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Capítulo 7 
Brasil dos Bancos 
 
7.1. Origem dos bancos e evolução do sistema bancário 
 A economia bancária, na ótica da macroeconomia, deve ser estudada como um 
todo, em vez de examinada em pequenas parcelas como entidades separadas desse todo. 
Na atividade econômico-financeira, existem padrões de ação coletiva que são resultantes 
distintas das esperadas pela mera soma dos comportamentos das partes. Por exemplo, o 
estímulo dos bancos às aplicações financeiras sem a contrapartida na expansão dos 
empréstimos pode resultar em futuro declínio nas sobras de renda para novas aplicações 
financeiras. A atividade bancária, responsável pela circulação financeira, permeia a 
produção, a distribuição e o consumo. Assim, os bancos integram a economia real. Em 
outras palavras, todos os agentes econômicos fazem parte do sistema bancário. Daí meu 
espanto pela “demonização dos bancos”, seja na imprensa junto à opinião pública, seja 
entre acadêmicos formadores da opinião especializada. O sistema bancário não deve ser 
visto como “demônio” (ou adversário), em cima do qual se joga toda responsabilidade 
pelos infortúnios pessoais ou sociais. 
 Fugindo desse “mundo assombrado pelos demônios”, não estaremos caindo na 
visão do mercado como um deus onipotente e onisciente, que, deixado livre, pode atender 
a preces e realizar os desejos mais íntimos, desde que não se cometa o pecado de atentar 
contra suas leis divinas. Nem ele configura o papel de deus, nem o presidente do banco 
central, a missão de papa dos que professam essa religião, cujas normas e circulares 
estabeleceriam dogmas inquestionáveis. Senão estaríamos em divertido paradoxo: se é 
onisciente, ele já tem de saber que vai haver intervenção, para mudar o curso da história, 
usando sua onipotência; mas isso significa que ele não pode mudar de idéia sobre a 
intervenção, o que implica que ele não é onipotente... 
 O melhor a fazer é enxergar, claramente, o papel das instituições financeiras na 
vida econômica. Instituição não é apenas organização ou estabelecimento para promoção 
de um objetivo em particular, como banco comercial ou banco central. Na visão dos 
institucionalistas, é também padrão organizado de comportamento grupal, bem 
estabelecido e aceito como parte fundamental da cultura. Inclui hábitos, costumes sociais, 
leis, modos de pensar e formas de vida. A vida econômica, afirmam os institucionalistas, 
é regulada pelas instituições econômicas e não por leis econômicas. 
 O darwinismo, ou melhor, a abordagem evolucionista, pode ser, cautelosamente, 
empregada na análise econômica, porque a sociedade e suas instituições estão sempre em 
constante mudança. Em vez do equilíbrio, prezado pela visão ortodoxa, há o movimento. 
Os institucionalistas discordam da abordagem estática dos modelos neoclássicos ou 
mesmo dos keynesianos que tentam descobrir verdades econômicas eternas sem 
considerar as diferenças de tempo e local e sem se preocupar com mudanças que estão 
ocorrendo constantemente. A evolução e o funcionamento das instituições econômicas 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 280
deveriam ser os temas centrais da Economia, em uma abordagem interdisciplinar. Neste 
plano menos abstrato, ela estaria ligada à Política, à Sociologia, à Psicologia, à Lei, aos 
costumes, à ideologia, à tradição e a outras áreas de crença e experiências humanas. A 
Economia Institucional analisa os processos sociais, as relações sociais e a sociedade em 
todos os seus aspectos. 
 Por que então os capítulos anteriores deste livro se preocuparam com a economia 
empresarial, nas atividades bancárias, e não trataram, diretamente, da economia social, 
como se propõe neste capítulo? Pela simples razão científica de que, assim como para a 
vida biológica, visando explicar a evolução da complexa vida bancária, em nosso país, 
não podemos recorrer ao mesmo tipo de raciocínio que podemos aplicar na origem dessa 
vida. A origem da vida de cada banco no Brasil mereceu o estudo dos diversos casos. Já 
os eventos que constituem a evolução ordinária, distintos de sua origem singular, podem 
receber uma explicação unificadora, colocando ênfase no princípio da causação ou de 
mudanças cumulativas. 
 Tirando a citação de um autor darwinista de um (con)texto distinto, DAWKINS 
(2007: 189) afirma: “a evolução da vida é um caso completamente diferente do da origem 
da vida, porque, repetindo, a origem da vida foi (ou pode ter sido) um evento singular, 
que teve de acontecer apenas uma vez. A adaptação de espécies a seus diversos 
ambientes, por outro lado, ocorreu milhões de vezes, e continua ocorrendo”. 
 A transposição que fazemos é que, aqui no Brasil, também estamos lidando com 
um processo generalizado para a otimização das espécies bancárias, um processo que 
funciona em toda economia monetária, em toda economia de mercado, e em todo o 
contexto contemporâneo. É um fenômeno recorrente, previsível e múltiplo, o da 
concentração bancária. E, continuando a tomar emprestado conceito de Darwin, sabemos 
como ele acontece: pela seleção competitiva, dentro de um determinado contexto 
institucional. Uma vez que aquele golpe inicial de oportunidade tenha sido aproveitado 
pelo encontro do capital previamente acumulado, seja no poder público, seja em mãos 
privadas, com o talento profissional em utilizá-lo em atividades bancárias, a seleção 
competitiva assume, escolhendo os bancos mais aptos para a sobrevivência, em ambiente 
mutante, a cada momento. A seleção competitiva é “avenida de mão única”, cumulativa, 
para o aperfeiçoamento do sistema bancário. 
Essa proposição vai, então, na contramão do atomismo do mercado livre. O 
atomismo, originalmente, era uma doutrina proposta por filósofos da Grécia antiga, que 
propunham que o Universo era composto por constituintes materiais indivisíveis 
chamados átomos. Sem contemplar que seu núcleo era divisível, em prótons e nêutrons, 
ligados através de uma força nuclear forte, os neoclássicos defendiam a abstração do 
atomismo como o modelo ideal para a organização de uma sociedade sob forma de 
mercado livre. Nenhum agente econômico seria capaz de impor absolutamente seu 
interesse aos demais e, conseqüentemente, haveria harmonia e não choque de interesses. 
No entanto, na realidade, esses átomos podem se agrupar, formando moléculas. 
Combinadas, sob as restrições institucionais de cada Estado, elas podem dar origem aos 
mais diversos corpos sociais. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 281
A concentração bancária possui uma lógica imanente à economia capitalista 
contemporânea: envolve a seleção competitiva entre os mais aptos a sobreviver em um 
mundo de ofertas hostis. Essa lei de mercado está calcada em dois conceitos 
motivacionais, um microeconômico, a economia de escala, outro, sistêmico, o 
multiplicador monetário. Há a tentativa ambiciosa dos maiores bancos em torná-lo 
endógeno, evitando o vazamento monetário de sua contabilidade de créditos e débitos. 
Com esse fenômeno cada vez mais internalizado em sua própria rede de clientes, os 
banqueiros, ou melhor, as figuras do capital bancário, podem se sentir, senão como o 
próprio deus-todo-poderoso-criador-da-moeda, mas, no mínimo, como divindades 
legítimas, no momento de recolher suas participações nos lucros multiplicados em bancos 
múltiplos. 
Nesse momento, eles furtam, na prática, o prazer do maior triunfo teórico de um 
professor de Economia Monetária, segundo James Tobin, autor laureado pelo Prêmio 
Nobel de Economia. É quando ele expõe, para seus alunos, a múltipla criação de 
depósitos bancários pelo crédito bancário. Nessa aula, o professor critica a visão dos 
banqueiros. Segundo eles próprios, seus bancos não criam moeda, na medida em que a 
escala de seus ativos está limitada por seus passivos e, portanto, emprestam somente o 
dinheiro depositado. O professor aponta, então, a falácia de composição: o que um banco 
empresta cria novos depósitos bancários. Istoé verdade para o sistema bancário como um 
todo, pois depende da aritmética de sucessivas rodadas de criação de depósitos. Está 
limitado este multiplicador monetário pela exigência do Banco Central de que os bancos 
comerciais façam depósitos compulsórios de parte dos depósitos à vista e pela retirada de 
papel-moeda por seus clientes. 
 O professor, geralmente, conclui a lição afirmando de que não se deve estabelecer 
o crédito bancário sobre o modelo dos fundos existentes. É mais correto dizer que 
“empréstimos criam depósitos”, isto é, bancos criam depósitos em seus atos de emprestar, 
em vez da visão dos banqueiros, que dizem que emprestam somente os depósitos 
entregues à sua guarda, de acordo com a “teoria dos empréstimos por conta dos outros”. 
Na realidade, enquanto os depositantes prosseguem gastando (pagando com cheque ou 
cartão de débito) como se tivessem conservado o dinheiro em seu poder, da mesma forma 
os mutuários gastam "o mesmo dinheiro e ao mesmo tempo". 
Isso era “a verdade”, desde que se considerasse o efeito multiplicador monetário 
pela rede bancária como um todo. Em outras palavras, caso fossem os clientes de outros 
bancos os recebedores de pagamentos com o dinheiro originado de um crédito recebido, 
eles fariam depósitos desse dinheiro e ele se manteria sob domínio do sistema bancário. 
Não vazando moeda desse circuito bancário sob forma ou de depósitos compulsórios ou 
de papel-moeda, “o milagre da multiplicação dos pães”, isto é, da moeda bancária, não 
seria sobrenatural, mas corriqueiro o suficiente para não despertar mais a atenção nem 
dos clientes nem da autoridade monetária. 
A história bancária se desenrolou no sentido da busca desenfreada de uma 
concentração cada vez maior nos créditos, nos depósitos, enfim, nos ativos, ou seja, as 
diferentes formas de manutenção de riqueza, na contabilidade de um número cada vez 
menor de poderosos bancos. Isto ocorreu aqui e lá fora. Ao mesmo tempo, no Brasil, o 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 282
sistema de pagamentos se tornou cada vez mais eletrônico sob controle dos sistemas de 
processamento de informações desses bancos e câmaras de compensação on line – em 
tempo real. Tudo isso, a concentração e a automação bancária contribuíram para resultar 
em lucros surpreendentemente maiores a cada fechamento de balanço. 
Já o conceito de economia de escala está presente como meta administrativa em 
qualquer empresa: produção de bens e serviços em larga escala com vistas a uma 
considerável redução nos custos relativos. Também chamadas de “economias internas”, 
as economias de escala resultam da racionalização intensiva de inovações tecnológicas e 
de processos avançados de automação, organização e especialização do trabalho. Todos 
os fatores integrantes da economia de escala, geralmente, estão fora do alcance do 
alcance de pequenas e médias empresas. Conseqüentemente, a tendência é a concentração 
monopolista, com a eliminação dos concorrentes. As economias de escala não 
comportam mercados consumidores limitados. Sua existência está diretamente ligada à 
ampliação da sociedade de consumo capaz de absorver a produção em série sem se 
limitar às fronteiras geográficas e sociais. 
Isso, em se tratando de empresa não-financeira, já é lugar-comum. Mas no caso de 
instituições financeiras, por trabalharem com um bem público universal, composto pelos 
meios de pagamento, os interesses corporativos necessariamente devem se submeter a 
alguma forma de regulação da chamada autoridade monetária. Este estatuto interventor 
surge porque a fusão entre dois bancos, seja por motivo de aquisição de um por outro, 
seja pela razão de associação entre os dois parceiros, formando um único grande banco, 
geralmente sob controle administrativo do maior ou mais próspero deles, tem algumas 
conseqüências indesejadas. Em linguagem metafórica, a fusão (nuclear) pode gerar uma 
“bomba atômica”. Esse tipo de associação permite redução de custos, mas pode levar à 
prática restritiva ou oligopolista. Daí, uma instituição em defesa da concorrência pode (e 
deve) agir. 
Quando um banco se integra a outro, espera ganhar sinergia. A integração leva 
bastante tempo e, em geral, tem três fases: a primeira, com redução de custos e ganhos de 
eficiência, depois, a integração tecnológica de operações e de serviços centrais, e, 
finalmente, a fusão das redes de agências. Como conseqüência da dita duplicidade, 
algumas agências são fechadas ou mudadas de endereço. Quanto às demissões, a redução 
de pessoal acontece mediante adiantamento de aposentadorias ou desligamentos 
voluntários. Parte dos cortes de custos afeta os contratos de outsourcing com terceiros, 
não afetando neste caso os funcionários do próprio banco adquirido. 
O maior risco na compra de um banco é que, nos primeiros anos, a instituição 
tende a se voltar para si. Há, então, risco de perder oportunidades de bons negócios. Além 
da dificuldade em si da incorporação, o banco comprador corre o perigo de desprezar 
conquistas e a experiência de áreas em que o comprado estava na frente, como, por 
exemplo, o atendimento de qualidade para clientes de determinado segmento. Corre 
assim o risco de estragar muita coisa que dava certo, inclusive desprezar o valor de 
mercado da própria marca adquirida. O comprador planeja, imediatamente, certa 
otimização da organização comercial, unida à adoção de uma estratégia de marca única, 
no momento oportuno. Todas suas unidades convergirão então para uma única marca. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 283
Os estudos de casos de origem de bancos no Brasil registraram o DNA histórico 
dos sobreviventes. Sua miscigenação, derivada de associações, fusões e aquisições com 
capitais de outras origens, seja estadual, seja estrangeira, irá dificultando, 
progressivamente, desvendar o genoma. Até que ponto o DNA do banco brasileiro será 
uma história de bastardia? Será tal como a dos brasileiros brancos, cuja bastardia cultural 
é revelada pelo fato de, pela linhagem paterna, o brasileiro ser filho de europeu, e pela 
linhagem materna, aproximadamente 60% dos brancos terem ancestralidade nativa ou 
africana? 
Esse genoma desvendado confirma a história de opressão social do português 
dono do engenho, predador de africanas e ameríndias por estupro. Mas a “raça brasileira” 
não existe, como, de resto, nenhuma outra raça epidérmica. Existe apenas a raça humana, 
que se diferencia das raças de outros animais por ser racional. Geneticamente falando, a 
origem de todas as etnias é o homo sapiens da África, cidadão do mundo que viveu há 
130 mil anos ou 4.333 gerações atrás. As diferenças superficiais de seus descendentes se 
explicam, simplesmente, por uma mudança evolutiva desses filhos do mesmo pai na 
adaptação aos diversos meios ambientes. 
Cabe também “desracializar” o mundo bancário? Estaremos convencidos, 
brevemente, que os bancos são efetivamente iguais, ou melhor, igualmente diferentes, e 
de que o nacionalismo não deve mais existir? Assim como no fim do racismo, a extinção 
do nacionalismo colocaria em seu lugar a democracia em sua plenitude, isto é, o governo 
em que o povo exerceria sua soberania, tomando as decisões importantes a respeito das 
políticas públicas, no território nacional, submetendo todas as instituições financeiras 
aqui presentes, independentemente de suas origens? 
7.2. Fases da história da moeda e dos bancos no Brasil 
Ter uma moeda nacional, assim como deter o monopólio da violência, ambos os 
fatores constituem indicadores da soberania nacional. Nesse sentido, a história dos 
bancos no Brasil se confunde com a própria periodização da história monetária brasileira. 
Como síntese didática, reapresentaremos uma visão geral dos estágios importantes no 
desenvolvimento nacional das instituições monetárias e bancárias. 
O primeiro estágio pode ser visto como secular, indo de 1808 a 1921, isto é, 
desde a primeira fundação do Banco do Brasilaté sua transformação efetiva em semi-
autoridade monetária, já após sua última fundação, em 1905. A economia brasileira 
oscilou entre a moeda mercadoria (ouro), ou então o papel-moeda conversível com 
estritas regras de reserva aurífera, e as diversas tentativas estatais de emissão de uma 
moeda apenas fiduciária, para cobrir déficits. A rigor não se pode falar nem que havia um 
relativamente subdesenvolvido sistema bancário, pois os poucos bancos existentes em 
praças locais emprestavam praticamente seus recursos próprios e através do padrão legal 
de pagamentos. Em tal economia, a quantidade de moeda, quando lastreada, era 
determinada fora do setor bancário por fluxos de comércio externo, investimentos 
estrangeiros ou mesmo a produção de ouro. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 284
 O segundo estágio ocorreu quando, finalmente, surgiram também condições 
institucionais mínimas necessárias para a criação da moeda bancária e, 
conseqüentemente, o descolamento da fração bancária da classe dominante. O DNA do 
Unibanco (ex-Casa Bancária Moreira Salles de Poços de Caldas – MG, criada em 1924) e 
o do Banco Real (ex-Banco da Lavoura de Minas Gerais) foram encontrados na década 
de 20 do século XX. Por pressão dos nacionalistas, em reação à fuga de capitais 
realizadas no período pré-guerra, que colocou fim à primeira das duas experiências 
brasileiras do século passado com o padrão-ouro, a Caixa de Conversão (1906-1914) e a 
Caixa de Estabilização (1926-1930), iniciou-se a colocação de restrições legislativas à 
livre entrada (e saída) dos bancos estrangeiros. A reforma bancária de 1921 resultou na 
criação de câmara de compensação de cheques e na abertura de carteira de redescontos no 
Banco do Brasil, para redescontar títulos de outros bancos. Quando as ondas de liquidez 
internacional se esvaíram, respectivamente, com a I Guerra Mundial e com a Crise de 
1929, as experiências com o padrão-ouro findaram. A partir de então, nunca mais houve 
experiência com moeda conversível em ouro, no Brasil. Mas ocorreram ainda tentativas 
de câmbio fixo, atrelando a moeda nacional ao padrão monetário hegemônico: o dólar. 
 Embora tenha havido debate sobre a criação de um banco central no Brasil, 
inclusive com a vinda de missão de apoio inglesa, em 1931, os fatos que mais marcaram 
a história bancária brasileira, entre 1930 e 1945, foram: a socialização das perdas 
bancárias, a imposição da reserva de mercado, no varejo bancário, em favor dos bancos 
brasileiros, a legislação liberal propícia a fundações de bancos, o início do uso de bancos 
públicos (federais e estaduais) para uma atuação desenvolvimentista. 
A origem dos principais bancos, no Brasil, ocorreu antes de 1945, quando as 
barreiras à entrada, para brasileiros, era baixa. Exigia-se pouco volume de capital e a 
tecnologia bancária era acessível. Durante a 2ª Guerra Mundial, dobrou o número de 
bancos: de 354 em 1940 para 663 em 1944. A partir de então, já se trata da evolução de 
um sistema bancário, com um processo de concentração simultâneo ao de ampliação da 
rede nacional de agências. Em 1964, 20 anos depois, já tinha se reduzido para a metade 
(328) o número de bancos, mais 10 anos, para um terço (106). Este número se manteve 
até a abertura neoliberal, quando, entre 1988 e 1994, se multiplicou por quase três (271). 
Mas com a crise bancária, a privatização, a desnacionalização e a concentração, o setor 
bancário brasileiro reduziu-se para 167 bancos múltiplos e comerciais, em 2002, e, 
finalmente, 155 em 2007. 
 O terceiro estágio da história monetária e bancária brasileira ocorreu entre 1945 e 
1964, introduzindo a exigência de reservas bancárias fracionárias sobre os depósitos, com 
mais depósitos possuídos como forma líquida de manutenção da riqueza, com o uso das 
ordens de transferências de depósitos como um meio mais comum de troca, sendo os 
cheques mais aceitos pela rede comercial, com rede bancária se expandindo em nível 
nacional. Sem exigências de reservas legais, a oferta de moeda tornava-se um tanto 
elástica, com o multiplicador monetário sendo determinado pela demanda de crédito, 
pelos pagamentos de empréstimos e pela prudência (ou imprudência) dos banqueiros. 
Vários deles, como vimos, emprestavam para os próprios grupos econômicos (ou 
familiares) em condições privilegiadas, prática proibida a partir da reforma bancária do 
regime militar, em 1964. Quando os passivos dos bancos começaram a tomar a forma de 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 285
depósitos transferíveis por cheques, a moeda criada pelos empréstimos bancários 
usualmente não deixava o sistema bancário, elevando a capacidade de empréstimos dos 
bancos. Mas eles eram ainda intermediários passivos, isto é, sem ativar a demanda de 
crédito, apenas atendiam-na, emprestando até o limite de seus depósitos. Isto, 
conjuntamente com umas financeiras nascentes, descreve, razoavelmente, o sistema 
financeiro antes do estabelecimento pleno do Banco Central do Brasil. Neste período, a 
SUMOC dividia o papel de autoridade monetária com o Banco do Brasil. 
 O quarto estágio foi quando se criou o Banco Central que efetivamente impôs 
exigência de reserva sobre os bancos. A autoridade monetária buscava regular os 
empréstimos bancários e recuperar o controle sobre o saldo monetário. Em 1970, o Banco 
Central do Brasil começou a usar operações de open market ou empréstimos de liquidez 
para ajustar as reservas bancárias, acentuando seu poder sobre a oferta de moeda. Sob 
forte influência monetarista, seus técnicos passaram a tentar modelar, formalmente, o 
sistema monetário, inspirando-se em “modelos de base monetária-multiplicador 
monetário” e supondo o controle do banco central sobre reservas bancárias e rígidas 
relações reservas/depósitos. 
 Durante 3 décadas, entre 1964 e 1994, perdurou um regime de alta inflação, 10 
anos mais longo que o próprio regime militar! Este deixou também essa “herança 
maldita”. Devido ao mecanismo de proteção via correção monetária às aplicações e aos 
empréstimos, inicialmente restrito aos efetuados em longo prazo, e, depois, com o 
progressivo encurtamento de prazos, sua contrapartida foi um regime monetário com a 
chamada “moeda indexada”. Essa situação foi extremamente lucrativa aos bancos, 
envolvidos em captação de “dinheiro a custo zero” (depósitos à vista e floating – 
disponibilidades líquidas) para aplicarem em empréstimos ou títulos de dívida pública 
com correção monetária. 
Mas, nesse estágio, a história bancária teve três sub-fases. A primeira (1964-
1974) foi a de tentativa-e-erro no esforço tecnocrata de transplantar o modelo norte-
americano de segmentação de instituições financeiras, isolando os velhos banqueiros e 
propiciando o surgimento de novos aventureiros na esteira do breve boom do mercado de 
capitais (bolsa de valores) e da permanente expansão do mercado (aberto) de dinheiro 
(open market). A segunda (1974-1988), reclamada aos velhos banqueiros a incorporação 
de negócios falidos dos novos, foi a do processo de concentração, conglomeração e 
internacionalização. A visão neoliberal já hegemônica nas instituições multilaterais 
achava que vigorava, aqui, um processo de repressão (apenas) financeira. Somente na 
terceira (1988-1994), após a Constituinte, que os ideólogos neoliberais conseguiram 
liberalizar o mercado financeiro, fazer a abertura externa aos capitais forâneos e 
denominar corretoras e distribuidoras de “bancos múltiplos”. 
Dessa nova aventura liberalizante, com o impacto da estabilização inflacionária 
(breve bolha de consumo e longa sobrevalorização da moeda nacional, da eleição até a 
reeleição de FHC), restou um estágio transitório de crise bancária com: liquidação de 
grandes bancos privados nacionais, privatização de bancos estaduais, reestruturação 
patrimonial das instituições financeiras públicas federais, concentração e 
desnacionalização bancária. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasildos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 286
No final dos anos 90´s, um século depois, após mais uma política deflacionista, 
assistiu-se, novamente, o ponto de partida: crise bancária e recurso aos bancos 
estrangeiros. Além da tendência à concentração, verificou-se progressiva 
desnacionalização do setor bancário brasileiro, que tinha usufruído, na era 
desenvolvimentista, desde os anos 30, de “reserva de mercado”. Na era neoliberal, essa 
reserva de mercado bancário passou a ser considerada supérflua. 
Com a queda da inflação, desapareceu também a “moeda indexada”. Mas novo 
regime monetário foi de fato implantado somente a partir de 1999, com a mudança do 
regime de câmbio fixo para câmbio flexível, a adoção de regime de metas de inflação e 
política fiscal com metas de superávit primário. 
Nesse quinto estágio (pós-1999), já se pressupunha que as inovações financeiras 
eram técnicas descobertas para superar as restrições impostas sobre os bancos através de 
exigências de reservas pelo banco central. O uso eficiente do mercado interbancário, para 
captação em mercado aberto, constituiu a inovação-chave. Inovações na forma de 
captação de passivos e nas técnicas de gerenciamento de ativos permitiam aos bancos 
aumentar seus empréstimos sobre dado montante de reservas. Paralelamente a essas 
técnicas de administração de passivos, os bancos viam também a possibilidade de 
manipular seus portfólios de ativos através de prática tal como a venda de créditos em 
pacotes (securitização). Os bancos faziam empréstimos sob demanda e, então, cobriam 
suas posições de reserva mais adiante, usando essas várias técnicas. Outra técnica que 
aumentava a endogeneidade da oferta de moeda era oferecer linhas de crédito pré-
compromissadas, que os clientes podiam utilizar se tivessem necessidade. Desde que a 
maioria dos empréstimos bancários fosse realizada sob contratações prévias, o volume 
total de crédito era largamente determinado pela demanda de empréstimos. Além disso, a 
internacionalização do mercado financeiro reduzia o controle do Banco Central do Brasil 
sobre o crédito bancário e a oferta monetária doméstica. Embora ele tentasse ainda ter o 
controle sobre o total de reservas, relaxou quanto à meta de ter a oferta de moeda 
exogenamente determinada, substituindo-a pela meta de inflação a ser alcançada através 
da manipulação da taxa de juros básica – a SELIC. 
Quando a taxa de juros subia, o valor de mercado dos papéis prefixados, 
negociáveis no mercado, caia. Entretanto, sabia-se que o Banco Central preocupado com 
a possibilidade de crise financeira sempre reagiria, seja prestando assistência financeira 
de liquidez aos intermediários financeiros, seja através das operações de open market. 
Sob estas circunstâncias, as reservas bancárias eram determinadas endogenamente, pois a 
autoridade monetária atuava para estabilizar o mercado financeiro, acomodando as 
necessidades dos bancos por reservas adequadas à cobertura de seus empréstimos 
criadores de depósitos. Tornando seu comportamento estabilizador previsível, o mercado 
controlava o Banco Central do Brasil. 
A fase 2003-2006 será marcada na história bancária brasileira como a de acesso 
popular a bancos (“bancarização”) e a crédito (em consignação, aos consumidores e 
microcrédito). Com o ganho de economia de escala, elevou a competitividade dos bancos 
no Brasil. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 287
O número de contas do sistema bancário brasileiro cresceu 52% entre 2001 e 
2006, segundo pesquisa do Banco Central do Brasil (FSP: 15/06/07). Ao final do ano de 
2006, o Brasil contava com 76,8 milhões de poupanças e 59,5 milhões de contas 
correntes. No mesmo período, a população do país cresceu 7%, chegando a 183,9 
milhões de pessoas. Segundo o estudo, os correspondentes bancários e a criação das 
contas simplificadas foram os principais destaques do período, e boa parte da expansão 
ocorreu com a inclusão de clientes de classes mais baixas. A porta de entrada mais usada 
para o sistema bancário foi a poupança. Em seis anos, o total de contas desse tipo subiu 
50%. A evolução das contas correntes foi um pouco mais discreta, com crescimento de 
37% no mesmo período. 
A FEBRABAN estimava que, em 2006, existiam 102,6 milhões contas correntes 
(face a 63,7 milhões em 2000), sendo que, destas, 28,9 milhões delas eram contas 
inativas há mais de 6 meses. As contas de poupança eram estimadas em 75,0 milhões. O 
quadro abaixo capta as declarações dos próprios bancos de varejo, observando que a 
Caixa possuía 31,6 milhões de clientes que optavam por contas de poupança, isentas de 
tarifas. 
Clientes de bancos de varejo no Brasil – dezembro de 2006 (em milhões) 
Bancos Pessoas físicas Pessoas jurídicas Total de Clientes 
Banco do Brasil 22,8 1,559 24,4 
Caixa Econômica Federal 9,1 1,061 10,2 
Bradesco 16,8 0,985 17,8 
Itaú 16,0 0,339 16,3 
Unibanco 7,7 0,850 8,6 
Santander 7,2 0,300 7,5 
Real 5,8 0,405 6,2 
HSBC 3,9 0,338 4,2 
Nossa Caixa 3,2 0,322 3,5 
Banrisul 4,6 0,206 4,8 
Total 97,1 6,37 103,5* 
Fonte: Anuário Brasileiro de Bancos 2007 – * 73,7 milhões de contas são movimentadas. 
Antes, dizia-se que existiam dois tipos de dinheiro, aqui, no Brasil: o “dinheiro do 
rico” e o “dinheiro do pobre”. O primeiro ficava nos bancos, protegido da inflação. O 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 288
último ficava sem correção monetária, tendo seu poder de compra corroído pela alta de 
preços. O pobre recebia seu dinheiro e tinha de correr às compras. Tentava comprar 
enquanto ele valia algo. Passava o resto do mês achando que “sobravam dias, faltava 
salário”... O rico pegava seu capital e podia deixá-lo nos bancos. Enquanto ele dormia 
tranqüilo no “overnight”, o dinheiro do pobre ficava no relento. O rico tirava o seu de lá 
na hora que quisesse gastar, com o poder aquisitivo preservado. Enquanto os ricos 
recebiam juros, os pobres pagavam juros extorsivos nas compras a prazo. 
Essa clientela, chamada de “classe A” pelos banqueiros, era disputada 
arduamente. Pudera, a renda total do 1% mais rico equivalia à dos 50% mais pobres! Os 
10% mais ricos somavam uma renda quase 50 vezes maior do que a soma das rendas dos 
10% mais pobres! A discriminação entre o “dinheiro do rico” e o “dinheiro do pobre” 
agravou o processo de concentração de renda no país. Levou-o a uma situação de 
desigualdade social vergonhosa, destaque negativo entre todas as nações. O desafio era 
superar essa fase de nossa história monetária e bancária. 
Três mudanças inéditas ocorreram, recentemente, nessa história bancária. Uma se 
referiu aos chamados “correspondentes não bancários”, outra, à abertura de contas 
simplificadas e a terceira foi a respeito do acesso ao crédito popular. 
Antes, nada menos que 30% das cidades do país, ou seja, 1.674 cidades não 
tinham sequer uma agência bancária. Em 2007, ainda existiam 1.926 municípios (ou 
34,5% do total de 5.580 municípios) que possuíam apenas uma dependência bancária, 
sendo que 1.479 deles possuíam apenas uma agência. Os 447 restantes tinham ou um 
posto de atendimento bancário (PAB) ou um posto de atendimento avançado (PAA). Só 
era possível abrir o comércio porque existia nessas localidades a figura do correspondente 
não bancário, geralmente pequenas padarias, mercearias ou loterias contratadas pela 
Caixa, ou correios conveniados com o Banco Postal, para fazer pagamentos e receber 
dinheiro nessas cidades. Com a falta de uma representação bancária, as cidades paravam 
de crescer e iam minguando. Isso porque, quando as pessoas iam a cidades vizinhas para 
retirar dinheiro, preferiam fazer suas compras por lá mesmo. 
Em correspondentes não bancários, os habitantes de pequenas localidades 
passaram a pagar suas contas, além de sacar o dinheiro da aposentadoria e depositar na 
poupança. Um correspondente dividia sua rotina entre vender suas mercadorias e receber 
contas de luz, água ou telefone. Ele tambémpagava benefícios sociais para os moradores. 
A instalação do correspondente começou então a estimular a economia local. 
Os números dos tradicionais canais dos bancos, representados por suas agências e 
postos de atendimento instalados em empresas ou entidades públicas, pouco variaram de 
2000 a 2007. Na realidade, em 2000, tinham diminuído em relação ao número de 
agências já existentes em 1994 (17.400). O que possibilitou a expansão de suas redes de 
atendimento foram os caixas eletrônicos, instalados em locais de grande circulação de 
público, e o bem sucedido canal representado pelos correspondentes não bancários. Estas 
formas de acesso aos seus clientes representavam mais de 80% de suas dependências. 
 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 289
Rede de Atendimento dos Bancos no Brasil 
Período 2000 2007 Variação absoluta 
Número de agências 16.396 18.308 1.912 
Postos tradicionais (PAB + PAP + PAA) 9.495 10.427 932 
Postos eletrônicos 14.453 34.790 20.337 
Correspondentes não bancários 13.731 84.332 70.601 
Total de dependências bancárias 54.075 147.857 93.782 
Fonte: Anuário Brasileiro de Bancos 2008 
Outro recurso importante que se desenvolveu em localidades que não dispunha de 
agência bancária foi a telefonia. Ela permitiu ao comércio de várias dessas cidades 
excluídas oferecer pagamentos eletrônicos. Por exemplo, uma mercearia poderia colocar 
no balcão do estabelecimento terminais de cartões de crédito e de débito. A “moeda 
eletrônica” tornou-se, então, acessível a todos. Não houve mais tanto problema de falta de 
numerário sob forma de papel-moeda. Substituindo-o, foi se resolvendo o difícil 
problema de seu transporte (com segurança), em um país de dimensão continental. 
Somente tecnologia bancária cada vez mais avançada seria capaz de atender a 
contingente tão grande de brasileiros com velocidade e segurança. O avanço na 
automação e na regulamentação, além de vontade política, tudo isso permitiu avançar no 
acesso bancário. 
Esta “bancarização” era o propósito do Programa da Conta Simplificada, criado 
em 2003, conta corrente desburocratizada em que não era obrigatório ter endereço fixo ou 
comprovante de renda. O programa tinha como pano de fundo a inclusão bancária e, em 
última análise, a social. Em um país de alta concentração de renda, dar acesso aos bancos 
era o mesmo que dar cidadania. Permitia também democratizar o acesso ao crédito 
bancário, para promover o crescimento econômico. 
Quatro anos após o início desse Programa, em maio de 2007, o número de contas 
simplificadas abertas na Caixa Econômica Federal atingiu 5,04 milhões, sendo 3,93 
mantidas ativas. Com isso, ela praticamente dobrou sua base de clientes correntistas. O 
Bradesco declarava que o Banco Postal tinha 5,5 milhões de contas e o Banco Popular do 
Brasil, 1,5 milhão. 
Antes, a cadeia de “cordialidade” com relações pessoais de clientela determinava 
o crédito pessoal de cada indivíduo. Originava, então, uma longa tradição histórica 
brasileira de tratar os negócios como relações pessoais, com o fornecedor do crédito 
sendo considerado alguém com quem se tem dívida moral, “obrigação pessoal”, em vez 
de se estabelecer relações monetárias, liquidando os laços de dependências pessoais com 
a entrega do dinheiro. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 290
Antes, cadeias de lojas comerciais populares preferiam os clientes pobres para 
“escravizá-los” em crediários com juros escorchantes. O crédito popular, concedido por 
bancos públicos federais, passou a ser uma opção para fugir dessa situação, atender suas 
necessidades emergenciais ou realizar seus gastos extras. 
Esse crédito popular, concedido por bancos comerciais, cuja contratação de 
agentes de crédito seria muito dispendiosa, não seguiu o modelo puro do “microcrédito 
produtivo orientado” com grupos de aval solidário. Foi construído como modelo 
propriamente brasileiro, para enfrentar problemas específicos de sociedade urbanizada 
(84% da população mora em cidades), massificada (5ª maior população mundial), 
espalhada em território gigantesco (47% da América do Sul) e com grande disparidade de 
renda. Colabora para fomentar mercado de consumo popular, em nosso país. 
Confirmando-se também a inclusão bancária dos milhões de recebedores de benefícios 
sociais, talvez se esteja construindo o maior (e mais rápido) programa de democratização 
do crédito do mundo! 
7.3. Três funções básicas dos bancos 
7.3.1. Viabilizar sistema de pagamentos 
Esse direito ao acesso ao sistema de pagamentos com moeda bancária só se 
viabilizou pelo avanço tecnológico da indústria bancária brasileira. É consenso que o 
barateamento do atendimento aos clientes através de cartões eletrônicos, devido à 
automação bancária, que possibilitou, financeiramente, ampliar o acesso de clientes 
pobres. 
O setor de Tecnologia de Informações (TI) no sistema bancário brasileiro se 
desenvolveu nos últimos 30 anos, período que esteve na maior parte sob pressão de uma 
economia instável sujeita a mudanças bruscas, como nas reformas monetárias ocorridas 
nos anos 80 e 90. Os bancos brasileiros investiram muito em tecnologia para evitar 
perdas com a aceleração da inflação, possibilitando elevar a velocidade de circulação da 
moeda nacional, evitando deixá-la ociosa sem aplicação. Esses percalços provocaram o 
desenvolvimento de soluções que agilizaram todo o processo de gestão de ativos, de 
contas correntes, de câmbio, de relacionamento com clientes (CRM), call centers, etc. 
Estudos realizados em universidades estrangeiras, comparando experiências na área 
inclusive nos Estados Unidos e na Europa, colocavam o país como um dos mais 
avançados no desenvolvimento, produção e utilização de tecnologias bancárias. O Brasil 
tornou-se exportador de serviços e soluções de TI para bancos. 
Desde o início dos anos 1980, os três maiores bancos comerciais (Bradesco, Itaú e 
Banco do Brasil) se envolveram diretamente na produção de hardware e software para 
automação bancária, através de suas subsidiárias tecnológicas como Sid, Itautec e Cobra, 
respectivamente. No período da “indústria nascente”, a política de reserva de mercado 
para a informática, adotada pelo governo brasileiro no final dos anos 1970, a chamada 
“Lei da Informática”, que limitava a presença estrangeira no país e privilegiava a 
produção de hardware, passou, com a imposição da realidade, a voltar-se para a 
automação e a produção de software. Depois da extinção da lei de reserva de mercado, o 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 291
setor já tinha adquirido condições de se desenvolver rapidamente. À ação dos grandes 
bancos somaram-se iniciativas oficiais de apoio e estímulo à produção e exportação de 
softwares brasileiros para o sistema financeiro dos anos 90 em diante. 
As empresas brasileiras desenvolveram expertise em produtos como hardware e 
software para redes de máquinas de auto-atendimento (ATMs), internet banking, e-mail 
banking e, mais recentemente, mobile banking (acesso à conta bancária pela telefonia 
celular), entre muitos outros produtos. A implantação do Sistema de Pagamentos 
Brasileiro (SPB), cuja estrutura exigia que as empresas fornecessem soluções para 
diversas camadas (bancos, câmaras de liquidação, banco central) tornou o mercado 
interno altamente comprador de automação bancária. Esse sistema que controla todos os 
pagamentos realizados no país via operações interbancárias, em rede e em tempo real, 
desperta o interesse em vários países, que enviam missões ao Brasil para melhor conhecê-
lo. As empresas brasileiras de software para finanças, atualmente, vendem soluções 
avançadas, com tecnologias de ponta, em várias regiões do mundo. 
O uso da comunicação móvel como canal de serviços era a fronteira tecnológica. 
Com notebooks e smart phones, acessava-se a internet de qualquer lugar que dispusesse 
de rede-sem-fio. Mas, enquanto o internet bankingteve como limite a ainda reduzida 
parcela da população com acesso à rede mundial, o celular já estava mais acessível ao 
bolso de cidadãos brasileiros de todos os segmentos de renda da sociedade. Mirava-se, 
então, na experiência bancária da África do Sul, onde o First National Bank usou o canal 
celular para dar acesso bancário a centenas de milhares de pessoas. 
Com mais de 100 milhões vendidos no Brasil, os celulares massificaram o acesso 
à telefonia, o que levava à expansão dos call centers dos bancos. Mas o grande salto seria 
o uso dos celulares como meios de pagamento. Tratava-se de uma mídia sofisticada, com 
processador, memória e conectividade, que podia representar uma evolução em relação 
aos cartões. Entretanto, se o número de celulares era grande, a parcela com aparelhos de 
fato habilitados a mobile banking ficava entre 4 a 5 milhões de terminais. 
Teria ainda que se avançar muito para chegar a uma solução de pagamento para 
valores baixos, em que o custo da ligação telefônica teria peso relativo. As transações por 
celular incidiriam em custo para o usuário, assim como tinha o custo do acesso pela 
Internet. Mas, os acessos às agências ou aos postos de atendimento bancário também 
tinham custos (e riscos) crescentes, face ao tempo perdido no trânsito, quando não se 
enfrentava assaltos... 
O tema mobilidade passou a ser a pauta mais presente em quase todo grande 
banco. A expectativa era que as agências permanecessem, mas não mais como centros de 
transações, mas sim como centros de processamento. A possibilidade de corte de custos 
com as agências justificava que os bancos investissem pesado em seus projetos de mobile 
banking e, mais adiante, na HDTV banking, ou seja, no banco diretamente na TV digital 
do cliente, para ele operar sua agência sem sair de sua casa. No primeiro caso, não 
existiam maiores problemas técnicos e a infra-estrutura estava preparada para receber 
esse novo canal. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 292
De imediato, a expectativa era que pagamentos e transferências deveriam ser o 
principal atrativo do mobile banking entre categorias de aplicações wireless possíveis. O 
Mobile Payment era o uso do celular para ordem de transferência de depósitos à vista, em 
substituição a cartões de débito ou crédito, sendo o canal inerentemente preparado para 
pagamentos remotos. No serviço de M-Payment, a transação se completaria no próprio 
celular. Essa solução permitiria que o cliente realizasse e pagasse compras à distância, 
com a ajuda do celular. Com o serviço, a compra poderia acontecer sem a presença física 
do cliente, o que seria ideal, por exemplo, para serviços de entregas de lojas virtuais. 
Uma vez informado o número do telefone, o lojista por um desses três canais (POS 
adaptado, página da bandeira na internet ou celular próprio) lançaria a transação no 
sistema. Logo, o cliente receberia uma mensagem SMS informando que havia uma 
transação pendente de confirmação por senha, que ele faria, imediatamente, usando a 
mesma do seu cartão. Os maiores apelos seriam facilidade, segurança e rapidez, criando 
uma cultura de pagamento móvel no Brasil. 
Para que as soluções de mobilidade, em transações financeiras, realmente 
funcionassem, seria preciso que os comerciantes operassem com qualquer banco e com o 
celular de qualquer operadora. A primeira premissa seria a definição de padrão de 
mensagem comum, protocolo padronizado. Deveria se estabelecer uma forma 
padronizada de descrição de transações financeiras, assim como se tinha homogeneizado 
a descrição dos serviços bancários tarifados, o que permitiria pagamentos e outras 
interações entre agentes econômicos vinculados a qualquer banco. Seria também 
necessário criar serviços comuns de clearing (compensação) e liquidação. Uma das 
propostas era usar a infra-estrutura da Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), que 
operava o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), e fazer com que a provedora 
assumisse a função de clearing. Portanto, haveria ganhos para todos os elos da cadeia: 
“bancarização” de não clientes, conforto para o já cliente-usuário, rentabilidade para a 
operadora, com a massificação da escala no seu tráfego. 
O SPB iniciou seu funcionamento efetivo no dia 22 de abril de 2002. Reduzir o 
chamado “risco sistêmico” foi o principal benefício do novo sistema. Era o risco de que 
um banco não tivesse recursos para honrar suas dívidas com outro banco, que, por sua 
vez, também ficaria sem ter como pagar seus compromissos, em um “efeito-dominó” que 
se alastraria por todo o sistema financeiro. 
As contas de reservas bancárias devem ser vistas como contas-correntes dos 
bancos no Banco Central, onde são lançados todos os créditos e débitos oriundos das 
operações que seus detentores realizam com os outros bancos, o Tesouro Nacional e a 
própria autoridade monetária. Todas as operações financeiras entre quaisquer 
contrapartes, exceto o Banco Central, provocam alterações nos níveis individuais de 
reservas bancárias das instituições financeiras, entretanto, sem alterar o saldo consolidado 
do sistema financeiro. Constitui sistema fechado onde as instituições não são capazes de 
criar ou destruir reservas bancárias (em espécie) sem a participação da autoridade 
monetária. 
 
Todo agente econômico está sujeito ao fluxo de caixa (cashflow). Cada qual, seja 
deficitário, seja superavitário, necessitará ter seus fluxos de saída e de entrada de caixa 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 293
equilibrados (“zerados”) por instituição financeira. Esta captará o excesso de caixa dos 
clientes superavitários e concederá crédito para os deficitários, zerando o fluxo de caixa 
de sua clientela, independentemente do equilíbrio entre os recursos tomados e os 
concedidos, que só por caso se igualarão. A instituição financeira, por sua vez, ao 
equilibrar as finanças dos clientes, desequilibrará seu próprio fluxo de caixa, tornando-o 
superavitário ou deficitário. Como também ocorrem os mesmos desequilíbrios nos fluxos 
de caixa de outras instituições financeiras, em função da “zerada” do setor real da 
economia, há oscilações, ao longo do dia, nos fluxos individuais de caixa das instituições 
financeiras. 
 
Desequilíbrios deverão se compensar. No consolidado do sistema financeiro, 
fluxo superavitário corresponde a fluxo deficitário, mesmo que seja com valores 
diferentes. As instituições financeiras recorrerão ao mercado interbancário de reservas 
bancárias: as superavitárias para “doar” suas sobras de caixa; as deficitárias para “tomar” 
esses recursos; no final do expediente bancário, todas deverão se “zerar”. 
Diariamente, os bancos realizam, entre si, milhares de transferências de recursos, 
por exemplo, com reais, dólares, ações e títulos de dívida pública. O resultado dessas 
operações interbancárias, pelo sistema anterior, só chegaria ao conhecimento do Banco 
Central do Brasil um dia depois que já tivessem sido realizadas. Caso ocorresse falha de 
pagamento, isso implicaria em série de débitos não honrados nos elos seguintes da cadeia 
e caberia ao Banco Central arcar com essa conta. O SPB eliminou esse risco. 
Antes de o novo sistema entrar em vigor, para evitar que essa reação em cadeia 
culminasse em colapso do sistema financeiro, o Banco Central do Brasil era obrigado a 
entrar em cena, garantindo o pagamento dos passivos da instituição que não tivesse como 
honrar seus compromissos. Pelas novas regras, vigentes desde 2002, as chamadas 
“câmaras de liquidação diferida por resultado líquido” simplesmente barram a realização 
das transações se não houver garantias para isso. São elas: a Câmara Interbancária de 
Pagamentos (CIP) da FEBRABAN; a Câmara Brasileira de Liquidação & Custódia 
(CBLC) da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA); e as Câmaras de Ativos, 
Câmbio e Derivativos, da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Um crédito 
eliminaria automaticamente um débito no mesmo valor e a clearingnão autorizaria o 
banco assumir novo débito, caso ele não tivesse reserva bancária. 
 O sucesso do SPB foi o resultado de um pacote de medidas, lançado em 2002, que 
proporcionou maior segurança jurídico-regulatória, e um confiável aparato tecnológico. 
Na área jurídico-regulatória, os principais avanços foram relacionados às chamadas 
“câmaras de compensação” ou clearings, reconhecendo-as como contrapartes centrais nas 
operações. No caso de um banco que tenha comprado R$ 1 bilhão em dólares, por 
exemplo, a câmara se compromete a entregar a uma das partes um bilhão de reais e o 
equivalente em moeda norte-americana à outra. Os negócios são, em última análise, com 
a clearing e não diretamente entre um banco e outro. 
 O segundo avanço foi a “sacramentação das garantias” oferecidas nessas 
clearings para a realização das transações. Esses recursos, pelas novas regras, não podem, 
em hipótese alguma, deixar de ser usados como garantias. Antes, havia risco legal quanto 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 294
à execução de garantias. Caso um banco fosse posto sob intervenção, o interventor podia, 
simplesmente, escolher quais operações honrar e quais não honrar. 
 No que diz respeito à tecnologia, a principal novidade foi o desenvolvimento do 
Sistema de Transferências de Reservas (SITRAR), mecanismo de comunicação por 
mensagens criptográficas. Seu objetivo foi assegurar, de forma rápida e segura, a 
transferência de recursos entre as contas dos bancos, nas contas de Reserva Bancária no 
Banco Central do Brasil, e as clearings, nas contas de Liquidação, também no Banco 
Central. 
O SPB representou a modernização dos sistemas de pagamentos no Brasil, 
tornando-o comparável aos mais avançados do mundo. Foi o principal motivo da melhora 
como um todo do sistema financeiro nacional e reduziu drasticamente os riscos 
sistêmicos, ajudando a criar condições para a inserção do país no atual sistema 
globalizado. Com a intervenção no Banco Santos, no final de 2004, e sua posterior 
liquidação, comprovou-se, na prática, que a utilização de garantias para os sistemas 
estruturalmente importantes funcionaram e delimitaram as conseqüências indesejáveis 
para o sistema financeiro nacional. Isolou os efeitos colaterais daquela bancarrota. Na 
realidade, a CIP não ficou nem um só dia “fora do ar”, nos primeiros cinco anos do SPB. 
 Para os clientes pessoas físicas, representou dispor de uma rapidez inédita no 
mundo na movimentação de recursos, com a criação da TED – Transferência Eletrônica 
Disponível. Ela permite remeter ou receber qualquer valor, mas os bancos fizeram um 
“acordo entre cavalheiros” de ser igual ou acima de R$ 5.000, para não estourar a 
capacidade de processamento da CIP com transferências do pequeno varejo, em qualquer 
ponto do país, no mesmo dia, quando não em tempo real. Diferentemente das 
transferências realizadas por meio de DOCs e cheques, cuja liquidação é realizada um dia 
após o processamento da operação (D + 1), nas TEDs a liquidação é realizada, 
instantaneamente, on line. 
 Para as empresas, em geral, mas, sobretudo, para aquelas que gerenciam caixas 
que as aproximam de bancos, o SPB representou mais segurança, agilidade e eficiência 
no manejo de recursos e instrumentos financeiros. Por exemplo, os supermercados, que 
realizam, diariamente, inúmeras operações de compra e venda com fornecedores e 
clientes, a introdução da TED representou mudança na forma de atuação dos 
departamentos financeiros. O SPB mudou as transações financeiras entre empresas, que 
antes eram feitas através de cheques e DOCs e a transferência dos recursos só era 
confirmada no dia seguinte. Em regime de alta inflação e com alta taxa de juros real, 
havia custo de oportunidade significativo para os que tinham dinheiro a receber. Com o 
SPB, transações acima de R$ 5 mil são realizadas on line. É possível conferir as entradas 
e as saídas, poucos minutos após a negociação. Isso propicia mais segurança para 
remetentes e receptores que movimentam grandes quantias, já que podem acompanhar a 
liquidação das operações, confirmando se as movimentações foram efetivadas, e corrigir 
eventuais problemas durante o próprio expediente bancário. 
 Nas tesourarias das empresas não-financeiras, também foi preciso automatizar os 
processos de apuração dos valores dos pagamentos e recebimentos. Internamente, foram 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 295
implantados sistemas para a troca de informações entre Contas a Pagar, Contas a 
Receber, e Caixa. Com horários mais rígidos para as transferências, era preciso um fluxo 
rápido de informações, pois, passado o prazo, não havia mais como resgatar recursos para 
cobrir necessidades de caixa nem aplicar sobras. Estreitou-se também o relacionamento 
dessas grandes companhias com seus bancos, pois boa parte das operações passou a ser 
feita por sistemas informatizados. Por esse lado, o SPB também induziu a redução de 
custos, pois foram eliminados processos manuais que demandavam mais tempo e com 
maior probabilidade de falha humana. Por outro lado, o SPB incentivou a concentração 
bancária ao exigir gastos altos com o desenvolvimento de sistemas e aumento dos 
controles internos. Alguns controladores de instituições pequenas desistiram de se manter 
no negócio diante das exigências em operar no novo sistema. 
 As inovações tecnológicas, aceleradas nos últimos anos, permitiram inovações 
financeiras no Brasil. Na terceira onda da internet, os usuários têm a possibilidade de 
produzir conteúdo e o disponibilizar na rede. Trata-se agora de produzir, receber e 
propagar. Pode-se avaliar e comentar notícias, selecionar os assuntos de interesse próprio, 
colaborar na geração e alteração de conteúdo, classificar e indicar os produtos. Quanto 
mais rápida se tornar a conexão interativa, mais pessoas colocarão conteúdo na rede, 
transformando-a em via de mão dupla. Daí as áreas de TI dos bancos pretenderem utilizar 
a infra-estrutura da rede celular para conectar agências em Wi-Max (banda larga sem fio), 
o que permitirá plena mobilidade nas unidades de atendimento. As agências serão 
itinerantes, com todo funcionário (e seus maravilhosos dispositivos móveis) tendo de ir 
onde o povo, ops, o cliente está! Lá estará ele, o banco onipresente e onisciente, cuja TI o 
tirou fora das limitações físicas do tempo (real) e do espaço (total). Sobrenatural: será 
deus ou demônio? Ou apenas instituição de mercado regulável? 
7.3.2. Oferecer segurança, rendimento e liquidez para aplicações 
É possível fazer um breve resumo da história da riqueza no Brasil, para entender 
qual foi o papel histórico dos bancos ao oferecer “papéis” aos clientes, como formas 
alternativas de manutenção de riqueza. 
No espaço colonial brasileiro, a forma de manutenção de fortuna local, composta 
de escravos, terras e engenhos, era em “bens de raiz”, não sendo possível levá-los para a 
metrópole européia. Havia grande dificuldade para transformar a fortuna em dinheiro. 
Muitos senhores de engenho eram ricos, mas havia o problema de falta crônica de moeda 
metálica. Os patrimônios eram cada vez maiores, mas a liquidez proporcionalmente 
menor, pois o valor de produção crescia muito mais que a moeda em circulação. 
Em face da escassez quase absoluta de moeda, o governo da capitania do Rio de 
Janeiro chegou a determinar o curso forçado do açúcar para pagamento de impostos e 
soldos. Essa moeda-mercadoria, mesmo com valor incerto e flutuante face à paridade 
oficial, cumpria a função de intermediária de trocas de aceitação geral e medida de valor, 
enquanto os escravos desempenhavam a função monetária de reserva de valor, isto é, a 
representação da fortuna já obtida. O açúcar e os escravos eram os substitutos da moeda 
metálica. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 296
Com o fim do “ciclo da economia açucareira” (séculos XVI e XVII) e do “ciclo 
do ouro” (século XVIII),depois de dois séculos de letargia, restou à população pobre a 
alternativa da migração. A região Nordeste, o grande ponto de origem das migrações 
internas brasileiras, perdeu, no século XX, sua participação na população total do Brasil: 
de 39% a 28%. A região Sudeste, centro do “ciclo da economia cafeeira” (séculos XIX-
XX) e do “ciclo urbano-industrial” (após a crise do café na década de 1930), manteve o 
patamar próximo de 45%, chegando a 2000 com 43%. A região Sul oscilou, mas 
terminou com os mesmos 15% que tinha em meados do século. Com a crescente 
interiorização da população brasileira, a região Norte quase dobrou sua participação, 
saindo de 4% em 1900 para 7,6% em 2000; a região Centro-Oeste mais que triplicou, ao 
longo do século XX, indo de 2,1% para 6,8%. 
Caracterizou-se, assim, depois de uma “marcha nordeste-sudeste/sul”, uma 
“marcha para o oeste (e o norte)”, seguindo a trilha em busca de riqueza: o madeireiro 
chegava primeiro, o gado o seguia e depois vinha a soja. Com a adaptação da soja para 
plantio em zonas tropicais, o agricultor comprava as pastagens do pecuarista. Com o 
dinheiro recebido do agricultor de soja, o pecuarista comprava terras exauridas por 
madeireiros mais ao norte. O madeireiro avançava sobre terras devolutas, extraía as 
árvores nobres e ficava à espera de uma oferta do pecuarista. O ciclo de destruição se 
repetia... Na Amazônia, ¾ das áreas de árvores derrubadas por motosserras de peões 
(cativos por dívidas) eram transformadas em pastagens, o que fazia da pecuária uma das 
grandes causas do desmatamento. 
Na realidade, as cidades brasileiras não tiveram capacidade de absorver, 
adequadamente, o ritmo elevadíssimo de migração vindo do campo, na segunda metade 
do século XX. Em busca de maior esperança de vida, acesso a serviços públicos e 
moradia (“sonho da casa própria”), a população urbana passou de 31% a 84% do total, 
em pouco mais de 60 anos. Não foi atendida a necessidade levar ao campo os mesmos 
direitos civis disponíveis na cidade, para dar melhores condições de vida e de trabalho 
nas zonas rurais brasileiras. 
 “Bolhas” surgiram quando os preços de mercado dos ativos eram inconsistentes 
com o que os fundamentos justificariam. Uma economia de boom (com alto crescimento) 
gerava uma bolha de ativos quando a escala de influxos nominais de riqueza à caça de 
oportunidades em ativos reais ultrapassava a capacidade de criação desses ativos de 
capital. As bolhas de ativos seguidas por colapsos de ativos foram virtualmente 
onipresentes em economias (ou em mercados) com fronteiras delimitadas (DYMSKI: 
1998). 
Em sistemas baseados em mercado de capitais, a volatilidade dos preços dos 
ativos (cambiais, mobiliários e imobiliários), que representam parcela importante do 
patrimônio das famílias e das empresas, reflete-se seja em um “efeito riqueza”, seja em 
um “efeito pobreza”. A percepção de um aumento relativo no patrimônio eleva os gastos 
de consumo e deriva em investimento, inclusive pelo fornecimento de capitais de risco 
para financiá-lo. Isso ocorre mesmo sem a liquidação das posições, ou seja, na ausência 
da realização dos lucros imaginados. A seqüência de altas nas cotações pode, então, 
resultar em ciclo produtivo, com aceleração da taxa de crescimento. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 297
No Brasil, não se constituiu uma “economia de mercado de capitais”. Em uma 
economia com grande instabilidade inflacionária e cambial, a forma preferida de 
manutenção de fortuna local sempre foi em “bens de raiz”. No passado, predominava o 
estoque de riqueza em escravos, terras, engenhos, imóveis urbanos, etc. Com a 
constituição progressiva de um mercado financeiro, desde o século XIX, as emissões de 
títulos de dívida pública forneceram lastro para aplicações financeiras em títulos de renda 
fixa, contrapondo-se, parcialmente, às fugas de capital para o ouro ou as divisas 
estrangeiras. Evitaram a plena dolarização da economia. 
Grande parte da riqueza de "novos ricos" surgiu de atividades não-produtivas, 
geralmente ligadas a ganhos de capital por meio de valorizações mercantis, como a venda 
de bens (imóveis, fazendas, empresas, participações, etc.) comprados com preços baixos 
e vendidos após forte alta. Os empreendedores pioneiros investiram, inicialmente, em 
“zonas de fronteiras” ou espaços urbanos ainda não atendidos por determinadas 
atividades. Com o controle monopolista de mercados locais, obtiveram “ganhos de 
fundadores” extraordinários, devido ao crescimento das cidades. 
Exemplo dessas “economias de bolha”, que atraia capital e trabalhadores, São 
Paulo era o Estado que concentrava a maior parte dos ricos do país, cuja renda média 
mensal era a quarta maior (R$ 31.900,00), após a dos ricos de Distrito Federal (R$ 
40.800,00), Minas Gerais (R$ 32.600,00) e Mato Grosso (R$ 32.100,00), segundo o 
“Atlas dos Ricos no Brasil” de POCHMANN (2004). A renda média mensal do 1% mais 
ricos no Brasil era de R$ 23.400,00 por mês, em setembro de 2003, e a relação entre ela e 
a renda média da população era de 14,5 vezes maior. Nivelada por cima, a menor relação 
(13 vezes) desse tipo era no Distrito Federal, cuja renda média dos ricos era a maior entre 
todas as Unidades Federativas. O Estado do Maranhão, que tinha a menor renda média 
mensal entre o 1% mais ricos (R$ 14.000,00), era onde justamente essa relação era maior, 
em torno de 20 vezes, assim como em Alagoas (R$ 17.400,00) e no Piauí (R$ 15.800,00). 
Na capital de São Paulo moravam 443.462 famílias ricas, representando 38% das 
famílias com renda mensal superior a R$ 10.982,00, em setembro de 2003, nível 
arbitrado por POCHMANN (2004) para essa classificação. Cerca de metade do total de 
1,162 milhão de famílias ricas do país morava em quatro cidades. Além de São Paulo, 
cuja renda média dos ricos era R$ 36.600,00, eram elas: Rio de Janeiro com 76.317 
famílias (R$ 17.400,00), Brasília com 34.994 (R$ 40.800,00) e Belo Horizonte com 
27.526 (R$ 32.600,00). 
Essa concentração urbana da riqueza sugere que as bolhas de ativos, no Brasil, 
ocorreram mais no mercado imobiliário. A demanda por imóveis era determinada pela 
elevação do grau de urbanização da população. A concentração do mercado consumidor, 
nessas grandes cidades, favorecia o sucesso dos empreendimentos empresariais. Entre 
1900 e 1973, a taxa de crescimento médio do PIB brasileiro foi a maior do mundo, 
propiciando uma economia de boom com bolhas imobiliárias. A sobra de renda dos mais 
ricos permitia construir a “casa própria” ou investir em imóveis, aplicação que era, antes 
da reforma financeira de 1964, considerada segura e rentável. Tinha mercado secundário 
organizado que dava, então, relativa liquidez. Poucas “bolhas” ocorreram no mercado de 
ações brasileiro. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 298
No Brasil, o Estado, à custa de um imenso e contínuo endividamento, teve que se 
encarregar da tarefa de industrialização pesada, devido aos grandes riscos do 
investimento. A insuficiente mobilização de capitais pelos empresários brasileiros, em 
face da envergadura dos empreendimentos, os afastou. Eles tinham oportunidades 
lucrativas de inversão, com baixo risco e diminutas barreiras tecnológicas, na medida em 
que atuassem em mercados protegidos como o bancário e o de empreitadas de obras 
públicas. Os investimentos que requisitavam patentes tecnológicas foram efetuados por 
empresas estrangeiras. Essas trouxeram capital do exterior; não necessitaram emitir ações 
no país. 
Os investimentos e, conseqüentemente, as necessidades de financiamento das 
empresas privadas nacionais foram limitados. Foram atendidas pelos lucros retidos e 
créditos comerciais e oficiais. Com isso, nunca houve estímulo, pelo lado da demanda de 
recursos, para os proprietários dividirem o poder sobre suas empresas, lançando ações. 
Inclusive, para incentivar a abertura de capital, criou-se o expediente de separar ações 
ordinárias e preferenciaiscomo proteção face ao risco de perda do controle acionário por 
takeover hostil. Isso desestimulava o mercado secundário. 
Nos últimos 37 anos, a bolsa de valores teve apenas cinco “booms”, no Brasil. O 
primeiro foi em 1971, durante o chamado “milagre econômico brasileiro”. O segundo foi 
15 anos após, depois do lançamento do Plano Cruzado. Em 1989, houve a mega-
especulação do Nagi Nahas. Em meados de 1997, com a “crise asiática”, explodiu a 
penúltima bolha, a da “abertura financeira ao capital estrangeiro”. Desde então, a 
BOVESPA somente retomou seu crescimento após a crise pré-eleitoral (ou de “marcação 
a mercado”) de 2002, simultaneamente à estabilização da inflação e ao fim da 
vulnerabilidade externa da economia brasileira. Nos oito anos antes de 2003, quando Lula 
tomou posse, a Bolsa acumulou quedas expressivas. Em 1995, a queda foi de 13,9%; em 
1998, de 38,5%, em 2000, de 18,3%; em 2001, de 25%; e em 2002, de 45,5%. Depois, a 
Bolsa acumulou altas expressivas: 141,3% em 2003; 28,2% em 2004; 44,8% em 2005; 
45,5% em 2006; e 48% em 2007. 
A diferença entre os rendimentos da renda fixa e os da variável pode ser 
observada através de proxy da primeira: a evolução do Certificado de Depósito 
Interbancário (CDI), que é referência para os fundos de renda fixa e os depósitos a prazo. 
Estimativa da rentabilidade acumulada, de julho de 1994 a dezembro de 2005, mostra que 
o CDI acumulou variações de 1.308%, bem superior à variação do Índice BOVESPA, a 
proxy para a renda variável, que acumulou em 819%. A poupança, no mesmo período, 
acumulou 404%. Interessante observar que todas essas aplicações ficaram bem acima da 
taxa de inflação (IPCA) acumulada no período (196%). Apenas o câmbio variou menos, 
mostrando que a sobrevalorização da moeda nacional, no 1º mandato do governo FHC, e 
sua apreciação no 1º mandato do governo Lula, desestimularam as aplicações em dólares. 
Levantamento da Economática (OESP: 04/09/07), referente a um período mais 
recente, entre o início de 2002 e o fim de agosto de 2007, mostrou que o Ibovespa, 
principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, acumulou alta de 302,4%. No mesmo 
período, a rentabilidade do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que 
acompanhava a taxa básica de juros (SELIC), foi de 152,3%. Foi a primeira vez, em toda 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 299
a história moderna do mercado brasileiro, que o Ibovespa, parâmetro para investimentos 
de renda variável, apresentou rentabilidade superior ao do CDI, parâmetro para 
investimentos de renda fixa, por cinco anos consecutivos. 
Antes, o movimento da bolsa de valores se concentrava em ações das empresas 
estatais. Com o modelo de privatização, adotado nos anos 90, acompanhado de 
desnacionalização, perdeu-se a oportunidade histórica de criar grandes corporações 
privadas nacionais, com a venda de suas ações de maneira pulverizada. Não se fez a 
“democratização do capital”. 
O fato histórico é que aqui se constituiu “economia de endividamento”, não 
“economia de mercado de capitais”. Ainda não houve no mundo nenhuma experiência 
que tenha convertido a primeira nessa última, típica dos países anglo-saxões. Esse 
modelo institucional de mercado financeiro não foi copiado senão como caricatura do 
original. Pelo contrário, atualmente (assim como em 1929), a bolsa de valores de Nova 
York absorve ações (ADRs) das grandes empresas do resto do mundo, esvaziando as 
congêneres. 
Mas, nas décadas de 80 e 90, graças às atividades ligadas ao setor financeiro, 
pequena parcela da classe média conseguiu enriquecer, elevando a desigualdade social. A 
piora no Índice de Gini (IG), durante um ciclo com alta inflação e moeda-indexada 
(disponível para os que tinham acesso a bancos), mostra isso, indiretamente. Em 1981, 
ele foi 0,564; agravou a concentração de renda até 1993, quando atingiu 0,600. Apenas 
após a estabilização da inflação, em 2002, ele retomou o patamar de duas décadas antes: 
0,563. Em 2007, o IG da renda do trabalho atingiu seu nível histórico mais baixo: 0,528. 
Em ano de boom na bolsa de valores e expansão econômica, as famílias das 
classes A e B tiveram o maior crescimento de renda da população brasileira. A expansão 
foi constatada em estudo da LatinPanel com 8.200 lares no país (FSP: 09/11/07). O 
principal motivo para o aumento no rendimento foram os ganhos com aplicações 
financeiras. As famílias mais ricas aumentaram os investimentos em 216%, de uma 
média mensal de R$ 1.520,00 para R$ 4.812,00. Quem aplicou em ações fez uma boa 
escolha até o final de 2007. Os ganhos com comissões e bonificações, como a 
participação dos trabalhadores nos lucros das empresas, também ajudaram nesse 
crescimento do rendimento, com uma ampliação de 27%, no período analisado. 
A partir dos anos 80, o que se viu foi o estabelecimento de um modelo de 
acumulação de riqueza por meio da dívida pública e dos juros altos em que o Estado 
transferia recursos oriundos de tributação sobre toda a população para as camadas mais 
ricas do país. O aumento da dívida foi gerado por um conjunto de fatores. A explosão dos 
juros, sua dolarização em simultâneo à depreciação da moeda nacional, o reconhecimento 
de dívidas antigas (“esqueletos” como os que levaram o Tesouro Nacional a assumir 
dívidas estaduais e a trocar ativos da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e do 
INSS) e a própria necessidade de financiamento do setor público (déficit nominal) 
aumentaram a dívida líquida. Enquanto isso ocorria, a receita de privatizações reduzia em 
muito pouco o montante da dívida. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 300
Na segunda metade da década passada, a necessidade de rolagem da dívida exigiu 
conquistar espaço entre os haveres financeiros para os títulos de dívida pública, como fica 
demonstrado pela relação crescente entre os fundos de renda fixa e o total dos haveres 
financeiros. Essa participação sai de 12,5%, em janeiro de 1995, sobe até um primeiro 
“pico” de 32%, dois anos após, cai para 25%, no ano seguinte, voltando a subir até 39%, 
em janeiro de 2001, cai levemente até 35%, em janeiro de 2003, e sobe inexoravelmente 
até 45%, nível alcançado em janeiro de 2006. 
O estímulo à indústria de fundos de investimentos financeiros ocorreu em 
desfavor do funding típico dos bancos públicos: depósitos de poupança e a prazo. O 
crescimento do estoque de títulos de dívida pública conquistou mercado em relação aos 
títulos de dívida privada (depósitos a prazo e depósitos de poupança), dificultando a 
obtenção de funding adequado ao financiamento. Esses depósitos, conjuntamente com os 
haveres monetários (depósitos à vista e papel-moeda em poder do público), 
representavam 75% do total de haveres financeiros, em janeiro de 1995. No final de 
2001, já tinha atingido o patamar de 40%, do qual apenas recuperou com a crise da 
“marcação a mercado”, em 2002, quando chegou a 49%. No fim do exercício de 2007, os 
fundos representavam 54% do total de captações, os depósitos a prazo, 20%, os depósitos 
de poupança, 16%, e os depósitos à vista, 10%. 
A interpretação interessante do fenômeno da “indústria de fundos mútuos de 
investimento” é que ele mostra a administração de recursos de terceiros, que é segregada 
nos bancos pela “chinese wall”, concorrendo com os próprios negócios bancários, isto é, 
com a captação de funding para a carteira de crédito dos bancos. Em outras palavras, 
houve um vazamento de dinheiro do circuito monetário tradicional: bancos - crédito - 
empresas - pagamento dos empregados - consumo - receita das empresas - pagamento do 
crédito. Nesse sentido, houve um vazamento de recursos do mercado de produtos, não 
tanto para depósitos quanto para o mercado de títulos de dívida pública. 
Por que os bancos aceitaram isso? Obviamente, porque foram muito bem 
remunerados por isso. Os gestores dos fundos de investimento se apropriavam o 
equivalente a 1,5% do PIB brasileiro, anualmente, apenas comtaxas de administração. A 
maioria deles tinha apenas a tarefa burocrática de comprar títulos da dívida pública do 
governo que vinham garantindo os juros reais mais elevados do mundo, 
independentemente do cenário econômico. A indústria de fundos administrava R$ 1,2 
trilhão e cobrava taxas de administração em percentual significativo do patrimônio anual 
dos recursos administrados. Em 2006, a taxa média cobrada nos fundos de varejo ficou 
em 2,6% e nos fundos de ações, 3,5% (FSP: 24/09/07). Com aquela taxa, os 
“administradores dos recursos de terceiros” embolsavam bilhões de reais por ano para 
fazer um dos trabalhos mais simples do sistema financeiro internacional, que pouco 
envolvia a prestação de um serviço de valor ao cotista. Porém, com a tendência de queda 
da taxa de juros, cada vez mais os cotistas teriam a necessidade de um serviço 
personalizado, que atendesse às necessidades particulares de aplicação de recursos e de 
tomada de risco. 
A perspectiva de juros ainda baixos no país colocava um desafio aos gestores de 
fundos administrados pelos bancos no Brasil: eles teriam de apresentar mais resultado 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 301
para o cliente, fazendo uma gestão de patrimônio mais personalizada, e ainda cobrando 
taxas de administração menores. O efeito colateral seria assumir cada vez mais riscos. 
Havia muita riqueza correndo atrás de poucos ativos. Com o aumento da riqueza, os 
investidores tendiam a aceitar mais riscos. A indústria de fundos teria de responder com 
maior oferta de investimento de risco, o que elevaria a volatilidade nos mercados. 
7.3.3. Financiar atividades 
A evolução real do crédito, em todo o governo FHC (1995-2002), foi medíocre. 
Com a reestruturação patrimonial dos bancos públicos federais, em maio de 2001, o saldo 
de empréstimos caiu inclusive em termos nominais. Esses bancos não recuperaram suas 
antigas participações no mercado de crédito, desde então. Parte dos recursos direcionados 
a setores prioritários foi assumida como “esqueletos”. 
O fato é que, findo o governo FHC, a relação entre o estoque de crédito bancário e 
o PIB, no Brasil encontrava-se entre as piores, considerando os Estados Unidos (160%), 
Japão (143%), Europa (130%), países asiáticos emergentes (73%), Europa emergente 
(51%), América Latina (39%), Chile (60%). A do Brasil, no “fundo do poço”, era de 
23,8%. Mas, em decorrência da política de crédito adotada no governo Lula, o estoque 
total de empréstimos passou a representar 37% do PIB, em julho de 2008. 
O financiamento ao setor habitacional estava estagnado, desde 1992, quando se 
detectou a sobre aplicação em relação aos 65% exigidos do saldo da poupança pela Caixa 
Econômica Federal. O crédito ao setor rural através do Banco do Brasil tinha um 
desempenho sofrível. O BNDES era o único a apresentar um forte crescimento em suas 
operações de crédito, destacando-se seu papel no financiamento às exportações face à 
escassez das linhas de crédito dos bancos múltiplos. 
A participação média do Banco do Brasil e da Caixa, no mercado de crédito, entre 
1993 e 1999, foi de 40,4%. Em junho de 2002, um ano após a reestruturação patrimonial, 
passaram a deter apenas 21,4% do total de operações de crédito. Em compensação, 
trocaram os “ativos podres” por títulos da dívida pública, passando a carregar em suas 
carteiras próprias 34,2% do total em posse do setor bancário. Em conseqüência, os quatro 
maiores bancos privados nacionais igualaram à parcela de operações de crédito que os 
quatro maiores públicos detinham: cerca de 30%. 
A relação entre a carteira de títulos e a carteira de empréstimos dos maiores 
bancos públicos (exceto BNDES) era muito superior do que a da média do sistema 
bancário. O único privado que tinha a mesma característica era o Banespa, desde a 
renegociação da sua dívida junto ao Estado de São Paulo. Os bancos “carregadores” de 
títulos de dívida pública estavam obtendo uma receita com títulos muito superior do que a 
com operações de crédito. Estavam também conseguindo obter maior eficiência, 
rentabilidade patrimonial e cobertura de despesas de pessoal com receitas de serviços. 
Devido à reestruturação patrimonial, os bancos públicos federais passaram a ter bom 
desempenho micro-financeiro, mas mantinham um mau desempenho macro-social, antes 
de 2003. 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 302
A disponibilidade de grande rede de agências e de “clientela cativa” por parte do 
Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal lhes permitia captar 38% do total de 
depósitos do sistema. O Banco do Brasil captava 31% dos depósitos à vista, a Caixa, 32% 
dos depósitos de poupança, ambos somavam 30% dos depósitos a prazo. Essas 
participações no mercado de depósitos propiciavam-lhes desfrutar do aumento da 
captação via esses haveres financeiros, quando havia fuga dos fundos, devido à perda de 
competitividade deles, seja pela “marcação a mercado”, seja pela queda da taxa de juros e 
elevada taxa de administração cobrada pelos administradores de recursos de terceiros. 
Nessa circunstância, haveria a possibilidade de geração do funding necessário para 
embasar a concessão de crédito agrícola e imobiliário. Essa seria a chave da retomada do 
crescimento. 
No debate sobre o crédito no Brasil, contra o argumento de que a situação, após o 
segundo semestre de 2003, passou a ser muito melhor do que antes, lançava-se mão da 
“denúncia” que a relação entre o saldo do crédito total e o PIB aqui ainda era muito 
inferior do que a de em outros países. Em outros termos, em vez de se comparar evolução 
no tempo, contrapunha-se comparação entre espaços econômicos distintos. 
As comparações internacionais têm de ser muito cuidadosas. Não se pode 
diferenciar “espaços” ignorando as diferenças no “tempo”, isto é, não é correto 
simplesmente fazer um corte temporal no ano presente, para denunciar que “ocupamos 
uma posição inferior no ranking internacional”. Não há diferenças estruturais entre os 
países, então, como ignorá-las nessas comparações? Por que desconhecer os distintos 
pontos-de-partida ou esquecer as heranças de problemas históricos, na análise do 
dinamismo de uma variável econômica? 
Basta consultar as séries temporais sobre o crédito no Brasil. O saldo total de 
crédito concedido pelo sistema financeiro brasileiro, comparado com o PIB da época, 
depois do confisco de parte do estoque de títulos de dívida pública pelo governo Collor, 
subiu de uma relação de 20,2%, em 1990, para o patamar de 28,6%, no início de 1994. 
Ao final deste ano, em que ocorreu uma “bolha de consumo”, provocada pelo Plano Real, 
a proporção atingiu seu “pico histórico”, isto é, 37%. Durante os dois mandatos do 
governo FHC, a tendência de queda predominante levou ao “piso” de 23,8%, em maio de 
2003. Com uma série de incentivos ao crédito, desde então, somada ao início da queda da 
taxa de juros básica de referência (SELIC), a relação crédito / PIB voltou a atingir 37% 
do PIB, em julho de 2008, considerando inclusive a revisão do PIB a maior. Era a melhor 
relação, desde novembro de 1995, mais de 13 pontos percentuais em relação à de maio de 
2003, ou seja, uma elevação de 55%! 
A relação crédito sobre PIB mostrava um crescimento consistente, desde meados 
de 2004, em função tanto de mudanças institucionais quanto de fatores econômicos. No 
que se refere às alterações institucionais, destacava-se a Lei 10.820 de 17/12/2003 que 
regulamentou os empréstimos consignados em folha de pagamento, ampliando o acesso 
dos trabalhadores a uma modalidade de crédito mais atrativa ao tomador e de menor risco 
para o credor. Referente aos fatores econômicos, o destaque era a consolidação de um 
cenário favorável, com maior estabilidade de preços e perspectiva de crescimento. Este 
quadro elevou a confiança dos agentes econômicos, fator fundamental para a expansão do 
Fernando Nogueira da Costa. Brasil dos Bancos. Capítulo 7 – Brasil dos Bancos. 303

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