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analise do discurso 2

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- -1
ANÁLISE DO DISCURSO
UNIDADE 2 - DIÁLOGOS INTERDISCURSIVOS 
E INTERTEXTUAIS
Autoria: Rosiani Teresinha Soares Machado - Revisão Técnica: Raquel Rossini 
Martins Cardoso
- -2
Introdução
Você já deve ter lido sobre gêneros textuais, como são definidos
e categorizados. Mas você já leu ou sabe algo sobre gêneros
discursivos?
Os gêneros discursivos são detalhados por Bakhtin para expor
suas percepções sobre o discurso e o enunciado em contexto
interacional. Um sujeito, dado como um ser social, terá a
necessidade de interagir com outras pessoas e, para tanto, o
fará por meio de textos. Para cada situação, um gênero será
utilizado para compor seu pensamento comunicativo.
Nesse sentido, fixou-se outra categoria de texto, a da tipologia. E o que os tipos de textos determinam? Embora
não seja consenso entre os estudiosos tratar de tipo ou de agrupamentos de textos, o que se sabe é que
denominam uma categoria estrita e fechada, que abarcam os diversos e inúmeros gêneros textuais.
A intertextualidade e a interdiscursividade, embora não estejam presentes na obra de Bakhtin com essas
nomenclaturas, serão vistas nesta unidade para que você tome conhecimento de como os textos agem em
situações discursivas diversas, podendo interagir entre si.
O carnaval também faz parte da obra de Bakhtin e está presente na análise discursiva. Mas seria o mesmo
carnaval, a festa popular brasileira? Não exatamente. A carnavalização diz respeito ao riso, à sátira presente na
literatura e nas artes e que Bakhtin analisou em duas grandes obras literárias.
Tudo isso você verá nesta unidade.
Bons estudos!
2.1 Interdiscursividade e intertextualidade
O termo , tal como o conhecemos, não é relacionado a Bakhtin ou à sua obra, tampouco ointertextualidade
termo aparece nela. Para o filósofo russo, a intertextualidade prevê o diálogo existenteinterdiscursividade
entre textos.
A questão desses termos, assim, acaba por tomar uma proporção que transcende a conceitual, mas que tem um
caráter mais amplo e significativo.
Vejamos como se dá a distinção entre interdiscursividade e intertextualidade – e se elas realmente ocorrem –
sob a visão bakhtiniana do discurso.
2.1.1 Interdiscurso e intertexto
A obra de Bakhtin, como já abordado nesta disciplina, além de ser constituída por suas anotações e artigos, foi
amplamente traduzida em diversas línguas. Na Europa, a versão original, russa, foi traduzida para o francês,
primeiramente, e é dessa obra que temos a versão em português dando entrada nos estudos da AD no Brasil.
Tal explicação se mostra útil para compreender como esses termos estariam ou não presentes na obra do
filósofo russo ou se seria um equívoco de tradução. A única presença hipotética do termo intertextualidade, na
obra, estaria vinculada à citação traduzida do francês: “Les rapports dialogiques intertextuels et intratextuels”
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obra, estaria vinculada à citação traduzida do francês: “Les rapports dialogiques intertextuels et intratextuels”
(BAKHTIN, 1984, p. 313). No entanto, Fiorin (2006) indica que a obra, no francês, teria ecos de outra obra, da
filósofa Julia Kristeva.
A dúvida levantada por Fiorin (2017) encontra apoio no fato de que a obra traduzida para o francês estaria
fortemente influenciada pelas reflexões de Kristeva: “a semioticista diz que, para o filósofo russo, o discurso
literário não é um ponto, um sentido fixo, mas um cruzamento de superfícies textuais, um diálogo de várias
escrituras, um cruzamento de citações” (FIORIN, 2017, p. 57).
Considerando essa situação, o linguista buscou outra tradução, dessa vez em espanhol: “Las relaciones dialógicas
 (BAKHTIN, 1984, p. 296). Essa, de acordo com ele, seria a tradução queentre los textos y dentro de los textos”
mais se aproximaria da obra russa. No entanto, o termo que ganhou o meio acadêmico, antes mesmo do termo 
, foi “intertextualidade”. Para defini-lo melhor, vamos acompanhar um pouco da trajetória dedialogismo
pesquisa de Fiorin (2006; 2017) sobre esse assunto.
O linguista Fiorin (2017) afirma que o equívoco está relacionado à denominação de intertextualidade para
qualquer relação dialógica, mesmo Bakhtin distinguindo bem texto de enunciado, muito embora um
complemente o outro. O texto é o enunciado sendo expresso pelo falante. O discurso se manifesta por meio do
texto, se materializa por meio dele. Texto é um todo dotado de signos, isto é, é da ordem da significação,
enquanto o enunciado é da ordem do sentido.
Teste seus conhecimentos
(Atividade não pontuada)
Assim, Bakhtin considera o texto além do verbal, podendo ser expresso por meio de gestos, figuras etc. Isso
porque o texto é representativo de um todo organizado coerentemente por signos (FIORIN, 2017). O linguista
propõe, desse modo, existirem relações dialógicas entre textos, determinando o . Ao mesmo tempo,intertexto
propõe a existência dessas mesmas relações entre enunciados; sendo assim, poderia se pensar em .interdiscurso
Se a intertextualidade pressupõe as relações dialógicas concretizadas em textos, isso implicaria afirmar que, de
igual modo, os enunciados se relacionam entre si. A essa situação denominamos interdiscurso: “toda
intertextualidade implica a existência de uma interdiscursividade, mas nem toda interdiscursividade implica
uma intertextualidade” (FIORIN, 2017, p. 58). Um texto que não deixe claro o discurso do outro não apresenta,
em sua composição, intertextualidade, mas interdiscursividade.
Você sabia?
Julia Kristeva foi quem apresentou a obra e as ideias de Bakhtin à França. Ela é
búlgara e estudava no país de Victor Hugo – onde mora atualmente e do qual obteve a
cidadania – quando conheceu a obra do Círculo de Bakhtin, formado por intelectuais
das mais diversas áreas que estudavam o discurso. Em 1967, ela publicou, na revista 
, “Bakhtin, o discurso, o diálogo, o romance” (FIORIN, 2017).Critique
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Ainda de acordo com Bakhtin, há a relação , ou seja, a presença de outras vozes dentro de umintratextual
mesmo texto. É o caso dos discursos direto, indireto e indireto livre.
• Intertextualidade
Relações dialógicas concretizadas em textos.
• Intratextualidade
Duas vozes no interior de um mesmo texto.
• Interdiscursividade
Qualquer relação dialógica que prevê sentido.
Uma situação que se poderia dizer tratar-se de intertextualidade é o estilo presente em um determinado texto.
Porém, Fiorin (2006, p. 189) chama a atenção para que “o estilo, sendo um fato do funcionamento real da
linguagem, constitui-se dialogicamente”. Ou seja, não estarão representados, em um mesmo texto, dois estilos
diferentes. Vale o esclarecimento dado pelo linguista de que a “materialidade linguístico-textual do estilo”
(FIORIN, 2006, p. 189) é algo impossível de ser encontrado em um texto ocorrendo concomitantemente em
outro. Essa situação seria do plano da interdiscursividade, pois se refere ao dialogismo constitutivo.
2.1.2 Análise de casos
Destinamos um tópico para que você compreenda, por meio da análise de alguns casos, como se dá a
intertextualidade e a interdiscursividade. Vamos iniciar com a poesia da terceira geração romântica, que consta
na obra de Fiorin (2006) e que trata de temas que remetiam ao progresso brasileiro – consequentemente, se
opunha à escravidão negra, sendo, por isso, denominada poesia libertária.
Os textos poéticos dessa geração são repletos de antíteses e hipérboles, figuras capazes de fortalecer a linguagem
usada pelos poetas que a pretendiam como extraordinária e monumental.
Quando dois enunciados dialogam entre si, temos um caso de interdiscursividade. É o que Fiorin (2006)
demonstra ao comparar o estilo da terceira geração romântica com o estilo parnasiano. Vamos analisar os
exemplos fornecidos pelo autor (FIORIN, 2006, p. 190-191): os poemas “O Navio Negreiro”, Castro Alves, e “Vaso
Grego”, de Alberto de Oliveira, que estão no quadro “Poemas da terceira geração romântica e do parnasianismo”.
•
•
•
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Quadro 1 - Poemas da terceira geração romântica e do parnasianismo
Fonte: Adaptado de FIORIN (2006, p. 190-191).#PraCegoVer: o quadro traz, na coluna da esquerda, um fragmento do poema “O Navio Negreiro”, de Castro
Alves, e na coluna da direita o poema “Vaso Grego”, de Alberto de Oliveira.
Castro Alves usa as características do estilo da terceira geração poética, ou seja, a grandiosidade, o tom
declamatório, a exaltação e a ênfase; já Alberto de Oliveira demonstra os atributos parnasianos em sua poesia,
algo mais leve, sem dar ênfase ao grandioso, demonstrando uma preocupação mais formal, usando um
vocabulário mais rebuscado, idealizando a arte pela arte, o objetivismo ao lidar com os temas propostos.
O que Fiorin (2006) deseja demonstrar, com a análise desses dois poemas, é que o parnasianismo dialoga com a
terceira geração romântica, sendo que essa relação não é de concordância. Pelo contrário, o que existe é uma
oposição clara de um ao outro. É deste modo que a interdiscursividade se faz: na relação entre um discurso e
outro.
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A intertextualidade, por sua vez, diz respeito à situação da materialidade textual que ocorre dentro de um texto.
Vamos analisar três textos. O primeiro deles é a passagem bíblica de Coríntios, capítulo 13, intitulado “Acima de
tudo o amor”, versículos 1, 6 e 7, que se encontra no quadro “Acima de tudo o amor”.
Quadro 2 - Acima de tudo o amor
Fonte: Adaptado de BÍBLIA SAGRADA (1990, p. 1.474).
#PraCegoVer: o quadro traz o trecho bíblico intitulado “Acima de tudo o amor”, que se encontra em Coríntios,
capítulo 13, versículos 1, 6 e 7.
No próximo texto, o poeta Luís Vaz de Camões deu ao amor uma roupagem de soneto, o Soneto nº 5. Confira no
quadro “Soneto nº 5, de Luís Vaz de Camões”.
Caso
O trabalho com os gêneros na escola é fundamental para que os estudantes tenham contato com a
diversidade de textos e discursos que podem ocorrer na esfera de comunicação da nossa sociedade.
Assim, você poderá atuar com textos que façam referência à literatura, traçando uma linha de
pensamento entre eles e outros textos do cotidiano do estudante. É o caso de livros e filmes, músicas e
poemas, propaganda e poesia, contos e relatos, entre outras variedades que darão aos estudantes a
prática textual que faça a relação entre o que sabem e vivem e aquilo de que tomarão conhecimento
pela primeira vez.
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Quadro 3 - Soneto nº 5, de Luís Vaz de Camões
Fonte: Adaptado de CAMÕES ([s.d.]).
#PraCegoVer: o quadro traz o poema “Soneto nº 5”, de Luís Vaz de Camões.
O próximo texto é a música composta por Renato Russo para ser interpretada por ele como vocalista do grupo
Legião Urbana, cuja letra está no quadro “Canção ‘Monte Castelo’, de Renato Russo”.
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Quadro 4 - Canção “Monte Castelo”, de Renato Russo
Fonte: Adaptado de MONTE CASTELO ([s.d.]).
#PraCegoVer: o quadro traz a letra da canção “Monte Castelo”, composta por Renato Russo e gravada pelo
grupo Legião Urbana no álbum .As Quatro Estações
Analisando a letra da canção do grupo Legião Urbana, percebemos a presença, nos versos iniciais, de um diálogo
com o texto dos versículos de Coríntios. Essa faz referência ao quanto o amor é e ao que não é.dialogia
O amor é bom
Não quer o mal
Não sente inveja
Não se envaidece
Nos versículos, o discípulo Paulo deseja falar sobre o amor incondicional por meio da “Carta aos Coríntios”.
Percebemos que não há uma citação como nos versículos, mas um diálogo entre os dois textos, ou seja, um 
.interdiscurso
Já os trechos do poema de Camões (sublinhados) são citados como estão no poema, de forma original. Assim, o
que temos é uma , um trecho de um poema sendo usado em uma letra de música, embora osintertextualidade
sentidos ou objetivos discursivos sejam bastante diferentes.
É desse modo que intertextualidade e interdiscursividade vão agir no texto. São as relações dialógicas que
ocorrem entre textos e entre enunciados.
2.2 Carnavalização
Brasil, o país do futebol e do carnaval! É assim que muitos conhecem nosso país. É essa imagem que se tem do
Brasil fora de seu território, na maioria das vezes.
Carnaval é folia, é animação, é alegria e fantasia. Mas será que é essa a concepção bakhtiniana de carnaval? Qual
a relação de carnaval com a AD? Este será o assunto deste tópico, que vai tratar do conceito de ecarnavalização
seus princípios na AD.
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2.2.1 Conceito
Introduzimos este tópico, que abordará a , com uma alusão ao carnaval no Brasil, a festa popularcarnavalização
que ocorre geralmente em fevereiro, pois certamente é a primeira noção que lhe viria à cabeça.
Não será bem nesse sentido que trataremos o assunto e, por isso, pensamos ser melhor e mais conveniente
trazer a você o termo dicionarizado. Carnaval é, “no mundo cristão medieval, período de festas profanas que se
iniciava, geralmente, no dia de Reis (Epifania) e se estendia até a quarta-feira de cinzas, dia em que começavam
os jejuns quaresmais” (FERREIRA, 2009, [ ]). Ou seja, o termo carnaval é associado à festa, momento des.p.
alegria coletiva.
Carnavalização, no entanto, é o termo utilizado por Bakhtin (1984, p. 173, grifo no original e tradução da
autora), que traz o seguinte registro: “o carnaval é uma grandiosa cosmovisão dosuniversalmente popular 
milênios passados”. Voltemos ao dicionário para chegar à compreensão do que seria o significado desse termo
carnavalização: “influência e/ou transposição do carnaval para a literatura. [Termo criado pelo russo Mikhail
Bákhtin em 1928]” (FERREIRA, 2009, [ .]). Ainda de acordo com o dicionário, a carnavalização teria relaçãos.p
direta com a influência exercida pelo carnaval em distintas situações culturais. “[A carnavalização é tema
interdisciplinar que, a partir das teorias de Bakhtin, tem sido objeto de estudo no campo da teoria literária, da
antropologia, da sociologia, etc.]” (FERREIRA, 2009, [ ]). O lexicólogo faz referência ao filósofo russo em suas.p.
descrição, o que determina sua importância para a compreensão do termo.
Bakhtin vai usar a carnavalização para traçar a compreensão da obra de Rabelais em seu livro A Cultura Popular
, em que o filósofo russo percebena Idade Média e no Renascimento: O Contexto da Obra de François Rabelais
quão forte essa cultura popular está representada.
Fiorin (2017, p. 97) define carnavalização como sendo “a transposição para a arte do espírito carnavalesco”. Tal
conceito, de acordo com o linguista, é desenvolvido por Bakhtin no capítulo IV da obra citada, já que, para o
filósofo russo, somente por meio do que representa o carnaval, ou seja, essa cultura popular determinada pelo
riso e pela alegria, poderia ser entendido o que Rabelais desejava comunicar em seu texto.
Problemas da Poética de Dostoiévski é outra obra utilizada por Bakhtin para elaborar suas reflexões sobre o
gênero literário e, com isso, chegar àquele presente na obra, quer seja, o ,gênero cômico-sério helenístico
sobretudo a sátira menipeia (FIORIN, 2017). É neste último gênero que consta o olhar carnavalesco que
Dostoiévski tinha do mundo: o todo moderadamente alegre.
Para abordar a carnavalização, Faraco (2009) traz o sentido de polifonia em Bakhtin. A explicação tem início na
ideia que o filósofo russo tem do que é viver, do que é existir como ser humano. Para ele:
A vida, por sua própria natureza, é dialógica. Viver significa participar do diálogo: fazer perguntas,
prestar atenção, responder, concordar e assim por diante. Neste diálogo uma pessoa participa
integralmente e ao longo de toda a sua vida: com os olhos, lábios, mãos, alma, espírito, com todo o
seu corpo e ações. Ele investe todo o seu eu no discurso, e esse discurso entra no tecido dialógico da
vida humana, no simpósio mundial. (BAKHTIN,1984, p. 293)
Nessa concepção, a realidade do ser humano estaria ligada ao diálogo. Somente pela via da comunicação o ser
significa sua vida. Assim, Faraco (2009, p. 77) vai defender o mundo polifônico de Bakhtin, “no qual a
multiplicidade de vozes plenivalentes e de consciências independentes e não fundíveis tem o direito de cidadania
– vozes e consciências que circulam e interagem num diálogo infinito”.
É interessante esclarecer a você quenão indica a quantidade de vozes presentes no discurso, mas apolifonia
igualdade dada a essas vozes.
A intenção de Bakhtin, ao relacionar polifonia e discurso, é ir contra o superá-lo, na tentativa demonologismo,
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A intenção de Bakhtin, ao relacionar polifonia e discurso, é ir contra o superá-lo, na tentativa demonologismo,
criar um mundo polifônico, uma utopia, como aponta Faraco (2009).
2.2.2 Princípios da carnavalização
Como você viu no tópico anterior, Bakhtin não trata do carnaval como uma festa popular ou como um período de
folia, do modo como ocorre em nosso país. Ele a vê como uma festa que envolve a vivência do indivíduo.
Nessa projeção carnavalesca que o filósofo russo nos apresenta, a vida segue seu fluxo normal. Tudo aquilo que
aprisiona, que retrata o medo, a insegurança de viver em sociedade, é suspenso ou posto abaixo. As pessoas se
aproximam umas das outras sem preocupações e traçam discursos de modo espontâneo, sem se importar com
regras que ditam as relações sociais hierarquizadas (FIORIN, 2017). O risco dita a quebra de dogmas, de padrões
morais, do autoritarismo.
Bakhtin tem uma visão que percebe o mundo sob diferentes categorias, conforme o quadro “Categorização do
mundo percebido por Bakhtin”.
Quadro 5 - Categorização do mundo percebido por Bakhtin
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
#PraCegoVer: o quadro apresenta duas colunas que se relacionam e uma linha abaixo delas. A coluna da
esquerda apresenta elementos da categorização de Bakhtin, enquanto a da direita apresenta suas explicações. A
linha inferior traz palavras que também definem essa visão de mundo do filósofo russo.
A carnavalização é definida por essas categorias como forma de demonstrar as situações que podem ser vividas
de modo libertador em sua concretude, porém não como algo subjetivo, mas próprio do coletivo.
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É importante que você compreenda que tudo o que Bakhtin vai abordar sobre carnavalização está no plano da
literatura. Aliás, é a literatura que dará voz ao desejo polifônico do filósofo russo. Nela, observa-se o dialogismo
que indica o carnaval caracterizado em outros discursos que não aqueles oficiais, pertencentes aos padrões
éticos e morais.
Gregório de Matos é um exemplo desse dialogismo. O poeta, um dos maiores e mais conhecidos nomes da poesia
satírica, escarnecia seus próprios poemas, suas próprias visões ora religiosas, temerosas a Deus, a quem
venerava, ora reconsiderando as regras da sociedade e o sacro.
No poema “Ao divino sacramento”, é possível compreender o quanto é forte a presença da temeridade a Deus e a
tudo o que ele representa. O medo de pecar porque ama e a certeza de não se sentir à altura de receber os
benefícios da divindade por causa desses pecados são fortemente marcados no poema. No verso inicial, por
exemplo, o poeta diz que “a fé é muito animosa, mas a culpa mui cobarde” (FIORIN, 2017, p. 103).
Em outro poema, no entanto, Gregório de Matos nega esse discurso, o amor incondicional, aquele que o faz pecar
e ir contra os desígnios divinos. Em “Definição do amor”, o poeta traça uma relação contrária com o amor,
depreciando-o durante todo o poema. É latente a presença da sátira carnavalesca que atribui ao amor aspectos
carnais, de desejos sexuais, um amor erotizado, que não apresenta sentimentos, contrariando o amor
sentimento, que de tão intenso, poderia ser maldito, um pecado.
No classicismo, podemos ver as características que seguem.
O corpo humano é visto como perfeito.
Um corpo acabado, sem qualquer defeito, proporcional em suas curvas e delineamentos físicos.
São estátuas de corpos jovens, no auge da beleza e da perfeição.
Por serem puros, demonstrarão a sexualidade de modo sutil.
Seios pequenos nas mulheres, pênis diminuto nos homens.
É a representação da vida plena, pura e simplesmente.
A obra de Rabelais deu a Bakhtin a condição de estudo e análise do que ele chamou de carnavalização, a filosofia
Você quer ler?
O capítulo “Carnavalização”, de autoria de Discini (2006, p. 55-95), traça
detalhamentos que consideramos importantes para você ampliar seus
conhecimentos. O texto trata da cosmovisão carnavalesca, da imagem grotesca nas
artes e na literatura, e de sua degeneração, além da relação entre carnavalização e
polifonia, tudo exemplificado e cuidadosamente analisado para que você se aprofunde
no tema.
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A obra de Rabelais deu a Bakhtin a condição de estudo e análise do que ele chamou de carnavalização, a filosofia
do riso, a sátira presente nas artes e na literatura. É nas artes, por sinal, que veremos a presença da
carnavalização em períodos como o classicismo, em que o grotesco, o bizarro carnavalesco se opunha ao belo, ao
perfeito. A arte estatutária é exemplo dessa ambivalência, pois inverte essa situação: vai mostrar o corpo
deformado, com suas imperfeições, ainda não acabado, mais próximo ao início da vida, ou disforme pela ação do
tempo, aproximando-se da morte.
O grotesco representado na literatura é, de igual modo, ambivalente. Caracteriza a carnavalização por meio do
riso, da profanação, repensando o sério, as verdades absolutas. Fiorin (2017) diz que se trata de uma literatura
voltada àquilo que é tido como superior na sociedade humana, sobretudo à política e à religião, que serão
descaracterizadas e satirizadas.
Sendo ambivalente, essa literatura vai agir sobre opostos.
Nascimento Morte.
Juventude Velhice.
Pecado Pureza.
“A carnavalização constrói um mundo utópico em que reinam a liberdade, a igualdade, a abundância, a
universalidade. Ao mesmo tempo, opera com a categoria da excentricidade, onde as coisas estão às avessas”
(FIORIN, 2017, p. 105).
Sendo a um dos gêneros literários carnavalescos, fará paródia com textos mais sérios. A sátira ésátira
zombeteira, ridicularizadora; ao mesmo tempo, é alegre, festiva, prazerosa. Na obra de Rabelais, estudada por
Bakhtin, a sátira está presente na fala de seus personagens, os gigantes Gargântua e Pantagruel, que parodiam
textos consagrados, ridicularizando-os.
No Brasil, Fiorin (2017) destaca a literatura satírica de Juó Bananére, pseudônimo e personagem de Alexandre
Ribeiro Marcondes Machado. Segundo o linguista, o autor satirizava Camões, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu,
Álvares de Azevedo, entre outros.
Você o conhece?
Alexandre Ribeiro Marcondes Machado foi um escritor brasileiro do começo do século
XX. Em sua obra, utilizava um idioma denominado macarrônico, que misturava o
italiano com o português, utilizando abertamente a oralidade transcrita como se
apresentava. Para ter contato com sua biografia e obra, sugerimos o acesso ao site,
onde você poderá, inclusive, ouvir um dos seus "sunettos", o "Sunetto Futuriste".
Acesse
http://culturafm.cmais.com.br/radiometropolis/lavra/juo-bananere-sunetto-futuriste-pra-marietta
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2.3 Bases teóricas dos gêneros discursivos
A ideia de gênero textual foi atribuída a Bakhtin, pois foi ele quem categorizou os enunciados de acordo com o
conteúdo, o estilo e sua composição. É o enunciador quem determina o gênero que usará, de acordo com sua
necessidade comunicativa, ou seja, com a finalidade real de interação com outro indivíduo.
A questão dos gêneros é tratada de modo diversificado pelos estudiosos do tema. Neste tópico, você verá sobre a
situação de gênero que envolve o discurso, sendo que, para tanto, será necessário abordar, além desses, o que se
determina por tipo textual, primeiro dos nossos assuntos.
2.3.1 A tipologia textual
Antes de abordar o , vamos falar sobre . Essa é uma categorização relativamente nova egênero tipologia textual
que, assim como ocorre com os gêneros, não é unanimidade entre os estudiosos do texto e do discurso, tanto que
alguns deles não determinam como tipo textual, mas como outra forma de subcategorizar os gêneros textuais.
É o caso de Dolz e Schneuwly (2004), que fazem uso do grupamento de gêneros para desenvolver uma
categorização de gêneros textuais de acordo com, segundo os autores, os domínios sociais de comunicação, as
capacidades de linguagem dominantes e com os aspectostipológicos. Esses agrupamentos englobam os aspectos
tipológicos do narrar, do relatar, do argumentar, do expor e do descrever ações.
Já Marcuschi (2008) diferencia bem tipologia de gênero textual, muito embora deixe claro que os definir seja
algo raro de ocorrer de modo tão abertamente. Vejamos esses conceitos determinados pelo autor em suas
próprias palavras, iniciando pelo :tipo textual
Tipo textual designa uma espécie de construção teórica {em geral uma sequência subjacente aos
textos} definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos
verbais, relações lógicas, estilo}. O tipo caracteriza-se muito mais como sequências linguísticas
(sequências retóricas) do que como textos materializados; a rigor, são modos textuais. (MARCUSCHI,
2008, p. 154)
Segundo o autor, os tipos textuais comportam poucas categorias, como a narração, a argumentação, a exposição,
a descrição e a injunção. Ainda de acordo com o linguista, são categorias que não permitem aumento, ou seja,
novas divisões de acordo com um novo gênero que possa surgir. Isso, se ocorrer, destinará o texto para uma ou
outra categoria já existente.
Para , o autor traz a seguinte definição:gênero textual
Gênero textual refere os textos materializados em situações comunicativas recorrentes. Os gêneros
textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões
sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e
estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas.
(MARCUSCHI, 2008, p. 155)
São, ainda conforme o linguista, entidades que atuam em diversas e variadas situações comunicacionais,
podendo ser apresentadas de modo mais aberto e amplo, compondo uma variedade bem maior que os tipos
textuais, e bem mais flexível, pois são determinados pela necessidade do falante.
O autor faz referência ao pensamento bakhtiniano sobre linguagem para defender sua posição conceitual.
Realmente, Bakhtin (1997), em , no capítulo destinado aos gêneros do discurso,Estética da Criação Verbal
defende que os enunciados são a língua em funcionamento. São os sujeitos que interagem em certa atividade
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defende que os enunciados são a língua em funcionamento. São os sujeitos que interagem em certa atividade
social, tanto oralmente quanto por escrito. Para Bakhtin (1997, p. 261), os enunciados:
[...] refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu
conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais,
fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de tudo, por sua construção composicional.
Assim, o filósofo russo concebe esses três elementos, quais sejam, o conteúdo temático, o estilo e a construção
composicional para reafirmar o enunciado com suas individualidades de acordo com o uso comunicativo. Em
seguida, Bakhtin (1997, p. 262) apresenta o que podemos eleger como definição para o que sejam os gêneros do
discurso: “tipos relativamente estáveis de enunciados”.
Encerrando nosso detalhamento sobre tipologia textual, sempre indicando a situação do gênero como norte para
atribuir conceitos e categorias, trazemos a abordagem de Marcuschi (2008, p. 158), o qual diz que, para a
tipologia textual, têm-se, então, sequências linguísticas identificadas como orientadoras do texto; para o gênero
textual, por sua vez, “os critérios de padrões comunicativos, ações, propósitos e inserção sócio-histórica”.
2.3.2 Gêneros textuais
No tópico anterior, tratamos sobre a tipologia textual, porém não haveria como fazê-lo sem mencionar o ,gênero
mesmo que de modo superficial.
Este tópico, contudo, será destinado ao gênero do modo como Bakhtin o vê, ou seja, de acordo como os gêneros
do discurso.
Julgamos necessário trazer para você a visão de gênero textual como algo destinado à compreensão dos atos
comunicativos que são travados tanto no dia a dia, quanto nas esferas acadêmicas, científicas, jornalísticas,
jurídicas etc. Desse modo, o gênero deverá ser amplamente estudado na escola, como conteúdo escolar. Porém,
assim como acontece com outras teorias científicas da linguagem, a interpretação dada ao conceito firmado por
Bakhtin foi distorcida.
Vamos nos apoiar em Fiorin (2017) para explicar a você como isso ocorreu. O linguista aponta que alguns livros
didáticos distorceram o que Bakhtin conceituou como gênero discursivo, passando a indicar o gênero como um
produto e seu ensino, uma norma que estabeleceria o texto dentro de padrões rígidos de produção e de
compreensão.
É certo que a noção de gênero organizará os textos de acordo com aquilo que eles têm em comum. É o que se viu
historicamente, sobretudo na literatura, em que os textos ora seguiam a rigidez estrutural proposta pelo
momento literário, ora eram mais livres, sem o rigor dessa estrutura já estabelecida como norma (FIORIN, 2017).
Em Bakhtin, o gênero não chega a ser teorizado, pois o que importa é como um texto é composto, como ele se
constitui como enunciado em um processo interativo. Segundo o pensador russo, é de suma importância o
estudo dos gêneros dos enunciados porque são eles que determinam os fatos linguísticos que os linguistas e
filólogos estudam, por exemplo.
Você quer ver?
Durante a história da humanidade, os discursos foram proferidos por figuras célebres
ou mesmo por pessoas sem qualquer reconhecimento maior. Há em comum, nesses
casos, o enunciado transmitido e a comunicação realizada. Um dos grandes discursos
- -16
Para Bakhtin (1997, p. 282):
[...] ignorar a natureza do enunciado e as particularidades de gênero que assinalam a variedade do
discurso em qualquer área de estudo lingüístico leva ao formalismo e à abstração, desvirtua a
historicidade e a vida. A língua penetra na vida através dos enunciados concretos que a realizam, e é
também através dos enunciados concretos que a vida penetra na língua.
Sobre as três esferas que compõem o enunciado, Bakhtin afirma que há uma integração entre a linguagem
utilizada pelo indivíduo e sua condição como ser social. É a língua que traduz aquilo que o ser humano quer
comunicar, e essa comunicação ocorre de modo interativo por meio de enunciados. Estes, por sua vez, são
constituídos por três características que o determinarão como tal.
Conteúdo temático
Por conteúdo temático podemos compreender o objeto enunciativo. Não é o assunto que domina o conteúdo,
mas o sentido nele presente. Uma dissertação sobre o meio ambiente poderá tratar de diversos assuntos, como o
degelo no Ártico, o desmatamento da Floresta Amazônica, a poluição do ar em Nova Delhi etc. No entanto, o
conteúdo temático não mudará.
Construção composicional
A maneira de organizar o texto diz respeito à construção composicional. No exemplo dado, o da dissertação, há
uma estrutura que a compõe e que não poderá ser alterada. Introdução, desenvolvimento e conclusão devem
compor o texto nessa ordem, caso contrário, a compreensão textual será seriamente comprometida.
Estilo verbal
Por fim, o estilo verbal diz respeito à seleção dos recursos linguísticos que serão adotados para a construção do
enunciado. Esses recursos são da ordem lexical, fraseológica e gramatical. Assim, voltando ao exemplo da
dissertação, o estilo selecionado deverá se ater a esse gênero. Não poderá, por exemplo, ser produzida com rimas
e estrofes, estilo próprio da poesia.
São esses três elementos que compõem o enunciado, de modo que se fundam em seu interior, como mostra a
figura “Enunciado e as características propostas por Bakhtin”.
ou mesmo por pessoas sem qualquer reconhecimento maior. Há em comum, nesses
casos, o enunciado transmitido e a comunicação realizada. Um dos grandes discursos
históricos foi proferido pelo reverendo Martin Luther King, um ativista pelos direitos
dos negros nos Estados Unidos, a uma multidão de milhares de pessoas em
Washington. O título do discurso é: "Eu Tenho um Sonho".
Acesse
https://www.youtube.com/watch?v=aWlhPFHOl-Y&ab_channel=OTEMPO- -17
Figura 1 - Enunciado e as características propostas por Bakhtin
Fonte: Elaborada pela autora.
#PraCegoVer: a figura mostra a palavra “ENUNCIADO” em letras maiúsculas na parte de cima, dela saem três
flechas que apontam para: “conteúdo temático”, abaixo à esquerda; “construção composicional”, abaixo no meio;
e “estilo verbal”, abaixo à direita.
Todos esses elementos são próprios de determinada esfera comunicativa, já que “qualquer enunciado
considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos
de enunciado, sendo isso que denominamos ” (BAKHTIN, 1997, p.relativamente estáveis gêneros do discurso
279, grifos no original).
Teste seus conhecimentos
(Atividade não pontuada)
Além dessa composição que abarca os elementos constituintes do enunciado, Bakhtin propôs uma divisão dos
gêneros em primários e secundários. Os são aqueles usados cotidianamente, em quegêneros primários
prevalece a oralidade, produzidos espontaneamente de acordo com os atos instantâneos de interação. São os
bate-papo familiares, as piadas contadas em reuniões de amigos, as conversas telefônicas, as mensagens de e-
mail ou via chat etc.
Os são os enunciados produzidos de forma mais cuidadosa, que exigem um preparo maiorgêneros secundários
em sua produção. São basicamente escritos, mas não somente. Uma palestra, um discurso político ou
parlamentar, um sermão são da ordem da oralidade. O artigo científico, a lei, o trabalho de conclusão de curso, a
poesia, o editorial, tudo pertence à ordem dos gêneros secundários e são bem mais escritos do que orais.
Dada sua situação de produção, os gêneros secundários têm a característica de assimilar os gêneros primários,
acarretando em modificações, como o caso de um diário que poderá ser publicado, sucedendo, assim, em obra
literária.
Daí surge a , dada por Fiorin (2017) como a forma como os gêneros secundáriosinterdependência genérica
usam os primários de modo influenciador, ocorrendo, também, o contrário.
Há, ainda, a situação de hibridismo, ou seja, quando um gênero secundário lança mão de outro gênero
igualmente secundário em sua estrutura interna ou, ainda, reproduz seu estilo verbal, sua composição ou
conteúdo temático. Veja o exemplo no quadro “Hibridismo no gênero cardápio de restaurante”.
- -18
Quadro 6 - Hibridismo no gênero cardápio de restaurante
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
#PraCegoVer: o quadro é apresentado como um cardápio do dia, mas passa mensagens de carinho e afeto como
se fossem pratos. Por exemplo: carinho escancarado ao molho amoroso.
A estrutura composicional e o estilo não deixam dúvidas de que se trata de um cardápio, no entanto, o
hibridismo reside na mudança do tema comida ou bebida para sentimento.
A maleabilidade e a flexibilidade também são características dos gêneros. Uma receita médica ou uma saudação
a um juiz seguirão uma padronização menos flexível do que uma saudação ao filho ou à esposa no início do dia.
Mesmo assim, lembra Fiorin (2017), deve haver transferência de um para outro. É o caso de uma aceitação como
“sim, meu comandante”, proferida por um amigo a outro.
De qualquer modo, sempre haverá um gênero a ser usado de acordo com a situação comunicativa que se
estabelecerá.
2.3.3 Aforização
O sentido dado a um enunciado pode ser modificado ou mesmo alterado de acordo com a intenção de quem o
utiliza. Caso alguém queira dar um valor maior àquilo que quer expressar, poderá usar de artifícios como a
produção de enunciados que não foram expressos pelo enunciador.
Pensemos em uma manchete de uma notícia qualquer como esta: Estudantes retornam às aulas se houver
. Logo em seguida, entre aspas, a seguinte informação: segurança “Meu filho não volta para a escola do jeito que
. No corpo da notícia, no entanto, não há qualquer referência à fala da mãe, que nunca disse o que foiestá”
relatado pelo jornalista. O que houve, na realidade, foi uma artimanha do jornalista para chamar a atenção do
leitor sobre a indignação das mães sobre o estado precário de segurança na escola.
Essa é uma situação de , que se distingue do texto não em sua dimensão, mas de acordo com suaaforização
natureza. São duas forças enunciativas que se contrapõem entre si, a do texto e a da aforização. De acordo com
Maingueneau (2006), a enunciação poderá ser aforizante ou textualizante. O autor afirma que:
[...] todo gênero de discurso define duas posições correlativas de produtor e de receptor, dois papéis
em interação. A enunciação aforizante, ao contrário, institui uma cena de fala em que não há
interação entre dois protagonistas colocados no mesmo plano. O enunciador aforizante, o aforizador,
fala a uma espécie de “auditório universal” (Perelman), e não a um destinatário especificado pelo
gênero de discurso. (MAINGUENEAU, 2006, p. 117)
- -19
Assim, o enunciado tem valor de pensamento expresso pelo enunciador. Na aforização, a consciência do falante
se aproxima do modo como o enunciado é expresso, conforme mostra a figura “Enunciação aforizante e
textualizante”.
Figura 2 - Enunciação aforizante e textualizante
Fonte: Adaptada de MAINGUENEAU (2006, p. 117).
#PraCegoVer: a figura mostra a palavra “enunciação”, dela saem duas flechas que apontam para: “aforizonte”, à
esquerda – e desta saem outras duas flechas que apontam para “primária (destacada por natureza)” e
“secundária (destacada de um texto)”; e “textualizante”, à direita.
No plano da aforização, existem aquelas consideradas primárias, destacadas por natureza, e as secundárias,
destacadas do texto (MAINGUENEAU, 2006). Nas primárias, somente poderá ser compreendida a situação de
discurso em que os elementos que darão sentido ao que foi expresso possam ser facilmente encontrados,
definindo, com isso, tratar-se de uma aforização. O autor traz o exemplo de ditados populares, que só poderão
ser considerados aforizações se puderam ser usados em contextos próximos ou iguais aos sentidos dados pelos
ditos populares.
Já as aforizações secundárias se referem àquelas que são destacadas em um texto e que podem variar de acordo
com o cenário que se apresenta para nós. No entanto, Maingueneau (2006, p. 119) chama a atenção de que “o
intérprete é forçado a construir uma alteridade, a encontrar o ponto de vista ao qual a aforização se opõe”,
independentemente da cena que se apresente.
Trata-se de conceber uma perspectiva de pensamento contrária, como na sentença: Não creio, de modo algum,
que a Argentina alcance números elevados na economia nos próximos meses, visto que está vivenciando uma
. A aforização pode ser confirmada na negação de algo que se apresenta comorecessão enorme há vários anos
impossível e que pode ser confirmado.
- -20
Conclusão
Nesta unidade, você viu sobre as relações dialógicas interdiscursivas e intertextuais. Para tanto, levamos até você
situações que expressam a interdiscursividade, que prevê a relação dialógica com sentido, e a intertextualidade,
a qual diz respeito às relações dialógicas concretizadas em textos. Para explanar tais conceitos, analisamos casos
em que essas situações prevalecem. Esperamos que esses assuntos possam ser usados para ampliar seus
conhecimentos.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• compreender as relações dialógicas interdiscursivas e intertextuais;
• entender como se dá a carnavalização em Bakhtin;
• identificar o que são tipos textuais;
• compreender como Bakhtin vê os gêneros textuais, isto é, de acordo com os gêneros do discurso;
• entender a aforização presente na discursividade.
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autora. : BAKHTIN, M. M. .In Problems of Dostoevsky's Poetics
Minneapolis; Londres: University of Minnesota Press,1984. p. 283-
Vamos Praticar!
Leia o texto que segue sobre o carnaval em Bakhtin:
“O carnaval de que trata Bakhtin é um espetáculo muito diferente do carnaval de
nossos dias. Não é apenas um período de cessação do trabalho nem é uma
apresentação a que se assiste. Não tem palco, não tem ribalta, não tem atores, não tem
espectadores. Todos participam dele ativamente. Por isso, não é uma festa que se
presencia, mas que se vive” (FIORIN, 2017, p. 100).
A partir do trecho lido, expresse, em um texto curto de aproximadamente 25 linhas,
como o carnaval foi usado por Bakhtin para transcrever suas impressões sobre a obra
de Rabelais e sobre a sátira encontrada na literatura e nas artes.
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http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000068.pdf
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000068.pdf
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https://www.escritas.org/pt/t/4684/vaso-grego
	Introdução
	2.1 Interdiscursividade e intertextualidade
	2.1.1 Interdiscurso e intertexto
	Você sabia?
	Teste seus conhecimentos
	Intertextualidade
	Intratextualidade
	Interdiscursividade
	2.1.2 Análise de casos
	Caso
	2.2 Carnavalização
	2.2.1 Conceito
	2.2.2 Princípios da carnavalização
	Você quer ler?
	Você o conhece?
	2.3 Bases teóricas dos gêneros discursivos
	2.3.1 A tipologia textual
	2.3.2 Gêneros textuaisVocê quer ver?
	Teste seus conhecimentos
	2.3.3 Aforização
	Vamos Praticar!
	Conclusão
	Referências

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