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GESTAÇÃO GEMELAR VIDEO_01_R4_GO_25 QUADRO DE CONCEITOS DEFINIÇÃO: Presença simultânea de dois ou mais fetos no útero materno ou fora dele. INCIDÊNCIA: Aumento da incidência nas últimas décadas devido ao maior emprego de drogas indutoras da ovulação e das técnicas de reprodução assistida, associadas ao aumento da idade materna no momento da concepção. ZIGOTIA: Refere-se ao número de ovos fertilizados. ➤ A origem dos gêmeos de um mesmo ovo é denominada Monozigótica (MZ). ➤ A origem dos gêmeos de ovos diferentes é denominada Dizigótica (DZ). CORIONIA (Placentação): Refere-se ao número de placentas. ➤ Se dois fetos dividem a mesma placenta, a gestação é chamada de Monocoriônica (MC). ➤ Se os fetos possuem placentas diferentes, a gestação é chamada de Dicoriônica (DC). AMNIONIA: Refere-se ao número de cavidades amnióticas: ➤ Nas gestações MC, os fetos podem pertencer à mesma bolsa amniótica – Monoamniótica (MA) – ou cada feto pode possuir seu próprio âmnio – Diamniótica (DA); ➤ Na gestação DC, cada feto apresentará obrigatoriamente seu próprio âmnio – Diamniótica (DA); ➤ Toda gestação DICORIÔNICA é DIAMNIÓTICA. ÉPOCA DE DIVISÃO DO OVO OU ZIGOTO: ➤ O que define a formação do número de placentas e das bolsas amnióticas é o período em que ocorre a divisão do ovo. FATORES DE RISCO: ➤ Uso de drogas indutoras da ovulação → MZ + DZ; ➤ Emprego de técnicas de reprodução assistida → MZ + DZ; ➤ História familiar (hereditariedade) → DZ; ➤ Paridade (a frequência de gêmeos dobra na 4ª gestação) → DZ; ➤ Idade materna (a incidência de gêmeos aumenta até os 37 anos) → DZ; ➤ Raça (maior na negra) → DZ; ➤ Fatores nutricionais → DZ. COMPLICAÇÕES: ➤ OBSTÉTRICAS: ■ Anemia; ■ Hipertensão e pré-eclâmpsia; ■ Diabetes gestacional; ■ Polidramnia; ■ Abortamento; ■ Amniorrexe prematura; ■ Parto prematuro; ■ Crescimento intrauterino restrito; ■ Anomalias congênitas; ■ Hemorragia pós-parto; ■ Insuficiência placentária. ➤ FETAIS: ■ Morte fetal intrauterina (principalmente nos monocoriônicos); ■ Síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF); ■ Sequência de perfusão arterial reversa; ■ Sequência de anemia-policitemia; ■ Crescimento intrauterino restrito; ■ Gêmeos conjugados. VIA DE PARTO (mais detalhes no texto): linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz O conhecimento do número de fetos, de sua vitabilidade, situação, apresentação, estimativa de peso, da corionicidade e do volume de líquido amniótico são essenciais para indicação da via de parto mais adequada. A integridade das bolsas amnióticas, condições do colo uterino e a paridade são outros fatores determinantes para indicação da via de parto mais adequada. INTRODUÇÃO A gestação múltipla é a presença simultânea de dois ou mais fetos no útero materno ou fora dele. Classifica-se em dupla ou gemelar, tripla, quádrupla e assim por diante. Cada produto da gestação gemelar é um gêmeo. Portanto, gêmeos são fetos de qualquer gestação múltipla que, por sua vez, passou a ser sinônimo de gestação gemelar. Nas últimas décadas, o número de gestações múltiplas cresceu de forma muito significativa em virtude do maior emprego de medicamentos indutores da ovulação, da transferência de múltiplos embriões por ciclo de reprodução assistida e do aumento da idade da mulher no momento da concepção. Atualmente, as gestações múltiplas correspondem a mais de 3% dos nascidos vivos nos Estados Unidos. A incidência atual da gestação gemelar cresceu 76%, variando de 18,9 em 1.000 nascimentos em 1908 para 33,2 em 1.000 nascimentos em 2009. Houve também um aumento do número de gestações triplas e de alta ordem (quádrupla ou maiores) até o fim da década de 1990, porém, posteriormente houve uma redução devido a uma transferência de um número menor de embriões por ciclo de reprodução assistida. As gestações múltiplas estão associadas ao aumento da morbiletalidade perinatal, notadamente resultado de maior número de recém-nascidos prematuros e de baixo peso. Elas respondem por: ➤ 17% dos partos pré-termo (< 37 semanas); ➤ 23% dos partos muito pré-termo (< 32 semanas); ➤ 24% dos recém-nascidos de baixo peso (< 2.500 g); ➤ 26% dos recém-nascidos de muito baixo peso (< 1.500 g); ➤ 25% dos óbitos pré-termo. Além disso, há um risco maior de morbidade neurológica precoce e tardia nos recém-nascidos gemelares, incluindo hemorragia intraventricular, leucomalácia periventricular e paralisia cerebral quando comparados com gestações únicas da mesma idade gestacional. As malformações fetais também têm sua frequência aumentada, assim como alterações de vascularização e de quantidade de líquido amniótico. Da mesma forma, a morbidade materna está aumentada devido à maior probabilidade de ocorrência de pré-eclâmpsia, hemorragias puerperais, histerectomia, depressão pós-parto e morte materna. VIDEO_02_R4_GO_25 CLASSIFICAÇÃO DA GESTAÇÃO MÚLTIPLA A gestação gemelar pode ser classificada a partir dos seguintes parâmetros: ➤ Quantidade de fetos: dupla, tripla etc.; ➤ Quantidade de óvulos fecundados: zigotia; ➤ Quantidade de placentas: corionia; ➤ Quantidade de cavidades amnióticas: amnionia. Vamos ver estas classificações detalhadamente. ZIGOTIA Refere-se à origem dos gêmeos, se de um mesmo ovo ou de ovos diferentes ➤ Monozigótica: a origem dos gêmeos de um mesmo ovo, resultante da fertilização de um óvulo por um único espermatozoide, é denominada Monozigótica (MZ). Os gêmeos monozigóticos são também chamados de gêmeos idênticos, verdadeiros, uniovulares ou univitelinos. Eles correspondem a 1/3 dos gemelares e o número de placentas nesta gestação depende do momento em que a divisão ocorre após a fecundação. Assim, os MZ podem ser monocoriônicos ou dicoriônicos. Os gêmeos monozigóticos têm o mesmo genótipo: o sexo é obrigatoriamente igual, como também os grupos sanguíneos, fatores séricos, características físicas e as tendências patológicas. (Figura 1). Figura 1. Zigotia na gestação gemelar. linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz Como decorre de uma divisão celular normalmente ao acaso, as gestações monozigóticas possuem uma incidência fixa em torno de 1 para 250 nascimentos. ➤ Dizigótica: a origem dos gêmeos de ovos diferentes é denominada Dizigótica (DZ). Os gêmeos dizigóticos são também chamados de gêmeos fraternos, biovulares ou bivitelinos. Eles representam 2/3 dos gemelares e esta gestação é obrigatoriamente dicoriônica. Os gêmeos fraternos apresentam genótipos distintos assim como qualquer outro irmão, portanto estes gêmeos não apresentarão a mesma carga genética e não serão idênticos. As gestações dizigóticas são oriundas de ciclos menstruais com mais de uma ovulação, portanto possuem uma incidência variável de acordo com a população estudada. A média é de 1 para 80 gestações, mas pode variar de 6 para 1.000 nascimentos na Ásia até 45 para 1.000 nascimentos em uma população na Nigéria. Outras formas de gemelaridade já foram descritas na literatura: ➤ Superfecundação: consiste na fertilização de dois óvulos em coitos diferentes, em um mesmo ciclo menstrual; ➤ Superfetação: corresponde à fertilização de dois óvulos em ciclos menstruais diferentes. Não é descrito este evento de forma espontânea em seres humanos. Como veremos a seguir, o conhecimento da corionicidade é mais importante do que o da zigotia. CORIONICIDADE A corionicidade ou corionia diz respeito ao tipo de placentação, ou seja, refere-se ao número de placentas. Como já foi dito anteriormente, os gêmeos DZ são sempre dicoriônicos, desenvolvendo duas placentas. No entanto, é importante salientar que elas podem estar fusionadas, dando a impressão de uma só massa placentária. A placentação nos MZ pode ser de qualquer tipo e depende do momento que ocorreu a divisão do zigoto em relação à fertilização ➤ Se a divisão do ovo se dá até as primeiras 72 horas depois da fertilização teremos uma gestação DICORIÔNICA DIAMNIÓTICA; ➤ Se a divisão do ovo se dá entre o quarto e oitavo dia após a fertilização, por divisão do embrioblasto onde o cório já está formado, mas antes da formação do âmnio, o resultadoserá a placentação MONOCORIÔNICA DIAMNIÓTICA; ➤ Se a divisão do ovo se dá entre os dias 8 e 12 após a fertilização, por divisão completa do disco embrionário após a formação do âmnio, teremos uma placentação MONOCORIÔNICA MONOAMNIÓTICA; ➤ Se a divisão do ovo ocorre entre os dias 13 e 15 pós- fertilização, a separação do disco embrionário será incompleta, acarretando a chamada GEMELARIDADE IMPERFEITA (rara). A placentação será obrigatoriamente MONOCORIÔNICA MONOAMNIÓTICA. Como a separação é incompleta, os produtos finais são GÊMEOS ACOLADOS ou SIAMESES. A resume a frequência das gestações gemelares de acordo com a zigotia e a corionicidade. VIDEO_03_R4_GO_25 (Figura 2): Figura 2. Mecanismo de formação das gestações gemelares. As caixas pretas indicam o momento da divisão celular. A. Gestação dicoriônica. B. Gestação monocoriônica diamniótica. C. Gestação monocoriônica monoamniótica. D. Gemelaridade imperfeita. Figura 3 linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz Dentre as gestações gemelares, o risco de mortalidade perinatal e de lesão neurológica é maior nas gestações monocoriônicas do que nas dicoriônicas, conforme vemos na e entenderemos ao longo do capítulo. Por este motivo, todo esforço deve ser voltado para definir a corionicidade de forma mais precoce possível. VIDEO_04_R4_GO_25 FATORES DE RISCO A seguir, listamos os principais fatores de risco para gemelaridade: ➤ Drogas indutoras de ovulação (gonadotrofinas ou citrato de clomifeno): aumentam o risco de gestação monozigóticas e dizigóticas; ➤ Emprego de técnicas de reprodução assistida: como Fertilização In Vitro (FIV), injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) ou inseminação artificial; ➤ História familiar: apenas a história familiar da mulher é relevante. A hereditariedade só está relacionada ao aumento do risco de gestações dizigóticas; ➤ Idade materna: a incidência de gêmeos dizigóticos aumenta com o aumento da idade materna até 37 anos. Após essa idade, a taxa decresce devido a uma diminuição da produção hormonal; ➤ Raça: a frequência de gêmeos dizigóticos é maior em mulheres negras, intermediária em mulheres brancas e menor em mulheres asiáticas; ➤ Paridade: o aumento da paridade aumenta a frequência de gestações gemelares. A frequência de gêmeos dizigóticos em mulheres na quarta gestação é o dobro da encontrada em primigestas; ➤ Fatores nutricionais: mulheres altas e com sobrepeso estão em maior risco de gestação gemelar dizigótica. VIDEO_05_R4_GO_25 RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2018 SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – DISTRITO FEDERAL – SES –DF Primigesta fez sua primeira ultrassonografia com 8 semanas de gestação, evidenciando gestação gemelar. Com base nesse caso clínico e considerando os conhecimentos médicos a ele relacionados, julgue o item a seguir: Tratamento para infertilidade, hereditariedade e idade materna são fatores relacionados à ocorrência de gemelaridade. a) CERTO. b) ERRADO. R. Aproveite para rever os fatores de risco de gemelaridade! Esta afirmativa está certa. Resposta: letra A. DIAGNÓSTICO DE GEMELARIDADE O diagnóstico de uma gestação gemelar pode ser feito na ultrassonografia a partir de cinco semanas, a partir da visualização de dois ou mais sacos gestacionais contendo vesículas vitelinas. No entanto, apenas 57% das pacientes terão um parto de gêmeos quando o diagnóstico é feito nesta idade gestacional, considerando a alta incidência de interrupção de uma das gestações. Este evento é chamado de gêmeo evanescente. Caso dois embriões com batimentos cardíacos sejam identificados, a chance de parto gemelar sobe para 87%. Durante o acompanhamento da gestação gemelar, o diagnóstico da zigotia não é importante visto que ele, isoladamente, não muda o prognóstico perinatal. De qualquer maneira, a visualização de sexos discordantes praticamente assegura que a gestação é dizigótica e, consequentemente, dicoriônica. Existem raros casos descritos de perda pós-zigótica do Figura 3. Frequência das gestações gemelares. Tabela 1 TABELA 1: TAXA DE COMPLICAÇÕES RELACIONADAS À GESTAÇÃO GEMELAR. linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz cromossomo Y em gêmeos monozigóticos, o que resultaria em um feto 46XY, com fenótipo masculino, e outro 45X0, com síndrome de Turner e fenótipo feminino. Por outro lado, dois fetos no mesmo saco gestacional atestam que a gestação é monocoriônica e, portanto, monozigótica. A informação mais relevante durante o diagnóstico de gestação gemelar, como já foi ressaltado anteriormente, é a corionicidade. Esta informação muda o prognóstico, as complicações esperadas e até mesmo o momento do parto da gestação gemelar. Assim, esta é a parte mais detalhada e importante do diagnóstico. DIAGNÓSTICO DE CORIONICIDADE A visualização de duas massas placentárias claramente define uma gestação dicoriônica. No entanto, a identificação de uma massa placentária única não garante que a gestação é monocoriônica, visto que duas placentas podem estar posicionadas lado a lado. Este diagnóstico, portanto, nem sempre é claro e é mais fácil em gestações iniciais. SACO GESTACIONAL A melhor fase para diagnóstico ultrassonográfico da corionia é no primeiro trimestre, quando o achado dos dois sacos gestacionais, cada um contendo um anel ecogênico ao seu redor, diagnostica a placentação dicoriônica Contrariamente, o diagnóstico de saco gestacional único leva ao diagnóstico de monocorionia. É importante ressaltar que, até oito semanas de gestação, a visualização da membrana amniótica nestes casos nem sempre é fácil e o número de vesículas vitelinas normalmente se correlaciona com o número de âmnios. Na monocorionia, há ainda que se determinar se a variedade é monoamniótica ou diamniótica. O âmnio só é visível após 8 semanas de gravidez e o número de Vesículas Vitelinas (VV) pode ajudar nesta diferenciação. A presença de duas VV corresponde à gestação diamniótica, enquanto a gravidez monocoriônica monoamniótica normalmente apresenta vesícula única e não exibe membrana intergemelar. Dois embriões vistos em um único saco gestacional, não se visualizando membrana entre eles, confirmam uma gestação monocoriônica e monoamniótica. Obviamente, neste caso só pode se tratar de gestação monozigótica VIDEO_06_R4_GO_25 SINAL DO LAMBDA OU TWIN PEAK SIGN OU SINAL DO Y Após 10 semanas, os sacos gestacionais já estão muito próximos, o que torna mais difícil a identificação da separação entre eles. Quando apenas uma massa placentária é visualizada ao ultrassom, o sinal do lambda define uma gestação dicoriônica. Este achado traduz a presença de tecido coriônico em forma de cunha, visualizado na inserção do septo intergemelar na placenta. Em outras palavras, a presença de reentrância de tecido coriônico entre as duas membranas amnióticas determina a placentação dicoriônica. Nessa variedade, a membrana tem (Figuras 4 e 5). Figura 4. Gestação dicoriônica com seis semanas. Figura 5. Gestação dicoriônica com sete semanas. (Figura 6). Figura 6. Gestação monocoriônica diamniótica. linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz espessura maior do que 2,0 mm, visto que é composta por quatro camadas: dois âmnios e dois córions SINAL DO T Na variedade monocoriônica, a inserção da membrana na placenta corresponde ao sinal do T e a sua espessura é menor do que 2,0 mm A membrana é tão fina que muitas vezes não é visualizada até o segundo trimestre, o que gera um falso diagnóstico de gestação monocoriônica monoamniótica. MEMORIZE O sinal do lambda é um sinal de dicorionicidade. Ele é encontrado na placentação dicoriônica diamniótica. O sinal do T é um sinal de monocorionicidade. Ele é encontrado na placentação monocoriônica diamniótica. VIDEO_07_R4_GO_25 RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2020 FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO –FAMERP Durante consulta de pré-natal, gestante na 12ª semana de gestação gemelar fez exame ultrassonográfico e o resultado mostrou "sinal do lambda". Este sinal é patognomônico de gravidez: a) Monozigótica. b) Dizigótica. c) Dicoriônica. d) Monocoriônica. R. Essa aqui não pode errar! O sinaldo lambda, Twin-peak sign ou sinal do Y define uma gestação dicoriônica. Resposta: letra C. RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2020 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – UNICAMP A sensibilidade do sinal do pico coriônico ("sinal do lâmbda") para o diagnóstico da "corionicidade" (número de placentas) nas gestações gemelares: a) Diminui com a idade gestacional. b) Aumenta com a idade gestacional. c) Não se modifica com a idade gestacional. d) É maior no primeiro e terceiro trimestres e menor no segundo trimestre da gestação. R. A sensibilidade da ultrassonografia para o diagnóstico de corionicidade nas gestações gemelares diminui com o avançar da idade gestacional. O melhor momento para o diagnóstico é antes de dez semanas, quando o achado de saco gestacional duplo identifica a placentação dicoriônica e um saco gestacional único leva ao diagnóstico de monocorionia. Resposta: letra A. RASTREAMENTO DE MALFORMAÇÕES FETAIS E ANEUPLOIDIAS A avaliação detalhada da anatomia fetal deverá ser realizada por um obstetra experiente, já que há um risco duas a três vezes maior de malformações fetais nas gestações múltiplas. Este risco é maior ainda nas gestações monozigóticas. As principais malformações são cardíacas, gastrointestinais, fendas (Figura 7). Figura 7. Sinal do lambda. (Figura 8). Figura 8. Sinal do T. linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz labiopalatinas, defeitos de fechamento de tubo neural e defeitos de fechamento da parede anterior. Já o rastreamento de aneuploidias mais uma vez depende da corionicidade. Inicialmente, existe uma limitação do uso dos marcadores laboratoriais (PAPP-A, beta-hCG) nas gestações múltiplas, considerando uma produção aumentada neste contexto, e muitos autores não recomendam seu uso. Nas gestações dizigóticas, cada feto possui seu risco independente de aneuploidia e o cálculo do risco será feito separadamente, a partir dos parâmetros ultrassonográficos habituais (translucência nucal, osso nasal, ducto venoso) associados à idade materna. Entretanto, nas gestações monozigóticas, considerando que o cariótipo é igual, o risco é calculado a partir do risco médio dos dois fetos. É importante notar que a translucência nucal discordante (> 20%) ou o comprimento cabeça-nádega com uma diferença maior de 10% em gestações monocoriônicas pode ser um sinal precoce de síndrome de transfusão feto-fetal. Apesar de ainda existirem estudos pequenos nesta população, o rastreamento de aneuploidias através do DNA fetal livre é possível em gestações múltiplas, porém com uma menor taxa de detecção que em gestações únicas. VIDEO_08_R4_GO_25 COMPLICAÇÕES MATERNAS Existe uma adaptação materna diferenciada nas gestações gemelares, com uma expansão de volume sanguíneo 50 a 60% maior do que em uma gestação única. Por outro lado, a perda sanguínea pós-parto vaginal em uma gestação gemelar é o dobro de um parto de feto único. O débito cardíaco também se eleva 20% a mais do que o habitual, principalmente à custa de maior volume sistólico, e a resistência vascular periférica é menor. Assim, há maior variação na função cardíaca e descompensação nas pacientes propensas a este evento. As principais morbidades maternas relacionadas com as gestações múltiplas são: ➤ Pré-eclâmpsia; ➤ Síndrome HELLP; ➤ Hemorragia puerperal; ➤ Corioamnionite; ➤ Anemia; ➤ Diabetes gestacional. A frequência de distúrbios hipertensivos da gravidez pode alcançar 20% das gestações múltiplas, sendo maior nas gestações trigemelares ou com mais fetos. COMPLICAÇÕES OBSTÉTRICAS GERAIS ABORTAMENTO O risco de interrupção da gestação é maior nas gestações gemelares. No entanto, até 40% dos gêmeos identificados no primeiro trimestre irão "desaparecer" de forma espontânea antes do segundo trimestre e isto é mais frequente quando a gestação é resultante de técnicas de reprodução assistida. Isto pode se apresentar clinicamente como uma ameaça de abortamento, o que na verdade corresponde à morte ou reabsorção de um dos gêmeos mesmo que a gestação múltipla não tenha sido diagnosticada. Em idades gestacionais mais avançadas, a morte de um dos fetos poderá resultar em um saco gestacional visível ou até mesmo o próprio feto por um longo período da gestação, porém com idade gestacional consideravelmente menor do que a esperada. BAIXO PESO AO NASCER O peso dos fetos em gestações gemelares é similar ao de gestações únicas até 28 a 30 semanas. Após, há um decréscimo do crescimento destes fetos, que fica nítido após 36 semanas. Por este motivo, muitos autores sugerem que a curva de crescimento de gestações gemelares deve ser diferente da proposta para gestações únicas. Considerando o crescimento intrauterino restrito, o risco também é mais aumentado nas gestações monocoriônicas. Os principais motivos seriam que a alocação dos blastômeros pode ser desequilibrada, as anastomoses vasculares resultariam em distribuição desigual de nutrientes e oxigênio e as anomalias estruturais resultantes da divisão celular afetariam o crescimento. Nas gestações dicoriônicas, o crescimento discordante entre os fetos normalmente resulta de uma placentação desigual, em que uma placenta recebe maior fluxo sanguíneo do que a outra. VIDEO_09_R4_GO_25 PREMATURIDADE A duração da gestação é menor quanto maior for o número de fetos. Em torno de 50% dos gemelares e 75% dos trigemelares nascem prematuros, o que resulta em um risco seis e dez vezes maior do que gestações únicas, respectivamente. Avaliando o motivo dos partos prematuros, 60% dos partos gemelares pré- termo são medicamente indicados, 30% estão relacionados com trabalho de parto prematuro e 10% são decorrentes de amniorrexe prematura. linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz Diversos métodos foram propostos para tentar predizer o risco de parto prematuro em pacientes assintomáticas com gestações gemelares. O colo curto (< 20 mm) entre 20 e 24 semanas apresentou um risco aumentado de parto prematuro antes de 32 semanas em 10 vezes, no entanto as intervenções propostas a partir destes resultados não foram satisfatórias. O repouso domiciliar ou hospitalar, o uso de progesterona ou tocolíticos e a cerclagem não mostraram benefício na redução da prematuridade em gemelares, sendo que este último procedimento aumentou o risco de parto pré-termo. VIDEO_10_R4_GO_25 OUTRAS COMPLICAÇÕES OBSTÉTRICAS ➤ Polidramnia: é cerca de 10 vezes mais comum na gestação múltipla. Ela agrava os fenômenos compressivos, aumenta o desconforto materno e a frequência de prematuridade; ➤ Amniorrexe Prematura: acontece aproximadamente em 14% das gestações gemelares e em 20% das trigemelares; ➤ Crescimento Intrauterino Restrito: risco duas vezes maior de CIUR nas gestações múltiplas; ➤ Placenta Prévia: em virtude de uma maior área placentária, a incidência de inserção viciosa de placenta é duas vezes maior na gestação gemelar; ➤ Descolamento Prematuro de Placenta: é cerca de oito vezes mais frequente em gestações gemelares, devido ao maior volume placentário e à maior chance de descompressão súbita de um útero sobredistendido após o parto ou na amniorrexe de um polidrâmnio; ➤ Anomalias Congênitas: é duas vezes mais comum nas gestações gemelares e quatro vezes mais comum nas trigemelares. COMPLICAÇÕES OBSTÉTRICAS ESPECÍFICAS DAS GESTAÇÕES GEMELARES MORTE UNIFETAL A morte intraútero de um dos fetos é observada em cinco para 100 pares de gêmeos. O óbito que acontece no início da gestação geralmente é acompanhado de absorção fetal, sem qualquer tipo de intercorrência posterior. O risco de morte de um ou dos dois fetos é duas vezes maior em monocoriônicos, alcançando 2,5% após 22 semanas em comparação com 1,2% dos gêmeos dicoriônicos. A prevalência de morte no feto remanescente, quando a morte fetal ocorre no segundo ou terceiro trimestre de gestação, é de 25% nos monocoriônicos e 2,5% nos dicoriônicos. Outra complicação grave que pode ocorrer no feto sobrevivente é o dano neurológico, que está diretamente relacionado com a corionicidade. Existe um risco de 18% de anormalidade neurológica nas gestações monocoriônicasem comparação com 1% das gestações dicoriônicas. A interrupção imediata da gestação, prática comum após o diagnóstico do óbito de um dos fetos, não previne este dano neurológico. Caso não haja complicações graves para a gestante ou para o feto sobrevivente, a conduta pode ser conservadora após o óbito unifetal. Alguns autores recomendam a avaliação seriada de fatores de coagulação materno devido ao risco teórico de coagulação intravascular disseminada, porém nas séries mais recentes não há qualquer relato desta complicação neste contexto. O momento da interrupção da gestação deve ser avaliado individualmente, porém considera-se o parto à termo nas gestações dicoriônicas e após 34-37 semanas nas monocoriônicas. VIDEO_11_R4_GO_25 CRESCIMENTO INTRAUTERINO RESTRITO (CIUR) SELETIVO O CIUR pode ocorrer em ambos os fetos ou em apenas um deles, caracterizando um crescimento discordante. Isto é identificado em torno de 15% das gestações gemelares e é mais frequente nas gestações monocoriônicas. A mortalidade perinatal é diretamente relacionada com a diferença de peso entre os gêmeos e normalmente ocorre no fim do segundo ou no início do terceiro trimestre. O diagnóstico antes de 20 semanas está associado à morte do feto menor em aproximadamente 20% dos casos. Excluindo-se os casos de Síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF), o mecanismo do CIUR seletivo nas gestações monocoriônicas seria uma divisão desigual da área responsável pelas trocas materno-fetais dentro da mesma placenta. Outra possibilidade seria a presença de anomalias estruturais discordantes, que têm sua incidência aumentada nas gestações monozigóticas. Já nas gestações dicoriônicas, os fatores relacionados com o CIUR seletivo são diferentes. Primeiramente, o potencial de crescimento pode ser diferente entre os dois, principalmente se houver diferença de sexos. Além disso, a presença de duas placentas requer maior espaço intrauterino e uma delas pode se implantar em um local não ideal. O diagnóstico é feito a partir da diferença de 20% no peso fetal estimado dos dois gêmeos, calculada a partir da diferença do linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz peso estimado entre os dois fetos dividida pelo peso estimado do feto maior. Alguns autores recomendam que este resultado esteja descrito no laudo de todas as gestações gemelares após 20 semanas. Diferença de peso fetal estimado (PFE): PFE G1 - PFE G2 / PFE do feto maior Outra proposta seria a diferença de mais de 20 mm entre a circunferência abdominal dos dois fetos. Apesar de um feto pequeno e com oligodramnia em uma gestação monocoriônica sugerir STFF, a normodramnia do outro gemelar fala a favor do CIUR seletivo. É importante excluir malformações congênitas, infecções virais e, se possível, anomalias genéticas do feto com CIUR. O resultado gestacional adverso está consideravelmente aumentado quando esta diferença de peso estimado é maior do que 25%, incluindo maior incidência de síndrome do desconforto respiratório, hemorragia intraventricular, convulsões, leucomalácia periventricular, sepse, enterocolite necrosante e morte perinatal. O acompanhamento das gestações dicoriônicas deve ser feito através da dopplerfluxometria da artéria umbilical, da mesma forma que nas gestações únicas. As gestações monocoriônicas com CIUR seletivo apresentam uma especificidade, visto que as anastomoses placentárias podem levar a fluxos sanguíneos diferentes das gestações únicas. Foi criada, então, uma classificação (Gratacós) que tem como base a dopplervelocimetria da artéria umbilical do feto menor ➤ Tipo I: fluxo diastólico positivo; ➤ Tipo II: ausência de fluxo diastólico persistentemente; ➤ Tipo III: diástole zero ou reversa intermitente. O tipo I possui bom prognóstico e pequeno grau de discordância entre os pesos fetais, enquanto o tipo II apresenta grande chance de deterioração do quadro, parto prematuro extremo, atraso neurológico e óbito perinatal. O tipo III, por apresentar grandes anastomoses arterioarteriais, apresenta menor gravidade que o tipo II, no entanto apresenta risco imprevisível de morte súbita do feto com CIUR e alto risco (até 20%) de morbidade neurológica no feto sem CIUR sobrevivente. VIDEO_12_R4_GO_25 RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2019 SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – SURCE Paciente com quadro de gestação gemelar monocoriônica/diamniótica, apresenta ultrassom obstétrico evidenciando idade gestacional de 30 semanas, maior bolsão de líquido amniótico em cada cavidade medindo 3 e 4 cm, discordância de pesos fetais de 25% e Doppler obstétrico das artérias umbilicais dos fetos 1 e 2 conforme a figura abaixo. Considerando os achados atuais, defina o diagnóstico e conduta adequada: a) Síndrome de transfusão feto-fetal e resolução com 37 a 38 semanas. b) Restrição do crescimento fetal seletiva tipo I e resolução com 34 a 36 semanas. c) Restrição do crescimento fetal seletiva tipo II e resolução com 32 a 34 semanas. d) Restrição do crescimento fetal seletiva tipo III e resolução com 26 a 30 semanas. R. Perceba que o líquido amniótico é normal em ambos os fetos, o que exclui a síndrome de transfusão feto-fetal. Há uma discordância importante do peso fetal estimado, o que corresponde ao CIUR seletivo, e a dopplervelocimetria com diástole presente é classificada como tipo I de Gratacós. Resposta: letra B. COMPLICAÇÕES ESPECÍFICAS DAS GESTAÇÕES MONOCORIÔNICAS GESTAÇÃO MONOAMNIÓTICA Este evento é raro, ocorrendo em apenas 1% das gestações monozigóticas. O diagnóstico é feito quando a membrana amniótica em uma gestação gemelar não é visualizada, no entanto é muito comum o erro diagnóstico com ultrassonografistas pouco experientes. Outra forma de diagnóstico é a visualização do entrelaçamento dos cordões umbilicais (Figura 9): Figura 9. Classificação de Gratacós para o crescimento intrauterino restrito em gestações monocoriônicas. (Figura 10). linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz Também é possível que uma gestação diamniótica se torne monoamniótica após a ruptura da membrana intergemelar, seja ela de forma espontânea ou de forma iatrogênica. Nestes casos, a morbidade e a mortalidade perinatal passa a ser similar àquelas das gestações originalmente monoamnióticas. A mortalidade de pelo menos um dos gemelares de uma gestação monoamniótica era extremamente elevada, em torno de 70% das gestações. A melhoria da assistência e do diagnóstico permitiu uma evolução significativa destes números, porém eles continuam elevados em comparação com gestações diamnióticas. A morte perinatal após 20 semanas é de aproximadamente 15%, principalmente atribuídas ao parto prematuro, anomalias congênitas, entrelaçamento de cordão umbilical e Síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF). A STFF nas gestações monoamnióticas é menor do que a relatada em gestações monocoriônicas diamnióticas e o motivo seria a presença de anastomoses arterioarteriais em praticamente todas as placentas, o que seria um fator de proteção. De qualquer maneira, recomenda-se o rastreamento para STFF da mesma forma que nas gestações diamnióticas, porém sem a possibilidade de uso da diferença do líquido amniótico entre os fetos como critério diagnóstico. O entrelaçamento dos cordões umbilicais é bastante comum, mas nem sempre ele resulta em sofrimento ou mesmo óbito fetal. Por este motivo, o rastreamento através da ultrassonografia ou dopplerfluxometria não é eficaz. O risco maior de morbidade nestes casos parece ser em gestações mais precoces, caindo a chance de óbito fetal de 15% após 20 semanas para 4% após 32 semanas. Alguns autores recomendam a monitorização da frequência cardíaca dos fetos diariamente a partir de 26-28 semanas, por pelo menos uma hora. A presença de desacelerações variáveis frequentes poderia indicar um parto prematuro, no entanto os estudos utilizando esta forma de rastreamento não foram capazes de predizer a morte fetal em metade dos casos. A interrupção da gestação nas gestações monocoriônicas monoamióticas não complicadas deve ocorrer entre 32 a 34 semanas, após maturaçãopulmonar com corticoterapia. Isto ocorre devido ao baixo risco de mortalidade neonatal após esta idade gestacional e o risco de morte fetal entre 5 e 8% para cada semana entre 30 e 36 semanas descrito em um grande estudo prospectivo. Apesar de ser possível o parto vaginal, a maior parte dos especialistas recomenda a cesariana pelo maior risco de compressão ou mesmo trauma do cordão umbilical durante o trabalho de parto. VIDEO_13_R4_GO_25 GÊMEOS ACOLADOS Apresentam incidência aproximada de 1:50.000 – 100.000 nascimentos, o que equivale a 0,5–1% das gestações monoamnióticas. Decorrem da divisão tardia (após o 13º dia pós-concepção) de um único ovo fecundado, porém os fatores predisponentes não são bem conhecidos. Os gêmeos conjugados são classificados de acordo com o lugar de fusão seguida do sufixo grego pagos ➤ Toraconfalópagos: representa 47% dos casos de gêmeos unidos e a região de fusão é o tórax-abdome; ➤ Toracópagos: o local de fusão é o tórax. Cerca de 18% dos casos; ➤ Onfalópagos: a região compartilhada é o abdome. Inclui 10% dos casos; ➤ Pigópagos: o lugar de fusão é o sacro. Aproximadamente 18% dos casos; ➤ Isquiópagos: o local compartilhado é o ísquio. Envolve 6% dos casos; ➤ Craniópagos: a região de fusão é o crânio. Corresponde apenas a 1% dos casos. O diagnóstico ultrassonográfico é possível a partir do primeiro trimestre de gestação através da observação da continuidade do contorno da pele dos fetos, presença de cordão umbilical Figura 10. Tipos de gestação monocoriônica. (Figura 11): Figura 11. Gêmeos acolados. A. Craniópagos. B. Toracópagos. C. Onfalópagos. D. Isquiópagos. E. Pigópagos linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz único com mais de três vasos, cabeças fetais em posição fixa ou falha de troca de posição dos fetos ao longo do tempo. Após a confirmação diagnóstica, um exame ultrassonográfico detalhado deverá ser realizado para avaliar quais órgãos estão compartilhados, sendo possível utilizar a ressonância magnética para auxiliar nesta investigação. A possibilidade de interrupção da gravidez deve ser aventada e discutida com os pais, principalmente quando órgãos nobres são compartilhados. No entanto, no Brasil é necessária uma autorização judicial para que a gestação seja interrompida. No caso de opção pela persistência da gestação, o acompanhamento deve ser realizado por equipe especializada. VIDEO_14_R4_GO_25 RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2020 HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – INCA Paciente, gestação gemelar, 31 anos, G5 P2 A2. O ultrassom morfológico com 22 semanas mostra gêmeos com biometria de 21 semanas e fusão em região torácica anterior. Ela não tem doenças pregressas, e os exames físico e laboratoriais de rotina pré-natal são normais. É CORRETO afirmar que essa gravidez gemelar é um caso de gemelidade: a) Imperfeita do tipo xifópagos e ocorre em casos de gêmeos monocoriônicos e monoamnióticos. b) Imperfeita do tipo onfalópagos e ocorre em casos de gêmeos monocoriônicos e monoamnióticos. c) Imperfeita do tipo xifópagos e ocorre em casos de gêmeos monocoriônicos e diamnióticos. d) Monoamniótica, com gêmeos acolados tipo onfalópagos. R. A gemelaridade imperfeita é, obrigatoriamente, monocoriônica e monoamniótica visto que a divisão do zigoto é muito tardia. A junção pelo tórax caracteriza gêmeos toracópagos, sendo que alguns autores ainda fazem uma subdivisão neste grupo para os gêmeos unidos pelo esterno (apêndice xifoide), que seriam chamados de xifópagos. Os gêmeos onfalópagos são unidos pelo abdome. Resposta: letra A. SÍNDROME DA TRANSFUSÃO FETO-FETAL (STFF) OU SÍNDROME DE TRANSFUSÃO GÊMELO-GEMELAR A STFF envolve gêmeos monozigóticos e monocoriônicos, em especial os diamnióticos, cujas circulações se comunicam na região da placenta. Ela incide em aproximadamente 15% das gestações monocoriônicas no segundo trimestre e, se não tratada quando ocorre antes de 24 semanas, está associada à morte de um ou ambos os fetos em 80 a 90% das vezes. Comunicações vasculares na placenta monocoriônica existem em praticamente todas as gestações, mas somente certos padrões levam à STFF. A STFF parece resultar da presença de uma ou mais comunicações arteriovenosas em combinação com escassez de anastomoses arterioarteriais. Estas comunicações arterioarteriais são encontradas abundantemente em gestações monocoriônicas não complicadas e, provavelmente, compensam o desequilíbrio hemodinâmico resultante do shunt arteriovenoso. IMPORTANTE A comunicação vascular arteriovenosa na placenta MC não representa uma anastomose real do ponto de vista anatômico. Um cotilédone é alimentado pela artéria do feto doador e drenado para a veia do feto receptor. Nos casos de STFF, existe um desequilíbrio da transfusão sanguíne a em favor de um dos fetos. Assim, há transfusão de sangue de um deles (doador) para o outro (receptor) através das anastomoses vasculares existentes na placenta. O feto doador fica hipovolêmico e desenvolve palidez, oligúria, oligodramnia e Crescimento Intrauterino Restrito (CIUR). A ausência de líquido amniótico com dificuldade de movimentação do feto doador é chamada de " stuck twin ". Contrariamente, o feto receptor fica hipervolêmico, apresenta pletora e desenvolve poliúria, polidramnia, hidropisia e insuficiência cardíaca (Figura 12). Figura 12. Síndrome de transfusão feto-fetal. AA. Anastomose Arterioarterial. AV. Anastomose Arteriovenosa. VV. Anastomose Venovenosa. linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz Outras complicações em longo prazo descritas na STFF são paralisia cerebral, porencefalia e encefalomalácia multicística, que podem ser encontradas em até 8% dos recém-nascidos com esta síndrome. O mecanismo exato para estas lesões não é totalmente conhecido, porém parece estar relacionado com isquemia cerebral resultante de episódios de hipotensão tanto no feto receptor quanto no feto doador. Toda gestação monocoriônica deve ser rastreada para STFF a cada duas semanas a partir de 16 semanas. Deve-se descrever em todo exame ultrassonográfico o Maior Bolsão Vertical (MBV) em ambos os fetos e avaliar o fluxo sanguíneo na artéria umbilical através da dopplervelocimetria. IMPORTANTE O melhor critério para diagnóstico da STFF é a discordância de líquido amniótico existente nas duas cavidades em uma gestação monocoriônica: ➤ MBV maior do que 8 cm na cavidade do feto receptor; ➤ MBV menor do que 2 cm na cavidade do feto doador. VIDEO_15_R4_GO_25 Um marcador sonográfico precoce de STFF é a discordância da translucência nucal em gestações monocoriônicas entre 11 e 14 semanas. Os principais diagnósticos diferenciais seriam crescimento intrauterino seletivo, em que um feto teria oligodramnia, mas o outro não apresentaria polidramnia, anomalias estruturais ou genéticas e infecções congênitas. A gravidade da STFF é classificada de acordo com critérios ultrassonográficos em cinco estágios, conhecidos como Classificação de Quintero Polidramnia no feto receptor (bolsão maior do que 8 cm) e oligodramnia no feto doador (bolsão menor do que 2 cm). Não visualização da bexiga do feto doador. Dopplerfluxometria anormal em qualquer um dos fetos caracterizada por: artéria umbilical com diástole zero ou reversa; ducto venoso com onda A zero ou reversa; ou pulsação na veia umbilical. Hidropisia fetal em qualquer um dos fetos. Óbito de um ou ambos os fetos. A evolução entre os estágios da doença não é linear, sendo possível a progressão do estágio I diretamente para o estágio III ou IV. VIDEO_16_R4_GO_25 O prognóstico da gestação também tem como base a classificação de Quintero. Mais de 70% das gestações classificadas como estágio I permanecem estáveis ou regridem sem qualquer intervenção. Por outro lado, os casos diagnosticados como estágio III possuem prognóstico bastante reservado, com uma taxa de perda perinatal próxima de 100% sem tratamento. A STFF pode ser tratada da seguinte forma ➤ Amniocentese seriada para o feto receptor: é reservada para os casos de STFF mais leves e de aparecimento tardio. A retirada de grandes quantidades de líquido amnióticovisa prevenir o parto prematuro secundário à polidramnia e melhorar a circulação fetal pela redução da pressão na placa corial da placenta; ➤ Fotocoagulação com laser das comunicações vasculares através de fetoscopia, entre 16 e 26 semanas de gestação é reservada para os casos graves de ocorrência antes de 24-25 semanas. Esta terapia visa identificar e coagular as anastomoses vasculares através de fetoscopia com laser, interrompendo a troca de sangue intergemelar. (Tabela 2). TABELA 2: CLASSIFICAÇÃO DE QUINTERO PARA SÍNDROME DE TRANSFUSÃO FETO-FETAL. Estágio I Estágio II Estágio III Estágio IV Estágio V (Figura 13): Figura 13. Tratamento da síndrome de transfusão feto-fetal. (Figura 14): linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz A septostomia, quando é feita a perfuração intencional da membrana amniótica para permitir a passagem de líquido amniótico de um feto para o outro, foi abandonada por não apresentar benefícios superiores aos outros tratamentos, além de tornar a gestação monoamniótica e todos os seus riscos envolvidos. Outra possibilidade de tratamento seria a redução seletiva através da coagulação ou oclusão do cordão umbilical de um dos fetos, com intuito de reduzir as complicações para o feto sobrevivente. No entanto, além de não ser permitido no Brasil, este procedimento só deve ser realizado em gestações precoces (menores que 20 semanas). Atualmente o tratamento através de fotocoagulação com laser é recomendado para os estágios II a IV, enquanto o tratamento ideal para o estágio I ainda é controverso. Após o tratamento com laser, existe um risco de recorrência da STFF ou evidência da sequência anemia-policitemia, que discutiremos a seguir. Outra complicação possível é a amniorrexe prematura, causa importante de interrupção precoce da gestação. O prognóstico após a fotocoagulação é consideravelmente melhor, com a sobrevivência perinatal de 66% e de 72% de pelo menos um dos gêmeos. No entanto, estudos prospectivos em longo prazo demonstraram que 12% apresentavam atraso neurológico aos seis anos de idade. Como não é possível ter certeza de que todas as anastomoses foram coaguladas após o tratamento com laser, recomenda-se o parto com 34 semanas. VIDEO_17_R4_GO_25 RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2016 FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP – UNICAMP – SP Dentre as opções de conduta para pacientes com síndrome de transfusão feto-fetal grave incluem-se, EXCETO: a) Confecção de shunt arteriovenoso seletivo. b) Amniodrenagem seriada. c) Septostomia. d) Ablação dos vasos placentários com laser. R. O objetivo do tratamento da STFF é retirar o shunt arteriovenoso, não criar um novo! Resposta: letra A. SEQUÊNCIA ANEMIA- POLICITEMIA DO GEMELAR OU SEQUÊNCIA TAPS (TWIN ANEMIA-POLYCYTHEMIA SEQUENCE) Mais recentemente, foi descrita uma outra forma de transfusão crônica de um gemelar para o outro, com diferenças significativas nos níveis de hemoglobina entre os dois. No entanto, na sequência TAPS não ocorre diferenças significativas do líquido amniótico entre os dois gemelares como ocorre na STFF. O mecanismo seria a presença de anastomoses arteriovenosas minúsculas, menores que 1 mm, o que levaria a uma transfusão mais lenta de sangue do doador para o receptor. A forma espontânea ocorre entre 3 e 5% das gestações monocoriônicas, mas já foi relatada em até 13% das gestações após tratamento da STFF com fotocoagulação por laser. Esta complicação ocorre normalmente em até cinco semanas do procedimento. O diagnóstico é feito através da avaliação da velocidade do pico sistólico da Artéria Cerebral Média (ACM) acima de 1,5 múltiplos da mediana (MoM) no feto doador, sugerindo anemia, e menor que 1,0 MoM no feto receptor, o que é compatível com policitemia. O rastreamento deve ser iniciado a partir de 20 semanas em ambos os fetos, através da avaliação da dopplervelocimetria da ACM. Figura 14. Visualização das anastomoses através da fetoscopia. linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz O prognóstico é bastante variável, podendo resultar no parto de dois recém-nascidos saudáveis ou até mesmo na morte dos dois fetos. Também já foi descrito um aumento de risco de atraso no desenvolvimento neurológico, identificado em até 20% dos casos. O tratamento deve ser sempre individualizado, levando em consideração principalmente a idade gestacional. É possível a conduta conservadora ou o parto precoce, mas caso opte-se pelo tratamento intraútero ele irá variar para os dois fetos: ➤ Feto doador (anêmico): ablação das anastomoses, transfusão intrauterina; ➤ Feto receptor (policitêmico): exsanguineotransfusão, para diluição do sangue. VIDEO_18_R4_GO_25 GÊMEO ACÁRDICO OU PERFUSÃO ARTERIAL REVERSA DO GEMELAR OU SEQUÊNCIA TRAP (TWIN REVERSE ARTERIAL PERFUSION) A sequência TRAP é uma complicação rara, que ocorre em 1% das gestações monozigóticas e possui uma incidência estimada de 1 para 35.000 nascimentos. O mecanismo dessa malformação complexa envolve a placenta monocoriônica com grandes anastomoses arterioarteriais entre a circulação dos dois fetos. Como consequência, ocorre a perfusão inadequada de um gêmeo. Um feto é estruturalmente normal (gêmeo doador ou "bomba"), enquanto o outro é muito malformado (gêmeo receptor). O gêmeo doador bombeia sangue de baixa pressão, desoxigenado, através da artéria umbilical para seu irmão receptor, via anastomose arterioarterial. Esse sangue desoxigenado chega para o receptor e perfunde preferencialmente a parte inferior do corpo em detrimento da superior, resultando em morfogênese incompleta e/ou deterioração de tecidos preexistentes, principalmente na metade superior do corpo As anomalias descritas são anencefalia, acardia, atresia intestinal, defeitos de parede abdominal e ausência de membros. O feto bomba está sob risco de desenvolver insuficiência cardíaca congestiva intrauterina de alto débito, já que seu coração normal está perfundindo dois corpos diferentes. Há risco de hidropisia (28%) e morte intrauterina (50%). São sinais de mau prognóstico no gêmeo bomba: regurgitação tricúspide, insuficiência cardíaca, hidropisia, dopplervelocimetria venosa anormal e anemia fetal. Os métodos de tratamento intrauterino visam interromper a comunicação vascular entre o gêmeo receptor e o doador. Podem ser utilizadas, com taxas de sucesso similares, duas formas: ➤ Coagulação a laser ou bipolar do cordão umbilical do feto acárdico guiados por fetoscopia; ➤ Termoablação por radiofrequência dos vasos do feto acárdico. VIDEO_19_R4_GO_25 (Figura 15). Figura 15. Sequência TRAP com feto receptor malformado. linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2019 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES – UFRN A presença simultânea de dois fetos no útero materno define a gestação gemelar, que é classificada de acordo com a corionicidade e o número de cavidades amnióticas. Considerando as complicações da gravidez gemelar, aquela que ocorre, exclusivamente, na gemelidade monocoriônica e diamniótica é: a) A síndrome de transfusão feto-fetal. b) O parto prematuro. c) O óbito fetal. d) A restrição de crescimento intrauterino. R. O parto prematuro, o óbito fetal e a restrição de crescimento intrauterino possuem incidência aumentada em todos os tipos de gestação gemelar, porém a síndrome de transfusão feto-fetal é exclusiva das gestações monocoriônicas. Resposta: letra A. RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2015 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ – UEPA – BELÉM – PA Gestante com 24 semanas procura o pronto atendimento obstétrico com queixa de desconforto respiratório. No exame físico, a ausculta pulmonar estava normal e no exame obstétrico, a altura uterina era de 35 cm. Foi realizada ultrassonografia demonstrando gravidez gemelar, sendo que um dos fetos apresentava peso de 700 gramas e o maior bolsão do líquido amniótico era de 14 cm, enquanto o outro feto apresentava peso de 450 gramas e o maior bolsão de líquido amniótico era de 1 cm. Diante este quadro, é CORRETO afirmar que trata-se de: a) Gestação monozigótica, monocoriônica e monoamniótica com síndrome de transfusão feto-fetal.b) Gestação monozigótica, monocoriônica e monoamniótica com gemelidade imperfeita. c) Gestação dizigótica, dicoriônica e diamniótica com superfetação. d) Gestação monozigótica, monocoriônica e diamniótica com síndrome de transfusão feto-fetal. e) Gestação dizigótica, monocoriônica e diamniótica com superfetação. R. Temos uma diferença de peso significativa entre os gemelares, sendo que um possui polidramnia e outro oligodramnia. A diferença de líquido amniótico já nos faz pensar em síndrome de transfusão feto-fetal, que normalmente ocorre nas gestações monocoriônicas diamnióticas. Além de ser infrequente nas monoamnióticas, este diagnóstico não é possível neste caso porque foi descrito o maior bolsão do líquido amniótico para cada feto – na gestação monoamniótica, o líquido é o mesmo para os dois. Resposta: letra D. ACOMPANHAMEN TO PRÉ-NATAL O objetivo principal do acompanhamento pré-natal na gestação gemelar é identificar e intervir precocemente nas complicações, que possuem incidência elevada nesta população. A maior preocupação é com o trabalho de parto prematuro, sendo importante avaliar a presença de atividade uterina precoce e dilatação cervical. O número de consultas pré-natais deve ser ampliado, mas não existe uma recomendação universal sobre a sua frequência. A hospitalização ou repouso domiciliar não são capazes de prolongar a gestação gemelar e não são recomendadas rotineiramente. Da mesma forma, não há indicação de tocólise ou corticoterapia profiláticas em pacientes assintomáticas. Estas intervenções só estão recomendadas caso haja sinais clínicos de trabalho de parto prematuro. linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz Conforme mencionado anteriormente, o uso de progesterona vaginal ou intramuscular, o uso de pessário e a cerclagem não foram capazes de reduzir a incidência de parto pré-termo em gestações gemelares e não está recomendada, mesmo que a paciente apresente colo curto na ultrassonografia de segundo trimestre. Existem diversas recomendações para avaliação da vitalidade fetal e muitas delas são específicas para a complicação apresentada. A International Society of Ultrasound in Obstetrics and Gynecology (ISUOG) publicou uma recomendação de acompanhamento ultrassonográfico rotineiro das gestações gemelares, que varia de acordo com a corionicidade A avaliação ultrassonográfica da gestação monocoriônica é mais frequente, com objetivo de identificar precocemente complicações exclusivas deste tipo de gestação gemelar, como STFF e TAPS. VIDEO_20_R4_GO_25 PARTO A elevada frequência de apresentações anômalas, de discinesias uterinas, de distocias posicionais e de acidentes específicos da gestação múltipla (trabalho de parto prematuro, amniorrexe prematura, prolapso de cordão umbilical, descolamento prematuro de placenta, atonia uterina, hemorragia pós-parto e prematuridade) pioram o prognóstico fetal no parto. A fase latente do trabalho de parto gemelar tem duração mais curta e as disfunções da atividade uterina ocorrem com maior frequência. O manejo ativo do trabalho de parto com ocitocina e (Figuras 16 e 17): Figura 16. Acompanhamento ultrassonográfico da gestação gemelar dicoriônica. Figura 17. Acompanhamento ultrassonográfico da gestação gemelar monocoriônica. MBV: Maior Bolsão Vertical. ACM (PS): velocidade do pico sistólico da artéria cerebral média. linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz amniotomia, na ausência de contraindicações não se mostram prejudiciais, desde que haja monitorização fetal contínua e equipe cirúrgica completa e disponível para os casos de emergência. A indução do parto gemelar com prostaglandinas, no entanto, possui uma contraindicação relativa e muitos autores não a recomendam. No Brasil, há uma forte tendência à prática de cesariana para interrupção da gestação gemelar. Em linhas gerais, as indicações de cesariana são as mesmas da gestação única, acrescidas de algumas situações especiais inerentes à gestação gemelar. A taxa de cesariana em gestação gemelar cresce paralelamente à taxa de cesariana para fetos únicos. No entanto, não há, na literatura atual, respaldo para a indicação da via alta em todos os casos de gestação gemelar. O parto normal sempre foi associado à menor mortalidade materna e ao menor risco de complicações no pós-parto imediato. Cabe aqui a lembrança de que a definição sobre a vantagem de uma via sobre a outra no parto gemelar ainda carece de evidências. O momento ideal do parto em gestações gemelares não complicadas é definida pela corionicidade e amnionia: ➤ Gestação gemelar dicoriônica: 38 semanas; ➤ Gestação monocoriônica diamniótica: 36 semanas; ➤ Gestação monocoriônica monoamniótica: entre 32 e 34 semanas. VIDEO_21_R4_GO_25 VIA DE PARTO A via de parto da gestação gemelar deve ser cuidadosamente avaliada face ao risco aumentado de complicações materno- fetais. O conhecimento do número de fetos, de sua vitabilidade, situação, apresentação e estimativa de peso, da corionicidade e do volume de líquido amniótico são essenciais para indicação da via de parto mais adequada. A integridade das bolsas amnióticas, condições do colo uterino e a paridade são outros fatores determinantes para escolha da via de parto. Gestações trigemelares ou multifetais, gêmeos monoamnióticos, gêmeos unidos e casos de transfusão feto-fetal são consideradas indicações de cesariana eletiva. As gestações trigemelares ou múltiplas se associam frequentemente às apresentações fetais anômalas, à prematuridade, ao prolapso de cordão e à hemorragia pela separação das placentas. As gestações monoamnióticas podem ser complicadas por prolapso ou enovelamento de cordões e colisão de partes fetais. Todas estas situações se associam a risco especialmente elevado de complicações durante o trabalho de parto e o parto vaginal, o que justifica a exposição materna à maior morbidade atribuída à cesariana. Alguns fatores são considerados de maior relevância na escolha da via de parto. São eles: ➤ Viabilidade dos fetos; ➤ Apresentação dos fetos; ➤ Estimativa de peso dos conceptos; ➤ Paridade. Na internação da gestante deve ser realizada a avaliação ultrassonográfica dos fetos a fim de nortear a conduta sobre a via de parto. Também pode ser de utilidade no trabalho de parto e parto quando há incertezas a respeito da apresentação e vitalidade do segundo gemelar. Fatores que interferem na escolha da via de parto: VIABILIDADE DOS FETOS Nos casos em que os conceptos são considerados inviáveis, como na idade gestacional menor que 24 semanas, o parto deve ser vaginal. APRESENTAÇÃO DOS FETOS Atualmente, é o parâmetro mais importante para determinar a via de parto. Em ordem de frequência, as modalidades de apresentação do primeiro e do segundo gemelar são: ➤ Cefálico-cefálico: 42 a 54%; ➤ Cefálico-pélvico: 27%; ➤ Cefálico-transverso: 18%; ➤ Pélvico-pélvico: 5%; ➤ Outras: 8%. A apresentação do primeiro gemelar, ou seja, que possui a apresentação mais próxima do colo uterino, é a mais importante na decisão pela melhor via de parto a ser assumida. ➤ Cefálico/Cefálico: É a modalidade mais comum e mais associada ao sucesso do parto vaginal. Na ausência de contraindicações, o parto vaginal ainda é a via preferencial. A cesariana eletiva não melhora o prognóstico fetal nestes casos. ➤ Cefálico/não cefálico: A via preferencial de parto é bastante controversa quando o primeiro feto está em apresentação cefálica e o segundo não. Entretanto, a literatura parece ser favorável à realização do linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz parto por via vaginal. Nestes casos, o parto vaginal do segundo gemelar requer frequentemente manobras obstétricas mais arrojadas que aumentam a incidência de complicações como sofrimento fetal agudo, descolamento de placenta e prolapso de cordão umbilical. O delivramento do segundo gemelar não cefálico pode se dar através de parto pélvico espontâneo assistido, extração pélvica total com ou sem versão podálica interna associada ou versão externa com parto em apresentação cefálica. Um estudo multicêntrico incluiu mais de2.000 mulheres com gestações gemelares diamnióticas em que o primeiro feto estava cefálico e randomizou a via de parto entre cesariana eletiva e parto vaginal. Neste estudo não houve diferença nos resultados maternos e perinatais dos dois grupos. ➤ Não cefálico/cefálico e não cefálico/não cefálico: A via de parto normalmente recomendada quando o primeiro gemelar encontra-se em apresentação não cefálica é a cesariana. A colisão de partes fetais ou locked twins é rara, porém preocupante. Pode ocorrer quando o primeiro gemelar está em apresentação pélvica e o segundo em apresentação cefálica pelo entrave do mento de um dos fetos entre o pescoço e mento do outro. ESTIMATIVA DE PESO Deve-se atentar para a presença de diferença significativa entre os pesos fetais estimados quando as apresentações são cefálica/não cefálica. No caso de um segundo gemelar 25% maior do que o primeiro está indicada a cesariana. Alguns autores também recomendam a cesariana quando a diferença de peso do segundo gemelar é maior que 500 g em relação ao peso do primeiro. De forma análoga, em casos que o segundo gemelar pesa menos de 1.500 g, a cesariana também é frequentemente a via preferencial. PARIDADE A primiparidade nas gestações gemelares é associada a um maior índice de cesariana após prova de trabalho de parto. No entanto, não deve ser considerada isoladamente como fator indicativo para a escolha da via de parto. A resume a via de parto na gestação gemelar. VIDEO_22_R4_GO_25 PARTO VAGINAL Após o nascimento do primeiro gemelar, o cordão deve ser pinçado e manipulado cuidadosamente para que não haja sangramento no seu segmento placentário. A parturiente deve ser examinada minuciosamente e, idealmente, a ultrassonografia deve ser empregada para definição da apresentação do feto remanescente. É importante afastar a presença de prolapso de cordão do segundo gemelar. O feto deve ser monitorado de forma contínua e as distócias uterinas devem ser corrigidas. A amniotomia é realizada quando o segundo feto estiver insinuado e houver segurança para praticá-la. Em caso da necessidade de aplicação de manobras obstétricas, como versão e grande extração o útero deve estar bem relaxado, com anestesia adequada ou mesmo com uso de nitroglicerina venosa. O tempo máximo de intervalo entre o nascimento do primeiro e segundo gemelar não é bem definido na literatura. Em mais da metade dos casos, este intervalo não ultrapassa 15 minutos. Classicamente, o tempo máximo considerado seguro era de 30 minutos, mas estudos atuais demonstram que não há limite de tempo, desde que o bem-estar fetal esteja assegurado pela monitorização intraparto contínua. VIDEO_23_R4_GO_25 Figura 18 Figura 18. Via de parto na gestação gemelar. (Figura 19), Figura 19. Versão interna. linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz CESARIANA PARA O SEGUNDO GEMELAR APÓS PARTO NORMAL DO PRIMEIRO A conversão de um parto gemelar para cesariana, em atitude de emergência após nascimento do primeiro feto pela via vaginal, é difícil de ser prevista. A incidência é variável e depende do perfil de cada serviço, podendo ocorrer em até 17% dos partos. O segundo gemelar muda de posição após o nascimento do primeiro em pelo menos 20% dos casos, o que torna o manejo do segundo parto muitas vezes imprevisível. Desta forma, o segundo feto está exposto a uma maior taxa de complicações, que resulta num maior risco de asfixia intraparto e menor índice de Apgar no 5º minuto. As complicações mais importantes e citadas como causas da cesariana para o segundo gemelar incluem: prolapso de cordão, apresentação atípica do segundo gemelar, sofrimento fetal agudo, desproporção cefalopélvica, espasmo do colo uterino e complicações maternas. VIDEO_24_R4_GO_25 linktr.ee/kiwifz Telegram:@kiwifz
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