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A RESSIGNIFICAÇÃO DO ENVELHECIMENTO UNIASSELVI-PÓS Autoria: Paula Maria Loiola de Souza Indaial - 2021 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jairo Martins Jóice Gadotti Consatti Marcio Kisner Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S729a Souza, Paula Maria Loiola de A ressignificação do envelhecimento. / Paula Maria Loiola de Souza. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 130 p.; il. ISBN 978-65-5646-184-7 ISBN Digital 978-65-5646-180-9 1. Envelhecimento. - Brasil. 2. Serviço social. – Brasil. II. Centro Uni- versitário Leonardo da Vinci. CDD 361 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Envelhecimento Populacional no Brasil e no Mundo ............7 CAPÍTULO 2 Reflexões Sobre Envelhecimento ...........................................45 CAPÍTULO 3 A Aposentadoria e a (RE)Inserção do Idoso no Mercado de Trabalho ................................................................87 APRESENTAÇÃO Alguns países desenvolvidos já convivem há muito tempo com um grande contingente de idosos e com todos os problemas associados ao envelhecimento, como a aposentadoria e as doenças próprias da terceira idade. Nessa primeira sessão será abordado o crescimento da população idosa no Brasil que ocorre de forma radical e bastante acelerada, com um acréscimo de 650 mil novos idosos a cada ano. Sendo assim, o Brasil passa a ser um país de longevos com um quadro de enfermidades complexas e onerosas, caracterizado por doenças crônicas e múltiplas que perduram por anos, e com limitações funcionais que exigem cuidados constantes, medicação contínua e exames periódicos (VERAS, 2009). Estudos definem “envelhecimento da população ou envelhecimento demográfico como o acúmulo progressivo de maiores contingentes populacionais nas faixas etárias mais avançadas”. A análise demográfica aponta alguns fatores envolvidos nesse processo: queda das taxas de fecundidade e natalidade atreladas à queda da mortalidade geral e da mortalidade infantil, com o consequente aumento da expectativa de vida. A compreensão dos processos de transição demográfica e epidemiológica é necessária para o entendimento do processo de envelhecimento populacional e suas implicações na atenção à saúde do idoso (CRUZ et al., 2010). Serão destacadas também as questões sociais, que são importantes no processo de envelhecimento. A velhice, como questão social, surge a partir das sociedades modernas e industrializadas. O idoso é exposto a uma série de fatores sociais, na medida em que se confronta com sentimentos de inutilidade, de esvaziamento, de marginalização e de morte social. Muitas vezes, sente-se destituído de um papel que era concebido como importante no núcleo familiar, com o qual identificava o seu lugar na família. Dessa forma, essa mudança é vivida como uma fase repleta de penalidades favorecendo todos os sentimentos negativos (AGOSTINHO, 2004). Em geral, o idoso vive em isolamento e com poucas oportunidades de relacionamento. As propostas em programas de exercícios físicos realizadas em grupo fazem com que o idoso volte a se socializar, também melhora a qualidade de vida e preserva sua autonomia por mais tempo. Na aposentadoria, os idosos tendem a diminuir o convívio social, os relacionamentos interpessoais e a troca de experiências, antes possibilitadas pelo trabalho. Agora são substituídos pelo isolamento e a ociosidade, levando a fase da velhice a ser marcada por sentimentos de inutilidade produtiva (KUNZLER, 2009). A violência tem sido, entre outros, um dos problemas mais desafiadores para a sociedade no que se refere ao idoso. O comportamento negativo diante da velhice não é um fenômeno que ocorre só no Brasil, em muitas sociedades ocorrem diversas expressões dessa violência por valores construídos socialmente e sustentados pela tradição. A violência é o tipo de crime mais trágico praticado contra o idoso (SILVA, 2007). Todos esses fatos relacionados ao processo de envelhecimento serão melhor desenvolvidos nos capítulos a seguir. CAPÍTULO 1 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Conhecer o processo de envelhecimento populacional e seus refl exos na saúde e na questão de gênero. • Estimular o idoso a se envolver em atividades que melhorem a saúde e a qualidade de vida, para que ele seja capaz de enfrentar novos desafi os. 8 A RessiGnificação do Envelhecimento 9 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste capítulo, vamos abordar o envelhecimento populacional no Brasil e no mundo, defi nindo o processo de envelhecimento, questão de gênero, qualidade de vida e a saúde do idoso. Essas são questões importantes que estão relacionadas a nova fase de desafi os da pessoa idosa. Com relação a nova demografi a brasileira, algumas mudanças importantes ocorreram nas últimas décadas, como a inversão da pirâmide etária com um maior número de idosos e a queda da taxa de fecundidade. Outro aspecto importante a ser considerado é a grande quantidade de pessoas alcançando as idades mais avançadas, porém com pouca qualidade de vida. Portanto, serão apresentadas aqui sugestões de projetos com intuito de promover atenção à pessoa idosa e, com isso, favorecer mais autonomia e independência para uma vida mais saudável. Por fi m, considerando o fato de que com o envelhecimento surgem novas doenças e limitações, serão descritos neste capítulo dois tipos de exercícios, muito usados em pesquisas científi cas, para esclarecer a importância de cada um deles e sua utilização dependendo da condição de saúde de cada pessoa e com objetivos distintos. 2 O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E A NOVA REALIDADE EPIDEMIOLÓGICA E DEMOGRÁFICA A velocidade com que ocorre o envelhecimento da população mundial não é assunto novo. Alguns países desenvolvidos já convivem há muito tempo com um grande contingente de idosos e com todos os problemas associados ao envelhecimento, como as doenças próprias da terceira idade. Isso tem como consequência altos custos para o Estado, e, portanto, requer políticas sérias e consistentes (SOUZA, 2006). Na década de 1970, teve início uma transformação demográfi ca no Brasil: passou de uma sociedade majoritariamente rural e tradicional, com famílias numerosas, para uma sociedade principalmente urbana, com menos fi lhos e uma nova estrutura. A mudança demográfi ca inicia com a redução das taxas de 10 A RessiGnificação do Envelhecimento mortalidade e, depois de um tempo, com a queda nas taxas de fecundidade, alterando dessa maneira a estrutura etária da população (MIRANDA et al., 2016). O declínio da fecundidade teve impacto na redução do crescimento da população. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2004 apresentou uma taxa de fecundidade total (TFT) de 2,1 fi lhos por mulher, ou seja, no nível de reposição da população (IBGE, 2006). Estudos indicam que, em 2050, o Brasil será o quinto país mais populoso com cerca de 253 milhões de habitantes, apenas abaixo da Índia, China, EUA e Indonésia (MIRANDA et al., 2016). O gráfi co a seguir apresenta a projeção do númeroda população brasileira entre 1940-2050. GRÁFICO 1 – POPULAÇÃO TOTAL JOVEM E IDOSA – BRASIL – 1940 – 2050 FONTE: IBGE (2006, s.p.) 11 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 O Censo Demográfi co tem por objetivo contar o número de habitantes do território nacional, identifi car suas características e revelar como vivem os brasileiros, produzindo informações imprescindíveis para a defi nição de políticas públicas e a tomada de decisões de investimentos da iniciativa privada ou de qualquer nível de governo. E também constituem a única fonte de referência sobre a situação de vida da população nos municípios e em seus recortes internos, como distritos, bairros e localidades, rurais ou urbanas, cujas realidades dependem de seus resultados para serem conhecidas e terem seus dados atualizados. Censo Demográfi co de 2010. Fundação Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística, disponível em: https://biblioteca.ibge.gov. br/visualizacao/periodicos/93/cd_2010_caracteristicas_populacao_ domicilios.pdf. A transição demográfi ca foi acompanhada por mudanças nos padrões de causas de mortalidade. As doenças crônico-degenerativas surgem com mais importância, em relação às doenças infecciosas e parasitárias, a chamada transição epidemiológica. As diferenças observadas nas causas de morte variam em função do nível de desenvolvimento econômico dos países (KANSO, 2011). Diante desse panorama mundial, alguns pesquisadores questionam um limite biológico para o aumento da longevidade e outros mostram que mediante o desenvolvimento de novas tecnologias para o tratamento de doenças crônicas e incapacitantes ainda há espaço para viver mais (KANSO, 2011). Embora os progressos tecnológicos contribuam para a melhoria das condições de vida, mesmo com incapacidades, a estrutura e o funcionamento dos sistemas de saúde não acompanharam essas mudanças. As projeções demográfi cas e epidemiológicas indicam a necessidade, tanto da melhoria quanto do aumento da cobertura da assistência médica, para uma melhor prevenção e controle das doenças (KANSO, 2011). 12 A RessiGnificação do Envelhecimento De acordo com Veras e Oliveira (2018), os fatores demográfi co e epidemiológico não foram os únicos desafi os para a Saúde Pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, existem outros, por exemplo: • Como manter a independência e a vida com o envelhecimento? • Como fortalecer políticas de prevenção e promoção da saúde, especialmente aquelas voltadas para os idosos? • Como manter e/ou melhorar a qualidade de vida com o envelhecimento? É necessário encontrar meios para inserir os idosos em nossa sociedade utilizando novas tecnologias e facilidades para o grupo populacional que mais predomina em nosso país. Essas questões já foram pauta em uma Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, pelas Nações Unidas em 1982, que produziu o Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento. Este documento representa a base das políticas públicas do seg mento em nível internacional e apresenta as di retrizes e os princípios gerais que se tornaram referência para a criação de leis e políticas em diversos países, evidenciando o envelhecimento populacional como tema dominante no século XXI. O Plano apresenta recomendações refe- rentes a sete áreas: saúde e nutrição; proteção ao consumidor idoso; moradia e meio ambiente; bem-estar social; previdência social; trabalho, educação e família (VERAS; OLIVEIRA, 2018). A partir de 1991, outras ações em prol das pessoas idosas foram aprovadas até que em 2002, em Madri, foi realizada a Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o Envelhecimento, com o objetivo de desenvolver uma política internacional para o envelhecimento no século XXI. O Plano pedia mudanças de atitudes, políticas e práticas e suas recomendações específi cas dão prioridade às pessoas mais velhas, melhorando sua saúde e bem-estar, assegurando habilitação e ambientes de apoio (VERAS; OLIVEIRA, 2018). No início do século XX, no Brasil, predominava a segregação das pessoas idosas com a prática de internações em asilos, em uma lógica que oculta aspectos sociais, políticos e econômicos. O primeiro refl exo no Brasil, com relação às mudanças radicais do envelhecimento impactando a legislação, foi na Constituição Federal em 1988. Essa época foi um período importante para a organização dos idosos e a comunidade científi ca, com a realização de seminários e congressos, sensibilizando os governos e a sociedade para a questão da velhice. 13 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 A garantia dos direitos dos idosos na Constituição Federal está expressa em diversos artigos, versando sobre irredutibilidade dos sa lários de aposentadoria e pensões, garantia do amparo pelos fi lhos, gratuidade nos transportes coletivos e benefício de um salário-mínimo para aqueles sem condições de sustento (VERAS; OLIVEIRA, 2018; ROLIM et al., 2013). A Política Nacional do Idoso, Lei nº 8842, sancionada em 1994, não conseguiu ser aplicada em sua totalidade. Priorizou o convívio em família em detrimento do atendimento asilar, e defi niu pessoa idosa aquela maior de 60 anos de idade (em países da Europa, são consideradas idosas as pessoas com mais de 65 anos de idade). Esta Política sofreu in fl uência das discussões pelo mundo sobre a questão do envelhecimento, evidencian do não só o idoso como um sujeito de direitos, mas preconizando um atendimento, de maneira diferenciada, as suas necessidades físicas, sociais, econômicas e políticas. Essa lei foi resultado de discussões e consultas por todo o país, com am pla participação de idosos, gerontólogos e a so ciedade civil em geral (VERAS; OLIVEIRA, 2018). Desde 1997, os movimentos de aposentados e pensionistas e o Fórum Nacional do Idoso mobilizaram-se durante um longo perí odo, visando à aprovação do Estatuto do Idoso, mas reivindicando barrar artigos inde sejáveis e propondo emendas. Apesar dessa mobili zação, a correlação de forças do movimento não permitia que o Estatuto saísse do papel. Somente no dia 1º de outubro de 2003 o Estatuto foi sancio nado, o que pode ser considerado como um dos efeitos da II Assembleia de Madri. O Estatuto representa um passo importante da legislação brasileira na sua adequação às orien tações do Plano de Madri, cumprindo o princípio referente à construção de um entorno propício e favorável para as pessoas de todas as idades. O Estatuto do Idoso possui 118 artigos que consoli dam os direitos conferidos pelas diversas leis fe derais, estaduais e municipais, referentes à saúde, à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, à pro fi ssionalização e ao trabalho, à previdência social, à assistência social, à habitação, ao transporte, à fi scalização de entidades de atendimento e à tipi fi cação de crimes contra a pessoa idosa (BRASIL, 2013). Como já sabemos, o envelhecimento populacional vem acompanhado de uma carga de doenças, incapacidades e aumento do uso dos serviços de saúde. Porém, a literatura tem mostrado que doenças crônicas, bem como suas incapacidades, não são consequências inevitáveis do envelhecimento. É possível preveni-las, mesmo nas fases mais tardias da vida (VERAS, 2009; SOUZA, 2006). 14 A RessiGnificação do Envelhecimento A atual dinâmica da prestação de serviços de saúde, com multiplicação de consultas de especialistas, vários procedimentos e exames clínicos e imagens, entre outros, prejudica a atenção ao idoso. Um dos problemas da maioria dos modelos assistenciais vigentes decorre do foco exclusivo na doença. As propostas são voltadas prioritariamente para a redução de determinada moléstia, esquecendo que, em uma doença crônica já estabelecida, o ob jetivo não deve ser a cura, mas a busca da esta bilização do quadro clínico e o monitoramento constante, de forma a impedir ou amenizar o de clínio funcional (VERAS; OLIVEIRA, 2018).Estudos mostram que a atenção deve ser organizada de maneira integrada e os cuidados devem acontecer por todo o período assistencial, desde a entra da no sistema até os cuidados ao fi m da vida. Com base em estudos nacionais e internacionais, Oliveira et al. (2016) construíram uma proposta de um modelo de cuidado, com foco no idoso e em suas necessidades. O objetivo é acompanhar a saúde do idoso, e não a doença; permanentemente, variando apenas os níveis, a intensidade e o cenário da intervenção. FIGURA 1 – MODELO ESTRUTURADO EM CINCO NÍVEIS Legenda: Nível 1 - Acolhimento 15 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 O modelo de cuidado construído pelos pesquisadores apresenta uma proposta que visa um melhor atendimento e acompanhamento da saúde da pessoa idosa e, por consequência, oferece uma melhor qualidade de vida. VERAS, R. P.; OLIVEIRA, M. Envelhecer no Brasil: a construção de um modelo de cuidado. Ciência e Saúde Coletiva, v. 23. n. 6., 2018. pp.1929-1936. Nível 2 - Núcleo Integrado de Cuidado: Ambulatório Clínico, Centro Dia, entre outras instâncias de Cuidado. Nível 3 - Ambulatório de Geriatria: Atenção Domiciliar complexidade 1 e 2 Nível 4 - Curta duração: Atenção Domiciliar nº 3, Emergência, Hospital, Hospital Dia e Cuidados Paliativos. Nível - Longa Duração: Unidade de Reabilitação, Residência Assistida e a Instituição de Longa Permanência de Idosos (ILPI) FONTE: VERAS; OLIVEIRA (2018, p. 1935) Devemos considerar os níveis de 1 a 3, em cinza, como as instâncias leves, ou seja, de custos menores e compostas basicamente pelo cuidado dos profi ssionais de saúde, bem treinados. O esforço deve ser realizado para manter os pacientes nesses níveis leves, visando preservar sua qualidade de vida e participação social. Já as instâncias nos Níveis 4 e 5, em preto, são de alto custo e é onde se situam o hospital e as demais unidades de curta e longa permanência. O esforço deve ser realizado para tentar reabilitar o paciente e trazê-lo para as instâncias leves, apesar de nem sempre ser possível. Desse modo, todo o esforço deve ser realizado para manter o idoso nos três primeiros níveis de cuidado, com vista a manter sua qualidade de vida e de reduzir os custos. 16 A RessiGnificação do Envelhecimento 3 ENVELHECIMENTO, QUESTÃO DE GÊNERO E QUALIDADE DE VIDA Na década de 1960, na França, surgiu o termo idoso com o objetivo de criar uma nova sensibilidade no tratamento desse público, combatendo o isolamento e trazendo a idéia de respeito, dignidade e referência para os mais jovens. Já as expressões terceira idade e melhor idade surgiram para dar ao envelhecimento uma conotação de ser um período livre e ativo, sociável, voltado ao lazer e a realizações, um novo estilo de vida. Na realidade, pensar em realizações e fazer planos para um novo ciclo de vida restringe-se a apenas uma parcela dos idosos, aos aposentados com saúde, liberdade e condições fi nanceiras, capazes de buscar outras atividades fora da sua rotina (YAMANAKA, 2016). Nas últimas décadas, o movimento com relação aos idosos propiciou um comércio que vem ganhando espaço nas prateleiras e na vida desse público. “O velho busca renovar a sua imagem diante da sociedade, melhorando a forma física, adquirindo produtos que prometem rejuvenescer ou utilizando suplementos vitamínicos que afi rmam dar energia e disposição”. “Não há como medir, nem comparar as velhices. Cada um a encara de maneira distinta e as escolhas sobre como ser velho devem partir do próprio idoso” (YAMANAKA, 2016, p. 72). O processo de envelhecimento apresenta variações que são constituídas socialmente nos diferentes grupos sociais de acordo com a visão de mundo compartilhada em práticas, crenças e valores. A visão clínico-biológica não contempla essa perspectiva, ao diferenciar as fases da vida em infância, juventude, fase adulta e velhice, seguindo uma ordenação linear cronológica de transformações do corpo. A partir daí, ocorre uma progressiva deterioração das funções vitais, em que o envelhecimento é caracterizado por um período de falência gradativa dos órgãos, associado a sentimentos como tristeza, abandono, desrespeito, exclusão dos meios de produção, carências afetivas e materiais (MINAYO; COIMBRA-JR, 2002, p. 129). Portanto, é necessário compreender os sofrimentos, as doenças, as possíveis difi culdades no meio familiar e também pessoal vividas por esse indivíduo para ajudá-lo a desfrutar o que há de mais interessante nessa fase da vida, como um período produtivo com novos desafi os e novas experiências, para que ele supere assim os estigmas do envelhecimento. 17 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 1 Não é muito difícil encontrar pessoas idosas sozinhas em diferentes condições de vida e de saúde, viúvos, solteiros, separados, divorciados e mesmo com família sentindo-se sozinhas. Várias situações podem levar um idoso a ter sua vida transformada, repleta de sofrimentos, pensamentos negativos e com sentimentos de solidão. • P.B. é uma idosa aposentada, com 70 anos de idade, ativa e com boa saúde que deixou de ter uma vida saudável e sociável após o falecimento de seu esposo. A partir desse momento, pensamentos negativos, tristeza, falta de apoio da família e desejo de fi car sozinha tomaram conta da sua vida. • Diante dessa situação, qual seria a melhor solução para trazer a Senhora P.B. de volta para a sua vida? Os estudos demográfi cos sobre envelhecimento afi rmam, frequentemente, que as mulheres constituem a maior parte da população mundial idosa. No processo do envelhecimento feminino, os dados mostram que, em 1980, havia, em escala mundial, três homens de 65 anos e mais para cada quatro mulheres, relação que se mostra ainda mais forte nos países desenvolvidos, em razão do grande número de homens mortos durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns estudos mostram que quanto mais a idade aumenta, mais as mulheres são numerosas (FIGUEIREDO et al., 2007). Gênero é um conceito útil para entender a sociedade em que vivemos e nos permite compreender que as desigualdades econômicas, políticas e sociais existentes entre homens e mulheres não são simplesmente produtos de suas diferenças biológicas. São construções resultantes das relações sociais, ou seja, das relações entre as pessoas e delas com a natureza, no desenvolvimento de cada sociedade (FIGUEIREDO et al., 2007). As desigualdades existentes entre homens e mulheres na sociedade aparecem como objeto de preconceitos, mais ou menos estereotipados, que as colocam em posição de desvantagem em várias instâncias da sociedade, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo (FIGUEIREDO et al., 2007). 18 A RessiGnificação do Envelhecimento A categoria gênero, ser homem ou ser mulher, incorpora atributos e funções socialmente construídos que confi guram diferenças entre os sexos, como forma de representar-se, valorizar-se e atuar em uma determinada cultura (FERNANDES, 2009). Essas relações vão construindo a história e as culturas dos povos. Estudando o desenvolvimento dos povos, observou-se que homens e mulheres mudam de papéis, de cultura para cultura e, ainda, no interior de cada uma delas, dependendo do período e das condições históricas em que estão vivendo. Portanto, as relações entre as pessoas em uma sociedade são orientadas por modelos, idéias e valores do que é masculino e feminino (FIGUEIREDO et al., 2007). Com as intensas e aceleradas mudanças sócio-político-econômicas ocorridas na contemporaneidade, cada homem e cada mulher foi e continua sendo protagonista, espectador e autor de rupturas e transformações nos costumes e estilos de vida, atingindo cada um em diferentes gerações. Cabe ressaltar que a geração mais velha hoje experimentou por maior espaço temporal relações de poder e também naturalizou, mais intensamente, noções sobre papéis masculino/ feminino calcadasem um modelo tradicional de relações de gênero em que havia o exercício da autoridade dos homens sobre as mulheres e sobre os fi lhos no seio das famílias, ou seja, vivenciou uma assimetria relacional que pode infl uenciar o modo do idoso perceber e vivenciar sua velhice (FERNANDES, 2009). Figueiredo et al. (2007) relataram as falas de idosos, através de um questionário realizado em seus estudos, que evidenciaram a importância e a infl uência das questões de gênero, nas atitudes, sentimentos e na própria qualidade de vida das pessoas que envelhecem, fi cando evidente as diferenças na velhice para o feminino e para o masculino, diferenças essas que são determinadas cultural e historicamente e que defi nem papéis e valores que passam a ser padrões cristalizados em nossa sociedade. Foi mostrado que a baixa autoestima e a perda da liberdade vivenciada pelo homem no processo de envelhecimento têm determinantes sociais e culturais que se estabeleceram historicamente desde a sociedade da caça, quando as relações de força e poder se tornam hegemônicas para o masculino, tomando para si o espaço público, destinando-se ao espaço privado do lar para a mulher (FIGUEIREDO et al., 2007). No caso das mulheres, os depoimentos foram opostos aos dos homens, demonstrando uma melhor adaptação a essas situações de perdas pelo simples fato de que elas, que hoje estão na terceira idade tiveram a infância, adolescência e a vida adulta baseada no modelo patriarcal, no qual, o trabalho 19 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 FIGUEIREDO, M. L. F. et al. As diferenças de gênero na velhice. Rev. Bras Enferm., Brasília, jul-ago 2007, v. 60. N. 4. pp. 422-7. No artigo intitulado As diferenças de gênero na velhice, apresenta-se depoimentos de pessoas que demonstraram as formas diferentes de viver, entre homens e mulheres, durante o processo de envelhecimento. Nele expõe-se também as adaptações às perdas físicas, emocionais e sociais e ainda se destaca a mulher idosa sendo mais resistente, possibilitando um envelhecimento com mais qualidade de vida e saúde. fora do lar, o poder e a dominação masculina foram as principais representações que as colocaram na situação de subordinação ao poder masculino, restringindo- lhes sua atuação ao espaço doméstico (FIGUEIREDO et al., 2007). Acompanhado de alguma aposentadoria por vínculo trabalhista ou por direito previdenciário universal de benefício vitalício de aposentadoria para mulheres aos 60 anos e já adaptada ao espaço privado e coincidindo esse momento com o casamento dos fi lhos, diminuição das obrigações domésticas e ainda pelo fato de muitas mulheres serem viúvas ou solteiras revelaram a conquista da autonomia, da liberdade e da independência fi nanceira. Existem também evidências de que as mulheres apresentam uma melhor adaptação às perdas físicas, emocionais e sociais ocorridas na velhice por serem mais resistentes, solidárias, buscando informações fundamentais para o autocuidado e incorporando atitudes mais saudáveis no dia a dia (FIGUEIREDO et al., 2007). O gênero é uma “lente” através da qual considera-se adequação de várias opções políticas e o efeito delas sobre o bem-estar de homens e mulheres (WHO, 2005). O gênero é uma “lente” através da qual considera-se adequação de várias opções políticas e o efeito delas sobre o bem-estar de homens e mulheres (WHO, 2005). Os valores culturais e as tradições determinam muito como uma sociedade encara as pessoas idosas e o processo de envelhecimento. A cultura é um fator chave que determina um estilo de vida, por exemplo, em muitos países asiáticos a regra cultural é a valorização de famílias ampliadas e a vida em conjunto em lares com várias gerações da mesma família (WHO, 2005). 20 A RessiGnificação do Envelhecimento Os fatores culturais também infl uenciam na busca por comportamentos mais saudáveis, por exemplo, as atitudes relacionadas ao tabagismo estão mudando, gradativamente, em vários países. Adotar hábitos saudáveis é importante em todos os estágios da vida, porém um dos mitos no processo de envelhecimento é pensar se é tarde demais adotar esses estilos nos últimos anos de vida. Pelo contrário, o envolvimento em atividades físicas adequadas, alimentação saudável, a abstinência do fumo e do álcool, e fazer uso de medicamentos sabiamente podem prevenir doenças e o declínio funcional, aumentar a longevidade e a qualidade de vida do indivíduo (WHO, 2005). Quando as sociedades atribuem sintomas de doença ao processo de envelhecimento, elas têm menor probabilidade de oferecer serviços de prevenção, detecção precoce e tratamento apropriado para essas doenças. Dentre os hábitos saudáveis acima citados, os estudos destacam os benefícios do exercício físico para os idosos tanto na composição corporal quanto na melhora da capacidade funcional. Isso é um fator determinante para o sucesso do processo de envelhecimento, pois melhora qualidades de aptidão física importantes, como o aumento da força muscular que faz com que o idoso realize as tarefas diárias com menos esforço e dessa forma será menos dependente. Outras características benéfi cas do exercício físico regular para as pessoas idosas são o alívio de dores articulares que tem grande infl uência na qualidade de vida, produção de hormônios que provocam sensação natural de prazer; relaxamento; bem-estar; e que aliviam sintomas como o da ansiedade e da depressão, suprimindo o uso de medicamentos que, muitas vezes, tem efeitos adversos, melhorando a autoestima e favorecendo a socialização. Estudos também mostram uma diminuição no aparecimento de doenças crônicas em idosos saudáveis ou doentes crônicos, podendo reduzir o risco de morte por problemas cardíacos de 20 a 25% de pessoas com doença do coração diagnosticada (WHO, 2005). A qualidade de vida tem também um aspecto subjetivo, sendo possível mensurá-la somente se entendidas as necessidades e as refl exões que o indivíduo faz de si mesmo perante seu presente, seu passado e seu futuro. No caso da pessoa idosa, os agentes estressores podem ter diferentes características, como a aposentadoria, a morte de entes queridos e o isolamento social. Portanto, é importante observar o quanto cada fator pode afetá-lo, ou seja, como o indivíduo percebe as situações e como se comporta (JANUÁRIO, 2011). 21 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 1 A qualidade de vida relacionada com a saúde traduz a forma como as pessoas percebem a sua condição de saúde em vários domínios, por exemplo: físico (capacidade de realizar tarefas), psicológico (bem-estar emocional e mental) e social (capacidade de se relacionar com as pessoas). Esses são marcadores importantes da condição atual de saúde do indivíduo, sendo encorajado a sua monitorização em larga escala como forma de estimar a condição real de saúde das populações (CAMÕES, 2016). • Sra. M.A., 60 anos, saudável, pratica exercícios resistidos por cerca de 10 anos. Decidiu fazer uma viagem de férias, na qual todos os passeios seriam realizados por transporte aéreo e terrestre. Entre um destino e outro, houve uma intercorrência com o ônibus e a Sra M.A. precisou fazer uma caminhada de 35km, com pequenos intervalos de descanso, até chegar na cidade de destino no mesmo dia, sendo que esse tipo de exercício não fazia parte do seu programa de treinamento. Após se instalar e se alimentar adequadamente, a Sra. M.A. dormiu por 8 horas e no dia seguinte, ao contrário do que ela imaginava, não teve dor muscular e nem sentiu cansaço excessivo, mantendo seu roteiro de viagem. Nesse momento surgiu uma pergunta: será que o tipo de exercício praticado por ela fez toda a diferença para conseguir caminhar um longo percurso e não ter efeitos adversos importantes? Estima-se que, em países desenvolvidos, a adesão a terapias de longo prazo seja apenas 50%, em média. Em países em desenvolvimento,as taxas são ainda menores, o que compromete gravemente a efi ciência dos tratamentos e traz implicações importantes na qualidade de vida e na economia para a saúde pública (WHO, 2005). 22 A RessiGnificação do Envelhecimento Análise dos resultados de acordo com as tabelas O objetivo do estudo a seguir, referente às tabelas, é analisar o nível de qualidade de vida dos idosos participantes e não participantes de programas de exercícios físicos e identifi car os fatores que podem predizer essa participação. A amostra neste trabalho de caráter descritivo transversal foi composta por idosos de ambos os sexos, participantes e/ou iniciantes em dois projetos com objetivos socioculturais. É um projeto com característica epidemiológica e com fatores sociodemográfi cos e indicadores das condições de saúde de idosos. Métodos Amostra Foram selecionados 102 idosos, na faixa etária de 69,17 ± 6,76, de ambos os sexos; • A amostra foi dividida em 2 grupos: Grupo Atividade Física (GAT/n=64), composto por participantes de programas de exercícios físicos a mais de 6 meses. Grupo Controle (GC / n=38), composto por participantes que não estavam envolvidos em programa de exercícios físicos. • Para identifi cação do nível sociocultural, foi realizado um questionário com informações sobre sexo, idade, nível de escolaridade, nível socioeconômico e profi ssão dos participantes. • Para avaliar a percepção da qualidade de vida e suas dimensões, foi utilizado o instrumento SF-36 (SF-36 Medical Outcomes Study, Short Form – 36), versão curta. A Tabela 1 apresenta a análise descritiva dos valores obtidos no estudo para as variáveis antropométricas e socioculturais. • Observa-se que os resultados para o IMC (Índice de Massa Corporal) foram estatisticamente diferentes entre o GAT e o GC. • Nas variáveis sociais e culturais, foram encontradas diferenças estatisticamente signifi cativas somente na análise de gênero e escolaridade. Nos dois grupos analisados, a proporção feminina é predominante, com uma relação de aproximadamente 80% da amostra. Entretanto, no GAT esse predomínio 23 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 é ainda maior com 85% de participantes do sexo feminino, contra apenas 15%, do masculino. A variável escolaridade também se mostrou signifi cativa entre os grupos (x2 = 4,35; p = 0,021), observou-se que o GAT apresentou um porcentual mais homogêneo entre as três escalas de escolaridade, fato esse não percebido no GC, em que apenas 5% da amostra tinha nível de escolaridade acima do Fundamental. • No geral, os componentes do GAT são um pouco mais novos que os do GC, apresentando um IMC menor e um nível de escolaridade superior. • Ambos os grupos têm 50% dos integrantes casados e com aproximadamente 80% da amostra aposentados. TABELA 1 – CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS E ANTROPOMÉTRICAS DA AMOSTRA SUBDIVIDIDA EM GRUPO ATIVIDADE FÍSICA E GRUPO CONTROLE FONTE: Januário (2011, p. 116) * p<0,05 24 A RessiGnificação do Envelhecimento Na Tabela 2, estão descritos os resultados dos dados obtidos pelo Instrumento SF-36, bem como a análise estatística dos valores médios atribuídos pelo GAT e GC. • Observa-se que as pontuações obtidas pelo GC são inferiores em praticamente todos os domínios do SF-36, o que se verifi ca pelas diferenças estatisticamente signifi cativas para todas as análises, com exceção das dimensões limitações físicas e limitações emocionais. • O GAT apresentou uma melhor percepção de saúde, fato esse que está descrito principalmente na dimensão “saúde geral”, com uma média de 78 pontos, contra apenas 58, do GC. • A maior média obtida para as dimensões do SF-36 foi 85 pontos do GAT para a dimensão “aspectos sociais” e a menor 42 pontos pelo GC para a dimensão “dor”. TABELA 2 – ANÁLISE DAS DIFERENÇAS NA PERCEPÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS SUBDIVIDIDOS EM GRUPO DE ATIVIDADE FÍSICA (GAT) E GRUPO CONTROLE (GC) FONTE: Januário (2011, p. 116) 25 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 Na Tabela 3, observa-se que a dimensão “aspectos sociais” se apresenta como uma forte preditora para o idoso pertencer a projetos associados à prática da atividade física. No caso específi co desta variável, observa-se que elevados índices para essa dimensão possibilitariam, em aproximadamente sete vezes, a chance de o indivíduo pertencer a programas de exercícios físicos. TABELA 3 – ANÁLISE DA REGRESSÃO LOGÍSTICA, DEMONSTRANDO AS VARIÁVEIS ASSOCIADAS À PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS FONTE: Januário (2011, p. 117) Conclusão Os idosos inseridos nos programas de atividade física apresentaram um índice médio bastante superior na análise do instrumento SF-36. Essa média foi observada em praticamente todas as dimensões do instrumento, com valores estatisticamente signifi cativos. Esse fato apresenta-se como um importante referencial para constatar a importância da participação de idosos em programas sociais e culturais, com atividades lúdicas, recreativas e motoras (JANUÁRIO, 2011). Segue a referência do artigo para mais informações: JANUÁRIO, R. S. B. et al. Qualidade de vida em idosos ativos e sedentários. ConScientiae Saúde, v. 10. n. 1, 2011. pp. 112-121. 26 A RessiGnificação do Envelhecimento 4 A SAÚDE DO IDOSO Com o processo de envelhecimento surgem as doenças e suas incapacidades que podem ser evitadas com a prevenção, mesmo nas fases mais avançadas da vida. As principais doenças crônicas surgem com o avanço da idade e isso não impede que o idoso possa conduzir sua própria vida de forma autônoma e decidir sobre seus interesses. Mesmo na presença de uma ou mais doenças crônicas, se o idoso consegue manter sua independência e autodeterminação (capacidade de o indivíduo poder exercer sua autonomia), pode ser considerado um idoso saudável (VERAS, 2009). A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que políticas de saúde da área do envelhecimento levem em consideração os determinantes de saúde ao longo de todo o curso de vida (sociais, econômicos, comportamentais, pessoais, culturais, além do ambiente físico e acesso a serviços), com particular ênfase sobre as questões de gênero e as desigualdades sociais (VERAS, 2009). Quando se pensa na elaboração de uma nova política de cuidado para o idoso baseada na qualidade de vida, assume importância basilar o conceito de capacidade funcional, isto é, a capacidade de se manter as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida independente e autônoma (VERAS, 2009). As diretrizes básicas da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa são bons exemplos das preocupações com a promoção do envelhecimento saudável que se constituem em: • Promoção do envelhecimento ativo e saudável. • Atenção integral, integrada à saúde da pessoa idosa. • Estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção. • Provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa. • Estímulo à participação e fortalecimento do controle social. • Formação e educação permanente dos profi ssionais de saúde do SUS na área de saúde da pessoa idosa. • Divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa para profi ssionais de saúde, gestores e usuários do SUS. • Promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na atenção à saúde da pessoa idosa. • Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas. 27 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 Baseado nessas diretrizes é possível criar metas com o objetivo de aprimorar, manter ou recuperar a capacidade funcional do indivíduo pelo maior tempo possível, valorizar a autonomia e a independência física e mental, excedendo um simples diagnóstico e tratamento de doenças específi cas (VERAS, 2009). É de suma importância valorizar as informações contidas no banco de dados epidemiológicos porsua capacidade em prever eventos e possibilitar o diagnóstico precoce, diminuindo dessa maneira um possível agravo em relação às doenças crônicas, melhorando assim a qualidade de vida e abordagem terapêutica. O monitoramento das condições de saúde de uma dada população, assim como dos fatores associados a essas condições, é um instrumento-chave para orientar estratégias de prevenção, que devem ter como objetivo (VERAS, 2009): • Interferir favoravelmente na história natural da doença. • Antecipar o surgimento de complicações. • Prevenir as exacerbações e complicações das doenças crônicas. • Aumentar o envolvimento do paciente no autocuidado. • Construir uma base de dados sobre os doentes crônicos. Desde 1998, o Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE) vem, a cada cinco anos, incluindo o Suplemento de Saúde na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). A amostra deste inquérito foi desenhada para ser representativa da população brasileira e se constitui na mais ampla fonte de informação de saúde disponível no país. Os dados da PNAD mostram que o número de consultas se amplia à medida que a população envelhece e passa a ter mais doenças crônicas (Gráfi co 2) e, por consequência, aumenta o consumo de medicamentos, a realização de exames complementares e também a hospitalização. As necessidades em saúde têm um padrão de distribuição segundo a idade, ou seja, as pessoas no início e particularmente no fi nal da vida apresentam mais problemas de saúde. A grande diferença é que as doenças da faixa jovem são agudas e, portanto, de custo menor, enquanto as dos idosos são crônicas e de alto custo (VERAS, 2009). 28 A RessiGnificação do Envelhecimento GRÁFICO 2 – PROPORÇÃO DE PESSOAS QUE REALIZARAM CONSULTAS NOS ÚLTIMOS 12 MESES, SEGUNDO OS GRUPOS DE IDADE – BRASIL, 1998-2003 FONTE: Veras (2009, p. 552) Estudos mostram cada vez mais que as origens do risco de doenças crônicas, como diabete e cardiopatia, começam na infância ou até mesmo antes. E esse risco é subsequentemente defi nido e modifi cado por fatores como condição socioeconômica e experiências ao longo da vida. Além disso, o risco de desenvolver doenças não transmissíveis (DNTs) continua a aumentar conforme as pessoas envelhecem. Por esse motivo, é preciso saber que esse aumento no desenvolvimento das doenças não transmissíveis (DNTs) nas idades mais avançadas pode ser causada pelo tabagismo, falta de atividade física, dieta inadequada, entre outros fatores de risco da vida adulta (Gráfi co 3). Sendo assim, é importante chamar a atenção para os riscos de doenças não-transmissíveis durante toda a vida, desde os primeiros até os últimos anos (OMS, 2005). 29 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 GRÁFICO 3 – ESCOPO PARA PREVENÇÃO DE DOENÇAS NÃO TRANSMISSÍVEL – UMA ABORDAGEM DO CURSO DE VIDA FONTE: Who (2005, p. 17) Nos primeiros anos de vida as doenças transmissíveis, doenças maternas, perinatais e defi ciências nutricionais são as principais causas de morte e enfermidades. No fi nal da infância, na adolescência e no início da vida adulta, as lesões e doenças não transmissíveis começam a assumir um papel muito maior. Na meia-idade, em torno dos 45 anos, as doenças não transmissíveis são responsáveis pela grande maioria das mortes e enfermidades (WHO, 2005). Além das doenças crônicas, outro desafi o é o surgimento de incapacidades funcionais que resultam em maior e mais prolongado uso de serviços de saúde. O foco da saúde está estritamente relacionado à funcionalidade global do indivíduo, defi nida como a capacidade de gerir a própria vida ou cuidar de si mesmo. A maioria dos idosos, apesar das doenças ou disfunções orgânicas, não apresenta limitações na realização das atividades e nem restrição da participação social. A pessoa é considerada saudável quando é capaz de realizar suas atividades sozinha, de forma independente e autônoma, mesmo que tenha doenças (MORAES, 2012; WHO, 2005). Bem-estar e funcionalidade representam a presença de autonomia (capacidade individual de decisão e comando sobre as ações, estabelecendo e seguindo as próprias regras) e independência (capacidade de realizar algo com os próprios meios), permitindo que o indivíduo cuide de si e de sua vida. Essa condição de independência e autonomia está relacionada ao funcionamento 30 A RessiGnificação do Envelhecimento integrado e harmonioso dos seguintes sistemas funcionais principais: cognição, humor, mobilidade, comunicação (MORAES, 2012; WHO 2005). A funcionalidade global é ponto de partida para a avaliação da saúde do idoso, que deve ser realizada de forma minuciosa e de preferência utilizando pessoas que convivam com o paciente para conseguir detalhar o seu desempenho em todas as atividades da vida diária. As incapacidades ocorrem com o comprometimento dos principais sistemas funcionais, gerando dessa maneira as grandes síndromes geriátricas: incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade, incontinência e a incapacidade comunicativa. Estudos revelam que a família é uma instituição de apoio capaz de modular o funcionamento do indivíduo reduzindo ou exacerbando suas incapacidades, incorporando ou não a incapacidade comunicativa e a insufi ciência familiar nas grandes síndromes geriátricas (MORAES, 2012). O principal preditor de mortalidade, hospitalização e institucionalização em idosos é a presença de incapacidades. A idade e a autopercepção da saúde são importantes preditores de morbimortalidade, pois são considerados indicadores indiretos da presença de doenças crônico-degenerativas. Outro fator importante é o reconhecimento rápido de doenças ou condições de saúde no idoso para que seja manejada de forma adequada, a fi m de evitar a iatrogenia (malefícios causados pelos profi ssionais da área de saúde despreparados para dar uma resposta adequada aos problemas de saúde do idoso) (MORAES, 2012). O declínio funcional é a primeira manifestação de vulnerabilidade e é o foco da intervenção geriátrica e gerontológica, independentemente da idade do paciente. Para descrever o idoso com maior risco de incapacidades, é utilizado o termo fragilidade. A síndrome de fragilidade é defi nida na literatura baseada nos seguintes critérios: perda de peso, fatigabilidade (exaustão), fraqueza (redução da força muscular), baixo nível de atividade física e lentifi cação da marcha. Esse fenótipo da fragilidade ou “frailty” está presente em 10% dos idosos e aumenta com o avanço da idade, sexo feminino, baixo nível socioeconômico, presença de comorbidades como diabetes melitus e doenças cardiovasculares, respiratórias e osteoarticulares. O reconhecimento dos idosos frágeis, através de critérios estabelecidos é fundamental para o planejamento das ações em saúde (MORAES, 2012). No fi nal dos anos 90, a Organização Mundial da Saúde adotou o termo “envelhecimento ativo” para transmitir uma mensagem mais abrangente do que é “envelhecimento saudável” e reconhecer além dos cuidados com a saúde, outros fatores que afetam o modo como os indivíduos e as populações envelhecem. A perspectiva de curso de vida para o envelhecimento ativo reconhece que os mais velhos não constituem um grupo homogêneo e que a 31 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 diversidade entre os indivíduos tende a aumentar com a idade. As intervenções que criam ambientes de apoio e promovem opções saudáveis são importantes em todos os estágios da vida (WHO, 2005). Essa abordagem baseia-se no reconhecimento dos direitos humanos das pessoas mais velhas e nos princípios de independência, participação, dignidade, assistência e autorrealização. Dessa forma o planejamento estratégico deixa de ter foco nas necessidades (que considera as pessoas mais velhas como alvos passivos) e passa a ter uma abordagem baseada em direitos, o que permite o reconhecimento dos direitos dos mais velhos à igualdadede oportunidades e ao tratamento em todos os aspectos da vida à medida que envelhecem (WHO, 2005). Outro fator a ser observado são as mudanças no ambiente que podem diminuir o limiar da defi ciência e, assim, reduzir o número de pessoas com incapacidades em uma comunidade. A capacidade funcional (como capacidade ventilatória, força muscular e débito cardíaco) aumenta durante a infância e atinge seu máximo nos primeiros anos da vida adulta, entrando em declínio em seguida. A velocidade do declínio, no entanto, é fortemente determinada por fatores relacionados ao estilo de vida na vida adulta – por exemplo: tabagismo, consumo de álcool, nível de atividade física e dieta alimentar – assim como por fatores externos e ambientais. O declínio pode ser tão acentuado que resulte em uma defi ciência prematura. Contudo, a aceleração no declínio pode sofrer infl uências e ser reversível em qualquer idade através de medidas individuais e públicas (Gráfi co 4) (WHO, 2005). GRÁFICO 4 – MANUTENÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL DURANTE O CURSO DE VIDA FONTE: Who (2005, p. 15) 32 A RessiGnificação do Envelhecimento O processo de envelhecimento tem sido estudado cada vez mais com o propósito de conhecer melhor as doenças que afetam os idosos e dessa maneira promover um envelhecimento mais saudável e independente. Com o passar do tempo, é observada uma perda gradual da aptidão física, efeito característico do envelhecimento, que compromete a realização das tarefas diárias e um estilo de vida mais saudável. As doenças crônico-degenerativas também surgem nesse período, tornando o idoso mais dependente e com maior vulnerabilidade a depressão. Manter uma rotina diária de exercícios físicos pode trazer benefícios biológicos e psicossociais, em todas as idades. Frequentar um programa regular de exercícios físicos, independentemente do tipo, pode fazer a diferença para manter o corpo em boas condições físicas. Alguns pesquisadores utilizam como estratégia de avaliação da “idade biológica” a análise de vários indicadores que estabelecem o quanto está sendo efi ciente o funcionamento do corpo. O estilo de vida do indivíduo interfere sobremaneira nesses indicadores, como a manutenção de uma alimentação equilibrada ao longo da vida, prática regular de exercícios físicos, horas de sono adequadas, dentre outros fatores (SILVA et al., 2014). Foi demonstrado em estudos relacionando exercício físico e mortalidade que indivíduos que pararam de praticar esportes tiveram 35% de aumento no risco de morte em comparação com aqueles que continuaram ativos. O aumento na expectativa de vida quando os mais ativos foram comparados aos pouco ativos foi em média de 2,51 anos para indivíduos de 35-39 anos de idade no início do estudo e de 0,42 anos nos indivíduos de 75-79 anos. A pesquisa demonstrou, ainda, que a porcentagem de indivíduos acima de 80 anos foi maior entre indivíduos mais ativos (69,7%) do que nos menos ativos (59,8%), confi rmando que a prática de exercícios pode retardar o período em que a capacidade funcional declina, ou seja, aumenta a probabilidade de se manter a independência funcional por mais tempo, evitando a ajuda de terceiros para realizar as atividades diárias que envolvem: alimentação, higiene pessoal, fazer compras, vestir-se, movimentar- se, tomar medicamentos etc. (SILVA et al., 2014). É sabido que a prática regular de exercícios físicos tem impacto positivo na independência funcional, ansiedade e depressão, sociabilização e, com isso, há o aumento da expectativa de vida, independentemente do tipo de exercício realizado. Apesar dos benefícios biológicos diferenciados, tanto o exercício aeróbico quanto o exercício resistido são efi cientes para a prevenção e controle de doenças crônico-degenerativas como doenças cardiovasculares, diabetes do tipo II, câncer, sarcopenia, entre outras. 33 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 Exercícios aeróbicos são aqueles realizados por um período de tempo superior a 3 minutos e que envolvem grandes grupos musculares. Utilizam predominantemente o sistema oxidativo, sendo efi ciente para estimular o metabolismo lipídico e promover perda de peso corporal quando realizados com duração, frequência e intensidade adequada. De acordo com estudos, uma pessoa idosa pode realizar o exercício aeróbio de 3 a 5 vezes por semana, de preferência em dias alternados, com um mínimo de 20 minutos de atividade para uma melhor recuperação do organismo. Diversas alterações são observadas durante o envelhecimento, dentre elas a redução do volume de oxigênio absorvido, aproximadamente 10% por década a partir dos 30 anos, de forma que aos 60 anos um idoso sedentário pode ter aproximadamente 60% da capacidade aeróbia que tinha aos 25 anos. Pesquisas comprovam que o volume de oxigênio absorvido de indivíduos treinados com mais de 50 anos é de 20 a 30% maior que a de indivíduos sedentários da mesma idade. O VO2 máx (consumo máximo de oxigênio), principal indicador de aptidão física, declina aproximadamente 1% a cada ano em homens e mulheres após os 25 anos, sendo que os fi sicamente ativos preservam uma capacidade aeróbia mais alta que os sedentários da mesma idade, mesmo em idades avançadas (SILVA et al., 2014). Outros achados da literatura mostram que com o avanço da idade o coração não consegue mais manter o número de batimentos cardíacos, ou seja, ocorre uma diminuição da frequência cardíaca máxima (FCmax). Com isso as pessoas fi sicamente ativas apresentam valores de FC máx maiores que os sedentários, sugerindo que o exercício produz um funcionamento mais efi ciente de todo o sistema circulatório. Outro aspecto não menos relevante dos efeitos dos exercícios aeróbios sobre o sistema circulatório diz respeito à pressão arterial (PA). Com o passar da idade, há uma tendência de aumento da PA e a hipertensão passa a ser uma doença muito comum nos idosos. Vários estudos sugerem a prática de exercícios físicos como forma de tratamento e controle da hipertensão arterial, demonstrando que uma única sessão de exercícios físicos pode gerar decréscimo temporário da PA, fenômeno denominado hipotensão pós-exercício (HPE). Esse efeito pode levar à diminuição crônica da PA (SILVA et al., 2014). Laterza et al. (2007) relataram que apesar de o exercício provocar redução na pressão arterial nos momentos subsequentes a ele, um aspecto importante a ser considerado é por quanto tempo esse efeito hipotensor perdura. De acordo com os resultados encontrados neste estudo, utilizando a monitorização ambulatorial da pressão arterial por um período de 22 horas após uma sessão aguda de exercício físico dinâmico, realizada na intensidade de 50% do consumo de oxigênio de pico, foi possível demonstrar que os níveis de pressão arterial sistólica e diastólica de pacientes hipertensos estavam diminuídos nas 22 horas, no período da vigília e 34 A RessiGnificação do Envelhecimento no período de sono, quando comparados a um dia-controle, isto é, um dia em que os pacientes não realizaram o exercício físico (Gráfi co 5). Esses resultados demonstram, portanto, que o exercício físico dinâmico é uma importante conduta não-farmacológica no controle da pressão arterial de pacientes hipertensos. GRÁFICO 5 – PRESSÃO ARTERIAL AMBULATORIAL SISTÓLICA E DIASTÓLICA DE UM PACIENTE HIPERTENSO FONTE: Laterza et al. (2007, p. 106) Os exercícios resistidos são aqueles realizados contra resistências graduáveis e progressivas e que podem ser realizados com pesos, elásticos, máquinas, entre outros. Esse tipo de exercício tem demostrado sua efi ciência em estimular as funções do aparelho locomotor e sua segurança tanto musculoesquelética quanto cardiovascular, mesmo diante de comorbidades. Portanto, os idosos têm se benefi ciado com os efeitos desse exercício na melhora da capacidade funcional e alívio das dores articulares oferecendo mais independência no dia a dia e uma melhorautoestima. Um dos efeitos mais importantes dos exercícios resistidos é o aumento da massa muscular, justifi cando o nome de “musculação”. O estímulo básico Pressão arterial de um indivíduo hipertenso, do sexo masculino, 64 anos, durante os períodos de vigília e do sono, e após um dia sem a realização de exercícios (dia-controle), e um dia após a realização de uma sessão de 45 minutos de exercício físico em ciclo ergômetro em 50% do consumo de oxigênio de pico (dia de exercício). Note que no dia em que o paciente realizou o exercício as pressões arteriais sistólica e diastólica fi caram mais baixas que no dia- controle. 35 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 para o aumento do volume dos músculos esqueléticos é a sobrecarga de tensão, que ocorre sempre que a contração muscular é realizada contra alguma resistência. Nessa situação ocorre o catabolismo das fi bras musculares durante a atividade, o que leva ao aumento de proteínas contráteis no sarcoplasma durante o período de recuperação, caracterizando o processo de hipertrofi a. A sobrecarga tensional das contrações contra resistências também leva à proliferação do tecido conjuntivo muscular, explicando o aumento da elasticidade observada nos músculos hipertrofi ados. A hidratação celular aumenta de forma importante estimulada pelos exercícios resistidos (SANTARÉM, 2013). Em relação ao aumento da massa óssea, esta tende a ocorrer na atividade física por meio das compressões dos ossos e por meio de estímulos a um perfi l hormonal favorável. A compressão óssea pode ocorrer com o suporte do peso corporal ou de equipamentos, ou com o “impacto”, que é a desaceleração brusca do corpo em movimento. Nos exercícios resistidos a compressão óssea ocorre pela ação da resistência aos movimentos, geralmente pesos, e não há impacto. O impacto é uma sobrecarga de difícil controle na atividade física e com frequência está implicado na origem de lesões. Exercícios resistidos e saltos são as atividades mais efi cientes para estimular a massa óssea, mas os primeiros são preferenciais em função da segurança. As cartilagens articulares, discos intervertebrais, ligamentos e tendões são estruturas cujas integridades são importantes para a boa função musculoesquelética, que é estimulada pelos exercícios resistidos de forma efi ciente e segura (SANTARÉM, 2013). A redução da gordura corporal é estimulada pelos exercícios resistidos, tal como ocorre com todos os tipos de atividade física. A condição indispensável para que ocorra mobilização de tecido adiposo é o balanço calórico negativo, cujo principal mecanismo é a redução da ingestão alimentar. Sendo o tecido adiposo a maior reserva de energia do organismo, compreende-se que quando faltam calorias na alimentação para suprir a demanda energética, ocorra mobilização de gordura corporal. A contribuição dos exercícios físicos em geral para o processo de emagrecimento decorre do aumento no gasto calórico diário. No caso dos exercícios resistidos, além do gasto calórico da atividade, ocorre também o estímulo para elevação da taxa metabólica basal, em decorrência do aumento da massa muscular. Acredita-se que a tendência de as pessoas engordarem com a idade seja devida, em grande parte, à redução da taxa metabólica basal decorrente da perda progressiva de massa muscular. O fato de que a mobilização de gordura do tecido adiposo ocorre apenas pela via energética aeróbia levou a conclusões precipitadas no sentido de que apenas os exercícios aeróbios estimulariam o emagrecimento. Na realidade, os exercícios anaeróbios levam à mobilização de gordura no período de repouso, que é uma situação de metabolismo aeróbio. Atualmente, vários estudos documentam redução de tecido adiposo, principalmente, intra-abdominal, estimulada pelos exercícios resistidos (SANTARÉM, 2013; SILVA et al., 2014). 36 A RessiGnificação do Envelhecimento Saúde musculoesquelética é defi nida como boa capacidade funcional do aparelho locomotor e a integridade estrutural dos seus componentes como ossos, cartilagens, ligamentos, músculos e tendões. A saúde musculoesquelética é estimulada por todo tipo de atividade física em que as contrações musculares são realizadas contra alguma forma de resistência. Os exercícios resistidos são efi cientes para estimular a saúde musculoesquelética e também são os mais seguros, em função da adaptabilidade para qualquer situação de saúde e de aptidão. Por meio do estímulo à saúde musculoesquelética é possível reduzir a ocorrência de dores articulares, limitações de aptidão para a vida diária e para o trabalho, osteoporose, fraturas, sarcopenia e fragilidade (SANTARÉM, 2013). Os efeitos do envelhecimento são potencializados pelo sedentarismo e também na presença de doenças piorando os processos degenerativos em cartilagens, articulações, ligamentos, tendões e músculos, que podem ocorrer em maior ou menor grau em função da individualidade biológica. São observados também um aumento do tecido adiposo e uma redução das massas óssea e muscular, além da diminuição das qualidades de aptidão física que tendem a piorar principalmente nas pessoas que envelhecem de maneira sedentária, podendo difi cultar a vida diária e o bem-estar psicológico e social. Com todas essas manifestações durante o processo de envelhecimento, é necessário ressaltar os benefícios importantes dos exercícios físicos, principalmente, o resistido em todas as fases da vida. Vários achados são apresentados na literatura em relação aos benefícios do exercício resistido, mostrando ser ideais mesmo para pessoas muito debilitadas e com muitas comorbidades. Esse fato se deve basicamente à segurança e efi ciência desse tipo de exercício em todas as situações. É de extrema importância selecionar adequadamente os exercícios de acordo com as limitações do indivíduo, controlando cargas e amplitudes, com evolução gradativa sempre respeitando os limites do conforto articular. É importante ressaltar que o grau de esforço deve ser submáximo e os volumes de treinamento baixos. Os objetivos básicos dos programas são estimular e incrementar as funções do aparelho locomotor e aprimorar o sistema cardiovascular, no âmbito da saúde e da aptidão para os esforços da vida diária. Outro aspecto importante desse tipo de exercício é que ele não produz sensação de desconforto respiratório, pode ser realizado em grupos e os intervalos de descanso favorecem a sociabilização entre as pessoas. Silva et al. (2014) relataram a efi ciência do treinamento resistido de alta intensidade (esforço submáximo) em idosos com 86 a 96 anos de idade. O programa foi realizado três vezes por semana e teve a duração de oito semanas, apresentando um aumento de 174% na força muscular, caracterizando que a idade avançada não limita os benefícios que o treinamento de força pode oferecer. Esse resultado mostra 37 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 que a capacidade de os músculos responderem e se adaptarem aos estímulos fornecidos pelo treinamento mantém-se preservada em idosos, sendo o treinamento de força uma proposta rápida e efi ciente de melhorar a sua rotina diária. Souza et al. (2011) relataram em um estudo que comparou a força muscular de idosos portadores do HIV e idosos saudáveis, um aumento signifi cativo e progressivo da força para todos os grupos musculares treinados nos dois grupos, apontando para um efeito positivo do programa de treinamento resistido sobre a força muscular, conforme o esperado. Um aumento substancial da força no grupo de idosos portadores do HIV foi observado, apesar da idade, sexo, status de infecção pelo HIV e/ou patologia, ou uso de medicamento associado ao HIV/AIDS, ou a qualquer outra condição crônica. Além disso, o padrão de incremento de força entre os controles sugere um fenômeno de saturação para todos os grupos musculares, uma vez que a taxa de aumento é mais proeminentenos primeiros meses de treinamento, passando para quase nula após o sexto ao oitavo mês de treinamento (Gráfi co 6). Esse padrão não foi observado entre os idosos que vivem com HIV que, ao contrário, mostram um aumento linear da força muscular ao longo do programa de treinamento, sugerindo que o efeito máximo possível não foi atingido após o programa de um ano. Esse achado pode indicar que, para os idosos que vivem com HIV, o programa de treinamento resistido deve continuar por mais de um ano, a fi m de alcançar os melhores resultados possíveis. GRÁFICO 6 – PADRÃO DE GANHO DE FORÇA MUSCULAR AO LONGO DO PERÍODO DE TREINAMENTO PARA IDOSOS VIVENDO COM HIV E CONTROLES FONTE: Souza et al. (2011, p. 264) * A = Leg Press; B = Extensão Lombar; C = Press Peitoral; D =Remada Sentada. 38 A RessiGnificação do Envelhecimento SOUZA, P. M. L. et al. Effect of progressive resistance exercise on strength evolution of elderly patients living with HIV compared to healthy controls. CLINICS, v. 66. n. 2. pp. 261-266, 2011. Souza et al. (2011) relatam os efeitos de um programa de treinamento resistido progressivo para idosos que vivem com HIV comparado a idosos saudáveis. Os resultados mostram que mesmo vivendo com uma doença que potencializa os efeitos do envelhecimento, os idosos soropositivos conseguiram conquistar resultados importantes para a melhora da condição de saúde que vão se refl etir na qualidade de vida de maneira geral. Com relação aos benefícios psicossociais, precisamos levar em conta a vida de forma solitária dos idosos, tendo pouca oportunidade de relacionamento. Os programas de exercícios físicos em grupo oferecem essa sociabilização e, ao serem praticados regularmente, favorecem uma mudança comportamental, proporcionando transformações emocionais e psicológicas, visto que o idoso quando se sente valorizado pode desencadear alterações positivas junto a sua família e meio social (SILVA et al., 2014). Quando os idosos se mantêm ativos, eles podem estimular a convivência social de várias formas: por meio do diálogo, trocando experiências e fazendo novas amizades. Ao praticar exercícios físicos de forma coletiva, minimiza-se o isolamento social e, acima de tudo, cria-se um convívio saudável. Esse aspecto tem uma relação direta com a saúde psicológica do idoso. Estudos mostram que os programas de exercícios físicos têm grande infl uência sobre o autoconceito e o bem-estar emocional de indivíduos idosos e que a associação entre exercícios físicos e saúde psicológica apresenta-se particularmente forte entre as mulheres (SILVA et al., 2014). Estudos anteriores indicam que a prática sistemática de um programa de exercícios físicos está relacionada à ausência ou a poucos sintomas de depressão ou ansiedade, muito comum em idosos. É considerada também como uma alternativa não farmacológica de tratamento desses transtornos, devido ao baixo custo e por prevenir o declínio funcional. Além disso, o exercício físico apresenta contribuições importantes quando combinado ao tratamento psicofarmacológico da depressão e da ansiedade, auxiliando na recuperação da autoestima e autoconfi ança (SILVA et al., 2014). 39 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 1 A sarcopenia tem despertado crescente interesse entre os médicos nas últimas décadas e agora é classifi cada como uma síndrome geriátrica; a defi nição atual é perda de massa muscular esquelética associada à idade, bem como diminuição da força muscular e/ou desempenho físico, associados à capacidade física reduzida, desempenho cardiopulmonar prejudicado, incapacidade e mortalidade entre os idosos. Pacientes geriátricos com sarcopenia também podem ter resultados piores em tratamentos médicos; por exemplo, cirurgia ou quimioterapia para câncer. Neste momento, de alta incidência da população idosa, a sarcopenia tornou-se um dos desafi os mais importantes para o envelhecimento saudável (CHEN, 2016). • AM, com 65 anos de idade, sedentário, com diagnóstico recente de sarcopenia, contraiu o HIV há pouco tempo e, com isso, seu médico recomendou que procurasse profi ssionais especializados para conseguir administrar melhor sua condição de saúde atual. • Sabendo que a sarcopenia faz parte do processo natural do envelhecimento, qual seria a melhor sugestão para melhorar a condição de saúde e consequentemente a qualidade de vida desse indivíduo? Estilos de vida fi sicamente ativos parecem trazer benefícios também à memória de idosos saudáveis ou portadores de condições patológicas que acometem o sistema cognitivo. A literatura demonstra que esses benefícios podem estar relacionados aos efeitos do exercício físico sobre o sistema cardiovascular ou mesmo aos fatores genéticos e ambientais (SILVA et al., 2014). De maneira geral, a prática regular de exercícios físicos pode infl uenciar na melhora do humor, diminuição da ansiedade e da depressão. Ao se exercitarem na intensidade adequada, liberam um hormônio denominado endorfi na que provoca uma sensação de bem-estar. A constância desse processo pode vir a modifi car atitudes, aumentando a autoconfi ança por meio da superação proporcionada pelo treinamento periódico (SILVA et al., 2014) 40 A RessiGnificação do Envelhecimento 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O crescente aumento da população idosa exige um planejamento a longo prazo com foco na longevidade e com serviços especializados para oferecer mais qualidade e atenção ao idoso, proporcionando um envelhecimento mais saudável. Do ponto de vista social, o envelhecimento está relacionado com a perda de autonomia e independência, interferindo tanto nas relações sociais quanto familiar, pois é uma fase de surgimento de doenças crônicas e fragilidades com um aumento nos gastos com a saúde, em um momento da vida em que os recursos fi nanceiros são menores. Conforme discutido ao longo deste capítulo, um modelo de atenção à saúde do idoso seria ideal para colocar em prática todas as ações necessárias para um envelhecimento saudável e com qualidade de vida. Um modelo de atenção efi ciente para aplicar to dos os níveis de cuidado deve ter um fl uxo bem desenhado de ações de educação, promoção da saúde, prevenção de doenças evitáveis, poster gação de moléstia, cuidar o mais precocemente possível e reabilitação de agravos. Essa linha de cuidado se inicia na captação, no acolhimento e no monitoramento do idoso e somente se encer ra nos momentos fi nais da vida, na unidade de cuidados paliativos. Isso trará benefícios não somente aos idosos, mas também qualidade e sustentabilidade ao sistema de saúde brasileiro. Intensifi car, ampliar e aprimorar as políticas públicas dentro dessa linha de prevenção que visa um envelhecimento saudável, proporciona uma melhor qualidade de vida além de reduzir os gastos públicos que são altos nesse período. Ainda no contexto social, a velhice passou por várias transformações, mas ainda sofre com a discriminação e o preconceito. Foram sugeridos então programas com atividades em grupos com a intenção de sociabilizar, fazer novas amizades e trocar experiências. As mulheres, desde a formação de grupos para interagir socialmente até com a criação de programas de atividades físicas se mostraram mais fáceis de se adaptar com relação aos homens, devido às mudanças ocorridas em suas vidas com a chegada do envelhecimento. Como estimular os homens? Reconhecer a condição de saúde nos três aspectos, físico, psicológico e social é importante para manter boa qualidade de vida. Programas de exercícios físicos entre outras sugestões foram dadas para que a pessoa idosa possa interagir socialmente e também se manter saudável. Essas atitudes refl etem positivamente por melhorar a autoestima e o bem-estar dessas pessoas. 41 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E NO MUNDO Capítulo 1 Com relação ao aparecimento de doenças crônicas e limitações durante o processo de envelhecimento,foram sugeridos tipos específi cos de exercícios para obter melhor resultado tanto para manutenção da saúde quanto para a reabilitação física. Para atender a esse público, dentro de um programa de exercícios, é necessário profi ssional especializado para fazer um atendimento adequado, evitando danos à saúde dessa população. REFERÊNCIAS AGOSTINHO, P. Envelhecimento populacional e bases legais da atenção à saúde do idoso. 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A maneira como o indivíduo encara o processo de envelhecimento é a visão que ele terá dessa fase da vida, que pode ser positiva ou negativa. Neste capítulo será mostrada uma obsessão pela juventude, estimulando um sentimento de inadequação daqueles que já atingiram a terceira idade, além disso é uma fase de perdas e sentimentos de inutilidade que podem levar o idoso ao isolamento e à depressão. O suicídio é abordado como uma consequência de várias transformações ocorridas nessa fase da vida, sem prévia estrutura, levando o indivíduo a pôr um fi m no próprio sofrimento. Outros problemas enfrentados pelos idosos como discriminação, preconceito, abandono familiar e o difícil acesso às políticas sociais serão comentados neste capítulo. Nesse contexto, também está presente a problemática da violência praticada contra a pessoa idosa manifestando-se por meio da dimensão estrutural, institucional e familiar, em que os idosos são, às vezes, vítimas simultaneamente. As agressões, os abusos e negligências perpetuam-se em virtude do choque de gerações, da falta de espaço físico nos domicílios ou de difi culdades fi nanceiras e somam-se ao imaginário social que criou uma concepção negativa da velhice. Outro aspecto importante e que também gera confl itos é o surgimento de doenças incapacitantes, em que a família muitas vezes precisa se reorganizar para enfrentar uma nova etapa. Terapia, reabilitação e programas de exercícios físicos são propostas sugeridas aqui como uma maneira de prevenir o rápido avanço de doenças degenerativas como a Doença de Alzheimer. A última sessão deste capítulo apresenta os idosos nas sociedades contemporâneas, vistos como problema social, ocasionando o sofrimento psíquico desses indivíduos. Outro fato interessante é o envelhecimento de indivíduos que se identifi cam como gays, mostrados nos estudos como um momento recente tido
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