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1 A BIOSFERA TERRESTRE Carlos Henrique Nowatzki EVOLUÇÃO DA BIOSFERA A evolução da Biosfera começou após a consolidação da Crosta Terrestre, da mudança na composição da atmosfera inicial (nitrogênio, amônia, hidrogênio, monóxido de carbono, metano, vapor d’água, gases de cloro, ácido sulfídrico, etc.) e do aparecimento da água líquida. Além dessas forças alogênicas atuaram no sentido de promover a evolução biológica ao longo do tempo, as forças autogênicas, intrínsecas aos próprios organismos. Deduz-se que os ecossistemas primitivos eram habitados por pequeníssimos seres heterotróficos anaeróbios, onde processos abióticos sintetizavam a matéria orgânica. Tais seres eram, provavelmente, semelhantes a leveduras, obtendo energia por fermentação, na qual moléculas orgânicas são quebradas em compostos mais simples, liberando- se parte da energia delas. O esquema abaixo exemplifica o exposto: C6H12O6 2C2H6O + 2CO2 + energia (ATP) Admite-se que, a 2 ou 3 bilhões de anos, certas algas tornaram-se capazes de realizar a fotossíntese, mecanismo que resultou na produção própria de alimentos (tornaram-se autotróficas) e de oxigênio, conforme esquema abaixo: 6H2O + 6CO2 + luz solar C6H12O6 + 6O2 Essa teria sido a origem do oxigênio atmosférico, responsável pela primeira grande poluição sofrida pelos ecossistemas então existentes na Terra. O contínuo crescimento de O2 na atmosfera e nas águas, deve ter sido responsável pela extinção de parte significativa da vida terrestre inicial. Restaram apenas aqueles organismos capazes de se adaptar as novas condições e alguns poucos representantes da vida primitiva. Contudo, recordemo-nos que inexistindo oxigênio também não existia a camada de ozônio (O3). A conseqüência imediata é de que os mortais raios ultravioletas alcançavam e penetravam na terra e nas águas. Bioquímicos pensam que esses raios tenham iniciado um processo de evolução química que conduziu a formação de moléculas orgânicas complexas como os aminoácidos. O aumento do oxigênio na Biosfera promoveu modificações geoquímicas na Terra e no desenvolvimento da vida no globo. Os procariontes receberam a companhia de seres eucariontes, organizando-se aí a evolução para sistemas vivos mais complexos e maiores. Hoje, passados bilhões de anos de continuada evolução, muitos seres vivos não só se tornaram mais complexos, como foram capazes de ocupar praticamente toda a superfície da Terra. Desde regiões gélidas até as mais quentes e desde os picos mais altos até as maiores profundidades dos oceanos, registram-se organismos vivos. A Biosfera pode ser dividida em Epinociclo (biociclo das terras firmes), Talassociclo (biociclo das águas salgadas) e Limnociclo (biociclo das águas doces). Apesar das espécies serem diferentes entre si, ocorrem relações de interdependências entre elas. As populações interespecíficas que habitam determinada região, interagem não apenas entre si, mas também com o meio ambiente, sofrendo influências dele e, ao mesmo tempo, promovendo mudanças nele. NÍVEIS TRÓFICOS Os organismos que formam um ecossistema podem ser reunidos em níveis tróficos de acordo com seu modo alimentar, constituindo a cadeia alimentar. A matéria e a energia, numa cadeia alimentar, são transferidas de um nível trófico para outro, ocorrendo perda tanto de matéria quanto de energia, pois são utilizadas no metabolismo e excretadas. 2 Em cada nível trófico existe a biomassa, ou seja, a matéria orgânica, que apenas em parte será transferida para o nível trófico seguinte. Exemplo: os elefantes não comerão todas as árvores. Mesmo naquelas que forem derrubadas, restarão as raízes. Tais perdas de energia (90%) e matéria nas transferências entre níveis tróficos são representadas pelas pirâmides de energia. NÍVEL DOS PRODUTORES As plantas ocupam o primeiro degrau na escada dos níveis tróficos, uma vez que são organismos que promovem a fotossíntese. Elas utilizam a luz solar como fonte primária de energia de toda cadeia alimentar do ecossistema. NÍVEL DOS CONSUMIDORES No segundo patamar dos níveis tróficos estão os herbívoros por se nutrirem das plantas. Como se alimentam diretamente dos produtores, constituem os consumidores primários. No andar seguinte estão os carnívoros que se alimentam de herbívoros. Constituem o terceiro nível trófico, sendo consumidores secundários. Já os consumidores terciários, que formam o quarto nível trófico, são os carnívoros que se alimentam de consumidores secundários. Algumas espécies ocupam mais do que um nível trófico, como é o caso do Homem, que tanto se alimenta de produtores, quanto de consumidores primários, secundários ou terciários. Trata-se, portanto, de um ser onívoro. O último nível trófico é o dos decompositores, como bactérias e fungos, que se alimentam da matéria orgânica em decomposição. CICLOS BIOGEOQUÍMICOS Correspondem a ciclos da matéria, podendo ser biológicos, químicos e geológicos. Os biológicos compreendem todas as transformações que acontecem na natureza e que sejam devidas aos organismos. Os químicos adequam-se a ciclos de elementos químicos que ocorrem através de sucessivas reações químicas. Finalmente, podem ser geológicos, porque tudo advém da composição fundamental da Crosta Terrestre. Entre os ciclos mais importantes podemos apontar o da água, composto sem o qual inexistiria vida na Terra. Ciclo Biogeoquímico, também chamados de ciclo de nutrientes é, portanto, o caminho percorrido pelos elementos químicos que constituem os seres vivos e que deles se deslocam para o ambiente e vice-versa. Oxigênio, nitrogênio, carbono, hidrogênio, fósforo, enxofre e outros, são esses elementos químicos possuindo, cada um deles, um ciclo característico. CICLO DO OXIGÊNIO Três são as fontes de oxigênio: gás carbônico (CO2), gás oxigênio (O2) e água (H2O). Organismos vivos respiram O2 que, combinado com hidrogênio provindo da decomposição de moléculas orgânicas, forma a água. A água absorvida por plantas e animais é eliminada pela urina ou suor. Nas plantas é utilizada na fotossíntese, sendo liberando o oxigênio. Restos animais em decomposição eliminam CO2 e H2O. Como já vimos, o gás carbônico fornecerá parte do oxigênio para as moléculas orgânicas através da fotossíntese. 3 A manutenção da camada de ozônio (O3) depende, portanto, do ciclo do oxigênio na Biosfera. A destruição dessa proteção a penetração da radiação ultravioleta resultará na morte do plâncton, seres produtores da cadeia alimentar. CICLO DO NITROGÊNIO O nitrogênio é componente das proteínas e ácidos nucleicos, embora ocorra em grande quantidade no ar atmosférico, não é assimilado na forma de gás nitrogênio (N2), salvo por algumas bactérias e cianofíceas, fixadores de nitrogênio na forma de amônia (NH3) (Fig. 3). A transformação de amônia em nitritos (HNO2) se deve a bactérias denominadas Nitrosomonas. Já as Nitrobácter transformam nitritos em nitratos, sendo esta última a forma de absorção do nitrogênio pelas raízes. O nitrogênio é devolvido a atmosfera graças a atividade das bactérias desnitrificantes (Pseudomonas), fechando-se assim o ciclo. CICLO DO CARBONO É o constituinte dos compostos orgânicos encontrados no protoplasma. No ecossistema, o carbono percorre dois caminhos: (a) a decomposição das moléculas orgânicas através da respiração libera CO2 para a atmosfera e (b) transferência para níveis tróficos superiores porque parte das moléculas orgânicas de cada nível trófico é destruída por decompositores; o carbono é liberado na forma de CO2. BIOMAS Existem dois grandes biomas: o terrestre e o aquático. NITRITO NO2 Sistemas aquáticos Nitrosomonas AMÔNIO NH4 AMONÍACO NH3 Vulcanismo Absorção URÉIA H2N-C-NH2 O Excreção Amonificação (bactérias)ANIMAIS ATIVIDADES HUMANAS PLANTAS Absorção Nitrobácter Transferência trófica N2 ATMOSFÉRICO N2 e N2O Desnitrificação Pseudomonas Acinetobácter Descarga elétrica NOx, NO2 Bactérias de fixação biológica ALGAS Precipitação NH4 e NO3 ( aminoácidos proteínas ) + + _ _ _ NITRATO NO3 _ Figura 3 - Ciclo do nitrogênio na natureza, segundo Art et al. (1998), modificado. 4 BIOMAS AQUÁTICOS Os biomas aquáticos podem ser marinhos ou de águas doces. Os marinhos, biociclo chamado Talassociclo, compreende toda as águas salgadas (mares, oceanos, lagos salgados) da Terra, cobrindo 70% da superfície terrestre. Os ecossistemas de águas doces, denominados Limnociclos, compreendem a vida ocorrente nos rios, arroios, riachos, lagos e lagoas. Neste ecossistema a salinidade é baixa (18 g/l), a fauna é pobre e a flora é rica. O Limnociclo apresenta divisão em províncias: Lótica, ou das águas correntes (nascentes, curso médio, foz), onde a reprodução é dificultada pelo movimento das águas, e Lêntica, ou das águas paradas (lagos e lagoas), melhor “habitat” para a flora e a fauna dulceaquícola. As águas doces coletadas pelas folhas de alguns vegetais (Fitolimnos), prestam-se como criadouros para certas espécies de larvas de insetos transmissores de doenças, tais como, malária, febre amarela e elefantíase. RIOS Os rios possuem características que são determinadas pela velocidade da corrente que, por sua vez, depende da dimensão, rugosidade e profundidade do canal. Em última análise, contudo, o fator determinante é o índice pluviométrico. A oxigenação das águas de um rio é limitada pela velocidade da corrente e pela temperatura do meio aquoso. Assim, águas frias e rápidas são bem oxigenadas. Ao contrário, se o deslocamento é lento e a sua temperatura é mais alta, as águas serão pobres em O2. Rios com pH maior possuem abundante vida aquática em contraste com rios com pH menor. A razão é a quantidade de nutrientes: nos ácidos é menor. LAGOS Os lagos possuem dimensões variadas, sendo que a maioria não tem correntes. Independente do tamanho, tratam-se de feições temporárias, pois todos eles sofrerão assoreamento. Suas principais características são: menor quantidade de O2 que um rio, penetração da luz dependente da transparência das águas e temperatura das águas variável de acordo com a profundidade e as estações do ano. MANGUES Ocorrem na área litorânea de regiões tropicais bordejantes a lagunas ou a estuários. O solo lodoso é pobre em oxigênio e a salinidade é mutável por depender da variação da maré. Neste ambiente reproduzem-se muitos organismos da cadeia alimentar marinha. ESTUÁRIOS Localizam-se na parte mais baixa de um sistema fluvial. Atingido pela maré intermediária suas águas são salobras. A variação da salinidade é função da variação das marés, constituindo-se num problema enfrentado pelos organismos aí viventes. MARINHOS As principais características do ambiente marinho são: salinidade, marés, correntes, nutrientes minerais e zonação. A salinidade é, em média, 35 g/l numa temperatura de -02 oC a +32 oC, sendo os principais componentes o sódio (Na) e o cloro (Cl) que correspondem a 90% do conteúdo total. 5 As marés são ocasionadas pela atração que a Lua e o Sol exercem sobre as águas marinhas. As marés mais significativas são as de sizígia. Acontecem durante a Lua Cheia (maiores cheias) e durante a Lua Nova (maiores vazantes). O movimento de rotação da Terra faz com que, nos litorais, aconteçam dois avanços das águas (maré enchente) a cada 12 horas. As correntes marinhas são originadas pelos ventos, rotação da Terra e diferenças de densidades. As correntes de vento são geradas pelas diferenças de temperatura entre os polos e o equador. As de rotação se devem ao giro descrito pela Terra em torno de seu próprio eixo. Aquelas devidas as diferenças de densidade são criadas pelas interações entre salinidade e temperatura. No ambiente marinho, os nutrientes dissolvidos ocorrem em baixa concentração. Acredita-se que a pequena penetração da luz a certas profundidades e a ausência de nutrientes minerais sejam a razão do diminuto volume de autótrofos em relação aos heterótrofos. Admite-se que a conseqüência seja a infertilidade biológica geral do alto mar. A zonação dos oceanos é determinada pela quantidade de luz que neles penetra. De acordo com este critério, os oceanos apresentam as seguintes zonas: Eufótica, Disfótica e Afótica. A primeira, com lâmina de água que pode varia de 0 a 80 metros, é iluminada, vivendo aí a vegetação marinha e animais fitófagos. A segunda compreende profundidades que podem oscilar de 80 a 200 metros. A iluminação é débil, com ausência do comprimento de luz vermelha, apresentando a flora pouco desenvolvida e o domínio de animais carnívoros. A última delas, situada abaixo dos 200 metros de profundidade, é escura, muito fria, com ausência de produtores e com a presença de flora saprófita e fauna de carnívoros que se alimentam de restos que provém das regiões superiores. No bioma marinho ocorrem quatro grupos de seres vivos: plâncton, organismos microscópicos arrastados pelas correntes [ex.: algas (Fitoplâncton), microcrustáceos (Zooplâncton), nécton, animais nadantes (ex.: peixes, mamíferos), benton, animais que estão sempre em contato com o substrato (ex.: equinodermas, vermes) e neuston, animais que flutuam na superfície (ex.: aves marinhas). O plâncton é formado por algas unicelulares (Fitoplâncton) e por pequenos animais não fotossintetizantes (Zooplâncton). BIOMAS TERRESTRES Os biomas terrestres, ou Epiniciclos, são constituídos por um tipo de vegetação característica. Independente do bioma, todos tem um fator em comum: a necessidade de solo. Solo é a rocha decomposta e ou desagregada, com conteúdo biológico capaz de sustentar vida vegetal maior. A desagregação e a decomposição são efeitos do intemperismo físico e químico, respectivamente e, a esses produtos, soma-se a matéria orgânica. Depreende-se que são necessários centenas ou milhares de anos para a formação de solo. Fator importante para desenvolvimento de bons solos é o espaço entre os detritos que o formam. Solo com boa porosidade permite fácil acesso da água, de gases e de nutrientes para os organismos que habitam aí. Os solos se compõem de camadas diferentes denominadas horizontes (Fig. 4). A medida em que as folhas e outras partes dos vegetais caem no solo, transformam-se no humo. Contribuem para esta transformação minhocas, milípedes, moluscos, gafanhotos, térmitas, formigas, fungos, bactérias, protozoários, algas, etc. Observa-se que a comunidade do solo é principalmente heterotrófica. Os principais biomas terrestres são: tundra, taiga, floresta temperada, floresta tropical, campos e desertos (Fig. 5) TUNDRA 6 A vegetação, composta por musgos, líquens, capim e, no verão, plantas herbáceas, é típica de regiões vizinhas ao Círculo Polar Ártico, estendendo-se pelo Canadá, Europa e Ásia, onde a temperatura nunca ultrapassa os 10 oC. No verão, que dura 2 meses, a fauna característica é formada por renas, bois almiscarados, raposas, roedores, lebres, lobos, corujas das neves, aves migratórias e insetos (moscas e mosquitos). Durante o inverno prolongado (10 meses), os mamíferos de grande porte migram para o sul e os menores escondem-se em tocas; os insetos assumem formas dormentes enquanto certas aves (ptarmigans), lebres e raposas criam penas e pelagens brancas. Em razão do inverno rigoroso, o solo fica congelado a maior parte do tempo, propiciando-se condições para o desenvolvimento da vegetação apenas durante 2 ou 3 meses do ano. Mesmo durante o verão, quando há o degelo e formam-se extensas regiões encharcadas logo abaixo da superfície,o solo permanece congelado (“permafrost”). Apesar de pouco espesso (apenas alguns centímetros), o solo é fértil em razão do alto conteúdo em humos. O índice pluviométrico é o de regiões desérticas (250mm anuais), ocorrendo baixa luminosidade. FLORESTAS 7 As florestas apresentam uma estratificação dos vegetais que as compõem. Este fato proporciona condições de subsistência para diversas espécies diferentes. Exemplificamos com a floresta Tropical que possui cinco estratos: A - Árvores com mais do que 35 m de altura; B - Árvores com 35 a 20 metros de altura; C - Árvores com 20 a 10 metros de altura; D - Abaixo dos 10 metros, composta por arbustos, árvores jovens e samambaias; E - No chão, gramíneas e sementes. As florestas protegem o solo do impacto das chuvas, da ação abrasiva dos ventos e da incidência solar direta. Além disso, o estrato A absorve a radiação solar, diminuindo a temperatura para os estratos mais inferiores. Como a vegetação inibe a passagem dos ventos e é grande o volume de sua transpiração, a umidade é muito pronunciada no interior das florestas. FLORESTA CONÍFERAS (TAIGA) Taiga, palavra russa que significa floresta de coníferas, empresta o nome a este bioma, estendendo-se pelo Alasca, Eurásia, norte da Europa e Canadá. Situada próximas as tundras, registram-se aí invernos rigorosos, sendo os verões, contudo, mais longos e com temperaturas mais elevadas. As temperaturas mais altas no verão não permitem a permanência do gelo no sobsolo. Isto concorre para que a vegetação seja mais exuberante do que nas tundras, observando-se, além dos pinheiros, abetos e salgueiros. Em compensação a vegetação rasteira é escassa. A fauna principal se constitui por alces, veados, porcos-espinhos, ratos, lebres, linces, pássaros, lobos, ursos, raposas, martas e esquilos. A precipitação pluviométrica varia entre 250mm e 500mm anuais. 8 FLORESTA TEMPERADA São florestas abertas, compostas por faias, bordos, carvalhos, castanheiras, magnólias, plátanos e nogueiras, características da Europa, América do Norte, Japão, Austrália e América do Sul, em regiões onde a temperatura varia entre -30 oC no inverno e +30 oC no verão. A vegetação é formada por plantas decíduas ou caducifólias, típica de áreas com quatro estações bem definidas no ano. O material orgânico sofre decomposição mais lenta do que nas Florestas Tropicais, o que leva a formação de espessa camada de folhas mortas e detritos no solo. Veados, lobos, lebres, coelhos, insetos, aves, esquilos, raposas, répteis, anfíbios e daninhas, constituintes da fauna migram, hibernam ou se adaptam durante o inverno. Apesar do índice pluviométrico oscilar entre 750mm e 1000mm anuais, ocorre o fenômeno da “seca fisiológica”, que é a impossibilidade do aproveitamento da água pelos vegetais porque o solo permanece muito gelado. FLORESTA TROPICAL Também chamada de Pluvial Tropical, Sempre Verde, Tropical Fluvial ou Tropical Chuvosa, é formada por árvores muito altas (até 40 metros), cujas copas formam uma cobertura praticamente contínua, dificultando a chegada da luz no solo. Lá estão palmeiras, guaranás, seringueiras, castanhas-do-pará, angelins, sucupiras, amburanas, aguapés, gramíneas e copaíbas. É encontrada na América do Sul, África, Ásia, América Central e ilhas do Pacífico. O crescimento é rápido porque as plantas não são decíduas e porque predomina a atividade dos decompositores. Além disso, ocorre em regiões de climas quentes e úmidos, com intensa luminosidade nas partes altas e grande índice pluviométrico (acima de 2250mm anuais). A incidência solar deficiente na altura do solo, fez com que certos vegetais (ombrófilas) se adaptassem para realizar a fotossíntese. A flora hidrófita é completada pela extraordinária ocorrência de cipós, epífitas, samambaias e líquens. Insetos, aves, moluscos, lagartos, sapos, macacos e roedores são abundantes, tornando muito variados os nichos ecológicos. A floresta Amazônica é a floresta tropical de maior extensão no planeta. Também a floresta Atlântica, desenvolvida junto a costa brasileira, é uma floresta pluvial tropical. Juntas detém a maior biodiversidade da Terra. É possível o reconhecimento de três tipos de matas na floresta Amazônica: Mata de Terra Firme, Mata de Igapó e Mata de Várzea. A Mata de Terra Firme compreende regiões altas (90% da área da Amazonia), longe dos rios, onde crescem árvores de grande porte. A Mata de Igapó está permanentemente alagada por ser área baixa e próxima aos rios. A Mata de Várzea localiza-se em regiões que são alagadas durante parte do ano. A floresta Atlântica desenvolve-se na região litorânea, desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul. Os ventos carregados de vapor de água que sopram do mar estão entre os principais responsáveis pela umidade da floresta. As árvores mais características são palmeiras, quaresmeiras, jequitibás, ipês, canelas, cedros, jacabás, embaúbas e pau-brasil (raro). A temperatura nestas florestas (Amazônica e Atlântica) varia bastante dentro da floresta (21 oC e 32 oC). Nas copas mais elevadas há um rápido aquecimento durante o dia e um rápido resfriamento durante a noite. Ao nível do solo, como ocorre um isolamento realizado pelas folhas das árvores, existe uma demora na dissipação do calor. O solo é pobre em minerais e sua reposição depende da morte das plantas. É, portanto, um solo que não deveria ser utilizado na agricultura. Por se tratar de florestas existentes em regiões submetidas a chuvas intensas e constantes, tendo ocorrido desmatamento, as águas lixiviam os minerais e promovem rápida erosão ou então formam-se espessas crostas ferríferas. CAMPOS 9 São formados, dominantemente, por herbáceas, situando-se as maiores concentrações nos USA (pradarias), Rússia (estepes), África do Sul (savanas), Austrália, Brasil (cerrados e pampas), Uruguai e Argentina (pampas). As estepes russas são formadas, dominantemente, por gramíneas enquanto as savanas africanas, asiáticas e australianas apresentam também arbustos e árvores. O fator principal para a manutenção da vida é a disponibilidade em água (índice pluviométrico de 250mm a 750mm anuais), por estarem sujeitos a longos períodos de estiagem. Nas savanas africanas o índice pluviométrico oscila entre 1000mm e 1500mm anuais. A fauna pode ser abundante, como no caso da África, onde ocorrem antílopes, zebras, gnus, girafas, rinocerontes, leões, leopardos, gazelas, búfalos, aves, répteis e insetos. Na América do Sul vivem os tatus, pacas, catiás, guarás, graxains, lebres, répteis, insetos e aves. DESERTOS Correspondem a regiões onde adaptações especiais foram necessárias para que plantas e animais pudessem sobreviver a este ambiente quente e hostil. Os desertos quentes dispõem-se, principalmente, na altura dos trópicos de Câncer e de Capricórnio. Os maiores desertos do mundo estão na África (Sahara e Arábia Saudita), Austrália, Estados Unidos da América, Tibet., Gobi, Chile e Bolívia situando-se, nestes dois últimos países o Deserto de Atacama. A pobreza em água, reflexo do baixo índice pluviométrico (menos do que 250mm anuais), reduziu a vida a poucas espécies de cactos, lagartos, ofídios, insetos, lacraias, aranhas, escorpiões e roedores. A falta de chuvas na região pode ser devida a diversos fatores, entre os quais a alta pressão tropical, as elevações que impedem a passagem de nuvens carregadas de água para o interior do continente (sombras de chuva) ou a grande altitude. A inexistência de cobertura vegetal faz com que a temperatura suba muito durante o dia e caia bastante à noite. FITOGEOGRAFIA BRASILEIRA País de enorme extensão areal, o Brasil possui biomas únicos, graças as variações geoclimáticas que apresenta. Entre eles destacam-se: Floresta Amazônica, Floresta Atlântica, Campos Cerrados, Caatingas, Pampas, Zona de Cocais, Pantanal e Manguezais. Os dois primeiros já foramtratados como florestas tropicais. CAMPOS CERRADOS Campos Cerrados possuem vegetação tipo savana, estando presentes em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Amazônia e São Paulo, estendendo-se por 25% do território nacional. Entre os vegetais mais comuns estão árvores e arbustos com galhos tortos, folhas duras e derme espessa (ipês, piquinis, jacarandás-do-campo, gabirobas, caviúnas) e gramíneas (capim barba-de-bode, capim gordura). Seus estômatos permanecem abertos durante todo o dia e suas raízes se aprofundam muito em busca de água. Aves, répteis, tatus, tamanduás, sagüis, preás, ratos, veados catingueiros, cutias, lobos- guará, cachorros-do-mato e raposas-do-campo constituem a fauna deste bioma. O período de seca pode durar entre 5 a 7 meses, o que diminui muito a vazão dos rios. As chuvas podem se prolongar de setembro a abril, atingindo um índice de 1400mm a 1500mm anuais. Apesar disso, seus solos ácidos, ricos em alumínio, podem se prestar a agricultura intensiva, bastando correção do pH e uso de fertilizantes. 10 CAATINGAS As Caatingas são a paisagens dominantes no Maranhão, Paraíba, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe e Bahia, onde perfazem 1 milhão de km2. A vegetação apresenta folhas apenas no inverno (3 a 4 meses), na época das chuvas, que atinge de 250mm a 500mm anuais. As plantas são adaptadas, podendo apresentar espinhos, como o mandacaru, a coroa-de- frade, o xiquexique, a macambira ou parênquimas armazenadores de água, como as bombacáceas (barrigudas). A paisagem no verão é a de rios secos, sendo o São Francisco a única exceção. PAMPAS Ocorre no Rio Grande do Sul, juntamente com as florestas de araucárias, cobrindo 1,2 milhão de km2. As florestas de Araucaria angustifolia, ocorrentes no sul do Brasil, estão extremamente reduzidas, graças a exploração madeireira que sofreram nos últimos anos. Junto a esta floresta existiam canelas, ervas-mate e imbuias. A vegetação dos pampas, que é principalmente herbácea, é bem suprida de chuvas, sendo as estações bem marcadas. A atividade antrópica paulatinamente vem substituindo as matas de araucárias e os campos por áreas de agricultura. ZONA DE COCAIS Ocorrente no Maranhão, Piauí, Mato Grosso e Goiás, compreende florestas de palmeiras, essencialmente o babaçu e a carnaúba. Enquanto as matas de carnaúba são iluminadas porque as árvores são mais espaçadas, as de babaçu são densas e sombrias. PANTANAL Localiza-se em parte dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e porções da Bolívia e do Paraguai. De outubro a março os rios da região extravasam e suas águas cobrem uma imensa área, baixando o volume das águas de abril a setembro. As contínuas cheias auxiliam na fertilização, pois trazem muita matéria orgânica. A vegetação é diversificada podendo apresentar-se como cerrado, campo, florestas, etc. Assim, podemos observar palmeiras, buritis, aguapés, vitórias régias, tábuas, capins, etc. A fauna é muito rica, composta dominantemente por aves como cabeça-seca, martim- pescador, garças, biguatinga, tuiuiú e o gavião caracará. Ocorrem ainda emas, jacarés, capivaras, preás, pacas e insetos. MANGUEZAIS São os charcos desenvolvidos no litoral, sob influência das marés. Tratam-se de ecossistemas com rica diversidade de flora (destaque para a Avicennia e o mangue) e fauna (moluscos, crustáceos, peixes e larvas de animais aquáticos). ZOOGEOGRAFIA Toda a região biogeográfica é caracterizada por fauna específica. Existem as seguintes regiões: Neártica, Neotropical, Paleártica, Etiópica, Oriental e Australiana. A região Neártica compõe-se por cabras, gambás, jurões, bisões, bois almiscarados, linces, lebres, castores, esquilos e alces. 11 Na Neotropical ocorrem os seguintes animais: antas, macacos, lhamas, vicunhas, pumas, tatus, tamanduás, preguiças, capivaras, onças, guarás e gambás. Toupeiras, renas, bois, carneiros, cabras, jumentos, ursos, porcos-espinhos e lobos, correspondem a Paleártica. Na Etiópica existem zebras, antílopes, girafas, gnus, elefantes, gorilas, chimpanzés, leões, búfalos, hienas, rinocerontes e hipopótamos. A Oriental se caracteriza por: orangotangos, panteras negras, búfalos, tigres, elefantes indianos, gibões, rinocerontes e antas. Finalmente, na região Australiana encontramos: ursos coalas, cangurus, ornitorrincos e écnidas. GLOSSÁRIO Abiótico: sem vida. Ambiente: assembléia de condições existentes que sustentam os organismos na Biosfera, abrangendo clima, solo, água e outros organismos. Aminoácidos: compostos orgânicos que servem de base na elaboração de proteínas, contendo um grupo amino (-NH2) mais um grupo carboxila (-COOH). A estruturação básica de um aminoácido é R-CH (NH2) (COOH), onde R é o grupo variável. Anaeróbios: seres vivos que crescem na ausência de oxigênio atmosférico. Assoreamento: acumulação de sedimentos em um corpo d’água. Atmosfera: envoltório gasoso da Terra. Bactérias: microorganismos unicelulares, procarióticos, que se multiplicam por fissão ou por esporos, destituídos de clorofila ou núcleo envolto por membrana. Biodiversidade: qualidade e quantidade relativa das espécies dentro de uma dada área. Bioma: ecossistema regional representado por comunidades adaptadas a diferentes regiões do planeta. Biomassa: soma de todo o material biológico que vivem em uma área ou de uma determinada população. Biosfera: parte do globo terrestre em que vivem os seres vivos, compreendendo o conjunto de ecossistemas. Cadeia alimentar: sistema de níveis tróficos existente em todas as comunidades de seres vivos. Caducifólia: vide decíduas. Cianofíceas: pertencem ao reino monera e anteriormente eram classificadas no reino vegetal. São as algas verde azuladas que realizam fotossíntese, sendo estruturas parecidas com bactérias fotossintéticas. Crosta terrestre: vide litosfera. Decíduas: plantas que perdem sua folhagem ao final da estação de crescimento. Ecossistema: unidade de natureza ativa que combina comunidades bióticas e ambientes abióticos (litosfera, hidrosfera e atmosfera) com os quais interage. Variam em tamanho e características. Eucariontes: ser vivo cuja célula possui núcleo distinto envolto por uma membrana e organelas distintas dentro do citoplasma. Fitófagos: que se alimenta de plantas. Heterotróficos: organismo que não produz seu próprio alimento. Alimenta-se de moléculas orgânicas complexas elaboradas por plantas, ocorrentes em outros seres vivos ou em decomposição. Ex.: fungos. Hidrófita: adaptação à vida com excesso de água. Humo: material oriundo de vegetais, tão decomposto que a fonte orgânica não pode ser reconhecida. Interespecífico: duas espécies separadas. Leveduras: seres vivos unicelulares. Espécies comuns são as que produzem zimase (enzima), convertendo açúcar em dióxido de carbono. Litosfera: em sentido mais amplo é a Crosta Terrestre, composta pela Crosta Inferior (Sima) e pela Crosta Superior (Sial). Em sentido mais restrito é a parte mais superior do Sial que interage com a hidrosfera e a atmosfera. 12 Lixiviação: remoção de material em solução pela percolação da água através do solo, alcançando horizontes mais profundos. Nicho ecológico: localização e função física de um ser vivo num ecossistema. Nível trófico: degrau da escala alimentar onde se situam os organismos que se nutrem do mesmo tipo de alimento. Onívoro: organismo que se alimenta de mais de um nível trófico. Plâncton: ser vivo, normalmente microscópico, sobrenadante em águas doces ou salgadas. Poluição: mudança no ambiente onde, de maneira não desejável, são introduzidas concentrações altas de substâncias prejudiciais, tóxicas, calor ou ruído. População: organismos de uma mesma espécie que habitam uma área específica. Procariontes: organismo ou células sem núcleo distinto. Ex.: bactérias, algas-verdes-azuladas. Meio ambiente: totalidade dascondições exógenas envolventes, dentro das quais existe um organismo, um objeto, uma população ou uma condição. Proteína: grupo de compostos orgânicos que contém nitrogênio. Tratam-se de grandes moléculas compostas por uma ou mais cadeias longas ligadas, cada uma delas constituída por aminoácidos. Salobra: água com salinidade entre a da água doce e a da água do mar. Saprófita: plantas que se alimentam de restos orgânicos em decomposição. Bibliografia AMABIS, J. M. e MARTHO, G.R., 1998. Fundamentos de Biologia Moderna. 2a ed. São Paulo, Editora Moderna Ltda. 662 p. ART, H. W., BOTKIN, D., BORMANN, F.H., GRANT, W.C., KEGLEY, S.E., KELLER, E. A., REIDEL, C., RICHARDSON, J. e SHELTON, J., 1998. Dicionário de Ecologia e Ciências Ambientais. São Paulo, Companhia Melhoramentos de São Paulo. 583 p. CHARBONEAU, J.-P., CORAJOUD, M., CORAJOUD, C., DAGET, J., DAJOZ, R., DUSSART, M., FRIEDEL, H., KEILLING, J., LAPOIX, F., MOLINIER, R., OIZON, R., PELLAS, P., RAMADE, F., RODES, M., SIMONNET, D., VADROT, C.M. e DUMONT, R., 1979. Enciclopédia de Ecologia. São Paulo, Editora Pedagógica e Universitária Ltda. e Editora da Universidade de São Paulo. 479 p. COX, C.B. e MOORE, P.D., 1993. Biogeography. An Ecological and Evolutionary Approach. 5a ed. Cambridge, Blackwell Scientific Publications. 326 p. LEET, L.D. e JUDSON, S., 1980. Fundamentos de Geología Física. 5a reimpressão. México, D.F., Editorial Limusa.450 p. MOISÉS, H.N. e SANTOS, T.H.F., 1994. Biologia. São Paulo, Editora Nova Cultural Ltda. 256 p. MURCK, B.W., SKINNER, B.J. e POTER, S.C., 1995. Environmental Geology. New York, John Wiley & Sons. 535 p. ODUM, E.P., 1988. Ecologia. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan S.A. 434 p. PRESS, F. e SIEVER, R., 1986. Earth. 4a ed. New York, W.H. Freeman and Company. 656 p. 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