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Glaziele Odawara – 5° Período – Neurologia NEUROINFECÇÕES Conceitos básicos Meningite → Processo inflamatório que acomete as meninges (pia máter e aracnoide) e o espaço entre as membranas, o espaço aracnóideo → Etiologia: bacterianas (culturas positivas → meningites sépticas) ou asséptica (LCR: padrão linfomonocitário. Vírus, agentes químicos, doenças inflamatórias, neoplasias) Bactérias Vírus Outros Neisseria meningitidis RNA vírus Fungos Haemophilus influenzae Arbovírus Cryptococcus neoformans Streptococcus pneumoniae Vírus do sarampo Candida albicans e C tropicalis Mycobacterium tuberculosis Vírus da caxumba Protozoários Staphylococcus aureus Arenavírus Toxoplasma gondii Pseudomonas aeruginosa HIV 1 Trypanosoma cruzi Escherichia coli DNA vírus Plasmodium sp. Klebsiella sp Adenovírus Helmintos Enterobacter sp Vírus do grupo herpes Infecção larvária Taenia solium Salmonella sp Varicela zoster Cysticercus cellulosae Proteus sp Epstein barr Listeria monocytogenes Citomegalovírus Leptospira sp Encefalite → Processo inflamatório do parênquima cerebral – alteração da consciência e crise convulsiva → Etiologia: bactérias, vírus, fungos e autoimune Autoimune: processos neoplásicos, como a encefalite autoimune pelo anticorpo NMDA, principal dentro da neurologia infantil Meningoencefalite → Processo inflamatório das meninges e do parênquima cerebral → Etiologia: bactérias, vírus e fungos Patogênese: via hematogênica (indireta) → A maioria dos agentes usa essa via, mas por exemplo a neisseria não atinge pela nasofaringe, ela normalmente atinge por alimentos contaminados 4 etapas para chegar ao SNC: a. Proliferação mucosa da nasofaringe b. Invasão dos tecidos subjacentes e vencer os mecanismos de defesa do hospedeiro c. Atravessar a barreira hematoencefálica e hematoliquórica atingindo o SNC d. Sobreviver e replicar no LCR – causando meningite Patogênese: via direta → Laceração de dura-máter = infecções contíguas ao SNC, fraturas cranianas, neurocirurgia recente, derivações ventriculoperitoneais, acesso ao espaço subaracnóideo para procedimento anestésicos e terapêuticos Patógeno não vai passar pelas barreiras hematológicas, vai cair direto no SNC a nível de ESA Particularidade do LCR → Defesa humoral pouco desenvolvido Baixas concentrações de anticorpos e do sistema de complemento Meningites bacterianas Neisseria meningitidis → Diplococo gram negativo capsulado Importante para penetração no LCR e indução de resposta inflamatória → Colonização assimétrica de nasofaringe em 20% da população → 10 a 40% das meningites comunitárias → Transmissão: pessoa/pessoa e secreções de nasofaringe → Principal agente no brasil, seguido de S. pneumoniae → 13 sorotipos, principais: A, B, C, W135 e Y Haemophilus influenzae → Cocobacilos gram negativos → 1999: vacinação anti-HIB no calendário vacinal Muito comum em crianças menores de 5 anos → 6 sorotipos: A, B (da vacina), C, D, E, F Glaziele Odawara – 5° Período – Neurologia Streptococcus pneumoniae (Pneumococo) → Diplococos gram positivo capsulado → Microbiota residente do trato respiratório superior → Alta morbimortalidade e sequelas → Mais de 50% dos pacientes têm menos de 1 ano ou mais de 50 anos → Sorotipos prevalentes no Brasil: 14, 1, 6B, 5, 6A, 23F, 19F, 9V, 3, 4, 10A, 8, 7F Agente etiológico x grupos mais suscetíveis Agente etiológico Grupo mais suscetíveis Streptococcus pneumoniae Crianças e adultos Listeria monocytogenes (Contamina o TGI) Pacientes > 60 anos, RN, transplantados, gestantes, doentes com neoplasia ou tratamento com imunossupressor Estreptococos do grupo B RN e puérperas, pacientes com doenças graves Haemophilus influenzae tipo B Crianças e adultos não vacinados Pseudomonas sp, Escherichia coli, Klebsiella sp, Serratia sp Pacientes internados com comorbidades (CA, DM, IC, IPC, disfunção renal ou hepática) e pacientes neurocirúrgicos Staphylococcus aureus, estafilococos coagulase negativa Pós-operatório de neurocirurgia Quadro clínico Síndrome da hipertensão intracraniana → Cefaleia intensa → Náuseas → Vômitos → Certo grau de confusão mental → Tríade de cushing: hipertensão arterial sistêmica + bradicardia + bradipneia Síndrome toxêmica → Febre alta → Mal-estar → Prostração ou agitação psicomotora Síndrome de irritação meníngea → Rigidez de nuca: resistência e desconforto a flexão anterior da cabeça com o paciente em decúbito dorsal → Sinal de kerning: flexiona-se coxa do paciente, mantendo também o joelho flexionado e faz uma extensão do joelho sobre a perna e o paciente refere dor → Sinal de brudzinski: faz-se flexão da cervical e o paciente de forma reflexa faz a flexão de joelho Em crianças, sobretudo nas menores, a clínica é inespecífica. A tendencia é puncionarmos o paciente. Achados mais frequentes são: febre, irritabilidade, prostração, vômitos, convulsões e eventualmente abaulamento da fontanela Diagnóstico → Pesquisa de antígeno bacteriano: contraimunoeletroforese e provas de aglutinação → Confirmação pelo exame do líquor cefalorraquidiano Laboratoriais Normal Bacteriana Aspecto Límpido Turvo Leucócitos 0 a 4 >500 Células predominantes Nenhuma ou linfomonocitária Predomínio de polimorfonucleares neutrófilos Proteínas (mg/dl) 15 a 40 mg/dl (adultos) Até 120 mg/dl (RN) >100 mg/dl Glicose (mg/dl) 2/3 da glicemia Diminuída Culturas Negativa Positivas em até 48H Glaziele Odawara – 5° Período – Neurologia Contraindicações a punção lombar 1. Coagulopatia grave 2. Sinais neurológicos focais 3. Papiledema 4. Paciente clinicamente instável com sinais predominantes de HIC 5. Infecções de pele no local da punção lombar A punção lombar não modifica o início da antibioticoterapia empírica Laboratoriais Tuberculosa Viral Aspecto Ligeiramente turvo Límpido Leucócitos <500 <500 Células predominantes Perfil misto Mononucleares Proteínas (mg/dl) >50 mg/dl Normal ou um pouco aumentado 50-100 mg/dl Glicose (mg/dl) Normal ou diminuída Normal Culturas Pode positivar em 90-120 dias Negativa Laboratoriais Fúngica Aspecto Límpido Leucócitos <500 Células predominantes Perfil misto Proteínas (mg/dl) >50 mg/dl Glicose (mg/dl) Pouco diminuído Culturas Positiva até 30-60 dias Neuroimagem Indicações → Sinal focal ao exame neurológico → Papiledema, HIC predominante → Convulsão de início recente → Imunossuprimidos Convulsão lembra encefalite Propedêutica laboratorial 1. Hemograma 2. PCR 3. Coagulograma 4. Eletrólitos 5. Hemocultura 6. Cultura de urina 7. Função renal 8. Glicemia Tratamento → Empírico x específico Na maioria das vezes vamos instituir o empírico, já que não sabemos o agente etiológico quando o paciente chega Faixa etária Terapia antimicrobiana < 1 mês Ampicilina + cefotaxima Lactentes, crianças e adultos Ceftriaxona >50 anos Ceftriaxona + ampicilina TCE aberto, neurocirurgia, DVP Vancomicina + Ceftazidima ou Cefepima ou Meropenem Dicas para agentes etiológicos específicos 1. Meningites meningocócicas Situações de epidemia Presença de petéquias Rash cutâneo Grandes equimoses 2. Meningite por pneumococo Presença concomitante de infecções pulmonares, otites e sinusitesGlaziele Odawara – 5° Período – Neurologia 3. Meningite por Haemophilus influenzae Infecções em vias aéreas superiores Otites Principalmente em crianças Não vacinados 4. Estafilococos ou bacilos gram negativos Pacientes com derivação LCR ou em pós-operatório neurocirúrgico 5. Listeria monocytogenes Sintomas gastrointestinais Doenças linfoproliferativas ou mieloproliferativa Pacientes imunossuprimidos Tratamento específico Se o paciente estiver clinicamente bem NÃO mude o antibiótico, mas se ele em 48H não melhorou e não está evoluindo ai SIM deve trocar o antibiótico Corticoide → A maioria dos autores sugere a utilização de corticosteroides entre 15 e 30 minutos antes da primeira dose de antibiótico Dexametasona: 10mg 6/6H IV por 4 dias Função → Modulação da atividade dos mediadores inflamatórios Benefícios → Diminuição da mortalidade → Redução nas alterações da audição → Diminuição das sequelas neurológicas Principalmente para o pneumococo Segundo líquor → Apenas pacientes que não estão evoluindo bem Após 72 horas de tratamento Melhora clínica após o terceiro dia de tratamento dispensa a realização de uma punção lombar de controle Complicações Agudas → Abcessos cerebrais → Coleções subdurais → Ventriculites → Hidrocefalia → Hiponatremia → Convulsões → Trombose de seio venoso Crônicas → Déficit cognitivo → Déficit auditivo → Epilepsia → Déficits focais/Hidrocefalia Glaziele Odawara – 5° Período – Neurologia Evolução → Melhora do estado geral: 4 a 6 horas → Diminuição da febre: 6 a 12 horas → Diminuição dos sinais de irritação meníngea: alguns dias Medias de profilaxia e controle → Todas as meningites são de notificação compulsória à simples suspeita → Vacinação → Quimioprofilaxia Quimioprofilaxia Objetivo → Prevenção de casos secundários → Deve ser instituída nas primeiras 24 horas do caso índice, podendo ser feita até o 30° dia Indicação → Neisseria meningitidis: contactantes próximos e profissionais de saúde com contato com secreções → Haemophilus influenzae: todos os contatos domiciliares se existir uma criança com menor de 4 anos de idade ou criança imunocomprometida Esquemas quimioprofiláticos → Rifampicina: 600mg VO/dia 12/12H por 2 dias → Ceftriaxone: 250mg IM dose única → Ciprofloxacino: 500mg VO dose única Meningites e encefalites virais Agentes etiológicos Tipo de vírus Representantes mais comuns Enterovírus Poliovírus, coxsackievírus, echovírus Herpesvírus Herpes simples tipo 1 e 2, citomegalovírus, varicela zoster, epstein barr Arbovírus Zika, dengue Outros HIV, raiva, influenzae, sarampo, caxumba Propedêutica laboratorial 1. Reação de cadeia de polimerase para vírus no líquor 2. Cultura de vírus no LCR Tratamento → Terapia de suporte: hidratação e analgesia → Aciclovir: 10mg/kg/dose 8/8H por 14-21 dias Pacientes com alterações focais ao exame neurológico, alterações na neuroimagem e EEG Meningoencefalite herpética Agente etiológico → Herpes simples tipo 1 → Elevada mortalidade e morbidade Clínica → Febre → Convulsões de difícil controle → Distúrbios comportamentais e da consciência → Sinais neurológicos focais Diagnóstico → PCR para HSV-1 positivo no LCR → Neuroimagem Ressonância cerebral com hipersinal em região temporal T2 e FLAIR → EEG PLEDS – descargas epileptiformes periódicas lateralizadas Tratamento → Aciclovir Glaziele Odawara – 5° Período – Neurologia Meningites crônicas Definição Fatores de risco → Duração superior a 4 semanas Inflamação da pia-máter e da aracnoide 1. Imunossupressão 2. Desnutrição 3. Alcoolismo 4. Comportamento de risco e uso de drogas intravenosas ilícitas Etiologia Infecciosa Bacteriana Tuberculose (Brasil), sífilis, brucelose, leptospirose, doença de Lyme e listeriose Viral HIV, HTLV-1, citomegalovírus, enterovírus, caxumba e vírus da coriomeningite linfocítica humana Fúngica Criptococose, esporotricose, Histoplasmose, blastomicose e coccidiodomicose Parasitária Cisticercose, toxoplasmose, Angiostrongylus cantonensis e Acanthamoeba spp Não infecciosa Neoplásica Tumores sólidos (pulmão, mama e melanoma), leucemias, linfomas e tumores primários do SNC Autoimune LES, artrite reumatoide, doença de Sjögren e granulomatose com poliangite Doença sistêmica Sarcoidose, síndrome de Vogt-Koyanagi-Harada, doença de Behçet e doença relacionada ao IgG4 Química Metotrexate, citarabina, anti-inflamatórios, imunoglobulina, trimeytopim-sulfametoxazol, cisto dermoide, cisto epidermoide, craniofaringioma e teratoma *Tabela por Ana Paula Oliveira – 101B Manifestações clínicas 1. Sinais clínicos insidiosos 2. Cefaleia holocraniana, contínua e progressiva 3. Vômitos 4. Febre baixa e intermitente Febre vespertina e sudorese noturna = meningite tuberculosa 5. Sinais de irritação meníngea podem ser ausentes no início do quadro 6. Comprometimento de nervos craniano 7. Crises convulsivas 8. Disfunção cognitiva leve 9. Distúrbios psiquiátricos 10. Sinais sistêmicos Sintomas respiratórios Úlceras genitais e orais Lesões cutâneas Emagrecimento Diagnóstico Neuroimagem LCR Outros exames → Sempre necessário → Aponta a inflamação meníngea, mas não aponta o agente → Impregnação de contraste nas meninges principalmente na base do crânio → Lesões tumorais → Lesões patognomônicas → Hidrocefalia → Atrofia cortical → Turvo, xantocrômico, purulento ou hemorrágico → Pressão de abertura: > 20mmH20 → Pleocitose com predomínio de linfócitos (meningite aguda = polimorfonucleares) → Hiperproteinorraquia → Hipoglicorraquia → Cultura → Coloração → VDRL no LCR → PCR no LCR → Pesquisa de células neoplásicas no LCR → Biópsia das meninges Tratamento → Não existe tratamento empírico → Específico para etiologia estabelecida Glaziele Odawara – 5° Período – Neurologia Meningoencefalite tuberculosa (mycobacterium tuberculosis) Formas de comprometimento → Meningoencefalite → Tuberculoma: lesão tumoral causada por granuloma → Mal de Pott: infecção à nível da vértebra Deformidade da coluna Abcesso contraindo a medula Fisiopatologia → Infecção por via respiratória → Pneumonite localizada → Complexo de Gohn → Disseminação hematogênica → SNC → Microgranulomas de Rich → Meningites ou tuberculomas Quadro clínico → Astenia, anorexia e febrícula e sudorese vespertina → Cefaleia → Crises convulsivas → Hipertensão intracraniana → Sinais neurológicos focais → Comprometimento de pares cranianos
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