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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Estudar a epidemiologia, etiologia, fatores de risco, ciclo biológico, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da giardíase e amebíase; 2- Debater sobre as políticas públicas de saneamento básico. Amebíase As doenças parasitárias constituem uma das principais causas de morte mundial e abrangem cerca de dois a três milhões de óbitos por ano. As parasitoses intestinais constituem um grave problema de saúde pública, especialmente nos países em desenvolvimento. No Brasil, apresentam-se bastante disseminadas e com alta prevalência, decorrente das más condições de vida (ANTUNES et. al., 2020). Essas doenças muitas vezes cursam de forma silenciosa, o que pode dificultar seu diagnóstico, tratamento adequado e profilaxia. No entanto, sintomas como diarreia, desnutrição, anorexia, fraqueza e dor abdominal são algumas das consequências dessas doenças. As parasitoses intestinais são causadas por helmintos e protozoários que se manifestam no organismo dos seres vivos, provocando uma série de efeitos nocivos à saúde do infectado (ANTUNES et. al., 2020). ↠ O termo amebíase refere-se ao parasitismo humano por Entamoeba histolytica e Entamoeba dispar, acompanhado ou não de manifestações clínicas (FEREIRA, 2020). Embora durante quase um século E. histolytica tenha sido considerada uma única espécie, definem-se atualmente duas espécies morfologicamente idênticas, que diferem em características bioquímicas, imunológicas, genéticas e epidemiológicas, associadas à amebíase humana: E. histolytica, patogênica, e E. dispar, não patogênica (FEREIRA, 2020). Uma terceira espécie morfologicamente indistinguível de E. histolytica/E. dispar, originalmente isolada a partir de amostras colhidas na rede de esgotos da cidade de Moscou em 1941, também infecta o ser humano. Trata-se de Entamoeba moshkovskii, também descrita, em 1961, como a cepa Laredo de E. histolytica. Finalmente, a quarta espécie semelhante a E. histolytica, que recebeu o nome de Entamoeba bangladeshi, foi recentemente descrita em crianças de Daca, capital de Bangladesh. As primeiras análises filogenéticas mostram que E. bangladeshi pertence ao mesmo clado que as demais Entamoeba que infectam seres humanos (FEREIRA, 2020). ↠ A amebíase é uma infecção cujo agente causal – Entamoeba histolytica – é um dos protozoários mais conhecidos. O parasito pode colonizar o lúmen intestinal do indivíduo acometido de maneira assintomática, como ocorre em 90% dos casos, ou pode se manifestar de maneira mais grave, levando a grande instabilidade orgânica (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). EPIDEMIOLOGIA ↠ A infecção por E. histolytica, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma das principais causas de morte por protozoário no mundo, acometendo cerca de 10% da população mundial. Esse dado reflete a capacidade do parasito de invadir os tecidos e causar o adoecimento humano (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ Figura como a segunda principal causa de óbitos por parasitoses e como a principal causa de diarreia grave no mundo (MELO; CORDOVA, 2022). ↠ Foram registradas, no Brasil, ao todo 9.508 internações hospitalares, provocadas pela amebíase, entre 2015 e 2021, cuja taxa total de mortalidade, isto é, número de óbitos para cada 1.000 indivíduos, no mesmo período, foi de 1,15 (MELO; CORDOVA, 2022). ↠ No que concerne à variação no número de casos no decorrer dos anos analisados, tem-se que foi observado uma tendência de queda no número de internações, tal que houve uma redução de 71,5% entre o primeiro e o último ano analisados no presente estudo (MELO; CORDOVA, 2022). ↠ No que se refere à taxa de internações hospitalares a cada 100.000 habitantes, tem-se que a região Norte apresentou a maior (21,37), a qual foi aproximadamente 28 vezes superior a apresentada pela região Sudeste (0,76), a menor registrada. No entanto, analisando as taxas de mortalidade, pode-se observar que a região Norte apresentou a menor (0,1), ao passo que a região Sudeste, teve a maior taxa de mortalidade (MELO; CORDOVA, 2022). Considerando os dados referentes ao panorama do saneamento básico no Brasil, disponibilizados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2020, vale destacar que a Região Norte apresentou os piores parâmetros, com a menor porcentagem populacional com acesso à água tratada (58,9%), atendida com rede esgoto (13,1%) e com coleta domiciliar de resíduos sólidos (80,7%). A região Sudeste, por sua vez, teve os melhores parâmetros, com 91,3% de sua população com acesso à água tratada, 80,5% atendida com APG 05 – “BRINCADEIRA DE CRIANÇA” 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck rede de esgoto e 96,1% atendida com a coleta domiciliar de resíduos sólidos (MELO; CORDOVA, 2022). FATORES DE RISCO ↠ A infecção está, muitas vezes, associada aos hábitos de higiene do indivíduo (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). A transmissão do protozoário é orofecal, por contaminação de água e alimentos com cistos, dependendo de hábitos culturais, idade, saneamento básico, aglomeração populacional e nível socioeconômico (FEREIRA, 2020). ↠ Observa-se que há alguns fatores que influenciam se a infecção determinará ou não o desenvolvimento da doença, como a cepa de E. histolytica e fatores relacionados ao hospedeiro, como suscetibilidade genética, idade e estado imunológico (MELO; CORDOVA, 2022). ↠ Há também alguns fatores que predispõem à manifestação de uma doença mais grave e ao aumento da mortalidade pela amebíase, os quais incluem idade jovem, gravidez, uso de corticosteroides, neoplasias malignas, desnutrição e alcoolismo (MELO; CORDOVA, 2022). ASPECTOS BIOLÓGICOS ↠ Existem sete espécies de amebas que vivem em simbiose com o organismo humano, mas somente a E. histolytica exerce ação patogênica no homem (SIQUEIRA- BATISTA, 2020). A E. histolytica pode apresentar duas formas evolutivas: o cisto multinucleado ou o trofozoíto móvel e uninucleado. Os cistos são encontrados na água e nos alimentos contaminados com fezes, são resistentes à acidez gástrica e assumem a forma de trofozoítos, no intestino grosso (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). As espécies de ameba se diferenciam pelo número de núcleos presentes nos cistos, pelo tamanho dos trofozoítos e pelas inclusões citoplasmáticas dos protozoários; à exceção de E. histolytica, E. dispar e E. moshkovskii, que se diferenciam pelo quadro clínico apresentado pelo paciente, sendo que a confirmação da espécie relacionada à infecção é determinada através de ensaios imunoenzimáticos (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ Seu ciclo vital inclui três formas. Os trofozoítos de E. histolytica/E. dispar são pleomórficos, de tamanho entre 15 e 20 μm, com um único núcleo e apresentando movimentação por pseudópodes, tipo lobópodes, e divisão assexuada por fissão binária simples (FEREIRA, 2020). O núcleo, fora da mitose, apresenta um aglomerado de cromatina rico em DNA, conhecido como cariossoma ou endossoma, pequeno, compacto e localizado geralmente em sua porção central, ainda que possa ter posição ligeiramente excêntrica. A cromatina periférica, rica em RNA, é delicada, homogeneamente distribuída na periferia do núcleo. Estas são algumas das características morfológicas que possibilitam a diferenciação entre trofozoítos e cistos de E. histolytica/E. dispar e de outras amebas comensais que habitam o trato digestório humano (FEREIRA, 2020). ↠ As formas invasivas de E. histolytica/E. dispar são grandes e, em geral, têm hemácias no citoplasma. Alimentam-se por emissão de pseudópodes, por processo de fagocitose (FEREIRA, 2020). ↠ Os pré-cistos são intermediários entre trofozoítos e cistos, com um núcleo. Os cistos são esféricos ou ovais, com tamanho de 10 a 15 μm e parede cística rígida. Apresentam divisão múltipla por esquizogonia; podem conter um a quatronúcleos, que apresentam as mesmas características morfológicas descritas para os núcleos dos trofozoítos Os cistos imaturos, isto é, aqueles com um ou dois núcleos, apresentam uma ou mais estruturas cilíndricas conhecidas como corpos cromatoides, constituídas por agrupamentos de ribossomos, em forma de bastão ou charuto, com extremidades arredondadas. Têm também um ou mais vacúolos de glicogênio, que servem como reserva de energia para essa forma de resistência (FEREIRA, 2020). Os trofozoítos são uninucleados e possuem uma dupla camada na sua membrana externa, onde é encontrado o glicocálix. Eles são extremamente móveis e, por não contarem com mitocôndrias, a energia necessária para o seu metabolismo é proveniente de reação anaeróbica. Os cistos são estruturas redondas, com quatro núcleos e inertes, e o processo de encistamento é ativo, ou seja, com consumo de energia (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). CICLO BIOLÓGICO ↠ O ciclo da E. histolytica é monoxênico. No hospedeiro humano, o parasito desenvolve-se quando o indivíduo ingere cistos maduros presentes em água, alimento e mãos sujas. A prática de sexo anal/oral é também uma fonte de aquisição dessas formas evolutivas (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). Estágios evolutivos de Entamoeba histolytica/E. dispar. Representação esquemática da morfologia do trofozoíto (A), pré-cistos (B) e cistos (C, D e E) de E. histolytica/E. dispar. 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Os cistos são resistentes ao suco gástrico, e somente no intestino delgado começam a sofrer modificações, mais especificamente na região ileocecal. Nesse local, ocorre o processo de desencistamento (saída do metacisto por uma fenda na parede cística), favorecido por temperatura compatível e meio anaeróbio (SIQUEIRA- BATISTA, 2020). ↠ O metacisto sofre, então, diversas divisões celulares, formando quatro e, posteriormente, oito trofozoítos metacísticos uninucleares. Chegando ao intestino grosso, essas estruturas se desenvolvem e originam os trofozoítos, que ali permanecem aderidos. Por um processo ainda não muito bem esclarecido, tais formas sofrem desidratação, formando os pré-cistos (SIQUEIRA- BATISTA, 2020). ↠ Por último, esses agentes recém-formados secretam uma membrana cística, dando origem ao cisto, que será eliminado nas fezes, continuando o ciclo. Assim, o ciclo biológico da E. histolytica envolve quatro estágios: cisto, metacisto, trofozoíto e pré-cisto (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). Embora consideradas classicamente como anaeróbicas, essas amebas são microaerófilas, isto é, utilizam pequenas quantidades de oxigênio. Têm estrutura celular simples, com metabolismo semelhante ao das bactérias. Durante muitos anos, as amebas foram consideradas protozoários primitivos, especialmente por não apresentarem uma mitocôndria típica. Entretanto, as amebas têm uma pequena organela, chamada mitossoma, que exerce várias funções típicas de mitocôndrias. Provavelmente o mitossoma e as mitocôndrias têm um ancestral comum, mas, diferentemente destas, os mitossomas não contêm um genoma próprio. Os genes que codificam as proteínas de mitossomas estão no genoma nuclear das amebas (FEREIRA, 2020). Entamoeba histolytica x Entamoeba dispar ↠ O consenso quanto à existência de duas espécies morfologicamente idênticas de amebas que infectam o ser humano foi estabelecido em uma reunião internacional de especialistas em 1997. A diferenciação baseou-se inicialmente na caracterização do padrão de mobilidade de isoenzimas em eletroforese de diversos isolados de E. histolytica (Sargeunt et al., 1978). O padrão de migração de um grupo de isoenzimas constitui o chamado zimodema. Existem vários zimodemas conhecidos, uns associados a cepas invasivas (E. histolytica) e outros a cepas não invasivas (posteriormente definidas como E. dispar) (FEREIRA, 2020). ↠ Há diferenças antigênicas (que podem ser detectadas com anticorpos monoclonais específicos) e funcionais entre as lectinas de adesão de E. histolytica e E. dispar. Há também diferenças na composição de glicoconjugados de membrana, como as moléculas semelhantes a lipofosfoglicano (LPG), abundantes somente em E. histolytica, e lipofosfopeptoglicano (LPPG), comuns às duas espécies (FEREIRA, 2020). ↠ Do ponto de vista diagnóstico, existem diferenças genéticas, demonstráveis por métodos moleculares, úteis para a distinção entre as duas espécies. Entre os principais alvos está o gene que codifica a subunidade 18S de RNA ribossômico, amplamente explorado com finalidade diagnóstica (FEREIRA, 2020). FISIOPATOLOGIA A infecção provocada pela cepa invasiva pode cursar com quadro assintomático em cerca de 10 a 40% dos casos de infecção. No entanto, acredita-se que, em um período de um ano, essa cepa seja capaz de causar a síndrome da amebíase invasiva. O contrário acontece com a cepa não patogênica, que representa a maior parte dos casos na população e cursa em 90% das vezes com quadro assintomático. Um dos fatores que diferencia a cepa patogênica da não patogênica e que, por isso, influencia seu mecanismo patológico, é a presença da lectina de aderência, encontrada na superfície da cepa patogênica. Trata-se de uma adesina essencial para a função citolítica, de aderência e reconhecimento da E. histolytica, pela célula-alvo. Além disso, essa molécula constitui importante marcador laboratorial no diagnóstico da doença (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ As formas invasivas da amebíase são resultado de uma sequência de eventos bem caracterizados. O ambiente ácido do estômago serve como a primeira barreira contra os patógenos entéricos, mas os cistos de Entamoeba resistem ao baixo pH e o excistamento ocorre somente no lúmen do intestino delgado terminal ou nas primeiras porções do intestino grosso (FEREIRA, 2020). ↠ A adesão das amebas à camada de muco que reveste o epitélio intestinal é a primeira etapa do processo que levará a uma erosão do epitélio da mucosa intestinal. A adesão é mediada pela lectina de adesão inibível por Gal/GalNAc, um heterodímero composto por três proteínas, uma cadeia pesada, uma cadeia intermediária e uma cadeia leve. Mais especificamente, um domínio de reconhecimento de carboidratos localizado no domínio extracelular da cadeia pesada é o responsável pela adesão à mucina, o principal componente dessa camada mucosa (FEREIRA, 2020). ↠ Uma vez aderidas, as amebas secretam glicosidases e proteases, especialmente cisteína-proteases, que degradam os polímeros do muco. As amebas restritas ao muco intestinal geralmente não causam sintomas (FEREIRA, 2020). ↠ A lectina de adesão inibível por Gal/GalNAc não somente participa do fenômeno de adesão ao muco, mas também bloqueia a deposição, na superfície das amebas, do complexo de ataque de membrana do sistema complemento, impedindo sua lise (FEREIRA, 2020). ↠ Essa lectina de adesão é também alvo de imunidade protetora, naturalmente adquirida, mediada por anticorpos de classe IgA, por isso, é considerada um potencial alvo para o desenvolvimento de vacinas contra a amebíase (FEREIRA, 2020). ↠ A degradação da camada mucosa, como consequência da ação enzimática, torna possível o contato inicial entre as amebas e suas células-alvo, os enterócitos. A partir dessa etapa inicia-se o processo de quebra da barreira epitelial, com alteração do transporte de íons e de absorção de nutrientes, inflamação local e sistêmica e mudança da composição da microbiota intestinal que caracteriza a amebíase como doença (FEREIRA, 2020). ↠ Uma vez aderidas aos enterócitos, as amebas desencadeiam a morte das células do epitélio intestinal mediante dois processos distintos: (FEREIRA, 2020). • O primeiro é a apoptose. As amebas fagocitam exclusivamente as células apoptóticas. Entre os componentes com ação digestiva produzidos pelos trofozoítos deE. histolytica encontram-se as proteínas formadoras de poros A, B e C, conhecidas coletivamente como amoebapore, cuja principal função, no interior dos vacúolos fagocitários, consiste na inativação e morte das bactérias ingeridas pelas amebas. No entanto, não há evidência de participação da amoebapore na morte de células do hospedeiro desencadeada pelo contato com as amebas (FEREIRA, 2020). • O segundo processo de morte celular, recentemente desvendado, é conhecido como trogocitose. Trata-se da internalização de fragmentos de células hospedeiras vivas, resultando em elevação dos níveis intracelulares de cálcio e morte celular. A trogocitose, entretanto, só é desencadeada quando a ameba interage com enterócitos vivos, com a participação da lectina de adesão inibível por Gal/GalNAc; os enterócitos apoptóticos são ingeridos por fagocitose (FEREIRA, 2020). ↠ A morte celular estimula a produção de pré- interleucina (IL) 1β e de IL-1β, que, por sua vez, ativam o fator de transcrição nuclear NF-κB, o que resulta na produção de diversos mediadores de inflamação (IL-1α, IL-8, IL-6, COX-2, GM-CSF) e no recrutamento de neutrófilos. Este processo é facilitado pelas cisteína-proteases das amebas, capazes de converter pré-IL-1β em sua forma ativa, IL-1β. Além disso, os trofozoítos são capazes de produzir prostaglandina E2, que estimula a produção de IL-8. A migração de neutrófilos e outros leucócitos, atraídos pelos mediadores liberados, agrava a lesão epitelial (FEREIRA, 2020). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Nas áreas de erosão epitelial inicia-se a invasão das amebas, preferencialmente através do epitélio interglandular. Em sua passagem até as camadas internas da mucosa intestinal, as amebas lisam células e degradam componentes da matriz extracelular. Neste processo agem as diversas cisteína-proteases produzidas pelas amebas. Pelo menos oito cisteína-proteases distintas foram caracterizadas em E. histolytica. A morte de neutrófilos recrutados para a lesão resulta na liberação de mais citocinas inflamatórias, como o fator de necrose tumoral (TNF)-α, contribuindo para agravar a inflamação e a destruição celular, com consequente aumento da permeabilidade intestinal (FEREIRA, 2020). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS INTESTINAL ↠ Os indivíduos que ingerem cistos de E. histolytica podem infectar-se ou não. Quando infectados, podem tornar-se portadores crônicos assintomáticos (possivelmente quando as amebas restringem-se à camada mucosa, sem interação direta com o epitélio intestinal), apresentar disenteria moderada a grave, a chamada disenteria amebiana, ou ainda apresentar colite sem disenteria, a chamada colite amebiana não disentérica (FEREIRA, 2020). A composição da microbiota intestinal e as diferenças de virulência entre cepas de E. histolytica estão entre os determinantes do desfecho clínico. Cerca de 3 a 10% dos portadores assintomáticos de infecção, se não tratados, desenvolvem sintomas de doença invasiva ao final de 1 ano de seguimento (FEREIRA, 2020). ↠ Tradicionalmente, distinguem-se quatro formas clínicas principais de amebíase intestinal invasiva, todas de evolução aguda: (FEREIRA, 2020). • disenteria amebiana ou diarreia sanguinolenta; • colite fulminante; • apendicite amebiana; • ameboma do cólon. ↠ As síndromes diarreicas e disentéricas correspondem a 90% dos casos de amebíase intestinal invasiva. Os pacientes apresentam geralmente três a cinco evacuações por dia, sem febre. Ocorre dor moderada em cólica precedendo as evacuações, bem como tenesmo retal nos casos de disenteria (FEREIRA, 2020). Devido ao aumento acentuado da frequência das evacuações, ultrapassando, geralmente, 10 vezes por dia, o indivíduo tem uma considerável depleção de água e eletrólitos, bem como uma absorção intestinal dos produtos da digestão prejudicada, o que pode provocar perda ponderal, presente em cerca de metade dos casos (MELO; CORDOVA, 2022). ↠ A disenteria amebiana é a diarreia com muco e sangue nas fezes. A retossigmoidoscopia mostra a mucosa intensamente inflamada, com ou sem ulcerações. Na colite amebiana não disentérica, observam-se episódios recorrentes de diarreia sem muco ou sangue nas fezes, tendo a mucosa do cólon um aspecto geralmente normal à retossigmoidoscopia (FEREIRA, 2020). ↠ A colite fulminante ou necrosante, que compreende 0,5% dos casos de doença invasiva, é um quadro de evolução rápida, em que os pacientes apresentam 30 ou mais evacuações diárias acompanhadas de cólicas intensas e tenesmo. A letalidade situa-se em torno de 40% ↠ Os amebomas são lesões pseudotumorais resultantes de necrose, inflamação e edema da mucosa e submucosa do cólon (FEREIRA, 2020). A amebíase, em raras ocasiões, pode gerar uma infecção colônica localizada, produzindo uma massa tecidual de granulação, denominada ameboma, a qual simula neoplasias intestinais, o câncer de cólon principalmente (MELO; CORDOVA, 2022). Ademais, outras complicações raras da infecção por Entamoeba hystolitica incluem apendicite, amebíase cutânea perianal e fístulas vaginais (MELO; CORDOVA, 2022). EXTRAINTESTINAL ↠ Outros órgãos podem ser infectados secundariamente por E. histolytica. O fígado pode ser atingido por disseminação sistêmica, causando a necrose amebiana de fígado. O quadro clínico caracteriza-se por início súbito, com dor no hipocôndrio direito que aumenta à inspiração profunda, geralmente acompanhada de febre. Raramente ocorre icterícia. Por motivos desconhecidos, a amebíase 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck hepática é muito mais comum em homens do que em mulheres, e incomum em crianças (FEREIRA, 2020). As principais manifestações clínicas associadas ao abscesso hepático amebiano incluem dor no hipocôndrio direito; febre de aproximadamente 40°C, predominando à noite, associada a calafrios, sudorese, náuseas e vômitos; astenia; tosse; inapetência e perda de peso (MELO; CORDOVA, 2022). ↠ As lesões podem ser únicas ou múltiplas e, nos casos mais graves, muito extensas. Os protozoários que se desprendem dos bordos das lesões podem penetrar outros locais do fígado. O pulmão direito em geral é atingido por contiguidade ou extensão, pelo diafragma, a partir de lesões hepáticas. As lesões pulmonares apresentam também aspecto necrótico e podem ser múltiplas (FEREIRA, 2020). O acometimento pleuropulmonar pela Entamoeba hystolitica pode provocar dor pleurítica ou localizada no quadrante superior direito do abdome; tosse, geralmente improdutiva; hemoptise e dispneia (MELO; CORDOVA, 2022). ↠ Em casos graves, porém relativamente raros, o cérebro também pode apresentar focos necróticos. Eventualmente a pele, sobretudo a região perianal, pode ser afetada (FEREIRA, 2020). DIAGNÓSTICO ↠ O diagnóstico laboratorial da amebíase intestinal é rotineiramente realizado por meio de exame parasitológico de fezes (FEREIRA, 2020). Em fezes diarreicas ou disentéricas, predominam as formas trofozoíticas; nas fezes formadas predominam os cistos. O encontro de trofozoítos nas fezes exige o exame de amostra fresca ou preservada; se não fixados adequadamente até 30 minutos após a sua eliminação nas fezes, os trofozoítos tendem a degenerar-se (FEREIRA, 2020). Para a identificação das características morfológicas que possibilitam distinguir trofozoítos de E. hystolytica/E. dispar de trofozoítos de amebas comensais, as preparações devem ser coradas, geralmente com hematoxilina férrica ou tricrômico, antes do exame microscópico (FEREIRA, 2020). ↠ O achado de cistos, em fezes formadas, é geralmente feito com o auxílio de métodos de concentração. Entre eles, os mais frequentemente utilizados na prática diagnóstica são os métodos de Hoffmann e colaboradores, que se baseia na sedimentação de elementos parasitários por ação da gravidade, e o de Faust e colaboradores, queobjetiva concentrar os elementos parasitários mediante diversas etapas de centrífugo-flutuação das amostras de fezes (FEREIRA, 2020). Para o exame parasitológico das fezes, mediante a microscopia, recomenda-se a coleta de três amostras de fezes em dia alternados. Em fezes formadas deve-se pesquisar a presença de cistos do protozoário, a partir do emprego de métodos de concentração como Hoffman, Pons e Janer, Faust ou Ritchie. Em fezes diarreicas, por sua vez, deve-se pesquisar a presença de trofozoítos, cuja amostra deve ser examinada diretamente a fresco em no máximo 1h após a coleta. Não obstante o baixo custo e a fácil execução, o exame parasitológico não permite a diferenciação da Entamoeba hystolitica de outras espécies não virulentas, como Entamoeba díspar e Entamoeba moshkovskii (MELO; CORDOVA, 2022). ↠ Como o exame microscópico não possibilita distinguir E. histolytica de E. dispar, o desenvolvimento de métodos imunológicos e moleculares com essa finalidade recebeu grande impulso em décadas recentes. Há cinco imunoensaios comercialmente disponíveis para a detecção específica de antígenos de E. histolytica nas fezes com o uso de anticorpos monoclonais, embora nenhum deles seja de uso disseminado em laboratórios de análises clínicas do Brasil (FEREIRA, 2020). ↠ Os métodos laboratoriais mais sensíveis para o diagnóstico da amebíase humana são aqueles fundamentados na reação em cadeia da polimerase (PCR). O primeiro obstáculo para o desenvolvimento de ensaios moleculares foi a padronização de métodos apropriados para a conservação e a extração de DNA de cistos e trofozoítos do parasito a partir de amostras de fezes, extremamente ricas em substâncias capazes de inibir a ação das DNA polimerases (FEREIRA, 2020). 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Atualmente, entretanto, são encontrados diversos produtos comerciais que possibilitam a extração rápida e eficaz de DNA a partir de amostras fecais frescas ou preservadas. Dos inúmeros alvos moleculares usados em ensaios com diferentes formatos, desde a PCR convencional até os protocolos de PCR em tempo real, o mais comum é o gene que codifica a subunidade 18S de RNA ribossômico (FEREIRA, 2020). ↠ O diagnóstico de abscesso amebiano pode ser relativamente difícil e depende, em grande parte, de dados clínicos e epidemiológicos. Exames de imagem, como a ultrassonografia ou a tomografia computadorizada, tornam possível a identificação de abscessos hepáticos. Em geral não se recomenda a punção dos abscessos amebianos, com finalidade diagnóstica ou terapêutica, diante do risco de contaminação bacteriana secundária (FEREIRA, 2020). ↠ Os testes sorológicos são positivos para anticorpos na maioria dos indivíduos com amebíase intestinal invasiva (75%) e abscesso amebiano (90%). O imunoensaio enzimático (ELISA), considerado teste de referência, tem grande utilidade diagnóstica na amebíase extraintestinal de indivíduos provenientes de áreas não endêmicas, em que a presença de anticorpos em pacientes com um quadro clínico sugestivo pode ser interpretada como a confirmação do diagnóstico. Entretanto, em área endêmicas, muitos indivíduos saudáveis podem apresentar anticorpos detectáveis meramente em função de infecções prévias (FEREIRA, 2020). TRATAMENTO ↠ O tratamento de amebíase depende da forma clínica encontrada. As estratégias de tratamento baseiam-se em agentes com ação predominante no lúmen intestinal, utilizados nas formas não invasivas, e aqueles com melhor penetração nos tecidos, utilizados nas formas invasivas (FEREIRA, 2020). ↠ Os fármacos contra a amebíase são classificados como amebicidas: luminais, sistêmicos ou mistos de acordo com o local de ação. Por exemplo, os amebicidas luminais atuam nos parasitas no lúmen do intestino, e os amebicidas sistêmicos são eficazes contra as amebas na parede intestinal e no fígado. Os amebicidas mistos são eficazes contra as formas luminal e sistêmica da doença, embora as concentrações luminais sejam muito baixas para tratamento como fármaco único (WHALEN et. al., 6ª ed.). AMEBICIDAS MISTOS METRONIDAZOL: As amebas possuem proteínas de transporte de elétrons de baixo potencial redox, tipo ferredoxina, que participa em reações de remoção de elétrons metabólicos. O grupo nitro do metronidazol é capaz de servir como aceptor de elétrons, formando compostos citotóxicos reduzidos que se ligam às proteínas e ao DNA, resultando na morte dos trofozoítos da E. histolytica. Os efeitos adversos mais comuns são náuseas, êmese, azia e cólicas abdominais. Comumente, sente-se um desagradável gosto metálico (WHALEN et. al., 6ª ed.). TINIDAZOL: O tinidazol é um nitroimidazol de segunda geração com espectro de atividade, absorção, efeitos adversos e interações similares aos do metronidazol. O tinidazol é tão eficaz quanto o metronidazol, com duração de tratamento mais curta, mas é mais dispendioso (WHALEN et. al., 6ª ed.). ↠ Na forma intestinal assintomática, utilizam-se geralmente uma dicloroacetamida (etofamida) ou uma benzilamina (teclosan) como amebicidas de ação luminal nos seguintes esquemas: (FEREIRA, 2020). • Etofamida: 500 mg, 2 vezes/dia, durante 3 dias • Teclosan: 500 mg, de 8 em 8 horas, por 1 dia, ou 100 mg, 3 vezes/dia, durante 5 dias. ↠ Alternativamente, pode-se empregar um composto nitroimidazólico com ação tecidual: (FEREIRA, 2020). • Tinidazol: 2 g/dia, durante 2 a 5 dias, em adultos; 50 mg/kg/dia, durante 2 dias, em crianças. 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Há poucos ensaios clínicos aleatorizados de boa qualidade metodológica que avaliaram o tratamento da amebíase invasiva ou extraintestinal. Em geral, empregam-se derivados nitroimidazólicos nas seguintes dosagens: (FEREIRA, 2020). • Metronidazol: 500 a 750 mg/dose, 3 vezes/dia, durante 10 dias, em adultos; 20 a 40 mg/dia, durante 10 dias, em crianças • Tinidazol: 2 g/dia, durante 2 a 5 dias, em adultos; 50 mg/kg/dia, durante 2 a 5 dias, em crianças. O esquema fundamentado em tinidazol parece ser ligeiramente superior, em termos de eficácia, no tratamento da colite amebiana, embora o número disponível de estudos para comparação ainda seja pequeno (FEREIRA, 2020). Nas formas intestinais, sugere-se realizar a pesquisa de cistos e trofozoítos nas fezes, como controle de cura, 7, 14, 21 e 28 dias após o término do tratamento (FEREIRA, 2020). Giardíase ↠ A giardíase, infecção intestinal causada por um protozoário flagelado denominado Giardia lamblia (sin. Giardia duodenalis ou Giardia intestinalis), é uma das principais parasitoses encontradas em todos os países (subdesenvolvidos e desenvolvidos), principalmente naqueles de clima tropical e subtropical (SIQUEIRA- BATISTA, 2020). ↠ A giardíase é uma doença de caráter zoonótico. Os animais domésticos, cães e gatos são os mais acometidos, principalmente cães jovens, imunossuprimidos e que convivem com outros animais. Vários cães se mantem assintomáticos por muito tempo, e acabam fazendo a liberação desses protozoários pelas fezes, infectando vários outros animais e humanos (PEREIRA, 2021). EPIDEMIOLOGIA ↠ Dados atuais sobre a prevalência da infeção por G. duodenalis não são precisos, pois esta parasitose não está listada entre as infecções de notificação compulsória, sendo a prevalência baseada apenas em inquéritos epidemiológicos feitos no mundo (CALEGAR, 2021). ↠ Em países desenvolvidos a prevalência varia em torno de 7%, estando envolvida principalmente em surtos diarreicos de veiculação hídrica, água contaminada acidentalmente com fezes, piscinas, por transmissão fecal-oral direta em creches e demais populações de contato próximo. Nos países em desenvolvimento a prevalência de G. duodenalis é de até 30% (CALEGAR, 2021). ↠ No Brasil, estima-se que sua incidência varie de 4,0 a 30%, número que depende do estudo, da faixaetária e da região pesquisada (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ Coelho e colaboradores (2017) ao realizarem uma revisão sistemática de dados disponíveis para a infecção por G. duodenalis no Brasil nos últimos 20 anos, demonstraram que a prevalência dessa infecção é maior que 30% em alguns estados da região norte, nordeste e sudeste e sul do país. Sendo descrita em águas superficiais de rios, água do mar, lençóis freáticos, água estuarina, água tratada, água mineral, entre populações indígenas, animais de estimação, animais de criação e animais selvagens (CALEGAR, 2021). ↠ A doença é mais comum em crianças, principalmente aquelas de até 6 anos, o que aumenta a disseminação do parasito em locais propiciadores de aglomeração de pessoas, como instituições educacionais (creches). Entretanto, outros indivíduos têm predisposição para adquirir a doença, como aqueles que dispõem de alguma imunodeficiência (p. ex., infectados pelo vírus da imunodeficiência humana – HIV) e os portadores de fibrose cística, por apresentarem características que protegem o parasito das defesas do hospedeiro (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ETIOLOGIA Na primeira metade do século XX, dezenas de espécies foram descritas com base nos hospedeiros em que foram encontradas e em discretas variações morfológicas, nem sempre confirmadas de modo independente. A partir do trabalho clássico de Filice (1952), passou-se geralmente a admitir a existência de somente três espécies morfologicamente distintas de Giardia: G. duodenalis, que ocorre na maioria dos mamíferos, incluindo o ser humano e animais domésticos; G. agilis, de anfíbios; e G. muris, de roedores. Mais recentemente, duas novas espécies foram descritas em pássaros, G. psittaci e G. ardeae, e uma em roedores, G. microti (PEREIRA, 2021). ↠ Giardia duodenalis tem dois sinônimos frequentemente encontrados na literatura médica: G. lamblia e G. intestinalis (PEREIRA, 2021). ↠ Nas últimas décadas, foram definidos oito agrupamentos genéticos, ou assemblages (A, B, C, D, E, F, G e H), de G. duodenalis com características epidemiológicas distintas, ainda que os isolados classificados em cada agrupamento sejam morfologicamente indistinguíveis. Alguns deles circulam em hospedeiros específicos e podem corresponder a espécies definidas com base no hospedeiro em que foram originalmente encontradas (PEREIRA, 2021). 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck Entretanto, os dois principais grupos, A e B, compreendem parasitos capazes de infectar um grande número de animais domésticos e silvestres, além do ser humano, evidenciando o potencial zoonótico da infecção. Embora os critérios para a definição de novas espécies de Giardia ainda não sejam consensuais, predomina atualmente a tendência de referir-se aos parasitos que infectam o ser humano, pertencentes aos agrupamentos A e B, como G. duodenalis e G. enterica, respectivamente (PEREIRA, 2021). Giardia duodenalis que circula exclusivamente em cães (agrupamentos C e D) e em gatos (agrupamento F) corresponderia a duas espécies distintas, G. canis e G. cati, respectivamente. De modo análogo, G. bovis e G. simondi seriam as novas espécies correspondentes aos isolados de Giardia duodenalis reunidos nos agrupamentos E (encontrados principalmente em bovinos, suínos e equinos) e G (encontrados em roedores), respectivamente (PEREIRA, 2021). ASPECTOS BIOLÓGICOS ↠ Giardia lamblia/duodenalis/intestinalis está incluída na ordem Diplomonadida (protozoários de flagelos binucleados), e se apresenta de duas maneiras: como trofozoíto e cisto (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ O trofozoíto tem forma de pera, é simétrico bilateralmente e tem como medidas aproximadas de comprimento e largura, respectivamente, 20 e 10 μm. Dispõe de duas faces: dorsal (lisa e convexa) e ventral (côncava), na qual se percebe uma estrutura com a função de fixar o trofozoíto à mucosa duodenal. Essa estrutura apresenta diversas denominações, como o disco ventral, suctorial ou adesivo, que tem a forma de uma ventosa, possibilitando que o trofozoíto se alimente de substâncias líquidas. Abaixo do disco, há uma ou duas estruturas em formato de vírgula, denominadas corpos medianos, cuja função é desconhecida até o momento (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ Além das estruturas citadas, o trofozoíto possui, em seu interior e na parte frontal, dois núcleos. Apresenta ainda quatro pares de flagelos, que se dispersam da seguinte maneira: um par de flagelos anteriores, um par de flagelos ventrais, um par de flagelos posteriores e um par de flagelos caudais (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ Abaixo da membrana plasmática podem-se observar outras estruturas: vacúolos (envolvidos na função de pinocitose de partículas alimentares), retículo endoplasmático, axonemas (feixes de fibras longitudinais), aparelho de Golgi e ribossomos; no entanto, não se observa a presença de mitocôndrias, seu papel é desempenhado por uma estrutura chamada mitossoma (SIQUEIRA-BATISTA, 2020) ↠ Os cistos têm formato oval ou elipsoide e medem, normalmente, 12 μm de comprimento por 8 a 10 μm de largura. Em seu interior encontram-se 2 a 4 núcleos, além de outras estruturas, como as fibrilas e os corpos escuros, em formato de meia-lua, os quais podem ser confundidos com os corpos medianos, que estão presentes nos trofozoítos. Por apresentar membrana externa de características peculiares, o cisto pode tornar-se resistente a diversas características, como: variações de temperatura e umidade, e alguns produtos químicos (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). CICLO BIOLÓGICO ↠ O parasito G. intestinalis apresenta um ciclo monoxênico, ou seja, há apenas um hospedeiro definitivo. O ciclo inicia-se, principalmente, pela ingestão de água e/ou alimentos contaminados, e um número limitado de cistos (cerca de 10 a 100) é suficiente para causar doença (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). Cistos de Giardia intestinalis. São ovais ou elipsoides. Cistos maduros têm 4 núcleos, enquanto os imaturos têm dois. Núcleos e fibrilas são visíveis tanto em montagens úmidas coradas com iodo quanto em esfregaços manchados com tricrômio. 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck A transmissão pode ocorrer de forma indireta através da ingestão de cistos pela água, alimentos contaminados e também diretamente quando não se faz a higiene pessoal corretamente e principalmente as lavagens das mãos ou em locais onde encontram- se muitas pessoas juntas, como creches, escolas e regiões carentes com pouco recursos de saneamento básico. A coprófagia, comum em animais, é uma via de autoinfecção e amplifica a disseminação da enfermidade (PEREIRA, 2021). ↠ O processo de desencistamento inicia-se no estômago, devido ao estímulo do baixo pH; no entanto, esse processo se completa no duodeno e no jejuno, os quais serão colonizados pelos trofozoítos, que estão em constante multiplicação (por divisão binária). Posteriormente, ocorre outro processo, o de encistamento, que pode ter início no baixo íleo, embora considere-se que o principal sítio seja o ceco. Pode ter como estímulos: o pH intestinal, a presença de sais biliares e o destacamento do trofozoíto da mucosa; este último ocorre, certamente, pela resposta imune local. Depois disso, os trofozoítos são recobertos por membrana resistente, que seria secretada pelo parasito e que tem quitina em sua composição (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). Os cistos são resistentes, o que faz com que possam sobreviver em ambientes hostis, como água fria e variações na temperatura. Além disso, são eliminados em grande quantidade pelas fezes, o que pode corroborar seu poder infectante (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). FISIOPATOLOGIA ↠ Não se conhece em detalhes a fisiopatologia das alterações intestinais na giardíase. Na figura abaixo apresentam-se esquematicamente alguns mecanismos de patogenia propostos até o momento (PEREIRA, 2021).↠ Giardia coloniza preferencialmente o duodeno e o jejuno, um ambiente hostil em que poucos microrganismos são capazes de sobreviver. Os trofozoítos não invadem as células intestinais do hospedeiro, revestidas por uma camada de muco; no entanto, aderem ao epitélio com auxílio do disco adesivo presente em sua superfície ventral, bem como de proteínas com ação de lectina. Entre elas, destaca-se a giardina α-1, uma das proteínas imunodominantes na superfície de G. duodenalis, que se liga a moléculas sulfatadas no epitélio intestinal A corrente líquida produzida pelo batimento dos flagelos também auxilia na adesão ao epitélio intestinal (PEREIRA, 2021). ↠ Em textos clássicos menciona-se que os parasitos aderidos à mucosa intestinal podem constituir uma barreira mecânica para a absorção de nutrientes. No entanto, a grande reserva funcional do intestino delgado, cuja área é equivalente à de uma quadra de tênis, torna essa hipótese insustentável diante das pequenas dimensões do parasito. As lesões mais evidentes na morfologia da mucosa intestinal são a atrofia de vilos e a hiperplasia das criptas, que podem reduzir a superfície disponível para a absorção de nutrientes. No entanto, podem ocorrer sintomas em pacientes sem atrofia de vilos, sugerindo que essa alteração não explica completamente a patogênese da giardíase (PEREIRA, 2021). ↠ Do ponto de vista funcional, a alteração mais frequentemente associada à infecção por G. duodenalis é a redução da atividade de diversas enzimas da orla em escova da mucosa intestinal, como a maltase, a sucrase, a lactase, a sacaridase e outras, bem como de enzimas do lúmen intestinal, como a tripsina, a quimiotripsina, a amilase e a lipase. Os fatores que levam à redução de 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck atividade dessas enzimas permanecem desconhecidos, mas suas consequências (essencialmente a redução da absorção de carboidratos, gorduras e vitaminas) são bem documentadas na literatura (PEREIRA, 2021). ↠ A giardíase produz também aumento da permeabilidade intestinal, provavelmente como consequência de inflamação da mucosa e apoptose de enterócitos, bem como aumento da secreção de cloretos, levando ao acúmulo de líquido no lúmen intestinal durante a infecção. Observa-se também aumento da motilidade intestinal. Finalmente, acredita-se que a giardíase produza alterações na composição da microflora intestinal que podem afetar a resposta do hospedeiro à presença do próprio parasito e de outros patógenos intestinais (PEREIRA, 2021). A maioria dos estudos busca a explicação para algumas das manifestações clínicas, principalmente a síndrome de má absorção e a diarreia. Essas explicações têm como base a reação inflamatória provocada pelo parasito. Este, quando em contato com macrófagos da mucosa intestinal, desencadeia o processo de ativação dos linfócitos T, os quais ativam os linfócitos B, que produzem as imunoglobulinas IgA e IgE (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). A IgE, por sua vez, amplifica esse processo, pois se conecta aos mastócitos (presentes na mucosa intestinal), dando início ao processo de degranulação de tais células e liberação de substâncias, como a histamina. Portanto, o conjunto dessas reações levam ao edema da mucosa e à contração dos músculos lisos, o que culmina no aumento da motilidade intestinal, que explicaria também o aumento da renovação dos enterócitos. Sendo assim, as vilosidades ficam compostas de células imaturas, causando dificuldades de absorção e diarreia (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). Recentemente, acredita-se também que a prostaglandina possa estar envolvida no aparecimento da síndrome diarreica. Esse fato seria explicado pela liberação de prostaglandinas por mastócitos e monócitos ativados pela reação imune, aumentando diretamente a motilidade intestinal, ou por meio da ativação da adenilciclase presente na mucosa, levando ao aparecimento da diarreia (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Em seres humanos, a infecção por Giardia pode ser assintomática ou produzir até síndromes graves de má absorção. Os fatores que possivelmente contribuem para esta variabilidade de expressão clínica incluem a virulência das cepas de Giardia, o número de cistos ingeridos e a idade e o estado imunitário do hospedeiro no momento da infecção. As infecções prévias por Giardia produzem certo grau de proteção contra formas clínicas em infecções subsequentes (PEREIRA, 2021). Por isso, em áreas endêmicas, a maioria das infecções sintomáticas em indivíduos imunocompetentes ocorre em crianças ou em viajantes não imunes, provenientes de áreas de baixa transmissão. Em pacientes semi-imunes, a fase aguda pode resolver-se espontaneamente. Se isso não acontecer, segue-se um estágio crônico. A aquisição de imunidade protetora é, pelo menos em parte, restrita pelo fenômeno de variação clonal antigênica, que possibilita ao parasito mudar rapidamente suas glicoproteínas de superfície mais imunogênicas (PEREIRA, 2021). ↠ A infecção assintomática ocorre tanto em adultos como em algumas crianças. Estima-se que, em países industrializados, 5 a 15% dos portadores de infecção permaneçam sem sintomas mesmo se não tratados. Entre crianças de países em desenvolvimento, a infecção é extremamente comum, mas frequentemente deixa de ocorrer diarreia; ainda assim, episódios repetidos de infecção levam ao retardo do crescimento ao longo dos dois primeiros anos, sugerindo que as infecções subclínicas tenham algum impacto nutricional. É possível que alguns indivíduos classificados como assintomáticos apresentem episódios de diarreia transitória, que escapam ao registro clínico (PEREIRA, 2021). ↠Após um período de incubação, que varia de 5 a 25 dias (média de 7 a 10 dias), a sintomatologia da doença pode surgir (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). A giardíase aguda caracteriza-se como uma doença diarreica, com duração entre 2 e 4 semanas. Os sinais e sintomas mais comuns são a esteatorreia e o desconforto abdominal; pode haver náuseas, vômitos e perda de peso (PEREIRA, 2021). ↠ Na fase inicial da doença, a diarreia é frequentemente explosiva, mas progressivamente as evacuações se tornam mais intermitentes. Embora a infecção seja autolimitada na maioria dos indivíduos imunocompetentes, cerca de 30 a 50% deles apresentam diarreia crônica (duração superior a 2 semanas) (PEREIRA, 2021). ↠ Em 25% dos pacientes não imunes, os sintomas podem persistir por 7 semanas ou mais. Nesses casos, a perda de peso pode ser pronunciada em função das dificuldades de absorção de diversos nutrientes (PEREIRA, 2021). ↠ Pode haver deficiência secundária de lactase em até 40% dos pacientes, criando dificuldades de absorção de lactose. Se não tratadas, as infecções podem durar vários meses, com exacerbação periódica do quadro diarreico (PEREIRA, 2021). ↠ As infecções crônicas são mais comuns entre indivíduos com baixa produção de anticorpos, como os portadores de agamaglobulinemia ligada ao X, de imunodeficiência comum variável e de deficiência de IgA (PEREIRA, 2021). 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck DIAGNÓSTICO ↠ Como a clínica da doença é inespecífica, alguns ensaios laboratoriais são utilizados para o diagnóstico de giardíase, tais como: pesquisa de cistos ou trofozoítos nas fezes; coleta do fluido duodenal e biopsia duodenal por meio de endoscopia; pesquisa de antígenos nas fezes por meio da técnica de ELISA; detecção do ácido desoxirribonucleico (DNA) em amostra de fezes pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR); imunosseparação magnética acoplada à imunofluorescência (IMS-IFA); e outros métodos complementares (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ O exame parasitológico de fezes (EPF) apresenta baixa sensibilidade, o que pode ser explicado pela eliminação intermitente dos cistos nas fezes, chamada de “período negativo”. Além disso, outros fatorespodem influenciar o resultado, como carga parasitária reduzida e inexperiência dos técnicos de laboratório. Deve-se atentar para a característica das fezes, já que esse fator influencia na escolha da forma do protozoário a ser procurada, ou seja, cistos ou trofozoítos (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). • Fezes formadas: realiza-se a pesquisa de cistos por exame direto a fresco, corado com salina ou pelo lugol. Podem-se utilizar também os métodos de concentração, o método de Faust (centrífugo-flutuação), que geralmente é o de escolha, ou o de Hoffman, Pons e Janes, por sedimentação espontânea; • Fezes diarreicas: realiza-se a pesquisa de trofozoítos. Como eles perecem rapidamente nas fezes, é recomendável a coleta do material já em laboratório e seu exame imediato, ou a diluição das fezes em conservante, como o MIF. Utiliza-se o método direto ou corado por lugol ou hematoxilina sérica. Para que esses exames tenham maior sensibilidade, recomenda- se que sejam coletadas três amostras em dias alternados (SIQUEIRA- BATISTA, 2020). Estima-se que a sensibilidade de um único exame de fezes esteja em torno de 60 a 80%, enquanto três exames seriados seriam capazes de detectar mais de 90% das infecções por G. duodenalis. Ocasionalmente, aspirados duodenais são obtidos para o diagnóstico de giardíase pelo encontro de trofozoítos (PEREIRA, 2021). ↠ Em casos de amostras de fezes sequencialmente negativas, como em pacientes com diarreia crônica ou com síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), recomenda-se a realização da coleta do fluido duodenal e da biopsia duodenal por meio de endoscopia. Geralmente, utiliza-se uma amostra fresca, visualizando-se os trofozoítos em lâminas ou pelo método chamado entero- test (teste do barbante), no qual o muco obtido da amostra duodenal é examinado microscopicamente. A biopsia duodenal, por ser um método invasivo, fica reservada aos casos em que é necessário fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças, o que possibilita a análise microscópica e detalhada do material retirado (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ Pesquisa de antígenos nas fezes por meio da técnica de ELISA: Sua sensibilidade é maior que a do exame parasitológico de fezes, cerca de 85 a 90%, o que pode auxiliar na diminuição de resultados falso-negativos. Entretanto, uma desvantagem desse método é o fato de não identificar a presença de outros parasitos nas fezes (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ Detecção do DNA: Essa técnica envolve a detecção de probes de DNA de Giardia em amostra de fezes por meio da técnica de PCR. Tem como vantagem altas sensibilidade e especificidade, mas ainda é pouco utilizada (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ Imunosseparação magnética acoplada à imunofluorescência (IMS-IFA): Trata-se de outra técnica que pode ser utilizada atualmente, a qual possibilita a detecção de cistos de G. intestinalis em fezes. Ao que parece, essa técnica é mais sensível que o EPF por meio do método de Faust. O teste sorológico também pode ser feito, detectando-se imunoglobulinas (anticorpos IgA anti-Giardia lamblia) no soro do doente por meio da técnica ELISA ou imunofluorescência (SIQUEIRA- BATISTA, 2020). MÉTODOS COMPLEMENTARES: Outros exames podem ser realizados com o intuito de elucidar um pouco mais a protozoonose, mas não são específicos para o diagnóstico. A radiografia de abdome com a utilização de bário pode evidenciar espessamento da mucosa duodenal em cerca de 20% dos pacientes. Enquanto isso, a ultrassonografia também pode mostrar espessamento da parede intestinal, além de lesões na mucosa duodenal e do cólon (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). TRATAMENTO ↠ É importante salientar que é aconselhável tratar todos os indivíduos portadores da infecção, mesmo aqueles assintomáticos. Porém, deve-se reconhecer que, em áreas endêmicas, o tratamento pode ser desapontador, já que a taxa de reinfecção pode chegar a 90% (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ O tratamento das infecções por protozoários intestinais se faz, na maioria das vezes, com o uso de nitroimidazólicos, entre eles: secnidazol, metronidazol e tinidazol. O metronidazol é utilizado para giardíase desde 13 Júlia Morbeck – @med.morbeck a década de 1960. Quando ativado, liga-se ao DNA do protozoário, interrompendo sua cadeia respiratória, o que o leva à morte. Esse medicamento é rapidamente absorvido, distribuindo-se amplamente, sendo metabolizado pelo fígado e excretado pelos rins e vias biliares (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ O tinidazol, apresenta elevada eficácia quando utilizado em dose única, o que auxilia para que o paciente tenha maior adesão ao tratamento. Além disso, tem sido relatado como uma boa opção para o grupo pediátrico por ser disponível sob a forma de suspensão oral, embora muitas crianças o rejeitem pelo sabor desagradável (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). O uso de nitroimidazólicos durante o primeiro trimestre de gravidez é contraindicado, por atravessarem a barreira placentária. Também são contraindicados em nutrizes, por deixarem o leite materno com sabor amargo, provocando recusa dos lactentes. Deve- se, também, orientar os pacientes que estão em uso de nitroimidazólicos para que não façam uso de bebidas alcoólicas durante o tratamento, pelo risco de efeito dissulfiram-like (antabuse) (SIQUEIRA- BATISTA, 2020). ↠ A nitazoxanida é uma nova substância antiparasitária aprovada para o tratamento de criptosporidíase e giardíase. Apresenta eficácia de 80%, mas provoca mais efeitos adversos comparados aos nitroimidazólicos. Seu principal efeito adverso é a dor abdominal, que pode ser recorrente; além disso, esse medicamento tem elevado custo e risco de menor adesão dos pacientes. Sua posologia para crianças maiores e adultos é de 500 mg, 2 vezes/dia, durante 3 dias (SIQUEIRA-BATISTA, 2020). ↠ A resistência aos compostos nitroimidazólicos vem sendo descrita na giardíase, mas sua prevalência é desconhecida. As alternativas aos nitroimidazólicos são a furazolidona (100 mg, 2 vezes/dia, por 7 a 10 dias em adultos e 2 mg/kg, 2 vezes/dia, por 7 a 10 dias em crianças) e o albendazol (400 mg/dia, por 5 dias em adultos, e 15 mg/kg/dia [dose máxima, 400 mg], por 5 a 7 dias em crianças). A nitazoxanida (400 a 500 mg/dia, 3 dias em adultos) pode ser uma alternativa em casos refratários ao tratamento com nitroimidazólicos, mas não apresenta vantagens em relação ao tratamento clássico na ausência de resistência documentada (PEREIRA, 2021). Sugere-se realizar novos exames parasitológicos de fezes 7, 14 e 21 dias após o término do tratamento, como controle de cura (PEREIRA, 2021). Políticas públicas de saneamento básico ↠ Para Sechi (2012) a definição de política pública é entendida como uma “[...] diretriz elaborada para enfrentar um problema público. [...] uma orientação à atividade ou à passividade de alguém”. Assim sendo, uma política pública possui dois elementos fundamentais, segundo Sechi (2012): “[...] intencionalidade pública e resposta a um problema público [...]”, ou seja, diante de um problema coletivamente relevante, surgem proposições relevantes (SCHILLING, 2019). ↠ No Brasil, o saneamento básico tornou-se uma necessidade, pois o crescimento populacional e o aumento da exploração dos recursos naturais afetaram diretamente o meio ambiente e, por consequência, a saúde da população (SCHILLING, 2019). ↠ O saneamento básico e a política federal de saneamento básico possuem suas diretrizes estabelecidas na Lei do Saneamento (Lei N° 11.445/2007), sendo o saneamento compreendido em sua visão ampla por: (TEIXEIRA et. al., 2020). • serviços de abastecimento de água; • esgotamento sanitário e tratamento dos efluentes; • coleta e destinação final dos resíduos sólidos; • drenagem urbana e controle de vetores, associados aos aspectos de saúde e do meio ambientenatural e construído. ↠ A falta de saneamento é um problema comumente referido no Brasil e contribui para o surgimento de morbidades e até fatalidades em nosso país, especialmente das doenças associadas à pobreza como as parasitoses intestinais (TEIXEIRA et. al., 2020). ↠ Vale destacar que os estudos mencionam o saneamento básico para controle das parasitoses intestinais, não de maneira isolada, mas interligado às atividades de educação em saúde. A educação em saúde pode ser uma medida eficaz no controle das enteroparasitoses em localidades onde há boas condições de saneamento ambiental, pois permitem a melhoria dos hábitos de higiene da população, como a higiene das mãos e dos alimentos consumidos sem cozimento (TEIXEIRA et. al., 2020). ↠ As atividades educativas podem funcionar como importantes ferramentas no controle das enteroparasitoses, em especial no compartilha de saberes sobre as formas de prevenção e transmissão. Entretanto, 14 Júlia Morbeck – @med.morbeck essas atividades necessitam estar alinhadas às características culturais de cada grupo, como faixa etária, nível de escolaridade e adequadas à realidade local. Deve- se respeitar o conhecimento já adquirido, sendo importante o início dessas atividades desde a pré- escola, pois a população com maior risco de aquisição dessas infecções é o público infantil (TEIXEIRA et. al., 2020). Referências ANTUNES et. al. Parasitoses intestinais: prevalência e aspectos epidemiológicos em moradores de rua. RBAC, v. 52, n. 1, p. 87-92, 2020. FEREIRA, Marcelo U. Parasitologia Contemporânea. Grupo GEN, 2020. E-book. SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo. Parasitologia - Fundamentos e Prática Clínica. Grupo GEN, 2020. E-book. WHALEN et. al. Farmacologia ilustrada, 6ª edição. Artmed, 2016. MELO, H. C. O.; CORDOVA, C. A. S. Análise da taxa de internações e da mortalidade pela amebíase no brasil entre 2015 e 2021. JNT- Facit Business and Technology Journal. QUALIS B1, ed. 39, v. 39, 2022. PEREIRA, G. B. Giardiase e a sua importância na saúde pública. Trabalho de conclusão de curso, UNICEPLAC, Gama-DF, 2021. CALEGAR, D. A. Epidemiologia e caracterização molecular de parasitos intestinais em diferentes regiões brasileiras, com ênfase em giardia duodenalis e entamoeba spp. Doutorado em Medicina Tropica, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2021. TEIXEIRA et. al. Parasitoses intestinais e saneamento básico no Brasil: estudo de revisão integrativa. Brazilian Journal of Development, v. 6, n.5, 2020. SCHILLING, R. Políticas públicas de saneamento básico: inserção e participação social. Trabalho de pós-graduação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Novo Hamburgo, 2019.
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