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FACULDADES BATISTA DO PARANÁ JACQUELINE MEDEIROS JANUÁRIO SCHALM ENFRENTAMENTO, CRISES E ADAPTAÇÕES DIANTE DA VIUVEZ FEMININA PRECOCE NA PERSPECTIVA CRISTÃ CURITIBA 2021 JACQUELINE MEDEIROS JANUÁRIO SCHALM ENFRENTAMENTO, CRISES E ADAPTAÇÕES DIANTE DA VIUVEZ FEMININA PRECOCE NA PERSPECTIVA CRISTÃ Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Disciplina de TCC 2 como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Capelania e Aconselhamento do Programa de Pós- Graduação em Teologia, das Faculdades Batista do Paraná. Orientador: Prof. Msc Robson Maurício Ghedini CURITIBA 2021 Dedico este trabalho ao meu marido Sigismundo Schalm Neto, “In Memorian”, pois como significa seu nome, foi meu Protetor Vitorioso por 3 décadas e deixou marcas profundas em minha História de Vida. À nossa filha, Mariane Schalm herdeira das promessas do nosso Deus, fruto de nossa união... PORQUE DELE, POR ELE, PARA ELE SÃO TODAS AS COISAS - ROMANOS 11:36 AGRADECIMENTOS À Deus, autor e consumador da minha fé! Aos meus pais, que seguem me incentivando a cada desafio e vibrando nas vitórias alcançadas! Aos familiares Schalms, que me acolheram sobretudo no tempo de tristeza e dor pela partida do ente querido, amado por todos nós! Aos pastores, missionários e irmãos de fé que me inspiraram nesta caminhada de servir, amar, aconselhar e chorar com os que sofrem! Aos queridos irmãos da Equipe de Capelania Hospitalar da qual faço parte, pelo amparo e apoio! RESUMO Este projeto de pesquisa pretende apresentar o processo do luto e a dinâmica da viuvez feminina em idade jovem. Passar pela viuvez em idade avançada pode gerar situações bem diferenciadas das que as mulheres mais jovens poderão viver com a perda de seu cônjuge de forma inesperada. A família constituída no modelo judaico- cristã sofrerá perdas significativas diante da morte precoce do esposo e pai. Distinguir os estágios do luto para que as reações possam receber suporte necessário torna-se essencial. Retomar a vida, orientar e propor caminhos aos filhos ajustando toda a família na nova rotina é de suma importância, pois a vida se refaz. As memórias permanecerão vivas e consequentemente trarão consigo os sentimentos de gratidão e alegria pelos acontecimentos vividos. A esperança se renovará a cada vitória alcançada, a cada relacionamento fortalecido e se revelará a cada nova oportunidade de viver. Palavras-chave: Viuvez feminina. Luto. Família. ABSTRACT This research project aims to present the grieving process and the dynamics of female widowhood at a young age. Going through widowhood at an advanced age can generate situations that are quite different from those that younger women may experience with the loss of their spouse in an unexpected way. The family constituted in the Judeo-Christian model will suffer significant losses due to the early death of the husband and father. Distinguishing the stages of mourning so that reactions can receive necessary support is essential. Resuming life, guiding and proposing paths to children, adjusting the whole family to the new routine is of paramount importance, as life is remade. The memories will remain alive and consequently will bring with them the feelings of gratitude and joy for the events experienced. Hope will be renewed with each victory achieved, each relationship strengthened and revealed with each new opportunity to live. Keywords: Female widowhood. Mourning. Family. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1 2. TEMA .................................................................................................................... 2 3. PROBLEMA ......................................................................................................... 2 4. JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 2 5. OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 3 6. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................ 3 7. METODOLOGIA ................................................................................................... 4 8. REVISÃO DE LITERATURAS ............................................................................. 4 8.1 LUTO ............................................................................................................. 4 8.2. SOFRIMENTO, VIUVEZ E IDENTIDADE ...................................................... 7 8.3. CONSOLO E ENCORAJAMENTO ................................................................ 9 8.4. “SEGUIR EM FRENTE É O MELHOR A FAZER” ........................................ 11 8.5. PERSPECTIVA ETERNA ............................................................................. 13 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 18 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 19 1 INTRODUÇÃO Nascer, crescer e morrer é o ciclo da vida para todo o ser que respira. Sabemos e explicamos tão bem esta sentença, porém quando este processo natural se processa de maneira diferente estamos diante de um dilema, muitas vezes sem explicação plausível e entramos em crise. A morte geralmente chega sem aviso e o luto se estabelece sem que tenhamos tomado consciência do que está por vir. A viuvez feminina é mais comum e é estranho demais que seja desta maneira, pois geralmente a mulher depende do marido e assim sem ele ela fica perdida e sem rumo. Com todo o sofrimento da perda do cônjuge, ainda há os filhos – quando já tiverem nascido, o sustento, as crises interiores e muito mais. Sobretudo a viuvez feminina na idade jovem, se torna ainda mais desafiadora. As mulheres passam por tantas batalhas ao longo de suas vidas que servem como treino para suportarem pressões avassaladoras como o luto. É preciso discutir estas impressões e tornar o assunto mais pertinente, pois diante de um mundo que oprime e pressiona a morte está diante de nós diariamente. Quando conversamos e encaramos de frente o que nos assusta poderemos viver esta vida com mais ânimo e responsabilidade para nos prepararmos para a vida que está por vir. Trataremos aqui de algumas questões pertinentes ao assunto desejando elucidar pontos importantes quanto ao luto e a viuvez feminina precoce. 2 TEMA Como enfrentar as crises e adaptações familiares, profissionais e pessoais decorrentes da viuvez feminina precoce a partir da perspectiva cristã? PROBLEMA “Não é bom que o homem esteja só” (BÍBLIA, 2000, Gênesis 2:18 a., p 06), ouvimos esta citação e concordamos com a profundidade implícita nesta verdade bíblica, o homem criado a imagem e semelhança de seu criador é um ser relacional. Desta forma em todas as fases de nossa vida lutamos contra a solidão, o isolamento, as perdas e sobretudo a perda pela morte de quem amamos. Desde “o princípio” podemos perceber que o criador nos criou para uma vida abundante, entretanto a morte entrou na história da humanidade e desfez este sonho perfeito e trouxe consigo uma ruptura cruel com o corte de vínculo com as pessoas com quem nos relacionamos nesta vida. Para o casal que nutre um bom relacionamento, que está vivendo a saudável união do matrimonio, completando bodas com a esperança de viver longos anos juntos e deixar um legado, a morte rouba e fereprofundamente os sonhos almejados. Como enfrentar esta adversidade exemplificada aqui pela viuvez precoce, será alvo deste trabalho de pesquisa. JUSTIFICATIVA Perder o cônjuge de forma abrupta e inesperada pode gerar inúmeras crises interiores e exteriores, pois ao casar não planejamos nossas vidas em separado desejamos que a comunhão da vida à dois seja alcançada em todos os âmbitos. Com a morte de um dos cônjuges o quadro familiar muda completamente, gerando situações desafiadores e muitas vezes conflitantes. Deveríamos nos preparar em vida, para a possibilidade de uma partida solitária de um dos cônjuges, porém somente ao nos depararmos com a real situação é que esta verdade se torna palpável em nossa história. Falar sobre o fim desta vida deveria ser uma conversa comum nos meios familiares, principalmente entre o casal. Nossa sociedade, com o passar dos anos tenta deixar o tema em questão bem distante e de certa forma desconsidera esta fase da vida, que todos certamente passaremos. Sobretudo com o aumento das doenças cardiovasculares, “[...] sendo responsáveis por quase 30% dos óbitos em nosso país. 3 Os homens são três vezes mais propensos ao problema, principal motivo de morte do gênero masculino no Brasil” (SANTANA, 2016), conforme pontam pesquisas médicas. Por estar vivenciando a viuvez aos 47 anos, com a perda de meu marido aos 55 anos em virtude de uma parada cardíaca, fui impulsionada a realizar buscas específicas e leituras com o objetivo de enfrentar o processo do luto de modo saudável e viver esta nova fase com uma perspectiva de esperança. As pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2014, citado por SANTANA, 2016) comprovam que a expectativa de vida das mulheres é mais alta que a dos homens. Eles são mais vítimas da violência e doenças crônicas. (IBGE 2014, citado por SANTANA, 2016) OBJETIVO GERAL Compreender o processo de luto e da viuvez feminina precoce. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Descrever as fases do luto; Reafirmar a identidade feminina diante da viuvez precoce; Identificar as crises emocionais e familiares diante da viuvez. 4 METODOLOGIA Na pesquisa bibliográfica desenvolveu-se leituras especificas abordando o tema em questão. Elucidar e descrever as fases do luto e o enfrentamento necessário diante da viuvez precoce serão o foco desta pesquisa, embasamento teórico e reflexão serão expostos no texto. A metodologia da pesquisa será descritiva, de abordagem qualitativa. O procedimento metodológico será leitura e revisão bibliográfica de livros e textos bíblicos. REVISÃO DE LITERATURAS 8.1 LUTO Estar em um hospital como visitadora, conselheira, capelã auxiliar é muito diferente de que estar envolvida no ambiente hospitalar como acompanhante do cônjuge em seu tratamento oncológico. De repente os conselhos e textos usados para encorajar outros passam a ter valor muito profundo e real para a experiência pessoal e familiar. Estar diante da doença inesperada, da internação repentina e do diagnóstico de piora conduz o coração a buscar refúgio em Deus como forma de proteção e segurança. Para os que confiam e creem que há um governo maior sobre tudo e todos é impossível não se render e clamar pelo socorro deste que governa e rege o universo. O livro de Jó nos revela a grandeza e o completo governo deste Deus Criador e completamente soberano, agindo com poder fora de nossa compreensão humana. Em Jó 33:4 (BIBLIA, 2000, p. 666) lemos: “O Espírito de Deus me fez; o sopro do Todo-Poderoso me dá a vida”, e no decorrer de uns poucos dias quando menos esperávamos Deus recolheu o espírito do homem com quem eu havia casado e vivido por 28 Bodas, pai de uma filha de 21 anos. Nós, que ficamos nos submetemos à sua vontade, que segue completa e perfeita. Ler e estudar os escritos de Elisabeth Kübler- Ross (1996) no livro: “Sobre a morte e o morrer” em virtude do servir na Capelania Hospitalar foram de grande auxílio para os aconselhamentos e visitas de conforto aos enlutados, entretanto agora são palavras de graça e luz para minha alma, pois eu estive vivendo o luto na prática. Viver as fases do luto e auxiliar os familiares tornou meu olhar mais amigo, promoveu um coração mais compassivo, quebrantado e desarmou meus argumentos. Quando estive de perto cuidando, amando, 5 ministrando ao meu marido não me dei conta dos indicativos claros do agravo do quadro, após sua partida foi possível perceber como cada fase foi vivida por ele de maneira tão intensa e num rápido desenrolar – da data do diagnóstico da doença até o dia de sua despedida - em menos de um mês corrido. Por vezes antes havia estudado livros sobre perdas e luto para ministrar aos outros e também para acalentar meu coração em virtude de uma gestação interrompida em 2007, porém jamais poderia imaginar que eu estaria vivenciando o luto pela morte do meu amado no dia 17 de outubro de 2019, quando eu acabara de completar 47 anos de vida no dia 04 do mesmo mês. Apresento as fases do luto ou da perspectiva da morte segundo a psiquiatra Elisabeth Kubler – Ross (1998): 1º Estágio: Negação ou Isolamento - é quando não compreendemos e/ou tentamos negar o que está acontecendo. Também há o isolamento social e o desagrado em falar sobre o assunto, como o diagnóstico sendo uma notícia inesperada que choca o paciente ou aquele que está em estado final de vida, ou o familiar ao saber do falecimento do ente querido. É um momento ímpar jamais vivido e inevitavelmente gera um sentimento de negação, pensamentos de perplexidade e de confusão quanto ao acontecimento real e os sonhos abortados diante da morte. 2º Estágio: Raiva – o primeiro sentimento passa e a raiva de estar passando por este momento tempestuoso fica evidente. As indagações e sentimento de revolta, ressentimento, inveja ficam à mostra. É necessário receber a escuta de conselheiros e amigos. A equipe médica, interdisciplinar e Capelania pode oferecer amparo, com escuta ativa para auxiliar a externar a contrariedade e raiva. Lembrando que o paciente passa por este estágio e após sua partida, o enlutado e familiares mais próximos também. Na jornada do luto, os sentimentos entram em erupção passando de leves a mais intensos externando o que pode ter ficado encoberto. Este processo é muito pessoal e único, não pode ser comparado de pessoa para pessoa pois é necessário levar em consideração a posição que cada enlutado com a pessoa que partiu e os laços afetivos construídos, a consideração e amizade que mantiveram em vida sem esquecer a personalidade e a maturidade da pessoa que está vivendo o luto. 3º Estágio: Barganha – Acontece com uma tentativa de adiar esta dor, de negociar com Deus tentando fazer acertos que possivelmente não serão cumpridos. É comum o paciente “combinar com Deus”, prometer atitudes para que seja curado ou vença por mais um tempo. No processo do luto é mais incomum viver esta fase. 6 4º Estágio: Depressão – sentimento diante da impotência da situação. Tristeza extrema, um sentimento que faz doer o interior. Uma tristeza e sentimento de solidão que pode gerar insônia, vontade de se isolar do mundo exterior por sentir-se deslocado neste novo estado de “estar viúva”. Pensamentos negativos, muitas vezes mentirosos invadem a mente, a alma fica abatida e pode entrar o sentimento de abandono. 5º Estágio: Aceitação – É um sentimento que podemos perceber no paciente que teve tempo de se despedir, de elaborar a partida conforme os estágios apresentados anteriormente, ele poderá demonstrar maior tranquilidade, a aceitação de visitas com a presença silenciosa dos que o amam – preferindo segurar as mãos que a conversa falada. Para o enlutado é o estágio de acomodar os sentimentos e olhar com esperança a vida que está à sua frente. Muitas das perguntas não serão respondidas, porém a segurançavirá em reconhecer que Deus governa e que cada vez que o buscamos através de Sua Palavra e da oração recebemos força para seguir adiante sem a presença do ente querido que partiu. Quanto a minha experiência pessoal e única de luto os textos do C.S.LEWIS tocaram profundamente meu interior, a exposição de seu sofrimento interior pela morte de sua esposa, as crises e perguntas no seu diário de dor me fizeram refletir. Uma frase memorável de LEWIS (2007): “Pois, como descobri, o intenso, sentimento de luto não nos liga aos mortos, mas nos separa deles. ” Nas entrelinhas, podemos compreender que o luto deve ter início e fim. Este período serve para nos desligarmos da pessoa amada, é preciso “deixar partir” este é um processo por vezes extremamente longo e doloroso, que tem relação direta com o quanto éramos ligados a pessoa que partiu, como era o relacionamento de dependência e ou co- dependência, de quanto era a profundidade do amor e da comunhão vividos. Descobri que é possível viver o luto de maneira saudável e honrosa, que não é correto fazer comparações ou exigências neste período. Para cada pessoa enlutada o luto se processa de maneira diferente, não há um padrão, as fases apresentadas não seguem uma ordem engessada, nem progressiva. Entretanto, podemos orientar, prover suporte no processo de luto e proporcionar ajuda efetiva aos que sofrem. Também é “importante encontrar amigos que possam lhe ouvir, e lhe deixar expressar os sentimentos... Amigos que não o condenem pelo que você está sentindo, pois Deus não o faz.” (AITKEN, 2014). 7 Nosso foco aqui é a esposa que se vê sozinha diante da morte prematura de seu cônjuge com angústia em seu interior, uma variação de sentimentos: insegurança, raiva, ira, tristeza, medo, frustração, solidão, alívio, aceitação entre outros. Outra variante importante é a causa morte do cônjuge que levará a esposa a ter um comportamento diferenciado. O luto deve ser vivido e não ignorado. O processo de superação, resiliência e esperança ressurge quando o sofrimento é encarado de frente. Quando há rendição, humildade e aceitação da perda acontece o inesperado: a transformação da dor em uma oportunidade de cura. No texto de Lucas 24: 13-32 (BÍBLIA, 2000, p. 1344) citando o caminho de Emaús podemos perceber os sentimentos de dois discípulos enlutados: lamento, tristeza, frustração, perplexidade e dor pela separação em virtude da morte do Mestre Jesus. Eles precisam falar, comentar, abrir o coração ao longo do caminho com o viajante segue com eles em meio ao sofrimento intenso. Porque não conseguem reconhecer quem estava ali andando com eles? Porque a tristeza rouba a beleza da revelação, seus olhos estavam focados no mundo natural. Apenas no âmbito do espírito podemos sentir e receber a presença bondosa de Jesus. Na comunhão da mesa os discípulos reconhecem quem estava com eles. Eu fui reanimada na comunhão diária com o Pão Vivo que desceu do céu – Jesus – também na companhia dos irmãos de fé que me atenderam com empatia e misericórdia, oferecendo suporte nos momentos adversos do luto. Meus pais e familiares mais próximos ajudaram-me a liderar as finanças, a reorganizar a vida familiar. Diante da perda, eu escolhi aproveitar as oportunidades que se abriram para amadurecer, redefinir prioridades, tomar novas direções e servir o próximo ainda mais intensamente. Se estou aqui, Deus tem um propósito a cumprir com a minha vida e desejo fazer parte desta Boa Obra. 1.2. SOFRIMENTO, VIUVEZ E IDENTIDADE Susannah Spurgeon (2019) no livro “Reflexões cristãs sobre o sofrimento”, trouxe à tona a importância de ter a identidade correta, saber quem cada pessoa é em Cristo. Temos dons e talentos diferentes de nossos maridos, não é novidade, porém muitas vezes percebemos mulheres que vivem à margem, como se fosse alguém de menor valor em comparação com seu marido ou como sua sombra. Não é desta maneira que a mulher que teme à Deus deve viver, sua posição e objetivos devem cumprir os propósitos de Deus, pois cada pessoa é especial e tem desígnios bem 8 definidos pelo Criador. A identidade feminina necessita ser restaurada, se a mulher estiver sentindo-se desvalorizada, desacreditada, com baixa estima. Nesta fase da vida - viuvez- a mulher recebe nova posição no meio familiar – agora não mais como esposa, segue como mãe e ganha a posição de pai também, adquire novas responsabilidades e muitas preocupações extras. Mas se esta mulher que está viúva é filha de Deus, pode seguir crendo que o Pai nunca a deixará nem jamais a abandonará em seus desafios, nos dias sombrios e momentos crise, choro de angústia pela falta que seu marido fará. A família passa por uma readaptação quanto à divisão de tarefas, mudanças externas e ajustes na nova rotina sem a presença do pai. Sobretudo se houver filhos pequenos, muitas vezes os avós se mostram mais ativos para dividir as cargas. Os vínculos afetivos entre os familiares se fortalecem, as amizades verdadeiras se revelam na convivência entre amigas mais que irmãs, e a presença fiel dos irmãos da igreja são de extrema importância para superar e desenvolver um recomeço de vida com esperança. Que preciosidade descobrir nas letras e versos desta autora alguns segredos que são apenas revelados aos que passam por sofrimentos e dores indescritíveis, perdas e doenças que fazem o suspirar nesta vida ter outro valor. Receber o consolo do Criador em meio aos vales de sombra e de morte é literalmente receber uma revelação do amor infalível de Deus. Susannah Spurgeon passou pela viuvez e experimentou diversas lutas em sua própria saúde o processo de superação do luto se deu por meio de sua busca nas verdades contidas nas escrituras sagradas, seus registros expõem suas reflexões profundas de entrega sincera e através das ações de bondade aos que necessitavam de auxílio e apoio nos estudos percebemos sua alegria em servir. Susannah é um exemplo de desprendimento e de empenho nas causas muitas vezes esquecidas, liderou e seguiu com os ministérios de suprir os jovens pastores para concluírem seus estudos no preparo para pastorearem, foi uma mulher valorosa ao se colocar como a melhor cuidadora de seu marido enquanto esteve doente e após a partida de seu marido – o pregador tão respeitado – colaborou com escritas de seu próprio punho, compilou cartas e outros registros para compor a Autobiografia de C.H. Spurgeon. Nas palavras de Susannah posso me identificar, pois quando a dor do luto está latente, os sentimentos íntimos e particulares são vistos apenas por Deus, no mais profundo do nosso ser, no lugar onde só Ele pode chegar para curar e trazer consolo, 9 é possível receber “Seu Amor Pastoral” que ministra profundamente a alma e traz paz indescritível. Faço minhas as seguintes palavras de Susannah Spurgeon: Às vezes, no recôndito da minha dor, Nos momentos que são apenas meus, E em meio a todos os sofrimentos, Sinto a mão disciplinadora de Deus. Então descubro que os mais fracos Nas tempestades da vida têm um protetor; E que apenas os frágeis cordeirinhos São carregados nos braços do pastor! (SPURGEON, 2019, p.38) 1.3. CONSOLO E ENCORAJAMENTO Para receber o verdadeiro consolo será imprescindível que seu coração esteja rendido ao governo de Jesus Cristo - o Filho de Deus que deixou Sua Glória no céu - Ele veio em carne para a terra, nasceu, viveu e se entregou por amar o homem, morreu e venceu ressuscitando ao 3º dia. Todo o que o recebe, renuncia o pecado recebe vida nova e passa da morte para a vida eterna. Após o tempo determinado por Deus – o Pai, Jesus voltou para sua morada celestial, porém deixou Seu Espírito Santo para habitar em cada pessoa que Nele crêr. Como está escrito em João 16:7 (BÍBLIA, 2000, p. 1374) “Mas eu lhes afirmo que é para o bem de vocês que eu vou. Se eu não for, o Conselheiro não virá para vocês; mas se eu for,eu o enviarei. ”. O Espírito Santo é chamado de Paráclito ou Paracleto (em grego: παράκλητος - paráklētos; em latim: paracletus) que significa "aquele que consola ou conforta; aquele que encoraja e reanima; aquele que revive; aquele que intercede em nosso favor como um defensor numa corte." (WIKIPEDIA, 2021). De acordo com o Dicionário Cristão WEBSTER 1828 (COMFORTER, 2020) – Consolador é “Aquele que administra conforto ou consolo; aquele que fortalece e apoia a mente em perigo ou angústia.” (tradução livre). Como viver o luto sem este “consolador” que conhece as dores e angústias mais profundas da alma? Para suportar a perda, viver cada fase do luto de forma equilibrada e saudável, sobreviver aos dias de saudade e conseguir reagir de nodo produtivo na reorganização interior e exterior a doce presença do Espírito Santo de Deus é essencial para alcançar maior êxito. É maravilhoso perceber que o sofrimento não dura para sempre, tem um tempo de início, meio e fim. No tempo do vale e da tempestade temos companhia constante do amigo Espírito Santo. No processo do luto 10 o desejo mais latente do coração ferido é receber consolo, ouvir palavras que inspiram e experimentar alívio para o peso que parece sufocar dia e noite. E onde é possível encontrar esse consolo? Nos livros poéticos da Bíblia que retratam maravilhosamente as crises e sofrimentos humanos, nas cartas do Novo Testamento com conselhos práticos e oportunos nos momentos de dor, nas Palavras de Jesus que foi “homem de dores e que sabe o que é padecer”, conforme Isaías 53: 3 – 5 (BÍBLIA, 2000, p. 946). Para as pessoas enlutadas que desenvolveram sua fé através de um relacionamento pessoal com Deus com práticas espirituais que envolvem a leitura da Palavra de Deus, oração, leitura de livros que tratem do assunto na perspectiva cristã, escrita de suas reflexões, momentos de aconselhamento e comunhão com pessoas confiáveis, retiros espirituais, cânticos e contemplação da criação de Deus a esperança renasce e os momentos de dor diminuem até cessarem por completo, deixando no lugar as lembranças que “agasalham o coração” como um cobertor quente e macio no inverno rigoroso. Como filha de Deus creio que cada sofrimento vivido, cada perda e/ou frustração fazem parte do Plano de Deus para minha vida. Tenho convicção de que novas perdas virão e são inevitáveis, porém minha reação diante delas poderá afetar de modo positivo ou negativo o meu futuro... Não aceito seguir me lamentando ou supervalorizando minha dor, será mais proveitoso deixar Cristo transformar meu pranto em dança, como o salmista relata: “Mudaste o meu pranto em dança, a minha veste de lamento em veste de alegria, para que o meu coração cante louvores a ti e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te darei graças para sempre. ” (BÍBLIA, 2000, Salmos 30:11,12, p. 703) Desta forma poderei ser útil no servir aos enlutados, para com as mulheres sozinhas e viúvas, aos que sofrem, com coração bondoso e cheio de gratidão. Qual o real propósito do sofrimento? Participar dos sofrimentos de Jesus, receber consolação para consolar os que sofrem. O apóstolo Paulo exemplifica este processo de consolação: “[...] Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações. ” (BÍBLIA, 2000, II Coríntios 1:3,4, p. 1466) Quando vivenciamos desafios intensos e sobrevivemos podemos compartilhar as lições aprendidas. Segundo Wright (2006), “O Deus de toda consolação não o deixará 11 à beira do caminho nem o deixará afundar na lama. Ele virá imediatamente ao seu socorro quando você invocar o nome dele. ” E consequentemente o próprio Deus poderá usar esta pessoa para transmitir consolo ao ferido, agindo como bálsamo de cura em sua vida. 1.4. “SEGUIR EM FRENTE É O MELHOR A FAZER” Que frase profunda e complexa quando se trata de uma jovem sem marido vivo, com filhos que dependem de sua sanidade mental e equilíbrio para oferecer a continuidade de vida saudável. Ao ler sobre a vida de Elisabeth Elliot é possível perceber que Deus reserva para cada filha “uma cruz” específica e ideal para desenvolver os músculos espirituais da fé, pois muitos segredos espirituais só poderemos receber após passarmos por sofrimentos e dores (ELLIOT, 2020). Parece algo inaceitável, um paradoxo pois “Deus é Amor” e como permite que seus filhos sofram, como pode ser isso? Esta pergunta é levantada muitas vezes pelos que sofrem e pelos que discutem as causas do sofrimento, entretanto as respostas podem gerar raiva e revolta contra Deus, se não forem devidamente respondidas. Ao conhecer o testemunho desta mulher que se viu por 3 vezes diante da viuvez é impossível passar por sofrimentos sem rever os paradigmas sobre: dores, crises, perdas, frustrações. O amor e sofrimento estão intimamente ligados. Em toda a história do homem, desde a sua criação relatada nas escrituras sagradas percebemos que ao amar é preciso entregar, o crescimento se dá pelo amor e pelo sofrer e é essencial estes extremos são essenciais para formar o caráter do homem segundo o modelo do Seu Criador. Quando educamos uma criança, precisamos oferecer a ela amor e limites e neste processo não vivenciamos apenas momentos de alegria e satisfação. Sobretudo nos momentos de dor e tristeza é possível vivenciar e adquirir lições profundas. Neste estudo nos referimos a este olhar, que forja uma convicção de fé inabalável no Deus que governa até mesmo quando sofremos perdas irreparáveis, como a morte do cônjuge. E através deste sofrimento tão profundo podemos receber o Amor de Deus que é o único que preenche o vazio deixado por um amor humano. Só podemos entender esse mistério se olharmos na perspectiva cristã, não com o padrão deste mundo visível em que os fatos são interpretados com respostas e deduções humanas. Para os que receberam a salvação em Cristo Jesus, que consideram os valores do Reino invisível – que é o Reino de Deus - a vida 12 passageira nesta terra se findará para todos e a vida eterna será sem nenhum sofrimento para os que partirem firmado no Amor, que é o próprio Deus. Dias antes da partida do meu marido para esta vida eterna, recebi em meu interior uma impressão de que passaríamos por um tempo de intempérie, como nenhuma antes em nossa família. O que fazer diante do dia escuro, da seca e da insegurança? Só poderia buscar refúgio, me reabastecer e renovar a fé num lugar: a Presença de Deus. Numa madrugada, fui acordada para orar e logo um texto veio à mente, então guiada pelo Espírito de Deus abri em Jeremias 17 (BÍBLIA, 2000, p. 991). Muitos tesouros estavam sendo revelados ali, porém os versículos 7 e 8 entraram como uma espada afiada em meu ser e me saciaram, literalmente me fortaleceram para os dias que estavam por vir (BÍBLIA, 2000, p. 991). Eu recebi esta Palavra e por diversas vezes eu declarei que eu confiava que Deus estava saciando nossa sede com a sua água, nos recobrando as forças pois Ele mesmo é a fonte de água viva. E juntos: eu, marido e filha passamos por todo o “sofrimento da seca”, do câncer repentino que acometeu meu marido, do período de cuidado e fragilidade nos sentimentos que vivemos e por fim do luto que passamos. Por meio de todo esse quadro de sofrimento, perda e dor foi possível receber um amor tão profundo de Deus, uma nova faceta indescritível que promoveu cura e consolo para ajudarmos outros em suas tribulações. Como o apóstolo Paulo descreve em II Coríntios 1:6 “Se somos atribulados, é para consolação e salvação de vocês; se somos consolados é para consolação de vocês, a qual lhes dá paciência para suportarem os mesmos sofrimentos que nós estamos padecendo. ” (BÍBLIA, 2000, p. 1466) Que preciosas palavras, que tamanho amor... Meditando no livro de Rute (BÍBLIA, 2000, p.333) descobripalavras vivas que agora trazia em si um novo sentido para a minha experiência de vida - viuvez precoce. Perceber que as lutas mais desafiadoras só poderão ser vencidas com a ajuda de Deus é uma grande revelação, esta verdade muda completamente o rumo de nossa história. Noemi e Rute, duas viúvas que se unem em suas dores nos ajudam neste entendimento. A comunhão e empatia que elas vivem, demonstram um relacionamento equilibrado de amizade, respeito e honra entre uma sogra e sua nora. As duas são curadas no processo de mudança e de novos rumos em suas vidas, literalmente deixando para trás as dores que lhes sobrevieram em virtude da morte de seus maridos. Em novo local de moradia, com novo círculo de amigos, trabalho e 13 convivência ambas são resgatadas, recebem o sustento necessário para uma vida digna e a esperança de viverem uma história de descendência. Relendo e estudando este Livro nesta ótica, é possível retirar pérolas valorosas que trazem brilho ao cinza do luto. Viver o luto, dar tempo devido ao choro, acolher os filhos (quando há), promover momentos para relembrar boas vivências, oportunizar novos capítulos da história em família com: viagens, passeios, tempos de refrigério e alegria, realizar sonhos, mudar a rotina, se dar ao prazer de refazer o ambiente de moradia, descobrir novos hobbies, abrir o coração para novas amizades, servir as pessoas com o melhor de seus dias e seguir adiante pois a vida que Deus deu é valiosa para perdê-la com tristezas e amarguras. E quando menos esperamos, podemos novamente sorrir, planejar e esperar por dias de vida completa em Deus! 1.5. PERSPECTIVA ETERNA Como saber se estou agindo de maneira produtiva, vencendo o processo do luto? Um dos primeiros sinais de que o sofrimento está findando é a mudança de foco nos seus pensamentos. Os momentos de dor em virtude das lembranças diminuem, a mente consegue se concentrar melhor, os pensamentos fluem mais naturalmente sem o peso sufocante das emoções nos dias pós partida do ente querido. Outro sinal é a diminuição do cansaço e a melhora da disposição física, com a possibilidade de realização de atividades esportivas/recreativas, vivência saudável nos momentos de interação entre familiares e amigos. Ainda um terceiro sinal está relacionado ao desejo de tomar decisões, julgar com sabedoria e sensatez, pois a medida que o sofrimento diminui a vida seguirá o seu curso. Recuperar-se de uma perda tão significativa leva tempo, ajustes serão feitos ao longo da rotina diária na vida pessoal, familiar, profissional entre outros. Regularizar o sono, a alimentação, o trabalho, o lazer será muito desafiador, exigirá paciência e perseverança. Abrir-se para novos rumos nos estudos, nas amizades, na realização de viagens será inspirador e renovará os sonhos. Para o cristão, a dor da separação é diferente, pois está misturada à esperança da vida eterna com Jesus Cristo. A fé cristã está alicerçada na obra redentora da Cruz, onde Jesus morreu e ao terceiro dia ressuscitou. Ele abriu o caminho da salvação e libertação do poder do pecado em cada pessoa que o recebe se tornando Filho de Deus, e conquistou a vida eterna como herança. Por isso cremos 14 que um Dia encontraremos os entes queridos que creram em Jesus e que partiram desta vida para viverem eternamente com o Senhor da Vida. O profeta Isaías profere palavras que relatam esta verdade: “[...] o Senhor será a sua luz, para sempre, e os seus dias de tristeza terão fim. ” (BÍBLIA, 2000, Isaías 60:20, p. 955) Outra questão que tentamos esquecer e que inesperadamente bate à nossa porta é: Tenho consciência de que aqui não é o meu lugar e que deverei partir um dia, estou preparado para morrer? Pode ser estranho tratar deste assunto, entretanto conversar sobre nossa vida futura, sobre o que nos espera na pátria celestial preparada por nosso Criador, sobre como será a vida eterna conquistada pelo Resgatador Jesus Cristo deveria ser um assunto mais frequente entre os crentes justamente por compreendermos que somos peregrinos nesta terra onde nosso corpo é extremamente vulnerável e finito. Eu e meu marido tivemos diversas conversas sobre a vida terrena e a vida eterna. Numa ocasião comentamos sobre a seguinte frase: “A morte de uma pessoa amada é uma amputação; contudo quando duas pessoas casam, cada uma delas tem de aceitar que a outra poderá morrer primeiro” de Douglas Gresham no prefácio de um livro de C.S.Lewis (2007) sobre o processo do luto. Eu sempre achei que partiria primeiro e brincávamos com a ideia de seguir a vida sem a companhia do amado, mal sabia que estaria viúva antes de casar nossa filha e muitos outros sonhos sonhados à dois seriam abortados, esquecidos. Só posso relatar e confirmar após as leituras realizadas que todo este tempo anterior fez parte da preparação para ambos – ele que partiu e eu que fiquei para outra “chamada celestial”. Conforme WARREN (2008) “Fomos criados com uma saudade da realidade eterna de um lugar que está além de nossos mais maravilhosos sonhos”. Aqui, definitivamente não é o lugar ideal para os filhos de Deus, chegará o dia de sermos levados para a Nossa Pátria! Ao me deparar com a realidade da morte, da partida não vi como uma tragédia, pois creio que meu amado está em Cristo, descansou de sua labuta aqui. Tragédia é morrer sem esta certeza, terminar uma vida sem a esperança da vida eterna. Um dos textos que deixa claro que nosso corpo é perecível e tudo o que se refere à vida eterna foi preparado para glorificar ao único Deus, que nos deu a Vida, é: “Pois, enquanto estamos nesta casa, gememos e nos angustiamos, porque não queremos ser despidos, mas revestidos da nossa habitação celestial, para que aquilo que é mortal seja absorvido pela vida. ” (II Coríntios 5:4) 15 Na prática da Capelania Hospitalar nos deparamos constantemente com este processo pessoal de entregar, de confiar e desfrutar da vontade de Deus para a vida. Aceitando ou não a partida do ente querido, a morte se dá quando os órgãos vitais não seguem o seu funcionamento normal, quando o respirar cessa pelo comando do Criador. No processo de morrer muitas vezes é possível desenvolver uma escuta ativa, colocar-se ao lado do paciente – do ente querido - para orar, ler as Palavras de Vida Eterna, proporcionar um tempo de acertos pessoal e interpessoal, dar-lhe a mão, oferecer carinho e fazer seus desejos serem atendidos, despedir-se com amor. Vivi este processo por algumas vezes de maneira especial e única com cada paciente, lembro-me com saudade de meu avô paterno, de uma tia materna, de algumas irmãs em Cristo em cuidados paliativos e do meu cônjuge. Ao ler as palavras de sabedoria citadas em Eclesiastes podemos refletir profundamente: “...o dia da morte é melhor do que o dia do nascimento. É melhor ir a uma casa de festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério! ” (BÍBLIA, 2000, Eclesiastes 7:1b, 2, p. 866). Ninguém deseja sofrer, fazemos de tudo para fugir e evitá-lo a todo momento. Porém, percebemos que através de momentos de dor, a pessoa sente a falta do amor, do perdão, do cuidado e se abre para ser suprida em suas carências, muitas vezes antes ignorada. “A aceitação do sofrimento nos aprofunda em nossa devoção” (GUTHRIE, 2008). Deus segue no comando e age em todas as coisas para o nosso bem, pois tem o desejo de nos moldar para a eternidade. Viver com uma perspectiva eterna, muda completamente a intenção do coração, a prática, o ponto de vista diante da vida terrena. Um dia eu deixarei de respirar, mas não deixarei de viver, estarei viva eternamente com Cristo. E desta maneira desejo viver aqui de modo digno do Evangelho para herdar o céu: lugar de alegria, gozo e paz, conforme citado em Apocalipse 21:4 (BÍBLIA, 2000, p. 1606) “...Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nemchoro, nem dor, pois a antiga ordem já passou". Aqui nesta ordem natural a cura física não chegou, pedimos com fé, nos esmeramos em seguir todos os protocolos orientados e numa manhã após longas horas de dores intensas fui acordada com a voz decidida do meu cônjuge, “Eu me rendo, eu me rendo, eu me rendo... Eu sou teu, Deus!” (Informação verbal). Esta decisão de rendição total, quebrou barreiras e destrancou portas de ferro que impediam o fluir da confiança no Bom Pastor, presente em todos os vales e tempestades da vida. E então a cura se estabeleceu no mundo interior e despertou novo entendimento, revelação da graça redentora, visível 16 libertação do medo, coração renovado, alegria esperança e fé. Foi perceptível o estabelecimento da perspectiva eterna nos últimos dias com meu cônjuge. “Morrer é desistir de si mesmo, entregando-se a Deus” (NOUWEN, 2020). Eu creio que o Cordeiro – Jesus Cristo - recebeu este filho na morada celestial. Diante desta realidade tão inusitada em minha vida, escolho a perspectiva eterna e desconsidero os pensamentos que limitam minha visão, que estão em desacordo com os sonhos de Deus para minha trajetória nesta terra. Entreguei meu cônjuge à Deus e tenho experimentado nova faceta da graça e misericórdia de Deus. Deixei-o partir, sinto-me leve para desfrutar dos dias que o Criador reservou pra mim! “Aqueles que andam retamente entrarão na paz; acharão descanso na morte”. (BÍBLIA, 2000, Isaías 57:2, p. 950) Assim, ainda resta um descanso [...] para o povo de Deus (BÍBLIA, 2000, Hebreus 4:9, p. 1544) Nesta perspectiva cristã da morte, apresento a poesia de autoria de uma amiga e irmã de fé, companheira na Missão de servir aos pequenos e grandes do rebanho do Bom Pastor: Sibila Hanzen. Foi escrita na despedida fúnebre de Sigismundo Schalm Neto, “Sigis” para os mais achegados. Foi uma linda lembrança do momento de deixar seu corpo partir, pois ali seu espírito já não estava presente. 17 Retrato da Paz O rosto sereno em nada lembra As expressões de intensa dor dos dias finais. A dor passou e até o forte clamor por cura, cessou. O rosto em paz revela o último momento Quando seu amado Senhor lhe disse: “Vem par casa, filho amado, vem descansar! ” O semblante de paz é a foto final Do precioso momento de ver o Senhor E de ouvir sua doce voz a lhe chamar: “Vem, servo fiel, entra no gozo do teu Senhor! ” A porta da entrada é a paz, aquela conquistada por Jesus Cristo na Cruz! Sim, Ele nos reconciliou com Deus pelo Seu Sangue! Por isso temos Paz com Deus! Por isso o Sigis, já reconciliado com Deus, Ouviu e atendeu o bendito chamado do Seu Senhor: Vem! No seu rosto a paz de quem disse: Sim EU vou! Nos seus lábios um pequeno sorriso, quase que maroto, De quem silenciosamente diz: “EU já fui chamado!!” E nesta hora sublime Não há lugar para tristeza, Nem mesmo por aqueles que deixamos para trás, Pois “na Sua Presença há abundância de alegria! ” Se houvesse tempo, ele poderia ter postado> #partiucasadoPai #partiuempaz #partiufeliz Para quem ainda não foi chamado Fica a dor da saudade A falta que cala fundo no peito. Mas em meio à intensa dor do adeus Há um sussurro suave que afirma: “EU estou contigo! Mesmo em meio às profundas águas da dor, você não submergirá Nem o fogo da perda a queimará. EU Sou teu consolo e o teu abrigo! Vem descansar em Mim.” (HANZEN, 2019) 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS Temos a tendência de achar que a perda nunca baterá em nossa porta ou que uma tempestade jamais nos atingirá, mas as intempéries chegam, e sabemos que afetam a todos, sem exceção. A palavra “intempérie” segundo o dicionário Online de Português (2019) em seu sentido figurado diz respeito a uma condição desfavorável; circunstância infeliz; momento desfavorável; desgraça: é preciso enfrentar as intempéries da vida. Esta palavra foi citada na Cerimônia do meu casamento e me intrigou muito, após saber de seu significado, percebi que a cada “abalo vivido”, a cada intempérie em meu matrimônio era possível compreender esta verdade, conforme as escrituras sagradas citadas em Mateus 5:45b (BÍBLIA, 2000, p. 1226) “ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos”. Eu me reabastecia em fé e na confiança que Deus em Sua Glória viria para estar comigo, considero aqui o texto de Isaías 4: 6b (BÍBLIA, 2000, p. 886) “e será um abrigo e sombra para o calor do dia, refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva”, como uma palavra de esperança para prosseguir. Desta forma enfrentar a viuvez é possível, viver o luto saudável e retomar a vida familiar mesmo sem a companhia do cônjuge é uma experiência que pode ser real para mulheres jovens que decidiram seguir olhando para o “Alvo” até despedir-se desta vida! E se Deus, em sua misericórdia e graça conceder novo relacionamento conjugal que seja para Sua Glória. Reintegrar os filhos na nova estrutura familiar, seguir no ensino, exemplo e apoio nas fases que se seguirão é extremamente desafiador, entretanto é parte fundamental para seguimento da vida equilibrada e saudável. Com a Presença de Cristo e sua sabedoria abundante cada obstáculo poderá ser ultrapassado, revertendo em honra ao único Deus. Nada poderá roubar Tua Glória Senhor, pois és “Pai para os órfãos e defensor das viúvas é Deus em sua santa habitação.” (BÍBLIA, 2000, Salmos 68:5, p. 736). Viver um luto que agrada a Deus é crer que tudo há um propósito, ainda que não tenhamos compreensão clara do ocorrido. Deus vê, Deus ouve, Deus ama! 19 REFERÊNCIAS AITKEN, Eleny Vassão de Paula. Deus está presente: amparo de Deus no luto. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2014. BÍBLIA. Nova Versão Internacional, NVI. Tradução: João Ferreira de Almeida. São Paulo: Editora Vida, 2000. p. 1627. COMFORTER in: Webster Dictionary 1828: American Dictionary of the English Language. Disponível em http://webstersdictionary1828.com/Dictionary/comforter. Acesso em 02 de janeiro de 2021. ELLIOT, Elisabeth. O sofrimento nunca é em vão. 1ªed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2020. GUTHRIE, Nancy. Um fio de esperança: quando o sofrimento torna a crenca em Deus uma decisão diária. Tradução: Susana Klassen. Saõ Paulo: Editora Mundo Cristão, 2008. HANZEN, Sibila. Retrato da Paz. Blumenau: Cemitério Jardim da Saudade, 18 de outubro de 2019. Poema escrito e lido na despedida de Sigismundo Schalm Neto. INTEMPÉRIE in: DICIONÁRIO ONLINE, 2019. Disponível em https://www.dicio.com.br. Acesso em 30 de setembro. 2020. LEWIS, C.S. A anatomia de uma dor: um luto em observação. Tradução: Alípio Franca Correia Neto. São Paulo: Editora Vida, 2007. p. 90. NOUWEN, Henri. Transforma meu pranto em dança: como atravessar tempos difíceis com esperança. Tradução: Jeanne Riggiero Pilli. Petrópolis: Vozes, 2020. SANTANA, Letícia. CARPE DIEM. 2016. REVISTA LUDOVICA. Disponível em: https://asmego.org.br/wp-content/uploads/2016/04/revista-ludovica-pensionistas.pdf. Acesso em: 02 de outubro de 2020 ROSS, Elisabeth K. Sobre a morte e o morrer. Tradução: Paulo Menezes. 8ª ed. São Paulo: Editora Martins Fontes,1998. 20 SHOOK, Kerry e Chris. Um mês para viver: trinta dias para uma vida sem arrependimentos. Tradução: Emirson Justino. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2008. SPURGEON, Susannah. Palavras de Susannah: reflexões cristãs sobre o sofrimento. Tradução: Maria Emília de Oliveira. 1ªed. Curitiba: Publicações Pão Diário. 2019. WIKIPÉDIA (comp.). Paráclito. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Par%C3%A1clito#:~:text=Par%C3%A1clito%20ou%20Pa racleto%20(em%20grego,como%20um%20defensor%20numa%20corte%22. Acesso em: 03 jan. 2021. WRIGHT,H. Norman. Palavras de consolo para momentos de dor. Tradução: Valéria Delgado. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 2006.
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