram grandes distâncias para fazer qualquer compra, tendo
muitas vezes que recorrer ao uso do automóvel. Além disso, áreas de
trabalho tendem a ser longe da moradia, impossibilitando que as pessoas
se desloquem a pé ou de bicicleta. Na mão contrária, áreas de uso misto
tendem a ter pessoas passando durante todo o dia, promovendo melhores
condições de segurança e tornando os lugares vivos a agradáveis.
Prever diversidade social
As grandes metrópoles têm grande diversidade étnica, cultural e social. É
saudável que os espaços urbanos sejam projetados para promover a
interação de todos. Lugares como shopping centers e condomínios fechados
são, em princípio, espaços de exclusão, onde só se sente bem aquele que
preenche as características do usuário para quem o lugar foi projetado.
Shopping centers tiram o comércio das ruas e segregam os cidadãos.
Áreas requalificadas, onde não há uma preocupação com a permanência dos
moradores originais, tendem a ser ocupadas por outros de renda maior e
não apresentam uma população diversificada. Cito Canary Wharf na Isle of
Dogs nas Docklands de Londres, antiga área portuária degradada da cidade,
que, quando revitalizada, tornou-se um enclave de ricos. Ainda que tenha
tido sucesso comercial, e esse aspecto parece ser o desejo de muitos, a
exclusão de ex-moradores têm implicações negativas, sobretudo para
aqueles que sofrem suas consequências e não conseguem permanecer no local
devido ao aumento do custo de aluguéis e serviços.
Priorizar pedestres
Metrópoles, frequentemente, têm sérios problemas de mobilidade. Isto
porque, no século 20, priorizou-se o transporte por carros particulares.
À medida que uma parte significativa da população optou por esse tipo de
transporte, o sistema viário foi ficando sobrecarregado, sem condições de
dar vazão ao tráfego. Metrópoles deveriam investir em transporte público
e outros sistemas locomoção do tipo bicicleta. Em 1990, Reginald
Malcolmson (10) desenvolveu um projeto para uma cidade totalmente sem
automóvel particular: a Hilbs 100-Plus, demonstrando a inviabilidade do
uso do carro, que frequentemente transporta apenas uma pessoa a uma
velocidade baixa. Copenhagen, na Dinamarca, é uma cidadeque está banindo
o automóvel e 36% da população vai ao trabalho de bicicleta (11). Nas
áreas centrais, carros só podem estacionar na via pública e o alto custo
dos estacionamentos é um estímulo para as pessoas usarem o transporte
público, que é confortável e eficiente. Ações desse tipo devem ser feitas
no sentido de melhorar a qualidade dos espaços para pedestres, com
calçadas largas e ciclovias e a integração dos vários sistemas de
transporte público. À medida que o espaço público melhora, as pessoas vão
tendo vontade de nele circular e permanecer.
Bicicletas estacionadas em Copenhagen 
Foto Eugênia Hanitzsch
Considerações finais
Como nas utopias, a cidade planejada segundo os princípios modernistas
tende a ter um limite físico. Sua expansão se dará até que o sítio
designado para a implantação do projeto seja completamente ocupado.
Brasília é um exemplo. O Plano Piloto (denominação da área planejada por
Lucio Costa) tem uma ocupação planejada rigidamente e não estão previstas
expansões dentro do seu perímetro urbano, aumente a população ou não.
Como resultado, dá-se uma ampliação da área urbanizada somente na
periferia do plano. Diferentemente da maioria das cidades que acomodam o
crescimento da população modificando permanentemente seu desenho no
sentido de compatibilizar as novas necessidades de ocupação do solo, a
cidade modernista, em virtude da limitação tipológica, “engessa” seu
crescimento. As teorias mencionadas neste texto desmontam os paradigmas
da cidade moderna, reconhecendo questões que devem ser enfrentadas pelo
desenho urbano na contemporaneidade, tais como complexidade, mudanças
rápidas na sociedade e dificuldade de limitar as incertezas (12).
Christopher Alexander trata da complexidade da atividade projetual e do
reconhecimento da importância dos usuários de um lugar como gerador da
forma urbana. Kevin Lynch enfoca a experiência urbana e o valor de uma
cidade com forte imagem, relacionando a satisfação das pessoas com a
qualidade imagética urbana. Gordon Cullen enfatiza e experiência urbana
através dos deslocamentos dos cidadãos e atribui valores aos
deslocamentos quando da realização de um determinado percurso, podendo
colaborar com a qualidade de vida oferecida por uma cidade.
A prática do desenho urbano deve, portanto, somar às análises e
diagnósticos tradicionais, baseados nos levantamentos de uso do solo,
gabaritos das edificações, estado de conservação dos imóveis, hierarquia
do sistema viário etc., como imageabilidade, legibilidade do espaço
urbano, fruição do pedestre e sentimento de pertencimento a um lugar.
Assim como a cidade contemporânea, o desenho urbano atual não pode ser
linear e se apoiar em uma ou outra teoria. A complexidade das cidades faz
com que o exercício do projeto seja baseado no reconhecimento das
frequentes mutações ocorridas na sociedade onde o projeto não é mais um
rígido ordenamento do território, um desenho final, e sim um veículo para
viabilizar transformações.
notas
1 
ASCHER, François. Os novos princípios do urbanismo. São Paulo, Romano Guerra,
2010, p.73.
2 
O estudo que gerou o livro The Image of the City foi feito como estudo
acadêmico no Centro de Estudos Urbanos e Regionais do MIT (Massachusetts
Institute of Technology) na década de 1950.
3 
Gordon Cullen publicou seu principal trabalho, Townscape, em 1961 no Reino
Unido.
4 
A jornalista Jane Jacobs prestou grande contribuição aos estudos urbanos, tendo
publicado várias obras sobre o assunto: The Economy of Cities em 1969, Cities
and the Wealth of Nations em 1984, Dark Age Ahead em 2004, entre outros.
5 
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes didades. São Paulo, Martins Fontes, 2003.
p. 3.
6 
Idem, ibidem, p. 61.
7 
Christopher Alexander é arquiteto e professor emérito da Faculdade de
Arquitetura da Universidade da Califórnia em Berkley. Escreveu, entre outras,
as seguintes obras: A Pattern Language, Notes on the Synthesis of Form e The
Nature of Order.
8 
“O termo “genius loci’ é uma antiga crença Romana e indica que cada ser tem seu
‘genius’, seu espírito guardião. Esse espírito dá vida às pessoas e lugares, os
acompanha do nascimento à morte e determina seu caráter. Norberg-Schulz, C.,
Kahn, Heidegger and the Language of Architecture. Oppositions, 1979 (18), p. 45
em <www.tu-
cottbus.de/wolkenkuckucksheim/inhalt/en/issue/issues/207/Shirazi/shirazi.php9>
9 
Edward Hall escreveu várias obras em que estuda a relação de espaço nas
diferentes culturas, entre elas: The Silent Language (1959) The Hidden
Dimension (1966), Beyond Culture (1976), The Dance of Life, The Other
Dimension of Time (1983), Hidden Differences: Studies in International
Communication (1985), Hidden Differences: Doing Business with the Japanese
(1990) e Understanding Cultural Differences, Germans, French and Americans
(1990).
10 
Reginald Malcolmson foi um arquiteto visionário e dedicou-se ao projeto de
várias obras utópicas. Foi o diretor que sucedeu Mies van der Rohe na Faculdade
de Arquitetura do IIT (Illinois Institute of Technology) em Chicago.
11 
PERES, Graziela. Paz, amor e independência. FFWMag, n. 19, 2010, p. 60-73
<http://ffw.com.br/ffwmag/19/>.
12 
ASCHER, François. Os novos princípios do urbanismo. São Paulo, Romano Guerra,
2010, p. 50.
sobre a autora
Denise Falcão Pessoa possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie (1979), mestrado em Arquitetura e
Urbanismo pela University of Michigan (1982) e doutorado em Arquitetura e
Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2003). Atualmente é professora do
Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e da Uninove, Universidade Nove
de Julho. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em
Planejamento e Projeto de Edificação. É autora do livro Utopia e Cidades:
Proposições publicado em 2006.
comentários
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