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Giardíase INTRODUÇÃO É uma doença infecciosa causada pelo protozoário giárdia. em 2004, a infecção por Giardia foi inserida no grupo WHO Neglected Diseases riative que reúne doenças negligenciadas nos países em desenvolvimento e que guardam estreita relação com a pobreza, com a falta de saneamento básico e com a qualidade da água de consumo. Esse parasita foi o primeiro protozoário intestinal descrito, em 1681. EPIDEMIOLOGIA A giardíase está distribuída por todo o planeta, sobretudo em regiões tropicais e subtropicais. Estima-se uma prevalência de 2-5% nos países desenvolvidos e de 20-30% em subdesenvolvidos. A transmissão pela água tem fator determinante na infecção em países subdesenvolvidos, devido a falta de saneamento básico e precárias condições de moradia. Além disso a giárdia é o mais comum de infecções em animais de companhia, como cães e gatos. No Brasil sua prevalência varia de 12,4% a 50%, variando pela região e da faixa etária pesquisada, predominando nas crianças entre zero e seis anos. ETIOLOGIA O protozoário do gênero Giardia possui algumas espécies, sendo elas G. duodenalis que infecta vários mamíferos inclusive o homem, também chamada de Giardia intestinales, ou Giardia lamblia. MORFOLOGIA Do ponto de vista estrutural, a giárdia é um organismo simples, composto por núcleo envolto por carioteca, citoesqueleto complexo e vacúolos lisossômicos. Porém não possuem mitocôndrias, peroxissomos e um complexo de Golgi característico. Possui 2 formas evolutivas, o trofozoíto, e o cisto – as duas formas são eliminadas nas fezes, sendo que em formas diarreicas o trofozoítos e em forma noral os cistos. TROFOZOÍTO -> é encontrado no intestino delgado, sendo a forma responsável pelas manifestações clínicas da infecção. Tem formato piriforme, e 4 pares de flagelos, um par anterior e um posterior. Na sua face ventral, possui uma ventosa (disco adesivo) formado por microtúbulos e microfilamentos compostos por a e beta-tubulinas e por proteínas denominadas giardinas, que permitem a adesão do parasito à mucosa intestinal. No interior do trofozoíto há 2 núcleos. C ISTO -> forma infectante, é oval com parede cística resistente às temperaturas, umidade e a produtos químicos desinfetantes. No seu interior possui de 2 a 4 núcleos. CICLO BIOLÓGICO Ciclo monoxênico, via de transmissão pela ingestão de cistos (10 a 100 formas já são suficientes para desencadear a infecção). Após a ingestão, há o desencistamento, iniciado com pH ácido do estômago e se completa no duodeno e jejuno. Cada cisto libera uma forma oval com 8 flagelos e 4 núcleos chamada excitozoíto, que dão origem a 4 trofozoítos binucleados. Os trofozoítos se dividem por divisão binária, colonizando o intestino, onde ficam aderidos à parede intestinal por meio dos adesivos. O parasita sofre encistamento e é eliminado ao meio exterior. Ao redor do trofozoíto é excretada pelo parasito uma membrana cística resistente, que tem quitina na sua composição. No interior do cisto :ocorre nucleotomia, podendo ele apresentar-se então com : quatro núcleos. Os cistos produzidos são excretados juntamente com as fezes do hospedeiro, podendo permanecer viáveis por vários meses no meio ambiente, desde que em tradições favoráveis de temperatura e umidade. TRANSMISSÃO Ingestão de cistos por via fecal-oral. Ocorre por água e alimentos contaminados, infecção acidental (atividades recreativa. Além da transmissão hídrica, a transmissão direta de pessoa a pessoa, por meio das mãos contaminadas, é comum em locais de aglomeração humana (creches, orfanatos, escolas, asilos, presídios etc), especialmente, quando desprovidos de condições sanitárias adequadas. Nas escolas e creches, as crianças parasitadas constituem fontes de infecção, podendo transmitir o parasito às outras crianças e aos seus familiares, além de contaminarem o ambiente. Além disso, a transmissão direta tem importância entre homossexuais masculinos que em geral se infectam pelo contato oral-anal. IMUNIDADE Apesar de uma imunidade protetora ainda não ter sido demonstrada de forma conclusiva nas infecções humanas por Giardia, o desenvolvimento de resposta imune tem sido sugerido a partir de evidências, como: (1) a natureza autolimitante da infecção; (2) a detecção de anticorpos específicos anti-Giardia nos soros de indivíduos infectados; (3) a participação de monócitos citotóxicos na modulação da resposta imune; (4) a maior suscetibilidade de indivíduos imunocomprometidos à infecção, especialmente aqueles que apresentam hipogamaglobulinemia; (5) a menor suscetibilidade dos indivíduos de áreas endêmicas à infecção, quando comparados com os visitantes; (6) a ocorrência de infecção crônica em modelos animais atímicos ou tratados com drogas que deprimem a resposta humoral. Anticorpos IgG, IgM e IgA anti-Giardia têm sido detectados no soro de indivíduos com giardíase, no entanto, o papel destes anticorpos na imunidade protetora ainda não foi totalmente elucidado. Sugere-se que o IgA é capaz de reconhecer proteínas presentes no disco adesivo dos trofozoítos e assim, interferir na capacidade de adesão do parasito à superfície das células do epitélio intestinal. . Há atuação de monócitos, mastócitos e células TCD4. A mucosa intestinal é uma barreira inata de proteção A recorrência da giardíase e as infecções crônicas podem estar associadas à variação antigênica do parasito. Este fenômeno que se caracteriza pela eliminação e troca de antígenos de superfície. PATOGENIA A forma de interação do parasita com o hospedeiro depende da cepa, a carga parasitária, da dieta, do pH intestinal e gástrico, da concentração de sais biliares, e do estado nutricional. A giárdia desencadeia mudanças morfológicas e fisiológicas, altera a mucosa intestinal eo arranjos das microvilosidades (achatamento, lesões ou atrofia). O processo inflamatório da resposta imune frente ao hospedeiro na mucosa pode atuar nessas alterações. A ação dos linfócitos t induz a retração das vilosidades, ocasionando a má absorção, deficiência das dissacaridases e diarreia. Além disso, há a possibilidade de que substâncias secretadas e/ou excretadas pelos trofozoítos possam atuar como toxinas sobre a mucosa duodenal do hospedeiro, alterando as vilosidades e, desta forma, inibindo a absorção de nutrientes e a atividade enzimática. Além disso, há a possibilidade da resposta inflamatória ser em resposta a essas toxinas proteolíticas. QUADRO CLINICO SINTOMATOLÓGICO A giardíase apresenta um espectro clínico diverso que inclui desde indivíduos assintomáticos até pacientes sintomáticos que podem apresentar um quadro de diarreia aguda e autolimitante, ou um quadro de diarreia persistente, com evidência de má absorção e perda de peso, que muitas vezes não responde ao tratamento específico, mesmo em indivíduos imunocompetentes. A maioria das infecções é assintomática e ocorre tanto em adultos quanto em crianças. • 50% dos indivíduos a infecção é resolvida de forma espontânea; • 5 a 15% a infecção é assintomática e o indivíduo pode eliminar cistos nas fezes por um período de até 6 meses, enquanto um grupo menor pode; apresentar sintomas decorrentes de uma infecção aguda ou crônica. Geralmente, em primoinfecção, a ingestão de um elevado número de cistos é capaz de provocar diarreia do tipo aquosa, explosiva, com odor fétido, acompanhada de gases com distensão e dores abdominais. Muco e sangue raramente aparecem nas fezes. Essa forma aguda dura poucos dias e seus sintomas iniciais podem ser confundidos com os quadros associados às diarreias virais e bacterianas. Nas infecções crônicas, os sintomas podem persistir por muitos anos, manifestando-se com episódios de diarreia contínuos, intermitentes ou esporádicos. A diarreia pode vir acompanhada de esteatorreia, perda de peso e má absorção nutricional. As principais complicações se relacionam com a má absorçãolipídica e de vitaminas lipossolúveis (AEDK), vit B, ferro, lactose. Na infância esses efeitos podem comprometer o desenvolvimento físico e cognitivo. DIAGNÓSTICO Por inexperiência técnica, muitas vezes as giardíases são confundidas por viroses e bacterioses CL ÍN ICO -> crianças até 12 anos = diarreia com esteatorreia, irritabilidade, insônia, náuseas e vômitos, perda de apetite (acompanhada ou não de emagrecimento) e dor abdominal.. LABORATORIAL ->Coproparasitológico -> identificação das formas evolutivas do parasito (trofozoítos e/ou cistos) • Aspectos importantes o Amostra líquida – trofozoítos morrem em 15-20 min, logo deve ser coletada em material com formol a 10%, MIF ou SAF. o Amostra sólida – se a amostra for demorar mais de 48 para análise, deve ser mantida armazenada a 4°C por no máximo 1 semana. o O padrão intermintente de liberação de cistos (10-10 dias) pode gerar um resultado falso-negativo. Além do mais cada indivíduo tem um padrão de excreção de cistos. o Recomenda-se para o diagnóstico de rotina, o exame de pelo menos três amostras fecais obtidas em dias alternados. Com esta conduta, a positividade do exame de fezes pode ser superior a 85%. Fluido duodenal -> Entero-Test = o paciente em jejum ingere uma cápsula gelatinosa que contém um fio de náilon enrolado, porém com uma das extremidades livres. Decorridas 4 horas após a ingestão, o fio é retirado pela ponta livre não ingerida e o muco aderido é coletado para o exame a fresco (lugol) ou em esfregaços corados com hematoxilina férrica.. Biópsia jejunal -> identificar o parasito na mucosa intestinal. IMUNOLÓGICO -> II e ELISA -> Nessas reações, anticorpos IgG permanecem elevados por um longo período, o que impede a distinção entre infecções passadas e recentes, dificuldando o diagnóstico nas áreas endêmicas A detecção de antígenos nas fezes (coproantígenos) empregando a técnica de ELISA tem demonstrado resultados satisfatórios. Atualmente, vários dos ensaios desenvolvidos são comercializados como kits e têm demonstrado sensibilidade de 85 a 95% e especificidade de 90 a 100%. PCR -> alta sensibilidade e especificidade, sem precisar isolar a manutenção in vitro. TRATAMENTO O tratamento da infecção tem sido uma das principais alternativas adotadas para o controle da giardíase. Atualmente, as principais drogas empregadas no tratamento da infecção incluem • compostos derivados dos 5-nitroimidazóis (metronidazol, tinidazol, omidazol, secnidazol), • nitrofuranos (furazolidona), • corantes de acridina, • Benzimidazóis (albendazol) • mais recentemente, dos 5-nitrotiazóis uma questão que deve ficar atento é quanto aos efeitos colaterais, principalmente em crianças (em que são comuns reinfecções). O metronidazol tem sido a droga de escolha, eliminando os parasitos de 80-95% dos infectados. Os efeitos colaterais são diversos, como náuseas, vômitos, vertigens, gosto metálico desagradável ao paladar, glossite, dores de cabeça, urticária e pancreatites ocasionais e, em alguns pacientes, complicações como toxicidade para o sistema nervoso central. Há potencial mutagênico observado em bactérias e roedores em casos de uso prolongado, além de certa resistência de cepas de giárdia. O albendazol é um anti-helmintico com atividade giardicida, frequentemente prescrito. Considerando a alta toxicidade sistêmica da maioria dos medicamentos adotados, atualmente, a paromomicina apresenta-se como uma alternativa mais segura para o tratamento da infecção durante a gestação. PROFILAXIA São recomendadas medidas de higiene pessoal (lavar as mãos), destino correto das fezes (fossas, rede de esgoto), proteção dos alimentos e tratamento da água (filtros de areia e de terra diatomácea são capazes de remover os cistos, a cloração e a fervura são eficientes para matar os cistos) É recomendável verificar o parasitismo por Giardia nos animais domésticos e tratá-los. Além disso, é importante o tratamento precoce do doente, procurando- se também diagnosticar a fonte de infecção (crianças sem sintomatologia, babás, manipuladores de alimentos etc.) e tratá-la. Amebíase INTRODUÇÃO Doença infecciosa causada pelo protozoário Entamoeba histolytica. A espécie Entamoeba díspar normalmente está associada aos casos assintomáticos, assim como a Entamoeba moshkovskii, embora já e tenha o conhecimento de alguns casos de colite não desintérica causada por E. díspar. O parasita coloniza o intestino grosso, mas pode migrar para fígado, pulmão, cérebro, constituindo as formas extraintestinais. EPIDEMIOLOGIA A amebíase é a segunda causa de mortes parasitáris no mundo, perdendo apenas para a malária. Estima-se que 650 milhoes de pessoas sejam infectados e apenas 10% com formas invasoras. Observa-se maior prevalência nas regiões tropicais e subtropicais e coincide com o mais baixo ni ́vel socioeconômico e higiênico-sanitário A ocorrência muito característica de amebíase de forma endêmica em áreas de alta prevalência deve-se, provavelmente, às reinfecções. Os surtos epidêmicos não são comuns e, quando presentes, são devidos à contaminação intensa da água usada para bebida No brasil há grande variação de acordo com a região. No Sul e Sudeste do país, a prevalência varia de 2,5 a 11%, na região Amazônica atinge até 19%, e nas demais regiões fica em tomo de 10%. Há, no entanto, uma variação muito grande da incidência da doença, de acordo com as condições sanitárias e socioeconômicas da população, principalmente com relação às condições de habitação, presença de esgotos e água tratada. Os surtos de amebíase no Brasil não apresentam a gravidade e a intensidade dos verificados no México, de alguns países da África e da Ásia. Predominam aqui as formas de colites não disentéricas e os casos assintomáticos. Na região Amazônica, a amebíase difere das outras regiões do país, pois, além de ser mais prevalente, manifesta-se com mais gravidade. São frequentes as formas disentéricas e os abscessos hepáticos, que, por sua vez, são raros em outras regiões, principalmente Sudeste e Sul do país Apesar de ocorrer em crianças é mais comum em adultos. Profissionais que trabalham com esgoto são mais suscetíveis. Os cistos permanecem viáveis (ao abrigo da luz solar e em condições de umidade) durante cerca de 20 dias. ETIOLOGIA As Entamoebas são protozoários eucariotos, unicelulares e se deslocam por pseudópodes. Existem sete espécies de amebas que são parasitos naturais do homem, e todas as espécies do gênero Entamoeba vivem no intestino grosso de humanos ou de animais, à exceção da Entamoeba moshkoviskii, que é uma ameba de vida livre e E. gingivalis que vive na boca. Esse gênero tem a característica de possuir núcleo esférico e vesiculoso, com a cromatina periférica formando grãnulos dispostos na membrana nuclear, lembrando a roda de carroça. As Entamoebas se dividem em 3 grupos, de acordo com a quantidade de núcleos em seus cistos -8 = E. coli -4= hystolitica, díspar e moshkoviskii -1 (não parasita humanos). MORFOLOGIA A distinção entre as espécies é difícil, pois nenhuma delas se diferencia facilmente das demais, principalmente nos trofozoítos a fresco. • E. coli Trofozoíto com 20 – 50 micrõmetros, núcleo grande com cromatina grosseira e irregular. O cisto contém até 8 núcleos e os corpos cromatóides são fins como feixes. • E. hitolytica e E. díspar O trofozoíto tem formato irregular, núcleo único os cistos são geralmente esféricos com até 4 núcleos e cariossoma puntiforme. Pré-cisto = É uma fase intermediária entre o trofozoíto e o cisto. É oval ou ligeiramente arredondado, menor que o trofozoíto. O núcleo é semelhante ao do trofozoíto. No citoplasma podem ser vistos corpos cromatoides, em forma de bastonetes, com pontas arredondadas. Metacisto = É uma forma multinucleada que emerge do cisto no intestino delgado, onde sofre divisões, dando origemaos trofozoítos. CICLO BIOLÓGICO Os trofozoítos da E. histolytica normalmente vivem na luz no intestino grosso podendo, ocasionalmente, penetrar na mucosa e produzir ulcerações intestinais ou em outras regiões do organismo, como fígado, pulmão, rim e, mais raramente, no cérebro. São essencialmente anaeróbios. Contudo, amebas são hábeis para consumir oxigênio, podendo crescer em atmosferas contendo até 5% de oxigênio. O catabolismo da glicose difere consideravelmente da maioria das células eucariotas animais, pois não possuem mitocôndrias, citocromos e ciclo do ácido cítrico. Na glicólise anaeróbica operam enzimas não usuais, sendo produzido sob essas condições etanol, CO, e ATP. A locomoção se dá através de pseudópodes, e a ingestão de alimentos por fagocitose (partículas sólidas: hemácias, bactérias ou restos celulares) e por pinocitose (ingestão de partículas líquidas). A multiplicação se dá através de divisão binária dos trofozoítos. O ciclo de vida é monoxênico. São ingeridos, resistem à acidez estomacal e no intestino são desincestados. Liberam -se os metacistos que se dividem formando 8 trofozoítos metacísticos. Eles migram ao intestino grosso e passa a viver de forma comensal. Podem se desprender da parede do cólon e sofrer o encistamento novamente, sendo liberados nas fezes. Quando o equilíbrio parasito- hospedeiro é desbalanceado, há a invasão da submucosa intestinal, com multiplicaão intensa no interior das úlceras. Podem migrar para a circulação e chegar ao fígado, pulmão, cérebro ou pele. Dentro dos tecidos, não há encistamento, mas intensa atividade hematofágica. TRANSMISSÃO A transmissão da amebíase se dá pela ingestão dos cistos da E. histolytica por meio da água e de vegetais frescos e frutos contaminados. A transmissão direta fecal-oral é mais comum em presídios, hospitais de doentes mentais e asilos, em condi- c ̧ões de absoluta falta de cuidados higiênicos primários. Pode também ser transmitida sexualmente, especialmente entre os homossexuais masculinos. A falta de higiene em casa pode favorecer a transmissão. Os cistos são resistentes ao pH ácido estomacal, e sobrevivem viáveis e infectantes nas fezes por alguns dias. Podem ser mortos pela dessecação, pelo calor e por cloração adequada da água. Os trofozoítos não sobrevivem em fezes e são destruídos no pH intestinal. PATOGENIA Dentre os fatores diretamente ligados ao meio onde as amebas vivem, destaca- se a microbiota bacteriana associada. Determinadas bactérias, principalmente anaeróbicas, são capazes de potencializar a virulência de cepas de E. histolytica, cujos mecanismos envolvidos nesta interação são ainda especulativos. Dentre estas bactérias encontramse várias cepas de Escherichia coli, Salmonella, Shiguela, Enterobacter e Clostridium. Outros fatores, como o colesterol, passagens sucessivas em diversos hospedeiros ou reinfecções sucessivas, podem aumentar a sua virulência Tudo indica que a E. histolytica tem um efeito letal direto sobre a célula, necessitando, para isso, que haja inicialmente uma forte adesão entre a ameba e a célula que será lesada (Figura 15.4). Esta adesão parece estar mediada por lectinas contidas na superfície das amebas, sendo auxiliadas por formações filopódicas que ampliam a adesão, logo seguida pela fagocitose. A lectina Gal/GalNac se destaca na adesão da ameba à célula-alvo. Uma vez vencida a barreira epitelial, os movimentos ameboides e a liberação de enzimas proteolíticas (hialuronidases, proteases e mucopolissacaridases) favorecem a progressão e a destruição dos tecidos. Dentre as muitas enzimas produzidas por E. histolytica, as cisteíno proteases constituem importantes efetoras da lesão tecidual. Outra ferramenta usada pela E. histolytica para lesionar os tecidos são os amebaporos, induzindo apoptose e lise osmótica da célula-alvo. À medida que a lesão progride, a superfície mucosa sobrejacente é privada de fluxo sanguíneo, sendo, por fim, necrosada, com perfuração da parede intestinal e infecção sistêmica.. Na submucosa, as amebas podem progredir em todas as direções, determinada inicialmente a típica ulceração chamada “botão de camisa”. Estas são resultado da necrose liquefativa produzida inicialmente pelas amebas, podendo haver invasão bacteriana secundária, agravando a lesão. As lesões são mais comuns no ceco e retrossigmoide. As úlceras variam de tamanho. E podem atingir grande porção intestinal, levando até a quadrosde peritonite fecal. No início da invasão tecidual a imunidade inata do hospedeiro exerce importante papel. Os enterócitos reconhecem moléculas antigênicas de padrão moleculares associadas ao patógeno, abreviada como PAMPs. Após o reconhecimento dos PAMPs pelos receptores, ocorrem ativação intracelular e liberação de citocinas pró-inflamatórias e fatores solúveis, como as interleucinas 1 , 6 e 8 (IL-1, IL-6 e IL-8), o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), o fator estimulador de granulócitos e macrófago (GMCF), entre outras. Neutrófilos e monócitos são rapidamente recrutados, ativados em resposta a estes fatores e lisados pelos trofozoítos, ocorrendo então a liberação de mediadores químicos provenientes de seus grânulos citoplasmáticos, resultando em dano tecidual e necrose. Mediadores químicos como histamina, prostaglandinas, leucotrienos, quininas e citocinas pró- inflamatórias induzem alteração intestinal, dificultando a absorção intestinal. Ao final da doença há a formação de um tecido granulomatoso angiogêncico, indicando a cura. QUADRO CLINICO Período d e Incubação é muito variável - de 7 dias até anos e bastante difícil de ser determinado. No entanto mais comumente situa-se entre 2 a 4 semanas. Amebíase assintomática = 80 a 90% e a infeção só é identificada pela presença de parasitos nas fezes. Amebíase intestinal Forma desintéica – 8 a 10 episódios de evacuações diarreicas mucossanguinolentas, cólicas, tremosres de frio. As complicações sçao perfurações, peritonite, hemorragia, colite, apendicite, ameboma. Forma não-desintérica – é a forma clinica mais frequente. 2 a 4 evacuações diarreicas, fezes moles a pstosas, com muco ou sangue. Pode haver desconforto abdominal ou cólica, e geralmente não apresenta fezes. Amebíase exratintestinal Hepática – comum em homens de 20 a 60 anos. Os fatores de risco são imunossupressão, uso de álcool lesões hepatoceulares. São lesões úncas ou solitárias, mais couns no lobo direito do fígado.. há dor (quandrante superior do abdome), febre, e hepatomegalia, anorexia, emagrecimentoe febre. O abscesso hepático pode se romper para a cavidade peritoneal ou torácica. Pleuro-pumonar – é rara, mais comum em alcóolatras e cardiopatas. Febre, dor trácica direita, tosse e expectoração com pus, odor fétido. Diagnoóstico Cerebral – disseminação hematogênica.. há progressão rápida para óbito se não tratada. Cutânea – lesões ulcerativas no rosto, períneo, órgão genitais. DIAGNÓSTICO Clinico - Manifestações clínicas atribuídas à E. histolytica podem ser errôneas devido a grande superposição de sintomas comuns à várias doenças intestinais e este só deverá ser considerado definitivo pelo encontro de parasitos nas fezes. No abscesso hepático, além da tríade já descrita, pode-se fazer o diagnóstico usando-se raios X, cintilografia, ultrassonografia e tomografia computadorizada. Esses métodos podem, em mais de 95% dos casos, mostrar claramente a localização, o número e a evolução do abscesso. O abscesso amebiano no fígado apresenta-se geralmente com uma única lesão em 80% dos casos; 83% deles estão localizados no lobo direito. Não é comum a invasão bacteriana.. Diagnóstico Laboratorial - usualmente é feito com fezes, soros e exsudatos. Embora o exame de fezes seja laborioso, consuma muito tempo na sua execução e dependa da competência do microscopista, é, sem dúvida, o mais usado. Tem como objetivo identificar trofozoítos ou cistos.A coleta e o condicionamento das fezes são muito importantes; deve ser coletada sem urina e sem contaminação com outros materiais e nunca após contato com o solo, pois pode haver contaminação com amebas de vida livre. As fezes podem ser coletadas em conservadores, como Schaudinn, SAF, álcool prolivinílico, quando estão liquefeitas ou diarreicas e em formol a 10%, MIF, SAF, quando são formadas ou pastosas. As fezes devem ser colocadas no fixador, tão logo sejam emitidas e na proporção de uma parte de fezes para três de conservante; devem ser bem homogeneizadas, para que o conservante atinja todo o material coletado. A verificação do aspecto e da consistência das fezes é muito importante, principalmente se ela é disentérica e contém muco e sangue. A utilização de fezes liquefeitas após o uso de purgativos (fezes purgadas) é frequente e, em muitos casos, aumenta a positividade dos exames. Nas fezes purgadas, o diagnóstico diferencial entre os trofozoítos é um pouco dificultado, pois muitas vezes a cromatina e o cariossoma ficam mais grosseiros Fezes Liquefeitas - O exame direto das fezes sem conservante é muito importante na distinção entre a disenteria amebiana e a bacilar. Nesta última, o número de evacuações é sempre maior, com tenesmo intenso e grande número de piócitos e hemácias intactas. Isto normalmente não ocorre na disenteria amebiana. O exame a fresco das fezes deve ser feito tão logo ela seja emitida, após no máximo, 20 a 30 minutos, pois tem como objetivo o encontro dos trofozoítos. O diagnóstico diferencial baseia-se principalmente no movimento, na presença de hemácias fagocitadas. Quando o exame direto não puder ser feito rapidamente, as fezes devem ser coletadas e colocadas nos conservantes fixadores. O Schaudinn é muito eficiente, porém muito tóxico e perigoso; só deve ser usado quando as fezes forem coletadas em hospital ou laboratório para evitar acidentes Fezes Formadas - Nas fezes formadas ou normais, o diagnóstico laboratorial é feito pelo encontro dos cistos, utilizando-se técnicas de concentração. São muitas as técnicas de concentração; estão baseadas em dois princípios: (1) flutuação em solução de alta densidade, como a solução de sulfato de zinco a 33% e densidade 1.180. Esta técnica é usada no método de Faust e cols. (2) centrifugação em éter: métodos de MIF e form ol-éter. Além dessas técnicas, pode-se usar também o exame direto em que as fezes são diluídas com salina e coradas com lugol ou pelos métodos de sedimentação espontânea em água (método de Lutz, Hoffmam, Pons e Janer). Os métodos de MIF, formol-éter ou Faust apresentam resultados muito semelhantes e detectam de 80 a 90% dos cistos. O método de Faust é mais difícil de ser feito, razão pela qual preferimos os métodos de MIF ou formol-éter. Recomenda-se sempre fazer o exame direto como triagem, seguido do MIF, formol-éter ou Faust. Se necessário, faz-se coloração pela hematoxinina férrica. A utilização de substâncias como tetraciclinas, hidróxido de magnésio, óleos minerais, antidiarreicos (como caulim ou bismuto) e contraste radiológico (sulfato de bário) podem falsear ou dificultar os exames. Em vista disso, recomenda-se fazer o exame de fezes 10 dias após terem sido administradas. Como a eliminação dos cistos é intermitente e irregular, aconselha-se coletar as fezes em dias alternados e colocá-las em conservantes. Um bom método, e muito utilizado, é coletar as fezes em solução de formol a 10%, dia sim e dia não, durante 1 semana (as fezes podem ser coletadas no mesmo frasco), tomando-se o cuidado de homogeneizá-las sempre que o material for adicionado ao conservante. O exame poderá ser feito após o término da coleta. Outra alternativa é coletar e examinar o material em dias alternados. Esses procedimentos podem diagnosticar de 80 a 90% das infecções Imunológicos – ELISA, II. Na amebíase extraintestinal, e principalmente no caso de abscesso hepático, em que os exames de fezes podem ser negativos, os exames sorológicos podem detectar cerca de 95% dos casos As limitações na utilização dos métodos imunológicos são: (1) dificuldades ao preparo e obtenção de antígenos; (2) persistência dos títulos durante meses, e mesmo anos, após o tratamento. Outros exames - retossigmoidoscopia é um importante método na visualização das ulcerações, possibilitando a identificação do agente etiológico obtido do material das lesões. Radiografias, tomografias, ultrassonografias e ressonância magnética constituem métodos de diagnóstico auxiliares que podem identificar a localização, o número e o tamanho dos abscessos, como também podem distingui- los de outras etiopatologias. A punção do abscesso hepático pode ajudar a esclarecer a etiologia da doença, mas o encontro do trofozoíto no líquido do abscesso é difícil, necessitando para isso que o material seja previamente tratado e o microscopista tenha bastante experiência, para não o confundir com outras células, principalmente macrófagos. No entanto, a punção hepática só é recomendada nos casos em que não há regressão da doença após o tratamento, pois constitui procedimento de alto risco em amebíase. Diagnóstico diferencial entre E. histolytica e E. dspar = A diferenciação entre estas amebas é feita pelo perfil eletroforético de enzimas da via glicolítica, necessitando que as amebas sejam previamente cultivadas, o que dificulta seu emprego em diagnóstico laboratorial, necessitando a utilização de equipam entos e reagentes caros. Ultimamente, têm sido utilizados métodos diagnósticos de pesquisa de coproantígenos específicos, principalmente para E. histolytica, usando- se a técnica de ELISA. Embora seja um método rápido, fácil e sensível, ainda não é usado rotineiramente pelo alto custo e baixa especificidade, principalmente se comparado ao PCR. A PCR identifica sequências de ácidos nucleicos específicos em E. histolytica, diferenciando-a das outras amebas. Apresenta até o momento a melhor sensibilidade e especificidade. TRATAMENTO • Amebicidas da luz intestinal o Derivados da quinoleina, diioso-hidroxiquinoleína e cloridroxiquinoleína. o Antibióticos (paramonicina, eritromicina. • Amebicidas tissulares (parede do intestino e fígado) o Cloridrato de emetina, cloridrato de diidrometina e cloroquina. • Amebicidas de luz e tissulares o Antibióticos (metronidazol, secnidazol) PROFILAXIA O portador assintomático é o grande responsável pela manutenção do parasito no ambiente. Portanto, seria de grande valia o exame frequente dos “manipuladores de alimentos” para a detecção e o tratamento de algum possível “portador assintomático” que estivesse atuando como fonte de infecção . O combate as moscas domésticas pode auxiliar na redução da trnamissão. Educação em saúde para o manejo e higienização crreta dos alimentos crus. Investimento em saneamento básico. EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES O EPF é uma ferramenta diagnóstica barata e prática, que pesquisa diferentes formas parasitárias eliminadas nas fezes, porém a escolha do método de exame e a habilidade do profissional responsável implicam diretamente na eficiência do resultado. Fase pré-analítica A fase pré-analítica inicia-se com a solicitação do exame pelo médico e inclui a requisição correta, a orientação do paciente para coleta das fezes, o transporte para o laboratório e o cadastramento da amostra fecal. O EPF é constituído por vários métodos empregados de acordo com a solicitação médica, o que torna importante uma interação médico-laboratório na requisição do exame. Quando informado qual o parasito a ser pesquisado, de acordo com a hipótese diagnóstica mais provável, e o método a ser utilizado, o médico direciona o laboratório na execução dos métodos mais indicados para a situação. Coleta da amostra de fezes A coleta das fezes possui relação direta com a qualidade do exame e eficiência no resultado. A defecação deve ser realizada em um recipienteseco e limpo, com posterior transferência de parte das fezes recolhidas de diferentes porções do bolo fecal para o frasco próprio. O frasco fornecido deve ter boca larga, boa vedação e capacidade aproximada de 50 mL. Não se deve coletar fezes eliminadas no solo ou vaso sanitário, pois inviabilizam o exame devido à contaminação da amostra e consequente alteração no resultado. A quantidade coletada deve ser de 10 mL, e o armazenamento varia de acordo com as características das fezes: • Fezes líquidas podem ser armazenadas por até 1 hora. • Fezes sólidas podem ser armazenadas por até 24 horas. Além disso, a amostra não deve ser congelada, e o paciente deve identificar o frasco com seu nome completo, data e hora da coleta. Dependendo do método utilizado, pode ser solicitado ainda fezes frescas ou em conservante, ou mais de uma amostra fecal (amostras múltiplas ou seriadas). Quando utilizado, o conservante dispensa o uso da geladeira. Orientações específicas • NÃO utilizar de 2 a 3 semanas antes do exame: • Antiácidos e antidiarreicos que contenham bismuto, magnésio ou cálcio: formam cristais com os trofozoítos, impedindo sua visualização, destruindo-os ou mudando sua morfologia. • Laxantes que contenham vaselina ou óleo mineral: pacientes que usam laxantes de forma crônica devem usar laxantes à base de sódio. A vaselina e o óleo mineral unem cistos, oocistos e trofozoítos, dificultando sua identificação. • Contraste baritado por via oral: pode destruir as formas trofozoíticas dos protozoários. • Antibióticos: alteram a flora intestinal de forma transitória, podendo destruir alguns parasitas. Na ocorrência de alguma dessas intercorrências, deve-se realizar o exame após 2-3 semanas da exposição a tais fatores. • Coletar 3 amostras de fezes em dias alternados (duração de 6 dias) Por que coletar mais de uma amostra em algumas situações? • Intermitência da eliminação de alguns parasitos, dependendo do ciclo de vida. • Distribuição não uniforme de ovos nas fezes. • Estágios dos protozoários, segundo o ciclo de vida. • Limitação da técnica, falta de sensibilidade ou especificidade do método. Fase analítica EXAME MACROSCÓPICO: avalia consistência e odor, presença de elementos anormais, como muco ou sangue, e de vermes adultos ou parte dele. EXAME MICROSCÓPICO: pesquisa de ovos, larvas, helmintos, trofozoítos, cistos, oocistos de protozoários. Os métodos quantitativos determinam o número de formas parasitárias por grama de fezes, mas não são muito empregados devido à pouca aplicabilidade clínica, pois a dose do medicamento leva em conta o peso do paciente e não a imensidade do parasitismo. Dessa forma, quase todos os métodos usados no EPF são qualitativos, entre eles: Kato-Katz e Scott-Hausheer. Os métodos gerais são assim chamados por permitir o diagnóstico de vários parasitas intestinais. Os métodos específicos são indicados para a pesquisa de um parasito em particular. Técnicas do exame parasitológico de fezes Após a execução do método de concentração, algumas formas parasitárias precisam ser coradas, para examinar detalhes da morfologia. Por isso, é tão importante que, na requisição do exame, o médico solicite a pesquisa de um parasito específico. Na próxima imagem serão abordadas as colorações mais utilizadas no EPF, suas indicações e as formas parasitárias detectadas por elas. Os métodos mais empregados são os que permitem o diagnóstico de vários parasitos, os que são de fácil execução e mais baratos. São eles: sedimentação espontânea (Hoffman, Pons e janer) e os da centrifugação (MIFC e Ritchie), constituindo-se os métodos de rotina do EPF. Observações e particularidades • O método de Hoffman, Pons e Janer é realizado com fezes frescas, enquanto o MI FC e Ritchie utilizam fezes colhidas em conservante. . • O método de Faust et al. é o que mais concentra os cistos de protozoários. • Em casos de suspeita de giardíase e amebíase, sem detecção de cistos pelos métodos de centrifugação, a execução do método de Faust está indicada. A semelhança clínica dos diferentes parasitos pode dificultar que o médico suspeite de um parasito específico, então quando a requisição não possui indicação de método ou parasito a ser pesquisado é realizado pelo laboratório um dos métodos de rotina (sedimentação espontânea ou centrifugação) capaz de diagnosticar vários parasitos. Não é indicado que o laboratório realize apenas um método que seja muito específico, pois o Brasil é um país com poliparasitismo, e o resultado pode ser insatisfatório. Fase pós-analítica Na última fase, a pós-analítica, realiza-se análise da consistência dos resultados, liberação do laudo, transmissão e arquivo dos resultados e consultoria técnica. Sedimentos de fezes que contêm as formas parasitárias ou lâminas permanentes podem ser armazenados para material de consulta. Na apresentação dos resultados do EPF, alguns dados importantes devem constar para interpretação: • identificação do paciente • data • nome do médico • consistência das fezes • formas parasitárias e nomes específicos dos parasitos encontrados • métodos executados • observações Observação: Todos os parasitos encontrados devem ser relatados, sejam eles patogênicos ou não
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