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1 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV OBJETIVOS 1. Descrever a termorregulação corporal 2. Diferenciar febre de hipertermia 3. Analisar a Febre (fisiopatologia, tipos, classificação, mecanismos, mediadores, causas e conduta, malefícios e benefícios) 4. Discutir sobre farmacocinética e farmacodinâmica dos antitérmicos 5. Discutir sobre convulsão febril 6. Discutir sobre a febre de origem indeterminada REFERÊNCIAS • Tratado de Fisiologia médica – Guyton -13° ed • Semiologia Médica – Porto – 7ª Edição • Clínica médica (USP) – Volume 1 • Tratado de Pediatria– Sociedade Brasileira de Pediatria – 4ª ed. • As bases farmacológicas da Terapêutica- Goodman & Gilman -12ª ed • VOLTARELLI Júlio C.. Febre e inflamação. 1994 INTRODUÇÃO PRODUÇÃO DE CALOR É um dos principais produtos finais do metabolismo. Os fatores envolvidos mais importantes são listados aqui: (1) metabolismo basal de todas as células do corpo; (2) metabolismo causada pela atividade muscular (3) metabolismo causado pelo efeito da tiroxina sobre as células; (4) metabolismo causado pelo efeito da epinefrina, norepinefrina e pela estimulação simpática sobre as células; (5) metabolismo provocado pelo aumento da atividade química das células, em especial, quando a temperatura da célula se eleva; (6) metabolismo necessário para digestão, absorção e armazenagem de alimentos (efeito termogênico dos alimentos). PERDA DE CALOR: Grande parte do calor é produzido nos órgãos profundos (fígado, cérebro, coração, músculos esqueléticos) e depois, esse calor é transferido para a pele, onde é perdido para o ar e para o meio ambiente. Órgãos profundos > Pele > Ar/meio ambiente Papel do sistema de isolamento do corpo Sistema de isolamento do corpo = Pele + tecidos subcutâneos + tecido adiposo O isolamento debaixo da pele é eficiente para manter a temperatura central normal, mesmo que a temperatura da pele se aproxime da temperatura do meio ambiente. O tecido adiposo é importante, porque conduz apenas um terço do calor conduzido pelos outros tecidos. Papel do fluxo sanguíneo A pele é um sistema de radiação de calor controlado, e o fluxo sanguíneo da pele é que constitui esse controle. Alta velocidade do fluxo sanguíneo na pele = calor conduzido do centro do corpo para a pele com grande eficiência Redução da velocidade do fluxo para a pele = diminui a condução do calor do centro do corpo para a pele FEBRE E HIPERTERMIA Problema 2: 2 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Obs: Nas áreas mais expostas do corpo – mãos, pés e orelhas – o sangue é suprido por anastomoses arteriovenosas Papel do sistema nervoso simpático A condução de calor para a pele pelo sangue é controlada pelo grau de vasoconstrição das arteríolas e das anastomoses arteriovenosas que suprem sangue para os plexos venosos da pele. Vasoconstrição é controlada quase completamente pelo sistema nervoso simpático, em resposta às alterações da temperatura central do corpo e alterações da temperatura ambiente. Como o calor é perdido da pele para o meio ambiente? Irradiação • 60% da perda total • Se dá na forma de raios de calor infravermelhos • O corpo humano irradia tais raios em todas as direções • Temp. do corpo > temp. do ambiente = maior quantidade de calor é irradiada DO corpo do que é irradiada PARA o corpo Condução • Condução para objetos sólidos = 3% da perda total • Condução para o ar = 15% da perda total Obs: Assim que a temperatura do ar adjacente à pele se iguala à temperatura da pele, não ocorre mais perda de calor por esse mecanismo, pois agora a quantidade igual de calor é conduzida do ar para o corpo. A condução de calor do corpo para o ar é autolimitada, a menos que o ar aquecido se mova para longe da pele, de modo que novo ar não aquecido seja continuamente trazido para o contato com a pele, fenômeno denominado convecção do ar. Convecção • O calor deve primeiro ser conduzido para o ar e depois removido pela convecção das correntes de ar • Corpo é exposto ao vento = camada de ar próxima à pele é substituída por ar novo = perda de calor por convecção aumenta • a velocidade de perda de calor para a água é muito maior do que para o ar Evaporação • 22% da perda total • Mesmo quando a pessoa não está suando, a água ainda se evapora insensivelmente a partir da pele e dos pulmões (é constante) • A perda de calor por evaporação de SUOR pode ser controlada pelo propósito de regulação de temperatura • Quando a temperatura da pele é menor que a do ambiente, há ganho de calor e, dessa forma, o único meio do corpo perder calor é pela evaporação TEMPERATURA CENTRAL NORMAL • Temperatura axilar: 35,5 a 37°C, com média de 36 a 36,5°C • Temperatura bucal: 36 a 37,4°C • Temperatura retal: 36 a 3 7 ,5°C, ou seja, 0,5°C maior que a axilar. A temperatura corporal se eleva durante o exercício e varia com as temperaturas extremas do ambiente, porque os mecanismos regulatórios da temperatura não são perfeitos. Quando calor excessivo é produzido no corpo pelo exercício vigoroso, a temperatura pode se elevar, temporariamente para até 38,3 a 40°C. De forma inversa, quando o corpo é exposto a frio extremo, a temperatura, em geral, pode cair até valores abaixo de 36,6°C. 3 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV TERMORREGULAÇÃO CORPORAL A temperatura do corpo é regulada por mecanismos de feedback neurais que operam por meio de centros regulatórios da temperatura, localizados no hipotálamo. Para que esses mecanismos de feedback operem, deve haver detectores de temperatura para determinar quando a temperatura do corpo está muito alta ou muito baixa. Área hipotalâmica anterior pré-óptica A área hipotalâmica anterior pré-óptica possui vários neurônios sensíveis ao calor e ao frio, mas principalmente ao calor, que atuam como sensores de temperatura para o controle da temperatura corporal. Quando a área pré-óptica é aquecida: - A pele de todo o corpo imediatamente produz sudorese profusa - Os vasos sanguíneos da pele de todo o corpo ficam muito dilatados - Qualquer excesso de produção de calor é inibido Essa reação imediata causa perda de calor, ajudando a temperatura corporal a retornar aos valores normais. Receptores da pele • São mais sensíveis ao frio • São expostos à temperatura da superfície corporal Quando a pele é resfriada: -Há geração de forte estímulo para causar calafrios com aumento resultante da produção de calor corporal - Há inibição da sudorese, se ela estiver ocorrendo - Há vasoconstrição da pele para diminuir a perda de calor corporal pela pele Receptores profundos • São encontrados principalmente na medula espinhal, nas vísceras abdominais e nas grandes veias na região superior do abdome e do tórax • São expostos à temperatura central do corpo • São mais sensíveis ao frio Hipotálamo posterior • Os receptores estimulam o hipotálamo posterior ao nível dos corpos mamilares • Os sinais sensoriais da temperatura da área pré- óptica do hipotálamo anterior também são transmitidos para o hipotálamo posterior. • A partir disso, os sinais da área pré-óptica e de outros receptores do corpo são combinados e integrados para controlar a produção e conservação de calor do corpo Mecanismos do sistema de controle da temperatura TEMPERATURA ELEVADA TEMPERATURA REDUZIDA Vasodilatação dos vasos sanguíneos cutâneos (inibição dos centros simpáticos no hipotálamo posterior que causam vasoconstrição) Vasoconstrição dos vasos sanguíneos cutâneos (estimulação dos centros simpáticos no hipotálamoposterior que causam vasoconstrição) Sudorese Piloereção (estimulação simpática) Diminuição da produção de calor (inibição de calafrios e termogênese química) Aumento da produção de calor (promoção de calafrios, secreção de tiroxina, excitação simpática) 4 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV FEBRE X HIPERTERMIA O set point hipotalâmico nada mais é que o termostato do organismo. A informação sobre o valor adequado da temperatura do organismo é definida pelo hipotálamo. Quando há uma elevação hipotalâmica da prostaglandina E2, o hipotálamo assume como normal uma temperatura maior e consequentemente, o corpo ativa mecanismos para elevar a temperatura do corpo. FEBRE Alteração do set point hipotalâmico = elevação da temperatura do termostato hipotalâmico e consequentemente do corpo. Com outras palavras, a febre é uma elevação da temperatura corporal que ultrapassa a variação diária normal e ocorre associada ao aumento do ponto de ajuste hipotalâmico. Essa elevação ocorre em resposta à produtos da degradação das proteínas e algumas outras substâncias liberadas por bactérias ou por tecidos corporais em degeneração, chamadas pirogênios, que atuam estimulando a liberação de citocinas (IL-1 e TNF) pelos leucócitos que aumentam a síntese de prostaglandina no hipotálamo, desencadeando o processo febril. HIPERTERMIA Set point hipotalâmico normal = aumento da temperatura corporal sem elevação da temperatura do termostato hipotalâmico. A hipertermia é o aumento da temperatura corporal devido a um desequilíbrio entre a produção e a dissipação de calor. A hipertermia diferencia-se do estado febril porque nela o limiar térmico hipotalâmico está preservado e o aumento da temperatura corporal ocorre por excesso de produção (atividade física, aumento do metabolismo basal) ou dificuldade na eliminação de calor (uso de medicações ou excesso de roupas). É encontrada nos casos de doenças provocadas pelo calor como a intermação, distúrbios neurológicos ou hipertermia maligna, muitas vezes com a temperatura corporal acima de 40ºC. Obs: O organismo humano não se adapta à hipertermia, assim, deve ser tratada como uma emergência clínica FEBRE CONCEITO: Significa temperatura corporal acima da faixa da normalidade. Pode ser causada por transtornos no próprio cérebro ou por substâncias tóxicas que influenciam os centros termorreguladores. Obs: A febre não é apenas um sinal, constituindo, na verdade, parte de uma síndrome (síndrome febril) na qual, além de elevação da temperatura, ocorrem vários outros sintomas e sinais destacando-se astenia, inapetência, cefaleia, taquicardia, taquipneia, taquisfigmia, oligúria, dor no corpo, calafrios, sudorese, náuseas, vômitos, delírio, confusão mental e até convulsões, principalmente em recém-nascidos e crianças CAUSAS: As doenças causadoras de febre podem ser divididas em três tipos: • Aumento da produção de calor: hipertireoidismo (atividade aumentada da glândula tireoide) •Bloqueio na perda de calor: insuficiência cardíaca congestiva, ausência congênita das glândulas sudoríparas (produtoras de suor) e em certas doenças da pele (p. ex., ictiose) • Lesão dos tecidos: maioria das doenças febris, ou seja: - Todas as infecções por bactérias, riquétsias, vírus e outros parasitos -Lesões mecânicas, como nos processos cirúrgicos e nos esmagamentos - Neoplasias malignas - Doenças hemolinfopoéticas -Afecções vasculares, incluindo infarto do miocárdio, hemorragia ou trombose cerebral e trombose venosa -Distúrbios dos mecanismos imunitários ou doenças imunológicas: colagenoses, doença do soro e febre resultante da ação de medicamentos 5 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV - Doenças do sistema nervoso central. FISIOPATOLOGIA A regulação da temperatura corporal requer um equilíbrio entre produção e perda de calor, cabendo ao hipotálamo regular o nível em que a temperatura deve ser mantida. Quando o ponto de ajuste do centro de regulação hipotalâmico da temperatura se eleva acima do normal, todos os mecanismos para a elevação da temperatura corporal começam a atuar, incluindo a conservação de calor e o aumento da produção de calor. Pirogênios são produtos da degradação das proteínas e algumas outras substâncias liberadas por bactérias ou por tecidos corporais em degeneração, que podem provocar elevação do ponto de ajuste do termostato hipotalâmico. Esses pirogênios atuam estimulando a liberação de citocinas (IL-1, TNF, IFN e IL-6) que, ao atingirem a circulação, estimulam a produção de prostaglandina E2 em macrófagos e células endoteliais próximas ao hipotálamo. A prostaglandina E2, chega então ao hipotálamo e estimula a produção de AMP cíclico, que aumenta o limiar de temperatura e leva a respostas metabólicas de conservação de calor, induzindo a febre. Quando a formação de prostaglandinas é bloqueada por fármacos, a febre pode ser abortada ou diminuída. CARACTERÍSTICAS DA FEBRE Calafrios: quando o ponto de ajuste do centro de controle de temperatura no hipotálamo é subitamente alterado para um nível mais alto, a temperatura do sangue fica menor do que o ponto de ajuste do controlador hipotalâmico. Durante esse período, a pessoa sente calafrios e frio intenso. Além disso, a pele fica fria devido à vasoconstrição e a pessoa treme. Os calafrios continuam até que a temperatura corporal chegue ao ponto de ajuste hipotalâmico. Rubor/crise: se o fator que está causando a alta da temperatura for removido, o ponto de ajuste do controlador da temperatura hipotalâmico será reduzido para valor mais baixo, causando sudorese intensa, vasodilatação generalizada. *Significa que a pessoa está melhorando Intermação: temperatura corporal se eleva entre 40,5°C e 42,2°C com sintomas (desorientação, desconforto abdominal, vômitos, delírios). Esses sintomas são exacerbados pela excessiva perda de líquidos e eletrólitos pelo suor. Tratamento imediato: resfriamento com banho gelado, resfriamento da pele com borrifadas de água gelada EFEITOS DA FEBRE Nas neoplasias malignas, a temperatura elevada apenas acelera a perda de peso e causa mal- estar. Da mesma maneira, a febre que acompanha o infarto do miocárdio aumenta a velocidade do metabolismo, acarretando, assim, uma sobrecarga ao miocárdio enfraquecido. MALEFÍCIOS DA FEBRE BENEFÍCIOS DA FEBRE Albuminúria Aumento de anticorpos Convulsão febril Mais leucócitos são produzidos para ajudar a combater os invasores Delirium Mais IFN é produzido, o que ajuda a bloquear a propagação de vírus para células saudáveis Maior demanda metabólica Redução do ferro sérico, que tem efeito inibidor para bactérias Elevação da atividade cardíaca O aumento da temperatura mata diretamente micróbios 6 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Desidratação e distúrbios eletrolíticos Melhor capacidade de certos leucócitos de destruir bactérias e células infectadas Pode ser teratogênica nos primeiros 3 meses de gestação Prejudica a replicação de muitas bactérias e vírus CLASSIFICAÇÕES Devem ser analisadas as seguintes características semiológicas da febre: • Início • Intensidade • Duração • Modo de evolução • Término Início • Súbito: de um momento para outro há elevação da temperatura. Nesse caso, a febre se acompanha quase sempre dos sinais e sintomas que compõem a síndrome febril. É frequente a sensação de calafrios nos primeiros momentos da hipertermia. Gradual: a febre pode instalar-se de maneira gradual e o paciente nem perceber seu início. Em algumas ocasiões, predomina um ou outro sintoma da síndromefebril, prevalecendo a cefaleia, a sudorese e a inapetência. Conhecer o modo de início da febre tem utilidade prática. Em algumas afecções, a instalação é súbita, enquanto, em outras, é gradual, levando dias ou semanas para caracterizar-se o quadro febril. Intensidade Aplica-se a seguinte classificação, tomando por referência o nível da temperatura axilar: • Febre leve ou febrícula: até 37,5°C • Febre moderada: de 37,6° a 38,5°C • Febre alta ou elevada: acima de 38,6°C. A intensidade da febre depende da causa e da capacidade de reação do organismo. Duração Febre prolongada: ela é usada quando a febre permanece por mais de 1 semana, tenha ou não caráter contínuo (tuberculose, septicemia, malária, endocardite infecciosa, febre tifoide, colagenoses, linfomas, pielonefrite, brucelose e esquistossomose) Modo de evolução O registro da temperatura em uma tabela, dividida no mínimo em dias, subdivididos em 4 ou 6 horários, compõe o que se chama gráfico ou quadro térmico, elemento indispensável para se estabelecer o tipo de evolução da febre. Classicamente descrevem-se os seguintes tipos evolutivos de febre: • Febre contínua: permanece sempre acima do normal com variações de até 1 °C e sem grandes oscilações (febre tifoide, endocardite infecciosa e pneumonia) • Febre irregular ou séptica: picos muito altos intercalados por temperaturas baixas ou com ausência de febre (septicemia, abscessos pulmonares, empiema vesicular, na tuberculose e na fase inicial da malária) • Febre remitente: há hipertermia diária, com variações de mais de 1 °C e sem períodos de ausência de febre. (septicemia, pneumonia, tuberculose) • Febre intermitente: nesse tipo, a hipertermia é ciclicamente interrompida por um período de temperatura normal; Pode ser: -Cotidiana: registra-se febre pela manhã, mas esta não aparece à tarde -Terçã: um dia com febre e outro sem -Quartã: um dia com febre e dois sem • Febre recorrente ou ondulante: caracteriza-se por período de temperatura normal que dura dias ou semanas até que sejam interrompidos por períodos de temperatura elevada. Durante a fase de febre não há grandes oscilações; por exemplo: brucelose, doença de Hodgkin e outros linfomas 7 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Término É clássico conceituar o término da febre em: • Crise: quando a febre desaparece subitamente. Neste caso costumam ocorrer sudorese profusa e prostração. •Lise: significa que a hipertermia vai desaparecendo gradualmente, com a temperatura diminuindo dia a dia, até alcançar níveis normais. FEBRE DE ORIGEM INDETERMINADA CONCEITO É a presença de temperatura axilar maior que 38,3º em várias ocasiões > 3 semanas, sem se descobrir a causa após 3 dias de avaliação no hospital ou ≥ 3 consultas ambulatoriais. CATEGORIAS Atualmente há quatro categorias para uma FOI: clássica, nosocomial, imunodeficiência e relacionada à aids. Nessas categorias, há quatro subgrupos: infecções, neoplasias malignas, autoimunidade e miscelânea. ETIOLOGIAS Inflamações/doenças do colágeno Doenças do tecido conjuntivo são responsáveis por 22% das causas de FOI. Doença de Still do adulto e arterite de células gigantes são as principais causas, mas outras doenças reumáticas como poliarterite nodosa e arterite de Takayasu também podem se apresentar como FOI. Infecções Das infecções, que representam 16% do diagnóstico de FOI, a tuberculose se sobressai entre os casos, principalmente nas formas extrapulmonar e miliar. Outras etiologias infecciosas relacionas à FOI são abcessos abdominais e pélvicos, osteomielite e endocardite bacteriana. Neoplasias malignas As neoplasias malignas representam 7% das causas de FOI. As mais frequentes são as do sistema mononuclear fagocitário, como linfomas e leucemias. Carcinoma de células renais e carcinoma hepatocelular também podem levar a FOI. Miscelânea A miscelânea é responsável por 4% do total de casos de FOI e envolve outras doenças que não se encaixam nos grupos anteriores. Outras Causas A FOI pode se apresentar como efeito colateral do uso de medicações, as principais classes de remédios que apresentam esse sintoma são antibióticos, anti-histamínicos, antiepilépticos, anti- inflamatórios não esteroidais, anti-hipertensivos, antiarrítmicos e drogas antitireoidianas. Febre factícia: ocorre quando o paciente manipula o termômetro para simular febre ou quando utiliza de procedimentos para se autoprovocar febre como injeção de material contaminado ou toxinas. Problemas psíquicos, ganhos com doença e outras características devem ser cuidadosamente examinados. 8 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV Alterações de pele, como ictiose, ou mesmo condições genéticas de alterações de glândulas sudoríparas alteram a dissipação do calor, originando grandes hipertermias. CONVULSÃO FEBRIL CONCEITO A convulsão febril é uma crise convulsiva benigna decorrente de doença febril, cuja causa não é infecção do SNC ou alteração metabólica e a criança acometida não possui histórico de crises neonatais ou crises convulsivas na ausência de febre. Acomete crianças entre 6 meses e 5 anos de idade, tendo como pico de incidência em torno de 14-18 meses. Usualmente, a criança possui história familiar positiva para crises convulsivas febris. FISIOPATOLOGIA Existem dois fatores implicados na fisiopatologia da convulsão febril: a imaturidade do SNC da criança e a hereditariedade. Imaturidade do SNC: crianças abaixo de 5 anos possuem um cérebro “imaturo”, sem desenvolvimento completo, sendo mais susceptíveis por esse motivo para a ocorrência de convulsão durante episódios febris. A condição de imaturidade do cérebro, a falta de mielina, a diferença de permeabilidade celular e a atividade elétrica do cérebro da criança são algumas das razões que tornam as crianças mais susceptíveis a convulsões febris do que os adultos. Hereditariedade: crianças com pais ou irmãos que têm histórico médico de convulsão febril durante a infância possuem 4 vezes mais chance de desenvolvê-la. Entre as crianças que cursam com convulsão febril, 10 a 20% dos pais e/ou irmãos também a tiveram ou terão. QUADRO CLÍNICO A convulsão febril possui dois modos de apresentação clínica, a convulsão febril simples e a convulsão febril complexa. Convulsão febril simples: Trata-se de uma crise convulsiva, em geral tônico-clônica generalizada, com duração de menos de 15 minutos. Por ser uma crise rápida, a criança normalmente chega ao PA no período pós-ictal, apresentando- se com uma sonolência breve, sem déficit neurológico focal associado. Em geral, a convulsão febril simples ocorre no começo da doença febril aguda, não recorrendo durante a doença. Convulsão febril complexa ou atípica: Nesse caso, há uma crise convulsiva focal, não generalizada. Pode ser representada, por exemplo, por uma crise de ausência. Além disso, usualmente se apresenta como uma crise que dura mais de 15 minutos, e possui um período pós-ictal prolongado, podendo até apresentar déficits focais. Por fim, pode-se apresentar como crises repetidas em um período de 24 horas ou crises que recorrem durante a mesma doença febril. DIAGNÓSTICO Como a maior parte são convulsões febris simples, a maioria das crianças chega ao pronto atendimento já no período pós-ictal. Portanto, deve-se realizar uma anamnese bem detalhada. • O padrão da crise: Generalizada ou focal. • Cronologia da crise: Duração do episódio, horário em que ocorreu. • Liberação esfincteriana. • Antecedentes pessoais: Intercorrências gestacionais e/ou neonatais, doenças sistêmicas previamente diagnosticadas, uso de drogas outraumas. • Antecedentes familiares: Deve-se buscar histórico familiar de convulsão febril, principalmente entre parentes de 1º grau Ao exame físico, deve-se buscar ativamente o foco da febre, de forma a identificar a causa subjacente à ocorrência da convulsão. 9 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV É importante a avaliação do SNC, para afastar infecções desse sistema como a causa-base da convulsão, examinando atentamente as fontanelas (observar se há abaulamento), ou a nuca (verificando se há rigidez), sinais clássicos de irritação meníngea na criança. Exames complementares Com relação ao diagnóstico laboratorial, não são recomendados exames laboratoriais para crise febril simples; no caso de crises complexas, realizar se não for identificado o foco da febre. Punção lombar • Crianças abaixo de 12 meses após a primeira CF, nas quais as manifestações de infecção do SNC podem não estar presentes. • Crianças entre 12 e 18 meses de vida, nas quais estas manifestações podem ser incertas. • Em crianças acima de 18 meses com primeiro episódio de CF a punção lombar não deve ser realizada rotineiramente, mas sim mediante a observação clínica de sinais e sintomas sugestivos de infecção central. Exames de Neuroimagem Os exames de neuroimagem só deverão ser solicitados se houver suspeita de doença neurológica. Suspeita-se de doença neurológica quando: -A crise é focal ou com achados focais no período pós-ictal. Por exemplo, na Paralisia de Todd. -Alteração do nível de consciência mantida. -Presença de micro ou macrocefalia ao exame físico. -Presença de doença neurocutânea, como a neurofibromatose e a esclerose tuberosa, por exemplo. -Presença de déficits neurológicos pré-existentes TRATAMENTO A crise convulsiva é uma emergência. Portanto, caso a criança chegue ao pronto atendimento durante a crise, deve-se realizar o tratamento específico para a crise convulsiva. Deve-se admitir a criança em sala de emergência para que seja realizado o atendimento inicial, sendo ele: • Garantir a viabilidade da via aérea; • Fornecimento de O2 em alto fluxo, podendo ser realizado através da máscara não-reinalante; • Monitorização, para avaliação dos parâmetros vitais; • Acesso endovenoso periférico • Realizar Hemoglicoteste (HGT) Caso após as medidas iniciais a crise convulsiva se mantenha, deve ser instituído o tratamento específico. Inicia-se com o tratamento de primeira linha, utilizado até 3 vezes enquanto durar a crise, seguindo para o tratamento de segunda linha. Caso a criança não responda ao tratamento instituído na segunda linha, considera-se o quadro como um Estado de Mal epiléptico refratário. 1. Primeira linha: Benzodiazepínicos (Diazepam ou Midazolam), podendo ser utilizados até 03 vezes enquanto a crise permanecer. 2. Segunda linha: Fenitoína ou Fenobarbital ou Ácido Valproico Obs: Em relação ao uso de antitérmicos, por mais precoce e eficaz que seja, não previne a recorrência das crises. ANTITÉRMICOS A Prostaglandina E2 é fundamental na produção da febre e é sintetizada a partir do ácido araquidônico, com a participação de duas ida enzima ciclooxigenase, (COX 1 e a COX2). A maioria das drogas antitérmicas são inibidoras da enzima cicloxigenase, bloqueando a produção de prostaglandinas no hipotálamo e interrompendo a cadeia metabólica que leva à resposta febril. 10 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV As três drogas antipiréticas consideradas efetivas e igualmente seguras são o acetaminofeno (ou paracetamol), a dipirona (ou metamizol) e o ibuprofeno. Aspirina (AAS) É utilizado principalmente como antiagregante plaquetário no tratamento ou na profilaxia do infarto agudo do miocárdio e de outros eventos tromboembóliticos, já que, inibe a forma irreversível a COX-1 plaquetária, inibindo sua agregação. Paracetamol (Acetaminofeno) Tem o efeito de inibir a síntese das prostaglandinas no SNC, resultando em suas ações antipiréticas e analgésicas. Tem pouco efeito sobre as COX em tecido periférico, o que contribui para pouca atividade anti-inflamatória. Tem efeito muito fraco sobre as plaquetas, sendo uma opção em pacientes com alteração de coagulação Efeitos Adversos: incluem reações de hipersensibilidade, que geralmente são de natureza eritematosa ou urticariforme, pode ocorrer o surgimento de leucopenia e pancitopenia transitórias. Ibuprofeno Eficaz como analgésico e como antipirético. Efeitos adversos: os mais comuns são do trato GI, como dispepsia ou até sangramento; efeitos no SNC, como cefaleia, zumbidos e tontura Dipirona é utilizado principalmente como analgésico e antipirético. Contraindicação: Hipersensibilidade prévia, como agranulocitose ou anafilaxia, ao metamizol, porfiria aguda, hematopoiese prejudicada, como devido ao tratamento com agentes quimioterápicos, terceiro trimestre de gravidez, lactação, crianças com massa corporal abaixo de 16 kg e história de asma induzida por aspirina.
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