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Disciplina: Metodologia de Pesquisa Código: 2027004 Curso(s): Mestrado em Psicologia Data: 15/01/2021 Aluna: Daniele França dos Santos Ferreira 099010796@estudante.ufjf.br Prof.: Francis Ricardo dos Reis Justi Sternberg, R. J., & Grigorenko, E. L. (2001). Unified psychology. American Psychologist, 56(12), 1069–1079. doi:10.1037/0003-066x.56.12.1069 Em um diálogo aberto com a comunidade acadêmica de psicologia e tendo por objetivo solucionar a desunificação dessa disciplina, Sternberg e Grigorenko (2001) se garantem leitura importante para a percepção e análise da fragmentação metodológica no cenário da pesquisa psicológica atual. Os autores descrevem uma abordagem à psicologia a qual se referem como "psicologia unificada", que seria o estudo multiparadigmático, multidisciplinar e integrado dos fenômenos psicológicos através de operações convergentes. Ao longo do artigo, seccionado em seis partes principais, eles desvendam essa definição e exploram algumas de suas implicações. Na primeira seção, são revisados alguns dos esforços anteriores para conceber uma psicologia unificada. Aqui, destacam-se nomes como Baldwin (1902), que buscou integrar as teorias do desenvolvimento humano através da teoria da evolução, Staats (1991), que propôs a integração da psicologia através de teorias interlevel (ex.: aplicar princípios básicos da aprendizagem às teorias de aquisição da linguagem) e interfield (ex.: relacionar visões biológicas e psicológicas de um mesmo problema), além de outras contribuições de teóricos dos sistemas, como Magnusson (2000), Samerof e Bartko (1998), Lerner (1998), Cairns (1998) e, talvez o mais célebre, Bronfenbrenner (1997). De modo geral, essas variadas vertentes esbarraram na inexequibilidade de suas propostas, apontada pelos críticos da unificação da psicologia (McNally, 1992; Kukla, 1992; dentre outros). Em resposta a essa conjuntura, na segunda seção do artigo, Sternberg e Grigorenko discutem a importância de operações convergentes como uma alternativa viável para a integração da psicologia. O termo foi introduzido por Garner, Hake e Erikson (1956) e se refere ao uso de múltiplas metodologias para o estudo de um único fenômeno psicológico. Através de alguns exemplos de pesquisas, Sternberg e Grigorenko argumentam como esse conceito pode produzir percepções sobre fenômenos psicológicos que são opacas para qualquer metodologia única, e defendem que sua aplicação requer que os psicólogos sejam treinados em uma variedade mais ampla de metodologias ou trabalhem em equipes compostas por membros com vários tipos de especialização. No decorrer da terceira e quarta seções, é adicionada à discussão a necessidade de um estudo multidisciplinar e integrado de fenômenos psicológicos que não se concentre em linhas específicas de inquérito disciplinar, visto que a fixação em campo seria, na opinião dos autores, tão prejudicial quanto a fixação metodológica explorada na seção anterior. O mesmo se aplica aos investigadores que se isolam em um único paradigma com seu conjunto de pressupostos sobre teoria e pesquisa, por razões como tradição, afinidades e a propensão à especialização. É evidente que, apesar dos argumentos favoráveis às converting operations apresentados pelos autores, há ainda posicionamentos internos e externos contrários à integração da psicologia, os quais são parcialmente endereçados nas seções finais do artigo e contrapostos ao que poderia ser identificado como uma síntese dos pontos de vista de Sternberg e Grigorenko: que (A) a psicologia deve se organizar a partir dos seus fenômenos de interesse - e não da aplicação de algum método/teoria específico, e que, (B) para a implementação desse projeto, é preciso revisar o modo como a psicologia é ensinada. Mota, M. (2010). Metodologia de pesquisa em desenvolvimento humano: velhas questões revisitadas. Psicologia em Pesquisa, 4(2), 144-149. Nas últimas décadas, a evolução da Psicologia do Desenvolvimento tornou fundamental a produção nesta área para a concepção de programas de intervenção nas esferas da saúde e da educação. Nota-se, por consequência, que a demanda por avanços metodológicos cresce à proporção em que o escopo da Psicologia do Desenvolvimento se amplia. Tendo isso em mente, Mota (2010) aborda as perspectivas metodológicas atuais que se apresentam no estudo do desenvolvimento humano, enfatizando os principais problemas em se estabelecer diferenças etárias no desenvolvimento. Para tanto, a autora concentra sua exposição na comparação de dois modelos recorrentes no cenário da pesquisa psicológica: transversal e longitudinal. Os estudos transversais consistem na mensuração de uma mesma variável em indivíduos diferentes. Por se tratar de um método cuja duração é geralmente curta, o tempo e os recursos investidos nesses estudos são menores quando comparados ao modelo longitudinal, mas, em compensação, é necessário um número maior de participantes. Além disso, como já exposto por Baltes (1968) e Hamilton (2000), devido à heterogeneidade da amostra, é impossível que os pesquisadores controlem totalmente os efeitos das variações individuais, tampouco os efeitos de coorte. Uma solução para esses problemas seria testar, em momentos diferentes, os mesmos indivíduos, o que caracteriza um delineamento longitudinal. Apesar de oferecerem alternativas às lacunas dos estudos transversais, estudos longitudinais são onerosos e podem gerar vieses devido às perdas amostrais (especialmente quando há abandono diferencial) e aos efeitos de teste ‒ isto é, a alteração do desempenho dos participantes após serem avaliados repetidamente. Para contornar tais impasses, podem ser combinadas características de ambos os delineamentos, de modo que diferentes coortes são acrescentadas à pesquisa ao longo do tempo. Este tipo de estudo, denominado sequencial, é de custo elevado e tem por desvantagem exigir um grande número de participantes durante um longo período temporal. Entraves como os apontados por Mota prejudicam o estabelecimento de uma relação causal entre as variáveis, e isto se torna efetivamente impossível quando a variável de interesse não pode ser manipulada pelo pesquisador ‒ uma realidade excepcionalmente comum na Psicologia do Desenvolvimento. Nesses casos, a alternativa viável é conduzir observações sistemáticas, que, apesar de não determinarem relações causais, podem fornecer informações importantes sobre o desenvolvimento humano. Também é importante lembrar que algumas relações entre variáveis no desenvolvimento têm causação recíproca, o que gera desafios adicionais para a condução de um estudo que responda de forma válida às perguntas às quais se propõe. De modo geral, os métodos dispostos no trabalho da autora serão eficientes ou não a depender do objeto de estudo. Se o pesquisador desejar, por exemplo, investigar se há relação causal entre a aprendizagem de um repertório de habilidades (variável independente) e o desenvolvimento de vocabulário (variável dependente), um desenho experimental composto por pelo menos dois grupos cujos participantes serão expostos a diferentes gradações da VI seria recomendável. O mesmo não se pode dizer caso o pesquisador queira investigar as crenças de professores sobre as dificuldades de aprendizagem. Nesse caso, a coleta de dados pela aplicação de questionários é mais apropriada.