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MÉTODOS EMPREGADOS EM EPIDEMIOLOGIA Prof. Dra. Nathalia Oda Amaral AULA 07 A ciência desenvolveu numerosas maneiras de abordagens e investigação para: ➢ Conhecer melhor a saúde da população; ➢ Conhecer os fatores que a determinam; ➢ A evolução do processo da doença; ➢ O impacto das ações propostas para alterar o seu curso. Como consequência há muitos métodos a nossa disposição Metodologia ➢ Em uma dada situação um deles poderá ser mais adequado do que o outro; ➢ Vários são usados no estudo de um mesmo tema; ➢ Cada um tem seus aspectos positivos e suas limitações; ➢ É preciso conhecer para antecipar suas facilidades ou dificuldades antes de se usar; ➢ É preciso julgar e avaliar a metodologia usada, os resultados apresentados e a interpretação dada, se a teoria foi convenientemente aplicada. Principais estratégias empregadas na investigação de um tema de saúde Estudo de caso Investigação laboratorial Pesquisa populacional ESTUDO DE CASOS ➢ Costuma ser a primeira abordagem de um tema; ➢ Usado para avaliação inicial de problemas ainda mal conhecidos e cujas características ou variações naturais não foram convenientemente detalhadas; ➢ Trata-se de observar um ou poucos indivíduos com uma mesma doença ou evento e, a partir da descrição dos respectivos casos, traçar um perfil das suas principais características. ESTUDO DE CASOS Empregado para enfocar grupos específicos da população ou um particular aspecto de interesse, não devidamente investigado em pesquisas quantitativas ou que simplesmente necessitem de suplementação de informações com maior riqueza de detalhes ESTUDO DE CASOS Aspectos positivos ➢ É relativamente fácil de ser realizado; ➢ Baixo custo; ➢ Pode ser usado para acompanhar pacientes durantes anos, e mesmo décadas, chegando-se a um quadro repleto de detalhes sobre aspectos evolutivos de uma dada condição; ➢ Possibilidade de avaliação intensiva de cada caso. ESTUDO DE CASOS Limitações do estudo de casos ➢ Os indivíduos selecionados costumam ser altamente selecionados; ➢ Às vezes, a observação restringe-se a situações incomuns de enfermos graves; ➢Falta de indivíduos-controle, para contornar problemas de aferição e comparação; ➢Número pequeno de indivíduos incluídos para observação. INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL DE LABORATÓRIO Aspectos positivos ➢ O laboratório é o local ideal para estudos experimentais; ➢ O grau de subjetividade na aferição dos dados pode ser reduzido, em laboratório, pela adoção de rigorosos controles, que servem também de parâmetros para a comparação dos resultados; ➢ Por motivos éticos, o foco da avaliação incide sobre os animais, tais como camundongos, cães, macacos, embora as pessoas possam ser igualmente alvo deste tipo de investigação, em casos selecionados. INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL DE LABORATÓRIO Limitações da investigação experimental ➢ A questão problemática das investigações em animais reside na extrapolação de resultados para os seres humanos; ➢ A prudência é sempre recomendada visto que diferenças entre espécies podem invalidar as generalizações. INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL DE LABORATÓRIO PESQUISA POPULACIONAL ➢ É a terceira estratégia para estudo de um tema; ➢ É a abordagem central da epidemiologia, sendo empregada em outras áreas, como na genética e nas ciências sociais; CRITÉRIOS PARA A CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS EMPREGADOS EM EPIDEMIOLOGIA O propósito geral ➢ Estudo descritivo ➢ Estudo analítico O modo de exposição das pessoas ao fator em foco ➢ Observação ➢ Intervenção (experimentação) A direção temporal das observações ➢ Prospectivo (coorte) ➢ Retrospectivo (coorte e caso-controle) ➢ Transversais A unidade de observação ➢ Indivíduo ➢ Grupo de indivíduo Tipos de estudo Descritivo e Analítico De observação e de intervenção Longitudinal e transversal Coorte e caso- controle Prospectivo e retrospectivo De indivíduos e de grupo (estatísticos ou ecológicos) Controlado e não- controlado Experimental e quase- experimental FAREMOS A SEGUINTE ABORDAGEM ➢ Estudos descritivos ➢ Estudos analíticos: ❖ Ensaio clínico randomizado ❖ Estudo de coorte ❖ Estudo de caso-controle ❖ Estudo transversal ➢ Estudo ecológicos ou estatísticos ESTUDOS DESCRITIVOS Tem o objetivo de informar sobre a distribuição de um evento na população Termos quantitativos Incidência e prevalência Estudos não- controlados População de doentes ou sadios Temas de estudos descritivos A incidência de infecção chagásica em habitantes rurais A prevalência da hepatite B entre os voluntários à doação de sangue As características demográficas e socioeconômicas dos pacientes que sofrem de artrite reumatoide ou das pessoas que fumam As principais causas de óbito da população residente em um dado município O estado imunitário de pré-escolares, de um município, frente à poliomielite Os padrões de crescimento e desenvolvimento de crianças normais ou daquelas acometidas por uma determinada doença A variação regional na utilização de serviços de saúde A tendência do coeficiente de mortalidade por tuberculose, de uma cidade, nos últimos anos Aspectos metodológicos dos estudos descritivos “O pesquisador tem que observar como as situações estão ocorrendo, em uma ou mais populações, e expressar as respectivas frequências de modo apropriado” A inspeção da distribuição das frequências de um evento, sejam elas dispostas em tabelas, gráficos ou outra forma de expressão de resultados, é utilizada para alcançar dois objetivos principais: ➢ Identificar grupos de risco → informa sobre as necessidades e as características desse grupo → benefício de alguma medida saneadora → relação da epidemiologia com a prevenção de doenças e o planejamento de saúde. ➢ Sugerir explicações para as variações de frequências → serve de base para o prosseguimento de pesquisas sobre o assunto, através de estudos analíticos → forte componente de investigação que existe na epidemiologia. Usos dos resultados dos estudos descritivos ESTUDOS ANALITÍCOS ➢ São diferentes dos descritivos e podem ser considerados como pertencentes a uma segunda fase no processo de obtenção de conhecimentos sobre um tema Hipótese Eventos Causa Exposição Efeito Doença EXPOSIÇÃO (causa) Obesidade Fumo Toxoplasmose Vacina Medicamento DOENÇA (efeito) Diabetes Câncer Anomalia congênita Prevenção Cura Associação de eventos investigados em epidemiologia analítica: EXPOSIÇÃO (Causa) Estudo de coorte e ensaio clínico randomizado DOENÇA (Efeito) Estudo de caso- controle Estudo Transversal Etapas para o desenvolvimento do exercício: 1. Identificar o que é o grupo A (Fator de risco, variável independente, Exposição e Causa) e o grupo B (Doença, desfecho, efeito e variável dependente). 2. Identificar qual tipo de estudo epidemiológico (Coorte, Caso controle, Ensaio Clínico Randomizado ou Transversal). 3. Montar a tabela com os dados do enunciado. 4. Fazer as contas das medidas de associação. Medidas de associação • RR (Risco Relativo) → Coorte, Ensaio Clínico Randomizado e Transversal • OR (Odds Ratio) → Caso-controle e Transversal 1. Estudo Experimental do Tipo Ensaio Clínico Randomizado ➢ A alocação dos indivíduos ou grupos de indivíduos é feita ao acaso; ➢ Parte-se da “causa” em direção ao “efeito”; ➢ Os participantes são colocados “aleatoriamente” para formar os grupos: de estudo e de controle. Estudo experimental (ensaio clínico randomizado): Investigação sobre a eficácia de uma vacina quando comparada com placebo. GRUPOS CASOS DE DOENÇA SIM NÃO TOTAL TAXA DE INCIDÊNCIA (%) VACINADOS 20 980 1.000 2 NÃO-VACINADOS 100 900 1.000 10 TOTAL 120 1880 2.000 6 RISCO RELATIVO → 2/10 = 0,2 2. Estudo de Coorte •Parte-se da “causa” em direção ao “efeito”; •“Não há alocação aleatória da exposição”; •Os grupos são formados por “observações” das situações na vida real; •Ou da distribuição arbitrária de uma intervenção: obeso X não-obeso;ou operados X não-operados. •“É um estudo capaz de abordar hipóteses etiológicas produzindo medidas de incidência e medidas diretas de risco; •Parte da observação de grupos comprovadamente expostos a um fator de risco suposto como causa de doença a ser detectada no futuro (prospectoanálise)”. (Maria Zélia Rouquayrol) EXEMPLO: • “Os funcionários de uma secretaria de saúde são convidados a preencher um questionário sobre seus hábitos de vida, entre os quais inclui-se o detalhamento das atividades físicas no trabalho e nas horas de lazer. 2 grupos são, então, formados: 1 de 5 mil sedentários, e outro pelos 2.000 funcionários que se exercitam regularmente. Decorridos 10 anos, observou-se que a atividade física estava inversamente relacionada ao risco de morrer por doença coronariana. O grupo que mais se exercitou teve menor mortalidade: 40 óbitos por mil, comparado com 80 óbitos por mil, nos sedentários.” Estudo de coorte: Investigação sobre a associação entre Exercício físico e mortalidade por coronariopatia em adultos de meia idade. ATIVIDADE FÍSICA ÓBITOS SIM NÃO TOTAL TAXA DE MORTALIDA DE POR MIL SEDENTÁRIOS 400 4.600 5.000 80 NÃO- SEDENTÁRIOS 80 1.920 2.000 40 TOTAL 480 6.520 7.000 69 RISCO RELATIVO = 80/40 = 2 Desvantagens: → Não foi usado alocação aleatória; → Os expostos e os não expostos não tem características semelhantes que permitam o direto confronto de suas incidências; → Outros fatores de risco podem estar contribuindo para as diferenças encontradas entre sedentários e não sedentários; → Os dois grupos provavelmente são diferentes em termos de dieta, peso corporal, hábitos de fumar e outros fatores que aumentam o risco de doença cardiovascular; → Complicadores para a interpretação dos resultados pois confundem as reais relações entre exercício físico e coronariopatias. 3. Estudo de Caso-Controle • Parte do “efeito” para chegar as “causas”; • É uma pesquisa etiológica retrospectiva, feita de trás para frente – só pode ser feita após o fato ter sido consumado – depois de o efeito já ter ocorrido. • “Estudo para se abordar associações etiológicas com doenças de baixa incidência. Inicia-se pelos doentes identificados (casos), estabelece controles (sujeitos comparáveis aos casos, reconhecidamente não doentes); e retrospectivamente, procura conhecer os níveis de exposição ao suposto fator de risco”. Exemplo: • “ Associação entre toxoplasmose e debilidade mental: todas as 300 crianças em uma comunidade em que é feito o diagnóstico de debilidade mental, em um determinado período, são incluídas na investigação, à medida que o diagnóstico é confirmado. Elas são submetidas a teste sorológico para toxoplasmose, no intuito de inferir se tiveram ou não infecção prévia pelo Toxoplasma gondii. O mesmo exame de toxoplasmose é realizado em igual número de crianças sem debilidade mental. Os resultados mostram que 15% dos casos e 5% dos controles apresentam sorologia reativa para toxoplasmose.” Estudo de caso-controle: Investigação sobre a associação entre toxoplasmose e debilidade mental de crianças SOROLOGIA POSITIVA PARA TOXOPLASMOSE DEFICIÊNCIA MENTAL SIM (CASOS) NÃO (CONTROLES) SIM 45 15 NÃO 255 285 TOTAL 300 300 Risco: estimado pelo odds ratio (ou razão dos produtos cruzados): OR = (45 x 285 )/(15 x 255) = 3.35 4. Estudo Transversal • Nesta modalidade de investigação, “causa” e “efeito” são detectados simultaneamente; • Investigação para determinar prevalência; para examinar a relação entre eventos (exposição, doença e outras variáveis de interesse), em um dado momento; • Ex. Associação entre hábito de fumar e bronquite crônica entre participantes de um evento. Exemplo: •“Associação entre migração e doença mental: Em uma amostra aleatória de mil adultos de meia-idade, de uma cidade, foi encontrado que 300 eram migrantes. Exames psiquiátricos mostraram que a doença mental era mais frequente em migrantes (6%) do que em não- migrantes (3%).” Estudo transversal: Investigação sobre a associação entre migração e doença mental em adultos de meia-idade Migração Doença Mental SIM NÃO TOTAL Taxa de prevalência de doença mental (%) Migrante 18 282 300 6 Não-migrante 21 679 700 3 TOTAL 39 961 1.000 4 Cálculo de Risco: razão de prevalência = 6/3 = 2 OR = (18 x 679 )/( 21 x 282) = 2 ESTUDOS ECOLÓGICOS Unidades de observação em estudos de epidemiologia * também designados como estudos ecológicos, estatísticos, de agregados ou de grupos Unidades de Observação Exemplos Indivíduo Uma pessoa, um prontuário e um atestado Grupo de indivíduos Estatística de uma área ou de um período de tempo Exemplo: estudo de indivíduos • “Tomando-se como ilustração, uma investigação sobre a doença de Chagas, em amostra aleatória de uma área rural, procurar-se-ia saber, de cada um deles, as suas características demográficas (sexo, idade etc.) e, através de exames clínicos e laboratoriais, se é ou não infectado; uma vez infectado, se é ou não doente, ao lado da identificação a respectiva forma clínica da doença”. Exemplo de estudo ecológico • “Em uma investigação ecológica sobre a doença de Chagas, as informações necessárias seriam, por exemplo, o nível da morbidade existente em diversas regiões e a predominância da forma clínica da enfermidade, de modo a relacioná-los com a espécie de vetor ou cepa do parasita prevalente na região”.