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Dilson Villela e Maíra de Souza Introdução à Educação Física 07 Introdução Nesta viagem de estudos através dos tempos, convido-o para conhecer as escolas de ginástica alemã, sueca e francesa, e as concepções de Educação Física higienista, militarista, competitivista e popular. Conheceremos os grandes nomes dos métodos de ginástica, como Guts Muths, Friederich Ludwig Jahn e Adolph Spiess, que idealizaram o modelo alemão de ginástica. Da Suécia apresentaremos Pier Henrik Ling, um dos mais importantes nomes e idealizador do método sueco de ginástica. Da França, nomes como Francisco de Paula Amorós Y Ondeano e Georges Demeny, considerados os idealizadores da ginástica francesa. Esses autores e métodos ginásticos irão influenciar a Educação Física brasileira desde os primórdios da República até os dias atuais. Apresentaremos as diversas concepções de Educação Física, como a higienista, militarista, pedagogicista, competitivista e popular. Essas correntes da Educação Física irão predominar em diferentes momentos da nossa história, sempre em consonância com os interesses políticos e econômicos e as respectivas ideologias dominantes em cada momento da história brasileira. Por meio destes estudos, você vai conhecer, entender e refletir de forma crítica sobre a Educação Física brasileira. 1.1 A história da Educação Física escolar Figura 1 – Mulheres da sociedade de Washington que jogam bola em Washington, 1931. fonte: www.shutterstock.com: Capítulo1Disciplina Introdução À Educação Física 08 Introdução à Educação Física Laureate International Universities 1.1.1 A Educação Física escolar no Brasil No Brasil, a Educação Física escolar apresentou predominância de diferentes vertentes metodológicas sem consonância com interesses políticos e econômicos e a respectiva ideologia dominante em cada momento histórico. Vamos apresentar um panorama das grandes correntes ideológicas e pedagógicas que embasaram a Educação Física escolar brasileira. Cabe advertir que todas as tendências ainda coexistem na atualidade, com maior ou menor difusão. O surgimento de uma nova corrente pedagógica não elimina as anteriores; o novo convive com o velho. Podemos considerar que a Educação Física escolar no Brasil passou a existir no ano de 1837, quando o Colégio Pedro II do Rio de Janeiro incluiu aulas de ginástica em seu currículo. Após essa iniciativa pioneira, a primeira tentativa de generalizar a Educação Física como prática obrigatória no sistema escolar ocorreu em 1884. Neste ano, o então ministro Couto Ferraz incluiu a ginástica como matéria obrigatória no ensino primário e a dança no secundário. Em 1882, Rui Barbosa, um grande defensor da Educação Física escolar, deu um parecer sobre o projeto de reforma de ensino primário que tornou obrigatória a ginástica para ambos os sexos, tanto nas escolas primárias quanto na formação de professores. Propôs também que os professores que ministrassem essa disciplina fossem equiparados aos de outras disciplinas escolares em termos de autoridade, valor e vencimentos. NÃO DEIXE DE LER Figura 2 – Ruy Barbosa, o Águia de Haia, c. 1923. Fonte: http://www.academia.org.br/aca- demicos/rui-barbosa/biografia. Rui Barbosa (Rui Barbosa de Oliveira) foi um advogado, jornalista, jurista, político, diploma- ta, ensaísta e orador que nasceu em Salvador, BA, em 5 de novembro de 1849 e faleceu em Petrópolis, RJ, em 10 de março de 1923. Ele foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras – uma instituição cultural brasileira inaugurada em 1897, sediada no Rio de Ja- neiro, cujo objetivo é o cultivo da língua e da literatura nacionais. Para ler mais sobre este importante homem brasileiro, acesse: http://www.academia.org. br/academicos/rui-barbosa/biografia. . No período compreendido entre 1837 e 1930, a ginástica escolar praticada em alguns estabelecimentos de ensino consistiu principalmente na ginástica calistênica e na ginástica alemã. A razão disso estava no fato de que os professores, mais conhecidos à época como instrutores de ginástica, eram, na quase totalidade, militares. Como a academia real militar, fundada em 1810, contratava instrutores alemães para dirigir a preparação física dos soldados, o método alemão tornou-se o predominante nessa época. 09 Os objetivos fundamentais relacionados à ginástica escolar entre 1837 e 1930 centravam-se em dois objetivos: saúde e eugenia (melhoria da raça). Essas preocupações eram condicionadas pela situação político-econômica do Brasil, que havia se tornado politicamente independente de Portugal, mas precisava superar problemas econômicos e raciais, visto que grande parte da população era constituída de negros, índios e mestiços. A questão da saúde tornara-se relevante em nosso país, com a valorização conquistada pela categoria dos médicos, no séc. XIX, a partir dos conhecimentos que adquiriram na Europa acerca do manejo sanitário, dos micróbios e das vacinas. Pode-se assim reconhecer que as origens da Educação Física brasileira se vinculam a dois discursos distintos e complementares: o médico e o militar (Kolyniak Filho, 2008). Então, sem mais demora, vamos conhecer e, principalmente, reconhecer cada uma das escolas e tendências encontradas. 1.1.2 Escola alemã de ginástica Um dos principais objetivos da ginástica alemã no início do séc. XIX era a defesa da pátria, criando um espírito nacionalista no qual homens e mulheres fossem saudáveis fisicamente. Os mentores desses ideais acreditavam que esse corpo forte e saudável e o espírito nacionalista seriam desenvolvidos otimizando a ginástica como instrumento para atingir esse objetivo. Guts Muths, que foi um dos principais defensores dessas ideias, assim se expressou sobre os fundamentos dessa ginástica: “Eu bem sei que uma verdadeira teoria de ginástica deverá ser fundada sobre as bases fisiológicas e que a prática de cada exercício ginástico deverá ser calculada segundo a constituição de cada indivíduo” (MARINHO, 1985). A ginástica deveria ser ministrada pelo Estado diariamente para homens, mulheres e crianças. Sua fundamentação teórica se baseava nas teorias pedagógicas de autores como Rousseau, Basedow e Pestalozzi, que preconizavam a tese do homem universal, ou seja, completo, e os exercícios físicos eram os pilares dessas ideias. VOCÊ O CONHECE? Figura 3 – J C F GutsMuths. Fonte: https://pt.wikipedia.org/ wiki/Guts_Muths Formado pela Universidade de Halle, onde estudou teologia e frequentou cursos de matemática, medicina, línguas modernas e pedagogia, Guts Muths iniciou seus trabalhos como tutor particular na pequena cidade de Quedlinburg, seu local de nascimento. Foi convidado para trabalhar na escola Philantropinum de Schnep- fenthal, na qual lecionou, em 1786, o conteúdo de ginástica. Baseado na experiência adquirida com a educação corporal das crianças, Guts Muths escreveu Ginástica para a juventude. No início do livro, ele afir- ma compreender a importância da fisiologia e da in- tensidade da prática dos exercícios de acordo com as características individuais de seus alunos, considerando, portanto, a fisiologia como um conhecimento necessário ao professor de ginástica, devendo esse conhecimento ser aliado à sua experiência. Para ler mais sobre Guts Muths, acesse: http://www.rbhe.sbhe.org.br/index. php/rbhe/article/view/540/pdf_90 10 Introdução à Educação Física Laureate International Universities Outro grande nome da escola alemã foi Friederich Ludwig Jahn (1778-1825). Ele foi o criador dos aparelhos de ginástica, que atualmente podemos encontrar em academias com roupagem nova, sofisticada e moderna. Friederich Ludwig Jahn defendia a tese de que a ginástica deveria utilizar jogos e o conceito de moral e saúde e preparar os homens para a guerra. Ele foi um dos idealizadores do movimento TURNEN, que era constituído de grandes festas gímnicas, caracterizadas como grandes encontros de massas muito disciplinadas, organizadas apartir de 1814, sobretudo depois de 1860. Conforme Soares (2012), encontra-se, no TURNEN, uma das principais formas de instrução física militar, destinada às massas, que corresponde às necessidades práticas da burguesia. NÃO DEIXE DE LER Figura 3 – Friedrich Ludwig Jahn. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Friedrich_Ludwig_Jahn Turnen, Turn e Turner é um radical alemão que tam- bém está presente em várias línguas germânicas, tanto em línguas desaparecidas quanto em vivas, e em todas elas significa torcer, virar, voltear, diri- gir, mover, fazer grande movimento. Foi criado ou resgatado por Friedrich Ludwig Jahn. Para ler mais sobre as obras de Friedrich Ludwig Jahn, acesse: http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/ view/2149/1106. Adolph Spiess (1810-1858) foi outro grande nome na escola alemã de ginástica. Preocupava- se com a ginástica na escola e defendia a importância das atividades físicas todos os dias para os alunos. Segundo Accioly (1949, apud Soares, 2012) “Spiess conceituava a educação como indivisível, abraçando toda a natureza da criança e situando a ginástica como responsável pela perfeição do corpo que a poria em equilíbrio com a alma”. Accioly esquematizou o sistema de ginástica de A. Spiess da seguinte forma: • Sistema de ginástica: exercícios livres (sem aparelhos), membros superiores e inferiores. • Exercícios de suspensão: barras, paralelas, cordas. • Exercícios de apoio: apoio propriamente dito, suspensões, balanceamentos. • Ginástica coletiva: marchas e exercícios ou ordem unida. Como podemos constatar, o sistema de ginástica de A. Spiess é absolutamente mecânico e funcional, muito embora a historiografia da Educação Física enalteça valores pedagógicos no seu método. Em seus escritos, o autor A. R. Accioly observa que o método de Spiess conceituava a educação como indivisível, abraçando toda a natureza da criança e situando a ginástica como responsável pela perfeição do corpo que a poria em equilíbrio com a alma. 11 NÃO DEIXE DE VER... Assista a este vídeo para ver como era a ginástica alemã feminina na prática. http://omar. pro.br/modules/mytube/singlevideo.php?cid=1&lid=28 O movimento de ginástica na Alemanha se caracterizou por um forte nacionalismo, sendo que os TURNEN se desenvolveram fundamentados sobre orientações nacionalistas, socialistas, ultranacionalistas e racistas. NÃO DEIXE DE LER O artigo A Educação e o Turnen no Rio Grande do Sul, uma questão de etnicidade: 1852– 1940, que diz respeito ao movimento caracterizado por manifestações de um povo, o alemão, num momento de agitação político-socioeconômico na Alemanha e o seu transplante para o Brasil, procurou identificar, acompanhar e analisar o esforço de um grupo em preservar a sua identidade étnica e sua cultura por meio do Turnen. http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/ cbhe2/pdfs/Tema6/0610.pdf. 1.1.3 A escola alemã no Brasil A implantação da ginástica alemã no Brasil aconteceu na metade do séc. XX. Segundo a historiografia da Educação Física brasileira, a implantação da ginástica alemã ocorreu com a chegada dos imigrantes alemães, que tinham por hábito a prática da ginástica. Suas implantações ocorreram por meio dos soldados da guarda imperial, que eram de origem prussiana e que, concluindo o serviço militar, não mais regressavam à Alemanha, permanecendo no Brasil com seus familiares. No ano de 1860, o modelo alemão foi consagrado como método oficial do exército brasileiro. Esse modelo alemão permaneceu de forma oficial na escola militar até o ano de 1912, quando foi substituído pelo método francês. 1.1.4 Escola francesa de ginástica Na França, a ginástica integra a ideias de uma educação que tinha como objetivo o desenvolvimento social, para o qual são necessários homens completos. Todo cidadão tem direito à educação. Esse país é o berço das concepções clássicas liberais de educação, concepções essas que incluíam o exercício físico como algo importante à educação do homem universal. É sobre essa ótica que a ginástica será estruturada não somente para os militares, mas também para toda a população, colocando-se como uma prática capaz de contribuir para a formação do homem completo e universal. A ginástica na França surgiu na primeira metade do séc. XIX, fundamentada na tese dos alemães Friederich Ludwig Jahn e Gutz Muths, contendo, além das preocupações básicas com o corpo anátomo-morfológico, um forte traço moral e patriótico. 12 Introdução à Educação Física Laureate International Universities O seu fundador foi Francisco de Amorós y Ondeano (1770-1848), que assim a fundamentou: “A prática de todos os exercícios que tornam o homem mais corajoso, intrépido, mais inteligente, mais sensível, mais forte, mais habilidoso, mais adestrado, mais veloz, mais flexível e mais ágil predispondo-o a resistir a todas as dificuldades, a triunfar de todos os perigos e de todos os obstáculos que encontre, a prestar enfim, serviços assinalados ao estado e à humanidade” (MARINHO, 1985 e SOARES, 2012). VOCÊ O CONHECE? Figura 4 – Francisco Amoros. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran- cisco_Amorós#/media/File:Amorós.jpg Francisco de Paula Amorós y Ondeano nasceu em Valência em 1770 e morreu em Paris em 1843. Iniciou sua carreira militar aos 9 anos de idade, como um cadete de nobreza, devido à vocação de serviço à pátria que caracterizara sua família. Seu pai tinha sido tenente do Reg- imento Ancião do Rei e fizera parte do con- tingente de tropas espanholas que lutaram na América durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos, e seu avô tinha recebido o título de Marquês de Sotelo, título este que o coronel Francisco Amorós herdou em 1839. Em 1791, aos 21 anos de idade, Francisco de Paula Amorós y Ondeano participou da campanha militar de Oran e dois anos depois nos Pirineus, que o levaram a ser promovido a capitão em 1794. Seu tio, também general, na época governador de Cádiz, chamou-o ao seu serviço e nomeou-o arquivista da Biblioteca de Mapas do Ministério da Guerra. Em 1796, foi transferido para Madri, se casou e teve três filhos. Em 27 de agosto de 1807 (Francisco Amorós tinha então 37 anos) foi promovido a coronel. Muito apreciado pelo monarca Carlos IV, e também por seu ministro Godoy, Amorós foi Secretário de Estado, além de secretário do Gabinete da Guerra e, posteriormente, conselheiro das Índias. Para saber mais a respeito das contribuições de Amorós para a Edu- cação Física, clique aqui. http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/170/179 Essas qualidades físicas, psicológicas e morais seriam desenvolvidas por meio da ginástica, que objetivava a saúde, homens fortes, melhoria de vida e aumento da riqueza tanto do indivíduo quanto do Estado. O slogan da ginástica na Europa no séc. XIX era: “Da flexão muscular ao sucesso das lutas industriais e nas guerras”. O problema da produção também se colocava. Os corpos saudáveis eram também uma exigência do capital. A ginástica seria instrumento a ser utilizado para eliminar a fraqueza e tornar viris os homens. Segundo Marinho (1985) e Soares (2012), Amorós estruturou desta forma seu método ginástico: • Ginástica civil e industrial • Ginástica militar 13 • Ginástica médica • Cênica ou funambulesca A ginástica civil foi a que mais despertou interesse entre os brasileiros e, por isso, foi a mais disseminada. Vejamos como é desenvolvida uma lição de ginástica conforme o método francês de Amorós: Figura 5 – jovem aquecendo para exercício. fonte: www.shutterstock.com. • Exercícios elementares ritmados e sustentados por cantos, com o objetivo de desenvolver a voz e ativar movimentos respiratórios. • Exercícios de marchar e correr em terrenos os mais variados, escorregar e patinar. Habituar- se às corridas de fundo e velocidade. • Exercícios de saltar em profundidade, altura e largura, em todas as direções, para frente, para os lados, e para trás, com ou sem armas,com o auxílio de uma vara ou de um bastão, ou de um fuzil ou lança. • Exercícios de equilíbrio ou de passagem sobre pinguelas, barra fixa ou oscilante, horizontal ou inclinada, a cavalo ou a pé, progredindo para frente ou para trás, a fim de habituar-se às passagens de ribeiros ou precipícios, utilizando-se de ramos de árvores ou de uma vara. • Exercícios de transposição de obstáculos naturais, como barreiras, muros, fossos, etc., conduzindo ou não uma carga. • Exercícios das mais diversas lutas para desenvolver a forma muscular, a destreza, a resistência à fadiga e subjugar o adversário. • Exercícios de trepar em escada vertical ou progredir em escada horizontal, fixa ou oscilante, com auxílio dos pés ou das mãos, ou então ao longo de uma corda cheia de nós, ou descer escorregando, ou de qualquer outra maneira. 14 Introdução à Educação Física Laureate International Universities • Exercícios de nadar, nu ou vestido, com ou sem carga, sobretudo armado, de mergulhar e manter-se longo tempo em equilíbrio sobre a superfície limitada, de aprender a salvar uma pessoa, sem, entretanto, se deixar agarrar por ela. • Exercícios para transpor um espaço determinado com suspensão variável de braço, mãos e pés, ou somente com auxílio das mãos ou com o auxílio de uma vara ou corda esticada. • Exercícios, parado ou em movimento, com habilidades, segurança, de suspender corpos de conformações várias, incômodos e pesados, algumas vezes homens ou crianças, salvá-los em perigo, arrastar ou empurrar pesos ou massas consideráveis para poder aplicá-los em casos de utilidade militar ou de interesse público. • Exercícios de prática da esferística antiga e moderna, atlética e militar em todas as suas modalidades de lançar bolas, balões, e péla de diferentes pesos e tamanhos e arremessar toda espécie de projéteis sobre ponto determinado. • Exercícios de tiro ao alvo, fixo ou móvel. • Exercícios de esgrima, a pé ou a cavalo, exercício para manejo de toda espécie de arma branca. • Exercícios de equitação: fazer o treinamento no cavalo de pau e repeti-lo depois com o animal. • Exercícios para prática de danças pírricas ou militares e das danças de sociedade, dando a estas o mais amplo desenvolvimento. • Podemos aprender o caráter utilizado destas 15 séries de exercícios propostos por Amorós conforme a ideologia da época; assim também é possível aprender a sua preocupação com o desenvolvimento da força física, defesa, agilidade e resistência, qualidades físicas essenciais tanto para o trabalho fabril quanto para as lutas pela defesa da pátria, sob a ótica da burguesia ascendente. NÃO DEIXE DE VER... Este vídeo mostra a ginástica francesa e a força de trabalho. http://omar.pro.br/modules/my- tube/singlevideo.php?cid=1&lid=35 Na França, a partir de 1850, a ginástica amorosiana integrou os currículos de todas as escolas primárias e foi obrigatória para as escolas normais. A partir dos trabalhos de Amorós, ocorreu um crescente envolvimento de estudos da biologia, da fisiologia, assim como de médicos em torno da problemática do exercício físico. Outro grande nome da escola francesa de ginástica foi Georges Demeny (1850-1917). Ele tinha formação em biologia, fisiologia e pedagogia e defendia a tese de que a Educação Física deveria abandonar procedimentos empíricos e inspirar-se em leis físicas e biológicas para constituir uma prática a partir de resultados de experiências feitas por meio do método científico. 15 VOCÊ O CONHECE? Georges Demeny nasceu 1850 na Holanda e faleceu em 1917 em Paris. Fonte: https://www. imdb.com/name/nm2930046/mediaviewer/rm2605404928 Além de biólogo e pedagogo que gostava de praticar ginástica, foi inventor, cineasta e ginas- ta. Se destacou por inventar uma câmera cronofotográfica para estudar os movimentos e fun- dou a Sociedade de Ginástica Racional. Para saber mais sobre as contribuições de Demeny à Educação Física, acesse: http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/2099/1048 Para assistir a um vídeo mostrando os estudos de movimento de Demeny, clique aqui. https:// www.youtube.com/watch?v=H7LH5B3PYDM Segundo Demeny, o problema da Educação Física deveria ser tratado por todos os meios de que a Ciência dispõe, uma vez que é susceptível de precisão. Cada vez que um problema é trabalhado de forma experimental, a partir das medidas, as noções em relação a ele tornam- se mais claras, e irá contribuir de modo muito mais significativo para a causa da Educação Física do que simplesmente formular críticas e opiniões pré-concebidas (LANGLADE & LANGLADE apud SOARES, 2012). Ele era um seguidor do positivismo e defendia assim a Educação Física: “O conjunto de meios destinados a ensinar ao homem a executar um trabalho mecânico qualquer com a maior economia possível de gasto de força muscular” (LANGLADE & LANGLADE apud SOARES, 2012). Demeny teve uma grande preocupação com os exercícios físicos destinados às mulheres. Seus estudos sobre movimento arredondado contínuo e também com ritmo, influenciados pela dança, levaram-no a trabalhar com a ginástica feminina. Com relação à saúde da mulher, além de preconizar exercícios físicos próprios, procurou combater os “hábitos elegantes” por julgá- los nocivos à saúde da mulher. Condenava o uso de saltos altos, porta-seios, cintas, enfim, todos os meios de sustentação que fossem artificiais porque eles apenas acentuavam “a flacidez das paredes naturais, facilitando hérnia, a prisão de ventre, a má circulação e contribuindo para partos difíceis” (MARINHO, 1985). Essas preocupações com a saúde da mulher, particularmente com sua função reprodutora, estão marcadamente presentes nos discursos e nas propostas dele, bem como dos intelectuais brasileiros. Tanto Rui Barbosa quanto Fernando de Azevedo, em momentos distintos, articulados, porém, no plano ideológico, não pouparam páginas em seus trabalhos para enaltecer os efeitos higiênicos dos exercícios físicos sobre as formas femininas. Se Demeny pode ser considerado inovador devido às suas preocupações mais totalizantes em relação ao exercício físico, ele continua, entretanto, sendo conservador, uma vez que com o seu método “propõe-se a aumentar a energia física do indivíduo e acrescentar-lhe rendimento (...). Tal método diz respeito ao homem universal isolado da prática real e de todas as relações sociais, tendo como objetivo entidades abstratas, a motricidade, o movimento, a atividade humana” (SOARES, 2012). Desse ponto de vista, os métodos de ginástica até agora por nós discutidos assemelham-se. Diferenciam-se apenas na forma: umas são mais analíticas, outras mais sintéticas. Todavia, o conteúdo anátomo-fisiológico ditado pela ciência constitui o núcleo central das distintas propostas, além, é claro, da moral de classe, do culto ao esforço individual, da disciplina, obediência, ordem, adaptação e formação de hábitos. 16 Introdução à Educação Física Laureate International Universities Orientados para o desenvolvimento físico e para a saúde, o que se evidencia é que esses métodos ginásticos convêm à burguesia porque trazem, marcadamente, a possibilidade de enaltecer indivíduos abstratos, separados das relações e que são porta-vozes de uma prática neutra, cultuando o mito do homem natural e biológico. 1.1.5 A escola francesa no Brasil No Brasil, a ginástica francesa foi oficialmente implantada em 12 de abril de 1921 pelo Decreto nº 17784. A sua chegada, porém, deu-se no ano de 1907, por meio da missão militar francesa, que veio ao país com a finalidade de ministrar instrução militar à força pública do Estado de São Paulo, onde fundou uma sala de armas que deu origem, mais tarde, à Escola de Educação Física do Estado de São Paulo. Anos mais tarde, em 1929, o Ministério da Guerra, por meio de uma comissão formada por civis e militares, elaborou um anteprojeto de lei cujo conteúdo determinava que aEducação Física fosse praticada por todos os residentes no Brasil e com obrigatoriedade em todos os estabelecimentos de ensino (CANTARINO FILHO, 1982 apud SOARES, 2012). Definiu também em seu artigo 41 o método a ser adotado: “Enquanto não for criado o método nacional de Educação fica adotado em todo o território brasileiro o denominado método francês, sob o título de regulamento geral de Educação Física” (MARINHO, 1985). O anteprojeto recebeu severas críticas da Associação Brasileira de Educação (ABE) pois considerava que os órgãos governamentais eram incapazes de “resolver um problema educativo nacional” quanto às finalidades e inconvenientes de transplantar para o Brasil um sistema estrangeiro de ginástica, tornando-o obrigatório. A sistematização da ginástica sueca ocorreu no início do séc. XIX e teve como objetivo extirpar os vícios da sociedade, especialmente o alcoolismo. Esse método sueco de ginástica se colocava como o instrumento capaz de criar indivíduos fortes, libertos de vícios e com uma boa moral. Esse perfil de homem era o que se esperava que seria útil à produção e à pátria. Nesse momento da história, a Suécia iniciava o seu processo de industrialização, e homens saudáveis eram necessários para trabalhar nas fábricas e também, se necessário fosse, estariam prontos para compor as fileiras do exército para uma possível guerra. VOCÊ O CONHECE? Figura 6 – Pier Henrik Ling. Fonte: https://pt.wikipedia.org/ wiki/Pehr_Henrik_Ling Pier Henrik Ling (1776-1839) nasceu na Suécia, em SödraL- junga, Småland, em 1776. Viveu sua infância num ambiente científico fértil. Tornou-se poeta e estudou teologia. Era um homem ligado ao mundo da literatura e às letras e trabalhava em Estocolmo, no Serviço Social. Estudou literatura francesa e alemã na Dinamarca. Porém, insatisfeito por perceber a concepção de ginástica vigente à época apenas como veículo para uma saúde física, voltou para a Suécia para se tornar professor de esgrima na Universidade de Lund, em 1805. Convencido de que a prática da ginástica e a criação de um sistema deveriam ser um propósito de Estado, começou a so- licitar a compra de aparelhos para a execução de exercícios. Continue lendo sobre Ling no site: http://www.scielo.br/pdf/ rbce/v37n2/0101-3289-rbce-37-02-0128.pdf 17 Pehr Henrick Ling (1776-1839) propôs um método de ginástica com forte viés nacionalista que tinha como objetivo regenerar a população sueca, formar homens fortes, saudáveis e que pudessem preservar a paz na Suécia. Esse modelo de ginástica era dividido em quatro partes que tinham objetivos diferentes: • A ginástica pedagógica ou educativa – independentemente de sexo ou idade e até mesmo condições materiais e sociais, todos poderiam praticá-la. O seu principal objetivo era desenvolver o indivíduo normal e harmoniosamente, assegurando a saúde, evitando vícios, defeitos posturais e enfermidades. • A ginástica militar – objetivava preparar jovens para uma possível guerra. Eram exercícios militares acrescido de ginástica pedagógica. O treinamento de tiro e esgrima integrava esta prática de ginástica. • A ginástica médica e ortopédica – tinha como objetivo eliminar vícios posturais e curar certas enfermidades por meio de movimentos especiais para cada caso específico. Também fundamentada na ginástica pedagógica. • A ginástica estética – utilizava a dança e movimentos harmoniosos que proporcionavam beleza e graça ao corpo. Era baseada na ginástica pedagógica. Vejamos como é definida uma lição do método sueco conforme Marinho (1985): • Exercícios de ordem • Exercícios de pernas ou movimentos preparatórios formando uma pequena série. Esta série se decompõe assim: • Movimentos de pernas; • Movimentos de cabeça; • Movimentos de extensão dos braços; • Movimentos do tronco para frente e para trás; • Movimentos laterais do tronco; • Movimentos outros de pernas. • Extensão da coluna vertebral • Suspensões simples e fáceis • Equilíbrio • Passo ginástico ou marcha • Movimentos dos músculos dorsais • Movimentos dos músculos abdominais • Movimentos laterais do tronco • Movimentos das pernas • Suspensões mais intensas do que as do número 4 18 Introdução à Educação Física Laureate International Universities • Marcha ou movimento de pernas, executados mais rapidamente que outros para preparar para os saltos • Saltos • Movimentos de pernas • Movimentos respiratórios A ginástica feminina é idêntica à masculina, com as seguintes restrições: • Evitar movimentos muito acentuados para trás; • Não realizar movimentos que possam congestionar a bacia; • Abster-se do trabalho físico durante a menstruação; Os aparelhos utilizados pelo método sueco eram e ainda são: • Barra móvel para exercícios de suspensão e equilíbrio; • Cavalo de pau, plintos, carneiros • Espaldares e banco sueco. NÃO DEIXE DE VER... Este vídeo mostra a ginástica sueca e os aparelhos de ginástica. Assista e sinta-se naquela época! http://omar.pro.br/modules/mytube/singlevideo.php?cid=1&lid=43 1.1.6 A escola sueca no Brasil No Brasil, Rui Barbosa foi um grande defensor da ginástica de Ling, fundamentalmente por ela basear-se na ciência e ser bem acolhida. No ambiente médico brasileiro, outro grande nome foi Fernando Azevedo, grande incentivador desse método ginástico. Esses pensadores atribuíam à ginástica sueca uma adequação maior ao estabelecimento de ensino dado o seu caráter essencialmente pedagógico. Essa defesa por tais intelectuais da classe médica serviu para propagar a ginástica sueca no Brasil. Com isso, lentamente a ginástica alemã foi se restringindo aos quartéis e a ginástica sueca se tornando mais adequada e aceita nas escolas e no âmbito civil. 1.1.7 Educação Física higienista Segundo esta concepção, a questão da saúde está em primeiro plano. Cabe à Educação Física um papel importante na formação de homens e mulheres sadios, fortes e dispostos à ação. Mas a Educação Física higienista não se responsabiliza somente pela saúde individual das pessoas. Na verdade, ela atua como protagonista em um projeto de assepsia social, idealizado pelos dirigentes políticos, da saúde e da educação da época. Dessa forma, a ginástica, o desporto 19 e os jogos recreativos objetivavam melhorar os hábitos das pessoas no sentido de levá-las a se afastarem das práticas capazes de provocar a deterioração da saúde e da moral que comprometeriam a vida coletiva. Assim, a perspectiva da Educação Física higienista vislumbrou a possibilidade e a necessidade de resolver o problema da saúde pública pela Educação. O objetivo central foi disseminar os padrões de condutas forjados pelas elites dirigentes entre todas as outras classes sociais. Os meios para alcançar tal padrão foram encontrados na adoção de um correto programa de Educação Física. Essa concepção de Educação Física entende que, independentemente das determinações impostas pelas condições de existência material, o indivíduo pode e deve adquirir saúde. Essa concepção se preocupa em utilizar a Educação Física como agente de saneamento público, na busca de uma sociedade livre de doenças infecciosas e dos vícios deterioradores da saúde e do caráter do homem do povo. No início do séc. XX, o pensamento liberal representou uma visão política muito marcante no Brasil. Esse pensamento acreditava que salvação da humanidade somente poderia ocorrer por meio da educação e da escola. A Educação Física higienista resultou desse pensamento. Assim, as elites intelectuais brasileiras depositaram suas esperanças na educação e na escola para construir uma sociedade democrática e desprovida de problemas sociais. É interessante reproduzir aqui uma passagem escrita por Rui Barbosa, um dos mais importantes liberais da sua época: “É impossível formar uma nação laboriosa e produtiva sem que a Educação higiênica do corpo acompanhe pari passu, desde o primeiro ensino até o limiardo ensino superior, o desenvolvimento do espírito. Assim, nesta quadra da vida estará arraigado o bom hábito, firmada a necessidade, e o indivíduo, entregue a si mesmo, não faltará mais a esse dever primário da existência humana. Acredita-se, em geral, que o exercício da musculatura não aproveita senão a robustez da parte impensante da nossa natureza, a formação de membros vigorosos, a aquisição de forças estranhas à inteligência. Grosseiro era o cérebro, a sede do pensamento envolve o organismo, e o organismo depende vitalmente da higiene que fortalece os vigorosos e reconstitui os débeis” (Lourenço Filho, 1954 apud GHIRALDELLI JUNIOR, 2007). Defendendo a tese de que a higiene do corpo e a higiene da mente são inseparáveis, Rui Barbosa vai encontrar na Educação Física a disciplina escolar capaz de satisfazer o apetite infantil pelo movimento e atividade física. Vários aspectos defendidos pelo pensamento liberal em relação à Educação Física, e que desembocam naquilo que estamos designando de Educação Física higienista, estão vivos ainda hoje permeando os discursos de autoridades políticas, médicas e pedagógicas e de professores de Educação Física. Podemos constatar nos dias de hoje com a proliferação das academias de ginástica a crença de que existe uma real possibilidade de aquisição de saúde e beleza por meio da Educação Física. O cuidado com o corpo surge, então, desprendido das possibilidades (ou impossibilidades?) que cada indivíduo, inserido nesse sistema social, tem para adquirir e preservar a saúde e manter o padrão estético corporal imposto pela mídia (GHIRALDELLI JUNIOR, 2007). 1.1.8 Educação Física militarista A Educação Física militarista ocupou uma posição de destaque nas décadas de 1920 a 1930. A ideia central dessa concepção de Educação Física era o aperfeiçoamento da raça, fundamentada nas falsas conclusões da biologia nazifascista. Objetivava a formação do homem obediente, adestrado, respeitador da hierarquia, sem uma visão crítica da sociedade. Muitos 20 Introdução à Educação Física Laureate International Universities intelectuais daquela época defendiam essas teses, como Lyra Filho em 1958, que, segundo Ghiraldelli Junior (2007), assim dissertou: Figura 7 – jovem aquecendo para exercício. fonte: www.shutterstock.com. “O estádio, assim como o quartel, desperta o sentimento da obediência às regras das operações; adestra a capacidade aplicada ao raciocínio e à decisão; remarca o cunho da solidariedade e aprofunda os laços de respeito ao valor, à autoridade e ao dever”. O autor Souza Ramos, em 1936, assim se manifestou sobre o tema: “Cabe aos espertos suprir as falhas dos processos de seleção racial e do seu aperfeiçoamento”. Logo após, em 1938, Vasconcelos assim redigiu: “As etapas a vencer ao serviço da pátria exigem cada vez mais um corpo sadio, pois com o enobrecimento físico surgirá uma alma sadia, um pensamento sadio e o desdobramento do esforço coletivo” (GHIRALDELLI JUNIOR, 2007). Assim surgiria uma consciência nacional, uma nova mentalidade e novas possibilidades decorrentes de cada indivíduo se transformar em uma máquina de colaboração e rendimento. Um aspecto importante para uma melhor compreensão dessa concepção militarista é que não devemos confundir a educação militarista com a Educação Física militar. Apesar de haver ligações entre ambos os conceitos, a Educação Física militarista não se resumiu a uma prática militar de preparo físico. Foi, acima disso, uma concepção que visou a impor a toda a sociedade padrões de comportamento semelhantes aos quartéis do exército. Ela se preocupava com a saúde individual e com a saúde pública, mas o seu principal objetivo era preparar os jovens para suportar o combate, a luta, a guerra. A Educação Física militarista atuou como uma selecionadora de elites condutoras capaz de distribuir melhor os homens e mulheres nas atividades sociais e profissionais. Defendeu a ideia de que o seu papel era colaborar no processo de seleção natural, eliminando os fracos e premiando os fortes no sentido de depuração da raça brasileira. 21 Essa tese se originou na eugenia, baseada na melhoria da raça e aplicada na Alemanha nazista. As atividades esportivas como a ginástica, o desporto e os jogos recreativos só tinham utilidade se visassem à eliminação dos incapazes fisicamente. A coragem, a vitalidade, o heroísmo e a disciplina exacerbada compunham a plataforma básica dessa concepção. Outro objetivo era a formação do cidadão-soldado, capaz de obedecer cegamente, e sem questionar, as ordens de superiores hierarquicamente. Um dos instrumentos utilizados naquele período para divulgar as teses da concepção militarista foi a revista da Escola de Educação Física do Exército, que se tornou uma grande divulgadora das ideias dessa concepção. No ano de 1945, com a derrota do nazifacismo, essa corrente da Educação Física foi obrigada a se reciclar, abandonando os argumentos, ou seja, os ideais nazifascistas. Apesar disso, nos dias de hoje é possível encontrar resquícios dos princípios norteadores dessa concepção militarista nas aulas de Educação Física em escolas e clubes brasileiros. 1.1.9 Educação Física pedagogicista Esta concepção de Educação Física surgiu com proeminência no período pós-guerra (1945- 1964). Ela se fundamentou nas teorias psicológicas de John Dewey e da sociologia de Durkheim que podemos encontrar no movimento da Escola Nova que, desde a década de 1920, valorizava a Educação Física como elemento da Educação Integral. A escola tradicional, representada principalmente pelas escolas religiosas, por sua vez também acolhia os exercícios físicos como fator de disciplina e de saúde. Foi essa aglutinação de interesses político-econômicos, militares e educacionais que criou condições para generalizar-se a obrigatoriedade da Educação Física nos currículos escolares, consolidada pela constituição de 1937 (KOLINIAK FILHO, 2008). NÃO DEIXE DE LER Figura 8 – John Dewey. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Dewey. John Dewey nasceu na cidade de Bur- lington, nos EUA, em 1859. Filho de comerciantes, foi educado para ser um homem comum voltado ao trabalho, com valores comunitários e religiosos. Entretanto, graduou-se no magistério fez doutorado em Filosofia na Universi- dade John Hopkins. Posteriormente, es- tudou Biologia e a teoria da evolução de Darwin, além da filosofia de Hegel, que contribuíram para que elaborasse o seu primeiro livro em 1887, intitulado Psicologia. Para saber mais sobre a relevância da concepção de movimen- to de Dewey para a Educação Física brasileira, acesse: http://www.scielo. br/pdf/rbedu/n17/n17a06 22 Introdução à Educação Física Laureate International Universities A Educação Física pedagogicista estava preocupada com os jovens que frequentavam as escolas. Utilizava, portanto, a ginástica, a dança e o desporto como instrumento de educação, e tinha como objetivo preparar a juventude para aceitar as regras de convívio democrático, além de preparar as novas gerações para o altruísmo, o culto, a riqueza e os valores nacionais. Essa concepção defendeu a tese de que a Educação Física era uma prática eminentemente educativa e, mais do que isto, advogou a Educação Física do movimento como a única capaz de promover a chamada Educação Integral. Nessa concepção há uma nítida diferenciação entre instrução e educação. Assim, as diversas disciplinas escolares são ditas instrutivas, enquanto a Educação Física, mais rica, é também educativa. Nesse sentido, é ela quem colabora decisivamente para que a juventude venha a melhorar a sua saúde, adquirir hábitos fundamentais, preparar- se vocacionalmente e racionalizar o uso das horas de lazer. Outro aspecto importante foi que a concepção pedagogicista defendeu a ideia da valorização do profissional de Educação Física, pois acreditava piamente que a Educação Física era útil e boa socialmente e que, portanto, deveria ser respeitada acima daslutas políticas dos interesses diversos de grupos ou de classes sociais. Assim, foi possível forjar um sistema nacional de Educação Física capaz de promover a Educação Física do homem brasileiro respeitando as suas peculiaridades culturais, físico-morfológicas e psicológicas. Entre os anos de 1945 e 1964, aumentaram os estudos sobre Educação Física comparada, e as revistas e artigos mostraram a organização dos desportos e da Educação Física nos países desenvolvidos. O modelo americano encantou a intelectualidade universitária ligada às escolas de Educação Física. Segundo Silva (1950), a Associação Nacional de Educação Física dos Estados Unidos preconizou que as finalidades da Educação Física eram as seguintes: a) Saúde, b) Desenvolvimento de habilidades fundamentais para a vida, c) Formação de caráter e desenvolvimento de qualidades dignas de um bom membro de família e bom cidadão, e d) Aproveitamento sadio das horas livres e preparação vocacional: • Saúde: a Educação Física pode contribuir igualmente para a saúde física e mental, por meio de atividades consideradas fisicamente saudáveis e mentalmente estimulantes. • Habilidades fundamentais: dentre as habilidades fundamentais de toda sorte de que o indivíduo necessita para assegurar seu completo bem-estar e ajustamento, salientam-se as habilidades físicas como uma necessidade fundamental em todas as idades. • Caráter e qualidades mínimas de um bom membro de família e bom cidadão: a Educação Física é uma fase de trabalho escolar que particularmente se presta para o desenvolvimento do caráter. • Preparação vocacional: certos tipos de atividade física, especialmente as competições desportivas, desenvolvem controle emocional e qualidade de comando e liderança. • Uso contínuo das horas livres: o mau aproveitamento desse tempo pode destruir a saúde, reduzir a eficiência e quebrar o caráter, além de degradar a vida. Em termos históricos, é preciso ter a compreensão de que a adoção da Educação Física pedagogicista, ligada ao trabalho escolar e muito influenciada pelas teorias escolacionistas de Dewey, não significava o abandono da prática de uma Educação Física comprometida com uma organização didática, que ainda estava sob parâmetros militares. Afinal, não podemos esquecer que até os anos de 1950 o regulamento número 7, ou método francês, era obrigatório como diretriz da prática da Educação Física na rede escolar de ensino brasileiro. Todavia, essa nova concepção promoveu formas de pensamento que, aos poucos, alteraram a prática de Educação Física e a postura do professor de Educação Física. Tais novas formas de pensamento 23 instauraram uma apologia da Educação Física como o centro vivo da escola pública, responsável por todas as particularidades educativas das quais as outras disciplinas, as instrutivas, não poderiam cuidar. As fanfarras da escola, os jogos internos e interescolares, os desfiles cívicos, a propaganda da escola na comunidade, tudo isso passou a ser incumbência do professor de Educação Física. Ele, de forma abnegada, devia, além de ministrar as suas aulas, cumprir com as funções de educador e até mesmo de líder na comunidade. A Educação Física, acima das desavenças políticas, era capaz de cumprir o velho anseio da educação liberal: formar o cidadão (GHIRALDELLI JUNIOR, 2007). 1.1.10 Educação Física competitivista A partir dos anos 1920 e 1930, progressivamente, o desporto de alto nível ganhou espaço no interior da sociedade e, consequentemente, da Educação Física. Nos anos de 1960 a 1970, o desporto de alto nível subjugou a Educação Física, colocando-a como uma atividade menor, em um projeto que privilegiou o treinamento desportivo. O desporto de alto nível se tornou referência para toda a Educação Física. Tal prática estava associada ao alto grau de avanço científico nas áreas da fisiologia do esforço, da biomecânica e do treinamento desportivo. No aspecto político, essa concepção se apresentou como uma atividade neutra, acima dos conflitos políticos. A tecnização, com a sua aparente aura de neutralidade científica, adequou-se perfeitamente aos interesses dessa concepção. O sustentáculo ideológico da Educação Física competitivista foi o mesmo desenvolvido pela tecno-burocracia militar e civil, que assumiu o poder em março de 1964. Conforme Ghiraldelli Junior (2007), “desenvolvimento com segurança” era o binômio produzido e divulgado na Escola Superior de Guerra (ESG) que deu o tom principal para a ideia de uma tecnização da educação, e da Educação Física, no sentido de uma racionalização despolitizadora, capaz de aumentar o rendimento educacional do país e, na área da Educação Física, promover o desporto representativo capaz de trazer medalhas olímpicas para o Brasil. O esporte foi sendo utilizado como instrumento de marketing para o governo brasileiro. Fazia- se necessário eliminar as críticas internas e deixar transparecer um clima de prosperidade e desenvolvimento. Os problemas políticos desapareceram com a censura à imprensa e com a expulsão de brasileiros descontentes com um regime cada vez mais ditatorial no país. A Educação Física se alinhou a essas ideias, como podemos constatar no Boletim Técnico Informativo da Divisão de Educação Física do Ministério da Educação e Cultura (MEC): “Combatem-se a malquerência, a maledicência, a crítica destrutiva, que dividem, que desunem e abstam os nossos esforços em ajudar o nosso atual governo a construir uma grande nação: O Brasil Grande”. Nessa concepção, procurou-se: • Elevar o nível e o conceito do professor de Educação Física, incentivando-o ao estudo, à pesquisa, à elaboração de trabalhos e aos planos que foram difundidos entre os leigos e os licenciados. • Oferecer uma estrutura moderna a toda uma organização arcaica, obsoleta, ultrapassada, que foi legada aos dirigentes da nação pela imprevidência, desorganização político- administrativa, descrença, quando não por falta de patriotismo de alguns antecessores, muitos dos quais apenas tiveram em mente atrelar um país de 8,5 milhões de quilômetros 24 Introdução à Educação Física Laureate International Universities quadrados e cerca de 90 milhões de habitantes à orientação e países cuja filosofia de governo não se coaduna com a nossa formação e índole. • Prover ao professor de Educação Física a convicção de que ele, por força da profissão, era um condutor de jovens, um líder, e que não podia aceitar ser conduzido por minorias ativas que intimidavam, que ameaçavam e às vezes conseguiam, pelo constrangimento, conduzir a maioria acomodada, pacífica e ordeira (FERREIRA, 1989, apud GHIRALDELLI JUNIOR, 2007). Apesar de negar, a Educação Física competitivista foi instrumento das elites políticas na tarefa de desmobilização da organização popular. O desporto de alto nível, que é o desporto- espetáculo, foi oferecido de forma exagerada à população via rádio, televisão e jornais, alienando o povo dos problemas políticos, sociais e econômicos. A Revista Brasileira de Educação Física do Ministério da Educação e Cultura (MEC), em meados dos anos 1970, ao discutir a criminalidade, enfatizava a necessidade do desporto no meio operário para canalizar as energias. Ghiraldelli Junior (2007) apresenta frases de Souza (1974) que representam esse entendimento: “Não tenho dúvidas em afirmar que o papel da Educação Física se ombreia aos ensinamentos de cunho religioso, pois se às vezes, até as convicções religiosas afetam pessoas, grupos da convivência social, a Educação Física, principalmente através do desporto, aproxima, dirime dissidências e extingue preconceitos.” “Se fadigarmos o corpo e orientarmos o espírito sem rumo do desocupado, do ansioso, ele buscará recuperação no leite, no descanso, e não no bar, nas esquinas.” “Se dermos ao operário de corpo cansado, após uma jornada laboriosa, uma atividade desportiva sadia, o seu repouso será bem mais reconfortante,soprando nele, por vezes, a revolta contra os patrões, contra a própria atividade funcional.” “Se nas escolas aplicamos uma atividade física adequada, ajudamos jovens a suportar os desajustes familiares. Quanto mais quadras de esportes menos hospitais e menos prisões. Quanto mais calção, menos pijamas de enfermos e menos uniformes de presidiários.” Essa política nacional de Educação Física fundamentada na teoria de Educação Física competitivista é, nos dias atuais, o aríete poderoso que atravessa a sociedade hegemonicamente. Essa concepção não se enraíza na prática e nem no cotidiano popular, de forma pura, e sim mesclada com todas as outras tendências que, historicamente, foram fixando marcos no pensamento social brasileiro. O culto ao atleta-herói, ao individualismo, é a marca registrada divulgada e glorificada pelos veículos de comunicação. A ideia de conquistar um lugar ao sol pelo esforço próprio é ilustrada a todo momento com os ídolos do desporto, principalmente daqueles provindo de lares mais pobres e que se destacam em grandes equipes esportivas e em campeonatos nacionais e internacionais, e que, em verdade, escondem a verdadeira falta de oportunidade de enriquecimento material e cultural na qual vive a maior parte da nossa população. Após este estudo, podemos constatar que a Educação Física competitivista foi incentivada pelo regime militar (1964-1985), pois tal concepção se alinhava com o sentido da proposta de Brasil Grande defendida pelos militares e políticos daquele período. 1.1.11 Educação Física popular 25 Ao contrário das concepções anteriormente citadas, a Educação Física popular não revela uma produção teórica (livros, teses, periódicos) abundante e de fácil acesso. Podemos dizer que a Educação Física popular se mantém quase que exclusivamente numa teorização transmitida oralmente entre as gerações de trabalhadores deste país. Boa parte dos documentos do Movimento Operário e Popular que poderiam conter uma teorização não foram encontrados pelos pesquisadores. Todavia, do material existente é possível resgatar uma concepção de Educação Física que, paralela e subterraneamente, veio historicamente se desenvolvendo com e contra as concepções ligadas à ideologia dominante. Figura 9 – Participantes na meia maratona anual na cidade de Gijon, Espanha, sábado 3 de maio de 2014. fonte: www.shutterstock.com. A Educação Física popular não estava preocupada com a saúde pública, pois entendia que tal questão não podia ser discutida independentemente do levantamento dos problemas criados pela atual organização econômica-social e política do país. Não pretendia ser disciplinadora de homens e muito menos estava voltada para o incentivo da busca de medalhas. Ela se fundamentava na ludicidade e na cooperação. Utilizava o desporto, a dança e a ginástica como instrumentos para a organização e mobilização dos trabalhadores. A Educação Física foi utilizada na chamada solidariedade operária. A Educação Física popular não pretendeu ser educativa, pois entendeu que a educação dos trabalhadores estava intimamente conectada ao movimento de organização das classes populares para a as lutas da prática social. Para melhor compreensão, é preciso entender que não estamos considerando a Educação Física popular como a Educação Física praticada por todos os trabalhadores, mas apenas por uma parcela desse operariado. Ela emergiu da prática social dos trabalhadores e, em especial, das iniciativas ligadas aos grupos de vanguarda do movimento operário e popular. Esse movimento teve início com a República, sendo que, no início, as vanguardas de orientação socialdemocrata estiveram à frente das movimentações e, no início do séc. XX, perderam a hegemonia para adeptos e militantes do anarquismo e anarco-sindicalismo. Nos anos de 1920, surgiu o Partido Comunista Brasileiro, que passou a exercer crescente influência nas classes populares urbanas. A Educação Física e o desporto não eram vistos com simpatia pelas lideranças anarquistas e, com o Partido Comunista assumindo a liderança do movimento operário e popular, essa perspectiva mudou. O partido organizou campeonatos de natação no rio Tietê, na represa Billings e na represa Guarapiranga, além 26 Introdução à Educação Física Laureate International Universities de campeonatos populares de futebol nos bairros do Brás e da Mooca na cidade de São Paulo, bem como nas cidades de São Bernardo e Santo André, entre outras, nos quais a classe operária era numerosa. Segundo Ghiraldelli Junior (2007), o jornal oficial do partido, chamado A Nação, no final dos anos de 1920, promoveu e organizou práticas desportivas populares incentivando o operariado jovem à frequência do desporto lúdico. Após a Segunda Guerra Mundial, quando da redemocratização do país (fim da ditadura do Estado Novo varguista), no curto período em que o partido saiu da clandestinidade, novamente as preocupações com a educação e, em particular, com a Educação Física vieram à tona por parte do movimento operário e popular. Na ocasião houve a formação de comitês populares democráticos em diversos bairros das grandes cidades brasileiras, e as questões educacionais, de lazer e de educação física integravam as pautas de discussões dos operários. Os comitês, formados inicialmente no sentido de lutar pela convocação da Assembleia Nacional Constituinte, rapidamente se tornaram agremiações reivindicadoras e organizadoras que desejavam a participação do poder público na tarefa de construção de escolas, quadras esportivas, jardins de infância, praças, etc. (GHIRALDELLI JUNIOR, 2007). No interior desses movimentos, forjou-se a concepção de Educação Física popular, privilegiando a ludicidade, a solidariedade, a organização e a mobilização dos trabalhadores na tarefa de construção de uma sociedade democrática. Atualmente, diferentemente dos anos de 1920 ou 1930, existem dois partidos comunistas: o PCB (Partido Comunista Brasileiro) e o PCdoB (Partido Comunista do Brasil). 27 Síntese Ao concluir este relato sobre as concepções de Educação Física e as escolas de ginástica ou métodos ginásticos, objetivamos apresentar um panorama da Educação Física no Brasil desde o ano de 1837, quando o Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, incluiu as aulas de Educação Física em seu currículo. No Brasil, constatamos, pelos estudos realizados, que a Educação Física escolar apresentou predominância de diferentes vertentes metodológicas sempre em consonância com os interesses político-econômicos e a respectiva ideologia dominante em cada momento histórico. Vimos que, no ano de 1882, Rui Barbosa emitiu um parecer sobre um projeto de lei que versava sobre a reforma do ensino primário e recomendou a inserção obrigatória da ginástica para ambos os sexos tanto na escola primária como na formação de professores. Aprendemos que, nos anos de 1837 a 1930, os objetivos da Educação Física eram a saúde e a eugenia (melhoria da raça) e que as origens da Educação Física brasileira se interligavam em dois discursos distintos e que se complementavam: o discurso médico e o militar. A partir de 1930, na chamada Era Vargas, os objetivos da Educação Física se centravam em desenvolver a força de trabalho para responder às demandas da produção industrial e em cultivar os valores morais, o civismo e patriotismo. Constatamos que, em decorrência desses objetivos, a metodologia de ensino que predominou nesse período (1930–1945) foi o chamado método francês, adotado no Exército Brasileiro já na década de 1920, substituindo o método alemão, que já era ministrado desde os primórdios da República (1860) para os militares brasileiros. Esse método permaneceu até 1912 na Escola Militar do Exército. O pós-guerra possibilitou a valorização do esporte como instrumento de educação e inclusão social. A Educação Física Desportiva Generalizada ocupou espaço nas escolas brasileiras tendo como objetivo pedagógico o desenvolvimento fisiológico, psicológico, sociale moral do educando. Esse modelo foi idealizado nos Estados Unidos e difundido pela Associação Nacional de Educação Física dos Estados Unidos. O embasamento teórico estava nas teorias psicopedagógicas de Dewey e na sociologia de Durkheim. Aprendemos que, nos anos de 1964 a 1985, a Educação Física tinha como objetivo a competição, ou seja, a formação de atletas para competições nacionais e internacionais. Foi o período do desporto-espetáculo, e nas aulas de Educação Física o professor enfatizava a técnica das diversas modalidades esportivas atuando como treinador de equipe e os alunos como atletas de clube. Nestes estudos, conhecemos alguns nomes que fazem parte da história da Educação Física mundial como Guts Muths, Friederich Ludwig Jahn e Adolph Spiess, que são considerados os grandes idealizadores das escolas alemã de ginástica. Na França, os nomes Francisco de Amorós y Ondeano e George Demeny são considerados os pais da escola francesa de ginastica. Já na Suécia, Pehr Henrick Ling é considerado o grande nome da escola sueca de ginástica. 28 Introdução à Educação Física Laureate International Universities Esses métodos ginásticos – escola alemã, sueca e francesa – são os pilares da Educação Física brasileira. Aprendemos sobre as concepções higienista, militarista, pedagogicista, competitivista e popular. O estudo de tais concepções pelo autor Ghiraldelli Junior possibilitou uma melhor compreensão dos diversos períodos da Educação Física desde o início da Republica até os dias atuais. Essas concepções coexistem nos dias de hoje em quartéis, academias, clubes e escolas, com maior ou menor difusão. Como em toda prática social, o novo convive com o velho. NÃO DEIXE DE LER O artigo Educação Física escolar brasileira: caminhos percorridos e novas/velhas perspectivas objetiva discutir, a partir de raízes históricas, a Educação Física como componente curricular, na busca de novos rumos que permitam sua legitimação como tal. A leitura poderá contribuir para exemplificar como o conhecimento deste tema se aplica atualmente na área da Educação Físi- ca. http://ojs.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/16109/8717 29 Ghiraldelli Júnior P. Educação Física Progressista: a Pedagogia Crítico-social dos Conteúdos e a Educação Física Brasileira. Edições Loyola, 10ª edição, 2007, 65p. Kolyniak Filho C. Uma (Nova) Introdução. Editora da PUC, São Paulo, 2ª edição, 2008, 126p. Marinho I. P. Introdução ao estudo da filosofia da educação física e dos desportos. Horizon- te, Brasília, 1985, 243p. Soares C. L. Educação Física: Raízes Europeias e Brasil. Editora Autores Associados, Campi- nas, 5ª edição, 2012, 141p. ReferênciasBibliográficas Disciplina INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO FÍSICA 1.1 A história da Educação Física escolar 1.1.1 A Educação Física escolar no Brasil 1.1.2 Escola alemã de ginástica 1.1.3 A escola alemã no Brasil 1.1.4 Escola francesa de ginástica 1.1.5 A escola francesa no Brasil 1.1.6 A escola sueca no Brasil 1.1.7 Educação Física higienista 1.1.8 Educação Física militarista 1.1.9 Educação Física pedagogicista 1.1.10 Educação Física competitivista 1.1.11 Educação Física popular
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