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Manual de avaliação da dor

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ESEnfC, 2016 
 
 
 
 
 
Avaliação da dor 
Manual de estudo - Versão 1 
 
 
 
 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: 
ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
1  
 
Avaliação da dor 
Manual de estudo - Versão 1 
Sumário 
Introdução ........................................................................................................................... 4 
Introdução à problemática da dor em Portugal ............................................................... 5 
Revisão de conhecimentos sobre dor ................................................................................ 6 
Conceito de dor ............................................................................................................... 6 
Tipos de dor ......................................................................................................................7 
Teorias de dor ...................................................................................................................7 
Repercussões da dor ....................................................................................................... 8 
Indicadores de dor e suas manifestações ao longo do ciclo vital .................................... 9 
Fatores que interferem com a perceção e resposta à dor ............................................... 12 
História de dor ................................................................................................................... 14 
Avaliação da intensidade dor ............................................................................................ 17 
Bases da avaliação da intensidade da dor .................................................................... 17 
Principais dificuldades e formas de resolução.............................................................18 
Critérios de selecção dos instrumentos ........................................................................ 19 
Instrumentos de avaliação da intensidade da dor .......................................................... 19 
Instrumentos unidimensionais de autoavaliação da intensidade da dor ................. 20 
Escala Visual Analógica (EVA) ............................................................................................................20 
Escala Numérica (EN) ..........................................................................................................................20 
Escalas de Faces .................................................................................................................................... 21 
Escala descritiva ou qualitativa ........................................................................................................... 22 
Instrumentos unidimensionais de heteroavaliação da intensidade da dor ............. 23 
Échelle Douleur Inconfort Nouveau-Né (EDIN) ................................................................................ 23 
Neonatal Infant Pain Scale (NIPS) ...................................................................................................... 24 
Premature Infant Pain Profile (PIPP) ................................................................................................. 25 
Neonatal Facial Coding System (NFCS) .............................................................................................. 26 
Objective Pain Scale (OPS) .................................................................................................................. 27 
Face, Legs, Activity, Cry, Consolability (FLACC) ................................................................................ 28 
Face, Legs, Activity, Cry, Consolability – Revised (FLACC-R) .......................................................... 29 
COMFORT-B ........................................................................................................................................30 
Behavioral Pain Scale (BPS) ................................................................................................................ 32 
Pain Assessment in Advanced Dementia (PAINAD) .......................................................................... 34 
Algoplus.............................................................................................................................................. 35 
The Abbey Pain Scale ........................................................................................................................... 36 
Instrumentos multidimensionais de autoavaliação ................................................... 37 
Brief Pain Inventory (BPI) ................................................................................................................... 39 
Douleur Neuropathique en 4 Questions (DN4) .................................................................................. 39 
Registo da avaliação da dor .......................................................................................... 40 
Correspondência da intensidade da dor com o tratamento ...................................... 40 
Avaliação da intensidade da dor como 5º sinal vital................................................... 41 
Protocolos de avaliação da dor ......................................................................................... 41 
CONCLUSÃO .................................................................................................................... 42 
Referências ........................................................................................................................ 43 
 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
2  
 
Índice de siglas 
APPT - Adolescent Pediatric Pain Tool 
BPS-IP - Behavioral Pain Scale – Intubated Patient 
BPS-NIP - Behavioral Pain Scale – Non Intubated Patient 
DGS – Direção Geral da Saúde 
DN4 - Questionário de Dor Neuropática em 4 Questões 
EDIN - Échelle Douleur Inconfort Nouveau-Né 
EN - Escala Numérica 
EVA - Escala Visual Analógica 
FLACC - Face, Legs, Activity, Cry, Consolability 
FLACC-R - Face, Legs, Activity, Cry, Consolability- Revised 
FPS-R - Revised Faces Pain Scale 
ICC – Coeficiente de Correlação Intraclasse 
NFCS - Neonatal Facial Coding System 
NIPS - Neonatal Infant Pain Scale 
OPS - Objective Pain Scale 
PAINAD - Pain Assessment in Advanced Dementia 
PIPP - Premature Infant Pain Profile 
RN – Recém-nascido 
TF – Técnicas farmacológicas 
TNF – Técnicas não farmacológicas 
UCI – Unidades de Cuidados Intensivos 
UCIN – Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais 
WBFS - Wong-Baker FACES® pain rating scale 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
3  
 
Índice figuras 
Figura 1 - Escalas EVA .................................................................................................................................20 
Figura 2 - Escala numérica .......................................................................................................................... 21 
Figura 3 - Escalas de faces ........................................................................................................................... 22 
Figura 4 - Escala descritiva ou qualitativa .................................................................................................. 22 
Figura 5 – Versão portuguesa da Escala Échelle Douleur Inconfort Nouveau-Né (EDIN) .................... 24 
Figura 6 – Versão portuguesa da escala Neonatal Infant Pain Scale (NIPS) .......................................... 25 
Figura 7 – Versão portuguesa da escala Premature Infant Pain Profile (PIPP)...................................... 26 
Figura 8 – Versão portuguesa da escala Neonatal Facial Coding System (NFCS) ................................. 27 
Figura 9– Expressão facial de dor ...............................................................................................................27 
Figura 10 – Versão portuguesa da escala Objective Pain Scale (OPS) ..................................................... 28 
Figura 11 – Versão portuguesa da escala Face, Legs, Activity, Cry, Consolability (FLACC) .................. 29 
Figura 12- Versão portuguesa da escala FLACC-R .....................................................................................30 
Figura 13– Versão portuguesa da escala COMFORT-B ............................................................................. 32 
Figura 14 – Versão Portuguesa da escala Behavioral Pain Scale – Intubated Patient (BPS-IP/PT) ..... 33 
Figura 15 – Versão Portuguesa da escala Behavioral Pain Scale – Non Intubated Patient (BPS-
NIP/PT) ................................................................................................................................... 34 
Figura 16 - Versão Portuguesa da escala PAINAD (PAINAD/PT) ............................................................ 35 
Figura 17– Versão Portuguesa da escala Algoplus ................................................................................... 36 
Figura 18 - Versão portuguesa da escala The Abbey Pain Scale ............................................................... 37 
Figura 19 - Adolescent Pediatric Pain Tool versão Portuguesa reduzida (APPT-PT versão reduzida) ... 38 
Figura 20 – Versão Portuguesa do Inventário resumido de dor (abreviado)........................................... 39 
Figura 21 – Versão Portuguesa do Questionário de Dor Neuropática em 4 Questões (DN4) .................40 
 
Índice Quadros 
Quadro 1 - Indicadores frequentemente associados à dor ......................................................................... 12 
Quadro 2 – Fatores que influenciam a percepção da dor .......................................................................... 13 
Quadro 3 - Modelo adaptado de Hester e Barcus 3 .................................................................................... 15 
Quadro 4 - Modelo McGrath ....................................................................................................................... 17 
Quadro 5 – Instrumentos de avaliação da intensidade da dor segundo a idade e contexto clínico ........ 41 
 
 
 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
4  
 
Introdução 
O controlo da dor é um direito humano fundamental e universal1 pelo que bastariam razões éticas para 
exigir um eficaz controlo, pois a dor não é inócua para a saúde. No plano clínico ainda não foi 
demonstrado qualquer argumento que comprove que deixar evoluir uma dor seja benéfico. Bem pelo 
contrário, a morbilidade e a mortalidade aumentam com a dor2. 
A avaliação da dor fundamenta as intervenções dos profissionais de saúde no seu controlo. Uma dor 
não identificada não poderá ser tratada e a sua não quantificação impede uma avaliação das 
necessidades de intervenção ou da eficácia dos tratamentos. Contudo, a avaliação da dor na criança 
apresenta desafios únicos. Se a identificação de um estado doloroso em geral, não coloca problemas na 
criança com capacidade de comunicação verbal (a partir dos dezoito a vinte e quatro meses). Na 
criança pré-verbal a sua identificação só é possível com recurso a medidas fisiológicas e/ou 
comportamentais, o que a torna ainda mais vulnerável e dependente de uma avaliação subjectiva de 
quem dela cuida. O conhecimento e reconhecimento das manifestações não-verbais da dor devem, por 
isso, ser interpretados pelos profissionais de saúde eliminando todas as incertezas, ou seja de maneira 
objectiva, rápida e confiável, evitando erros grosseiros. 
A avaliação da dor é uma actividade que faz parte das funções e obrigações dos profissionais de Saúde 
por ser indispensável à excelência dos cuidados de saúde. Actualmente não bastam apenas razões 
éticas para uma avaliação, prevenção e tratamento da dor, pois para além das pessoas terem o direito 
de não sofrer, razões fisiopatológicas resultantes de complicações associadas à dor não tratada e até 
económicas (abstinência ao trabalho, à escola, o aumento dos tempos de internamento, da 
morbilidade e mortalidade) fazem com que sejam uma prioridade 
Embora com tendência para melhorias, a prática dos cuidados continua a demonstrar que a avaliação 
da dor é uma actividade ignorada, esquecida ou realizada de forma pouco fidedigna (precisa).3 Esta 
prática compromete seriamente a qualidade dos cuidados, na medida em que a eficaz prevenção e o 
tratamento da dor carece de uma avaliação segura e exacta. A não satisfação desta condição é como 
conduzir um carro em dia de nevoeiro onde o perigo espreita a qualquer momento. 
Avaliar um fenómeno complexo e subjectivo como é a dor não é tarefa fácil. Contudo, o conhecimento 
adquirido nesta área permite aos profissionais de saúde o reconhecimento das dificuldades inerentes a 
esta actividade e oferece soluções viáveis para a sua resolução. 
Desde 1989 que a avaliação da intensidade da dor como 5º sinal vital é recomendada.3 Os esforços 
desenvolvidos para a sua implementação na prática dos cuidados em Portugal não se têm revelado 
tarefa fácil. O desenvolvimento de mais uma tarefa (avaliação e registo da intensidade da dor), as 
dificuldades na sua execução com especial relevo no grupo pediátrico, geriátrico, com multideficiência 
e em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) têm ditado o insucesso. 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
5  
 
As razões que justificam esta Unidade Curricular resultam do facto de se reconhecer que a avaliação da 
dor é das actividades mais complexas que os Enfermeiros desempenham e a falta de formação 
existente nesta área. 
Com este manual pretendemos que os formandos possam desenvolver as suas capacidades de: 
argumentar criticamente mitos e crenças relacionadas com a avaliação da dor; elaborar uma história 
de dor; avaliar a intensidade da dor na pessoa de acordo com o seu contexto clínico; analisar a 
utilidade da aplicação de escalas de avaliação de dor e o registo da sua intensidade; interpretar as 
propriedades psicométricas e utilidade clínica de alguns instrumentos de dor; elaborar protocolos de 
implementação da avaliação da intensidade da dor como 5º sinal vital. 
 
Introdução à problemática da dor em Portugal 
Quantificar a verdadeira dimensão da dor e suas repercussões na vida das pessoas não tem sido fácil 
devido às múltiplas classificações e definições de dor e à diversidade metodológica dos estudos. Em 
Portugal, o Observatório Nacional de Saúde, em 2002, estudou a prevalência da dor através de 
entrevistas telefónicas a famílias tendo concluído que 74% dos entrevistados tinham tido algum tipo de 
dor nas duas semanas anteriores à entrevista telefónica e as lombalgias, dores osteoarticulares e 
cefaleias eram os tipos de dor mais referidos. A dor oncológica representa uma pequena percentagem 
dos doentes que padecem de dor persistente. No entanto, esta patologia representa a segunda causa de 
morte em Portugal e a dor moderada a intensa existe em mais de 90% dos doentes em situação 
oncológica terminal. O impacto socioeconómico da dor não está estudado em Portugal. 
Segundo o Observatório Nacional de Saúde, em 2002, a dor persistente definida como dor contínua ou 
recorrente com duração superior a seis meses e presente no último mês afeta 36% dos adultos, em 
cerca de metade a dor interfere nas suas actividades domesticas ou laborais, 35% estão insatisfeitos 
com o tratamento e 17% apresentam depressão. Estima-se que a dor persistente afecte em média, um 
em cada cinco europeus adultos e a prevalência possa variar entre os 11,5 e os 55,2% aumentando com 
a idade e afectando mais as mulheres do que homens. Em termos de impacto económico, estima-se 
uma média de 14 dias de baixa por ano, o que representa mais de 290 milhões de Euros por ano de 
custos salariais suportados pela Segurança Social.A dor pediátrica em Portugal tem sido pouco estudada, mas o ultimo estudo conhecido realizado em 
2015 3 revelou que a história de dor estava registada em 397 (47,8%) dos processos clínicos, sendo que 
em 373 (94,0%) esta foi obtida nas primeiras 24 horas de internamento da criança. O enfermeiro 
identificou a técnica não farmacológica preferida da criança em 124 (31,2%) dos casos. A prevalência 
de avaliação da intensidade da dor foi de 297 (35,8%) e a adequação da escolha da escala de dor em 
função da idade da criança foi considerada correta em apenas 359 (59,3%) das situações. 4 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
6  
 
A frequência e potencial para causar incapacidade fazem da dor um verdadeiro problema de saúde 
pública que exige uma actuação planeada, organizada e válida cientificamente em prol da humanização 
dos cuidados e qualidade de vida das pessoas. 5 Apesar da magnitude dos efeitos nefastos da dor, esta 
continua a ser inadequadamente avaliada e tratada. 
 
Revisão de conhecimentos sobre dor 
 
Conceito de dor 
Sabe-se hoje, que a dor é um fenómeno complexo e multidimensional com uma componente 
fisiológica, sensorial, afectiva, cognitiva, comportamental e sociocultural que percepcionamos como 
presente ou subjacente às descrições das experiências de dor ou da nossa própria vivência. Cada 
pessoa tem um significado próprio de dor marcado pela particularidade e unicidade do seu ser. É por 
isso que não há dor sem significação afectiva ou seja, sem sofrimento. 
Segundo a IASP a dor é “uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a danos 
reais ou eventuais dos tecidos ou descrita em termos desses danos”. Esta definição encerra o conceito 
de dor como experiência individual e subjectiva e o da dor com dois componentes indissociáveis. O 
sensorial determinado neurofisiologicamente e o emocional baseado no estado afectivo, experiências 
passadas, estádio de desenvolvimento e inúmeros outros factores de ordem pessoal, cultural e 
espiritual, que requerem aprendizagem desde muito cedo na vida das pessoas. Para alguns 
especialistas, esta definição é problemática pela exigência de auto-relato. Não consideram as pessoas 
em coma, demenciados, deficientes mentais, com perturbações da verbalização, crianças pré-verbais e 
todos aqueles privados de experiências de dor. O conceito de dor deve incluir todos aqueles que 
mesmo com incapacidade em a verbalizarem possam beneficiar de uma avaliação objectiva da sua dor. 
A multiplicidade de experiências dolorosas, a singularidade da dor e os inúmeros factores que a 
podem influenciar tem dificultado a tarefa de a definir de forma satisfatória. Todavia, parece 
consensual que a dor é uma experiência única, individual, determinada pelas experiências pessoais 
anteriores, pelo significado da situação particular e padronizada por modelos e valores culturais. Tal 
como nos diz Daniel Serrão a dor é uma vivência da autoconsciência. 
O conhecimento actual evidencia na dor seis dimensões: 
 Fisiológica – com os seus aspectos físicos, neurológicos e bioquímicos como a transdução, 
transmissão, modulação, percepção, vias de transmissão, tipos e síndromes que podem 
variar na mesma doença ou no decurso da própria doença; 
 Sensorial – discrimina o local, intensidade e qualidade da dor; 
 Afectiva – abrange respostas emocionais negativas ou até positivas como a ansiedade, 
angústia, depressão, raiva, agitação, irritabilidade, sofrimento, medo e alívio; 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
7  
 
 Cognitiva – atribuição de significado à dor, atitudes e convicções que temos sobre a dor e 
seus tratamentos, preferências, estratégias de coping, conhecimentos e limitações inerentes 
ao desenvolvimento cognitivo; 
 Comportamental – manifestações comportamentais em relação à dor como a expressão 
facial, vocal, corporal, relação com os outros, consolabilidade, alterações do sono e 
actividades lúdicas e muitas outras; 
 Sociocultural – factores ambientais, familiares, étnicos, culturais, espirituais, religiosos, 
sociais e contextuais. 
Esta concepção multidimensional da dor tem implicações directas na sua avaliação e controlo ao exigir 
uma intervenção interdisciplinar, multimodal e individualizada. Nas pessoas cuja situação clinica ou 
de desenvolvimento não lhes permite a verbalização, as suas alterações comportamentais são o melhor 
relato da dor. 
 
Tipos de dor 
Podemos distinguir dois tipos de dor tendo em conta o critério tempo: a dor aguda e dor persistente. 
Clinicamente esta divisão é útil, porque a dor aguda tem como principal causa o excesso de nociceção, 
enquanto a dor persistente pode ser gerada na ausência de estímulo nocivo e onde os factores 
psicológicos, comportamentais, afectivos e socioculturais desempenham um importante papel. 
A dor aguda acompanha normalmente distúrbios agudos estando associada a traumatismos dos 
tecidos ou inflamação causados por cirurgia, queimaduras, fracturas, procedimentos de diagnóstico e 
terapêutica ou outros traumatismos ou doenças, podendo estar igualmente presente em exacerbações 
de doenças crónicas como as oncológicas, artrite, entre outras. Estas dores diminuem 
progressivamente até desaparecer ao fim de alguns dias ou semanas, ou quando a cura ocorre. Tem 
uma função biológica inicial de alerta e caracteriza-se pela combinação de lesão tecidular, dor, 
ansiedade, medo e é geralmente acompanhada por fenómenos de disfunção autonómica. 
Correntemente a dor aguda é definida como uma dor previsível, de duração inferior a três meses, que 
desaparece quando tratada podendo estar associada a respostas do sistema nervoso autónomo e 
frequentemente acompanhada de ansiedade e medo. 
A dor persistente é uma entidade clínica de longa duração (três ou mais meses) sem função biológica. 
Não é sintoma de doença ou ferimento, mas uma verdadeira doença que gera debilidade e causa 
depressão profunda. Este tipo de dor caracteriza-se por estados de hiper excitabilidade persistentes 
que permanecem independentemente do desaparecimento da lesão. O sistema nervoso revela-se 
incapaz de restabelecer a actividade neuronal para níveis homeostáticos normais. A pessoa 
normalmente utiliza termos para descreve esta dor como tipo choque eléctrico, queimadura, 
formigueiro, dormência ou comichão. 
 
Teorias de dor 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
8  
 
As teorias da consideram na experiência dolorosa, aspectos: sensório/perceptuais (discriminação da 
dor no tempo, espaço e intensidade); emocionais/motivacionais (sentimentos negativos que motivam 
respostas comportamentais à dor; e cognitivos / avaliativos (conhecimento, avaliação e concepção da 
dor). Tradicionalmente dividem-se em teorias neurofisiológicas e psicológicas reflectindo caminhos 
alternativos e complementares numa tentativa de explicar a complexidade do fenómeno dor. A teoria 
do portão proposta em 1965 por Melzack e Wall 6 propicia atualmente a explicação mais abrangente do 
fenómeno dor. 
Esta teoria integra dentro de um princípio compreensivo o alto grau de especialização fisiológica das 
unidades receptor-fibra e das vias de condução do sistema nervoso, o papel da organização espacial e 
temporal da transmissão da informação, a influência dos processos psicológicos na percepção e 
reacção à dor e os fenómenos clínicos de somação temporal e espacial de propagação e da persistência 
dolorosa depois da cura. A teoria do portão admite a existência de um mecanismo neuronal (porta ou 
portão), localizado nos cornos posteriores da espinal-medula que funciona deixando ou não passar o 
fluxo de impulsos eléctricos desde as fibras aferentes primárias até ao sistema nervoso central. O grau 
segundo o qual a porta abre ou fecha é terminado pelo equilíbrio da actividade das vias aferentes 
primárias(fibras Aβ e A, C) e pelas influências descendentes do cérebro. A porta abre pela acção de 
neurotransmissores de excitação e fecha pela libertação de neurotransmissores de inibição. Quando a 
quantidade de informação que atravessa o portão ultrapassa um certo nível crítico são activadas zonas 
neurais responsáveis pela experiência dolorosa e sua reacção. Admite-se igualmente, um mecanismo 
de controlo do portão por via descendente desde os centros corticais superiores. Mesmo numa situação 
em que o impulso das fibras A e C sejam dominantes (o que faz abrir a porta e percepcionar a dor) a 
porta pode fechar-se por acção destes centros superiores e mediante a libertação de substâncias 
inibitórias opióides e não opióides 
 
Repercussões da dor 
A dor está associada a uma resposta de stress neuroendócrina proporcional à sua intensidade e que 
resulta da ativação do sistema nervoso simpático e de reflexos mediados pelo hipotálamo. A dor, 
quando não controlada, tem o potencial de afetar quase todas as funções do organismo e de influenciar 
de forma adversa a morbilidade e mortalidade.6 
A resposta global de stress com libertação maciça de hormonas catabólicas (adrenalina, noradrenalina, 
corticoides, aldosterona, glucagon, hormona do crescimento), e a supressão de hormonas 
anabolizantes (insulina e testosterona), desencadeiam o aparecimento de um estado catabólico 
generalizado com repercussões no funcionamento de vários todos os órgãos e sistemas do organismo. 
No sistema cardiovascular desencadeia-se um estado de hipertensão, taquicardia, aumento da 
resistência vascular sistémica e aumento das necessidades de oxigénio do miocárdio que pode agravar 
a dor e precipitar a isquémia ou a rutura de placa ateroesclerótica. Ao nível respiratório, o aumento das 
necessidades de oxigénio e o aumento da frequência respiratória induzem mais dor. A imobilidade, 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
9  
 
como forma de defesa prejudicam o reflexo de tosse e eliminação de secreções promovendo o 
aparecimento de atelectasias, infeções e hipoxemia. Os sistemas gastrintestinais e urinários sofrem 
alteração pelo aumento do tónus dos esfíncteres, diminuição da motilidade intestinal e urinária e 
hipersecreção gástrica que conduzem a obstipação, náuseas e vómitos, retenção urinária, oligúria, 
úlceras gástricas e outros transtornos decorrentes da distensão abdominal. O sistema hematológico 
apresenta aumento da adesividade plaquetária, fibrinólise reduzida e hipercoaguabilidade com risco 
aumentado de estase venosa, trombose venosa profunda e tromboembolismo. A imunidade enfraquece 
por indução de linfopenia que predispõe ao aumento das infeções, recorrência ou expansão de tumores 
pré-existentes. O sistema endócrino comanda e desencadeia aumento da resposta neurovegetativa e 
secreção de hormonas do eixo adreno-hipofisário-hipotalâmico, com o aumento de hormonas 
catabólicas e a diminuição de hormonas anabólicas conduzindo ao desenvolvimento de um balanço 
nitrogenado negativo, intolerância aos carbohidratos, lipólise aumentada, retenção de água e sódio e 
expansão secundária do espaço extracelular. No bem-estar geral da pessoa que pode apresentar 
fraqueza e atrofia muscular, fadiga, limitação de movimentos, distúrbios do sono, anorexia, ansiedade, 
depressão e outros transtornos a nível comportamental (irritabilidade, isolamento, entre outros). 
Vários trabalhos confirmaram que crianças com experiências significativas de dor apresentam uma 
sensibilidade aumentada, tendência para somatizações, alterações do esquema corporal, regressões, 
dificuldades de coordenação, alterações na alimentação, no comportamento e outros Nos idosos, o 
processo de envelhecimento caracteriza-se por um aumento de problemas de saúde crónicos e 
incapacidades associadas e uma diminuição gradual das reservas funcionais do organismo, 
comprometendo a sua capacidade de homeostasia.6 
 
Indicadores de dor e suas manifestações ao longo do ciclo vital 
 
Atualmente, admite-se que a resposta comportamental à dor aguda seja bi-fásica. A primeira fase 
caracterizada pela expressão de comportamentos associados ao stress (agitação, híper motricidade dos 
membros, crispação da face, choro, gritos) e sinais fisiológicos (elevação da tensão arterial, pulso, 
frequência respiratória, pressão intracraniana, sudorese palmar, diminuição da saturação de oxigénio, 
diminuição do tónus vagal e palidez). A segunda fase da resposta é marcada pelo aparecimento 
progressivo de uma inércia psicomotora com perturbação de actividades recreativas, sono e repouso, 
comer, falar ou de mobilização. A rapidez de instalação desta segunda fase não está bem documentada, 
embora se pense que possa ocorrer ao fim de algumas horas, sendo mais rápido o seu aparecimento 
nas pessoas com maior intensidade de dor e clinicamente debilitadas. 
Para além do auto-relato da dor não existe nenhum outro indicador específico (fisiológico, 
comportamental ou bioquímico). Contudo, as respostas comportamentais tendem a ser mais 
específicas e consistentes que os indicadores fisiológicos, cuja variação é muito suave dado o carácter 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
10  
 
bifásico da dor. As respostas comportamentais apresentam-se como um método muito mais acessível e 
prático que as medidas fisiológicas. A avaliação precisa das respostas fisiológicas e hormonais à dor, 
para além de não serem específicas, requer técnicas invasivas, dispendiosas e demoradas. 
Os estudos realizados para identificarem os indicadores da dor mais utilizados pelos profissionais de 
saúde demonstram que os Enfermeiros utilizam preferencialmente variáveis comportamentais e fazem 
uma utilização mínima de equipamentos para as variáveis fisiológicas enquanto, os Médicos tendem a 
avaliar mais as variáveis fisiológicas. 
No recém-nascido (RN), os indicadores da dor mais focados são a expressão facial e corporal, 
modificações no comportamento e sinais físicos. Uma expressão facial da dor apresenta sulcos acima e 
entre as sobrancelhas, compressão da fenda palpebral, sulco nasolabial, contractura e abertura boca, 
tremor do queixo, face cianosada com choro, grito e lágrimas, língua tensa ou protusa, olhos fechados 
e fossas nasais largas e salientes. Na expressão corporal pode-se observar agitação (membros em 
flexão e extensão ou membros fixos em extensão, hipertonia e punhos cerrados), prostração 
(motricidade pobre com movimentos pouco amplos) e atitude antiálgica. As modificações no 
comportamento estão relacionadas com sono agitado com despertar frequente, irritabilidade e 
consolabilidade difícil, agitação ao contacto, diminuição da interacção, indiferença à estimulação, 
prostrado e sucção contínua e exacerbada apenas interrompida pelo choro. Os sinais físicos associados 
à dor são a cianose, palidez, hipoxia, polipneia, taqui ou bradicardia e hipertensão arterial. Importa 
salientar que as respostas dos RN prematuros são menos marcadas que os de termo, pelo que os 
profissionais de saúde devem estar atentos aos mais leves sinais da dor como: choro, caretas mais 
suaves, postura flácida, hipotonia e postura sem reacção. 
Nos lactentes as respostas de dor mais evidentes são o choro, expressão facial (olhos fechados, 
sobrancelhas elevadas e marcadas, abertura das fossas nasais, sulcos nasolabiais marcados boca aberta 
e protusão da língua), expressão de emoções (alegria, surpresa, medo, raiva, desprezo), expressão 
corporal (hipertonia, arqueamento do tronco, agitação, movimento de retirada e flexão dos membros, 
localização e protecção da zona dolorosa), alterações comportamentais (alimentares, sono e vigília, 
resistência física, falta de cooperação, irritabilidade e inquietude) e sinais físicos (polipneia, 
taquicardia e hipertensão arterial). Entre todas as respostas, a expressão facial tem sido a medida deavaliação comportamental mais estudada, sendo considerada por alguns autores, como o padrão de 
ouro das respostas comportamentais do lactente. 
As crianças do ano aos três anos apresentam como respostas mais frequentes o choro, grito, expressão 
facial de raiva, caretas, cerrar os lábios e dentes, balançar, arregalar os olhos, agitação, agressividade 
(morder, bater ou fugir), protecção da zona dolorosa, adoção de posição antiálgica e imobilidade. Por 
volta dos dezoito a vinte e quatro meses começam a sinalizar verbalmente a dor, sendo capazes de a 
descrever a partir dos vinte e quatro meses, embora não consigam explicar a sua intensidade. 
Os conflitos psicossexuais da criança dos quatro aos seis anos tornam-nas mais vulneráveis a ameaças 
de lesão corporal. O conceito de imagem corporal está pouco desenvolvido e o medo da mutilação está 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
11  
 
no auge. Para elas o medo de perder qualquer parte do corpo é ameaçadora, os seus medos de 
castração dificultam ainda mais a compreensão de procedimentos médicos e/ou de enfermagem 
ligados à área genital, tais como a circuncisão e algaliação. As reacções à dor modificam-se durante 
este período, apresentando um crescente auto controlo enquanto a vivenciam. As reacções mais 
frequentes são: a expressão verbal (a dor é definida pela sua localização ou propriedades físicas 
desagradáveis ou com termos associados à doença); a descrição da sua intensidade; as alterações 
comportamentais como agitação, agressão física; as alterações na sociabilidade e dependência; e as 
alterações nos sinais vitais. 
Na criança dos seis aos dezassete anos as respostas de dor estão ligadas ao desenvolvimento cognitivo. 
Comportamentos tais como gritos e choro diminuem quando a criança desenvolve o pensamento 
operacional concreto por volta dos sete anos de idade. Aos dez anos, a maioria das crianças demonstra 
pouco medo ou resistência à dor. Comunicam verbalmente a sua dor, e conseguem descrever de forma 
clara a sua intensidade e qualidade. Os adolescentes pensam na doença em termos de uma alteração 
interna e as suas ideias sobre a fisiologia normal e mecanismos da doença podem nada ter a ver com a 
realidade. Isto conduz ao desinteresse por actividades antes desempenhadas e ao desenvolvimento de 
fantasias sobre a natureza das alterações responsáveis pelas suas dores. Os comportamentos 
observados, são muito diversificados podendo incluir imobilidade, rigidez, posição fetal, proteger ou 
tocar a área dolorosa e fechar os punhos. Podem tornar-se irritáveis, zangados, tristes, deprimidos, 
com comportamentos agressivos, isolarem-se e terem mudanças nos padrões de sono. Dependendo do 
estilo de coping podem prestar atenção à causa da dor ou mostrarem-se indiferentes e tentarem 
distrair-se, o que se pode traduzir em mínimas manifestações da dor. A expressão facial é difícil de ser 
avaliada devido à aprendizagem social sobre a aceitação do comportamento doloroso. 
Não existem evidências de que a expressão de dor seja diferente entre adultos e idosos. Esta resposta 
está muito condicionada por factores culturais. Todavia, a Sociedade Geriátrica Americana enumera 
como respostas de dor da pessoa idosa a: expressões facial (cara triste, testa enrugada, os olhos 
cerrados, piscar dos olhos); verbalizações e vocalizações (suspiros, gemidos, grunhidos, respiração 
ruidosa, pedindo ajuda); movimentos corporais (rígidos, postura corporal tensa, balançando, 
mobilização restrita); alterações nas interacções interpessoais (recusa alimentar, alterações do apetite, 
aumento do número de períodos de repouso, mudanças no padrão de sono / repouso, súbita cessação 
de rotinas); alterações do estado mental (choro ou lágrimas, aumento de confusão irritabilidade ou 
distress). Ressalva que algumas pessoas demonstram pouco ou nenhum comportamento específico 
associado com dor. 
 
 
 
 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
12  
 
Quadro 1 - Indicadores frequentemente associados à dor 
1. Comportamentais: 
 expressão vocal: relato de dor, grito, choro, choramingo; 
 expressão facial: sulcos acima e entre as sobrancelhas, compressão da fenda 
palpebral, sulco nasolabial, contractura e abertura boca, tremor do queixo, língua tensa 
ou protusa, olhos fechados e fossas nasais largas e salientes; 
 expressão corporal: agitação (membros em flexão e extensão ou membros fixos em 
extensão, hipertonia e punhos cerrados), prostração (motricidade pobre com 
movimentos pouco amplos), atitude antiálgica, arqueamento do tronco, localização e 
protecção da zona dolorosa resistência física; 
 modificações comportamentais: sono agitado com despertar frequente, 
irritabilidade, inquietude, consolabilidade difícil, agitação ao contacto, diminuição da 
interacção, indiferença à estimulação, prostrado e sucção contínua e exacerbada apenas 
interrompida pelo choro, expressão de emoções (alegria, surpresa, medo, raiva, 
desprezo) agressividade (morder, bater ou fugir), falta de cooperação). 
2. Fisiológicas: 
 sinais físicos: alteração dos sinais vitais, cianose, palidez, hipoxia, hipertensão 
intracraniana, midríase, sudorese; 
 alterações endócrino-metabólicas: libertação de hormonas que levam à 
mobilização de substratos e catabolismo como a libertação de cortisol, adrenalina, 
noradrenalina, corticóides, aldosterona, glucagon, hormona do crescimento e supressão 
de insulina e testosterona. 
 
 
Fatores que interferem com a perceção e resposta à dor 
 
A perceção, resposta, avaliação e tratamento da dor são modificadas por inúmeros factores que mútua 
e simultaneamente podem influenciar positiva ou negativamente a experiência de dor das pessoas. Os 
instrumentos disponíveis para avaliar a intensidade da dor não incorporam os aspectos contextuais 
que influenciam a experiência dolorosa. Por essa razão, os profissionais de saúde devem estar 
informados sobre o modo como a percepção da dor pode ser influenciada por estes factores e inclui-los 
subjectivamente na avaliação. 
Pedagogicamente, podemos classificar estes factores em biológicos, cognitivos, psicológicos e 
socioculturais. A pesquisa sugere diferentes padrões de resposta o que reforça a convicção de que a dor 
e as respostas a ela associadas são únicas. Estas diferenças podem ser causadas por inúmeras variáveis 
e com elevada variabilidade. Entre todos os factores, os culturais desempenham um papel primordial. 
Os valores culturais veiculados pela sociedade como o sofrer em silêncio (“gente grande não chora” ou 
“os homens não choram”) marcam a resposta à dor. Dor e cultura estão muito associadas, sobretudo 
quando as respostas e os comportamentos estão relacionados com regras e tradições de uma 
sociedade. A tolerância à dor varia de tal forma, que pessoas com alta tolerância podem lidar com dor 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
13  
 
intensa durante um longo período de tempo. Os próprios valores culturais dos profissionais de saúde 
podem influenciar a avaliação da dor. São exemplos: o responder de imediato ao choro, mas não à 
imobilidade; convicção de que sofrer com dor é inevitável; que a criança se queixa exageradamente; 
entre outros. 
 
Quadro 2 – Fatores que influenciam a perceção da dor 
 Factores biológicos 
 Genéticos – determinam o tipo e quantidade de neurotransmissores e receptores. 
 Género – Diferenças nas respostas à dor nos lactentes e crianças de ambos os sexos. 
 Maturação neurológica – influência o processamento e modulação do impulso doloroso no 
sistema nervoso. 
 Experiência dolorosa – alterações no processamento do sinal doloroso baseado nas experiências 
prévias. 
 Factores cognitivos 
 Nível cognitivo – influência na compreensão das experiências da dor e a capacidade para a 
descrever. 
 Factores psicológicos 
 Temperamento– personalidades “difíceis” podem expressar comportamentos negativos em maior 
quantidade quando sofrem dor. Os tipos de personalidade mais “fáceis” podem expressar 
comportamentos menos negativos, o que leva a subestimação da dor. 
 Significado da dor – interpretação positiva pode levar a que uma criança sinta menos dor do que 
uma interpretação negativa. 
 Percepção de controlo – a falta de controlo leva a uma intensificação da dor percepcionada. 
 Estilo de coping individual – as técnicas de coping prévias (com ou sem sucesso) influência a 
resposta à dor; algumas crianças concentram-se na dor e outras preferem ser distraídas. 
 Ganhos secundários – algumas crianças concentram-se na dor e outras tiram partido das 
experiências dolorosas repetidas. 
 Factores socioculturais 
 Pais – as reacções dos pais à dor da criança influência a percepção e reacção da criança à dor. 
 Cultura – transmite comportamentos habituais, incluindo a reacção e comunicação da dor. 
 
Os comportamentos habitualmente observados associados à dor são muito diversificados e por vezes 
pouco coerentes. Por exemplo: a expressão facial é difícil de ser avaliada devido à aprendizagem social 
sobre a aceitação do comportamento doloroso; as pessoas podem tornar-se irritáveis, zangados, tristes, 
deprimidas, com comportamentos agressivos, isolarem-se e terem mudanças nos padrões de sono; 
dependendo do estilo de coping podem prestar atenção à causa da dor ou mostrarem-se indiferentes e 
tentarem distrair-se, o que se pode traduzir em mínimas manifestações de dor. Por tudo isto, a análise 
de comportamentos associados à dor deve se interpretada com precaução. A expressão da dor reflecte 
o estado físico e emocional, o tipo de colaboração e as expectativas familiares e culturais podendo ser 
erradamente interpretada pelo Enfermeiro. 
 
 
 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
14  
 
História de dor 
 
A dor como fenómeno subjectivo e multidimensional exige que o seu tratamento seja individualizado e 
realizado por uma equipa multidisciplinar na qual, obviamente se inclui a pessoa e sua família. O seu 
funcionamento deve assentar numa comunicação clara entre os seus membros, onde cada um sabe 
qual é o seu papel. 
Avaliar é um termo abrangente que implica descobrir a natureza e o significado da experiência 
dolorosa (estímulos que a provocam, factores agravantes e de alívio, efeitos da dor na vida diária, 
respostas à dor, padrões de coping, medos, tipo de dor, duração, localização, intensidade e outros). Ou 
seja, engloba um conjunto de informações, a que chamamos “história da dor”, 3,7 úteis para identificar 
e quantificar a dor, formular diagnósticos e planear os cuidados. Para Médicos e Enfermeiros estas 
informações são vitais ao desempenho das suas funções. Os primeiros, porque têm responsabilidades 
no estabelecimento do diagnóstico clínico e consequentemente na determinação do tratamento 
(regularmente farmacológico) com a escolha dos fármacos (tipo, via, frequência e dose) mais 
adequados em função do processo fisiopatológico e sintomatológico da dor. Os segundos, porque têm 
responsabilidades ao nível do ensino, apoio, administração e vigilância dos efeitos do tratamento 
farmacológico e não farmacológico. 
A orientação de todo o tratamento é feita de acordo com a evolução da intensidade da dor, pelo que na 
prática, aos Enfermeiros importa sobretudo saber quantificar com exactidão a intensidade da dor. 3 
Ora, quando o fazem estão apenas a atender a um aspecto particular da dor (dimensão sensorial) ou 
seja avaliação da intensidade. Quando em 2003 a Direção Geral da Saúde (DGS) determinou como 
norma de boa prática a avaliação e registo sistemático da dor como o 5º sinal vital, refere-se à 
intensidade da dor (dimensão sensorial). 8 Um aspeto particular do que é a avaliação da dor. 
A história de dor consiste na colheita de informação que permita orientar a avaliação e o controlo da 
dor utilizando todas as fontes de informação documentais disponíveis, aliada à observação e entrevista 
dos pais /cuidador principal e da criança a partir dos 4 anos. Esta colheita deve ser realizada logo que 
possível considerando os seguintes parâmetros: 9 
 Características da dor (localização, intensidade, qualidade, duração, frequência e sintomas 
associados); 
 Factores de alívio e de agravamento; 
 Uso e efeito de medidas farmacológicas e não farmacológicas; 
 Formas de comunicar /expressar a dor; 
 Experiências anteriores traumatizantes e medos; 
 Habilidades e estratégias para enfrentar a dor e outros problemas de saúde; 
 Comportamento da criança e ambiente familiar; 
 Efeitos da dor na vida diária; 
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15  
 
 Impacto emocional e socioeconómico. 
Muita desta informação pode ser obtida por entrevista direta ou indireta (resposta escrita às questões 
feitas pelo Enfermeiro).3 O proporcionar às pessoas, pais, familiares uma participação ativa aumenta o 
seu sentimento de confiança na equipa de saúde e o seu grau de participação nos cuidados, elementos 
considerados essenciais para uma boa avaliação, prevenção e tratamento da dor. 
Existem vários modelos que nos orientam nas questões habitualmente formuladas para elaboração de 
uma história de dor: 
1. Modelo adaptado de Hester e Barcus 
 
Quadro 3 - Modelo adaptado de Hester e Barcus 3 
 
Criança Pais 
Diz-me como é a tua dor Que palavras o seu filho usa quando tem dor? 
Diz-me como foram as tuas dores anteriores Descreva as experiências anteriores de dor do seu filho. 
Contas aos outros quando tens dor? Se sim quando? 
O seu filho diz alguma coisa a si ou a outros quando tem 
dor? 
O que fazes quando tens dor? Como é que sabe que o seu filho está com dor? 
Que outras coisas fazes quando tens dores? 
Como é que o seu filho reage normalmente quando tem 
dor? 
O que não queres que te façam quando tens dor? O que faz quando o seu filho está com dor? 
O que mais te ajuda a passar a dor? O que faz o seu filho a ele mesmo quando tem dor’ 
Existe mais alguma coisa em especial que queiras que 
eu saiba quando tiveres dor? (se sim a criança 
descreve). 
O que melhor alivia a dor do seu filho? 
 
Existe qualquer coisa em especial que gostaria que eu 
soubesse sobre o seu filho ou a sua dor? (se sim, descreva). 
 
2. Modelo QUESTT 7 
Question - Questionar o paciente; 
Use - Usar uma escala de dor; 
Evaluate - Avaliar o comportamento e sinais físicos; 
Secure - Garantir envolvimento da família; 
Take - Ter em conta a causa da dor; 
Take - Ter em conta o tratamento e a sua eficácia; 
 
3. Modelo OLDCARTS 7 
Onset – Inicio (Onde começa a dor? Sibita ou insidiosa? Resulta de doença ou trauma? Aguda 
ou crónica? 
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16  
 
Location – localização (Onde é o ponto de origem? Dor localizada ou generalizada? Dor 
superficial ou profunda? A dor segue a distribuição de um ou mais nervos? A dor irradia ou refere-se a 
áreas diferentes do ponto de origem? consegue localizar a dor?) 
Duration – duração (Há quanto tempo dura a dor? Se a dor é recorrente, qual a frequência e 
duração dos episódios de dor? Qual é a progressão típica da dor e o seu curso?) 
Character/quality – características/qualidade (Que descritores ou adjetivos usa para descrever 
a dor? Osso – profunda, dorida, aborrecida; Musculo/fascia – dolorosa, ardor, cólica; Nervo – aguda, 
facada, tiro, picada, ardor, formigueiro; Vascular – ardor, frio, latejante, facada, formigueiro; Visceral 
– profunda, facada, tiro, colica; A dor é constante ou intermitente, dormente ou progressiva? 
Aggravating/associated factors – fatores agravantes/associados (Onde a dor está exacerbada? 
Qual o impacto da dor na atividade, apetite, sono, concentração, estado mental e emocional? Há outros 
sintomas resultantesda dor - náuseas, vómitos, suores, tremores, rigidez ? 
Relieving factors – fatores de alivio (O que alivia melhor a dor? Estratégias que melhoraram a 
dor (tratamento farmacológico e não farmacológico)? Que estratégias de coping ajudam?); 
Temporal factors – fator temporal (Qual a sequencia cronológica dos episódios de dor? Há 
alguma correlação com a hora do dia, condições ambientais, atividade ou evento especial? Que eventos 
antecipam a dor? 
Severity – intensidade (Qual a intensidade da dor? Qual a recorrência e o nível de intensidade 
mais elevado e mais baixo de dor? Qual o nível aceitável de dor?) 
 
4. Modelo PQRST 7 
O que Provoca a dor 
Qual a Qualidade (tipo)da dor; 
Qual a Região da dor 
Qual a Severidade da dor 
Qual o Tempo de duração da dor 
 
 
 
 
 
 
 
 
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5. Modelo McGrath 10 
Quadro 4 - Modelo McGrath 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Avaliação da intensidade dor 
 
Bases da avaliação da intensidade da dor 
 
Quem melhor avalia a dor é o próprio (quem a sofre). Quando isso não é possível, e só nessa situação, 
esta avaliação deve ser feita pelo enfermeiro, médico, outro profissional de saúde, pais ou familiares. 
Assim, existem dois métodos de avaliar a dor: por auto-avaliação (o próprio avalia a sua dor) ou por 
hetro-avaliação (avaliação feita pelo Enfermeiro, Médico, pais ou outra pessoa). A dor ao fazer parte 
das variáveis subjectivas requer que na sua avaliação, se valorize a percepção de quem a experiência. 
Por esta razão, a auto-avaliação é o modelo de ouro na sua avaliação. Actualmente, ainda não é 
possível determinar com exactidão o limite de idade a partir da qual se pode utilizar a auto-avaliação 
de forma fiável. Contudo, a maioria das associações recomendam o seu uso aos quatro anos.3 
Esta avaliação deve ser feita a toas as pessoas sem exceção e com a mesma frequência dos sinais vitais8 
ou frequência mínima de 8 em 8 horas (uma vez por turno).11 
A dor como 5º sinal vital deve ser avaliada e registada de acordo com a condição clínica, depois de cada 
intervenção dolorosa, perante a presença de sinais sugestivos de dor intensa ou alteração dos sinais 
vitais, para avaliar a eficácia dos tratamentos e quando não há diagnóstico de dor uma vez por turno. 
Alguns princípios devem ser seguidos para uma avaliação valida e fidedigna da intensidade da dor: 
CARACTERÍSTICAS DA 
DOR 
FACTORES 
COGNITIVOS 
FACTORES 
EMOCIONAIS 
FACTORES 
COMPORTAMENTAIS 
TRATAMENTOS 
História 
Ambiente familiar Frustração 
Comportamento da 
pessoa 
Farmacológicos 
Localização 
Compreensão da 
criança 
Raiva 
Actividades físicas e 
limitações 
Não farmacológicos 
Intensidade 
Expectativas da 
pessoa 
Tristeza 
Ambiente familiar e 
social 
Eficácia 
Qualidade 
Conhecimento de 
estratégias de 
controlo 
Medo 
 
Critérios que 
determina a eficácia 
Duração 
Relevância da 
doença 
 
 
Frequência 
 
 
Sintomas 
associados 
 
 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
18  
 
 Usar a auto-avaliação sempre que possível; 
 Acreditar na pessoa; 
 Utilizar sempre um instrumento de avaliação (uma escala de dor); 
 Respeitar de forma rigorosa as instruções metodológicas e específicas de cada instrumento; 
 Só mudar de instrumento, na mesma pessoa, se a situação clinica assim o exigir; 
 Se não for possível usar a escala, usar outra ou em alternativa não cotar o item em falta; 
 O instrumento utilizado na mesma pessoa deve ser sempre o mesmo; 
 A intensidade de dor refere-se sempre ao momento presente 8embora possam existir 
exceções); 
 Ensinar previamente a utilização da escala (acolhimento ou em situação de não stress ou dor); 
 Assegurar que a pessoa compreendeu correctamente o significado e a utilização da escala; 
 Registar a avaliação no processo clínico e complementar a informação quantitativa com outros 
aspectos considerados úteis para interpretar a dor da pessoa. 
 
Principais dificuldades e formas de resolução 
 
Na maioria das situações a avaliação da dor é rápida e fácil de fazer, contudo em algumas situações as 
dificuldades podem ser muitas. As principais dificuldades são: determinar quando ou se o paciente 
consegue de forma fiável relatar a sua dor; em nos fazermos compreender na explicação das escalas 
(autoavaliação); os mais idosos podem ter dificuldades de memória (em se lembrarem da dor); 
interpretação de sinais subtis de dor principalmente nos recém-nascidos, idosos ou pessoas 
gravemente doentes. 
A solução para ultrapassar estas dificuldades passam por : falar devagar e dar instruções claras e 
simples; dar tempo para a resposta; ensinar e validar a informação sobre o uso das escalas; 
Certificarmo-nos que a escala é suficientemente grande para ser lida (autoavaliação em idosos); 
reavaliar com mais frequência, incluir pais, familiares ou outros profissionais na avaliação; no uso de 
escalas de heteroavaliação e em caso de duvidas na cotação optar pelo valor imediatamente superior; 
ter em conta potenciais fatores que podem influenciar a avaliação e registar esse facto (imobilizações, 
sedativos, instabilidade clínica,…). Uma dificuldade frequentemente sentida pelos enfermeiros quando 
avaliam a intensidade da dor está relacionada com a aparente discordância entre o resultado da 
avaliação e o comportamento da pessoa. Nestas circunstâncias é aconselhável explorar a situação, pois 
o comportamento e/ou as medidas fisiológicas podem correlacionar-se pouco com o autorrelato. 3 
Um outro aspecto relacionado com a heteroavaliação é a dificuldade em diferenciar comportamentos 
causados por outros motivos que não a dor (stress, agitação, medo ou outros). Quando esta distinção 
não é clara ambos exigem avaliação e tratamento, dado que a dor é sempre um factor de stress que 
potência a percepção da dor e afecta as habilidades de coping. 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
19  
 
Critérios de selecção dos instrumentos 
 
Para uma quantificação da intensidade da dor desenvolveram-se escalas que medem a variabilidade 
das respostas (verbais e não verbais) à dor. Actualmente ainda não existe uma solução única 
universalmente aceite para avaliar a dor em todas as situações, mas existem escalas validadas e com 
utilidade clínica comprovada para utilização em todas as idades e situações clinicas. A escolha dessas 
escalas deve ter em conta: 
 o tipo de dor (aguda ou persistente); 
 idade / desenvolvimento ou integridade cognitiva); 
 situação clínica (ventilado ou não ventilado mecanicamente); 
 facilidade de uso e tempo necessário para aplicação da escala; 
 critérios de interpretação da escala; 
 escala de quantificação da dor comparável com a maioria das outras escalas (0 -10 pontos); 
 validação e fiabilidade da escala; 
 uso da escala em outros locais e razões para tal. 
Na prática clínica os 3 primeiros critérios são determinantes (tipo de dor, idade, condição clinica). 
 
Instrumentos de avaliação da intensidade da dor 
 
Os instrumentos de avaliação da dor que se descrevem respeitam as orientações emanadas pela DGS 
de 2003 e 2010 e a Ordem dos enfermeiros. Apresentam-se por ordem de prioridade entre os 
instrumentos de auto avaliação e heteroavaliação e apenas os que têm estudos de adaptação cultural e 
validação para Português de Portugal. Estes instrumentos destinam-se a avaliar a intensidade da dor, 
mas descreveremos outros instrumentos com utilidade clinica e que vão para além da avaliação da 
intensidade da dor. Para cada instrumento é descrito as suas características, propriedades 
psicométricas, utilidade clínica, metodologia de aplicação e interpretação. 
A maioria das escalas mede a dor de 0 a 10 pontos em que a maior pontuação implica mais dor. A 
categorização depende do critério usado. A regrahabitualmente usada em todas as escalas de 0 a 10 
para o valor que indica necessidade de intervenção farmacológica é um valor ≥3, ou seja uma dor 
moderada. A categorização da dor depende da amplitude da escala, mas numa escala de 0 a 10 pontos 
o critério habitualmente usado é: 
 0-1 sem dor; 1-3 dor ligeira; 3-7 dor moderada; 7-10 dor intensa. 12 
 0-1 sem dor; 1-3 dor ligeira; 3-6 dor moderada; 6-9 dor intensa; 9-10; dor muito intensa. 8 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
20  
 
Instrumentos unidimensionais de autoavaliação da intensidade da dor 
 
Escala Visual Analógica (EVA) 
Escala de referência na avaliação da dor (padrão de ouro). A idade a partir da qual se utiliza não é 
consensual, situa-se entre os 3 e 7 anos, mas aconselha-se o seu uso a partir dos 6 anos. Existem vários 
tipos destas escalas, sendo as correlações entre elas elevadas. Cerca de 10 a 15% das pessoas não a 
conseguem utilizar. 13 
Avalia a dor aguda e persistente e consiste numa régua com 10 cm com início e fim (sem ancoras). 
Como propriedades psicométricas apresenta em termos de validade boa correlação entre apresentação 
horizontal e vertical (0.99) e validade preditiva antes e após tratamento (p<0.001). Quanto à 
fiabilidade apresenta um Test–retest melhor entre alfabetizados (r=0.94, P=0.001) do que analfabetos 
(r=0.71, P=0.001) e uma boa correlação com escala descritiva (0.71–0.78) e numérica (0.62–0.91). 14 
A metodologia de aplicação deve: respeitar a apresentação da régua (vertical para adultos / horizontal 
para crianças); definir as extremidades deslocando o cursor durante a explicação com utilização de 
termos neutros e sem referência ao passado ou à imaginação; assegurar a compreensão; perguntar 
qual a dor no momento presente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 - Escalas EVA 
 
Escala Numérica (EN) 
Existem vários tipos destas escalas. É utilizada como segunda opção (depois da EVA) para dor aguda 
ou crónica, podendo ser apresentada oralmente ou com instrumento físico. Consiste numa escala com 
10 números discretos (o,1,2…10). Pode ser utilizada a partir dos 8 anos, embora algumas crianças a 
possam utilizar mais cedo desde que interpretem os números.15 Muito fácil de aplicar. Como 
desvantagem em relação à EVA tem o efeito de memória e uma escala que não é contínua, mas 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
21  
 
discreta. Tem boa correlação com a EVA e uma concordância, com um minuto de intervalo de 
aplicação de ICC =0.97. 16 
 
 
Figura 2 - Escala numérica 
 
Escalas de Faces 
As escalas que usam desenhos animados ou representações ilustradas com gravuras de faces 
descrevendo os vários graus da dor. A maior parte das crianças entre os quatro e os sete anos prefere o 
uso destas escalas, provavelmente por ser uma escala concreta e por isso, de mais fácil compreensão. 
Existem pelo menos sete versões, mas apenas três foram objecto de verdadeiros trabalhos de 
validação, a escala Revised Faces Pain Scale (FPS-R), Wong-Baker FACES® pain rating scale (WBFS) 
e OUCHER. 6 
A utilização das escalas de faces tem como pressupostos: a capacidade da criança desde os três meses 
conseguir distinguir várias expressões faciais, embora esta aquisição esteja apenas amadurecida por 
volta dos nove a dez anos; e a existência de uma expressão facial universal da dor utilizada na sua 
avaliação e susceptível de ser reconhecida por uma criança por volta dos seis anos. 
Todavia, no uso destas escalas deve-se ter em atenção que: 
 Uma criança antes dos cinco anos pode ter dificuldade em escolher mais do que cinco 
opções; 
 Escalas com faces sorridentes e/ou com lágrimas predispõem a criança a avaliar mais o seu 
estado emocional que sensorial; 
 A maioria destas escalas usa uma face sorridente indicando ausência da dor e uma face 
neutra indicando dor. Este continuo de uma face feliz até uma face triste com uma face 
neutra no meio, confunde a criança levando-a referir pontuações elevadas da dor, pois 
normalmente prefere a face neutra para indicar que não tem dor; 
 Tal como para a EVA as crianças mais novas têm tendência para escolher as extremidades da 
escala, em particular a inferior. 
As maiorias destas escalas são usadas desde os três anos, embora não esteja formalmente determinada 
a idade a partir da qual estão validadas. A FPS-R é uma adaptação da FPS está validada a partir dos 
quatro anos, sendo actualmente uma das mais utilizadas e recomendada pela IASP. Apresenta seis 
faces sem expressões faciais felizes, tristes ou com lágrimas e usa a face neutra para indicar ausência 
da dor. A sua cotação varia entre zero e dez pontos (0, 2, 4, 6, 8, 10) e a categorização da intensidade 
da dor proposta pela ANAES é: sem dor - face 1 (pontuação 0); dor ligeira - face 2 (pontuação 2); dor 
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22  
 
moderada - face 3 (pontuação 4); dor intensa - face 4 (pontuação 6); dor muito intensa - face 5 ou 6 
(pontuação 8 ou 10). Esta escala é especialmente recomendada entre os quatro e os seis anos, por 
vários estudos indicarem a preferência destas crianças pelo seu uso, muito provavelmente por ser um 
instrumento concreto e por isso, de mais fácil compreensão. 
Os princípios metodológicos a respeitar na sua aplicação são a definição clara das suas extremidades 
(face sem dor e face com muita, muita dor), que cada face indica que a dor vai aumentando (da 
esquerda para a direita), nunca utilizar expressões como triste ou contente, assegurar que a criança 
compreendeu a explicação e pedir que aponte a face que corresponde à sua dor naquele momento. 
A WBFS é muito conhecida e divulgada em livros pediátricos, mas cuja metodologia de aplicação difere 
quanto aos termos a utilizar (podem-se usar termos emocionais como chorar, rir, contente). Por outro 
lado a sua amplitude é maior (vai de uma face sorridente a uma face a chorar) sendo que a face neutra, 
normalmente indicativa de não dor significa nesta escala uma dor moderada (valor 4). 
A escala OUCHER não está muito divulgada entre nós. 
 
 
 
 
 
 
Figura 3 - Escalas de faces 
 
Escala descritiva ou qualitativa 
Última opção para uso entre as escalas de auto-avaliação. Pode ser usada a partir dos 4 anos, mas 
popular o seu uso entre idosos. Fácil de usar com ou sem instrumento físico, mas tem como 
desvantagens o efeito de memória e o qualificar a dor e não a sua quantificação. Na sua aplicação 
devem ser usados sempre os mesmos termos qualificadores da dor. 
 
Figura 4 - Escala descritiva ou qualitativa 
 
Revised Faces Pain Scale (FPS-R) 
Escala OUCHER 
Wong-Baker FACES® pain rating scale (WBFS) 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
23  
 
Instrumentos unidimensionais de heteroavaliação da intensidade da dor 
 
Os instrumentos de heteroavaliação podem ser de dois tipos: comportamentais (quando usam apenas 
indicadores comportamentais) e compostos (quando utilizam indicadores comportamentais e 
fisiológicos). O uso de instrumentos de avaliação compostos e a formação dos profissionais de saúde 
tem revelado boas correlações com o auto-relato da criança. Algumas investigações demonstraram que 
profissionais de saúde e pais tendem a subestimar a dor ao usarem escalas comportamentais, quando 
comparado com o autorrelato da criança. 6 
De uma forma geral as escalas de heteroavaliação exigem para sua aplicação um tempo de observação 
da pessoa que varia entre 2 a 4 minutos, havendo exceções para algumas escalas. O mesmo se passa 
quanto ao tipo de dor em que são aconselhadas, a maioria para dor aguda. Embora muitas possam 
também ser utilizadas na dor persistente, algumas têm restrições de aplicação. 
 
Échelle Douleur Inconfort Nouveau-Né(EDIN) 
A escala amplamente utilizada em França onde foi desenvolvida a partir dos indicadores 
comportamentais considerados mais pertinentes para avaliar a dor dos RN (prematuros e de termo) 
ventilados e não ventilados em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN). É uma escala 
unidimensional comportamental que inclui cinco indicadores: expressão facial, movimentos corporais, 
qualidade do sono, qualidade de interacção (sociabilidade) e reconforto (consolabilidade). Cada 
indicador é medido numa escala de zero a três pontos, perfazendo no total uma pontuação mínima de 
zero e um máximo de quinze pontos. Para um valor ≥5, recomenda-se uma intervenção terapêutica 
farmacológica para alívio da dor. A categorização da dor adoptada com esta escala é: 0 – sem dor; 1-4 
– dor ligeira, 5-8 dor moderada; 9-12 dor intensa; 13-15 – dor muito intensa. 10 
A sua utilização clínica é simples requerendo um contacto mínimo com o RN de quatro horas embora o 
ideal seja de oito horas. 
Desenvolvida especificamente para ser usada UCIN, avalia a dor aguda de duração breve e persistente 
em RN com vinte e cinco ou mais semanas de gestação. Amplamente difundida em França é 
actualmente usada até aos três meses de idade nas mais variadas situações e serviços, incluindo 
maternidades. Em alguns locais é usada até aos 2 anos. 
A análise psicométrica da escala revelou em 76 RN com uma idade gestacional média de 31,5 semanas 
uma boa validade discriminante (em 40 RN as pontuações antes e após fentanil passou de 9,2 para 
4,7), boa consistência interna (coeficiente de Cronbach 0,92) e uma concordância entre 2 
observadores com uma variação do coeficiente Kappa entre 0,59 e 0,74 com uma pontuação total de 
0,69. 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
24  
 
Escala com adaptação cultural validada para português tendo os autores concluído que a sua aplicação 
era rápida, simples e a concordância entre avaliadores excelente.17 
 
INDICADOR DESCRIÇÃO 
Rosto 
0 - Rosto calmo 
1 - Caretas passageiras: sobrancelhas franzidas/lábios contraídos/queixo 
franzido/queixo trémulo. 
2 - Caretas frequentes, marcadas ou prolongadas 
3 - Crispação permanente ou face prostrada, petrificada ou face acinzentada 
Corpo 
0- Corpo calmo 
1 - Agitação transitória, geralmente calmo 
2 - Agitação frequente, mas acalma-se 
3 -Agitação permanente: crispação das extremidades e rigidez dos membros ou 
motricidade muito pobre e limitada, com corpo imóvel 
Sono 
0 - Adormece facilmente, sono prolongado, calmo 
1 - Adormece dificilmente 
2 - Acorda espontânea e frequentemente, sono agitado 
3 -Não adormece 
Interacção 
0 -Atento 
1 - Apreensão passageira no momento do contacto 
2 - Contacto difícil, grito à menor estimulação 
3 - Recusa o contacto, nenhuma relação possível. Grito ou gemido sem a menor 
estimulação 
Reconforto 
0 - Sem necessidade de reconforto 
1 - Acalma-se rapidamente com carícias, com a voz ou chupeta 
2 - Acalma-se dificilmente 
3 -Inconsolável. Sucção desesperada 
Figura 5 – Versão portuguesa da Escala Échelle Douleur Inconfort Nouveau-Né (EDIN) 
 
Neonatal Infant Pain Scale (NIPS) 
Escala elaborada com base na Children’s Hospital of Easter Ontário Pain Scale (CHEOPS), sendo 
composta por seis indicadores de dor, cinco comportamentais e um fisiológico. Avalia a expressão 
facial, o choro, os movimentos respiratórios, os movimentos das pernas e braços e o estado de vigília. 
Cada indicador é medido de zero a um ponto, com excepção do choro de zero a dois pontos. A cotação 
total da escala varia de zero a sete pontos e o critério para intervenção farmacológica situa-se entre 
dois e quatro pontos. Esta escala tem-se mostrado útil na avaliação da dor em RN ≥ 24 semanas de 
gestação, na dor aguda (procedimentos) e simples e fácil de usar, embora não possa ser utilizada em 
RN entubados. Não está validada a sua adaptação cultural para Português. 18 
 
 
 
 
 
 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
25  
 
 Descrição 
Expressão facial 
0 –Relaxada Face serena, expressão neutra 
1 - Careta 
Músculos faciais tensos, sobrancelhas, queixo e maxilares enrugados 
(expressão facial negativa – nariz, boca e sobrancelha). 
Choro 
0 – Ausente Sereno, não chora. 
1 – Choramingo Choramingo brando, intermitente. 
2 – Choro vigoroso 
Gritos altos, agudos, contínuos, que vão aumentando de intensidade. 
(NOTA: O Choro silencioso pode ser detectado se o RN estiver entubado 
e é evidenciado por um movimento óbvio facial e local. 
Respiração 
0 - Relaxada Padrão normal para o RN. 
1 – Mudança na respiração 
Inspiração irregular, mais rápida do que o normal, sufocante, que 
impede a respiração. 
Braços 
0 – Relaxados/Controlados 
Ausência de rigidez muscular, movimentos ocasionais e esporádicos dos 
braços 
1 – Flexionados/Estendidos Braços tensos, esticados e/ou extensão/flexão rígida e/ou rápida. 
Pernas 
0 – Relaxadas/controladas 
Ausência de rigidez muscular, movimentos ocasionais e esporádicos das 
pernas. 
1 – Flexionadas/Estendidas Pernas tensas, esticadas e/ou extensão/flexão rígida e/ou rápida. 
Estado de vigília 
0 – Dorme/calmo Calmo, tranquilo, a dormir ou acordado e estável. 
1 - Agitado Alerta, inquieto e agitado 
Figura 6 – Versão portuguesa da escala Neonatal Infant Pain Scale (NIPS) 
 
Premature Infant Pain Profile (PIPP) 
Escala multidimensional elaborada com o objectivo de avaliar a dor aguda em RN que inclui 
indicadores fisiológicos, comportamentais e contextuais: a frequência cardíaca, a saturação de 
oxigénio, o tempo de permanência com a testa franzida, olhos fechados e com sulco nasolabial, estado 
de alerta e idade gestacional no momento da avaliação. Cada indicador é medido entre zero e três 
pontos. A pontuação total da escala depende da idade gestacional do RN, sendo a máxima possível de 
vinte e um pontos. Uma pontuação menor ou igual a seis indica ausência ou dor mínima e uma 
pontuação superior a doze, uma dor moderada a intensa. 
A sua aplicabilidade clínica, validade e concordância inter e intra-observador está estabelecida, 
contudo os autores ressalvam a necessidade de mais estudos para verificar a sua utilidade em 
prematuros gravemente doentes, submetidos a procedimentos dolorosos repetidos, em ventilação 
mecânica e sob efeito de medicação que possa alterar a expressão de dor. 
Aparentemente é uma escala que apresenta algumas dificuldades de implementação com muitos 
indicadores, morosa e com uma interpretação pouco prática para utilização rotineira. 18 
 
 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
26  
 
PROCESSO INDICADORES 0 1 2 3 
 
Idade 
 gestacional 
(semanas) 
≥ 36 32 -35 e 6 dias 
28 – 31 e 6 
dias 
< 28 
Observar RN 
15 segundos e 
anotar FC e 
saturação de 
oxigénio 
basal 
Estado de alerta 
Activo/acordado 
Olhos aberto 
Movimentos 
faciais 
Quieto/acordado 
Olhos abertos 
Sem mímica facial 
Activo/dorme 
Olhos 
fechados 
Movimentos 
faciais 
Quieto/dorme 
Olhos fechados 
Sem mímica 
facial 
Observar RN 
30 segundos 
FC máxima ↑ 0 – 4 bpm ↑ 5 – 14 bpm 
↑ 15 – 24 
bpm 
↑ ≥ 25 bpm 
SO2 mínimo ↓ 0 – 2,4 % ↓ 2,5 –4,9 % ↓ 5,0 – 7,4 % ↓ ≥ 7,5 % 
Testa 
 franzida 
 
Ausente 
(0 a 9% do 
tempo) 
Mínimo 
(10-39% do 
tempo) 
Moderado 
(49-69% do 
tempo) 
Máximo 
(≥ 70% do 
tempo) 
Olhos 
espremidos 
 
Ausente 
(0 a 9% do 
tempo) 
Mínimo 
(10-39% do 
tempo) 
Moderado 
(49-69% do 
tempo) 
Máximo 
(≥ 70% do 
tempo) 
Sulco naso-labial 
Ausente (0 a 9% 
do tempo) 
Mínimo (10-39% 
do tempo) 
Moderado 
 (49-69% do 
tempo) 
Máximo 
 (≥ 70% do 
tempo) 
Figura 7 – Versão portuguesa da escala Premature Infant Pain Profile (PIPP) 
 
Neonatal Facial Coding System (NFCS) 
Está entre as escalas mais estudadas e baseia-se nas diferentes expressões faciais do RN, incluindo o 
prematuro, quando submetido a procedimentosdolorosos agudos. Vários estudos comprovaram a sua 
aplicabilidade, confiabilidade e reprodutibilidade para ser usada no RN (prematuro e de termo), 
podendo ser utilizada até aos dezoito meses. 
A sua versão inicial é composta por dez itens, mas porque posteriormente se verificou que os itens 
boca esticada horizontalmente e boca esticada verticalmente não estavam presentes nos RN mais 
velhos, que os itens língua tensa e língua protusa não estavam correlacionados com a dor e mais de 
90% dos RN submetidos a um estímulo doloroso apresentavam testa franzida, olhos cerrados, sulco 
nasolabial e boca aberta, muitos autores consideram a utilização destes quatro itens como os mais 
representativos de dor permitindo uma avaliação clínica de qualidade suficiente. Esta escala em 
designa-se por (NFCS abrangente) e mede a dor numa escala de zero a quatro pontos, considerando-se 
necessária uma intervenção farmacológica para uma pontuação igual ou superior a um. 
Embora a expressão facial seja um método de avaliação sensível e útil na clínica, não avalia a dor de 
duração mais prolongada e necessita de uma aprendizagem cuidada para um uso criterioso. A NFCS 
foi desenvolvida inicialmente para utilização em investigação, continuando ainda a sua utilidade 
clínica em estudo. As dificuldades inerentes a uma implementação precisa têm impedido o seu uso 
mais generalizado. 18 
 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
27  
 
ACÇÃO DESCRIÇÃO 
Testa franzida 
0 - Ausente 
1 - Presente 
Pregas verticais enrugadas e inchadas acima e entre as sobrancelhas que ocorrem 
como resultado do abaixar e estreitar das sobrancelhas. 
Olhos cerradas 
0 - Ausente 
1 - Presente 
Identificado pelo aperto ou inchaço das pálpebras. O inchaço das pálpebras cerradas 
à volta dos olhos da criança é pronunciado. 
Sulco naso-labial 
0 - Ausente 
1 - Presente 
Inicialmente manifestado pelo repuxamento para cima e pelo aprofundamento do 
sulco naso-labial (uma linha ou ruga que começa adjacente às asas do nariz e vai para 
baixo e para fora além dos cantos dos lábios). 
Boca aberta 
0 – Ausente 
1 - Presente 
Qualquer separação dos lábios é registada como lábios abertos 
Figura 8 – Versão portuguesa da escala Neonatal Facial Coding System (NFCS) 
 
 
Figura 9– Expressão facial de dor 
 
Objective Pain Scale (OPS) 
Trata-se de uma escala multidimensional com quatro indicadores comportamentais e um fisiológico, 
sendo muito popular pela sua simplicidade e facilidade de uso. Desenvolvida no Children’s Medical 
Center em Washington para avaliar a dor pós-operatória imediata em crianças com idades entre os 
dezoito meses e os doze anos, rapidamente o seu campo de aplicação alargou-se para Unidades de 
Cuidados Intensivos onde tem sido largamente utilizada em ensaios terapêuticos. A idade para a qual 
está validada a sua aplicação foi sendo sucessivamente alargada até poder ser usada em qualquer idade 
(0-18 anos). Apresenta cinco categorias (pressão arterial sistólica, choro, movimentos, agitação e 
expressão verbal ou corporal) cotadas, cada uma delas, de zero a dois pontos. A Pontuação total varia 
entre um mínimo de zero e um máximo de dez pontos. O valor normalmente usado para se iniciar uma 
intervenção terapêutica varia entre 2 e 6, mas normalmente considera-se um valor ≥ 3 pontos. Não 
pode ser usada em crianças entubadas ou paralisadas e a avaliação da tensão arterial pode influenciar 
o comportamento da criança, pelo que deve ser o último parâmetro a avaliar. A determinação do valor 
de referência da tensão arterial, nem sempre é fácil de obter, pelo que muitas vezes a escala é usada 
sem este indicador, embora tal prática careça de validação. A sua aplicação pode ser dificultada por o 
indicador movimento (deslocamento) ser muito semelhante ao indicador agitação (exitabilidade) e a 
imobilidade não ser cotada como dor quando pode ser um sinal de dor. 
A sua validação está documentada com inúmeros estudos, embora não se tenha encontrado a sua 
validação de conteúdo e fiabilidade teste-reteste. A adaptação cultural para Português foi realizada 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
28  
 
tendo revelado excelente concordância inter-avaliadores com valores de Kappa por item que variam 
entre 0,836-0,967 e útil para avaliar a dor aguda na criança pré-verbal, embora se possa questionar a 
idade a partir da qual se deva usar.19 
 
INDICADOR DESCRIÇÃO 
Choro 
0. Ausente 
1. Presente, mas consolável 
2. Presente e inconsolável 
Movimento 
0. Ausente 
1. Inquieto 
2. Intenso 
Agitação 
0. Adormecido ou calmo 
1. Leve 
2. Histérico 
Expressão verbal ou corporal 
0. Adormecido ou sem manifestar dor 
1. Dor leve (não consegue localizar) 
2. Dor moderada (pode localizar) verbalmente ou apontando 
Variação da tensão arterial sistólica 
0. Aumento de <10% 
1. Aumento de 10 a 20% 
2. Aumento ≥ 20% 
Figura 10 – Versão portuguesa da escala Objective Pain Scale (OPS) 
 
Face, Legs, Activity, Cry, Consolability (FLACC) 
A escala Face, Legs, Activity,Cry, Consolability (FLACC) foi concebida em 1997, na Faculdade de 
Medicina da Universidade de Michigan, Estados Unidos da América, para reduzir o tempo de 
aplicação e a complexidade dos indicadores de outras escalas, proporcionando um conjunto de 
indicadores comportamentais fiáveis e objetivos que quantificam a dor em idade pediátrica. Vários 
estudos têm comprovado a sua validade, fiabilidade e facilidade de uso em inúmeras situações clínicas 
desde o nascimento até aos 19 anos. A escala agrega os indicadores expressão facial, movimento das 
pernas, atividade, choro e consolabilidade, em que cada um é medido de zero a dois pontos, 
perfazendo uma pontuação total da que varia entre zero e dez pontos. Por se tratar de uma escala 
comportamental é de uso prático e o facto medir a dor numa escala de zero a dez pontos facilita a 
comparação com as escalas de autoavaliação. Estas são duas das grandes vantagens desta escala. 
Adaptação cultural e validação da reprodutibilidade foram realizadas para o Português em que num 
total de 92 observações o nível de concordância determinado pela média do coeficiente Kappa entre 
três enfermeiros, foi de 0.555 para o indicador face, 0.686 para pernas, 0.631 para a atividade, 0.692 
para o choro e 0.673 para a consolabilidade. O valor da concordância total foi de 0.912. Os autores 
concluíram que versão Portuguesa revela um alto grau reprodutibilidade constitui um instrumento 
valioso para a melhoria da qualidade de vida das crianças e suas famílias, se usada diariamente pelos 
profissionais de saúde na avaliação da dor das crianças cujo desenvolvimento psicomotor ou situação 
clínica impede a verbalização da dor. 20 
 
 
Batalha LMC. Avaliação da dor. Coimbra: ESEnfC; 2016 (Manual de estudo –versão 1) 
29  
 
INDICADOR DESCRIÇÃO 
Face 
 
0. Nenhuma expressão particular ou sorriso 
1. Careta ocasional ou franzir de sobrancelhas, alheio, desinteressado 
2. Constante franzir de sobrancelhas, maxilares cerrados, queixo trémulo 
Pernas 
 
0. Posição normal ou relaxadas 
1. Inquietas, agitadas, tensas 
2. Aos pontapés ou com as pernas encolhidas 
Actividade 
 
0. Deitado calmamente, posição normal, mexe-se facilmente 
1. Contorcendo-se, virando-se para trás e para a frente, tenso 
2. Arqueado, rígido ou com movimentos bruscos 
Choro 
 
0. Ausência de choro (acordado ou adormecido) 
1. Gemidos ou lamentos, queixas ocasionais 
2. Choro persistente, gritos ou suspiros, queixas frequentes 
Consolabilidade 
 
0. Contente, relaxado 
1. Encorajado por toques ocasionais, abraços, conversas. Distrai-se. 
2. Difícil de consolar ou confortar 
Figura 11 – Versão portuguesa da escala Face, Legs, Activity, Cry, Consolability (FLACC) 
 
Face, Legs, Activity, Cry, Consolability – Revised (FLACC-R) 
A Face, Legs, Activity, Cry, Consolability – Revised (FLACC-

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