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Dilson Villela e Maíra de Souza
Introdução à
Educação Física
07
Introdução
Nesta viagem de estudos através dos tempos, convido-o para conhecer as escolas de ginástica 
alemã, sueca e francesa, e as concepções de Educação Física higienista, militarista, competitivista 
e popular.
Conheceremos os grandes nomes dos métodos de ginástica, como Guts Muths, Friederich Ludwig 
Jahn e Adolph Spiess, que idealizaram o modelo alemão de ginástica. Da Suécia apresentaremos 
Pier Henrik Ling, um dos mais importantes nomes e idealizador do método sueco de ginástica. Da 
França, nomes como Francisco de Paula Amorós Y Ondeano e Georges Demeny, considerados 
os  idealizadores da ginástica francesa. Esses autores e métodos ginásticos  irão  influenciar a 
Educação Física brasileira desde os primórdios da República até os dias atuais. 
Apresentaremos as diversas concepções de Educação Física, como a higienista, militarista, 
pedagogicista, competitivista e popular. Essas correntes da Educação Física irão predominar 
em diferentes momentos da nossa história, sempre em consonância com os interesses políticos e 
econômicos e as respectivas ideologias dominantes em cada momento da história brasileira. Por 
meio destes estudos, você vai conhecer, entender e refletir de forma crítica sobre a Educação 
Física brasileira. 
1.1 A história da Educação Física escolar
Figura 1 – Mulheres da sociedade de Washington que jogam bola em Washington, 1931.
fonte: www.shutterstock.com:
Capítulo1Disciplina Introdução À 
Educação Física
08
Introdução à Educação Física
Laureate International Universities
1.1.1 A Educação Física escolar no Brasil 
No  Brasil,  a  Educação  Física  escolar  apresentou  predominância  de  diferentes  vertentes 
metodológicas sem consonância com interesses políticos e econômicos e a respectiva ideologia 
dominante em cada momento histórico.
Vamos apresentar um panorama das grandes correntes ideológicas e pedagógicas que 
embasaram a Educação Física escolar brasileira. Cabe advertir que todas as tendências ainda 
coexistem na atualidade,  com maior ou menor difusão. O surgimento de uma nova corrente 
pedagógica não elimina as anteriores; o novo convive com o velho. Podemos considerar que a 
Educação Física escolar no Brasil passou a existir no ano de 1837, quando o Colégio Pedro II 
do Rio de Janeiro incluiu aulas de ginástica em seu currículo.
Após essa iniciativa pioneira, a primeira tentativa de generalizar a Educação Física como 
prática obrigatória no sistema escolar ocorreu em 1884. Neste ano, o então ministro Couto 
Ferraz incluiu a ginástica como matéria obrigatória no ensino primário e a dança no secundário. 
Em 1882, Rui Barbosa, um grande defensor da Educação Física escolar, deu um parecer sobre 
o projeto de reforma de ensino primário que tornou obrigatória a ginástica para ambos os 
sexos,  tanto nas escolas primárias quanto na  formação de professores. Propôs  também que 
os professores que ministrassem essa disciplina fossem equiparados aos de outras disciplinas 
escolares em termos de autoridade, valor e vencimentos.
NÃO DEIXE DE LER
Figura 2 – Ruy Barbosa, o Águia de 
Haia, c. 1923.
Fonte: http://www.academia.org.br/aca-
demicos/rui-barbosa/biografia.
Rui Barbosa (Rui Barbosa de Oliveira) foi um 
advogado, jornalista, jurista, político, diploma-
ta, ensaísta e orador que nasceu em Salvador, 
BA, em 5 de novembro de 1849 e faleceu em 
Petrópolis, RJ, em 10 de março de 1923. Ele 
foi membro fundador da Academia Brasileira 
de Letras – uma instituição cultural brasileira 
inaugurada em 1897, sediada no Rio de Ja-
neiro, cujo objetivo é o cultivo da língua e da 
literatura nacionais.
Para ler mais sobre este importante homem 
brasileiro, acesse: http://www.academia.org.
br/academicos/rui-barbosa/biografia.
.
No período compreendido entre 1837 e 1930, a ginástica escolar praticada em alguns 
estabelecimentos de ensino consistiu principalmente na ginástica calistênica e na ginástica alemã. 
A razão disso estava no fato de que os professores, mais conhecidos à época como instrutores 
de ginástica, eram, na quase totalidade, militares. Como a academia real militar, fundada em 
1810, contratava instrutores alemães para dirigir a preparação física dos soldados, o método 
alemão tornou-se o predominante nessa época.
09
Os objetivos fundamentais relacionados à ginástica escolar entre 1837 e 1930 centravam-se 
em dois objetivos: saúde e eugenia (melhoria da raça). Essas preocupações eram condicionadas 
pela situação político-econômica do Brasil, que havia se tornado politicamente independente 
de Portugal, mas precisava superar problemas econômicos e raciais, visto que grande parte 
da população era constituída de negros, índios e mestiços. A questão da saúde tornara-se 
relevante em nosso país, com a valorização conquistada pela categoria dos médicos, no séc. 
XIX, a partir dos conhecimentos que adquiriram na Europa acerca do manejo sanitário, dos 
micróbios e das vacinas.
Pode-se assim reconhecer que as origens da Educação Física brasileira se vinculam a dois 
discursos distintos e complementares: o médico e o militar  (Kolyniak Filho, 2008). Então,  sem 
mais demora, vamos conhecer e, principalmente, reconhecer cada uma das escolas e tendências 
encontradas.
1.1.2 Escola alemã de ginástica 
Um dos principais objetivos da ginástica alemã no início do séc. XIX era a defesa da pátria, 
criando um espírito nacionalista no qual homens e mulheres fossem saudáveis fisicamente. Os 
mentores desses ideais acreditavam que esse corpo forte e saudável e o espírito nacionalista 
seriam desenvolvidos otimizando a ginástica como instrumento para atingir esse objetivo. 
Guts Muths, que foi um dos principais defensores dessas  ideias, assim se expressou sobre os 
fundamentos dessa ginástica: 
“Eu bem sei que uma verdadeira teoria de ginástica deverá ser fundada sobre as bases 
fisiológicas  e  que  a  prática  de  cada  exercício  ginástico  deverá  ser  calculada  segundo  a 
constituição de cada indivíduo” (MARINHO, 1985). 
A ginástica deveria ser ministrada pelo Estado diariamente para homens, mulheres e crianças. 
Sua fundamentação teórica se baseava nas teorias pedagógicas de autores como Rousseau, 
Basedow e Pestalozzi, que preconizavam a tese do homem universal, ou seja, completo, e os 
exercícios físicos eram os pilares dessas ideias.
VOCÊ O CONHECE?
Figura 3 – J C F GutsMuths.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/
wiki/Guts_Muths
Formado pela Universidade de Halle, onde estudou 
teologia e frequentou cursos de matemática, medicina, 
línguas modernas e pedagogia, Guts Muths iniciou seus 
trabalhos como tutor particular na pequena cidade de 
Quedlinburg, seu local de nascimento. Foi convidado 
para trabalhar na escola Philantropinum de Schnep-
fenthal, na qual lecionou, em 1786, o conteúdo de 
ginástica. Baseado na experiência adquirida com a 
educação corporal das crianças, Guts Muths escreveu 
Ginástica para a juventude. No início do livro, ele afir-
ma compreender a importância da fisiologia e da in-
tensidade da prática dos exercícios de acordo com as 
características individuais de seus alunos, considerando, 
portanto, a fisiologia como um conhecimento necessário 
ao professor de ginástica, devendo esse conhecimento 
ser aliado à sua experiência. Para ler mais sobre Guts 
Muths, acesse: http://www.rbhe.sbhe.org.br/index.
php/rbhe/article/view/540/pdf_90
10
Introdução à Educação Física
Laureate International Universities
Outro grande nome da escola alemã foi Friederich Ludwig Jahn (1778-1825). Ele foi o criador 
dos aparelhos de ginástica, que atualmente podemos encontrar em academias com roupagem 
nova,  sofisticada  e  moderna.    Friederich  Ludwig  Jahn  defendia  a  tese  de  que  a  ginástica 
deveria utilizar jogos e o conceito de moral e saúde e preparar os homens para a guerra. 
Ele foi um dos idealizadores do movimento TURNEN, que era constituído de grandes festas 
gímnicas, caracterizadas como grandes encontros de massas muito disciplinadas, organizadas apartir de 1814, sobretudo depois de 1860. Conforme Soares (2012), encontra-se, no TURNEN, 
uma das principais formas de instrução física militar, destinada às massas, que corresponde às 
necessidades práticas da burguesia.
NÃO DEIXE DE LER
Figura 3 – Friedrich Ludwig Jahn.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Friedrich_Ludwig_Jahn
Turnen, Turn e Turner é um radical alemão que tam-
bém está presente em várias línguas germânicas, 
tanto em línguas desaparecidas quanto em vivas, 
e em todas elas significa torcer, virar, voltear, diri-
gir, mover, fazer grande movimento. Foi criado ou 
resgatado por Friedrich Ludwig Jahn. Para ler mais 
sobre as obras de Friedrich Ludwig Jahn, acesse: 
http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/
view/2149/1106.
Adolph Spiess (1810-1858) foi outro grande nome na escola alemã de ginástica. Preocupava-
se com a ginástica na escola e defendia a importância das atividades físicas todos os dias para 
os alunos. Segundo Accioly (1949, apud Soares, 2012) “Spiess conceituava a educação como 
indivisível, abraçando toda a natureza da criança e situando a ginástica como responsável pela 
perfeição do corpo que a poria em equilíbrio com a alma”.
Accioly esquematizou o sistema de ginástica de A. Spiess da seguinte forma:
 • Sistema de ginástica: exercícios livres (sem aparelhos), membros superiores e inferiores. 
 • Exercícios de suspensão: barras, paralelas, cordas.
 • Exercícios de apoio: apoio propriamente dito, suspensões, balanceamentos.
 • Ginástica coletiva: marchas e exercícios ou ordem unida.
Como podemos  constatar,  o  sistema de ginástica de A.  Spiess  é absolutamente mecânico  e 
funcional, muito embora a historiografia da Educação Física enalteça valores pedagógicos no 
seu método. Em seus escritos, o autor A. R. Accioly observa que o método de Spiess conceituava 
a educação como indivisível, abraçando toda a natureza da criança e situando a ginástica 
como responsável pela perfeição do corpo que a poria em equilíbrio com a alma.
11
NÃO DEIXE DE VER...
Assista a este vídeo para ver como era a ginástica alemã feminina na prática. http://omar.
pro.br/modules/mytube/singlevideo.php?cid=1&lid=28
O movimento de ginástica na Alemanha se caracterizou por um forte nacionalismo, sendo 
que os TURNEN se desenvolveram fundamentados sobre orientações nacionalistas, socialistas, 
ultranacionalistas e racistas.
NÃO DEIXE DE LER
O artigo A Educação e o Turnen no Rio Grande do Sul, uma questão de etnicidade: 1852–
1940, que diz respeito ao movimento caracterizado por manifestações de um povo, o alemão, 
num momento de agitação político-socioeconômico na Alemanha e o seu transplante para o 
Brasil, procurou identificar, acompanhar e analisar o esforço de um grupo em preservar a sua 
identidade étnica e sua cultura por meio do Turnen. http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/
cbhe2/pdfs/Tema6/0610.pdf.
1.1.3 A escola alemã no Brasil
A  implantação  da  ginástica  alemã  no  Brasil  aconteceu  na  metade  do  séc.  XX.  Segundo  a 
historiografia da Educação Física brasileira, a  implantação da ginástica alemã ocorreu com 
a chegada dos imigrantes alemães, que tinham por hábito a prática da ginástica. Suas 
implantações ocorreram por meio dos soldados da guarda imperial, que eram de origem 
prussiana e que, concluindo o serviço militar, não mais regressavam à Alemanha, permanecendo 
no Brasil com seus familiares. 
No ano de 1860, o modelo alemão foi consagrado como método oficial do exército brasileiro. 
Esse modelo alemão permaneceu de forma oficial na escola militar até o ano de 1912, quando 
foi substituído pelo método francês.
1.1.4 Escola francesa de ginástica
Na França, a ginástica integra a ideias de uma educação que tinha como objetivo o 
desenvolvimento social, para o qual são necessários homens completos. Todo cidadão tem direito 
à educação. Esse país é o berço das concepções clássicas  liberais de educação, concepções 
essas que incluíam o exercício físico como algo importante à educação do homem universal. É 
sobre essa ótica que a ginástica será estruturada não somente para os militares, mas também 
para toda a população, colocando-se como uma prática capaz de contribuir para a formação 
do homem completo e universal. 
A  ginástica  na  França  surgiu  na  primeira  metade  do  séc.  XIX,  fundamentada  na  tese  dos 
alemães Friederich Ludwig Jahn e Gutz Muths, contendo, além das preocupações básicas com o 
corpo anátomo-morfológico, um forte traço moral e patriótico.
12
Introdução à Educação Física
Laureate International Universities
O seu fundador foi Francisco de Amorós y Ondeano (1770-1848), que assim a fundamentou: 
“A prática de todos os exercícios que tornam o homem mais corajoso, intrépido, mais inteligente, 
mais sensível, mais forte, mais habilidoso, mais adestrado, mais veloz, mais flexível e mais ágil 
predispondo-o a resistir a todas as dificuldades, a triunfar de todos os perigos e de todos os 
obstáculos  que  encontre,  a  prestar  enfim,  serviços  assinalados  ao  estado  e  à  humanidade” 
(MARINHO, 1985 e SOARES, 2012).
VOCÊ O CONHECE?
Figura 4 – Francisco Amoros.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran-
cisco_Amorós#/media/File:Amorós.jpg
Francisco de Paula Amorós y Ondeano nasceu 
em Valência em 1770 e morreu em Paris em 
1843. Iniciou sua carreira militar aos 9 anos de 
idade, como um cadete de nobreza, devido à 
vocação de serviço à pátria que caracterizara 
sua família. Seu pai tinha sido tenente do Reg-
imento Ancião do Rei e fizera parte do con-
tingente de tropas espanholas que lutaram na 
América durante a Guerra da Independência 
dos Estados Unidos, e seu avô tinha recebido 
o título de Marquês de Sotelo, título este que 
o coronel Francisco Amorós herdou em 1839. 
Em 1791, aos 21 anos de idade, Francisco 
de Paula Amorós y Ondeano participou da 
campanha militar de Oran e dois anos depois 
nos Pirineus, que o levaram a ser promovido a 
capitão em 1794. Seu tio, também general, na 
época governador de Cádiz, chamou-o ao seu 
serviço e nomeou-o arquivista da Biblioteca de 
Mapas do Ministério da Guerra. Em 1796, foi 
transferido para Madri, se casou e teve três 
filhos. Em 27 de agosto de 1807 (Francisco 
Amorós tinha então 37 anos) foi promovido a 
coronel. Muito apreciado pelo monarca Carlos IV, e também por seu ministro Godoy, Amorós 
foi Secretário de Estado, além de secretário do Gabinete da Guerra e, posteriormente, 
conselheiro das Índias. Para saber mais a respeito das contribuições de Amorós para a Edu-
cação Física, clique aqui. http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/170/179
Essas qualidades físicas, psicológicas e morais seriam desenvolvidas por meio da ginástica, que 
objetivava a saúde, homens fortes, melhoria de vida e aumento da riqueza tanto do indivíduo 
quanto do Estado. 
O slogan da ginástica na Europa no séc. XIX era: “Da flexão muscular ao sucesso das  lutas 
industriais e nas guerras”. O problema da produção também se colocava. Os corpos saudáveis 
eram  também uma exigência do  capital. A ginástica  seria  instrumento a  ser  utilizado para 
eliminar a fraqueza e tornar viris os homens.
Segundo Marinho (1985) e Soares (2012), Amorós estruturou desta forma seu método ginástico:
 • Ginástica civil e industrial
 • Ginástica militar
13
 • Ginástica médica
 • Cênica ou funambulesca
A ginástica civil foi a que mais despertou interesse entre os brasileiros e, por isso, foi a mais 
disseminada. Vejamos como é desenvolvida uma lição de ginástica conforme o método francês 
de Amorós:
Figura 5 – jovem aquecendo para exercício.
fonte: www.shutterstock.com.
 • Exercícios elementares ritmados e sustentados por cantos, com o objetivo de desenvolver a 
voz e ativar movimentos respiratórios.
 • Exercícios de marchar e correr em terrenos os mais variados, escorregar e patinar. Habituar-
se às corridas de fundo e velocidade.
 • Exercícios de saltar em profundidade, altura e largura, em todas as direções, para frente, 
para os lados, e para trás, com ou sem armas,com o auxílio de uma vara ou de um bastão, 
ou de um fuzil ou lança.
 • Exercícios de equilíbrio ou de passagem sobre pinguelas, barra fixa ou oscilante, horizontal 
ou inclinada, a cavalo ou a pé, progredindo para frente ou para trás, a fim de habituar-se 
às passagens de ribeiros ou precipícios, utilizando-se de ramos de árvores ou de uma vara.
 • Exercícios  de  transposição  de  obstáculos  naturais,  como  barreiras,  muros,  fossos,  etc., 
conduzindo ou não uma carga.
 • Exercícios  das  mais  diversas  lutas  para  desenvolver  a  forma  muscular,  a  destreza,  a 
resistência à fadiga e subjugar o adversário.
 • Exercícios de trepar em escada vertical ou progredir em escada horizontal, fixa ou oscilante, 
com auxílio dos pés ou das mãos, ou então ao longo de uma corda cheia de nós, ou descer 
escorregando, ou de qualquer outra maneira.
14
Introdução à Educação Física
Laureate International Universities
 • Exercícios de nadar, nu ou vestido, com ou sem carga, sobretudo armado, de mergulhar e 
manter-se longo tempo em equilíbrio sobre a superfície limitada, de aprender a salvar uma 
pessoa, sem, entretanto, se deixar agarrar por ela.
 • Exercícios para transpor um espaço determinado com suspensão variável de braço, mãos 
e pés, ou somente com auxílio das mãos ou com o auxílio de uma vara ou corda esticada.
 • Exercícios, parado ou em movimento, com habilidades, segurança, de suspender corpos de 
conformações várias, incômodos e pesados, algumas vezes homens ou crianças, salvá-los 
em perigo, arrastar ou empurrar pesos ou massas consideráveis para poder aplicá-los em 
casos de utilidade militar ou de interesse público.
 • Exercícios de prática da esferística antiga e moderna, atlética e militar em todas as suas 
modalidades de lançar bolas, balões, e péla de diferentes pesos e tamanhos e arremessar 
toda espécie de projéteis sobre ponto determinado.
 • Exercícios de tiro ao alvo, fixo ou móvel.
 • Exercícios de esgrima, a pé ou a cavalo, exercício para manejo de toda espécie de arma 
branca.
 • Exercícios de equitação: fazer o treinamento no cavalo de pau e repeti-lo depois com o 
animal.
 • Exercícios para prática de danças pírricas ou militares e das danças de sociedade, dando 
a estas o mais amplo desenvolvimento.
 • Podemos aprender o caráter utilizado destas 15 séries de exercícios propostos por Amorós 
conforme a  ideologia da época; assim também é possível aprender a sua preocupação 
com o desenvolvimento da força física, defesa, agilidade e resistência, qualidades físicas 
essenciais tanto para o trabalho fabril quanto para as lutas pela defesa da pátria, sob a 
ótica da burguesia ascendente.
NÃO DEIXE DE VER...
Este vídeo mostra a ginástica francesa e a força de trabalho. http://omar.pro.br/modules/my-
tube/singlevideo.php?cid=1&lid=35
Na França, a partir de 1850, a ginástica amorosiana integrou os currículos de todas as escolas 
primárias e foi obrigatória para as escolas normais. A partir dos trabalhos de Amorós, ocorreu 
um crescente envolvimento de estudos da biologia, da fisiologia, assim como de médicos em 
torno da problemática do exercício físico.
Outro grande nome da escola francesa de ginástica foi Georges Demeny (1850-1917). Ele 
tinha  formação em biologia, fisiologia e pedagogia e defendia a  tese de que a Educação 
Física deveria abandonar procedimentos empíricos e inspirar-se em leis físicas e biológicas 
para constituir uma prática a partir de resultados de experiências feitas por meio do método 
científico.
15
VOCÊ O CONHECE?
Georges Demeny nasceu 1850 na Holanda e faleceu em 1917 em Paris. Fonte: https://www.
imdb.com/name/nm2930046/mediaviewer/rm2605404928
Além de biólogo e pedagogo que gostava de praticar ginástica, foi inventor, cineasta e ginas-
ta. Se destacou por inventar uma câmera cronofotográfica para estudar os movimentos e fun-
dou a Sociedade de Ginástica Racional. Para saber mais sobre as contribuições de Demeny à 
Educação Física, acesse: http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/2099/1048
Para assistir a um vídeo mostrando os estudos de movimento de Demeny, clique aqui. https://
www.youtube.com/watch?v=H7LH5B3PYDM
Segundo Demeny, o problema da Educação Física deveria ser tratado por todos os meios de 
que a Ciência dispõe, uma vez que é susceptível de precisão. Cada vez que um problema é 
trabalhado de forma experimental, a partir das medidas, as noções em relação a ele tornam-
se mais claras, e irá contribuir de modo muito mais significativo para a causa da Educação Física 
do que  simplesmente  formular  críticas  e  opiniões pré-concebidas  (LANGLADE &  LANGLADE 
apud SOARES, 2012).
Ele era um seguidor do positivismo e defendia assim a Educação Física: “O conjunto de meios 
destinados  a  ensinar  ao  homem  a  executar  um  trabalho  mecânico  qualquer  com  a  maior 
economia possível de gasto de força muscular” (LANGLADE & LANGLADE apud SOARES, 
2012). Demeny teve uma grande preocupação com os exercícios físicos destinados às mulheres. 
Seus estudos sobre movimento arredondado contínuo e também com ritmo, influenciados pela 
dança, levaram-no a trabalhar com a ginástica feminina. Com relação à saúde da mulher, além 
de preconizar exercícios físicos próprios, procurou combater os “hábitos elegantes” por julgá-
los nocivos à saúde da mulher. Condenava o uso de saltos altos, porta-seios, cintas, enfim, todos 
os meios de sustentação que fossem artificiais porque eles apenas acentuavam “a flacidez das 
paredes naturais, facilitando hérnia, a prisão de ventre, a má circulação e contribuindo para 
partos difíceis” (MARINHO, 1985).
Essas preocupações com a saúde da mulher, particularmente com sua função reprodutora, 
estão marcadamente presentes nos discursos e nas propostas dele, bem como dos intelectuais 
brasileiros. Tanto Rui Barbosa quanto Fernando de Azevedo, em momentos distintos, articulados, 
porém, no plano ideológico, não pouparam páginas em seus trabalhos para enaltecer os efeitos 
higiênicos dos exercícios físicos sobre as formas femininas.
Se Demeny pode ser considerado inovador devido às suas preocupações mais totalizantes em 
relação ao exercício físico, ele continua, entretanto, sendo conservador, uma vez que com o seu 
método “propõe-se a aumentar a energia física do indivíduo e acrescentar-lhe rendimento (...). 
Tal método diz respeito ao homem universal  isolado da prática real e de todas as relações 
sociais, tendo como objetivo entidades abstratas, a motricidade, o movimento, a atividade 
humana” (SOARES, 2012). 
Desse ponto de vista, os métodos de ginástica até agora por nós discutidos assemelham-se. 
Diferenciam-se  apenas  na  forma:  umas  são  mais  analíticas,  outras  mais  sintéticas.  Todavia, 
o  conteúdo  anátomo-fisiológico  ditado  pela  ciência  constitui  o  núcleo  central  das  distintas 
propostas,  além,  é  claro,  da moral  de  classe,  do  culto  ao  esforço  individual,  da  disciplina, 
obediência, ordem, adaptação e formação de hábitos. 
16
Introdução à Educação Física
Laureate International Universities
Orientados para o desenvolvimento  físico e para a  saúde,  o que  se evidencia é que esses 
métodos  ginásticos  convêm à  burguesia  porque  trazem, marcadamente,  a  possibilidade  de 
enaltecer indivíduos abstratos, separados das relações e que são porta-vozes de uma prática 
neutra, cultuando o mito do homem natural e biológico.
1.1.5 A escola francesa no Brasil
No  Brasil,  a  ginástica  francesa  foi  oficialmente  implantada  em  12  de  abril  de  1921  pelo 
Decreto nº 17784. A sua chegada, porém, deu-se no ano de 1907, por meio da missão militar 
francesa, que veio ao país com a finalidade de ministrar instrução militar à força pública do 
Estado de São Paulo, onde fundou uma sala de armas que deu origem, mais tarde, à Escola de 
Educação Física do Estado de São Paulo. 
Anos mais tarde, em 1929, o Ministério da Guerra, por meio de uma comissão formada por 
civis e militares, elaborou um anteprojeto de lei cujo conteúdo determinava que aEducação 
Física fosse praticada por todos os residentes no Brasil e com obrigatoriedade em todos os 
estabelecimentos de ensino (CANTARINO FILHO, 1982 apud SOARES, 2012).
Definiu também em seu artigo 41 o método a ser adotado: “Enquanto não for criado o método 
nacional  de  Educação  fica  adotado  em  todo  o  território  brasileiro  o  denominado  método 
francês, sob o título de regulamento geral de Educação Física” (MARINHO, 1985).
O anteprojeto recebeu severas críticas da Associação Brasileira de Educação (ABE) pois 
considerava que os órgãos governamentais eram incapazes de “resolver um problema educativo 
nacional”  quanto  às  finalidades  e  inconvenientes  de  transplantar  para  o  Brasil  um  sistema 
estrangeiro de ginástica, tornando-o obrigatório. 
A sistematização da ginástica sueca ocorreu no início do séc. XIX e teve como objetivo extirpar 
os vícios da sociedade, especialmente o alcoolismo. Esse método sueco de ginástica se colocava 
como o instrumento capaz de criar indivíduos fortes, libertos de vícios e com uma boa moral. 
Esse  perfil  de  homem  era  o  que  se  esperava  que  seria  útil  à  produção  e  à  pátria.  Nesse 
momento da história, a Suécia iniciava o seu processo de industrialização, e homens saudáveis 
eram necessários para trabalhar nas fábricas e também, se necessário fosse, estariam prontos 
para compor as fileiras do exército para uma possível guerra.
VOCÊ O CONHECE?
Figura 6 – Pier Henrik Ling.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/
wiki/Pehr_Henrik_Ling
Pier Henrik Ling (1776-1839) nasceu na Suécia, em SödraL-
junga, Småland, em 1776. Viveu sua infância num ambiente 
científico fértil. Tornou-se poeta e estudou teologia. Era um 
homem ligado ao mundo da literatura e às letras e trabalhava 
em Estocolmo, no Serviço Social. Estudou literatura francesa 
e alemã na Dinamarca. Porém, insatisfeito por perceber a 
concepção de ginástica vigente à época apenas como veículo 
para uma saúde física, voltou para a Suécia para se tornar 
professor de esgrima na Universidade de Lund, em 1805. 
Convencido de que a prática da ginástica e a criação de um 
sistema deveriam ser um propósito de Estado, começou a so-
licitar a compra de aparelhos para a execução de exercícios. 
Continue lendo sobre Ling no site: http://www.scielo.br/pdf/
rbce/v37n2/0101-3289-rbce-37-02-0128.pdf
17
Pehr  Henrick  Ling  (1776-1839)  propôs  um método  de  ginástica  com  forte  viés  nacionalista 
que tinha como objetivo regenerar a população sueca, formar homens fortes, saudáveis e que 
pudessem preservar a paz na Suécia. Esse modelo de ginástica era dividido em quatro partes 
que tinham objetivos diferentes:
 • A ginástica pedagógica ou educativa – independentemente de sexo ou idade e até mesmo 
condições materiais e sociais, todos poderiam praticá-la. O seu principal objetivo era 
desenvolver o indivíduo normal e harmoniosamente, assegurando a saúde, evitando vícios, 
defeitos posturais e enfermidades.
 • A ginástica militar – objetivava preparar jovens para uma possível guerra. Eram exercícios 
militares acrescido de ginástica pedagógica. O treinamento de tiro e esgrima integrava 
esta prática de ginástica. 
 • A ginástica médica e ortopédica –  tinha  como objetivo eliminar  vícios posturais  e  curar 
certas enfermidades por meio de movimentos especiais para cada caso específico. Também 
fundamentada na ginástica pedagógica.
 • A ginástica estética – utilizava a dança e movimentos harmoniosos que proporcionavam 
beleza e graça ao corpo. Era baseada na ginástica pedagógica.
Vejamos como é definida uma lição do método sueco conforme Marinho (1985):
 • Exercícios de ordem
 • Exercícios de pernas ou movimentos preparatórios formando uma pequena série. Esta série 
se decompõe assim:
 • Movimentos de pernas;
 • Movimentos de cabeça;
 • Movimentos de extensão dos braços;
 • Movimentos do tronco para frente e para trás;
 • Movimentos laterais do tronco;
 • Movimentos outros de pernas.
 • Extensão da coluna vertebral
 • Suspensões simples e fáceis
 • Equilíbrio
 • Passo ginástico ou marcha
 • Movimentos dos músculos dorsais
 • Movimentos dos músculos abdominais
 • Movimentos laterais do tronco
 • Movimentos das pernas
 • Suspensões mais intensas do que as do número 4
18
Introdução à Educação Física
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 • Marcha ou movimento de pernas, executados mais rapidamente que outros para preparar 
para os saltos 
 • Saltos
 • Movimentos de pernas
 • Movimentos respiratórios
A ginástica feminina é idêntica à masculina, com as seguintes restrições:
 • Evitar movimentos muito acentuados para trás; 
 • Não realizar movimentos que possam congestionar a bacia;
 • Abster-se do trabalho físico durante a menstruação;
Os aparelhos utilizados pelo método sueco eram e ainda são:
 • Barra móvel para exercícios de suspensão e equilíbrio;
 • Cavalo de pau, plintos, carneiros
 • Espaldares e banco sueco.
NÃO DEIXE DE VER...
Este vídeo mostra a ginástica sueca e os aparelhos de ginástica. Assista e sinta-se naquela 
época! http://omar.pro.br/modules/mytube/singlevideo.php?cid=1&lid=43
1.1.6 A escola sueca no Brasil
No Brasil, Rui Barbosa foi um grande defensor da ginástica de Ling, fundamentalmente por ela 
basear-se na ciência e ser bem acolhida.
No ambiente médico brasileiro, outro grande nome foi Fernando Azevedo, grande incentivador 
desse método ginástico. Esses pensadores atribuíam à ginástica sueca uma adequação maior 
ao estabelecimento de ensino dado o seu caráter essencialmente pedagógico.
Essa defesa por tais intelectuais da classe médica serviu para propagar a ginástica sueca no 
Brasil. Com  isso,  lentamente a ginástica alemã foi  se restringindo aos quartéis e a ginástica 
sueca se tornando mais adequada e aceita nas escolas e no âmbito civil.
1.1.7 Educação Física higienista
Segundo esta concepção, a questão da saúde está em primeiro plano. Cabe à Educação Física 
um papel importante na formação de homens e mulheres sadios, fortes e dispostos à ação. Mas 
a Educação Física higienista não se responsabiliza somente pela saúde individual das pessoas. 
Na verdade, ela atua como protagonista em um projeto de assepsia social, idealizado pelos 
dirigentes políticos, da saúde e da educação da época. Dessa forma, a ginástica, o desporto 
19
e os jogos recreativos objetivavam melhorar os hábitos das pessoas no sentido de levá-las a 
se afastarem das práticas capazes de provocar a deterioração da saúde e da moral que 
comprometeriam a vida coletiva.
Assim, a perspectiva da Educação Física higienista vislumbrou a possibilidade e a necessidade 
de resolver o problema da saúde pública pela Educação. O objetivo central foi disseminar 
os padrões de condutas forjados pelas elites dirigentes entre todas as outras classes sociais. 
Os meios para alcançar tal padrão foram encontrados na adoção de um correto programa 
de Educação Física. Essa concepção de Educação Física entende que, independentemente 
das determinações impostas pelas condições de existência material, o indivíduo pode e deve 
adquirir saúde. Essa concepção se preocupa em utilizar a Educação Física como agente de 
saneamento público, na busca de uma sociedade livre de doenças infecciosas e dos vícios 
deterioradores da saúde e do caráter do homem do povo.
No início do séc. XX, o pensamento liberal representou uma visão política muito marcante no 
Brasil. Esse pensamento acreditava que salvação da humanidade somente poderia ocorrer por 
meio da educação e da escola. A Educação Física higienista resultou desse pensamento. Assim, 
as elites intelectuais brasileiras depositaram suas esperanças na educação e na escola para 
construir uma sociedade democrática e desprovida de problemas sociais. 
É interessante reproduzir aqui uma passagem escrita por Rui Barbosa, um dos mais importantes 
liberais da sua época: 
“É impossível formar uma nação laboriosa e produtiva sem que a Educação higiênica do 
corpo  acompanhe  pari  passu,  desde  o  primeiro  ensino  até  o  limiardo  ensino  superior,  o 
desenvolvimento do espírito. Assim, nesta quadra da vida estará arraigado o bom hábito, 
firmada a  necessidade,  e o  indivíduo,  entregue a  si mesmo,  não  faltará mais a esse dever 
primário  da  existência  humana. Acredita-se,  em geral,  que  o  exercício  da musculatura  não 
aproveita senão a robustez da parte impensante da nossa natureza, a formação de membros 
vigorosos, a aquisição de forças estranhas à inteligência. Grosseiro era o cérebro, a sede do 
pensamento envolve o organismo, e o organismo depende vitalmente da higiene que fortalece 
os vigorosos e reconstitui os débeis” (Lourenço Filho, 1954 apud GHIRALDELLI JUNIOR, 2007).
Defendendo a tese de que a higiene do corpo e a higiene da mente são inseparáveis, Rui 
Barbosa vai encontrar na Educação Física a disciplina escolar capaz de satisfazer o apetite 
infantil pelo movimento e atividade física. Vários aspectos defendidos pelo pensamento 
liberal em relação à Educação Física, e que desembocam naquilo que estamos designando 
de Educação Física higienista, estão vivos ainda hoje permeando os discursos de autoridades 
políticas, médicas e pedagógicas e de professores de Educação Física. Podemos constatar nos 
dias de hoje com a proliferação das academias de ginástica a crença de que existe uma real 
possibilidade de aquisição de saúde e beleza por meio da Educação Física. O cuidado com o 
corpo surge, então, desprendido das possibilidades (ou impossibilidades?) que cada indivíduo, 
inserido nesse sistema social, tem para adquirir e preservar a saúde e manter o padrão estético 
corporal imposto pela mídia (GHIRALDELLI JUNIOR, 2007).
1.1.8 Educação Física militarista
A  Educação  Física  militarista  ocupou  uma  posição  de  destaque  nas  décadas  de  1920  a 
1930. A ideia central dessa concepção de Educação Física era o aperfeiçoamento da raça, 
fundamentada nas falsas conclusões da biologia nazifascista. Objetivava a formação do homem 
obediente, adestrado, respeitador da hierarquia, sem uma visão crítica da sociedade. Muitos 
20
Introdução à Educação Física
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intelectuais daquela época defendiam essas  teses,  como  Lyra Filho em 1958, que,  segundo 
Ghiraldelli Junior (2007), assim dissertou:
Figura 7 – jovem aquecendo para exercício.
fonte: www.shutterstock.com.
“O estádio, assim como o quartel, desperta o sentimento da obediência às regras das operações; 
adestra a capacidade aplicada ao raciocínio e à decisão; remarca o cunho da solidariedade 
e aprofunda os laços de respeito ao valor, à autoridade e ao dever”.
O autor Souza Ramos, em 1936, assim se manifestou sobre o tema: “Cabe aos espertos suprir 
as falhas dos processos de seleção racial e do seu aperfeiçoamento”. Logo após, em 1938, 
Vasconcelos assim redigiu: “As etapas a vencer ao serviço da pátria exigem cada vez mais um 
corpo sadio, pois com o enobrecimento físico surgirá uma alma sadia, um pensamento sadio e 
o desdobramento do esforço coletivo” (GHIRALDELLI JUNIOR, 2007). 
Assim surgiria uma consciência nacional, uma nova mentalidade e novas possibilidades 
decorrentes de cada indivíduo se transformar em uma máquina de colaboração e rendimento.
Um  aspecto  importante  para  uma  melhor  compreensão  dessa  concepção  militarista  é  que 
não devemos confundir a educação militarista com a Educação Física militar. Apesar de haver 
ligações entre ambos os conceitos, a Educação Física militarista não se resumiu a uma prática 
militar de preparo físico. Foi, acima disso, uma concepção que visou a impor a toda a sociedade 
padrões de comportamento semelhantes aos quartéis do exército. Ela se preocupava com a 
saúde individual e com a saúde pública, mas o seu principal objetivo era preparar os jovens 
para suportar o combate, a luta, a guerra.
A Educação Física militarista atuou como uma selecionadora de elites condutoras capaz de 
distribuir melhor os homens e mulheres nas atividades sociais e profissionais. Defendeu a ideia 
de que o seu papel era colaborar no processo de seleção natural, eliminando os fracos e 
premiando os fortes no sentido de depuração da raça brasileira. 
21
Essa tese se originou na eugenia, baseada na melhoria da raça e aplicada na Alemanha nazista. 
As atividades esportivas como a ginástica, o desporto e os jogos recreativos só tinham utilidade 
se visassem à eliminação dos incapazes fisicamente. A coragem, a vitalidade, o heroísmo e a 
disciplina exacerbada compunham a plataforma básica dessa concepção. Outro objetivo era 
a formação do cidadão-soldado, capaz de obedecer cegamente, e sem questionar, as ordens 
de superiores hierarquicamente. Um dos instrumentos utilizados naquele período para divulgar 
as teses da concepção militarista foi a revista da Escola de Educação Física do Exército, que se 
tornou uma grande divulgadora das ideias dessa concepção.
No ano de 1945, com a derrota do nazifacismo, essa corrente da Educação Física foi obrigada 
a se reciclar, abandonando os argumentos, ou seja, os ideais nazifascistas. Apesar disso, nos dias 
de hoje é possível encontrar resquícios dos princípios norteadores dessa concepção militarista 
nas aulas de Educação Física em escolas e clubes brasileiros.
1.1.9 Educação Física pedagogicista
Esta concepção de Educação Física surgiu com proeminência no período pós-guerra (1945-
1964). Ela se fundamentou nas teorias psicológicas de John Dewey e da sociologia de Durkheim 
que podemos encontrar no movimento da Escola Nova que, desde a década de 1920, valorizava 
a Educação Física como elemento da Educação Integral. A escola tradicional, representada 
principalmente pelas escolas religiosas, por sua vez também acolhia os exercícios físicos como 
fator de disciplina e de saúde. Foi essa aglutinação de interesses político-econômicos, militares 
e educacionais que criou condições para generalizar-se a obrigatoriedade da Educação Física 
nos currículos escolares, consolidada pela constituição de 1937 (KOLINIAK FILHO, 2008).
NÃO DEIXE DE LER
Figura 8 – John Dewey.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Dewey.
John Dewey nasceu na cidade de Bur-
lington, nos EUA, em 1859. Filho de 
comerciantes, foi educado para ser um 
homem comum voltado ao trabalho, 
com valores comunitários e religiosos. 
Entretanto, graduou-se no magistério 
fez doutorado em Filosofia na Universi-
dade John Hopkins. Posteriormente, es-
tudou Biologia e a teoria da evolução 
de Darwin, além da filosofia de Hegel, 
que contribuíram para que elaborasse 
o seu primeiro livro em 1887, intitulado 
Psicologia. Para saber mais sobre a 
relevância da concepção de movimen-
to de Dewey para a Educação Física 
brasileira, acesse: http://www.scielo.
br/pdf/rbedu/n17/n17a06
22
Introdução à Educação Física
Laureate International Universities
A Educação Física pedagogicista estava preocupada com os jovens que frequentavam as 
escolas. Utilizava, portanto, a ginástica, a dança e o desporto como instrumento de educação, 
e tinha como objetivo preparar a juventude para aceitar as regras de convívio democrático, 
além de preparar as novas gerações para o altruísmo, o culto, a riqueza e os valores nacionais.
Essa concepção defendeu a tese de que a Educação Física era uma prática eminentemente 
educativa e, mais do que isto, advogou a Educação Física do movimento como a única capaz de 
promover a chamada Educação Integral. Nessa concepção há uma nítida diferenciação entre 
instrução e educação. Assim, as diversas disciplinas escolares são ditas instrutivas, enquanto a 
Educação Física, mais rica, é também educativa. Nesse sentido, é ela quem colabora decisivamente 
para que a juventude venha a melhorar a sua saúde, adquirir hábitos fundamentais, preparar-
se vocacionalmente e racionalizar o uso das horas de lazer. 
Outro aspecto importante foi que a concepção pedagogicista defendeu a ideia da valorização 
do profissional de Educação Física, pois acreditava piamente que a Educação Física era útil e 
boa socialmente e que, portanto, deveria ser respeitada acima daslutas políticas dos interesses 
diversos de grupos ou de classes sociais. Assim, foi possível forjar um sistema nacional de 
Educação Física capaz de promover a Educação Física do homem brasileiro respeitando as suas 
peculiaridades culturais, físico-morfológicas e psicológicas. 
Entre os anos de 1945 e 1964, aumentaram os estudos sobre Educação Física comparada, 
e as revistas e artigos mostraram a organização dos desportos e da Educação Física nos 
países desenvolvidos. O modelo americano encantou a intelectualidade universitária ligada às 
escolas de Educação Física. Segundo Silva (1950), a Associação Nacional de Educação Física 
dos Estados Unidos preconizou que as finalidades da Educação Física eram as  seguintes: a) 
Saúde, b) Desenvolvimento de habilidades fundamentais para a vida, c) Formação de caráter 
e desenvolvimento de qualidades dignas de um bom membro de família e bom cidadão, e d) 
Aproveitamento sadio das horas livres e preparação vocacional:
 • Saúde: a Educação Física pode contribuir igualmente para a saúde física e mental, por 
meio de atividades consideradas fisicamente saudáveis e mentalmente estimulantes. 
 • Habilidades fundamentais: dentre as habilidades fundamentais de toda sorte de que o 
indivíduo necessita para assegurar seu completo bem-estar e ajustamento, salientam-se as 
habilidades físicas como uma necessidade fundamental em todas as idades.
 • Caráter e qualidades mínimas de um bom membro de família e bom cidadão: a Educação 
Física é uma fase de trabalho escolar que particularmente se presta para o desenvolvimento 
do caráter. 
 • Preparação vocacional: certos tipos de atividade física, especialmente as competições 
desportivas, desenvolvem controle emocional e qualidade de comando e liderança.
 • Uso contínuo das horas livres: o mau aproveitamento desse tempo pode destruir a saúde, 
reduzir a eficiência e quebrar o caráter, além de degradar a vida.
Em  termos  históricos,  é  preciso  ter  a  compreensão  de  que  a  adoção  da  Educação  Física 
pedagogicista,  ligada ao  trabalho escolar e muito  influenciada pelas  teorias escolacionistas 
de Dewey, não significava o abandono da prática de uma Educação Física comprometida com 
uma organização didática, que ainda estava sob parâmetros militares. Afinal, não podemos 
esquecer que até os anos de 1950 o regulamento número 7, ou método francês, era obrigatório 
como diretriz da prática da Educação Física na rede escolar de ensino brasileiro. Todavia, essa 
nova concepção promoveu formas de pensamento que, aos poucos, alteraram a prática de 
Educação Física e a postura do professor de Educação Física. Tais novas formas de pensamento 
23
instauraram uma apologia da Educação Física como o centro vivo da escola pública, responsável 
por todas as particularidades educativas das quais as outras disciplinas, as instrutivas, não 
poderiam cuidar. 
As fanfarras da escola, os jogos internos e interescolares, os desfiles cívicos, a propaganda da 
escola na comunidade, tudo isso passou a ser incumbência do professor de Educação Física. Ele, 
de forma abnegada, devia, além de ministrar as suas aulas, cumprir com as funções de educador 
e até mesmo de líder na comunidade. A Educação Física, acima das desavenças políticas, era 
capaz de cumprir o velho anseio da educação liberal: formar o cidadão (GHIRALDELLI JUNIOR, 
2007).
1.1.10 Educação Física competitivista
A partir dos anos 1920 e 1930, progressivamente, o desporto de alto nível ganhou espaço no 
interior da sociedade e, consequentemente, da Educação Física. Nos anos de 1960 a 1970, o 
desporto de alto nível subjugou a Educação Física, colocando-a como uma atividade menor, em 
um projeto que privilegiou o treinamento desportivo.
O desporto de alto nível se tornou referência para toda a Educação Física. Tal prática estava 
associada ao alto grau de avanço científico nas áreas da fisiologia do esforço, da biomecânica 
e do treinamento desportivo. No aspecto político, essa concepção se apresentou como uma 
atividade neutra, acima dos conflitos políticos.
A tecnização, com a sua aparente aura de neutralidade científica, adequou-se perfeitamente 
aos interesses dessa concepção. O sustentáculo ideológico da Educação Física competitivista 
foi o mesmo desenvolvido pela tecno-burocracia militar e civil, que assumiu o poder em março 
de 1964. Conforme Ghiraldelli Junior (2007), “desenvolvimento com segurança” era o binômio 
produzido e divulgado na Escola Superior de Guerra (ESG) que deu o tom principal para a 
ideia de uma tecnização da educação, e da Educação Física, no sentido de uma racionalização 
despolitizadora, capaz de aumentar o rendimento educacional do país e, na área da Educação 
Física, promover o desporto representativo capaz de trazer medalhas olímpicas para o Brasil. 
O esporte foi sendo utilizado como instrumento de marketing para o governo brasileiro. Fazia-
se  necessário  eliminar  as  críticas  internas  e  deixar  transparecer  um  clima de prosperidade 
e desenvolvimento. Os problemas políticos desapareceram com a censura à imprensa e com 
a expulsão de brasileiros descontentes  com  um  regime  cada  vez mais ditatorial  no país. A 
Educação Física se alinhou a essas ideias, como podemos constatar no Boletim Técnico Informativo 
da Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Cultura (MEC): “Combatem-se a 
malquerência, a maledicência, a crítica destrutiva, que dividem, que desunem e abstam os nossos 
esforços em ajudar o nosso atual governo a construir uma grande nação: O Brasil Grande”. 
Nessa concepção, procurou-se:
 • Elevar o nível e o conceito do professor de Educação Física, incentivando-o ao estudo, à 
pesquisa, à elaboração de trabalhos e aos planos que foram difundidos entre os leigos e 
os licenciados.
 • Oferecer uma estrutura moderna a toda uma organização arcaica, obsoleta, ultrapassada, 
que foi legada aos dirigentes da nação pela imprevidência, desorganização político-
administrativa, descrença, quando não por falta de patriotismo de alguns antecessores, 
muitos dos quais apenas tiveram em mente atrelar um país de 8,5 milhões de quilômetros 
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Introdução à Educação Física
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quadrados e cerca de 90 milhões de habitantes à orientação e países cuja filosofia de 
governo não se coaduna com a nossa formação e índole.
 • Prover ao professor de Educação Física a convicção de que ele, por força da profissão, era 
um condutor de jovens, um líder, e que não podia aceitar ser conduzido por minorias ativas 
que intimidavam, que ameaçavam e às vezes conseguiam, pelo constrangimento, conduzir 
a maioria acomodada, pacífica e ordeira (FERREIRA, 1989, apud GHIRALDELLI JUNIOR, 
2007).
Apesar de negar, a Educação Física competitivista foi instrumento das elites políticas na tarefa 
de  desmobilização  da  organização  popular.  O  desporto  de  alto  nível,  que  é  o  desporto-
espetáculo,  foi  oferecido  de  forma  exagerada  à  população  via  rádio,  televisão  e  jornais, 
alienando o povo dos problemas políticos, sociais e econômicos.
A Revista Brasileira de Educação Física do Ministério da Educação e Cultura (MEC), em meados 
dos anos 1970, ao discutir a criminalidade, enfatizava a necessidade do desporto no meio 
operário para canalizar as energias. Ghiraldelli Junior (2007) apresenta frases de Souza 
(1974) que representam esse entendimento:
“Não tenho dúvidas em afirmar que o papel da Educação Física se ombreia aos ensinamentos 
de  cunho  religioso, pois  se às  vezes, até as  convicções  religiosas afetam pessoas, grupos da 
convivência  social,  a  Educação  Física,  principalmente  através  do  desporto,  aproxima,  dirime 
dissidências e extingue preconceitos.” 
“Se fadigarmos o corpo e orientarmos o espírito sem rumo do desocupado, do ansioso, ele 
buscará recuperação no leite, no descanso, e não no bar, nas esquinas.” 
“Se dermos ao operário de corpo cansado, após uma jornada laboriosa, uma atividade 
desportiva sadia, o seu repouso será bem mais reconfortante,soprando nele, por vezes, a 
revolta contra os patrões, contra a própria atividade funcional.”
“Se nas escolas aplicamos uma atividade física adequada, ajudamos jovens a suportar os 
desajustes familiares. Quanto mais quadras de esportes menos hospitais e menos prisões. Quanto 
mais calção, menos pijamas de enfermos e menos uniformes de presidiários.”
Essa política nacional de Educação Física fundamentada na teoria de Educação Física 
competitivista é, nos dias atuais, o aríete poderoso que atravessa a sociedade hegemonicamente. 
Essa concepção não se enraíza na prática e nem no cotidiano popular, de forma pura, e 
sim mesclada  com  todas as outras  tendências que,  historicamente,  foram fixando marcos  no 
pensamento social brasileiro. O culto ao atleta-herói, ao individualismo, é a marca registrada 
divulgada e glorificada pelos veículos de comunicação.
A ideia de conquistar um lugar ao sol pelo esforço próprio é ilustrada a todo momento com os 
ídolos do desporto, principalmente daqueles provindo de lares mais pobres e que se destacam 
em grandes equipes esportivas e em campeonatos nacionais e internacionais, e que, em verdade, 
escondem a verdadeira falta de oportunidade de enriquecimento material e cultural na qual 
vive a maior parte da nossa população.
Após este estudo, podemos constatar que a Educação Física competitivista foi incentivada pelo 
regime militar (1964-1985), pois tal concepção se alinhava com o sentido da proposta de 
Brasil Grande defendida pelos militares e políticos daquele período.
1.1.11 Educação Física popular
25
Ao contrário das concepções anteriormente citadas, a Educação Física popular não revela uma 
produção teórica (livros, teses, periódicos) abundante e de fácil acesso. Podemos dizer que a 
Educação  Física popular  se mantém quase que  exclusivamente  numa  teorização  transmitida 
oralmente entre as gerações de trabalhadores deste país. Boa parte dos documentos do 
Movimento Operário e Popular que poderiam conter uma teorização não foram encontrados 
pelos pesquisadores.  Todavia,  do material  existente  é possível  resgatar  uma  concepção de 
Educação Física que, paralela e subterraneamente, veio historicamente se desenvolvendo com e 
contra as concepções ligadas à ideologia dominante.
Figura 9 – Participantes na meia maratona anual na cidade de Gijon, Espanha, sábado 3 de 
maio de 2014.
fonte: www.shutterstock.com.
A Educação Física popular não estava preocupada com a saúde pública, pois entendia que tal 
questão não podia ser discutida independentemente do levantamento dos problemas criados 
pela atual organização econômica-social e política do país. Não pretendia ser disciplinadora 
de homens e muito menos estava voltada para o incentivo da busca de medalhas. Ela se 
fundamentava na ludicidade e na cooperação.
Utilizava o desporto, a dança e a ginástica como instrumentos para a organização e mobilização 
dos trabalhadores. A Educação Física foi utilizada na chamada solidariedade operária. A 
Educação Física popular não pretendeu ser educativa, pois entendeu que a educação dos 
trabalhadores estava intimamente conectada ao movimento de organização das classes 
populares para a as lutas da prática social. Para melhor compreensão, é preciso entender que 
não estamos considerando a Educação Física popular como a Educação Física praticada por 
todos os trabalhadores, mas apenas por uma parcela desse operariado. Ela emergiu da prática 
social dos trabalhadores e, em especial, das iniciativas ligadas aos grupos de vanguarda do 
movimento operário e popular. Esse movimento teve início com a República, sendo que, no 
início, as vanguardas de orientação socialdemocrata estiveram à frente das movimentações 
e, no  início do  séc. XX, perderam a hegemonia para adeptos e militantes do anarquismo e 
anarco-sindicalismo. Nos anos de 1920, surgiu o Partido Comunista Brasileiro, que passou a 
exercer crescente influência nas classes populares urbanas. A Educação Física e o desporto não 
eram vistos com simpatia pelas lideranças anarquistas e, com o Partido Comunista assumindo 
a liderança do movimento operário e popular, essa perspectiva mudou. O partido organizou 
campeonatos de natação no rio Tietê, na represa Billings e na represa Guarapiranga, além 
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Introdução à Educação Física
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de campeonatos populares de futebol nos bairros do Brás e da Mooca na cidade de São 
Paulo, bem como nas cidades de São Bernardo e Santo André, entre outras, nos quais a classe 
operária era numerosa.
Segundo Ghiraldelli Junior (2007), o jornal oficial do partido, chamado A Nação, no final dos 
anos de 1920, promoveu e organizou práticas desportivas populares incentivando o operariado 
jovem à frequência do desporto lúdico. 
Após a Segunda Guerra Mundial, quando da redemocratização do país (fim da ditadura do 
Estado Novo varguista), no curto período em que o partido saiu da clandestinidade, novamente 
as preocupações com a educação e, em particular, com a Educação Física vieram à tona por 
parte do movimento operário e popular. Na ocasião houve a formação de comitês populares 
democráticos em diversos bairros das grandes cidades brasileiras, e as questões educacionais, 
de lazer e de educação física integravam as pautas de discussões dos operários. Os comitês, 
formados inicialmente no sentido de lutar pela convocação da Assembleia Nacional Constituinte, 
rapidamente se tornaram agremiações reivindicadoras e organizadoras que desejavam a 
participação do poder público na tarefa de construção de escolas, quadras esportivas, jardins 
de infância, praças, etc. (GHIRALDELLI JUNIOR, 2007).
No interior desses movimentos, forjou-se a concepção de Educação Física popular, privilegiando 
a ludicidade, a solidariedade, a organização e a mobilização dos trabalhadores na tarefa 
de construção de uma sociedade democrática. Atualmente, diferentemente dos anos de 1920 
ou 1930, existem dois partidos  comunistas: o PCB  (Partido Comunista Brasileiro) e o PCdoB 
(Partido Comunista do Brasil).
27
Síntese
Ao concluir este relato sobre as concepções de Educação Física e as escolas de ginástica ou 
métodos ginásticos, objetivamos apresentar um panorama da Educação Física no Brasil desde o 
ano de 1837, quando o Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, incluiu as aulas de Educação Física 
em seu currículo.
No Brasil, constatamos, pelos estudos realizados, que a Educação Física escolar apresentou 
predominância de diferentes vertentes metodológicas sempre em consonância com os interesses 
político-econômicos e a respectiva ideologia dominante em cada momento histórico.
Vimos que, no ano de 1882, Rui Barbosa emitiu um parecer sobre um projeto de lei que versava 
sobre a reforma do ensino primário e recomendou a inserção obrigatória da ginástica para 
ambos os sexos tanto na escola primária como na formação de professores.
Aprendemos que, nos anos de 1837 a 1930, os objetivos da Educação Física eram a saúde e a 
eugenia (melhoria da raça) e que as origens da Educação Física brasileira se interligavam em 
dois discursos distintos e que se complementavam: o discurso médico e o militar.
A partir de 1930, na chamada Era Vargas, os objetivos da Educação Física se centravam em 
desenvolver a força de trabalho para responder às demandas da produção industrial e em 
cultivar os valores morais, o civismo e patriotismo. 
Constatamos que, em decorrência desses objetivos, a metodologia de ensino que predominou 
nesse período (1930–1945) foi o chamado método francês, adotado no Exército Brasileiro já 
na década de 1920, substituindo o método alemão, que já era ministrado desde os primórdios 
da República (1860) para os militares brasileiros. Esse método permaneceu até 1912 na Escola 
Militar do Exército. O pós-guerra possibilitou a valorização do esporte como instrumento de 
educação e inclusão social.
A Educação Física Desportiva Generalizada ocupou espaço nas escolas brasileiras tendo como 
objetivo pedagógico o desenvolvimento fisiológico, psicológico, sociale moral do educando. Esse 
modelo foi idealizado nos Estados Unidos e difundido pela Associação Nacional de Educação 
Física dos Estados Unidos. O embasamento teórico estava nas teorias psicopedagógicas de 
Dewey e na sociologia de Durkheim. 
Aprendemos que, nos anos de 1964 a 1985, a Educação Física tinha como objetivo a competição, 
ou seja, a formação de atletas para competições nacionais e internacionais. Foi o período do 
desporto-espetáculo,  e  nas  aulas  de  Educação  Física  o  professor  enfatizava  a  técnica  das 
diversas modalidades esportivas atuando como treinador de equipe e os alunos como atletas 
de clube.
Nestes estudos, conhecemos alguns nomes que fazem parte da história da Educação Física 
mundial como Guts Muths, Friederich Ludwig Jahn e Adolph Spiess, que são considerados os 
grandes idealizadores das escolas alemã de ginástica. Na França, os nomes Francisco de Amorós 
y Ondeano e George Demeny são considerados os pais da escola francesa de ginastica. Já 
na  Suécia,  Pehr  Henrick  Ling  é  considerado  o  grande  nome  da  escola  sueca  de  ginástica. 
28
Introdução à Educação Física
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Esses métodos ginásticos – escola alemã, sueca e francesa – são os pilares da Educação Física 
brasileira.
Aprendemos sobre as concepções higienista, militarista, pedagogicista, competitivista e popular. 
O estudo de tais concepções pelo autor Ghiraldelli Junior possibilitou uma melhor compreensão 
dos diversos períodos da Educação Física desde o início da Republica até os dias atuais.
Essas  concepções  coexistem nos dias de hoje em quartéis, academias,  clubes e escolas,  com 
maior ou menor difusão. Como em toda prática social, o novo convive com o velho.
NÃO DEIXE DE LER
O artigo Educação Física escolar brasileira: caminhos percorridos e novas/velhas perspectivas 
objetiva discutir, a partir de raízes históricas, a Educação Física como componente curricular, na 
busca de novos rumos que permitam sua legitimação como tal. A leitura poderá contribuir para 
exemplificar como o conhecimento deste tema se aplica atualmente na área da Educação Físi-
ca. http://ojs.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/16109/8717
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Ghiraldelli Júnior P. Educação Física Progressista: a Pedagogia Crítico-social dos Conteúdos 
e a Educação Física Brasileira. Edições Loyola, 10ª edição, 2007, 65p.
Kolyniak Filho C. Uma (Nova) Introdução. Editora da PUC, São Paulo, 2ª edição, 2008, 126p.
Marinho I. P. Introdução ao estudo da filosofia da educação física e dos desportos. Horizon-
te, Brasília, 1985, 243p.
Soares C. L. Educação Física: Raízes Europeias e Brasil. Editora Autores Associados, Campi-
nas, 5ª edição, 2012, 141p.
ReferênciasBibliográficas
	Disciplina INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO FÍSICA
	1.1 A história da Educação Física escolar
	1.1.1 A Educação Física escolar no Brasil 
	1.1.2 Escola alemã de ginástica 
	1.1.3 A escola alemã no Brasil
	1.1.4 Escola francesa de ginástica
	1.1.5 A escola francesa no Brasil
	1.1.6 A escola sueca no Brasil
	1.1.7 Educação Física higienista
	1.1.8 Educação Física militarista
	1.1.9 Educação Física pedagogicista
	1.1.10 Educação Física competitivista
	1.1.11 Educação Física popular

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