Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Questão No ato de recebimento da denúncia, o juiz competente, ao consultar os autos, verificou que o denunciado foi interrogado perante a autoridade policial sem a presença de defensor. Notou, ainda, determinados vícios procedimentais de forma nos autos do inquérito policial. Diante dos fatos narrados, esclareça se o magistrado pode reconhecer a nulidade de atos. Resposta A doutrina e a jurisprudência pátrias são dominantes no sentido de que não há falar em nulidade de ato praticado nos autos do inquérito policial. Isso porque o inquérito policial é um procedimento administrativo de investigação, consubstanciando peça meramente informativa da denúncia ou da queixa. A nulidade, por sua vez, relaciona-se exclusivamente a atos processuais, isto é, inerentes a um expediente judicial, não havendo, portanto, a hipótese de nulidade de ato produzido em procedimento administrativo preparatório de ação penal. Eventual irregularidade na produção de prova na fase inquisitorial deverá ser sanada pelo juiz durante a instrução do processo – ou mesmo antes, se for preciso –, sob a égide da ampla defesa e do contraditório, como, por exemplo, a produção de determinado laudo pericial. Assim entende o C. Superior Tribunal de Justiça, como se depreende dos seguintes julgados: “A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça consolidou-se no sentido de que eventuais máculas na fase extrajudicial não têm o condão de contaminar a ação penal, dada a natureza meramente informativa do inquérito policial.” (STJ, RHC 54.032/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 01/08/2017) "É cediço que o inquérito policial é peça meramente informativa, de modo que o exercício do contraditório e da ampla defesa, garantias que tornam devido o processo legal, não subsistem no âmbito do procedimento administrativo inquisitorial" (STJ, RHC 57.812/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJe 22/10/2015). ________________________________________________________________________ Questão Quanto às nulidades no processo penal, é incorreto afirmar: ● a nulidade do ato processual pode ser classificada como absoluta ou relativa; (correto) ● o ato processual nulo não emana efeitos desde o início de sua existência; (incorreto) - Fundamentação: Conforme estudamos, não existe nulidade de pleno direito no sistema processual penal, de maneira que o ato processual somente perderá sua eficácia quando uma decisão judicial assim o determinar, reconhecendo sua nulidade no caso concreto. ● a nulidade situa-se no plano da validade do ato processual; (correto) ● a nulidade pode ser definida como o vício processual em si ou como sua consequência jurídica; (correta) ________________________________________________________________________ Questão Você, advogado, assume determinado caso por ocasião da apresentação de memorial de alegações finais, após o encerramento da instrução do processo. Ao estudar os autos para a elaboração da tese defensiva, você se depara com o grave fato de que diversas decisões judiciais possuíam a assinatura eletrônica de um escrevente do cartório da Vara Criminal. Como você fundamentaria tal vício processual no referido memorial de alegações finais? E qual seria o pedido a ser formulado em relação a tal vício? Resposta Ainda que se trate de um erro no momento da assinatura digital, com a inserção do cartão errôneo, é certo que a decisão judicial foi proferida por sujeito desprovido de poder jurisdicional, porquanto assinada por um servidor do cartório. Assim, na condição de advogado, a melhor tese defensiva seria a de que tais decisões judiciais viciadas consistiriam em atos processuais inexistentes, já que a figura do juiz é um pressuposto processual de existência. De mais a mais, uma decisão judicial pressupõe a assinatura de um juiz de direito, sob pena de não possuir um elemento essencial de sua própria constituição jurídica. Logo, a fundamentação estaria lastreada na figura do ato inexistente, com o pedido de refazimento de tais atos processuais e a anulação dos atos processuais posteriores dependentes. Saliente-se, nesse ponto, que o pedido não deverá ser a anulação das decisões judiciais em questão, porque, uma vez inexistentes, simplesmente não comportam anulação (não se pode anular o que não existe). Em que pese tal argumentação defensiva, é possível que o juiz, ao apreciar tal questão, evite o retorno da marcha processual e o prolongamento do processo sob o argumento de que tal vício consistiria em uma mera irregularidade processual. Nessa ótica, o próprio juiz teria elaborado e proferido as referidas decisões judiciais, ao passo que a assinatura digital das decisões seria de responsabilidade do escrevente de sala, a título de auxílio. Tal equívoco do escrevente de sala, sob esse viés interpretativo, não resultaria em qualquer ato inexistente ou nulo, mas tão somente em mera irregularidade, devendo tais decisões ser novamente impressas e juntadas aos autos do processo – dessa vez, com a correta assinatura digital –, inexistindo qualquer prejuízo às partes. ________________________________________________________________________ Questão No que tange os planos do ato processual, é incorreto afirmar que: ● Os atos processuais devem ser analisados em três são os planos: existência, validade e eficácia. (correto) ● A validade do processo exige um juiz competente, não suspeito e não impedido, assim como uma denúncia apta e uma citação válida. (correto) ● A inexistência do ato processual deve ser aferida por meio de seus elementos de validade e eficácia. (incorreto) - Fundamentação: No caso de ato inexistente, sequer é necessário examinar a validade e a eficácia do ato, porque sequer existe perante o mundo jurídico. Um ato inexistente não é passível de anulação no processo porque, por óbvio, não existe. Deve, portanto, tal vício processual ser sanado mediante a superveniência do ato inexistente. Se não há denúncia, elabore-se a denúncia. Se não há sentença proferida por agente público investido de poder jurisdicional, então que um juiz profira uma sentença no processo correspondente ● É inexistente o ato processual que não possui elementos essenciais à sua constituição. (correto) ● Atos irregulares são infrações superficiais, não chegando a contaminar a forma legal a ponto de merecerem renovação. (correto) _________________________________________________________________________ Questão Durante a audiência de instrução em uma ação penal, as testemunhas de defesa foram ouvidas pelo juízo antes das testemunhas de acusação. Ato seguinte, realizou-se o interrogatório do réu, com a superveniência da sentença penal condenatória. Pergunta-se: houve nulidade processual na espécie? Fundamente. Resposta Em harmonia com os princípios da instrumentalidade das formas e da economia processual, a doutrina e a jurisprudência pátrias entendem, de modo majoritário, que a inversão na ordem de oitiva das testemunhas em audiência no processo penal configura tão somente nulidade relativa. Por consequência, deve a parte interessada comprovar o efetivo prejuízo decorrente da inversão da ordem em questão, como, por exemplo, um fato novo trazido por uma testemunha de acusação, não podendo uma testemunha de defesa ter sido inquirida a respeito pela própria defesa do acusado. Caso contrário, se houver uma hipótese de mera inobservância de formalidade legal, não haverá falar em nulidade, à medida que o ato processual complexo (audiência de instrução) alcançou seu objetivo final com êxito. Se assim não fosse, o cumprimento de um formalismo legal, ainda que inexistindo prejuízo efetivo às partes, sobrepujaria a própria finalidade do processo, resultando no atraso irracional da prestação jurisdicional. Ressalte-se, no mais, a hipótese de ter havido a prévia concordância das partes quanto à inversão da ordem de oitiva das testemunhas, no momento da audiência. Nesse caso, por se tratar de nulidade relativa, não poderá a parte suscitar posteriormente tal vício, nos termos do art. 565 do Códigode Processo Penal, in verbis: “Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse”. _________________________________________________________________________ Questão Assinale a alternativa que melhor retrate o princípio da causalidade dos atos processuais nulos: Resposta A nulidade do ato culmina na nulidade dos atos processuais subsequentes dependentes. Questão Nas razões de um recurso de apelação, o Ministério Público suscitou, preliminarmente, a nulidade do processo por não ter havido a vista dos autos em seu favor antes do proferimento de algumas decisões judiciais. Tal alegação preliminar foi fundamentada no art. 564, III, alínea d, do Código de Processo Penal. Você, na condição de defensor de José, réu apelado, alegaria o que em sede de contrarrazões de apelação para afastar a preliminar arguida pelo órgão ministerial? Resposta Pode-se alegar que, conforme sabido, a previsão disposta no art. 564, III, alínea d, do Código de Processo Penal constitui hipótese de nulidade relativa, tal como defendido, por exemplo, por Guilherme de Souza Nucci. Nessa linha de raciocínio, em se tratando de nulidade relativa, deveria o representante do Ministério Público ter suscitado tal vício de forma no momento processual oportuno, logo após sua ocorrência. Assim não o fazendo, tais atos relativamente nulos restaram convalidados no processo, inexistindo qualquer nulidade passível de reconhecimento já em grau recursal. Nesse sentido, deve-se observar o disposto no art. 572, inciso I, do Código de Processo Penal, in verbis: As nulidades previstas no art. 564, III, “d” e “e”, segunda parte, “e” e “h”, e IV, considerar-se-ão sanadas: I – se não forem arguidas, em tempo oportuno, de acordo com o disposto no artigo anterior. Ademais, abstraindo a clara preclusão operada, é certo que a omissão de formalidade alegada pelo órgão ministerial não causou qualquer prejuízo ao recorrente, sendo ônus do Parquet a comprovação do referido prejuízo, o que não ocorreu na espécie. E, como é sabido, inexistindo prejuízo, não há falar em nulidade, a teor do art. 563 do Código de Processo Penal. ________________________________________________________________________ Questão Identifique a alternativa correta: ● O rol de nulidades previsto no art. 564 do Código de Processo Penal é taxativo. (incorreto) - São Exemplificativos ● A nulidade relativa sujeita-se aos efeitos da preclusão. (correto) ● Tanto a nulidade absoluta quanto a nulidade relativa podem ser convalidadas pelo juiz. (incorreto) - Podem ser reconhecidas ● As nulidades relativas são aquelas que devem ser proclamadas pelo magistrado, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes. (incorreto) ● A nulidade relativa pode ser reconhecida de ofício pelo magistrado, desde que se trate de ação penal pública incondicionada. (incorreta) Fundamentação: Por não abranger questões de ordem pública, diante da menor gravidade do vício processual, denotando interesse exclusivamente particular, deve a parte suscitar a nulidade relativa no momento processual oportuno, sob pena de convalidação do ato processual correspondente.
Compartilhar