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INTRODUÇÃO A personalidade é algo de todo o ser humano, nasce e termina com o mesmo. A honra está inserida dentro desse princípio e é tutelado pelo Estado através do Código civil e Código Penal brasileiro. A injúria configura-se um crime contra honra. Podendo ser enquadrada na área civil ou penal. Com a injúria racial cometida, de qualquer maneira, acontece da mesma maneira. O agressor responde perante á lei. Por mais que seja constrangedor, a vítima precisa procurar seus direitos e representar o agressor. Essa pesquisa foi realizada em outubro de 2018, busca trazer uma revisão literária sobre essa temática, desta maneira definirá o conceito do principio do direito de personalidade bem como o de honra, trazendo a evolução das redes sociais e o conflito que surge entre a liberdade de expressão e o direito a honra definindo de que maneira a injuria racial acontece nas redes sociais digitais. PRINCIPIO DO DIREITO DA PERSONALIDADE: HONRA Direito de Personalidade é “o conceito básico da ordem jurídica, que a estende a todos os homens, consagrando-a na legislação civil e nos direitos constitucionais de vida, liberdade e igualdade” (DINIZ, 2018. Pag. 128). Desta maneira podemos compreender que o direito de personalidade é intransmissível, assim toda pessoa necessita administrar o uso em qualquer aspecto constitutivo de sua identidade. Os direitos da personalidade são os direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é próprio, ou seja, a sua integridade física (vida, alimentos, próprio corpo vivo ou morto, corpo alheio vivo ou morto, partes separadas do corpo vivo ou morto); a sua integridade intelectual (liberdade de pensamento, autoria científica, artística e literária); e a sua integridade moral (honra, imagem, recato, segredo profissional e doméstico, identidade pessoal, familiar e social). (LENZA, 2011, p.888) De acordo com o art. 2º do Código civil: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. (VADE MECUM, 2018, p.133). Então a personalidade surge a partir do nascimento com vida, lembrando que antes do nascimento existe apenas uma mera expectativa de personalidade. Não obstante, a Constituição Federal de 1988 no Art. 5, X, relata que a inviolabilidade à honra sob pena de indenização fruto do dano material ou moral decorrente de sua violação, in verbis. Apontando que: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. (VADE MECUM, 2018, p.5). Entre os direitos da personalidade temos o direito á honra, que está intrinsecamente ligado com a maneira que a pessoa é vista socialmente (como os outros á enxergam). Marques (2010) define: [...] Honra, proveniente do latim honor, indica a própria dignidade de uma pessoa, que vive com honestidade e probidade, pautando seu modo de vida nos ditames da moral. Para o jurista italiano Adriano de Cupis a honra é a dignidade pessoal refletida na consideração dos outros (honra objetiva) e no sentimento da própria pessoa (honra subjetiva). A pessoa jurídica também pode ser objeto de ofensa ao direito à honra, pois poderá ter sua reputação maculada, ainda que esta não possua o sentimento da própria dignidade (IBIDEM, 01). Marques (2010) defende ainda que baseada a honra na dignidade da pessoa, inerente a sua própria condição, não se pode negar que, de acordo com o texto constitucional, o ataque à honra será aquele que o seja àquela dignidade, independentemente dos méritos ou deméritos ou qualquer outra circunstância. O Tribunal do Distrito Federal- TJDFT (2014) subdivide os crimes contra honra, bem como a tipicidade dos mesmos, da seguinte maneira: Calúnia: Caluniar é dizer de forma mentirosa que alguém cometeu crime. Para a ocorrência do crime de calunia é essencial que haja atribuição falsa de crime. Ex: dizer que fulano furtou o dinheiro do caixa, sabendo que não foi ele, ou que o dinheiro não foi furtado. Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos (TJDFT,2014). Difamação Difamar – é tirar a boa fama ou o crédito, desacreditar publicamente atribuindo a alguém um fato específico negativo, para ocorrer o crime de difamação fato atribuído não pode ser considerado crime. Ex: Dizer para os demais colegas que determinado funcionário costuma trabalhar bêbado. Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa (IBIDEM,2014). Injúria Injuriar– é atribuir palavras ou qualidades ofensivas a alguém, expor defeitos ou opinião que desqualifique a pessoa, atingindo sua honra e moral. O exemplo mais comum são os xingamentos. Art. 140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa. § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II – no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência § 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003) Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997) III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria. (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003) Parágrafo único - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro (IBIDEM, 2014). Vale ressaltar ainda que geralmente os crimes contra honra sejam qualificados como crime de menor potencial ofensivo, porém mesmo assim seja necessário que a vítima represente o seu agressor para que este responda por processo. Lembrando ainda que o prazo de decadência, ou seja, “o direito de representação do ofendido deve ser exercido dentro do lapso temporal de 6 (seis) meses, cujo termo inicial é a data em que a vítima ou o seu representante legal toma ciência de quem é o autor do delito”(NAGIMA,2012). A EVOLUÇÃO DAS REDES SOCIAS DIGITAIS: O CONFLITO ENTRE A HONRA E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO A rede social teve um progresso nos últimos anos, aumentando o número de usuários na sua plataforma, sendo sua finalidade relacionar as pessoas por meio virtual trazendo grandes vantagens como, por exemplo, com um clique você consegue falar com uma pessoa que está do outro lado no mundo, compartilha fotos para seus amigos virtuais entre outras finalidades, porém, no mundo virtual temos também o lado negativo no qualmuitas pessoas acabam ocasionando ataques contra outras pessoas como injuria difamação que traz como consequência muitas das vezes o abalo psicológico da pessoa. Essa liberdade trouxe maior voz aos usuários, e ao mesmo tempo alguns sentem-se em liberdade para comentar o que e da maneira que bem entender. O que causa um conflito entre os direitos de liberdade de expressão (expresso no art.5º, IV CF/88) e á honra (expresso no art.5º, X CF/88). Dentro deste contexto Marques (2012) aponta que: No entanto, devemos estar atentos para o fato de quea liberdade de expressão não poderá ser mitigada por pretensões de queixosos hipersensíveis, que exigem dos órgãos judiciários a análise de seus queixumes, sobrecarregando-os com questões solucionáveis, em tese, pelo "esforço interpretativo de compatibilização ou de harmonização" entre o direito à livre expressão e o direito à honra (IBIDEM, 2012). Parafraseando isso, cita Machado [...] a liberdade de expressão deve ser amplamente protegida, sem prejuízo da existência de sanções constitucionalmente adequadas para as violações especialmente claras e graves dos diretos de personalidade. Até mesmo na doutrina constitucionalista norte-americana, que tem defendido caráter absoluto das liberdades de expressão e de imprensa, visando à manutenção e exaltação da democracia, não prevalece sempre a tese absolutista de enaltecer o direito à livre expressão em detrimento aos direitos de personalidade, tal como o direito à honra. "Às vezes, devemos reduzir as vozes de alguns para podermos ouvir as vozes de outros" (MARQUES, 2012 apud MACHADO) Ainda baseando-se em Machado, expressa que seja relevante ressaltar que, muitas vezes, a relação de tensão havida entre tais direitos (honra e livre expressão) não consegue ser amenizada tão-somente por meio de apelo ao valor da dignidade humana, já que ambos nela se escoram. Desta forma a autora afirma que: Nesse sentido, vale lembrar a lição do constitucionalista chileno Humberto Nogueira Alcalá, verbis: Nos caso de colisão do direito à liberdade de opinião e de liberdade de informação com o direito à honra ou o direito à privacidade deve realizar-se a ponderação de direitos, buscando reduzir ao máximo a eventual afetação de cada um já que ambos constituem aspectos derivados da dignidade da pessoa humana, de cada uma e de todas as pessoas. Ressaltamos ainda que o magistrado na maioria das jurisprudências opte pela valorização do principio da honra. Onde além da aplicação da lei penal, ocorre a aplicação do art.953, parágrafo único do Código Civil, cuja sentença decorre de uma indenização fixada de acordo com as circunstâncias de cada caso. INJURIA RACIAL NAS REDES SOCIAIS A injuria racial consiste no ato de xingar, ofender outra pessoa com cunho racial. Essa atitude pode ser enquadrada no Brasil, tanto no Código Civil como no Código Penal.Tal ação produz um enorme prejuízo psicológico na vitima, proferidas pessoalmente ou por meio do uso da internet, o que toma uma proporção muito maior. Pavan (2016) acredita que a injuria racial nas redes sociais aconteça “por acharem que a internet é uma terra sem lei, por isso agridem com palavras de baixo calão, ofendendo uma pessoa ou um grupo de pessoas, por sua cor, religião, oposição sexual e etc”. A autora esclarece que a injuria racial é diferente do racismo onde: O crime de injúria racial está previsto no artigo 140, parágrafo 3º do Código Penal e ocorre quando o autor ofende a dignidade ou o decoro utilizando elementos de ‘raça’, cor, etnia, religião, condições de pessoas idosas e portadores de deficiência. Neste caso, diferente do racismo, a autor não atinge uma coletividade, e sim a uma determinada pessoa, no caso, a vitima. Já a pena prevista é detenção de um a seis meses ou multa e é possível o pagamento de fiança (PAVAN, 2016). Diversos são os casos de injuria dispostos na mídia. Pessoas comuns e até mesmo artistas, geralmente negros, recebem comentários racistas e de mau gosto. Temos o caso recente, de um professor que além de sofrer injúria racial foi ameaçado durante a aplicação de provas dentro da sala de aula, tal agressão foi gravada por um de seus alunos e compartilhada nas redes sociais. Também em 16 de outubro deste ano (2018), jovens que foram comparadas em um grupo de aplicativo de mensagens, á escravas durante desfile em shopping do DF. Guimarães (2018) aponta que a Injúria Racial finalmente foi considerada como um crime imprescritível o que já pode ser considerado um enorme avanço por conta da proporção que isso gera na vida da vítima. CONSIDERAÇÕES FINAIS A questão da diferença racial no Brasil é explicita. Somos um povo miscigenado. Talvez pelo preconceito histórico em relação aos negros, a injuria racial os faça vitimas principais. Onde apesar da afirmação de que não exista preconceito racial, aconteça um numero elevado de casos. Muito precisa ser feito para que de fato os agressores se sintam constrangidos. A mudança dessa cultura, por vezes preconceituosa, uma reforma no Código penal, ou mesmo a fixação de uma fiança maior, possam evitar tais casos. Trazendo assim uma equiparação das pessoas como seres humanos. Sendo respeitados pelo o que são (pessoas). Sem distinção de raça, credo, instrução, profissão. Sendo ou não uma utopia esse é o desejo de todas as vítimas disso. REFERÊNCIAS BRASIL, Art.140 Código Penal. Blog Jus Brasil (www.jusbrasil.com.br). Acesso em Outubro de 2014. BRASIL, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Texto atualizado e consolidado até a Emenda Constitucional nº 99, de 14 de dezembro de 2017. ed.atua.São Paulo:Governo do Estado de São Paulo,2018. BRASIL, Correio Brasiliense. Jovens negras são comparadas a escravas durante desfile em shopping do DF. Notícia dia 16 de Outubro de 2018. BRASIL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS (TJDFT). DOS CRIMES CONTRA A HONRA. Disponível em <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/direito-facil/edicao-semanal/dos-crimes-contra-a- honra>.Acesso em Outubro de 2018. GUEDES, Taís Morais. As Redes Sociais- Facebook e Twitter- e suas influencias nos Movimentos Sociais. Brasília: Dissertação de mestrado, 118 p. 2013. GUIMARÃES, Paulo. Injúria racial é Considerada Imprescritível pelo STF.Blog estratégia Concursos.2018. Disponível em: < https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/injuria-racial- imprescritivel/>. Acesso em Outubro de 2018. MARQUES, Andréia Neves Gonzaga. DIREITO Á HONRA. TJDFT. 2010. Disponível em: <http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/artigos/2010/direito-a-honra-andrea-neves-gonzaga- marques>. Acesso em Outubro de 2018. PAIVA, J.A. Almeida. A personalidade Civil do homem começa com o nascimento com vida. Revista Consultor Jurídico, 24 de Novembro de 2003. PAVAN, Milena. As diferenças entre Racismo e Injúria Racial. GÉLEDES Instituto da Mulher Negra. 2016. Disponível em:< https://www.geledes.org.br/as-diferencas-entre-racismo-e-injuria- racial/?gclid=CjwKCAjwmJbeBRBCEiwAAY4VVd8ys1gEi6F8qrJ6I-owkxghV14uN0bq- qFqLh2dpEudMI0yP6ECuxoCFewQAvD_BwE>.Acesso em Outubro de 2018. NAGIMA, Irving Marc Shikasho. A decadência no direito criminal. Análise do instituto da decadência, previsto no Código Penal e Código de Processo Penal, como causa de extinção da punibilidade do agente. Artigo, Blog Direito Net. 2012. VADE MACUM Saraiva. Obra coletiva de autoria Saraiva com a colaboração de Lívia Céspedes e Fabiana Dias da Rocha. - 25. ed.atual e ampl.-São Paulo:Saraiva Educação.2018.
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