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FLÁVIO AUGUSTO NAOUM "- PAULO CESARNAOUM HEMATOLOGIA ·LABORATORIAL Edição da Academia de Ciência e T ecnologia São José do Rio Preto - SP 2006 FLÁVIO AUGUSTO NAOUM PAULO CESAR NAOUM /1.Á\ V(t \V1 r/ _v'-c cf~ ~ / (OG (\j-J /" 'if ~ "- V 0\ HEMATOLOGIA LABORATORIAL LEUCÓCITOS Edição da Academia de Ciência e Tecnologia São José do Rio Preto - SP 2006 Prefácio Seguindo a série Hematologia Laboratorial - Eritrócitos, editada pela Academia de Ciência e Tecnologia em 2005, o volume atual é inteiramente dedicado ao estudo dos leucócitos. Atualmente, para se ter uma idéia, o hemograma é o exame laboratorial mais requisitado pelos médicos, independentemente da especialidade que exercem. Seja para fins diagnósticos, preventivos ou de controle terapêutico, a análise dos parâmetros fornecidos pelo hemograma, associada ao estudo citológico, oferece informações extremamente valiosas em curto espaço de tempo. Assim, o hemograma e a citologia das células do sangue são verdadeiras 'armas' nas mãos de um profissional experiente, atualizado e com boas noções de fundamentos. Uma vez que não se pode adquirir experiência prática a partir da leitura de um livro, os autores esperam, por meIO de informações atualizadas e bem fundamentadas, contribuir e auxiliar de alguma forma na prática profissional do leitor. Este livro é destinado a todos os profissionais da área da saúde com interesse em obter informações objetivas e práticas sobre fundamentos e problemas relacionados à série branca do sangue. Será conferida maior ênfase à análise das alterações laboratoriais quantitativas e cito lógicas da série branca, abordando também aspectos clínicos e fisiopatológicos de doenças hematológicas e não-hematológicas que cursam com alterações de leucócitos. Também será oferecida, de forma pertinente, explanação sobre recursos diagnósticos complexos que são utilizados atualmente nessas situações. Flávio Augusto Naoum Médico, Mestre em Hematologia pela USP Diretor Clínico da AC&T Paulo Cesar Naoum Biomédico, Prof Titular pela UNESP Diretor Científico da AC&T Março 2006 DADOS PARA CATALOGAÇÃO HEMATOLOGIA lABORATORIAL - LEUCÓClTOS AUTORES: FLÁVIO AUGUSTO NAOUM - PAULO CESAR NAOUM SÃoJosÉ DORIo PRETO: EDIÇÃODAACADEMIADECIÊNCIAETECNOLOGIA,2006 ORlENTAÇÕESACADÊMICASEPROFISSIONAISEMHEMATOLOGIALABORATORIAL Academia de Ciência e Tecnologia Rua Bonfá Natale, 1860 Bairro Santos Dumont CEP 15020-130 São José do Rio Preto - SP Fone/Fax: (17) 3233-4490 Visite nosso site: www.ciencianews.com.bre-mail: a.c.t@terra.com.br SUMÁRIO CAPÍTULO 1 - RESUMO DA HEMATOPOIESE 07 CAPÍTULO 2 - ASPECTOS NORMAIS DOS LEUCÓCITOS: citologia, função e valores de referência 15 2.1. Desenvolvimento dos granulócitos : 17 2.2. Neutrófilos e suas funções 20 2.3. Eosinófilos e suas funções .22 2.4. Basófilos e suas funções 23 2.5. Monócitos e suas funções 24 2.6. Linfócitos e suas funções 2'! 2.7. Valores de referência para leucograma em adultos e crianças .34 2.8. Contagem relativa e absoluta dos leucócitos 37 2.9. Figuras do capítulo 2 .38 CAPÍTULO 3 - ALTERAÇÕES NÃO-NEOPLÁSICAS DOS LEUCÓCITOS 42 3.1. Alterações quantitativas dos neutrófilos: neutrofilias reacionais e neu tropenias 42 3.2. Alterações qualitativas dos neutrófilos 50 3.3. Eosinofilias e eosinopenias 57 3.4. Basofilias e basopenias 60 3.5. Monoci toses e monoci topenias 62 3.6. Linfocitoses reacionais e linfopenias 64 3.7. Considerações sobre a interpretação do leucograma 70 3.8. Figuras da capítulo 3 73 CAPÍTULO 4 - DOENÇAS NEOPLÁSICAS DOS LEUCÓCITOS 76 4.1. Leucemia mielóide aguda 81 4.2. Leucemia linfóide aguda 91 4.3. Leucemia mielóide crônica 98 4.4. Leucemia linfóide crônica 104 4.5. Leucemia prolinfocítica 110 4.6. Leucemia eosinofllica : 112 4.7. Leucemia basofllica 113 4.8. Doenças mieloproliferativas crônicas 114 4.9. Síndromes mielodisplásicas 120 4.10. Linfomas 127 4.11. Figuras do capítulo 4 136 BIBLIOGRAFIA 143 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS CAPÍTULO 1 RESUMO DA HEMATOPOIESE Formação das células do sangue Os leucócitos do sangue periférico normal são classificados como polimorfonucleares e mononucleares. O termo polimorfonuclear abrange neutrófilos, eosinófilos e basófilos, ao passo que os leucócitos mononucleares compreendem linfócitos e monócitos. Todas essas células derivam de células precursoras hematopoiéticas (CPH) que, ao se dividirem, possuem duas propriedades fundamentais: auto-renovação e diferenciação nas células das principais linhagens do sangue - eritrócitos, leucócitos e plaquetas. No adulto, as células precursoras hematopoiéticas encontram-se principalmente na medula óssea do esterno, costelas, vértebras, ossos da bacia e epífises proximais dos ossos longos (úmero e fêmur). Pela sequência de diferenciação, a CPH, ao se dividir, resulta em dois grupos celulares distintos pela formação de duas células progenitoras diferentes: as células precursoras mielóides mistas (CPMM) e as células precursoras linfóides (CPL), conforme mostra a figura 1.1. 7 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS o desenvolvimento e a diferenciação das células precursoras hematopoiéticas. As células precursoras mielóides mistas dão origem a células mais diferenciadas e comprometidas com a produção de um número restrito de linhagens celulares. Assim são formados os pro- eritroblastos que originam os eritrócitos, as células precursoras mielomonocíticas que dão origem a neutrófilos e tnacrófagos, as células precursoras dos eosinófilos, as células precursoras dos basófilos e dos megacariócitos, que produzem plaquetas . As células precursoras linfóides são responsáveis pela geração de duas linhagens específicas: os linfócitos B e os linfócitos T. Ambos os precursores dos linfócitos B e T são formados na medula óssea, porém a maturação e a diferenciação desses dois tipos celulares ocorrem em locais distintos. Os linfócitos B imaturos permanecem na medula, onde se diferenciam, enquanto os linfócitos T imaturos migram para o timo, onde amadurecem. Os linfócitos B e T são formados principalmente para reconhecerem antígenos e atuarem na resposta imunológica. É importante destacar que os receptores de antígenos dos linfócitos B e T são formados, respectivamente, na medula óssea e no timo. No entanto, é principalmente nos linfonodos que essas células encontrarão antígenos (bactérias, fungos, vírus, etc.) e ganharão funcionalidade e especificidade para combatê-Ios. Assim, após o desenvolvimento na medula óssea ou no timo, os linfócitos de ambas as classes migram para os linfonodos. Os linfócitos B e T são morfologicamente indistinguíveis, de modo que a distinção entre eles requer a utilização de técnicas de imunofenotipagem (principalmente aquelas que utilizam anticorpos monoclonais). No sangue periférico, predominam os linfócitos T (65 a 80% da população linfóide) em relação aos linfócitos B (20 a 35% da população linfóide). Os linfócitos T maturos estão relacionados com o processo de imunidade celular e se diferenciam em duas sub-populações principais que apresentam marcadores de superficie específicos e distintos: CD4 ou CD8. Os linfócitos B compõem a imunidade humoral e são encarregados da produção de anticorpos (imunoglobulinas) específicos eda geração de células de memória imunológica. Plasmócito Linfócito maduro Linfócito imaturo CPL ••• ~ CPH Monócito Macrófago promonócito 'lt Monoblasto Ba JI Ne CPMM Eo Bastonetes Metamielócitos As céhilas precursoras mielóides, como o próprio nome indica, são colônias de células formadas na matriz estromática da medula óssea. O estroma medular é um microambiente composto por fibroblastos, adipócitos, células endoteliais e macrófagos, que sustenta Figura 1.1. Diagrama da hematopoiese com ênfase para a leucogênese e suas etapas. Legenda: CPH - célula precursora hematopoiética; CPMM - célula precursora mielóide mista; CPL - célula precursora linfóide; Eo - eosinófilo; Ne - neutrófilo; Ba - basófilo. 8 9 HEMATOLOGIA LABORATORIAL- LEUCÓCITOS A compreensão do fenômeno da hematopoiese é fundamental para que possamos entender e interpretar várias alterações hematológicas no sangue periférico. E como veremos ao longo do livro, a avaliação de medula óssea e os testes imunológicos são muitas vezes necessários para se estabelecer um diagnóstico definitivo. Sistema imune e citocinas Os leucócitos humanos integram um sistema de defesa complexo e altamente eficaz: o sistema imune. Assim, a função primordial dos glóbulos brancos consiste na resposta imunológica frente a agressão do organismo por agentes infecciosos, tóxicos e tumorais, entre outros. De modo didático, a resposta imunológica é dividida em dois tipos: resposta natural (ou inata) e resposta adaptativa (ou específica). Ambos os mecanismos caracterizam-se por apresentarem componentes celulares distintos e propriedades imunes particulares (tabela 1.1). Tabela 1.1. Características da resposta imune natural e HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS A ativação e a fase efetora das imunidades matas e adaptativas são mediadas por hormônios protéicos denominados citocinas. Assim, as células do sistema imune freqüentemente se comunicam por meio da secreção de citocinas, as quais atuam como mediadoras e reguladoras das respostas imunológicas e inflamatórias. As citocinas iniciam sua ação na célula-alvo ligando-se a receptores específicos localizados na superflcie dessa célula. Entre as principais características relacionadas à produção e atuação dessas moléculas estão: - Citocinas são produzidas por vários tipos de células e . podem ter como alvo uma ou várias outras células. - Costumam exercer efeitos diversos sobre a mesma célula- alvo. - Podem induzir regulação positiva ou negativa sobre a síntese de outras citocinas. -Possuem, ação antagonista ou sinérgica sobre outras citocinas. Dependendo do tipo de reposta imune e das células envolvidas, diferentes tipos de citocinas podem ser produzidos. Assim, as citocinas podem ser agrupadas em 3 categorias: A resposta imune adaptativa ainda pode ser subdividida em resposta humoral (mediada por linfócitos B e imunoglobulinas) e resposta celular (mediada por linfócitos T). e diferenciação dos como fatores de adaptativa: secretadas por reconhecem um antígeno; e especializam as reações adaptativa. Resposta natural. Componentes neutrófilos, monócitos, macrófagos, complemento, proteínas de fase aguda, citocinas Propriedades mais rápida, porém pouco precisa; afeta tecidos normaIS Resposta adaptativa linfócitos B, linfócitos T, citocinas mais específica, porém mais demorada; desenvolve memória 1.2. 1. Mediadoras da resposta inata: secretadas por fagócitos mononucleares, estimulam ou inibem as reações inflamatórias. 2. Mediadoras da resposta linfócitos, quando estes intensificam, focalizam inflamatórias. 3. Estimuladoras do crescimento leucócitos imaturos: atuam crescimento. Os principais tipos de citocinas são mostrados na tabela 10 11 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS HEMATOLOGIA IABORATORIAL - LEUCÓCITOS Quimiocina Citocina com ação quimioatrativa As tabelas 1.3 e 1.4 relacionam as principais citocinas envolvidas na resposta inata e adaptativa, respectivamente. Interleucina-12 - Induz a secreção de IFN- pelos linfócitos NK e T - Age na diferenciação de linfócitos T CD4+ em células com ação Thl -- (auxiliam resposta inata) - Potencializa função citolítica dos linfócitos T CD8+ Fator de necrose tumoraJ (FNT)- Principal mediador da resposta imune à infecção por bactériasGram negativas- Em pouca quantidade, tem ação parácrina e causa inflamação local -Em moderada quantidade, tem ação endócrina e causa febre, secreção de proteínas de fase aguda e ativa cascata da coagulação- Em grande quantidade,participa da fisiopatologia dochoque séptico (vasodilataçãoediminuição daperfusãotecidualpor redução da contratilidade do miocárido) InterJeucina - 1- Tem ação muito semelhante à do FNT, participando do processoinflamatóriolnterleucina - 6- Promove secreção de proteínas de fase aguda pelos hepatócitos- Atua como fator de crescimento para linfócitos B em fase final dediferenciaçãoQuimiocinas- São moléculas de atração: estimulam a quimiocinese (motilidade) ea quimiotaxia (movimentação) dos leucócitos- A quimiocina mais conhecida é a IL-8lnterleucina - 10- Ação inibitória sobre as demais citocinas Tabela 1.4. Principais citocinas envolvidas na resposta adaptativa e suas respectivas funções. Interleucina-2 - Produzida por linfócitos T CD4+ - Atuam como fator de crescimento autócrino e parácrino para linfócitos CD4+ e CD8+ por outros ... prrnCIpaIs que induzem e proliferação de Citocinas diferenciação células-tronco 1.2. Tipos de citocinas e suas Tabela 1.3. Principais citocinas envolvidas na resposta inata e suas respectivas funções. lnterferon tipo I (IFN - a e IFN - r3 ) - Geralmente secretados em resposta à infecção viral - Inibem infecções virais, aumentam potenciallítico das células NK, aumentam a expressão do MHC classe I pelas células infectadas, inibem a proliferação celular - Uso terapêutico: tratamento da hepatite C e da leucemia mielóide crônica Tipos de citocina Fatores de. crescimento Características Citocinas produzidas leucótitos, que agem em glóbulos brancos Interferons (IFN) Citocinas que interferem com a replicação viral Fator de necrose tumoral (FNT) Citocina inflamatória que também provoca lise de células tumorais Tabela características. Interleucinas (IL) 12 13 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS (Continuação da Tabela 1.4) - Estimula ação citolítica das células NK e a secreção de anticorpos pelos linfócitos B lnterleucina - 4 - Produzida por linfócitos T CD4+ e mastócitos - Estimula produção de IgE e é a principal citocina que atua na mudança de classe da imunoglobulina no linfócito B - Promove proliferação de linfócitos T, principalmente os da subsérie Th2 ln terfàon gama - Produzido por linfócitos T CD4+ e CD8+, e por células NK - Media a ativação dos macrófagos pelos linfócitos T - Promove diferenciação dos linfócitos T CD4+ em células com ação Thl - Promove reações inflamatórias ricas em macrófagos e pobres em eosinófilos dependentes de IgE 14 I-IEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS CAPÍTULO 2 ASPECTOS NORMAIS DOS LEUCÓCITOS: citologia, função e valores de referência Os termos leucócitos e glóbulos brancos são sinônimos que designam células nucleadas e sem cor que estão presentes na circulação sanguínea e representam a principal linha de defesa do organismo contra microrganismos invasores como bactérias, vírus e fungos. Os leucócitos estão presentes na circulação em número consideravelmente menor que os eritrócitos e são transportados pelo sangue periférico para determinadas regiões, onde adentram os tecidos para exercer sua função de defesa. Desse modo, a circulação sanguínea atua como sistema de transporte para conduzir os leucócitos até os tecidos onde desempenharão suas atividades. Assim, quando avaliamos os leucócitos em uma amostra de sangue periférico, estamos analisando apenas uma pequena fração de toda a população 'leucocitária do organismo. Os principais tipos de leucócitos encontrados na circulação sanguínea são neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos e linfócitos, os quais são classicamente diferenciados pela sua morfologia celular. A tabela 2.1 contém critérios fundamentais para a 15 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS caracterização citológica dos diferentes tipos de leucócitos. Tabela 2.1. Critérios utilizados em citologia para descrever e caracterizar os leucócitos. 1. Tamanho da célula 2. Relação núcleo-citoplasma:- Alta: núcleo ocupa maior parte da célula; citoplasma é escasso - Baixa: núcleo é pequeno em relação a área ocupada pelo citoplasma (abundante)3. Características do citoplasma: - Coloração do citoplasma - Presença ou ausência de grânulos citoplasmáticos - Cor e tamanho dos grânulos citoplasmáticos - Presença ou ausência de inclusões citoplasmáticas 4.Características do núcleo:- Forma - Cor - Padrão da cromatina - Presença ou ausência de nucléolo - Posiçãodonúcleonacélula(núcleocentralou excêntrico) 5. Assincronismo de maturação entre o núcleo e o citoplasma É importante ressaltar que o esfregaço sanguíneo utilizado para estudo cito lógico representa uma 'fotografia estática' de um processo que, na verdade, é dinâmico. Assim, a presença de células que se encontram em fase de maturação ou transição, aliados ao componente subjetivo da análise citológica, fazem com que a identificação morfológica varie discretamente de examinador para examinador. Por essa razão, é perfeitamente aceitável que dois profissionais apresentem contagens diferenciais e laudos discretamente diferentes de uma mesma lâmina. Entretanto, quando os resultados do 16 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS l'!>IUdocitológico são muito discrepantes, é provável que haja falha ou j llcxperiência de um dos lados. 2.1. DESENVOLVIMENTO DOS GRANULÓCITOS Uma das principais características cito lógicas dos granulócitos é a presença de grânulos citoplasmáticos que são facilmente visualizados pelos corantes usados na rotina hematológica. É importante destacar que esses corantes têm por base o azul de metileno e a eosina. O azul de metileno, com características químicas alcalinas (base), juntamente com a eosina, com características químicas ácidas, reagem com as diferentes estruturas das células do sangue, impregnando-as com colorações classificadas em basofilia, acidofilia ou neutrofilia. Os granulócitos podem apresentar dois tipos de grânulos citoplasmáticos: primários e secundários. Os grânulos primários (basofilicos) visualizados pela microscopia óptica como grânulos grandes e escuros, são lisos somos ricos em enzimas corrio mieloperoxidase, lisozima, elastase, catepsina G e várias hidrolases ácidas, e podem ser normalmente encontrados nas formas precursoras dos granulócitos. Os grânulos secundários (específicos) são menores, puntiformes e de aparência da cor lilás pela coloração de rotina; também contêm enzimas como lisozima e lactoferrina, e seu número aumenta progressivamente com a maturação dos granulócitos. O desenvolvimento dos granulócitos ocorre na medula óssea e se dá de forma semelhante para neutrófilos, eosinófilos e basófilos (figura 2.1). A célula mais imatura que está comprometida com a granulopoiese é o mieloblast9. O mieloblasto tem morfologia idêntica para os três tipos de granulócitos e é, portanto, indiferenciável para neutrófilos, eosinófilos e basófilos. O mieloblasto, ao se dividir, origina dois promielócitos. Os promielócitos são caracterizados pela grande quantidade de grânulos primários que apresentam no seu citoplasma. A seguir, cada promielócito dá origem a dois mielócitos. 17 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS J-lEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS Os mielócitos são células menores que seus precursores e já apresentam granulação citoplasmática específica para neutrófilos, eosinófilos ou basófilos. A partir daí, não há mais divisão celular e os mielócitos amadurecem originando os metamielócitos, que apresentam núcleo menor e oval. Esses, por sua vez, dão origem a células menores, com núcleos alongados, denominadas bastões ou bastonetes (neutrófilos, eosinófilos e basófilos). Finalmente, o núcleo dessas células se segmenta dando origem ao neutrófilo segmentado que tem cerca de 2 a 4 segmentos e aos eosinófilos e basófilos que normalmente apresentam apenas 2 segmentos. gr:lnulação variando de ausente a abundante (figura 2.2). (Para maiores detalhes, favor consultar capítulo referente à leucemia mielóide aguda). Mielócitos: O núcleo apresenta cromatina mais condensada e sem nucléolos visíveis. A relação entre os volumes do núcleo e do citoplasma está diminuída. O citoplasma, mais rosado, mantém discreta basofilia e apresenta menos grânulos primários e maior quantidade de grânulos secundários (figura 2.4). Promielócitos: são geralmente maiores que os mieloblastos. O núcleo é excêntrico e apresenta cromatina frouxa com nucléolo frequentemente visível. Sua principal característica é o itoplasma basofílico com presença de grande quantidade de grânulos primários, além de zona de Golgi evidente (figura 2.3). Mieloblasto Promielócito Mielócito Metamielócito Bastonete Segmentado Figura 2.1. A seqüência da granulopoiese. Em circunstâncias normais, a granulopoiese, desde o mieloblasto até o estágio de mielócito, ocorre dentro da medula óssea. No sangue periférico estão geralmente presentes apenas os granulócitos bastonetes e os segmentados. O tempo da granulopoiese dentro da medula óssea é de aproximadamente 10 dias. Metamielócitos: O núcleo começa a achatar-se, formando uma indentação (formato reniforme); a cromatina nuclear apresenta-se mais condensada e mais agrupada. O citoplasma apresenta coloração e distribuição uniforme dos grânulos secundários (figura 2.5). Bastonetes: Medem de 10 a 15 !-lm.Nesse estágio, a célula tem núcleo caracteristicamente alongado e curvo e o citoplasma apresenta as mesmas características observadas no neutrófilo segmentado (figura 2.6). Citologia normal das diferentes fases de maturação dos granulócitos Para descrever morfologicamente as diferentes fases de maturação dos granulócitos, nos utilizaremos dos precursores celulares dos neutrófilos até a fase caracterizada pela segmentação nuclear . Neutrófilos Segmentados: com 10 a 15!-lm de diâmetro, estas células caracterizam-se pela segmentação do núcleo em cerca de 2 :l 4 lobos nucleares contendo cromatina condensada e ligados por (jlamentos que não contém cromatina. O citoplasma é levemente rosado, com numerosos grânulos' secundários que lhe conferem •1parência granular (figura 2.7 e 2.8). Mieloblastos: São células de 15 a 18 !-lmque apresentam núcleo centrado com cromatina frouxa, geralmente com dois ou mais nucléolos visíveis. O cito plasma é geralmente basofílico, com 18 19 HEMATOLOGIA LABORATORlAL - LEUCÓCITOS HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS Após o reconhecimento do patógeno, o neutrófilo (;lgocita-o. A fagocitose e destruição dos microrganismos é cerca de 100 .J Neutrófilo segmentado Quimiotaxia no endotélio ~9° 0'9°'0dtOl tO Quimiotaxia no tecido Figura 2.11. Ilustração do fenômeno da diapedese. Célula endotelial v;lsodialatação e o aumento da permeabilidade vascular no local promovem a penetração dessas células no local da infecção (diapedese) (figuras 2.11 e 2.12). Concomitantemente, há produção de fatores de rrcscimento de colônias granulocíticas e monocíticas (GM-CSF) que estimulam a medula óssea a aumentar a produção de neutrófilos e 1l10nócitos. Figura 2.12. Fotografia por microscopia eletrônica mostrando neutrófilo iniciando a travessia do endotélio (diapedese). Os neutrófilos maduros são células móveis, fagocíticas, com função especializada na destruição de microrganismos, notadamente bactérias. Conforme apresentado anteriormente, a produção e a diferenciação dos precursores dos neutrófilos na medula óssea ocorre em aproximadamente 6 a 10 dias. Grande quantidade de neutrófilos bastonetes e segmentados são mantidos dentro da medula óssea como "reserva", que corresponde normalmente a cerca de 10 a 15 vezes mais que o número de neutrófilos circulantes. Q!lando saem da medula óssea, os neutrófilos segmentados circulam na corrente sanguínea por volta de 6 a 12 horas e migram para os tecidos onde realizam sua função fagocitária, Na circulação sanguínea, cerca de 50% dos neutrófilos encontra-se às margens do endotélio dos vasos (neutrófilos marginalizados ou "pool" marginal - figura 2.9) e o restante segue na corrente sanguínea ("pool" circulante). Nos tecidos, os neutrófilos sobrevivem 2 a 4 di.as antes de serem destruídos durante a ação de defesa ou em consequência do seu envelhecimento e apoptose (figura 2.10). Os neutrófilos atuam na resposta imunológica como células fagocíticas, compondo a parte celular da resposta imune inata ao lado de macrófagos e monócitos. Para exemplificara atuação dos neutrófilos na resposta imune, consideraremos a situação em que um determinado tecido é infectado por bactérias que provocam destruição de células desse tecido. A destruição tecidual e a presença de patógenos ou toxinas bacterianas estimulam os macrófagos teciduais a produzirem interleucina-l (IL-l) e outras citocinas inflamatórias como o fator de necrose tumoral alfa (FNT - a ).A liberação local e sistêmica de IL-l e FNT pelos macrófagos, após estimulação bacteriana, é o principal fator responsável pela atração de neutrófilos para o local da infecção. Esse fato ocorre porque o processo inflamatório provoca maior adesão dos neutrófilos ao endotélio vascular; além disso, a Função dos neutrófiJos 2.2. NEUTRÓFILOS E SUAS FUNÇÕES 20 21 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS vezes mais eficaz se forem opsonizados por anticorpos e complementos específicos. Esse fato acontece porque os neutrófilos apresentam receptores de anticorpos e de complementos em sua superflcie e, por isso, reconhecem com mais facilidade os patógenos "marcados" com essas moléculas. Em algumas situações a fagocitose só ocorre se os microrganismos estiverem ligados a um anticorpo, como é o caso das bactérias encapsuladas (p.ex. pneumococos e haemofilus). A destruição do patógeno pela fusão do fagossomo com os grânulos citoplasmáticos dos neutrófilos se dá por dois mecanismos: Mecanismo oxigênio-dependente: redução do oxigênio pela ação da NADPH, com geração de radicais livres. Mecanismo oxigênio-independente: ação de proteínas e enzimas altamente tóxicas dos grânulos neutrofllicos (como mieloperoxidase e lisozima). 2.3. EOSINÓFILOS E SUAS FUNÇÕES Citologia normal do eosinófilo maduro Eosinófilos: São ligeiramente maiores que os neutrófilos. Apresentam núcleo geralmente bilobulado, mas pode ser trilobulado. Caracteriza-se pela presença de vários grânulos citoplasmáticos que preenchem o citoplasma e coram-se de vermelho-alaranjado. Esses grânulos são esféricos e consideravelmente maiores que os dos neutrófilos (figura 2.13). Função dos eosinófilos Os eosinófilos são células móveis que podem apresentar ação fagocítica e responder a estímulos quimiotáticos. Assim, são células capazes de fagocitar bactérias e parasitas, principalmente na presença de anticorpos e complementos. No processo de fagocitose, seus grânulos se unem com o vacúolo fagocítico e, em determinadas situações, são descarrega'dos no meio extra-celular. A atividade 22 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS f Il'1lcÍtica dos eosinófilos é consideravelmente menor do que aquela 1,1('I linda pelos neutrófilos. Boa parte dessa função está relacionada às .i\f>cs das enzimas presentes nos seus grânulos citoplasmáticos. As principais proteínas granulares dos eosinófilos são: proteína básica principal, proteína catiônica eosinofílica, neurotoxina derivada de ~'osinófilo e peroxidase esosinofílica. As funções mais importantes desempenhadas por essas enzimas são: toxicidade potente a helmintos, :dém de citotoxicidade, liberação de histamina, ação bactericida, reatividade brônquica (podendo provocar broncoespasmo), neutralização da heparina, ativação de neutrófilos e liberação do r:1dicallivre superóxido. Várias evidências sugerem que os eosinófilos atuam como células :fetora,s contra infecção parasitária devido a sua capacidade de destruir Itelmintos de forma direta ou por meio de seus grânulos. Essas illfecções induzem a produção de imunoglobulinas E específicas (IgE) que se ligam aos microrganismos e são captados por receptores de baixa afinidade presentes na superflcie dos eosinófilos. Há também comprovações da participação dos eosinófilos nas reações de hipersensibilidade, principalmente na asma brônquica. Essa ação tóxica do eosinófilo no trato respiratório decorre, em grande parte, da lesão do epitélio brônquico pela proteína básica principal presente nos grânulos eosinofílicos. Recentemente foi demonstrada a participação dos eosinófilos na remoção dos produtos de degradação da fibrina (PDF) na fase final do processo de hemostasia-coagulação-fibrinólise. Essa atividade também pode estar relacionada à eosinofilia das parasitoses intestinais em que ocorrem lesões da mucosa, com focos de sangramento que desencadeiam o processo da coagulação e da librinólise. 23 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS 2.4. BASÓFILOS E SUAS FUNÇÕES Citologia normal dos basófilos Basófilos: Tem tamanho semelhante ao dos neutrófilos . Seu núcleo é arredondado e está geralmente obscurecido por grânulos de coloração preto-purpúrea, com tamanho intermediário entre os dos neutrófilos e os dos eosinófilos (figura 2.14) . Função dos basófilos Como os demais granulócitos, os basófilos amadurecem na medula óssea e são liberados na circulação sanguínea, de onde são recrutados para os tecidos. São células com tempo de vida curto e, dentre os granulócitos, são as menos frequentes, geralmente correspondendo a menos de 0,5% dos leucócitos presentes no sangue periférico. A principal característica funcional dos basófilos é a presença de receptores com alta afInidade para imunoglobulina E (IgE) na sua superficie celular. Assim, a ligação das moléculas de IgE a receptores específicos presentes na superficie dos basófilos ativa essas células desencadeando degranulação com liberação de grande quantidade de mediadores inflamatórios incluindo, p~incipalmente, histamina e também leucotrienos e outras citocinas. A histamina é um vasodilatador potente e é liberada como parte da resposta alérgica. Desse modo, supõe-se que os basófilos desempenham funções importantes na mediação de hipersensibilidade do tipo imediata, como nas doenças alérgicas associadas à IgE e na resposta imune a parasitas. A contraparte tecidual dos basófilos são os mastócitos. Embora haja a suposição de se tratarem de duas linhagens celulares distintas, basófilos e mastócitos compartilham características semelhantes, como receptores para imunoglobulina na superficie celular e capacidade de secretarem, quando ativados, a mesma classe de mediadores biológicos (p.ex. histamina). 24 I-JEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS .5. MONÓCITOS E SUAS FUNÇÕES Citologia normal dos monócitos Monoblastos: São células grandes com citoplasma .il)ll11dante, que se apresenta algumas vezes vacuolizado e geralmente (O!TI basofilia moderada; pode haver presença de grânulos azurofilicos finos. O núcleo pode ser arredondado (formas mais jovens) ou .:onvoluto; apresentando cromatina frouxa com um ou mais nucléolos visíveis (figura 2.15). Pró-IDonócitos: Apresentam núcleo indentado que pode ronter nucléolos visíveis. O citoplasma tem coloração tendendo ao ( inza dos monócitos em lugar da basofilia característica das células menos diferenciadas. São observados muitos grânulos citoplasmáticos nzurófilos (figura 2.16). Monócitos: Com diâmetro variando de 12 a 22 I-Im, o monócito é a maior célula normal do sangue periférico. Apresentam baixa relação núcleo-citoplasmática, com núcleo irregular, pleomórfico e frequentemente lobulado. O citoplasma é cinza-azulado com grânulos azurófilos finos e geralmente imperceptíveis no aumento x100. O contorno celular caracteriza-se pela sua irregularidade e o citoplasma pode ocasionalmente apresentar vacúolos (figura 2.17). Observação: As células precursoras da linhagem monocítica podem ser de dificil identificação, assemelhando-se aos precursores granulocíticos. Nesses casos, a caracterização dos precursores monocíticos pode ser fe~ta através de estudo citoquímico envolvendo a esterase não-específica presente no citoplasma dessas élulas. Esse fato é possível porque as esterases das células monocíticas são inibidas pelo fluoreto de sódio, enquanto que as esterases dos granulócitos não o são. 25 I-1EMATOLOGIA LABORATORlAL - LEUCÓCITOS Desenvolvimento e função dos monócitos o desenvolvimento da linhagem monocítica na medula óssea demora cerca de 6 dias e obedece a seguinte sequência de precursores: monoblasto, pró-monócitoe monócito. Os monócitos compõem cerca de 7% dos leucócitos circulantes e tem meia-vida de aproximadamente 1 a 3 dias. A seguir, essas células migram para os tecidos, onde se transformam em macrófagos. Entretanto, não se sabe ao certo o tempo de vida dos macrófagos, sendo possível que durem meses ou anos. Macrófagos podem ser encontrados em diversos órgãos e tecidos como baço, linfonodos, medula óssea, tecido conjuntivo (onde são chamados de histiócitos), figado (onde são chamados de células de Kupffer), interstícios e alvéolos pulmonares, ossos (onde são denominados osteoclastos), pele (onde são denominados células de Langerhans), cérebro (onde são chamados de células da micróglia), parede intestinal, leite materno, placenta e granulo mas (onde são células gigantes multinucleadas). Os monócitos circulantes e os macrófagos teciduais apresentam forte ação fagocítica e, por isso, compõem o sistema mononuclear fagocitário, participando ativamente da resposta imune inata em conjunto com os neutrófilos. Monócitos e macrófagos também são extremamente eficazes no reconhecimento de antígenos estranhos devido a seus receptores superficiais especializados que incluem: receptores de imunoglobulinas (IgG e IgE) e de complemento, além de receptores para citocinas, fatores quimiotáticos e hormônios, entre outros. Após o reconhecimento dos antígenos, essas células são ativadas podendo então fagocitá-Ios e destruí-Ios, ou apresentá-Ios a linfócitos T para que efetuem uma resposta imunológica mais ampla e potente contra esses antígenos por meio da secreção de citocinas específicas (figuras 2.18, 2.19 e 2.20). Assim, os monócitos exercem a função de células apresentadoras de antígenos transportando pedaços do antígeno de volta à superficie celular e os apresentando por meio de moléculas superficiais do sistema HLA classe 11. Q!1ando estimulados, os monócitos e os macrófagos secretam 26 HEMATOLOGIA LABORATORlAL - LEUCÓCITOS Illlll"inas principalmente interleucina-l, fator de necrose tumoral e (,11 ores de crescimento de colônias, que atuam como mediadores do !llOCCSSO inflamatório e potencializam a resposta imune. Pela (.lp:1cidade de captar e destruir antígenos, além de promover ~Irlalização celular eficiente com ativação de várias outras células, os Illonócitos e os macrófagos vêm ganhando cada vez mais espaço e IlIteresse entre os estudiosos do sistema imunológico humano. Outra classe de receptores dos monócitos e dos ll1agrófagos que apresenta notável importância clínica é o receptor de lipoproteína de densidade baixa (LDL), que está particularmente (,Ilvolvido com o fenômeno da aterosclerose. O evento inicial no processo da aterosclerose é a lesão do endotélio arterial secundária a doenças como a hipertensão arterial sistêmica. Nesses pacientes, os IIlonócitos circulantes são atraídos para os locais afetados e atravessam () endotélio, penetrando na parede arterial, onde se transformam em Illacrófagos. Q!1ando há excesso de LDL circulante - principalmente a {i-ação de LDL modificada por oxidação - essa lipoproteína percorre o mesmo trajeto para dentro da parede endotelial da artéria, onde é 'aptada pelos macrófagos que ali estão. Na tentativa de captar e remover o grande volume de LDL oxidada, o macrófago enche seu :itoplasma com gotículas de colesterol e aumenta seu volume. Esse (ato desencadeia um processo inflamatório local na parede arterial, com desenvolvimento de fibrose ao longo do tempo. A perpetuação dessas alterações leva à formação das placas de ateroma que causam bstrução vascular. 2.6. LINFÓCITOS E SUAS FUNÇÕES Citologia normal dos linfócitos .Há duas classes de linfócitos morfologicamente distintos que podem ser identificados no sangue periférico: linfócitos típicos e linfócitos atípicos. Em condições normais predominam os linfócitos típicos. 27 HEMATOLOGIA LABORATORIAL LEUCÓCITOS Linfócitos típicos: Com 6 a 8 I-Im, são os menores lcucócitos existentes no sangue. Apresentam núcleo arredondado, de oloração arroxeada e escura; a cromatina encontra-se compactada e condensada. O citoplasma é escasso, claro e geralmente agranular. Em crianças, os linfócitos são menores e mais pleomórficos que nos adultos (figura 2.21). Linfócitos atípicos: Na verdade, trata-se de linfócitos ativados desempenhando sua função na resposta imune. São maiores que os linfócitos típicos e medem cerca de 12 a 16 1-1 m. Apresentam núcleo com condensação variável da cromatina, sendo possível a presença de cromatina aparentemente imatura e com nucléolo visível em alguns casos. O citoplasma é geralmente abundante e irregular, podendo conter alguns grânulm azurófilos, ricos em enzimas lizossômicas (figuras 2.22 e 2.23). A morfologia dos linfoblastos será detalhada no capítulo das leucemias linfóides agudas. Desenvolvimento da linhagem linfocítica Para acompanhar a sequência do desenvolvimento da linhagem linfóide é fundamental compreender a distinção imunofenotípica dos linfócitos em linfócitos B e linfócitos T. Como veremos, esses dois tipos de linfócitos apresentam funções muito distintas, embora sejam indistinguíveis do ponto de vista morfológico. O linfócito B foi assim denominado por ter sido descoberto inicialmente em uma estrutura existente em aves e conhecida por bursa de Fabricius. Por sua vez, o linfócito T apresenta essa denominação pelo fato do seu desenvolvimento inicial ocorrer no timo. Todos os linfócitos do nosso organismo (linfócitos B ou T) são originados de uma célula linfóide precursora comum existente na medula óssea. Essa célula dá origem a células linfóides precursoras comprometidas com a formação de linfócitos T e também à outra 28 J-IEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS lildl.lgcm comprometida com a formação de linfócitos B. As células Inlllprometidas com a produção da linhagem T migram para o timo, Illlde originarão os timócitos, que são células precursoras dos Itldocitos T. O desenvolvimento e a maturação dos linfócitos B tll urrem na medula óssea, assim como o desenvolvimento de uma l('I'ccira classe de linfócitos, os linfócitos assassinos-naturais ou natural killer (conhecidos como linfócitos NK). Os linfócitos NK geralmente St' :1presentam morfologicamente como linfócitos grandes e granulares. Medula óssea e timo são considerados órgãos linfóides pri mários enquanto linfonodos, baço e tecido linfóide associado à 1Il1lcosa são considerados órgãos linfóides secundários. É importante ll'ss3ltar a principal razão para a existência de linfócitos B e T, qual ,~l'j:t,a formação de receptores de antígeno funcionais, específicos e I'ficnzes na superfície celular. Os receptores de antígenos dos linfócitos B podem ficar ligados à superfície celular ou serem liberados no pl.lsma, tecidos, secreções, etc., quando então passam a ser dl'nominados de anticorpos ou imunoglobulinas. No linfócito T, essa I..~tI'Ll tura recebe o nome de 'receptor de célula T' e é capaz de I('l'onhecer antígenos apresentados por outras células, além de plOl'l.1overuma série de ações após o estímulo inicial. A primeira etapa do desenvolvimento dos receptores de ,1I1lÍgenos dos linfócitos B e T ocorre, respectivamente, na medula c'lsscae no timo. Nessa fase, há o rearranjo genético dos segmentos de 1',1'11('S envolvidos na produção desses receptores de modo que os Illdocitos B e T, ainda imaturos, expressam receptores formados e potcncialmente funcionais na superfície celular. No entanto esses Il'ccptores recém-formados são inespecíficos, pois a célula ainda não I(li estimulada pelo contato com antígenos e, portanto, esses linfócitos ',,10 designados de células "virgens" ou "naive" (termo em inglês). Na próxima etapa, os tinfócitos produzidos na medula \'L\sene no timo migram para os linfonodos e demais órgãos linfóides ";\'1 1Il1dários, onde entram em contato com antígenos e ganham, 1'1di m, a especificidade necessária para reagir contra um determinado f IpO de antígeno. Isso acontece porque o contato com o antígeno faz 29 HEMATOLOGIA LABORATORIAL- LEUCÓCITOS HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS Função dos linfócitos desenvolver memÓrIa. Na resposta imune específica, o estímulo ,lllljgênico (p.ex. bactérias, fungos, vírus) desencadeia uma série de ('ventos que culminam na ativação de linfócitos para produção de .Iilticorpos e de linfócitos efetores, específicos para o patógeno. Em relação aos linfócitos B, o estímulo antigênico faz com que se transformem em células secretoras de anticorpos denominadas plnsmócitos (figura 2.25 e 2.26). Os principais anticorpos secretados por plasmócitos e a sequência em que são produzidos é a seguinte: IgM, IgD, IgG, 19A e IgE. Embora apresentem afinidade pelo mesmo .Intígeno, esses anticorpos diferem na função que desempenham. Plasmócitos contendo numerosas inclusões globulares compostas por j l11unoglobulinas apresentam morfologia característica na citologia e ,~fiochamados de células de Mott. Os plasmócitos são normalmente ('lIcontrados apenas nos tecidos linfóides, principalmente no intestino. A ativação do linfócito B pode ocorrer de duas formas dependendo do tipo de estímulo antigênico. Uma dessas formas é a 'reposta timo-independente' causada, por exemplo, por endotoxinas de l>:1ctériasGram-negativas, que provocam ativação direta do linfócito B p:lra produção de anticorpos. A outra forma de ativação depende da ,I(;fio dos linfócitos T, que promovem a diferenciação celular de litlrócitos B em plasmócitos secretores de imunoglobulinas. A função principal dos anticorpos é opsonizar, ou seja, "marcar" um determinado antígeno para facilitar o seu reconhecimento e destruição por fagócitos. Os anticorpos também são capazes de precipitar proteínas do complemento na superfície antigênica, aumentando ,linda mais a probabilidade do antígeno ser identificado e eliminado. Além dos plasmócitos, a estimulação antigênica dos linfócitos B (.ll11bém leva à formação de células de memória, que propiciarão )('s[Jostas imunológicas mais rápidas e eficazes em infecções ·.ttbsequentes pelo mesmo antígeno. Os linfócitos T apresentam subclasses que diferem quanto " (unção desempenhada (figura 2.27). Essas subclasses podem ser tdcntificadas por meio de proteínas de superficie celular que formam 11111 complexo de diferenciação (CD), o qual varia em função do ------------------ Ganho de especificidade pelos receptores r _ ......... ~ ---------------- Exposição a antígenos ---------------- Os linfócitos são as células responsáveis pela resposta imune específica (ou adaptativa). As principais características dessa resposta são a sua natureza altamente específica e a capacidade de ~ed I • r~~~~~~~;:;o-s--~C ~u a ossea: : T': receptores: Imo ~.!~~:,y_~~~)/ Os linfócitos recirculam continuamente entre o sangue e o tecido linfóide. Eles saem da circulação sanguínea através do endotélio das vênulas pós-capilares dos linfonodos, migram através dos linfonodos dentro dos vasos linfáticos eferentes e retomam ao sangue pelo dueto torácico. Os linfócitos maduros humanos podem apresentar vida curta ou longa. Aqueles com vida curta sobrevivem cerca de 3 dias, ao passo que os de vida longa duram em média 4 a 5 anos, podendo alcançar até 20 anos em alguns casos. Figura 2.24. Esquematização da formação dos receptores dos linfócitos. com que o linfócito sofra novos rearranjos genéticos, como hipermutação somática, mudança de classe e edição de receptor, os quais tornam o receptor da superfície do linfócito específico para o reconhecimento do antígeno responsável pelo estímulo inicial (Figura 2.24). 30 31 HEMATOLOGIA LABORATORIAL LEUCÓCITOS citotóxico) • Linfócito T CD8+ (também conhecido por linfócito HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS lil1lÚcÍtosT CD4+ reconhecem antígenos apresentados por moléculas do M IIC classe II, presentes na superncie de um número limitado de células, Pl'incipalmente macrófagos e linfócitos B. As células que apresentam proteínas antigênicas aos linfócitos T CD4+ por meio do MHC classe II ,~~údenominadas 'células apresentadoras de antígenos' (figuras 2.19 e 2.20). Os linfócitos NK colaboram com a resposta imune na medida em que It'conhecem e destroem células que não expressam as moléculas do MHC 11:1 superncie celular, como é o caso de células infectadas que deixam de expressar esse complexo protéico ou células anômalas e neoplásicas que são I()rmadas sem o MHC na superncie (figura 2.28). Dependendo do tipo de estimulação antigênica e das citocinas envolvidas, os linfócitos T CD4+ (auxiliar ou helper) podem se diferenciar em dois subtipos: linfócito CD4 Thl e linfócito CD4 Th2 (figura 2.27). A resposta imune desencadeada pela subclasse Thl favorece o processo inflamatório e a imunidade celular (citotoxicidade) e é mediada principalmente pelo interferon gama e pela interleucina-2. Já a resposta do tipo Th2, que conta com a participação das interleucinas 4 e 5, estimula a imunidade humoral com produção de anticorpos. A estimulação de Jinfócitos T também resulta na formação de clones CD4 e CD8 de Inemória. Linfócito NK precursora /J~;~ Célula linfóide Linfócito B "~ li' 'll (/ ~ ./CD4~" CD" • \ .... / citocmas '\.. ••••••••• F , r~ ---------- ". , (auxilia resposta humoral) I I (processo inflamatório, ativam macrófagos) • Linfócito T CD4+ (também conhecido por linfócito T auxiliar ou helper. Essa subclasse pode ser identificada pela sigla 'Th' que designa linfócito T helper). estágio de maturação e função celular. As principais subclasses de linfócitos T são: Figura 2.27. Principais tipos de linfócitos e suas funções. A maturação dos linfócitos T CD4 e CD8 positivos ocorre no timo. Nessa fase, as células passam por dois processos seletivos. Inicialmente, timócitos duplamente positivos para CD4 e CD8 sofrem seleção positiva e perdem um desses marcadores, tornando-se células CD4+ ou CD8+. A seguir, essas células são expostas a antígenos próprios e aquelas que reagem contra esses antígenos são excluídas e sofrem apoptose (seleção negativa). Assim, ao final do processo, têm-se células CD4 ou CD8 positivas que são capazes de reconhecer antígenos estranhos e 'respeitar' antígenos próprios. Os linfócitos T CD8+ reconhecem antígenos expressos por moléculas do complexo maior de compatibilidade (MHC) classe I, presentes na supemcie celular de quase todas as células nucleadas. Já os Os linfócitos T são os mais prevalentes na circulação. Cerca de 5 a 80% dos linfócitos presentes no sangue periférico são células T, 'nquanto 10 a 30% são linfócitos B (figura 2.29). "" ~ 45 I~ 40 <J- ~ 35 = ;: 30 '13 25~ = 20~ '13 15= ~ 10~ ~ 5 ~ o Linfócito T Linfócito T LinfócitoB Linfócito NK C04 C08 Figura 2.29. Prevalência dos diferentes linfócitos no s:l11gueperiférico. 32 33 HEMATOLOGIA LABORATORlAL - LEUCÓClTOS HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS 2.7. VALORES DE REFERÊNCIA PARA LEUCOGRAMA EM ADULTOS E CRIANÇAS A interpretação do resultado de qualquer exame laboratorial requer a avaliação quanto ao fato de estar dentro dos padrões normais ou não. 'Normal' significa que os resultados obtidos estão dentro dos padrões estabelecidos (valores padrão) para sexo e idade. Assim, os valores de referência no hemo grama e em outros testes laboratoriais são obtidos por meio de critérios definidos, oriundos da análise dos dados de uma população clinicamente sadia. Os valores de referência compreendem os resultados dos exames feitos nos indivíduos de referência e obtidos estatisticamente dentro dos limites que estabelecem a média, a mediana e a moda. A média é o ponto de equilíbrio da população, a mediana é o ponto que divide a população em duas partes de 50% cada e a moda é o ponto que indica a região mais frequente da distribuição. Com base nesses cálculos, são obtidos os valores normais que se distribuem numa faixa de normalidade disposta entre valores mínimos e máximos, tanto para dados relativos quanto absolutos, de um determinado parâmetro laboratorial. É importante destacar que para cada parâmetro laboratorial avaliado há unidadesespecíficas que indicam a sua referência ao espaço ocupado; a tabela 2.2 mostra as unidades utilizadas no leucograma. • Utilização de valores de referência copiados de livros de hematologia e manuais técnicos laboratoriais. Embora simples e rápida, essa prática muitas vezes não é adequada pois representa a 'importação' de valores de referência obtidos de uma população com características diferentes daquela que frequenta o laboratório em questão. • Determinação do padrão de normalidade por meio de resultados obtidos de uma amostra saudável da população atendida pelo laboratório em questão. Essa é uma prática adequada pois conserva nos valores de referência as características regionais da população, possibilitando uma análise mais fidedigna dos resultados encontrados. • Elaboração de valores de referência individuais através de monitoramento com determinações sucessivas de um teste laboratorial no mesmo indivíduo. Embora seja ideal, essa prática ainda não é comum, pois exige do médico e do paciente uma cultura de acompanhamento no sentido de avaliações rotineiras de controle ou de caráter preventivo desde a infância. 34 Tabela 2.2. Índices e unidades adotadas na avaliação quantitativa dos leucócitos. Existem três formas diferentes de se obter valores de referência para testes laboratoriais: 35 A influência de determinadas características populacionais nos resultados de exames laboratoriais deve ser estabelecida previamente e considerada como normal na população em questão. Algumas das características importantes que devem ser consideradas no hemograma são: idade, sexo, etnia e altitude. Idade: os valores normais em recém-nascidos, lactentes e crianças variam entre si e diferem amplamente dos encontrados nos adultos. Sexo: após a adolescência, os valores do eritrogram~ são mais elevados nos homens em relação às mulheres. As mulheres em idade reprodutiva têm leucócitos em maior número que os homens. Na menopausa, os valores de leucócitos diminuem. Etnia: o número de leucócitos em negros é menor que em brancos; da mesma forma, é menor em judeus lememtas. Múltiplo 1 1 Símbolo L L Prefixo Litro Litro índice Unidade Leucócitos totais x 109/C:- Valor - absoluto x 109/V Valor - relativo % ::-Podem ser usados também: /mm3 ou / IJL HEMATOLOGIA LABORATORIAL • LEUCÓCITOS Tabela 2.3. Valores mínimos e máximos das contagens globais (contagem absoluta) e específicas (contagem percentual) de leucócitos obtidos na região de São José do Rio Preto, SP. HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS- - - - 2.8. CONTAGEM RELATNA E ABSOLUTA DOS LEUCÓCITOS Valor absoluto dos neutrófilos = (Leucometria) x (% de Ill'tllrófilos) j 100 A avaliação de qualquer tipo de leucócito requer a dl'lt'lIninação do seu valor absoluto, o qual pode ser obtido pela N('l:lllllte fórmula (tomando como exemplo os neutrófilos): Assim, por exemplo, quando pacientes com mais de 14 • 1 nON de idade (vide tabela 2.3) apresentam valores relativos dos Ileul r6filos superiores a 66%, diz-se que há neutrofilia relativa; se os valores absolutos de neutrófilos estiverem acima de 7,5x109jL (ou .500jmm3), diz-se que há neutrofilia absoluta. Da mesma forma, valores relativos de neutrófilos abaixo de 36% caracterizam nCl1tropenia relativa e valores absolutos inferiores a 2,Ox109jL (ou .OOOjmm3) denotam neutropenia absoluta. Sob o ponto de vista da relevância clínica, as alterações nos valores absolutos são mais importantes que as alterações nos valores relativos. Entretanto, em situações especiais, como nos casos de Icucocitose com desvio à esquerda (detalhado mais adiante), a análise dos valores relativos é útil no acompanhamento terapêutico dos pacientes. Acima de 14 anos % absoluta"';" 4 a 14 anos % absolutai.-i.· 1 a 3 anos % absoluta"·i.· LeucócitQs Leucócitos totais - 5.0 - 15.0 - 4.5 - 11.5 - 4.0 - 11.0 N. Bastonetes" 2 - 8 0.1 - 0.6 2 - 4 0.1 - 0.4 2 - 4 0.1 - 0.4 N. Segmentados" 20 - 40 2.0 - 6.0 35 - 55 2.0 - 6.0 36 - 66 2.0 - 7.5 Eosinófilos 4 - 10 0.2 - 1.5 4 - 8 0.3 - 1.0 2 - 4 0.1 --0.4 Basófilos 0- 1 0.0 - 0.1 0- 1 0.0 --0.1 0- 1 0.0 - 0.1 Linfócitos 40 - 60 2.0 - 8.0 30 - 55 1.5 - 6.5 25 - 45 1.5 - 4.0 Monócitos 4 --10 0.2 - 1.5 4 - 10 0.2 --1.0 2 --10 0.2 - 0.8 ;,-N: Neutrófilo ,,-':-Podem ser usados também: j mm3 ou j IJ L Altitude: os valores do eritrograma são mais elevados em pessoas que vivem em regiões altaS (acima de 3.000 metros do nível do mar). Além disso, é importante levar em consideração o local de moradia (cidade, bairro) do indivíduo; isso permite a avaliação do saneamento básico, uma vez que a ausência de esgoto e de tratamento de água podem ocasionar leucocitoses e eosinofilias "inexplicáveis" na população. Desse modo, considerando a. variabilidade intra e inter- populacional, seria mais adequado adotar valores de referência que respeitem as características da população atendida pelo laboratório. A tabela 2.3 mostra os valores de referência adotados pelo laboratório dos autores, obtidos de uma amostra da população em que o laboratório está instalado . Os procedimentos de recepção do paciente, coleta de sangue, realização do esfregaço sanguíneo, coloração de células, contagem manual e eletrônica de eritrócitos, leucócitos e plaquetas, foram detalhados no livro: "Hematologia laboratorial: Eritrócitos". 36 37 HEMATOLOGIA LABORATORIAL • LEUCÓCITOS HEMATOLOGIA LABORATORIAL . LEUCÓCITOS Figura 2.2. Mieloblasto .' Figura 2.3. Promielócito Figura 2.4. a - metamielócito; b e c - mielócitos. Figura 2.5. Dois metamielócitos (à esquerda) e um mielócito (à direita). "'Igura 2.8. Um neutrófilo segmentado e um bastonete. Figura 2.9. Foto de microscopia eletrônica mostrando neutrófilos marginando o endotélio vascular. q--- Figura 2.13. Eosinófilo. Figura 2.15. Monoblasto. •• 11igura 2.14. Basófilo. Figura 2.10. Foto de microscopia eletrônica mostrando neutrófilo IIpoptótico. Figura 2.7. Um neutrófilo bastonete (à esquerda), um mielócito (ao centro) e um neutrófilo segmentado (à direita). Figura 2.6. Três neutrófilos bastonetes. 38 39 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS Figura 2.16. Pro-monócito (à esquerda) e monócito (à direita). Figura 2.17. Dois monócitos e um neutrófilo segmentado (ao centro). Figura 2.22. Linfócitos atípicos em três situações diferentes, apresentando variabilidade morfológica substancial. M.crophage Figura 2.18. Imagem por microscopia eletrônica mostrando macrófago fagocitando um grupo de bactérias. Figura 2.19. Foto de microscopia eletrônica mostrando macrófago apresentando antígeno a um linfócito. Figura 2.23. Linfócito típico (à esquerda) e linfócito atípico (à direita). Figura 2.25. Plasmócito. Figura 2.20. Nesta imagem obtida de microscopia eletrônica, observamos um macrófago (célula maior) apresentando antígeno a um linfócito (célula menor). Figura 2.21. Linfócitos típicos. Figura 2.26. Plasmócitos. Figura 2.28. Foto de microscopia eletrônica mostrando linfócitos NK (células menores) atacando célula tumoral. 40 41 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS CAPíTULO 3 ALTERAÇÕES NÃO-NEOPLÁSICAS DOS LEUCÓCITOS 3.1. ALTERAÇÕES QUANTITATNAS DOS NEUTRÓFILOS Como foi exposto anteriormente, ao interpretarmos dados quantitativos dos leucócitos devemos levar em consideração fatores como idade e etnia do paciente. Crianças, por exemplo, tendem a apresentar maior número de linfócitos que os adultos; por outro lado, indivíduos afro-descendentes tendem a possuir contagem de neutrófilos menor que caucasianos. Neutrofilias reacionais Neutrofilia é o nome dado ao aumento do número de neutrófilos circulantes. É importante destacar que em condições fisiológicas normais, cerca de 50% dos neutrófilos presentes no sangue periférico encontram-se marginados ao endotélio (pool marginal) enquanto os outros 50% circulam normalmente (pool circulante). O pool circulante dos neutrófilos corresponde à fração que é avaliada 42 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS ia 1.\ leucometria. Certosestímulos podem mobilizar a população de Ilc'lItrófilos marginados para compor o pool circulante, o que induz a lIi'lI trofilia sem que ocorra necessariamente maior produção de Ilcutrófilos pela medula óssea. As principais causas de neutrofilia reacional estão descritas 11;1 tabela 3.1. TABELA 3.1. Causas de neutrofilia reacional. (dillsas PatolóÚcas: · Infecções (localizadas ou generalizadas) Bactérias piogências Viroses (varicela, herpes simples, raiva) Fungos (actinomicose, coccidioidomicose, blastomicose) Parasitoses • Respostas inflamatórias agudas ou crônicas decorrentes de lesão tecidual Gota, febre reumática, artrite reumatóide, colite ulcerativa Pós-trauma ou lesão térmica (queimaduras) Doença falciforme Uso de medicações, intoxicações por drogas e agentes químicos, envenenamento por picadas de animais • Respostas inflamatórias secundárias a outros processos Doenças neoplásicas Doenças metabólicas Hemorragia aguda • Drogas Fatores de crescimento (p.ex. G-CSF) Corticoesteróides Lítio 43 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS Causas fisiolólÚcas - Pseudoneutrofilia causada por atividade fisica e estímulos emocionais - Gravidez, parto, recém-nascidos - Febre As causas mais comuns de neutrofilia são as infecções e as inflamações. As infecções bacterianas são geralmente acompanhadas de leucocitose por aumento do número de granulócitos. As etapas da fisiopatologia da infecção aguda tendem a se correlacionarem com diferentes alterações observadas no leucograma. Assim, na fase inicial de uma infecção bacteriana, o processo inflamatório promove o recrutamento dos neutrófilos marginados ao endotélio e também de uma parte dos circulantes para o local da infecção; nesse primeiro momento, o leucograma pode apresentar-se com leucopenia. Com a potencialização e organização da resposta imune - que leva horas ou dias para ocorrer - há repercussão sistêmica com liberação de citocinas que estimulam a produção de neutrófilos pela medula óssea; nessa fase da infecção é comum a presença de leucocitose. A intensidade da neutrofilia depende de alguns fatores como virulência do microrganismo, idade e estado de saúde do indivíduo. Por exemplo, crianças parecem apresentar neutrofilias mais intensas que adultos; por outro lado, pacientes idosos, desnutridos ou imunocomprometidos, podem apresentar resposta branda ou fraca frente à mesma infecção. Dentre as bactérias, os cocos gram positivos são os que mais causam neutrofilia. No entanto, infecções por bactérias gram negativas também podem cursar com leucocitose e neutrofilia no hemograma. Em algumas situações, a estimulação do setor granulocítico da medula óssea provoca a liberação de número elevado de neutrófilos jovens no sangue periférico (bastonetes, metamielócitos, mielócitos e, em certas situações, até promielócitos e mieloblastos). Esse fenômeno é denominado de desvio à esquerda, pressupondo de 44 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS 1111111:1didática que a linha normal de maturação celular seja II'pl'l'sentada da esquerda para a direita (figura 2.1). Os limites precisos (v,dores absolutos e relativos) que caracterizam o desvio à esquerda são IIlJltroversos. O desvio à esquerda representa uma das únicas situações IIIl(Je a avaliação do valor relativo ou percentual é útil. Por exemplo, I (1I1sidereas seguintes fórmulas leucocitárias: • Paciente 1: 25.000 leucócitos/mm3; 60% de neutrófilos segmentados (1S.000/mm3) e 4% de neutrófilos bastonetes (1.000/mm3) • Paciente 2: 10.000 leucócitos/mm3; 70% de neutrófilos segmentados (7.000/mm3) e 10% de neutrófilos bastonetes (1.000/mm3) Na situação exposta acima, embora os dois pacientes .I/Hesentem o mesmo número (valor absoluto) de neutrófilos h:1stonetes, apenas no paciente 2 se configura o desvio à esquerda, pois lide há aumento da proporção (valor relativo) de bastonetes no sangue periférico em relação ao que normalmente é liberado da medula óssea. Normalmente, a descrição do desvio à esquerda é relevante quando o pnciente apresenta neutrofilia associada ao aumento do valor percentual de bastonetes ou quando há presença marcante de formas IIlais jovens de granulócitos no sangue periférico (metamielócitos, 111 ielócitos, etc.). Fequentemente, a intensidade da neutrofilia e do desvio à ('squerda guardam correlação com Q quadro clínico do paciente. Assim, por exemplo, quadros infecciosos leves provocam leucocitose discreta 10m poucas formas imaturas de neutrófilos circulantes. Por outro Lido, na vigência de infecções graves' ou septicemia, podemos observar IleLltrofilia intensa com desvio à esquerda acentuado que, por vezes, .Icompanha-se de alguns mieloblastos circulantes. Outro aspecto importante do desvio à esquerda é que esse geralmente se resolve de (CH111agradual e paralela à melhora da doença de base, tornando-se, 45 HEMATOLOGIA LABORATORlAL - LEUCÓCITOS HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS Tabela 3.2. Leucocitose com desvio à esquerda na evolução de um processo infeccioso. portanto, um parâmetro útil para avaliar a eficácia da terapIa instituída. O desvio à esquerda que acompanha os processos infecciosos é geralmente escalonado, ou seja, sua composição celular no sangue periférico respeita a ordem natural de maturação dos granulócitos, fazendo com que a proporção de células maduras seja maior do que a de células jovens. ~ando o desvio à esquerda não respeita a ordem de maturação das células, ele é dito não-escalonado. A observação de leucocitose com desvio à esquerda escalonado, associado à presença de granulações tóxicas e de corpos de Dühle, refletem granulopoiese neutrofílica acentuada, frequentemente observada nas infecções bacterianas graves. O início do tratamento com resolução do quadro infeccioso geralmente coincide com a melhora da leucocitose e com a diminuição do desvio à esquerda (tabela 3.2). Leucocitoses com desvio à esquerda também podem ser observadas nos estados inflamatórios e em determinadas doenças neoplásicas (detalhadas no capítulo 4). Fase aguda 25.000jmm3 % mm3 Fase de convalescência 15.000 j mm3 % mm3 I'"!li /.( i(ose e do desvio à esquerda simulam um quadro leucemia 111l1'/Óidc crônica, daí a denominação de reação leucemóide para esses I .18< IS (para maiores detalhes consulte capítulo sobre leucemia mielóide I j('lrtica). É importante ressaltar também que nem toda infecção 11.11'ltriana causa neutrofilia; de fato, determinadas infecções I,xlerianas suprimem a produção de neutrófilos, resultando em 111'111ropenia. A associação entre neutrofilia e as respostas inflamatórias por lesão ou destruição tecidual pode ser observada em várias ',llllnções. Nesses casos, o mecanismo responsável pela neutrofilia é a Ilheração de substâncias pelas células lesadas ou destruídas, que podem l'xercer quimiotaxia para os neutrófilos ou estimular a granulopoiese 11.1 medula óssea. A resposta inflamatória secundária ao desenvolvimento das neoplasias também pode ser acompanhada de IH'utrofilia, principalmente nos casos de rápido crescimento tumoral (lIl nos que apresentam infiltração de medula óssea com liberação IIIl'dular de leucócitos. Doenças metabólicas como diabetes, !llsuficiência renal e disfunção hepática podem produzir substâncias fI'lxicas (relacionadas, respectivamente, à cetoacidose, à uremia e à oIJ1;otemia)que estimulam a resposta neutrofilica. O mecanismo básico responsável pelas neutrofilias Ilbservadas tanto nas doenças infecciosas quanto inflamatórias é a ',\Illese de citocinas que estimulam a produção de neutrófilos na 11Il'dula óssea e a sua liberação na circulação periférica. Algumas das I IIocinas envolvidas nesse processo são: prostaglandinas, epinefrina, 1.I(or de necrose tumoral e fator ativador de plaquetas. A mobilização de neutrófilos do pool marginal para a I I"culação parece ser o principal mecanismo responsável pela IIl'utrofilia observada em pacientes gestantes, pacientes em uso de I lllticoesteróides e após atividade física. o 750 9.750 300 O 3.750 450 O5 65 2 O 25 3 1.250 3.750 16.000 O O 3.250 750 5 15 64 O O 13 3 Leucócitos totais Metamielóci tos Bastonetes Segmentados Eosinófilos Basófilos Linfócitos Monócitos Em certas situações, a resposta neutrofilica a processos infecciosos e inflamatórios é tão exacerbada, que a intensidade da 46 47 !\ HEMATOLOGIA LABORATORlAL - LEUCÓCITOS Neu tropenias Neutropenia é a redução da contagem absoluta de neutrófilos abaixo do que seria esperado em condições fisiológicas normais para indivíduos do mesmo sexo, faixa etária e etnia. A neutropenia representa a causa mais comum de leucopenia, e sua relevância clínica está no fato de deixar o paciente vulnerável às infecções. Essa vulnerabilidade é proporcional à intensidade da neutropenia. Em geral, as neutropenias são classificadas em função de sua intensidade, em: • Neutropenia leve: neutrófilos = 1,0 a 1,5 x 109fL • Neutropenia moderada: neutrófilos = 0,5 a 1,0 x 109fL ~Neutropenia grave: neutrófilos < 0,5 x 109fL o termo agranulocitose designa neutropenia extrema « 0,3 x 109fL) com preservação das outras séries de hemograma. Há várias situações que podem cursar com neutropenia. Os dois principais mecanismos responsáveis pela instalação da neutropenia são: diminuição da produção de neutrófilos pela medula óssea e aumento da destruição de neutrófilos. A tabela 3.3 mostra as principais causas de neutropenia. Tabela 3.3. Causas de neutropenia. Diminuição da producão de neutrófilos • Causas hereditárias Neutropenia congênita grave, neutropenia cíclica Síndromes genéticas: Chediak-Higashi, Kostmann, Cohen, Barth e Hermansky-Pudlak 48 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS Ir li"lllIlI~ção da Tabela 3 3) (:;Iusas adquiridas Toxicidade química (p.ex. benzeno) Infiltração da medula óssea Deficiências nutricionais Drogas citotóxicas IlmentQ da destruicão de neutrófilos Infecções Choque séptico Determinadas infecções bacterianas Infecções virais • Reações imunológicas Alterações isoimunes Doenças auto-imunes Mecanismo induzido por droga • Esplenomegalia - mecanismo de sequestro • Pseudoneutropenia As causas hereditárias de neutropenia são raras e 'llll1preendem síndromes que ainda não estão bem esclarecidas. Já as «.ItlS~Sadquiridas que diminuem a produção medular de neutrófilos ,to mais comuns e incluem exposição a agentes químicos IIIiclotóxicos, radiação ionizante e uma grande variedade de drogas I !lotóxicas usadas em quimioterapias. Medicações antitireoidianas, III(ibióticos (p.ex. cloranfenicol) e alguns anticonvulsivantes têm sido 1',lioçiados a neutropenia e agranulocitose. Além disso, a infiltração da IIIC·dulaóssea por tumor, fibrose ou neoplasia hematológica também IdlHlueia a produção medular. Dep~ndendo da intensidade da lesão, "ti di ração ou efeito tóxico medular, há também diminuição da l'IIHllIção das outras séries do sangue, resultando em pancitopenia no 1lIlltograma. As infecções (bacterianas, virais ou fúngicas) são causas 49 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS HEMATOLOGIA LABORATORlAL - LEUCÓCITOS Tabela 3.4. Alterações morfológicas citoplasmáticas e Ilucleares dos neutrófilos, decorrentes de condições reacionais e Ilcreditárias. I I.\hulos distintos, separados por estreitos filamentos de heterocromatina 1II'II,~;l,limitados pela membrana nuclear. O lóbulo do núcleo tende a adotar 1IIIIaconformação circular, uma vez que os lóbulos nucleares estão dispostos 1'111 círculo ao redor do centrossomo. Os grânulos citoplasmáticos espalham- ',l' uniformemente pelo citoplasma, porém pode-se identificar uma porção 11(· citoplasma agranular projetando-se na margem da célula, provavelmente ,I horda que avança pelo movimento ativo. Tomando-se por base a citologia normal dos neutrófilos, di.~correremos a seguir sobre as alterações qualitativas que se fazem notar pl'incipalmente no núcleo e no citoplasma dessas células (tabela 3.4). As principais alterações qualitativas dos neutrófilos decorrem de situações It'acionais ou doenças hereditárias. (I importante ressaltar que a presença de formas imaturas circulantes (desvio .1 esquerda) - descrita em detalhes na seção anterior - é habitualmente I Inssificada dentro das alterações qualitativas dos neutrófilos. comuns de neutropenia. ~alquer processo infeccioso no qual o consumo e o recrutamento de neutrófilos sobrepujam a produção medular resultará em neutropenia. Essa situação é frequentemente observada em idosos, crianças e pacientes debilitados com pouca reserva medular. Alguns exemplos de infecções virais caracterizadas por neutropenia são: sarampo, febre amarela, dengue, hepatite viral e mononucleose infecciosa. Dentre as neutropenias causadas por mecanismos imunes, destacam-se o desenvolvimento de anticorpos anti-neutrófilos em doenças do colágeno como o lúpus eritematoso sistêmico e a síndrome de Felty e também após transfusão de hemocomponentes. Além disso, já foram descritos casos de neutropenia adquirida auto-imune num contexto análogo ao da anemia hemolítica auto-imune e da púrpura trombocitopênica imunológica idiopática (PTI). A neutropenia isoimune neonatal é condição resultante da transferência de anticorpos maternos de classe IgG dirigidos contra neutrófilos fetais. Pacientes com esplenomegalia, independente da etiologia, podem apresentar neutropenia secundária ao seqüestro esplênico e destruição de neutrófilos pela sistema retículo-endotelial do baço. Nesses casos, a neutropenia é geralmente de intensidade leve ou moderada. Por fim, alguns indivíduos podem desenvolver neutropenia em decorrência do desvio de neutrófilos circulantes para o pool marginal. Essa situação pode ocorrer devido a reações de hipersensibilidade, infecções virais ou hipotermia, sendo por isso denominada de pseudoneutropenia uma vez que o pool total de granulócitos não está reduzido. 3.2. ALTERAÇÕES QUALITATNAS DOS NEUTRÓFILOS o neutrófilo normal mede de 10 a 15 IJ m de diâmetro. O citoplasma é acidófilo, repleto de grânulos finos (secundários). O núcleo possui cromatina em grumos e encontra-se geralmente segmentado em 2 a 50 REACIONAIS AI terações citoplasmáticas • Granulações tóxicas · Degranulação • Vacuolização • Corpos de Dohle Pseudópodes 1\ Ilerações nucleares Hi persegmen tação • Hipossegmentação Projeções nucleares • Núcleo picnótico e/ou necrótico 51 HEREDIT ARIAS Alteracões citoplasmáticas • Anomalia de May-Hegglin • Anomalia de Alder-Reilly • Síndrome de Chédiak-Higashi Alterações nucleares • Anomalia de Pelger-Hüet HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS Alterações citoplasmáticas reacionais As alterações reacionais observadas no citoplasma dos neutrófilos são as alterações qualitativas mais freqüentes na prática diária. Tais alterações incluem as granulações tóxicas, corpos de Dõhle, vacuolização e degranulação, entre outras. Nos quadros reacionais, como nas infecções bacterianas, é comum a presença de mais de um tipo de alteração citoplasmática nos neutrófilos presentes em lâmina e, por vezes, .na mesma célula. Além disso, nas situações reacionais, o acometimento celular por tais alterações não é uniforme, podendo aparecer em alguns neutrófilos e poupando outros. Granulações tóxicas: trata-se da persistência de grânulos primários alterados nos neutrófilos, apresentando-se, portanto, maiores e mais basofilicos que os grânulos secundários normalmente presentes nas formas mais diferenciadas (figura 3.1). A presença de granulações tóxicas reflete uma alteração do processo de maturação do neutrófilo geralmente secundária a infecções bacterianas e inflamações, mas pode ser observada também na gestação, na leucemia mielóide crônica, no tratamento com fator de crescimento de colônia de granulócitos (G-CSF), no tratamento com corticóides e em alguns quadros de intoxicação. Em geral, quanto mais grave o processo de base (p.ex. infecção), maior é o número de neutrófilos que apresentam granulações tóxicas. Degranulação: a degranulação é um fenômeno normal de neutrófilos que foramativados ou agredidos. Nessas condições, os grânulos primários esvaziam seu conteúdo dentro dos fagossomos, enquanto os grânulos secundários são secretados para o meio extra- celular. A degranulação está geralmente associada à ruptura da membrana celular no momento da realização do esfregaço. Vacuolização: vacuolização no citoplasma do neutrófilo representa o produto da fagocitose associado à junção dos grânulos 52 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS "Iplasmáticos. Os vacúolos podem resultar da atividade fagocítica de 111,llcrial próprio (auto-fagocitose) ou de material extra-celular. O jllOcesso auto-fagocítico pode ser causado por drogas como sulfas e Iloroquina, tempo de estoque prolongado, degranulação pós~exposição .1 dcterminadas toxinas e radiação; os vacúolos auto-fagocíticos tendem .1 ser pequenos e uniformemente distribuídos no citoplasma. A v.lcuolização resultante da ingestão de microrganismos é geralmente observada nos quadros infecciosos, principalmente na septicemia de I'! iologia bacteriana ou fúngica; nessas situações, os vacúolos são tn::1Íores,distribuídos de forma irregular no citoplasma e, por vezes, n:rcados por granulação tóxica (figura 3.2). A vacuolização, assim ('orno a granulação tóxica, é indicativa de atividade fagocítica nos quadros infecciosos; a presença de vacúolos em mais 10% dos Ilcutrófilos é geralmente considerada significante. Corpos de Dõhle: são agregados de RNA ribossômico ou I'ctículo endoplasmático rugoso que podem ser observados em neutrófilos segmentados e bastonetes. Citologicamente aparecem como pequenas inclusões citoplasmáticas, com 1 a 2 IJm de diâmetro, de cor .1zul-pálido ou acinzentadas, isoladas ou múltiplas, dispostas na periferia da célula (figura 3.3). Os corpos de Dõhle são relativamente inespecíficos, podendo estar associados a quadros infecciosos e sépticos, inflamações, gravidez, queimaduras, pós-operatório, entre utros. São geralmente transitórios, tendendo a aparecer apenas no início do processo patológico (p.ex. nos primeiros 3 dias de um quadro infeccioso). Pseudópodes: são alterações raras em neutrófilos reacionais caracterizadas por protrusão agranular do citoplasma que onfere ao neutrófilo uma aparência 'amebóide'. Podem refletir redução da capacidade de locomoção da célula e aparecem com maior rreqüência em pacientes que fizeram uso de drogas citotóxicas. 53 HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS Alterações nucleares reacionais Hipersegmentação: trata-se da presença de 5 ou mais lóbulos nucleares no neutrófilo segmentado (figura 3.4). Essa alteração nuclear está frequentemente presente em pacientes com anemia megaloblástica, mas pode também ser observada em infecções crônicas, processos degenerativos, anemia ferropriva, gestação e síndromes mielodisplásicas. O mecanismo responsável pela hipersegmentação nuclear nos neutrófilos ainda não está esclarecido. Anteriormente, a presença de grande quantidade de neutrófilos hipersegmentados era denominada 'desvio à direita', termo atualmente em desuso. Hipossegmentação: são neutrófilos que, no estágio final de maturação (neutrófilo segmentado) caracterizado pela típica tonalidade e granulação citoplasmática e pela intensa condensação da cromatina, apresentam núcleo bilobado ou mesmo sem segmentação (figura 3.5). Os neutrófilos hipo-segmentados são denominados pelger ou pelger-verdadeiros quando aparecem na doença de Pelger-Huet (hereditária); quando resultam de doenças adquiridas e não- hereditárias, os neutrófilos hipo-segmentados são denominados de pseudo-pelger ou neutrófilos 'pelgeróides'. Nas doenças adquiridas, a hipo-segmentação nuclear é um sinal de displasia que pode acompanhar quadros leucêmicos e síndromes mielodisplásicas. Projeções nucleares: nas mulheres, alguns neutrófilos apresentam um apêndice nuclear com cerca de 1,51Jm de diâmetro que se liga ao resto do núcleo por um filamento. Essas baquetas representam o cromossomo X inativo da mulher. A freqüência das baquetas varia de uma a cada 40 a 200 neutrófilos e é uma característica individual de cada mulher. Essa alteração não ocorre em homens, nem nos portadores de síndrome de Turner (XO). As projeções nucleares podem aparecer nos pacientes com síndrome de Klinefelter (XXY), mas geralmente em número menor que nas mulheres. HEMATOLOGIA LABORATORIAL - LEUCÓCITOS Núcleo picnótico ou necrótico: o núcleo picnótico é \1111 núcleo denso, homogêneo e aparentemente desidratado, presente ('111 células que estão a ponto de entrar em apoptose (morte celular programada). Podem ser observados no sangue de pacientes em 'l'pticemia e neoplasias em estágio avançado, ou resultar de má (oloração e tempo de estocagem prolongado da amostra. Com progressão do processo a célula torna-se necrótica, em franca apoptose, l' o núcleo apresenta-se denso e quebrado em duas ou mais porções .medondadas, não conectadas por filamentos (figuras 2.10 e 3.6). Anomalias qualitativas decorrentes de alterações hereditárias Anomalia de Pelger-Huet: é uma anomalia benigna dos Icucócitos com padrão de herança autossômico dominante. Sua incidência pode variar de 1 caso para 1000 indivíduos a um caso para 10 mil. Nos pacientes heterozigotos, o núcleo da maioria dos neutrófilos consiste tipicamente de dois lobos simétricos e :lrredondados, conectados por um ligamento estreito, assemelhando-se .1 um par de 'óculos' ou 'halteres'; por vezes são observados núcleos sem scgmentação e raramente há neutrófilos segmentados com mais de 2 lobos nucleares (figura 3.7). Para observadores menos experientes, é omum a identificação equivocada de um neutrófilo hipossegmentado 'omo bastonete, resultando em uma contagem diferencial curiosa com muitos bastões (70-90% dos neutrófilos) e poucos segmentados (menos de 10% dos neutrófilos). Nos raros pacientes homozigotos, o núcleo da maioria dos neutrófilos permanece arredondado ou oval, ou seja, sem segmentação. A análise cuidadosa da cromatina permite diferenciar bastões e metamielócito~ dos neutrófilos-pelger, uma vez jLle nesses a cromatina encontra-se condensada e com pactada, indicando que a célula está completamente madura. É importante ressaltar que apesar das alterações morfológicas, a função celular dos neutrófilos não parece estar prejudicada nessa condição. HEMATOLOGIA LABORATORIAL LEUCÓCITOS Anomalia de May Hegglin: é um síndrome rara caracterizado por leucopenia, trombocitopenia variável, plaquetas gigantes e inclusões azul-acinzentadas no citoplasma dos granulócitos e dos monócitos. O padrão de herança é autossômico dominante e a maioria dos portadores é assintomática. As inclusões nos neutrófilos assemelham-se a corpos de Dohle, porém são maiores e podem ser encontradas em todos os tipos de leucócitos (figura 3.8). Anomalia de Alder-Reilly: com padrão de herança autossômico recessivo, essa anomalia caracteriza-se pela presença de grânulos basofílicos anormalmente aumentados de tamanho no citoplasma dos granulócitos (figura 3.9). Exceto pelo tamanho dos grânulos, a disposição granular nessa anomalia assemelha-se a granulações tóxicas grosseiras. Essas inclusões, que aparentemente não afetam a função celular, podem estar ausentes no sangue periférico dos pacientes que expressam a anomalia de forma incompleta; por outro lado, naqueles em que a anomalia está completamente expressa, as inclusões estão presentes em todos os granulócitos e em alguns linfócitos e monócitos. A anomalia de Alder-Reilly também é descrita em associação com doenças de acúmulo, como as mucopolissacaridases e doença de Tay-Sacks. Síndrome de Chédiak-Higashi: é uma doença com padrão de herança autossômico recessivo caracterizada pela presença de grânulos gigantes (lisossomos gigantes) no citoplasma de fagócitos (granulócitos e monócitos) e linfócitos (figura 3.10). Os indivíduos afetados apresentam albinismo parcial, alta susceptibilidade a infecções, tendências hemorrágicas e, nos estágios avançados, hepatoesplenomegalia, insuficiência hepática, linfadenopatia
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