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Moarah Brito | 4º Período | FASAI APG #11 Refluxo gastroesofágico Objetivo 1: Morfofisiologia estômago | Objetivo 2: Mecanismos de agressão e proteção da mucosa gástrica | Objetivo 3: Fisiopatologia e manifestações da gastrite e da úlcera péptica Objetivo 1: Relembrar a morfofisiologia do estômago Introdução ● Onde começa a degradação química das proteínas ● Alimento é convertido em quimo (suco) ● Se situa nas regiões do hipocôndrio esquerdo, epigástrica e umbilical ● Tende a estar elevado e mais horizontal em gordos e de baixa estatura ● Alongado verticalmente em altos e magros Anatomia macroscópica ● Varia de 15-25 cm ● Seu diâmetro depende da quantidade de alimento que ele contém ● Estômago vazio possui cerca de 50mL ● Estômago cheio pode ter cerca de 4L, se estendendo até a pelve ● Quando vazio, fica colabado, formando rugas, grandes dobras e longitudinais em sua mucosa e submucosa ● Principais regiões - Cárdia - Fundo gástrico - Corpo gástrico - Região pilórica ( forma de funil) - Antro pilórico - Canal pilórico ● Mesentérios - Ajudam a fixar o estômago aos outros órgãos digestórios e às paredes do corpo - Omento menor - Vai do fígado até a curvatura menor do estômago, onde se torna contínuo com o peritônio visceral que recobre o estômago - Omento maior - Repleto de gordura - Contém grande quantidade de linfonodos Moarah Brito | 4º Período | FASAI Anatomia microscópica ● As quatro túnicas típicas da maioria do TGI, porém mais modificadas para a função do estômago ● O músculo liso oblíquo permite não apenas mover o bolo alimentar, como - Agitar - Triturar - Amassar ● O epitélio que reveste a mucosa do estômago é um epitélio colunar composto inteiramente por células mucosas da superfície ● A camada superficial é composta por um muco viscoso que aprisiona abaixo dela uma camada de líquido rico em bicarbonato ● Esse revestimento é chamado de fovéolas gástricas, que levam às glândulas gástricas, as quais produzem ao suco gástrico, mas as células que formam as glândulas gástricas variam nas diferentes regiões do estômago - Células das glândulas da cárdia e piloro são principalmente secretoras de muco - Fundo e corpo, onde grande parte da digestão química ocorre, produzem a maioria das secreções do estômago ● Glândulas - Mucosas do colo - Região superior - Ainda não se sabe função especial que esse muco ácido executa - Células parietais - Secretam HCl e fator intrínseco - Microvilosidades → alta secreção - Fator intrínseco é uma glicoproteína necessária para absorção de vitamina B12 no intestino delgado - HCl deixa conteúdo do estômago extremamente ácido - Acidez auxilia na - Ativação da pepsina - Desnaturação de proteínas - Degradar parede celular dos alimentos vegetais Moarah Brito | 4º Período | FASAI - Matar muitas bactérias ingeridas - Células principais - Produzem pepsinogênio, forma inativa da pepsina, enzima que digere proteínas - Secretam insignificantes quantidades de lipases - Células enteroendócrinas - Liberam mensageiros químicos - Histamina e serotonina - Agem localmente como fatores parácrinos - Gastrina - Regulação da secreção e motilidade do estômago - Somatostatina - Agem no local também como hormônios Objetivo 2: Rever os mecanismos de agressão e proteção da mucosa gástrica Introdução ● O suco gástrico é um ácido corrosivo ● Suas enzimas que digerem as proteínas podem digerir o próprio estômago ● Mecanismo agressivo contra-ataque → Barreira de muco Barreira de muco ● Três fatores criam a barreira - Uma grossa camada de muco rico em bicarbonato é formada sobre a parede do estômago - As células epiteliais da mucosa são unidas por junções oclusivas que evitam que o suco gástrico vaze para dentro das camadas de tecido situadas abaixo do epitélio - Células do epitélio da mucosa danificadas são removidas e rapidamente substituídas pela divisão de células-tronco indiferenciadas, que residem onde as fovéolas gástricas encontram as glândulas gástricas - O epitélio superficial do estômago é completamente renovado a cada 3-6 dias Processos digestivos que ocorrem no estômago ● Pepsina: enzima mais importante produzida pela mucosa gástrica , digerindo proteínas ● Renina: em lactentes, contribui para degradação da proteína do leite (caseína) ● Lipase: pode digerir alguns triacilgliceróis no estômago ● Fator intrínseco: indispensável para a absorção de vitamina B12 → anemia perniciosa Regulação da secreção gástrica ● Controlada por mecanismos neurais e hormonais Moarah Brito | 4º Período | FASAI Motilidade e esvaziamento gástrico Resposta ao enchimento ● A pressão interna do estômago se mantém constante até que cerca de 1,5 L de alimento tenha sido ingerido. ● A partir daí, a pressão aumenta. ● A pressão relativamente constante em um estômago que está enchendo é devido ao (1) relaxamento receptivo mediado por reflexo dos músculos do estômago (2) plasticidade do músculo liso visceral. ● Relaxamento receptivo - Coordenado pelo centro da deglutição no tronco encefálico e mediado pelo nervo vago, que age em neurônios entéricos liberadores de serotonina e de óxido nítrico. ● Plasticidade - Habilidade intrínseca do músculo liso visceral de manifestar a resposta de relaxamento por estresse Atividade contrátil gástrica ● Peristalse ● À medida que as contrações vão chegando ao piloro, onde a musculatura do estômago é mais grossa, elas se tornam bem mais fortes. ● A intensidade pode ser modificada ● Frequência é constante - Esse ritmo contrátil é determinado pela atividade espontânea das células marcapasso localizadas na camada longitudinal do músculo liso. - As células marcapasso, células não contráteis semelhantes a músculo chamadas de células intersticiais de Cajal, despolarizam e repolarizam espontaneamente três vezes a cada minuto, estabelecendo as chamadas ondas lentas cíclicas do estômago ou seu ritmo elétrico básico (REB). ● Fatores que aumentam a força - Distensão das paredes do estômago pelos alimentos ativa receptores de estiramento e células secretoras de gastrina, os quais finalmente estimulam o músculo liso gástrico e, assim, aumentam a motilidade gástrica. - Então , quanto mais alimento houver no estômago, mais vigorosos os movimentos. Regulação do esvaziamento gástrico ● Quando o quimo entra no duodeno, receptores na sua parede respondem a sinais químicos e ao estiramento, iniciando o reflexo enterogástrico e os mecanismos hormonais Moarah Brito | 4º Período | FASAI (enterogastronas) que inibem a secreção de ácido e de pepsina, como descrito anteriormente. ● Esses mecanismos inibem a atividade secretora gástrica e evitam um enchimento adicional do duodeno, reduzindo a força das contrações pilóricas ● Uma refeição rica em carboidratos se move ao longo do duodeno de forma rápida ● As gorduras formam uma camada oleosa no topo do quimo e são digeridas de forma mais lenta pelas enzimas que agem no intestino e podem permanecer no estômago por seis ou mais horas. Objetivo 3: Compreender a fisiopatologia e as manifestações clínicas da gastrite e da úlcera péptica Gastrite . Introdução ● Termo com controvérsias ● Deixou de ser afecção para tornar-se um sintoma Definição ● Gastrite = inflamação no estômago ● Exame histológico alterado não é conceito de gastrite ● Termo inadequadamente utilizado para referir - Sintomas como estufamento - Sensação de peso no estômago após refeições - Mal-estar indefinido no estômago relacionado com refeição - Eructações - Queimação pós-prandial ● Conceito lato sensu (sentido amplo): sintomas desagradáveis, que surgem na região epigástrica, relacionados ou não às refeições ● Inflamação gástrica não é responsável pela maioria dessas queixas (reconhecida hoje como parte de uma síndrome dispéptica) ● Gastrite: presença de lesão epitelial gástrica associada à regeneração da mucosa, obrigatoriamente na presença de inflamação ● Gastropatia: achado de lesão e regeneração epitelial na ausência de inflamação Classificação ● Classificações controversas ● Classificação clássica: - De Schindler, combase nas descrições endoscópicas e histológicas - De Whitehead, com base na anatomopatologia ● Classificação mais recomendada - Sistema Sidney, com base em aspectos histológicos e endoscópicos Gastrite aguda ● Surgem subitamente ● Curta duração ● Habitualmente afecções transitórias ● Podem acometer - Corpo gástrico - Região antral - Ambos ● Gastritis aguda/Gastrite hemorrágica/Gastrite erosiva/Úlcera aguda - Mesmo processo - Diferentes formas de ser apresentado ● Duodenite hemorrágica: Inflamação aguda pode acometer a mucosa do duodeno de forma isolada ou simultaneamente Moarah Brito | 4º Período | FASAI ● Lesões agudas da mucosa gastroduodenal (LAMGD) é uma denominação genérica para designar qualquer tipo de reação aguda da mucosa gastroduodenal Lesões infecciosas ● Infecções bacterianas e virais estão entre as causas mais frequentes de agressão para o estômago ● Estafilococos, shigellas e salmonelas: comuns nas toxinfecções alimentares, as gastroenterocolites agudas ● Mais frequência no verão, pois os alimentos de deterioram mais rapidamente ● Sintomas para diagnóstico: vômitos, diarréia e febre ● Infecções virais comumente provocam gastrite aguda, como as hepatites agudas - Sintomas iniciais: náusea e repugnância ao alimento ● Gastrite aguda associada ao H. pylori - Em geral, adquirida na infância, mas passa despercebida - Sem sintomas na fase aguda - Na idade adulta, pode ocasionar - Dor - Desconforto epigástrico - Náuseas - Vômitos - Halitose - Astenia - Sintomas que se iniciam num período de 3-7 dias após a infecção - Persistem por poucos dias ou semanas ● Achado consistente da infecção aguda é a redução da produção de ácido - Volta ao normal após alguns meses - Ocorre devido fatores bacterianos, como a - Produção de fator inibitório da secreção ácida pelas células parietais - Resposta do hospedeiro - Liberação de citocinas, como a interleucina-1 beta - Capaz de suprimir secreção ácida em ratos ● Alta prevalência de gastrite crônica associada ao H. pylori supõe - Muitos casos de dispepsia aguda sejam decorrentes de uma infecção primária pela bactéria ● Giardíase e estrongiloidíase, em suas fases iniciais ocasionam - Gastrite aguda - Gastroduodenites que podem mimetizar os sintomas de uma úlcera - Sintomas (caráter crônico) - Flatulências - Dores abdominais de localização variada - Irregularidade do hábito intestinal, com diminuição da consistência das fezes - Diarréias crônicas são mais comuns em crianças Infecções fúngicas ● Usual em imunossuprimidos ● Candida albicans mais frequente ● Muitas vezes associado ao citomegalovírus ● Raramente associado ao herpes vírus Lesão hemorrágica ● Estresse agudo intenso - Grandes cirurgias - Queimaduras graves - Fraturas múltiplas ● Estresse pode provocar erosões e úlceras agudas na mucosa gástrica, que ocasiona hemorragia digestiva alta ● Endoscopia de urgência para diagnóstico e tratamento das lesões sangrantes - Inibidores de bomba protônica, por via endovenosa Moarah Brito | 4º Período | FASAI ● Também podem ser chamadas de - Úlceras de estresse - Úlceras de Cushing (quando associadas a traumatismo craniano) - Úlceras de Curling ( quando decorrentes de queimaduras extensas) - Lesão aguda da mucosa gastroduodenal Lesão química ● Uso abusivo de etanol é uma das principais causas ● Lesões induzidas pelo álcool resultam no rompimento da barreira da mucosa gástrica e, consequentemente, a retrodifusão de íons H+ ● Endoscopia - Hiperemia - Erosões - Petéquias - Exsudato purulento ● Achados endoscópicos retornam ao normal entre 7-10 dias Lesão medicamentosa ● AINES e AAS (ácido acetilsalicílico) - Agentes responsáveis pelo maior número de gastrites agudas ● Lesões por AINES - Desde discreto enantema até necrose maciça da mucosa Obs: exantema é uma erupção cutânea difusa e mais ou menos extensa ao longo da superfície do corpo, enquanto que o enantema designa a erupção cutânea que se manifesta na superfície das mucosas ● Porém, usualmente, a lesão aguda é de pouca importância clínica ● A resolução das lesões ocorre espontaneamente em poucos dias com a suspensão do agente agressor, sem terapêutica específica ● Lesões são quase sempre superficiais - Sangramento, quando acontece, é de pouco significado clínico ● Esse fato ocorre devido citoproteção adaptativa - Meios de mecanismos de adaptação com aumento da - Replicação celular - Fluxo sanguíneo contínuo - Levando a uma resistência ao efeito lesivo local dos AINEs - Aumento da produção de prostaglandina endógenas, permitindo uma melhor defesa da mucosa ● O uso contínuo, indiscriminado ou não é quando sua ação agressiva supera a extraordinária capacidade de defesa da mucosa ● A inibição da síntese de prostaglandinas pelo uso de AINES pode resultar no surgimento de lesões gástricas, a gastropatia secundária aos AINES ● Os mecanismos envolvidos nesse fenômeno incluem - Agregação de leucócitos a células endoteliais da microcirculação gástrica - Reduzindo o fluxo sanguíneo gástrico efetivo e - Redução da produção de muco prostaglandina-dependente e - Capacidade de migração epitelial de células adjacentes à área lesada ● Com a perda da capacidade protetora do muco, o ácido e a pepsina podem agir mais facilmente a superfície epitelial ● O comprometimento da hidrofobicidade resulta em contato da solução ácida em uma área maior ● A circulação da mucosa e a capacidade de defesa celular ficam comprometidas ● Resultado: diminuição da capacidade de a mucosa defender-se da agressão dos - Fatores intraluminais - Ácido clorídrico - Pepsina - Sais biliares - Exógenos Moarah Brito | 4º Período | FASAI - AINE - Álcool - Outros medicamentos ● O uso temporário e ocasional de AINE em indivíduos sem fatores de risco para lesões gastroduodenais não determina a necessidade de medidas profiláticas ● Para os usuários crônicos, a profilaxia é recomendada para aqueles com pelo menos um fator de risco definidos ● Os IBP e, em menor extensão, os antagonistas dos receptores H2 parecem reduzir a intensidade das lesões agudas induzidas por AINE ● É sempre aconselhável rever a real necessidade da utilização do AINE ● Se possível, substituir por analgésico, como paracetamol, que não tem ação antiinflamatória Gastrite crônica ● Essencialmente histológica ● Caracterizada por um infiltrado inflamatório mononuclear, com ou sem polimorfonucleares ● Pode comprometer as mucosas do - Corpo - Antro - Ambas ● Fraca correlação entre quadro clínico e aspectos histológicos e endoscópicos Gastrite crônica associada ao Helicobacter pylori ● H. pylori é responsável por mais de 95% das gastrites crônicas ● Sobre a bactéria - Espiralada - Gram negativa - Coloniza a camada de muco que reveste a mucosa gástrica ● A infecção pelo H. pylori é uma das mais comuns em seres humanos, estimando-se que acometa mais de 50% da população mundial ● Gastrite crônica que envolve a mucosa antral, associada ao H. pylori, acompanha - Cerca de 70% dos casos de úlcera gástrica - Mais de 90% dos casos de úlcera duodenal ● Evolução clínica é determinada pela interação complexa entre o hospedeiro e os fatores do microorganismo ● Classicamente, a quantidade de bactérias e a presença de fatores de virulência são necessários para que a bactéria possa se instalar, sobreviver e ser responsável pela resposta inflamatória do hospedeiro ● Fatores de virulência - Ilha da patogenicidade associada aos genes cag e vacA - Componentes bacterianos como - Urease - Porinas ● Os moos podem causar lesão - Diretamente nas células epiteliais - Por enzimas e toxinas - Indiretamente Moarah Brito | 4º Período | FASAI - Pela resposta inflamatória do hospedeiro ● A infiltração leucocitária da mucosa é induzida e regulada por diversos fatores bacterianos ● A bactéria causa secreção da interleucina-8 - Produção potencializada por - Fator de necrose tumoral - Interleucina-1 - Liberada pelos macrófagos em resposta a lipopolissacarídeos bacterianos ● Uma vez adquirida, a infecção persiste para sempre - Embora a presença do H. pylori evoqueresposta imune local e sistêmica - Resposta incapaz de promover erradicação da bactéria ● Após o processo agudo, a evolução vai depender do padrão de gastrite causado pela infecção ● Indivíduos com gastrite predominantemente antral - Mantém capacidade de secretar ácido - Poderão ter risco aumentado para úlcera duodenal ● Indivíduos com gastrite mais intensa no corpo - Secreção ácida reduzida em consequência da destruição progressiva da mucosa oxíntica - Inflamação pode resultar no desenvolvimento de atrofia da mucosa gástrica quando associada a - Tabagismo - Consumo de álcool - História pregressa familiar de câncer de estômago ● Como a infecção gástrica adquirida quase sempre ocorre na infância, especula-se que fatores ambientais possam contribuir para o desenvolvimento da infecção (gastrite atrófica e câncer gástrico) - Desnutrição - Deficiências vitamínicas - Dieta pobre em frutas e vegetais ● Outro fator de risco - Gênese da neoplasia gástrica associada ao H. pylori - A presença de polimorfismos de genes importantes para a codificação e produção de proteínas pró-inflamatórias pode direcionar a resposta do hospedeiro primariamente para a gênese da neoplasia ● Foi demonstrada a presença de genótipos pró-inflamatórios da IL-1 em pacientes portadores de câncer gástrico associado à gastrite crônica H. pylori positiva ● IL-1 - Potente inibidor da secreção ácida - Cria melhores condições para sobrevivência bacteriana Moarah Brito | 4º Período | FASAI Gastrite auto-imune ● Acomete principalmente - Corpo - Fundo gástrico - Raramente antro ● Caracteriza-se por - Formas mais avançadas - Atrofia de mucosa ● Doença autossômica dominante ● Induzida pela presença de anticorpos da anti célula parietal e antifator intrínseco - Perda de células parietais provoca - Secreção inadequada de fator intrínseco e de ácido - Baixa absorção de vitamina B12 → Anemia perniciosa ● Pode estar associada a outras doenças de caráter auto-imune - Tireoidite de Hashimoto - Doença de Graves ● Diagnóstico - Dados clínicos - Manifestações hematológicas e/ou neurológicas da anemia perniciosa - Endoscopia digestiva com biópsia Outras gastrites ● Pouco frequentes incluem as gastrites granulomatosas, eosinofílicas e linfocíticas ● Diversas causas granulomatosas - Doença de Crohn - Sarcoidose - Tuberculose - Sífilis - Micoses idiopáticas ● Acometimento pela doença de Crohn - Raro - Achado de lesões gástricas irregulares ou úlceras aftóides H. pylori negativas podem determinar o diagnóstico - Achado mais comum - Infiltrado inflamatório local, sem necessariamente haver formação de granulomas - Presença de eosinófilos e macrófagos - Pode ser sintomática - Diagnosticada por exame endoscópico ou radiológico no estômago ● Gastrite eosinofílica - Rara - Etiologia desconhecida - Caracterizada por infiltrado eosinofílico na parede do estômago - Pode comprometer - Mucosa - Antro é mais acometido - Ulcerações, nodosidades e pregas mucosas salientes - Camada muscular - Pode provocar estreitamento da luz gástrica - Camada serosa - Pode provocar peritonite e ascite - Ou todas as camadas da parede gástrica - Sintomas incluem - Dor epigástrica - Saciedade precoce - Desconforto pós-prandial - Náuseas - Vômito Moarah Brito | 4º Período | FASAI - Sintomas decorrentes de anemia por perda crônica de sangue - Diagnóstico definitivo - Biópsia endoscópica - Eosinofilia periférica - Acometimento do intestino delgado (gastroenterite eosinofílica) ● Gastrite linfocítica - = Gastrite varioliforme ou gastrite erosiva crônica - Rara - Caracterizada por - Múltiplas nodulações - Com erosões centrais e hiperemia circunjacente - Sintoma - Frequência intermitentes - Epigastralgia do tipo úlcera - Dor abdominal - Náuseas - Vômitos - Perda de peso - Sangramento oculto ou ativo - Diagnóstico - Histologia - Pelo menos 20% de linfócitos em relação às células do epitélio superficial - História natural - Alguns melhoram em poucas semanas - Outros apresentam sintomas de forma contínua ou intermitente, durante anos Doença ulcerosa péptica Introdução ● Etiologia desconhecida ● Considerada doença de evolução crônica, com surtos de recidiva e períodos de acalmia Definição ● São soluções de descontinuidade da mucosa gastrointestinal secundárias aos efeitos cáusticos do ácido clorídrico (HCl) e da pepsina ● Estende-se através da muscularis mucosae, atingindo a submucosa e a própria muscularis ● Lesões mais superficiais são definidas como erosões, não atinge a submucosa e, portanto, não deixam cicatrizes ● Embora possam desenvolver em qualquer ponto do trato digestivo, é geralmente empregada para descrever úlcerações no - Estômago - Duodeno - Ambos Etiologia e fisiopatologia ● “Sem ácido, sem úlcera” Karl Schwartz ● A mucosa gástrica está em um constante processo de descamação e regeneração ● O aumento dos fatores agressivos ou a diminuição dos defensivos e de reparação criam condições para a lesão da mucosa ● Se persistirem as condições adversas, a lesão poderá ultrapassar a muscularis mucosae e originar a úlcera Moarah Brito | 4º Período | FASAI Hipersecreção de ácido, gastrina e pepsina ● Em geral, a produção de ácido está aumentada na úlcera duodenal, sendo normal ou baixa na úlcera gástrica ● A secreção basal de HCl é 2-3x maior nos ulcerosos duodenais - Observando-se um intrigante imbricamento dos valores pós-estímulo máximo ● No entanto, 20-30% dos ulcerosos duodenais apresenta, após estímulo máximo, uma produção de HCl acima do limite superior ao normal ● O aumento da secreção ácida pode ser explicado por - Aumento da população parietal - Maior sensibilidade da célula parietal - 3x maior na úlcera duodenal - Histamina (produzida nas células enterocromafins smile), gastrina (células G) e acetilcolina (nervo vago) são os primeiros mensageiros químicos que ativam a célula parietal - Unindo-se aos seus receptores específicos na membrana parietal, elas ativam o segundo mensageiro (AMP-cíclico ou canais de cálcio) - Ampliam o estímulo inicial → produção de ATPase K+ ativada no canalículo secretor, a via final para a produção do HCl - Sensibilidade menor da célula G aos mecanismos inibitórios Moarah Brito | 4º Período | FASAI - Proteínas semidigeridas, Ca++, aminoácidos, histamina e acetilcolina estimulam a célula G - Células G localizam-se na região antral junto às células D, responsáveis pela produção de somatostatina - A gastrina atinge o seu receptor na célula parietal por via sanguínea, induzindo produção de HCl - A consequente queda do pH intraluminal funciona como freio para a célula G - É um verdadeiro mecanismo de autorregulação - O mecanismo H+ depende da atividade da célula G é, na verdade, somatostatina-dependente ● Esse mecanismo inibitório também ocorre em relação a própria célula parietal ● A proximidade da célula D com as células G ( no antro) e parietal ( na mucosa oxíntica) facilita a ação da somatostatina, que se difunde e ocupa o seu receptor nas respectivas células (via parácrina), onde exerce função inibitória ● Na úlcera duodenal, - A célula G é menos sensível ao freio da somatostatina - Ante um estímulo fisiológico, observa-se produção mais prolongada de HCl e esvaziamento gástrico mais rápido - Portanto, mais ácido é produzido por mais tempo e ofertado mais rapidamente ao bulbo duodenal - Consequentemente, o bulbo é banhado por secreção de baixo pH por um tempo maior - Leva a maior frequência de metaplasia gástrica presente no bulbo duodenal, local onde a lesão se instala, originando úlcera - As áreas metaplásicas são colonizadas pelo H. pylori, que estabelece inflamação, tornando-as, assim, mais passíveis de serem agredidas pelo fator ácido-péptico ● Outra variável importante é representada pelo sexo e grupo étnico ● Mulheres, em geral, secretam menos ácido ● Numa mesma população, a produção de ácido também é variável, independente do sexo ● O fator genético é, muito provavelmente, importante para determinar o fenótipo secretor de determinada população ● Nos predispostos, os fatoresambientais desempenham seguramente papel importante na eclosão da úlcera ● Entre eles, a infecção pelo H. pylori é crucial - Isso explicaria por que - Úlcera ocorre em indivíduos que secretam ácido em níveis próximos dos normais Moarah Brito | 4º Período | FASAI - Hipersecretores não podem apresentar úlcera Fatores ambientais ● A secreção de ácido de um indivíduo varia e depende de vários fatores ambientais - Alimentação - Uso de medicamentos - Hábito de fumar - Estado emocional ● Esses fatores influenciam a produção de ácido 24horas ● Fator ambiental mais importante é a H. pylori ● A flutuação dos níveis de acidez durante o dia, com limiares de tempos em tempos, daria condições de maior ou menor agressão para a mucosa, explicando as fases de atividade e acalmia da úlcera Pepsinogênio ● A úlcera é uma afecção multifatorial ● O pepsinogênio, precursor da pepsina, encontra-se elevado na maioria dos ulcerosos ● Além disso, destaca-se o fato de a atividade proteolítica desta enzima ser maior nos ulcerosos Outros fatores ● Além das alterações na produção de HCl e pepsinogênio, deve ser lembrada a equação agressão/defesa ● A diminuição da capacidade de defesa da mucosa é importante, pois isso a torna mais vulnerável aos elementos agressivos ● A inflamação da mucosa e a diminuição de peptídeos envolvidos no estímulo dos elementos que a mantém íntegra favorecem a lesão ● O H. pylori diminui - Disponibilidade endógena das prostaglandinas e do fator de crescimento epitelial - Debilita a mucosa - Aumenta a produção dos fatores agressivos ● As prostaglandinas são responsáveis por - Estimular a produção de muco e de bicarbonato pelas células epiteliais - Influenciam a - Hidrofobicidade do muco adjacente à superfície epitelial - O fluxo sanguíneo da mucosa - Capacidade de replicação do epitélio ● O fator de crescimento epitelial (EGF) é elemento essencial na reparação da mucosa - Comprometimento da sua produção leva ao comprometimento da capacidade regenerativa da superfície epitelial - A diminuição de EGF foi encontrada em pacientes com úlcera gástrica e duodenal Helicobacter pylori e úlcera péptica ● H. pylori é importante na gênese da úlcera em razão de - Inflamação da mucosa resultante de sua presença - Alteração de mecanismos que regulam a produção de ácido Moarah Brito | 4º Período | FASAI ● 90-95% dos ulcerosos duodenais encontram-se infectados pela bactéria ● Alguns pesquisadores acreditam não ser o fator ácido mais importante, mas sim a bactéria em si ● As citocinas inflamatórias, a própria resposta imunológica do hospedeiro seriam os moduladores da agressão que determinaria o tipo de doença (ou não) que o hospedeiro infectado apresentaria ● A variedade da cepa infectante seria primordial na cascata de eventos que culminaria, eventualmente, na úlcera ● Nos pacientes com úlcera duodenal, a inflamação em geral se restringe ao antro gástrico ● A região do corpo é poupada e, quando muito, é sede de discreta inflamação ● A produção de gastrina está aumentada em consequência da presença da bactéria do próprio processo inflamatório antral ● Como a mucosa do corpo se mantém normal, ocorre maior produção de ácido do que é ofertado em maior quantidade ao bulbo e cujo resultado é a úlcera ● A hipergastrinemia secundária ao H. pylori foi demonstrada em diferentes estudos ● A resposta exagerada da gastrina resulta da menor produção de somatostatina, hormônio que inibe a célula G ● A razão da diminuição da concentração da somatostatina na mucosa e de seu RNA-mensageiro em ulcerosos infectados não está esclarecida ● Citoquinas localmente produzidas e elevação do pH consequente à produção de amônia pela bactéria são mecanismos lembrados como responsáveis pela diminuição da concentração da somatostatina ● O principal mediador da secreção ácida estimulada por alimentos é a gastrina ● Portanto, distúrbios da secreção ácida relacionados à hipergastrinemia tendem à exacerbação com a ingestão de alimentos ● O peptídeo liberador da gastrina (GRP), um neuropeptídeo presente nos nervos do TGI, especialmente no antro gástrico, é - Liberado na presença de alimentos no estômago - Estimula a secreção de gastrina pelas células G ● Atualmente, o GRP é o melhor método para simular a secreção ácida estimulada pela alimentação ● Após fusões endovenosas de GRP, pacientes com h. pylori apresentam níveis de gastrina e secreção ácida 3x maior ● Tais achados podem estar relacionados `a hipergastrinemia prolongada e ao maior número de células parietais, bem como a redução de mecanismos inibitórios da secreção gástrica, associados ou não a características genéticas do indivíduo ● Além do distúrbio na secreção, a própria ação lesiva da bactéria é lembrada como importante na etiologia da úlcera - Pacientes predestinados a desenvolver úlcera estão em geral infectados por cepas cag-A positivas, que são também, em geral vac-A positivas - A proteína cag-A é um marcador de uma ilha de patogenicidade que envolve outras citocinas importantes para determinar a virulência da bactéria - Observações recentes mostraram um padrão constante, ligando as cepas cag-A positivas com maior produção de gastrina após-estímulo Úlcera gástrica ● Infecção pelo H. pylori em 60-70% dos casos - Provavelmente, percentual menor hoje em dia decido aumento nas úlceras relacionadas com os AINEs ● Observa-se - Pangastrite com diminuição da massa funcional das células parietais ● Mesmo na presença de hipergastrinemia, não há hipersecreção ácida ● O mecanismo de gênese da úlcera está relacionado com a fragilidade da mucosa, provavelmente decorrente do processo inflamatório e do comprometimento dos mecanismos de defesa representados por camada de - Camada de muco bicarbonato - Capacidade surfactante do muco - Alterações da microcirculação Moarah Brito | 4º Período | FASAI - Menor capacidade de regeneração da mucosa Quadro clínico ● Padrão doloroso - Baseia-se na assertiva de que a acidez gástrica, em contato com nociceptores expostos pela lesão péptica, produz dor e sua neutralização a alivia. - Contudo, esse conceito simplista não explica, por exemplo, por que muitos pacientes são assintomáticos na vigência de úlceras ativas e outros persistem com dor do tipo ulcerosa após a cicatrização da úlcera. ● Dor abdominal caracteriza-se por - Dor epigástrica em queimação - Na úlcera duodenal - Período que varia de 2-3 horas após a refeição - Aliviada com nova ingestão alimentar ou uso de antiácidos - ⅔ dos pacientes com dor noturna que desperta - Hiperfagia e ganho ponderal - Dor de caráter periódico - Dura dias ou semanas - Desaparece por semanas ou meses - Reaparecem meses ou anos - A dor epigástrica pode ser indistinguível da dor provocada pela úlcera duodenal - Entretanto, a dor dos ulcerosos gástricos pode não apresentar melhora com a alimentação ou com o uso de antiácidos. - A epigastralgia pode até ser precipitada pelas refeições e, associada ao retardo no esvaziamento gástrico e à anorexia, justificar a perda de peso presente em mais de 50% dos pacientes - ⅓ despertar com dor noturna ● Muitos pacientes que procuram os hospitais para o tratamento das complicações da doença, como hemorragias ou perfurações, nunca apresentaram sintomatologia prévia. ● Em 10% dos ulcerosos a hemorragia é a primeira manifestação da doença, e em um terço dos pacientes com úlcera perfurada o episódio perfurativo constitui o primeiro sintoma da doença. ● Complicações - Melena - Hematêmese - Perda de sangue oculto nas fezes - Náuseas - Vômitos - Distensão abdominal - Sinais de peritonismo - Instabilidade hemodinâmica ● Não há, entretanto, sensibilidade ou especificidade suficientes na anamnese ou no exame físico para a confirmação diagnóstica da doença ulcerosa péptica. ● A confirmação diagnóstica deve ser realizada por meio de exames específicos
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