Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza Módulo I: Febre, Inflamação e Infecção Problema 2: Vai ter nova crise, doutor?! Objetivo 1: Analisar a febre. Objetivo 2: Explicar a convulsão febril. Objetivo 3: Descrever a farmacodinâmica e farmacocinética dos antitérmicos. Objetivo 4: Diferenciar febre e hipertermia. Objetivo 5: Descrever os valores de referências da temperatura corporal e locais de medição. Objetivo 6: Descrever o tratamento da convulsão febril. FEBRE Conceito Por muitos anos, a febre foi considerada uma resposta patológica à infecção, mas agora é considerada parte da resposta imune normal do corpo, devido a invasão do organismo por microrganismos ou outras substancias estranhas. Pode ser causada por anormalidades no cérebro propriamente dito ou por substâncias tóxicas que afetam os centros reguladores da temperatura. As toxinas de bactérias, entre outros patógenos, estimulam a liberação de fatores químicos pirogênicos (como certas interleucinas, interferons e fator de necrose tecidual) a partir de células do sistema imune (linfócitos, neutrófilos e macrófagos). Os pirogênios são citocinas indutoras de febre que também têm muitos outros efeitos. Experimentalmente, algumas interleucinas (IL-1, IL-6), alguns interferons e o fator de necrose tumoral são indutores de febre. Eles induzem a febre por reajustar o termostato hipotalâmico em um ponto superior. A temperatura ambiente normal é percebida como muito fria, e o paciente começa a tremer, gerando calor adicional. Os pirogênios podem também aumentar a termogênese sem tremor, provocando aumento da temperatura corporal. O significado adaptativo da febre ainda não está claro, mas ela parece aumentar a atividade dos leucócitos envolvidos na resposta imune. Por essa razão, algumas pessoas questionam se pacientes com febre devem tomar ácido acetilsalicílico e outros antitérmicos simplesmente por uma questão de conforto. Entretanto, a febre alta pode ser perigosa, uma vez que uma febre de 41°C por mais do que um breve período causa danos ao encéfalo. Efeito dos pirogênios – fisiopatologia A febre ocorre pela ação de fatores pirogênicos sobre o centro termorregulador do hipotálamo, elevando o limiar térmico e desencadeado respostas metabólicas de produção e conservação de calor (tremores, vasoconstrição periférica, aumento do metabolismo basal). Esses pirogênios liberados por bactérias tóxicas ou os liberados por tecidos corporais em degeneração, causam febre durante condições patológicas. Quando o ponto de ajuste do centro de regulação hipotalâmico da temperatura se eleva acima do normal, todos os mecanismos para a elevação da temperatura corporal começam a atuar, incluindo a conservação de calor e o aumento da produção de calor. Pirógenos externos: microrganismos, seus produtos e toxinas. O melhor exemplo é a endotoxina, comum a todas as bactérias gramnegativas e que é um lipossacarídeo componente da membrana externa. As bactérias gram-positivas também produzem pirógeno, porém, em geral, o LPS é mais potente. Estimulam as células dos hospedeiros a produzirem os pirógenos endógenos, geralmente monócitos e macrófagos. 2 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza Pirógenos endógenos: são polipeptídios produzidos pelo sistema monocítico-macrofágico, local ou sistematicamente, até atingirem o centro termorregulador do hipotálamo. Como exemplo desse tipo de pirógenos tem-se a IL-1 alfa e beta, que são produzidas pelo sistema fagocítico mononuclear, pelo endotélio, pelos linfócitos B, por células NK, fibroblastos, músculo liso, queratinócitos e células da glia. Mecanismo de ação Experimentos em animais demonstraram que alguns pirogênios, quando injetados no hipotálamo, podem atuar direta e imediatamente sobre o centro de regulação da temperatura no hipotálamo e aumentar seu ponto de ajuste. Outros pirogênios atuam indiretamente e podem necessitar de várias horas de latência antes de causar seus efeitos. Esse fato é válido para vários pirogênios bacterianos, especialmente as endotoxinas das bactérias gram-negativas. Quando as bactérias ou os produtos da degradação das bactérias estão presentes nos tecidos ou no sangue, eles são fagocitados pelos leucócitos do sangue, pelos macrófagos teciduais e pelos grandes linfócitos “killers” granulares. Todas essas células digerem os produtos bacterianos e, em seguida, liberam citocinas, grupo diferenciado de moléculas peptídicas de sinalização, participantes das respostas imunes e adaptativas. Uma das mais importantes dessas citocinas para causar febre é a interleucina-1 (IL-1), também chamada de pirogênio leucocitário ou pirogênio endógeno. A interleucina-1 é liberada pelos macrófagos para os líquidos corporais e, ao chegar ao hipotálamo, quase imediatamente ativa os processos produtores de febre aumentando, por vezes, a temperatura corporal, por valor significativo em apenas 8 a 10 minutos. Vários experimentos sugeriram que a interleucina-1 inicialmente cause febre pela indução da formação de prostaglandinas, principalmente a prostaglandina E2 ou substância similar, que atua no hipotálamo para desencadear a reação da febre. Dessa forma, as regiões do hipotálamo que controlam a temperatura corporal são: os nervos pré-ópticos do hipotálamo anterior e o hipotálamo posterior. Os estímulos são tanto de nervos periféricos quanto da temperatura do sangue que banha a região. Esse endotélio libera ácido araquidônico e seus metabolitos quando expostos aos pirógenos exógenos. Desses metabolitos, a prostaglandina E2 difunde-se pela área pré-óptica, ativa o AMP cíclico e inicia a febre. Com o novo set point da temperatura, nervos eferentes, principalmente simpáticos, inervam os vasos periféricos. Há, então, vasoconstrição que impede a perda de calor. Há acionamento de musculo e gordura para produzir calor. O centro termorregulador envia sinais ao córtex cerebral com mensagens comportamentais, como a busca por lugares aquecidos, roupas e atitudes posturais. Tudo isso para que a periferia atinja a temperatura do set point hipotalâmico (central), já que a periferia envia impulsos aferentes para o SNC continuamente. Com isso, a temperatura pode elevar de 2 a 3 graus Celsius. Caso não seja suficiente, tremores são ativados para aumentar a produção de calor, para que atinja o novo set point da temperatura. Quando a formação de prostaglandinas é bloqueada por fármacos, a febre pode ser abortada ou diminuída. De fato, esta pode ser a explicação para o mecanismo de atuação da aspirina na redução da febre, pois a aspirina impede a formação de prostaglandinas, a partir do ácido araquidônico. Fármacos como a aspirina, que reduzem a febre, são chamados antipiréticos. Características da febre Os sinais e sintomas da febre estão envolvidos com as respostas metabólicas à ação dos pirogênios. Podem ser observados calafrios, piloereção, extremidades frias (em decorrência da vasoconstrição periférica), posição fetal, taquicardia, taquipneia, taquisfigmia, oligúria, náusea e vômito, convulsões (principalmente em crianças), delírios e confusão mental, astenia, inapetência e cefaleia, sudorese (após a cessação da febre). 3 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza Calafrios: Quando o ponto de ajuste do centro de controle de temperatura no hipotálamo é subitamente alterado do nível normal para um nível mais alto do que o normal (como resultado da destruição tecidual, substâncias pirogênicas ou desidratação), a temperatura corporal geralmente leva várias horas para atingir o novo ponto de ajuste da temperatura. Como a temperatura do sangue agora é menor do que o ponto de ajuste do controlador hipotalâmico da temperatura, ocorrem as respostas usuais que causam a elevação da temperatura. Durante esse período, a pessoa experimenta calafriose sente frio intenso, mesmo que sua temperatura já esteja acima do normal. Além disso, a pele fica fria devido à vasoconstrição e a pessoa treme. Os calafrios continuam até que a temperatura corporal chegue ao ponto de ajuste hipotalâmico de 39,4°C. A partir desse ponto, a pessoa não apresenta mais calafrios e não sente frio ou calor. Enquanto o fator que causa elevação do ponto de ajuste do controlador da temperatura hipotalâmico estiver presente, a temperatura do corpo é regulada quase da mesma forma, mas em nível de ponto de ajuste mais alto. Crise ou rubor: Se o fator que está causando a alta da temperatura for removido, o ponto de ajuste do controlador da temperatura hipotalâmico será reduzido para valor mais baixo, e talvez volte ao normal. Nesse caso, a temperatura do corpo se mantém em 39,4°C, mas o hipotálamo tenta regular a temperatura para 37°C. Essa situação é análoga ao aquecimento excessivo da área hipotalâmica anterior pré óptica, que causa sudorese intensa e o desenvolvimento súbito de aquecimento da pele por causa da vasodilatação generalizada. Essa mudança súbita de eventos no estado febril é conhecida como “crise” ou, mais apropriadamente, “rubor”. Intermação: O limite superior da temperatura do ar que a pessoa pode suportar depende em grande parte de se o ar é seco ou úmido. Se o ar está seco e correntes de ar de convecção suficientes estão fluindo para promover a rápida evaporação do corpo, a pessoa pode resistir durante várias horas na temperatura do ar de 54,4°C. Inversamente, se o ar está com 100% de umidade ou se o corpo está imerso na água, a temperatura corporal começa a se elevar sempre que a temperatura ambiental estiver acima de 34,4°C. Se a pessoa está realizando trabalho braçal, a temperatura ambiental crítica acima da qual provavelmente ocorrerá intermação pode ser de 29,4 a 32,2°C. Quando a temperatura corporal se eleva além de temperatura crítica, na variação entre 40,5 e 42,2°C, a pessoa, provavelmente, desenvolverá uma intermação. Os sintomas incluem desorientação, desconforto abdominal, algumas vezes, acompanhado por vômitos, às vezes, delírios, com eventual perda da consciência se a temperatura corporal não for rapidamente diminuída. Esses sintomas, em geral, são exacerbados por grau de choque circulatório ou pela excessiva perda de líquidos e eletrólitos pelo suor. Características semiológicas da febre INÍCIO: pode ser gradual ou súbito Súbito: percebe-se de um momento para outro a elevação da temperatura. Nesse caso, a febre se acompanha quase sempre dos sinais e sintomas que compõem a síndrome febril. É frequente a sensação de calafrios nos primeiros momentos da hipertermia. Gradual: A febre pode instalar-se de maneira gradual e o paciente nem perceber seu início. Em algumas ocasiões, predomina um ou outro sintoma da síndrome febril, prevalecendo cefaleia, a sudorese e a inapetência. INTENSIDADE: tomando por referência o nível da temperatura axilar: Febre leve ou febrícula: até 37,5°C Febre moderada: de 37,6° a 38,5°C Febre alta ou elevada: acima de 38,6°C EVOLUÇÃO Febre contínua: aquela que permanece sempre acima do normal com variações de até 1 °C e sem grandes oscilações. Febre irregular ou séptica: registram-se picos muito altos intercalados por temperaturas baixas ou períodos de apirexia. Não há qualquer caráter cíclico nestas variações. Mostram-se totalmente imprevisíveis e são bem evidenciadas quando se faz a tomada da temperatura várias vezes ao dia; um exemplo típico é a septicemia. Aparece também nos abscessos pulmonares, no empiema vesicular, na tuberculose e na fase inicial da malária. Febre remitente: há hipertermia diária, com variações de mais de 1 °C e sem períodos de apirexia. Ocorre na septicemia, pneumonia, tuberculose. Febre intermitente: nesse tipo, a hipertermia é ciclicamente interrompida por um período de temperatura normal; isto é, registra-se febre pela manhã, mas esta não aparece à tarde; ou então, em 1 dia ocorre febre, no outro, não. Por vezes, o período de apirexia dura 2 dias. A primeira se denomina cotidiana, a segunda terçã 4 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza e a última quartã. O exemplo mais comum é a malária. Aparece também nas infecções urinárias, nos linfomas e nas septicemias. Febre recorrente ou ondulante: semanas ou dias com temperatura corporal normal até que períodos de temperatura elevada ocorram. Durante a fase de febre não há grandes oscilações. Durante a fase de febre não há grandes oscilações; por exemplo: brucelose, doença de Hodgkin e outros linfomas. TÉRMINO Crise: quando a febre desaparece subitamente. Neste caso costumam ocorrer sudorese profusa e prostração. Exemplo típico é o acesso malárico. Lise: significa que a hipertermia vai desaparecendo gradualmente, com a temperatura diminuindo dia a dia, até alcançar níveis normais. Observado em inúmeras doenças, é mais bem reconhecido pela análise da curva térmica. Diagnóstico da febre O diagnóstico de febre é basicamente clínico, ou seja, a aferição da temperatura (37,5°C axilar/ 37,8°C oral/ 38°C retal) juntamente com os principais sinais e sintomas são suficientes. A anamnese e o exame físico somados ditarão a conduta, incluindo a necessidade de exames complementares e tratamento específico. A investigação de outras queixas é de extrema importância para o diagnóstico da etiologia da febre. Alguns sintomas podem ser simplesmente associados ao quadro febril, como mialgia, cefaleia e fraqueza. Porém alguns outros já são mais indicativos da etiologia, por exemplo, tosse produtiva e dispneia podem apontar uma pneumonia, bem como disúria pode apontar uma infecção urinária. Queixa articular pode ser compatível com um quadro de artrite reumatoide ou lúpus. O padrão temporal também é muito importante para o diagnóstico da causa da febre. Febres terça e quartã estão relacionadas com malária, febre recorrente pode ser observada em pacientes com HIV, linfoma de Hodgkin ou outros linfomas. Outro diferencial no diagnóstico da etiologia da febre é saber se o paciente está vindo da comunidade ou estava previamente internado. No caso do paciente internado, pode-se pensar em infecções hospitalares e aumento de temperatura secundário a agentes e procedimentos (por exemplo, transfusão de hemoderivados e uso de contrastes endovenosos). Já em pacientes vindos da comunidade, além das causas infecciosas (mais frequentes), deve-se pensar em causas neoplásicas, colagenoses e processos inflamatórios. Tratamento O foco do tratamento deve ser tratar a causa da febre e não apenas a febre isoladamente. No entanto, devido ao aumento do consumo de oxigênio pelo organismo durante a febre e pelo fato de que uma redução na febre também controla sintomas como cefaleia, mialgia, artralgia e mal-estar, a indicação para o tratamento com medicações antipiréticas é válida. Não é necessário manter medicação de forma a evitar a elevação da temperatura no paciente (medicação de horário), basta deixar a medicação em uso de acordo com a temperatura. OS PRINCIPAIS ANTIPIRÉTICOS SÃO: dipirona, paracetamol e o ácido acetilsalicílico. TERMORREGULAÇÃO A termorregulação é realizada por um sistema de controle fisiológico, que consiste em termorreceptores centrais e periféricos, um sistema de condução aferente, o controle central de integração dos impulsos térmicos e um sistema de respostas eferentes levando a respostas compensatórias. A regulação da temperatura no corpo humano está relacionada à produção metabólica de calor (termogênese), um equilíbrio entre produção, ganho e perda de calor. 5 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza PRODUÇÃO DE CALOR A entrada de calor tem dois componentes: a produção interna de calor, a qual inclui o calor normal do metabolismo e a liberação de calordurante a contração muscular, e a entrada de calor externo a partir do ambiente através de radiação ou de condução. A produção de calor pelo corpo é classificada em duas categorias: (1) produção de calor não regulada devido à contração dos músculos voluntários e das vias metabólicas normais e (2) produção de calor regulada para a manutenção da homeostasia da temperatura corporal quando em temperaturas ambientais baixas. A produção de calor regulada é subdividida em termogênese com tremor e termogênese química (sem tremor). Na termogênese com tremor, o corpo usa o calafrio (tremor rítmico causado pela contração do músculo esquelético) para gerar calor. Sinais do centro termorregulador hipotalâmico iniciam esses tremores do músculo esquelético. O tremor do músculo gera cinco ou seis vezes mais calor do que o músculo em repouso. O tremor pode ser parcialmente suprimido por controle voluntário. A termogênese sem tremor é a produção de calor metabólico por outros meios que não o tremor. Em animais de laboratório, como ratos, a exposição ao frio promove aumentos significativos na produção de calor a partir do tecido adiposo marrom (BAT), também chamado de tecido marrom. OBS: A importância da termogênese sem arrepios em seres humanos adultos, tem se tornado um tópico de bastante interesse. Os seres humanos nascem com uma quantidade significativa de tecido adiposo marrom, encontrado primariamente na área interescapular (entre as escápulas). Em recém-nascidos, o tecido adiposo marrom promove termogênese sem tremor e contribui significativamente para elevar e manter a temperatura do corpo. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que, durante a infância, o tecido adiposo branco substituía o tecido marrom. Recentemente, contudo, estudos de imagem utilizados para diagnósticos de câncer revelaram que os seres humanos adultos possuem tecido adiposo marrom. Os principais fatores que influenciam na produção do calor através do metabolismo são: 1. Taxa do metabolismo basal de todas as células do corpo; 2. Taxa extra de metabolismo causada pela atividade muscular, incluindo as contrações musculares causadas pelo calafrio; 3. Metabolismo extra causado pelo efeito da tiroxina (e, em menor grau por outros hormônios como o GH e testosterona); 4. Metabolismo extra causado pelo efeito da adrenalina, noradrenalina e estimulação simpática sobre as células; 5. Metabolismo extra causado pelo próprio aumento da atividade química das células, especialmente quando a temperatura da célula se eleva; 6. Metabolismo extra, necessário para a digestão, absorção e armazenamento de alimentos (efeito termogênico dos alimentos. PERDA DE CALOR Nós perdemos calor do corpo por quatro vias: condução, radiação, convecção e evaporação. Condução: é a perda do calor do corpo para um objeto mais frio que está tocando o corpo, como um saco de gelo ou um banco de pedra frio. Radiação: Estima-se que a perda de calor radiante do corpo humano é aproximadamente a metade do calor perdido por uma pessoa em repouso em uma sala normal. A termografia é uma técnica de diagnóstico por imagem que mede a perda de calor radiante. Convecção: processo pelo qual o calor é carregado pelo ar aquecido que sobe a partir da superfície do corpo. A perda de calor condutivo e radiante é aumentada pela perda de calor por convecção. Evaporação: ocorre quando a água evapora na superfície da pele e no trato respiratório. A perda de calor evaporativo é afetada pela umidade do ar circundante: menos evaporação ocorre em umidades maiores. Você pode demonstrar o efeito do resfriamento por evaporação molhando um braço e deixando a água evaporar. Quando o braço molhado seca, ele é percebido como muito mais frio do que o resto do corpo, porque o calor está sendo deslocado do braço para vaporizar a água. A velocidade de perda de calor é determinada quase completamente por dois fatores: 1. A velocidade de condução do calor de onde ele é produzido no centro do corpo até a pele; 2. A velocidade de transferência do calor entre a pele e o meio ambiente. O calor é perdido através da VASODILATAÇÃO dos vasos sanguíneos cutâneos, da SUDORESE e da DIMINUIÇÃO DA PRODUÇÃO DE CALOR. 6 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza REGULAÇÃO HOMEOSTÁTICA O corpo humano é normalmente mais aquecido do que o seu ambiente e, portanto, perde calor. Contudo, normalmente o metabolismo produz calor o suficiente para manter a temperatura corporal quando a temperatura média do ambiente varia entre 27,8 e 30°C. Essa variação é chamada de zona termoneutra. Em temperaturas acima da zona termoneutra, o corpo tem um ganho líquido de calor, uma vez que a produção de calor excede a perda de calor. Abaixo da zona termoneutra, a perda de calor excede a produção. Em ambos os casos, o corpo deve utilizar a compensação homeostática para manter a temperatura interna constante. Para a manutenção da temperatura corporal estável, é essencial a integridade de todos os elementos envolvidos na sua regulação: SENSORES TÉRMICOS, CENTRO INTEGRADOR E SISTEMAS EFERENTES. I. Sensores térmicos: hipotálamo anterior e área pré- óptica; receptores cutâneos térmicos; receptores existentes em órgãos corporais profundos. II. Centro integrado III. Sistemas eferentes: SNC, SNA, SN SOMÁTICO, HIPÓFISE. HIPOTÁLAMO NA TERMORREGULAÇÃO A temperatura do corpo é regulada quase completamente por mecanismos de feedback neurais, e quase todos esses mecanismos operam através de centros regulatórios da temperatura localizados no hipotálamo. As principais áreas do cérebro que sofrem influência do calor/frio e, por conseguintes, são as mais importantes na resposta fisiológica são os núcleos pré- óptico e hipotalâmico anterior do hipotálamo. No hipotálamo situa-se o sistema de controle central, que regula a temperatura do corpo ao integrar os impulsos térmicos provenientes de quase todos os tecidos do organismo, e não apenas em relação à temperatura central do organismo, o que tem sido considerado como temperatura corporal média. Quando o impulso integrado excede ou fica abaixo da faixa limiar de temperatura, ocorrem respostas termorreguladoras autonômicas, que mantêm a temperatura do corpo em valor adequado. No hipotálamo anterior é feita a integração das informações aferentes térmicas, enquanto no hipotálamo posterior iniciam-se as respostas efetoras. A área pré-óptica é rica em neurônios sensíveis ao calor e alguns neurônios sensíveis ao frio, de modo que alterações de temperatura causam alteração na velocidade de disparos neuronais. Quando a área pré-óptica é aquecida, a pele de todo o corpo imediatamente inicia uma sudorese profusa, enquanto os vasos sanguíneos de todo o corpo se dilatam enormemente, promovendo importante perda de calor. Existe uma faixa interlimiar de temperatura, definida geralmente entre 36,7º a 37,1ºC, na qual não há resposta efetora. Temperaturas abaixo ou acima desses limiares desencadeiam respostas efetoras: O controle termorregulatório é semelhante no homem e na mulher , mas diminui no idoso e em pacientes gravemente enfermos. A resposta comportamental é a resposta termorregulatória quantitativamente mais eficaz, porém vários outros mecanismos, também eficazes, são importantes, como a resposta vasomotora, que se caracteriza pela vasodilatação em resposta ao calor e pela vasoconstrição e piloereção em resposta ao frio; o tremor, que aumenta o consumo de oxigênio e a taxa metabólica em resposta ao frio; e a sudorese em resposta ao calor. Em relação ao calor, a primeira defesa autonômica é a vasodilatação cutânea. Já a sudorese, mediada por inervação colinérgica pós-ganglionar nas terminações glandulares, é considerada a mais importante. O suor é um ultrafiltrado do plasma e sua composição depende da intensidade da sudorese, do estado de hidratação e de outros fatores. A sudoreseé um processo muito efetivo de perda de calor por causa do elevado calor latente de evaporação da água. As glândulas sudoríparas são constituídas de 7 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza epitélio transportador. As células profundas da glândula secretam uma solução isotônica similar ao líquido intersticial. À medida que esse líquido percorre o ducto em direção à pele, o NaCl é reabsorvido, resultando em suor hipotônico. Cada grama de suor que se evapora absorve 584 calorias. Consequentemente, a sudorese pode dissipar facilmente o calor especialmente se o ambiente estiver seco. A eficiência da sudorese é aumentada pela vasodilatação pré-capilar termorreguladora, resposta característica do homem, que é regulada por fatores como a bradicinina e o óxido nítrico. Ela aumenta, em muito, o fluxo sanguíneo cutâneo para facilitar a transferência do calor central para a pele. RECEPTORES CUTÂNEOS INTERNOS Há também termorreceptores em órgãos internos como a medula espinhal, vísceras abdominais ou ao redor de grandes veias da região superior do abdome e do tórax; assim como os receptores da pele, são mais sensíveis a temperaturas mais baixas, provavelmente pois são adaptados a identificarem com mais precisão ocasiões de hipotermia. Contudo, esses receptores identificam a temperatura central do corpo, e não a temperatura cutânea. Os sinais advindos tanto dos receptores periféricos quanto da área pré-óptica chegam à região posterior do hipotálamo. Nesse local os sinais são combinados e integrados a fim de controlar as reações de produção e de conservação de calor do corpo. A excitação química simpática de produção de calor pode ser feita através da ação da adrenalina e noradrenalina, as quais causam a termogênese – processo no qual promove a fosforilação oxidativa de alimentos em excesso, porém se que haja a produção de ATP, somente de energia sob a forma de calor. MECANISMOS DE CONTROLE DA TEMPERATURA Quando os centros hipotalâmicos de temperatura detectam que a temperatura do organismo está muito alta ou muito baixa, eles instituem os procedimentos apropriados para a diminuição ou para a elevação da temperatura. MECANISMOS DE DIMINUIÇÃO: O sistema de controle da temperatura utiliza três mecanismos importantes para reduzir o calor do corpo, quando a temperatura corporal é muito elevada. 1. VASODILATAÇÃO DOS VASOS SANGUÍNEOS CUTÂNEOS: Aumenta a transferência convectiva do calor do centro para a periferia do corpo, pela circulação, sendo que convecção é a forma de movimento do calor que ocorre principalmente nos fluidos. 2. SUDORESE: O efeito do aumento da temperatura corporal sobre a sudorese é demonstrado pela curva azul na Figura abaixo, que mostra elevação súbita da perda de calor evaporativo, resultante da sudorese, quando a temperatura central do corpo se eleva acima do nível crítico de 37°C (98,6°F). 3. DIMINUIÇÃO DA PRODUÇÃO DE CALOR: Os mecanismos que causam o excesso de produção de calor, como os calafrios e a termogênese química, são intensamente inibidos. MECANISMOS DE AUMENTO: Quando o corpo está muito frio, o sistema de controle de temperatura institui procedimentos exatamente opostos. 1. VASOCONSTRIÇÃO DA PELE POR TODO O CORPO: é causada pela estimulação dos centros simpáticos hipotalâmicos posteriores. 2. PILOEREÇÃO: significa “pelos eriçados”. O estímulo simpático faz com que os músculos eretores dos pelos presos aos folículos pilosos, se contraiam, 8 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza colocando os pelos na posição vertical. Esse mecanismo não é importante em seres humanos, mas nos animais inferiores, a projeção vertical dos pelos permite que eles retenham uma espessa camada de “ar isolante” próximo à pele, de modo que a transferência de calor para o meio ambiente, diminui significativamente. 3. AUMENTO NA TERMOGÊNESE: A produção de calor pelos sistemas metabólicos é aumentada pela promoção de calafrios, excitação simpática da produção de calor e secreção de tiroxina. OUTROS TIPOS: Noradrenalina, dopamina e serotonina são os mediadores envolvidos mais estudados no controle da temperatura. Drogas que interferem em sua liberação ou produção podem alterar a temperatura corpórea. RESUMO DA REGULAÇÃO DA TEMPERATURA: 1. A temperatura do corpo está dentro da faixa normal. 2. O aumento da temperatura do corpo sai da faixa normal, perturbando a homeostase. 3. Receptores na pele e no hipotálamo detectam o aumento da temperatura corporal, e o centro de controle do hipotálamo responde a mudança da temperatura do corpo. 4. Os efetores são ativados. Vasos sanguíneos da pele se dilatam e a sudorese aumenta para promover a perda de calor e o resfriamento evaporativo. 5. A temperatura do corpo diminui. 6. A temperatura do corpo retorna à sua normalidade, e homeostase é restaurada. CONVULSÃO FEBRIL CONCEITO É toda convulsão que ocorre em vigência de doença infecciosa febril com temperatura ≥ 38 °C. Excluindo-se as infecções do SNC, como meningites e encefalites e os desequilíbrios hidroeletrolíticos. EPIDEMIOLOGIA É a desordem convulsiva mais comum da infância, com uma incidência aproximada de 2 a 5% dos lactentes e pré-escolares. Está fortemente relacionado à história familiar com um padrão autossômico dominante já demonstrado. O risco de recorrência da crise febril (CF) em processos infecciosos posteriores é da ordem de 30%. Fatores de risco: Maiores: primeira crise febril com menos de 12 meses de idade; duração da febre < 24 horas antes da crise; febre 38-39 °c. Menores: História 9 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza familiar positiva de crises febris; História familiar de epilepsia; Crise febril complexa; Sexo masculino; Sódio sérico baixo no início da crise. Obs.: O pico de incidência varia de 9 a 18 meses, independentemente de localização geográfica, raça, sexo ou condições socioeconômicas. Cabe lembrar que CF raramente podem ocorrer antes dos 3 meses e após os 5 anos de idade. FISIOPATOLOGIA A origem da CF não é ainda inteiramente compreendida, sabe-se, no entanto, que a febre, a idade e a predisposição genética são os fatores importantes. Acredita-se que o desencadeamento da convulsão pela febre esteja associado à imaturidade natural do cérebro, que apresenta um limiar mais baixo de resistência à hipertermia e excitabilidade neuronal elevada. A elevada frequência de antecedentes familiares e a maior concordância em irmãos monozigóticos, comparada aos dizigóticos, sugerem uma contribuição genética. A história familiar de crise febril em pais e irmãos foi detectada em 7,3 a 31% dos casos. Já em familiares não diretos, foi observada em 16% das crianças com crise febril. Irmãos mais jovens em que a criança com crise febril tem 10 a 20% de chance de ter a crise. O modo de herança não é claro, e há estudos evidenciando ligação com vários cromossomos, por exemplo, os cromossomos 19p e 8q 13-21. A maioria dos estudos sugere herança autossômica dominante, com baixa penetrância e expressão variável ou, em alguns casos, herança poligênica. Não há consenso na literatura sobre o papel da velocidade de aumento ou do valor atingido da temperatura na crise febril. Estudos em animais sugerem um papel dos pirogênios endógenos, como a interleucina 1 (IL-1), influenciando na excitabilidade neuronal. Obs.: A persistência de CF após os 6 anos, associada ou não a crise afebril, com remissão espontânea em torno dos 12 anos, configura uma situação de forte componente familiar denominada “convulsão febril plus”. A verificação de que algumas famílias são mais suscetíveis a apresentarem CF é notória e já foram descritos os loci cromossômicos de algumas delas. No entanto, ainda não foi identificado um modelo de transmissão que atenda a todos os casos de CF. A maioriados estudos sugere herança autossômica dominante, com baixa penetrância e expressão variável, ou herança poligênica. CLÍNICA A crise usualmente é generalizada tônico-clônicas com duração de alguns segundos até 15 minutos. O período pósictal é marcado por sonolência passageira. O exame neurológico da criança é inteiramente normal após a crise. A investigação clínica deve visar a localização da infecção, seja ela uma amigdalite, otite ou doença exantemática. Atualmente, prefere-se a denominação “crises febris”, porque elas podem ser convulsivas e não convulsivas. De modo geral, as CF são tônico-clônicas generalizadas, de curta duração, únicas e precoces em uma mesma doença febril, e não se acompanham por fenômenos neurológicos pós-críticos. Essas características definem as CF típicas, simples, ou também chamadas crises não- complicadas. Crises com duração > 10 min, parciais, que se repetem durante o mesmo episódio febril, e acompanhadas por sinais neurológicos transitórios (paralisia de Todd) são denominadas atípicas, complexas ou complicadas. A distinção entre ambas tem importância clínica, uma vez que define prognósticos diferentes: a forma atípica está associada a um maior número de recorrências, tanto febris, quanto afebris. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da CF é clínico, porém não é fácil de definir na primeira apresentação. A hipótese é reforçada quando a crise é típica, o exame neurológico é normal, o paciente já apresentou uma ou mais CF e há relato de casos semelhantes em parentes de 1º grau. A investigação da doença de base e a exclusão da meningite são essenciais. Lactentes que apresentem a primeira CF, mesmo na ausência de sinais de irritação meníngea, devem realizar exame do líquor. Criança com < 6 meses com convulsão + febre, a punção lombar (PL) deve ser SEMPRE realizada. Mesmo que uma otite média seja identificada no exame físico, não é possível excluir a possibilidade de meningite sem a punção lombar. Punção lombar é obrigatória: Na primeira crise febril complexa; Letargia persistente; 10 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza Crise febril em crianças > 5 anos, pela possibilidade de meningite/encefalite. De acordo com a história clínica também é necessário pedir hemograma, dosagem de eletrólitos e glicemia. Na definição de uma infecção viral ou bacteriana bem estabelecida (otite, laringite, doença exantemática), não existe a indicação de Eletroencefalograma (EEG) ou exame de imagem do sistema nervoso central. As crises convulsivas provocadas por meningites, encefalites, distúrbios eletrolíticos, hipoglicemia ou intoxicação exógena não são consideradas crises febris. Sua ocorrência é provocada por alguma destas condições e, por isso, são denominadas crises sintomáticas. O EEG pode mostrar anormalidades, principalmente nas crianças com CF prolongadas ou repetidas, mas não tem valor prático, pois não define a probabilidade de recorrências, tanto febris quanto afebris. Exames de neuroimagem também não auxiliam no diagnóstico das CF, mas na criança com crises atípicas recorrentes, ou naquelas que apresentam sinais prévios de comprometimento do sistema nervoso, a ressonância magnética cerebral deve ser solicitada. TRATAMENTO Assim como em qualquer síndrome convulsiva a orientação sobre o quadro é fundamental. O tratamento da CF, na maioria das vezes, é limitado à fase aguda, quando estão indicados antitérmicos e medicação específica para a doença febril. Nos casos de crise prolongada, a criança deverá ser levada a um serviço de emergência. O tratamento anticonvulsivante com benzodiazepínicos (diazepam venoso ou retal, na dose de 0,3-0,5 mg/kg, midazolan ou lorazepan) é considerado na emergência para as crianças que apresentam crise convulsiva com duração superior a cinco minutos. As crises convulsivas provocadas por meningites, encefalites, distúrbios eletrolíticos, hipoglicemia ou intoxicação exógena não são consideradas crises febris. Sua ocorrência é provocada por alguma patologia citada acima. Nos casos caracterizados por crises febris recorrentes, principalmente quando associadas aos fatores de risco, pode-se utilizar a profilaxia intermitente, embora não haja consenso em relação a sua eficácia. Por sua ação rápida, os benzodiazepínicos são as drogas prescritas, especialmente o diazepam, por via retal, nas formas de supositório ou de solução, na dose de 0,5 mg/kg de peso, a cada 12 horas e por 2 dias consecutivos; o tratamento deve ser iniciado assim que a família perceber os sinais da doença febril destas condições e, por isso, são denominadas crises sintomáticas. A profilaxia contínua com anticonvulsivantes não é indicada, pois a crise febril é uma condição benigna e com resolução espontânea, e, por isso, não se justifica o emprego de medicações com tantos efeitos adversos como a redução da capacidade cognitiva e distúrbios comportamentais (agitação, sonolência, agressividade), além de hepatotoxicidade, principalmente em menores de dois anos. É importante deixar claro que o uso de antitérmicos reduz o mal-estar associado à febre, mas não impede a ocorrência da crise febril, até porque suspeita-se que mesma seja desencadeada durante a fase de ascensão ou queda da temperatura. FEBRE X HIPERTEMIA FEBRE Alteração do set point hipotalâmico. A febre é uma elevação da temperatura corporal que ultrapassa a variação diária normal e ocorre associada ao aumento do ponto de ajuste hipotalâmico, por exemplo, de 37ºC para 39ºC.6 Essa elevação ocorre em resposta a um sinal químico (pirógeno endógeno) lançado como parte da resposta inflamatória, com liberação de mediadores como a interleucina-1 e interleucina-6. A febre pode ser causada por infecções, atelectasia, doença tromboembólica e reações medicamentosas e acomete um terço dos pacientes hospitalizados. HIPETERMIA Set point hipotalâmico normal, porem o calor não pode ser dissipado ou está sendo mais produzido. 11 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza A hipertermia é o aumento da temperatura corporal devido a um desequilíbrio entre a produção e a dissipação de calor. A hipertermia diferencia-se do estado febril porque nela o limiar térmico hipotalâmico está preservado e o aumento da temperatura corporal ocorre por excesso de produção ou falência na dissipação de calor ou, ainda, por disfunção do centro termorregulador. É encontrada nos casos de doenças provocadas pelo calor como a internação, distúrbios neurológicos ou hipertermia maligna, muitas vezes com a temperatura corporal acima de 40ºC. O organismo humano não se adapta à hipertermia, assim, deve ser tratada como uma emergência clínica. HIPOTERMIA A hipotermia ocorre quando a perda de calor do corpo excede sua produção. Perda de consciência, imobilidade ou ambas (p. ex., trauma, hipoglicemia, convulsões, choque, intoxicação por álcool ou drogas) são fatores predisponentes comuns. O risco é maior para idosos e pessoas muito jovens: Idosos costumam ter diminuição da sensação térmica e comprometimento da mobilidade e comunicação e, assim, tendem a permanecer em um ambiente excessivamente frio. Tais danos associados à diminuição do tecido subcutâneo contribuem para causar hipotermia no idoso — às vezes dentro de casa, em quartos frios. Os muito jovens, têm similarmente mobilidade e comunicação diminuídas e maior relação da área superfície/massa, o que aumenta a perda de calor. A hipotermia torna lenta todas as funções fisiológicas, incluindo sistemas respiratório e cardiovascular, condução nervosa, acuidade mental, tempo de reação neuromuscular e taxa metabólica. A termorregulação cessa abaixo de aproximadamente 30°C; o corpo necessita de fonte externa de calor para se reaquecer. Disfunção de células renais e diminuição dos níveis de vasopressina(ADH) causam a produção de grandes volumes de urina diluída (diurese fria). Diurese e escoamento de líquidos nos tecidos intersticiais causam hipovolemia. Vasoconstrição, que ocorre com hipotermia, pode mascarar a hipovolemia, a qual se manifesta como choque súbito por parada cardíaca durante o reaquecimento (colapso do reaquecimento), quando os vasos periféricos se dilatam. A imersão em água fria pode desencadear o reflexo de mergulho, que envolve o reflexo vasoconstritor nos músculos viscerais, fazendo com que o sangue seja desviado para os órgãos essenciais (coração, cérebro). O reflexo é mais pronunciado em crianças pequenas e auxilia a protegê-las. Também, a hipotermia por imersão total em água próxima do congelamento pode proteger o cérebro contra hipoxia diminuindo a demanda metabólica. Esta diminuição provavelmente explica a sobrevivência ocasional após longa parada cardíaca por hipotermia extrema. Intensos calafrios ocorrem inicialmente, mas cessam abaixo de cerca de 31°C, permitindo que a temperatura corporal caia mais precipitadamente. A disfunção do sistema nervosos central (SNC) progride assim que a temperatura corporal diminui; as pessoas não sentem o frio. Letargia e inépcia são seguidas por confusão, irritabilidade, às vezes alucinações e, eventualmente, coma. As pupilas não reagem. Respiração e pulsação diminuem e, finalmente, cessam. No início, bradicardia sinusal é seguida por fibrilação atrial lenta; o ritmo final é fibrilação ventricular ou assistolia. Medida da temperatura retal Considerar intoxicação, mixedema, sepse, hipoglicemia e trauma. 12 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza ANTITÉRMICOS Os alvos e atuação dos AT são: Redução da produção e mediadores inflamatórios, como as citocinas ou aumento da produção local de moléculas anti-inflamatórias. Redução na produção de prostaglandina E2 através da inibição da ciclooxigenase, evitando assim que ela atue no centro termorregulador do hipotálamo, desencadeando as reações de produção de calor. Produção de antipiréticos naturais aumentada. Redução da adesão de células produtoras de prostaglandinas no foco inflamatório. A PGE2 é fundamental na produção da febre e é sintetizada a partir do ácido araquidônico, com a participação de duas isoformas da enzima ciclooxigenase, a COX1 e a COX2. A maioria dos AT age na síntese de prostaglaninas, inibindo a COX1 e COX2. O paracetamol é um fraco inibidor da COX1. A aspirina e outros AINES, além da diminuição da PGE2, diminuem a produção de PE e das citocinas mediadoras da inflamação e aumentam a produção de antipiréticos naturais. A dipirona também diminui a PGE2. Aspirina Além de sua ação antitérmica possui também ação antiinflamatória e analgésica. Dose – Para crianças a dose utilizada é de 50-75 mg/kg/dia, de 4/4 horas ou de 6/6 horas. Quando se pretender melhor ação antiinflamatória, recomenda-se a dose de 75-100 mg/kg/dia, de 6/6 horas. Para adultos a dose indicada é de 300-900 mg, de 4/4 horas ou de 6/6 horas. Reações Adversas – São descritas reações adversas importantes como úlcera gástrica, hemorragia digestiva e perfuração, quadros de anafilaxia, asma, rinite, urticária. A Síndrome de Reye, caracterizada por uma grave disfunção hepatocerebral, é uma entidade importante, com letalidade de aproximadamente 30%, observada em indivíduos acometidos por certas doenças virais agudas (varicela, influenza) e que recebiam aspirina. Na atualidade, raramente, a aspirina é utilizada para o combate à febre em crianças. Com a diminuição do seu uso, praticamente não mais se observa a Síndrome de Reye. Dipirona Trata-se de medicamento com potente ação antitérmica e analgésica, mas destituído de ação antiinflamatória. Dose: a dose indicada para crianças é de 10-12 mg/kg, o que equivale a 0,4-0,6 gota/kg, três a quatro vezes ao dia. Na prática tem- se observado que a dose usada é de uma gota por/kg, o que vale dizer, quase que o dobro da dose preconizada, o que constitui um erro grosseiro, com suas inevitáveis conseqüências. A dose para adultos é de 0,5-1g três vezes ao dia. Reações Adversas – tem sido referidas as seguintes: hipotensão, broncoespasmo, urticária, rash cutâneo, sonolência, cansaço, cefaléia, anafilaxia. A mais importante e temível reação adversa é a agranulocitose, de ocorrência rara, porém preocupante. Ibuprofeno O ibuprofeno é um antiinflamatório não hormonal que possui, além da ação antiinflamatória, ação antitérmica e analgésica. Foi liberado nos EUA para uso em crianças maiores de seis meses de idade. Doses – Para crianças a dose recomendada é de 5-10 mg/kg de 6/6 horas. Reações Adversas – Algumas reações importantes como úlcera gástrica, hemorragia digestiva e perfuração tem sido relatadas, sendo, entretanto, raras na criança. Outras reações são a inibição reversível da função plaquetária, anafilaxia, asma, necrose papilar renal levando ao quadro de nefrite analgésica, e falência renal. Paracetamol Dose – Para crianças a dose recomendada é de 10-15 mg/kg de 6/6 horas ou até de 4/4 horas, tomando-se o cuidado de não ultrapassar a dose de 75 mg/kg/dia. Para adultos a dose é de 1 comprimido (de 500mg ou de 750 mg) de 6/6 horas ou até de 4/4 horas, tendo-se em consideração que não se deve ultrapassar a dose total diária de 4 gramas. Quando indicada, a droga pode ser dada a recém-nascidos e às gestantes, sendo o medicamento o mais indicado nestas situações. Reações 13 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza Adversas – O paracetamol é considerado o antitérmico mais seguro, com pouquíssimos eventos adversos como erupções cutâneas, urticária, angioedema e anafilaxia. Outras precauções são as seguintes: não utilizar o paracetamol em pacientes com desidratação importante, desnutrição grave, jejum prolongado e em pacientes com hepatopatias crônicas. LOCAIS DE MEDIÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL A localização anatômica para adequada medição de temperatura é variável, sendo mais preciso em sítios anatômicos profundos, como a artéria pulmonar, esôfago e nasofaringe, mas com a desvantagem de ter uma dificuldade de acesso. Sítios anatômicos periféricos são os mais usados por seu fácil acesso, segurança e conforto, principalmente para crianças. A axila é um dos lugares mais usados para medição de temperatura. A temperatura axilar é insensível e várias vezes impreciso. O resfriamento da pele, suor e evaporação são os fatores que afetam precisão. A temperatura oral é confortável e seguro para crianças com mais de cinco anos, geralmente ser mais preciso do que axilar, mas pode ser visto afetado por líquidos consumidos e evaporação ao respirar pela boca. A temperatura retal tem sido considerada o padrão de ouro para medição indireta, porque não há fatores externos que modificam a medição, embora seja desconfortável para as crianças. Atualmente, a medição da temperatura na membrana timpânica, com o uso de termômetro infravermelho, tornou-se importante por sua velocidade. Temperatura timpânica está perto da temperatura corporal central porque o suprimento de sangue é semelhante à do hipotálamo. No entanto, esta medição tem limitações técnicas que colocam em questão a sua precisão; entre estes, está a dificuldade apontar o termômetro para a membrana timpânica, impactação de cerume ou otite média e quando o médico se esforça para posicionar corretamente o termômetro em bebês com menos de dois meses de idade. Recomendações para medir a temperatura: As vias oral e retal não devem ser usadas rotineiramente para medir a temperatura corpo em crianças de 0 a 5 anos. Em crianças com menos de 4 semanas de idade, a temperatura corporal deve ser medida com um termômetro digital na axila. Em crianças de 4 semanas a 5 anos de idade, a temperatura corporal deveser medida com um termômetro axila digital ou termômetro infravermelho timpânico. Axilar Método não invasivo; ideal para recém-nascidos; mais segura para crianças; mais fácil desinfecção; mais difundida em nosso meio. Medida menos acurada; demora mais tempo para ser feita a leitura; às vezes é difícil manter as crianças quietas por muito tempo; é difícil adaptar bem o termômetro na cavidade axilar; sofre variações de medida, na mesma axila, com maior frequência; sofre influência das secreções axilares fornecendo leituras menores que as reais; sofre mais influência da temperatura do meio ambiente e umidade relativa do ar, estando sujeita a flutuações muito mais intensas. Bucal Fácil acesso; mais fidedigna porque possui rico suprimento sanguíneo; está próxima aos grandes vasos e a corrente sanguínea reflete a temperatura das áreas centrais do corpo. Desinfecção mais difícil; pode ser afetada por inúmeros variáveis: fumos, ingestão de líquidos quentes ou frios, goma de mascar, embora em pacientes afebris o fumo e a goma de mascar não determinem diferenças significativas; não deve ser usada se o cliente está recebendo oxigenoterapia contínua, nesses casos há um resfriamento do organismo, com queda, inclusive da temperatura retal, mas há pesquisas que demonstram não haver diferenças dos registros das temperaturas orais sem administração de 02(2); não deve ser usada quando traz risco ao paciente, quando este tem alguma impossibilidade ou quando corre o risco de danificar o termômetro. Ex.: crianças pequenas; doentes mentais; pacientes confusos ou inconscientes; com pós-operatório de cirurgia oral, com trauma de face ou boca, com dor de cavidade oral; clientes com história de convulsão ou que respiram somente com a boca aberta; a temperatura é menor se o paciente falar ou respirar pela boca; na nossa cultura não é o mais aceitável nem é considerado confortável; após alimentação ou fumo deve-se aguardar aproximadamente 20' para verificação. 14 Febre, Inflamação e Infecção Hanna Briza Retal É também considerada uma medida de temperatura próxima à temperatura central porque existem poucos fatores que interferem em sua medida. Isto se deve ao fato da temperatura retal não acompanhar tão rapidamente as mudanças da temperatura arterial (como na temperatura sublingual), por representar a quantidade de calor das vísceras abdominais e pélvicas profundas. O fluxo sanguíneo nas veias e artérias adjacentes a esta região é relativamente constante. Sendo assim a temperatura retal é mais representativa de uma região específica e não de uma somatória de todas as áreas do corpo. Em crianças é difícil mantê-las quietas por muito tempo; não se utiliza em recém- nascidos pelo risco de ferir a mucosa retal; não se usa em pacientes com cirurgia retal ou afecções anorretais (tumor, hemorroidas, diarreia); não se usa em pacientes que não podem se posicionar para a introdução do termômetro (pacientes em tração, por ex.); é um procedimento mais contaminado porque tem microrganismos próprios da região; necessita ambiente privativo; é psicologicamente mais agressivo; acarreta problemas de ordem cultural; há variações de 0,1 a 0,9°C dependendo da posição do instrumento de registro. Timpânica (e não auricular) A temperatura é medida em poucos segundos e de forma higiénica pelo uso de pontas descartáveis, o que lhes confere vantagem em serviços de triagem pediátrica. Para uma leitura correta, a detecção da radiação infravermelha deve ser a da membrana timpânica, que é irrigada por arteríolas das artérias timpânicas, que são ramos das artérias carótidas externas e internas, traduzindo uma temperatura central. Se a radiação detectada for proveniente do canal auditivo externo (que não está dependente da temperatura das artérias carótidas, e que tem temperaturas variáveis e significativamente mais baixas que as timpânicas), serão obtidas temperaturas periféricas (auriculares) e não temperaturas centrais (timpânicas). Pela elevada percentagem de medições imprecisas e com até 30% de falsos negativos, é desaconselhada a sua utilização em crianças com menos de 3 anos de idade. Contribuem para esta elevada percentagem de imprecisão, a incorreta orientação da sonda do termómetro (por desconhecimento), razões anatómica (canal auditivo estreito), presença de cerúmen ou inflamação no ouvido médio (otite média).
Compartilhar