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GENÉTICA MÉDICA Julya Pavão FIBROSE CÍSTICA FIBROSE CÍSTICA · A Fibrose Cística (FC) é a doença genética autossômica recessiva mais comum e mais grave na população caucasiana; · Caracterizada pela disfunção do gene cystic fibrosis transmembrane conductance regulator (CFTR), tal que codifica uma proteína reguladora de condutância transmembrana de cloro. · É multissistêmica; · Grande morbidade e mortalidade; · Sobrevida: 37 anos. · 1 em cada 25 indivíduos é portador assintomático de uma mutação no gene da Fibrose Cística. · Incidência: 1 a cada 2500 nascidos vivos. · Ocorre frequentemente em populações descendentes de caucasianos. · A prevalência varia de acordo com a localização e os antecedentes étnicos. · População branca americana: 1 em 3000-3500 nascidos vivos. · Latino-americanos: 1 em 4000-10.000 nascidos vivos. · No Brasil: 1:7576 nascidos vivos. · Afro-americanos: 1 em 15.000-20.000 nascidos vivos. · Ambos os pais de um afetado são portadores, e o risco de recorrência da FC é de 25% para seus próximos filhos. · O risco de um indivíduo com fibrose cística ter filhos afetados depende de seu parceiro – se o parceiro for portador da doença este risco é de 50%. · Possibilidades: · Homozigoto: mesma mutação nos dois alelos. · Heterozigoto composto: mutações diferentes em cada um dos alelos. · Heterozigoto: portador de mutação em somente um dos alelos (saudável). · O gene CFTR está localizado na região q31.2 do cromossomo 7; · Engloba 250 kb de DNA genômico; · Possui 27 éxons; · É transcrito em RNA e depois é traduzido em uma proteína com 1480 aminoácidos. · CFTR = cystic fibrosis transmembrane conductance regulator. · Proteínas com mutação ficam sujeitas à degradação proteassômica em pouco tempo. · Nos processos de síntese dos fragmentos hidrofílicos e hidrofóbicos e de dobramento, pode haver adesão à parede do retículo. · Consequências: demora e ineficiência da síntese. · Mutação F508del: · Mais comum na população caucasiana. · Encontrada em aproximadamente dois terços dos indivíduos diagnosticados com FC. · Classe I: · Inibe ou reduz a biossíntese da proteína CFTR · Proteína truncada ou pouco estável ➡ destruição por chaperonas · Fenótipos de fibrose cística (FC) mais graves · Mutações mais comuns: · Nonsense · Frameshift · Mutações que alteram o local de splicing · Mutações que alteram o códon de iniciação e tradução · Classe II: · Afeta o processamento da proteína · Causa: misfolding incorreto · Proteínas retidas no RE ➡ não são glicosiladas no aparelho de Golgi ➡ falta proteínas funcionais na membrana · Fenótipos de FC grave · Principal representante dessa classe é a mutação F508del · Classe III: · Afeta a regulação do canal de Cl- · As proteínas chegam à membrana celular, mas não respondem à estimulação por cAMP · Mutações nos domínios NBD1 e NBD 2 ➡ impede a ligação de ATP ➡ não há ativação do canal · Também pode afetar outros canais · Classe IV: · Afeta o transporte de Cl- · A proteína chega à membrana celular e responde a estímulos · Mutações nos domínios transmembranares ➡ condutância reduzida de Cl- · Fenótipo de FC moderado com suficiência pancreática. · Classe V: · Mutações no promotor ➡ reduzem transcrição, splicing alternativo e maturação ineficiente · Menor produção de proteínas · Fenótipo de FC moderado · Classe VI: · Mutações que diminuem a estabilidade da proteína · Nonsense ou frameshift · Fenótipo de FC grave · As classes I, II, III e VI estão associadas a um fenótipo de insuficiência pancreática (IP), enquanto os pacientes com mutações das classes IV e V apresentam suficiência pancreática (SP). · Mutações intermediárias: · Suficiência pancreática, diagnóstico tardio, baixos níveis de Cl- no suor e dano pulmonar intermediário. · Mutações graves: · Insuficiência pancreática, início precoce dos sintomas, altos níveis de Cl- no suor e infertilidade masculina. · Pacientes com doença hepática tendem a apresentar mutações de efeito grave, que são altamente associadas à insuficiência pancreática. · Pacientes com pancreatite crônica e aguda recorrente apresentam alta percentagem de mutações CFTR de um ou de ambos os alelos. · Não há esclarecimento da influência do genótipo no curso das doenças pulmonares. · Exemplo: pacientes portadores de FC com o mesmo genótipo têm variação da função pulmonar · Alguns pacientes que são homozigotos ou heterozigotos para duas mutações nonsense têm doença pulmonar leve, porém severo envolvimento pancreático. · No pulmão, a ausência da proteína CFTR deve ser menos prejudicial do que a proteína defeituosa (hipótese). · Polimorfismos em genes mediadores inflamatórios ou responsáveis pela resposta inata podem modular a expressão da doença. · Trato respiratório: · Interfere na função ciliar, reduzindo o fluxo e o transporte de muco. · Bactérias ficam presas a densas placas de muco na superfície do epitélio pulmonar · Longos períodos de efeitos deletérios, pela resposta inflamatória · Tosse, produção de escarro, sinusite e pólipos nasais podem estar presentes. · Principal causa de mortalidade e morbidade, com declínio progressivo da funcionalidade do órgão. · Variabilidade da doença pulmonar nos pacientes com FC: · Idade do paciente na primeira infecção com patógenos bacterianos · Grau de dilatação brônquica (bronquiectasia) · Taxa de declínio pulmonar. · Pâncreas: · Aumento da viscosidade e a redução da alcalinidade nas secreções pancreáticas acinares. · Aproximadamente 90% dos pacientes com FC apresentam insuficiência pancreática exócrina · Pacientes com FC têm uma alta probabilidade de desenvolver diabetes mellitus, pois ocorre perda funcional das células beta com progressiva fibrose das ilhotas de Langerhans. · Podem existir quadros de pancreatite recorrente. · Trato gastrointestinal: · Dilatação e hiperplasia das glândulas submucosas ao longo do intestino grosso e delgado com acúmulo de secreções eosinofílicas no lúmen dessas estruturas. · Pacientes com FC e IP tem predisposição à obstrução parcial ou incompleta do trato gastrointestinal, com fezes mais espessas e presença de gordura. · Cerca de 13 a 20% dos pacientes com FC neonatais apresentam íleo meconial · Adultos podem apresentar síndrome da obstrução intestinal distal. · Doença hepatobiliar: · Afeta primariamente as células epiteliais dos ductos biliares ao invés dos hepatócitos. · Alteração na composição e hidratação da bile, acarretando deposição de material eosinofílico nos ductos biliares com inflamação crônica secundária. · Pode culminar em cirrose hepática. · Danos na síntese endógena de vitamina D e de seus metabólitos. · Os baixos níveis séricos de vitamina D contribuem para liberação do paratormônio (PTH) com o objetivo de elevar a calcemia, porém altos níveis desse hormônio mobiliza cálcio e fósforo dos ossos, diminuindo ainda mais a massa óssea. · Glândulas sudoríparas: · Elevada concentração de Na+ e Cl- no suor produzido pelas glândulas sudoríparas ecrinas. · Presente desde o nascimento e durante toda a vida do paciente. · Em condições normais, o suor inicialmente é isotônico e, ao se deslocar pelo ducto glandular, ocorre reabsorção de íon sódio e cloreto, tornando-se hipotônico. · O cloreto é transportado pelo lúmen do ducto para o interior da célula por meio de canais CFTR e o íon sódio é reabsorvido por outro canal regulado pelo CFTR. · Em pacientes com FC, a perda excessiva de água e de eletrólitos pode levar a um colapso cardiovascular e resultar em desidratação hipoclorêmica ou alcalose metabólica hipoclorêmica. · Trato geniturinário: · Aproximadamente 99% dos homens com FC são inférteis; · Azoospermia pela a ausência congênita bilateral dos vasos deferentes; · Espermatogênese não comprometida na maioria dos casos. · A infertilidade pode ser a manifestação inicial para alguns homens com a forma intermediária da doença. · Em mulheres pode haver fertilidade reduzida. · Hipótese: espessamento do muco cervical (mais uma barreira para os espermatozoides); · Tamanho reduzido dos órgãos reprodutivos;· Ciclo menstruais anormais. · Puberdade tardia e amenorreia podem estar presentes em mulheres com FC, principalmente devido ao baixo peso corporal. · A ausência de vasos deferentes pode ser a única manifestação clínica em homens (FC atípica). · O diagnóstico deve ser feito o mais cedo possível, para promover o aconselhamento e o tratamento adequado para o quadro. · CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: · Histórico familiar de fibrose cística · Manifestações fenotípicas · Rastreio neonatal positivo · Teste de suor · Diferença de potencial nasal · Identificação de duas mutações causadoras de fibrose. · Também chamado de triagem neonatal (TNFC), o rastreio irá identificar as crianças com risco de ter a doença; · Coletada a partir de gotas de sangue colhidas no calcanhar da criança: TESTE DO PEZINHO. · Método: Dosagem do tripsinogênio imunorreativo (IRT) · IRT- Precursor da enzima pancreática · Os níveis costumam estar persistentemente elevados mesmo em casos de suficiência pancreática · Valor de referência: <70 ng/ml sangue até 30 dias de vida · Valores acima de 70ng/ml - TRIAGEM POSITIVA · CASO O RESULTADO FOR POSITIVO, O QUE FAZER? · Após duas semanas deverá ser realizado um novo teste (desde que não ultrapasse os 30 dias de vida) · Caso indique positividade ou caso os 30 dias sejam ultrapassados, indica-se realizar o teste do suor. · Teste do suor: · Teste padrão ouro para o diagnóstico de FC · Realiza-se o teste do suor nos seguintes casos: · Dois quantitativos de IRT positivos · Um quantitativo de IRT positivo com a impossibilidade de realização de outro · IRT negativo, porém com manifestações sugestivas de FC · Pacientes que tiveram íleo meconial · Pacientes com irmãos diagnosticados com FC · Suspeita de FC no adulto · Objetivo: medir as concentração de cloro presentes no suor · Métodos: Quantitativo e Qualitativo · Locais mais adequados para realizar: · Braços · Pernas · A iontoforese não deve atravessar o coração. · De acordo com as DIRETRIZES BRASILEIRAS DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA FIBROSE CÍSTICA o laboratório deve: · Manter controle de qualidade interno e externo · Realizar no mínimo 100 testes/ano (com no mínimo 10 testes/ano por técnico). · Diferença do potencial nasal: · Objetivo: Avaliar a diferença de potencial transepitelial · Fluxo dos íons cloreto e sódio · Método: Infusão de soluções eletrolíticas nas narinas e aferição da funcionalidade dos canais de sódio e de cálcio · Valores de referência: · Normalidade: -20mV · Fibrose Cística: -40mV · Indicações: · Teste do suor não conclusivo · Mutações não identificadas · Análise molecular: · Identificação das mutações causadoras de FC por análise direta do gene CFTR · Todos os pacientes com FC devem fazer · Aconselhamento genético · Tratamento com drogas específicas · Entre 1-5% dos casos ficam inconclusivos · O tratamento da doença ainda é baseado no tratamento sintomático e nas disfunções orgânicas. · Embora o curso da doença pulmonar seja invariavelmente progressivo, a abordagem terapêutica adequada pode retardar esse processo · O regime terapêutico padrão para doença pulmonar consiste em: · Antibioticoterapia · Higiene das vias aéreas · Exercício físico · Agentes mucolíticos · Broncodilatadores · Anti-inflamatórios · Suplementação de oxigênio · As terapias baseadas nos moduladores da CFTR corrigem a proteína defeituosa produzida pelo gene CFTR · POTENCIALIZADOR · Liga-se à proteína defeituosa na superfície celular e abre o canal de cloreto (mantém a porta aberta) de forma que o cloreto pode fluir · CORRETOR · Ajuda a proteína CFTR a ficar no formato correto, mover-se para a superfície celular, e permanecer ali por mais tempo · Usado junto com um potencializador → o acesso à proteína será aberto e o cloreto passará de forma adequada · Uma vez que esses medicamentos são voltados a pessoas com mutações específicas da FC, eles não funcionarão em pacientes que não tenham uma ou mais dessas mutações. GENÉTICA MÉDICA Julya Pavão FIBROSE CÍSTICA FIBROSE CÍSTICA · A Fibrose Cística (FC) é a doença genética autossômica recessiva mais comum e mais grave na população caucasiana ; · Caracterizada pela disfunção do gene cystic fibrosis transmembrane conductance regulator (CFTR), tal que codifica uma proteína reguladora de condutância transmembrana de cloro . · É multissistêmica ; · Grande morbidade e mortalidade ; · Sobrevida: 37 anos . · 1 em cada 25 indivíduos é portador assintomático de uma mutação no gene da Fibrose Cística . · Incidência: 1 a cada 2500 nascid os vivos . · Ocorre frequentemente em populações descendentes de caucasianos . · A prevalência varia de acordo com a localização e os antecedentes étnicos . · População branca americana: 1 em 3000 - 3500 nascidos vivos . · Latino - americanos: 1 em 4000 - 10.000 nascidos vivos . · No Brasil: 1:7576 nascidos vivos. · Afro - americanos: 1 em 15.000 - 20.000 nascidos vivos . · Ambos os pais de um afetado são portadores, e o risco de recorrência da FC é de 25% para seus próximos filhos. · O risco de um indivíduo com fibrose cís tica ter filhos afetados depende de seu parceiro – se o parceiro for portador da doença este risco é de 50% . · Possibilidades: · Homozigoto: mesma mutação nos dois alelos . · Heterozigoto composto: mutações diferentes em cada um dos alelos . · Heterozigoto: porta dor de mutação em somente um dos alelos (saudável) . · O gene CFTR está l ocalizado na região q31.2 do cromossomo 7 ; · Engloba 250 kb de DNA genômico ; · Possui 27 éxons ; · É transcrito em RNA e depois é traduzido em uma proteína com 1480 aminoácidos. · CFTR = cyst ic fibrosis transmembrane conductance regulator . · Proteínas com mutação ficam sujeitas à degradação proteassômica em pouco tempo. · Nos processos de síntese dos fragmentos hidrofílicos e hidrofóbicos e de dobramento, pode haver adesão à parede do retículo . · Consequências: demora e ineficiência da síntese .
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