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Teoria da Contabilidade 2016 Josimar Pires da Silva Copyright © Centro Universitário de Patos de Minas 2016 Centro Universitário de Patos de Minas - UNIPAM Rua Major Gote, 808 - Bairro: Caiçaras Patos de Minas - MG - CEP: 38702-054 Telefone: (34) 3823- 0300 www.unipam.edu.br Reitor Prof. Me. Milton Roberto de Castro Teixeira Vice-Reitor Prof. Dr. Fernando Dias da Silva Pró-Reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão Prof. Me. Fagner Oliveira de Deus Pró-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Prof. Me. Renato Borges Fernandes Diretor de Graduação Prof. Me. Henrique Carivaldo de Miranda Neto Diretor Executivo Prof. João Wander Silva Coordenadora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Profª. Me. Adriana de Lanna Malta Tredezini Coordenador de Educação a Distância Prof. Me. Flávio Daniel Borges de Morais Coordenador de Design Educacional Prof. Me. Flávio de Paula Soares Carvalho Designer Educacional Profª. Adriene Sttéfane Silva Equipe de Diagramação Ana Paula Marques Danilo Moreira Soares Jéssica Carolina Silvério Coordenador e parecerista Prof. Me. Alair José da Cruz Revisão de texto Prof. PhD. Luís André Nepomuceno Apresentação Prezado estudante, sejam bem-vindo (a) à disciplina de Teoria da Contabilidade! Nesta disciplina são discutidos os principais aspectos concernentes à Teoria da Contabilidade, como sustentá- culo para as demais disciplinas da Contabilidade. Serão abordados desde a evolução histórica da Teoria da Contabilidade, com a construção de uma teoria pres- critiva e uma descritiva, até a definição e discussão dos principais conceitos, convenções e princípios construí- dos e destacados como um arcabouço teórico que dê suporte à elaboração de relatórios financeiros úteis aos diversos usuários. O que se propõe é uma abordagem reflexiva e dinâmica, levando os participantes a compreender a importân- cia desta disciplina na construção de profissionais que possam de fato contribuir com as futuras pesquisas em contabilidade e, por conseguinte, com o desenvolvimento da ciência contábil. Bons Estudos! Professor Josimar Pires da Silva Ementa Teorias Descritiva e Prescritiva; Princípios Fundamentais da Contabilidade; Estrutura Conceitual Básica (framework); Critérios de Mensuração e Reconhecimento: Ativos, Passivos, Patrimônio Lí- quido, Receitas e Despesas, Ganhos e Perdas. Conceitos e Manutenção de Capital. Professor Me. Josimar Pires da Silva Doutorando em Ciências Contábeis pela Universidade de Brasília - UnB. Mestre em Ciências Con- tábeis pela Universidade de Brasília - UnB. MBA/Especialista em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas - FGV. Especialista em Gestão Empresarial pela Faculda- de Phênix. Especialista em Educação Ambiental pela UNIVALE. Graduação em Ciências Contábeis pela Faculdade São Francisco de Assis - FASFA (2010) e Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT (2005). Aula 1 Introdução às teorias descritiva e prescritiva 6 Te or ia d a Co nt ab ili da de Sumário Aula 1 - Introdução às teorias descritiva e prescritiva Considerações iniciais ..........................................................................................................................................................................................7 1. Teoria descritiva e Teoria prescritiva ..........................................................................................................................................................8 1.1 Teoria prescritiva ...............................................................................................................................................................................8 1.2 Teoria descritiva (positiva) .......................................................................................................................................................... 13 Considerações finais .......................................................................................................................................................................................... 16 Referências ............................................................................................................................................................................................................ 16 7 Te or ia d a Co nt ab ili da de Te or ia d a Co nt ab ili da de Considerações iniciais Quando tentamos definir Teoria da Contabilidade, o que se percebe é a existência de enorme dificuldade encontrada por parte dos autores da área, visto que existe uma forte relação entre a Contabilidade e outras disciplinas, tais como a Administração e a Economia. Entre aqueles que procuram definir Teoria da Contabilidade, Hendriksen e Van Breda (1999) são os que procuram evidenciar o conceito mais adequado possível. A teoria da contabilidade é definida por Hendriksen e Van Breda (1999, p. 32) como “o conjunto de princípios subjacentes e, presumivelmente, fundamentais para a prática contábil”. Contextualização Esse conjunto de princípios fundamentais para a prática contábil oferece uma compreensão me- lhor das práticas existentes aos usuários da Contabilidade; oferece um referencial conceitual para avaliação de práticas contábeis existentes; e orienta o desenvolvimento de novas práticas e novos procedimentos. Além disso, a Teoria da Contabilidade pode ser classificada de três maneiras, quanto ao modo pelo qual as pessoas racionam: a) teoria como linguagem; b) teoria como raciocínio; e c) teoria como decreto. No tocante à teoria como linguagem, destaca-se que a contabilidade é uma linguagem, e para muitos, a linguagem dos negócios, visto que a comunicação no mundo dos negócios é feita por intermédio da contabilidade, isto é, os relatórios financeiros produzidos pela Contabilidade trans- mitem informações para os diversos usuários embasarem suas decisões financeiras. No que diz respeito à teoria como raciocínio, pode-se segregá-la em raciocínio dedutivo e induti- vo, isto é, se os argumentos surgem de generalizações a observações específicas ou de observa- ções específicas a generalizações. No raciocínio dedutivo geralmente são generalizações, como é o caso dos postulados, que dão suporte aos princípios. O raciocínio indutivo tem seu início em casos particulares, os quais entendem-se como sendo representativos e, a partir de então, fazem- -se generalizações a partir de tais casos. Quanto à teoria como decreto, as teorias indutivas ou dedutivas podem ser classificadas como prescritivas (normativas) ou descritivas (positivas). A seguir, são discutidas, com maiores detalhes, essas duas classificações. 8 Te or ia d a Co nt ab ili da de 1. Teoria descritiva e Teoria prescritiva As teorias descritivas, também conhecidas como positivas, têm por finalidade mostrar e explicar quais informações financeiras são apresentadas e comunicadas aos diversos usuários da Contabi- lidade, e como esses dados são apresentados. Por sua vez, as teorias prescritivas, também conhe- cidas como normativas, visam recomendar que dados devem ser comunicados e como devem ser apresentados aos usuários; ou seja, procuram explicar o que deve ser, em lugar do que é. As teorias indutivas, por sua natureza, são geralmente positivas. No entanto, não se pode uni- versalizar que as teorias dedutivas sejam necessariamente normativas, pois, de fato, a partir de generalizações do que se acha existir, pode-se obter deduções específicas que têm por finalidade ser completamente descritivas. Iudícibus (2015) destaca que a teoria normativa, apoiada mais no dedutivismo, procura, de forma prescritiva, demonstrar como a Contabilidade “deveria ser”, à luz de seus objetivos e postulados, que são dados e indiscutíveis. Por sua vez, a teoria positiva procura explorar o caminho inverso, ou seja, descrever como a Contabilidade é, entender por que é assim, buscando prever comporta- mentos. Usualmente apoiada no método indutivo,procura estabelecer hipóteses que devem ser testadas, antes de chegar a conclusões parciais. Em síntese, essas duas formas possuem pontos positivos e negativos que permaneceram no de- correr do tempo. No entanto, essas duas teorias se completam e não são mutuamente excludentes. 1.1 Teoria prescritiva Desde os primórdios a evolução da Contabilidade tem seguido o desenvolvimento dos negócios, isto é, à medida que os negócios evoluíam, a Contabilidade também evoluía como instrumento de controle para os proprietários. Diversas contribuições foram fundamentais para que se atingisse a Contabilidade como se tem hoje. Um desses destaques se deu com o lançamento da obra do Frei Luca Pacioli, na qual foi for- malizado o método das partidas dobradas em 1494. Ressalta-se que o método das partidas dobradas, conforme destacado por alguns pesquisadores, não foi inventado por Luca Pacioli, mas, alguns anos antes. Entre os possíveis inventores do mé- todo figuram Benedetto Cotrugli em 1484. A forma de divulgação de Luca Pacioli foi mais eficien- te, sendo impressos diversos exemplares de seu livro, ao contrário dos pouquíssimos exemplares produzidos do livro de Benedetto Cotrugli. Santos, Schmidt e Machado (2005) complementam que o trabalho de Cotrugli foi impresso so- mente 115 anos após a publicação do manuscrito original. Pacioli, ao contrário, teve a sorte de escrever sua obra em uma época em que a impressão de livros já havia sido introduzida na Itália. 9 Te or ia d a Co nt ab ili da de Te or ia d a Co nt ab ili da de Outras grandes contribuições merecem destaque, como a criação do código comercial francês, em 1673, o qual exigia que todas as empresas fizessem um balanço pelo menos a cada dois anos; a Revolução Industrial; o surgimento da profissão contábil em 1773; a criação da lei das compa- nhias em 1844; a regulamentação das estradas de ferro; e a criação das entidades de classes, tais como a Associação Americana de Contadores Públicos – AAPA, em 1887, entre outras grandes contribuições. No entanto, o desenvolvimento da Teoria da Contabilidade se deu principalmente a partir da dé- cada de 1920, por William A. Paton e John B. Canning. Paton, em sua tese de doutorado, publicada em 1922, titulada Accounting Theory, apresentou uma reafirmação da Teoria da Contabilidade e o final do uso da Contabilidade a custo histórico nos EUA. Por sua vez, John Canning, que deu uma contribuição valiosa à Teoria da Contabilidade em seu livro Economics of Accountancy, foi o primeiro a desenvolver e apresentar um quadro conceitual para avaliação e mensuração de ativos fundadas explicitamente na expectativa futura. A tese de Paton (1922), entre outras contribuições, já destacava seis postulados contábeis, que são: a) a existência da entidade empresarial; b) a continuidade da entidade (ainda hoje existente como pressuposto na estrutura conceitual); c) a equação do balanço; d) o postulado monetário; e) o postulado do custo; f ) o postulado de reconhecimento da receita. Guarde essa ideia Outro grande evento que contribui para os avanços da Contabilidade foi a quebra da bolsa de va- lores de Nova York (NYSE), ocorrida em 1929, que causou um grande abalo na confiabilidade das demonstrações contábeis. A classe contábil foi duramente criticada, inclusive nos meios acadêmi- cos, devido à falta de uniformidade das práticas contábeis e da criação de um arcabouço teórico o qual outorgasse suporte à elaboração de relatórios financeiros. A partir da década de 1930, teve-se a atuação de dois grupos de entidades de classes, os quais contribuíram para o desenvolvimento da Teoria da Contabilidade: 1) American Accounting Asso- ciation (AAA) e 2) American Institute of Certified Public Accoutants (AICPA), conforme Figura 1. Os pesquisadores desses dois grupos buscavam desenvolver um conjunto de princípios contábeis que dessem suporte a práticas contábeis uniformes e, portanto, relatórios contábeis financeiros mais confiáveis para os investidores. 10 Te or ia d a Co nt ab ili da de AAUIA 1916 1935 AAPA 1887 1917 1921 1936 1957 AAA ASCPA AIA AICPA CAP APB AIA Figura 1 Organograma do AICPA e da AAA. Fonte: Hendriksen e Van Breda (1999). Adaptada pelo autor. A American Accounting Association (AAA) teve como antecessora a American Association of University Instructors in Accounting (AAUIA), fundada em 16 de dezembro de 1916. A alteração do nome da associação, em 1936, de AAUIA para AAA, foi responsável também por uma mudança no seu enfoque de atuação, isto é, de uma associação de professores para uma organização de pesquisa contábil (Adaptado pelo autor com base em Hendridksen e Van Breda, 1999). O American Institute of Certified Public Accoutants (AICPA) foi criado em 1959, e teve vários predecessores, sendo os mais antigos deles a American Association of Public Accountants (AAPA), criada em 1887, em Nova York, e o American Institute of Accounting (AIA), criado em 1916. Ao longo dos anos, vinculados a essas associações, foram criadas três entidades com o objetivo de desenvolver estudos para uma melhor condução da prática contábil: a) O Committee on Accounting Procedure (CAP), que surgiu em 1936, ainda no AIA, e durou até a criação do AICPA em 1959; b) O Accounting Principles Board (APB) criado em 1959, como uma resposta às críticas feitas por Leonard Spacek, da Arthur Andersen & Company, sobre falhas no esclarecimento ao público a respeito das limitações da Contabilidade e c) a Financial Accounting Foundation (FAF) que subordina o FASB, criada em 1973. Fonte: Hendridksen e Van Breda, 1999 Importante Entre as décadas de 1930 e 1950, a literatura contábil foi marcada pela normatização, pela forte atuação dos dois grupos de entidade de classes (AICPA e AAA) e pela forte regulamentação sobre o mercado de capitais e sobre a Contabilidade. Na década de 1930, foram criadas as Securities Acts 11 Te or ia d a Co nt ab ili da de Te or ia d a Co nt ab ili da de em 1933, e em 1934, criou-se a Securities and Exchange Commission (SEC) para regulamentar o mercado de capitais norte-americano. Essa forte regulamentação foi uma resposta à quebra da NYSE e aos prejuízos causados pelas em- presas aos investidores em virtude da falta de uniformidade das práticas contábeis. Diversas publicações surgiram nesse período, a exemplo de Paton em 1936 (A tentative statement of accounting principles underlying corporate financial statements); de Paton e Littleton em 1940 (An Introduction to Corporate Accounting Standards); de Litteton em1957 (Structure of Accounting Theory), Estudo de pesquisa contábil n.1 (ARS 1), Estudo de pesquisa contábil n.3 (ARS 3), Estudo de pesquisa contábil n.7 (ARS 7), A Statement of Basic Accounting Theory (ASOBAT), Statement of The Accounting Principles Board (APB 4), entre outros. Em razão disso, estudante, esses documentos foram responsáveis pela criação de diversos princí- pios contábeis e de alguns conceitos que utilizamos hoje na Teoria da Contabilidade, isto é, o con- ceito de ativo, passivo, despesas, receitas, as características qualitativas, os objetivos dos relatórios financeiros. Em síntese, esses documentos, entre outros, representam o que poderíamos chamar de Teoria da Contabilidade. A monografia de Paton e Littleton (1940) é um bom exemplo. Essa monografia passou a ser re- ferência nas principais academias dos EUA nos anos que seguiram. Esse documento destacava alguns conceitos importantes como custo, receitas, a entidade de negócios (que viria a se tornar o princípio da entidade) e a continuidade das atividades (mais tarde se tornaria o postulado da entidade). O capitulo VII da monografia de Paton e Littleton (1940) destacou o método de avaliação de mercadorias, custo ou mercado, e deu ênfase à avaliação de instalações, que não era permitida na época. Importante Entretanto, foi na década de 1960 que se pôde observar enorme crescimento do que se deve cha- mar de Teoria da Contabilidade,dada a evolução do pensamento contábil, muitas vezes baseado nas produções desenvolvidas até então, em direção à construção de uma fundamentação pura- mente teórica, independentemente de qualquer processo normatizador. Em 1966 foi emitido o ASOBAT, o qual mudou as perspectivas existentes até aquele momento. Antes da emissão do ASOBAT, os documentos emitidos pelos pesquisadores davam ênfase à emis- são de princípios contábeis como sustentáculo à prática contábil. O ASOBAT inovou e voltou a atenção principal aos objetivos da Contabilidade, tais como evidenciados na Figura 2, e de forma secundária aos padrões contábeis (o padrão da relevância e verificabilidade que mais tarde se tornariam características qualitativas). 12 Te or ia d a Co nt ab ili da de Tomar decisões sobre o uso de recursos limitados, incluindo a identi�cação de áreas de decisões cruciais, e sobre a determinação de objetivos e metas. Efetivamente dirigir e controlar recursos humanos e materiais de uma organi- zação. Manter e elaborar relatórios sobre a custódia dos recursos. Facilitar funções e controles sociais. OBJETIVOS PADRÕES Relevância Veri�cabilidade Ausencia de viés Quanti�cabilidade Figura 2 Objetivos e padrões elencados no ASOBAT Fonte: ASOBAT 1966. Adaptado pelo autor. A ASOBAT é destacado como o principal pronunciamento já produzido pela Teoria da Contabilidade em virtude do seu conteúdo, visto que boa parte dos conceitos elencados hoje na nossa Estrutura Conceitual já estava presente nesse documento, tais como algumas características qualitativas (relevância e verificabilidade). Além do mais, o ASOBAT foi o primeiro pronunciamento a orientar a visão dos relatórios financeiros voltada para os investidores, isto é, ao utilizar a abordagem da utilidade da decisão (decision usefulness), a comissão do ASOBAT produziu algo que deu impacto na época e que passou a ser utilizado pelos normatizadores nos anos seguintes, utilizado até hoje pelos principias normatizadores internacionais (IASB e FASB), inclusive pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), no Brasil. De acordo com essa abordagem, se não for possível produzir relatórios financeiros que atendam todas as necessidades de todos os usuários, deve-se produzir relatórios financeiros que atendam às necessidades da maioria. É nesse contexto que a nossa Estrutura Conceitual, a qual é uma tradução da Estrutura Conceitual do IASB, ressalta como principais usuários dos relatórios financeiros os investidores existentes e potenciais e credores, visto que, atendendo às necessidades desses usuários, seria possível atender às necessidades da maioria dos outros. Importante Outros documentos que seguiram após o ASOBAT passaram a adotar a mesma visão e aperfei- çoaram os conceitos nele destacados, como é o caso do APB 4, com as características qualitativas. No entanto, os esforços em produzir um arcabouço teórico para suportar a preparação de relató- rios financeiros foram vistos como ideais, mas distantes da realidade. Além disso, essa produção em parte era vista como refletindo o pensamento de algumas partes interessadas na normatização. 13 Te or ia d a Co nt ab ili da de Te or ia d a Co nt ab ili da de E como também argumentam Watts e Zimmerman (1979), a maioria dos teóricos do período nor- mativo se preocupava em determinar o que deveria representar o conteúdo dos relatórios finan- ceiros, isto é, se preocupava em prescrever como deveria ser a contabilização ideal. Santos, Dias e Dantas (2014, p. 9), autores do primeiro capítulo do livro Teoria Avançada da Contabilidade, destacam que “a característica principal da teoria normativa da contabilidade é o raciocínio dedutivo, por meio do qual busca-se definir um modelo ideal que deveria ser seguido”. Guarde essa ideia 1.2 Teoria descritiva (positiva) Em meados da década de 1940, a Contabilidade sofria diversas críticas principalmente quanto à qualidade da informação que era gerada pelos relatórios financeiros, de forma que era questioná- vel a utilização dessa informação, do ponto de vista dos investidores. Além do mais, as pesquisas contábeis não produziam ciência e, sobretudo, não explicavam as práticas contábeis existentes. Havia a necessidade de mudanças nas pesquisas contábeis de forma a torná-las científicas. Nesse contexto, nascia a teoria descritiva ou positiva, como é amplamente conhecida entre os pesquisa- dores contábeis, tendo seu início em meados da década de 1960 e sobretudo na década de 1980. A semente inicial se deu com a publicação dos trabalhos (artigos) de Fama (1965), Ball e Brown (1968) e Beaver (1968), os quais destacavam as pesquisas empíricas, os números contábeis sen- do utilizados para demonstrar a sua relação com os preços das ações de grandes corporações e outras informações não contábeis sendo incorporadas aos preços dos títulos antes da divulgação das demonstrações financeiras. Contribuíram também com essa teoria os trabalhos de Watts e Zimmerman (1978, 1979), desta- cando a importância da evolução das pesquisas contábeis, no sentido de produzir ciência, isto é, enfatizando a importância das novas pesquisas no sentido de explicar e predizer a prática con- tábil. Era preciso explicar, por exemplo, por que os gestores faziam a escolha de determinados procedimentos contábeis em detrimento de outros. Em síntese, a teoria, em vez de apenas prescrever normas que eram vistas como ideais para que se produzisse números ideais, passaria a explicar por que a prática contábil era como era. Guarde essa ideia 14 Te or ia d a Co nt ab ili da de As pesquisas contábeis a partir dessa época passaram a dar forte ênfase à pesquisa contábil sobre mercado de capitais, em que se destacam as pesquisas voltadas para a) análise fundamentalista, destacando o papel de indicadores contábeis na previsão de outras variáveis, tais como os lu- cros futuros; b) testes de eficiência de mercado; c) papel dos números contábeis em contratos e processos políticos; e d) avaliação de empresas, que se tornou um tema central das pesquisa em Contabilidade nos últimos anos. Para Santos, Dias e Dantas (2014), o positivismo desenvolveu-se em duas fases: a) na primeira as pesquisas eram voltadas para avaliação da utilidade da informação contábil; e b) a partir da década de 1970 o positivismo passou a concentrar esforços na tentativa de construir uma teoria contábil mais cientifica, capaz de explicar e predizer a prática contábil. Essa fase se apoiou nos trabalhos de Watts e Zimmerman. Essa fase era fortemente apoiada na hipótese do mercado eficiente e sobretudo no pressuposto de que o mercado, por meio de outras informações não contábeis, seria capaz de enxergar além das informações contábeis, ajustando os preços das ações, isto é, mesmo que as informações con- tábeis evidenciadas nos relatórios financeiros não fossem verdadeiras, o mercado conseguiria en- xergar e precificar as ações com base no verdadeiro cenário da empresa. Dessa forma, a informação contábil perderia a relevância e sobretudo a contabilidade como fonte de informação. A Quadro 1 destaca os principais tipos de pesquisa dessa primeira fase do positivismo. Grupo Escopo Pesquisa metodoló- gica em mercado de capitais Busca responder a questões relacionadas à significância das diversas variáveis contábeis na relação entre o retorno da ações e informações contidas nas demonstrações financeiras. Avaliação de medidas contábeis alternativas de desempenho Busca identificar as deficiências presentes nas medidas de desem- penho. Pesquisa de avaliação e análise de desem- penho Busca identificar problemas de precificação em valores mobiliários, como a proposta de fornecer subsídios para as decisões de investi- mento. Testes de eficiência de mercado Visa testar a Hipótese de Mercado Eficiente com o emprego da informação contábil. Value relevance da informação contábil divulgada Compreende os estudos que investigam a relação empírica entre o preço das ações e osnúmeros contábeis. Quadro 1 Principais tipos de pesquisas da primeira fase do positivismo Fonte: Santos, Dias e Dantas (2014, p. 18). Adaptado pelo autor. A segunda fase do positivismo tem sua sustentação em três hipóteses: a) hipótese do plano de bonificação; b) hipótese do endividamento; e c) hipótese do tamanho ou dos custos políticos, conforme apresentadas na Figura a seguir. 15 Te or ia d a Co nt ab ili da de Te or ia d a Co nt ab ili da de Hipóteses para explicar e predizer escolhas contábeis Hipótese do plano de boni�cação Hipótese do endividamento Hipótese do tamanho ou dos custos políticos Figura 3 Hipóteses da segunda fase do Positivismo. Fonte: Elaborado pelo autor. A hipótese do plano de bonificação pressupõe que os gestores das empresas que recebem incen- tivos (bônus) com base em medidas contábeis, tais como lucros, tendem a usar métodos contábeis que aumentem o resultado do período e consequentemente a maximizar seu bônus/incentivo. Quanto à hipótese do endividamento, esta pressupõe que as firmas que possuem graus de endivi- damento maiores estão mais sujeitas a gerenciar resultados, tendo em vista a utilização de méto- dos contábeis com o intuito de aumentar o lucro. Em tese, quanto maior o grau de endividamento, mais dificuldades a empresa enfrentará para honrar seus compromissos nos prazos, tais como credores. Em virtude das restrições impostas pelos credores, os administradores usam técnicas que aumentam os resultados, com a finalidade de afrouxar as limitações impostas pelos credores e diminuir os custos de insolvência. Em relação à hipótese do tamanho ou dos custos políticos, caso a empresa esteja sob forte ob- servação de natureza política, isso poderá implicar custos mais elevados. Os gestores tenderão a optar por gerenciar resultados, utilizando procedimentos contábeis que desloquem lucros do período presente para períodos futuros. Uma crítica à segunda fase do positivismo destacada por Santos, Dias e Dantas (2014) é que as pesquisas positivistas não foram capazes de explicar e predizer a prática contábil, conforme seus defensores haviam destacado, quando criticaram as pesquisas normativas. Para maiores informações sobre as teorias positivas e normativas, o aluno poderá verificar no livro Teoria Avançada da Contabilidade, organizado pelo professor Jorge Katsumi Niyama, destaque para o capítulo 1, “Teoria Normativa e Positiva da Contabilidade”. Conectando Saberes 16 Te or ia d a Co nt ab ili da de Considerações finais Apesar de a Contabilidade existir desde os primórdios da civilização humana, a Teoria da Contabi- lidade veio a florescer a partir da década de 1920, em princípio com as publicações de William A. Paton e John B. Canning. O período que seguiu, em que se deu a produção de diversos documentos, pode ser dividido em duas partes: a primeira, denominada de período normativo, sob o qual se desenvolveu a teoria prescritiva ou normativa; e, a segunda, denominada de período positivo, sob o qual se desenvol- veu a teoria descritiva ou positiva em Contabilidade. Em síntese, essas duas teorias não são dissociáveis, portanto são complementares e representam a Teoria da Contabilidade. Referências AMERICAN ACCOUNTING ASSOCIATION (AAA). A Statement of Basic Accounting Theory - ASO- BAT. Florida: AAA, 1966. BALL, R.;P. BROWN, P. An Empirical Evaluation of Accounting Income Numbers. Journal of Accou- nting Research (Autumn 1968): 159-178. BEAVER, W. The information content of annual earnings announcements. Journal of Accounting Research (Supplement 1968): 67-92. FAMA, E. The Behavior of stock-market prices. The journal of business. 38 (1): 34-105, 1965. FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5. ed. Rio de Janei- ro: Positivo, 2014. HENDRIKSEN, Eldon S.; VAN BREDA, Michael F. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 1999. IUDÍCIBUS, Sérgio de, MARION, José Carlos e FARIA, Ana Cristina de. Introdução à teoria da con- tabilidade para o nível de graduação. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2012. NIYAMA, Jorge Katsumi (org). Teoria Avançada da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2014. NIYAMA, Jorge Katsumi; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Teoria da Contabilidade. 3 ed. São Pau- lo: Atlas, 2013. SANTOS, Mateus Alexandre Costa dos; DIAS, Lidiane Nazaré da Silva; DANTAS José Alves. Teoria Avançada da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2014 17 Te or ia d a Co nt ab ili da de Te or ia d a Co nt ab ili da de SANTOS, José Luiz dos, SCHMIDT, Paulo e MACHADO, Nilson Perinazzo. Fundamentos da teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2011, vol. 6. WATTS, Ross L.; ZIMMERMAN, Jerold L. Towards a Positive Theory of the Determination of Accou- nting Standards. Accounting Review, vol. 53, 1978. WATTS, Ross L.; ZIMMERMAN, Jerold L. The demand for and supply of accounting theories: the market for excuses. Accounting Review, p. 273-305, 1979. _GoBack Introdução às teorias descritiva e prescritiva Considerações iniciais 1. Teoria descritiva e Teoria prescritiva 1.1 Teoria prescritiva 1.2 Teoria descritiva (positiva) Considerações finais Referências
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