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As tutelas provisórias vêm descritas no livro V da Parte Geral do Código de Processo civil de 2015, conceituadas mais especificamente no artigo 294 do diploma legal: Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência. Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental. As tutelas provisórias são um conjunto de proteções legais que podem vir a ser requisitadas tanto no processo de conhecimento quanto no processo de execução e que podem ser baseadas em situações tanto quanto de urgência quanto em situações de evidência. Portanto, tutela provisória é o gênero e urgência, satisfativa e cautelar são suas espécies. Diferentemente do que no CPC de 1973 as tutelas estão desta vez integradas no procedimento, e não tratadas como um procedimento autônomo, como no diploma anterior, agora as mesmas poderão ser deferidas seja dentro do processo tanto em caráter antecedente quanto em caráter incidental. Nas tutelas o juiz nunca emitirá um juízo exauriente, em que analisa todo e qualquer mérito do processo, mas sim uma análise sumária dos fatos, baseada ou em verossimilhança ou em fatos evidentes, que tem caráter provisório, que tenha por fim afastar algum perigo que corre o objetivo final do processo, tendo como meio para alcançar esse efeito a antecipação de efeitos da sentença ou a colocação do objeto dentro de uma certa proteção, não para satisfazer, mas sim para proteger o provimento ou também prover a redistribuição do ônus do processo quando é evidente o direito litigado. Com isso pode-se perceber que a principal função das tutelas é dar uma maior efetividade ao processo, afastando os danos que a morosidade do nosso sistema judiciário pode causar (e causa com certa frequência). Também é de grande utilidade a redistribuição do ônus do processo, visto que por muitas vezes a parte que sofreria as consequências do mesmo se aproveita de artifícios ao seu alcance para que o processo seja arrastado e que se distancie o tempo que o réu irá pagar com algum bem ou direito do seu patrimônio. As tutelas são classificadas quanto à natureza que carregam e antecipada ou cautelar, que se diferem nos seguintes pontos observados no quadro: ANTECIPADA CAUTELAR Tem caráter satisfativo. Tem caráter protetivo, assercurativo. Afasta o perigo atendendo ao que foi postulado. Afasta o perigo tomando alguma providência de proteção. O fator gerador de risco é o tempo. O fator gerador de risco é a conduta humana. Concede efeitos e consequências jurídicas antes, o que só seria concedido ao final. Garante que os efeitos da providência sejam úteis ao credor. Já na classificação quanto á fundamentação das tutelas leva em conta as tutelas de urgência e de evidência, que tem como principais pontos os seguintes elementos: URGÊNCIA EVIDÊNCIA Deve conter elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo. Não objetiva afastar algum perigo, e pode ser deferida mesmo que não haja nenhum risco. Pode ser satisfativa ou cautelar. Sempre é satisfativa. Objetiva garantir o resultado útil o processo. Objetiva inverter o ônus do processo. Quanto ao momento de requerimento, as tutelas podem ser reivindicadas em caráter antecedente ou incidentais, a tutela de evidência sempre será requerida em caráter incidental, porém a de urgência pode ser tanto em caráter incidental quanto antecedente. Para ser requerida em caráter incidental o processo principal já precisa estar peticionado e a tutela será requerida em seu bojo quando surgir situação oportuna. Já a tutela antecedente é aquela requerida antes que o pedido principal seja apresentado ou que seja apresentado com argumentação completa, tanto a cautelar e a antecipada (satisfativa) podem ser requeridas em caráter antecedente. Segue um fluxograma das possibilidades de combinações das tutelas: Um ponto importante a ser explorado nesse contexto é a questão da revogação e modificação das tutelas. O CPC traz em seu texto a possibilidade, no artigo 296: Art. 296. A tutela provisória conserva sua eficácia na pendência do processo, mas pode, a qualquer tempo, ser revogada ou modificada. Parágrafo único. Salvo decisão judicial em contrário, a tutela provisória conservará a eficácia durante o período de suspensão do processo. Importante ressaltar que a revogação ou modificação deve ser sempre justificada, e pressupõe que haja tido alguma mudança nos elementos e fatos do processo que justifique, visto que não pode ser deixada á mera arbitrariedade do juiz, mas sim fundamentada em algo. Essa revogação ou alteração não depende exclusivamente de requerimento das partes, podendo ser feita de ofício pelo juiz depois de analisar a nova situação. Já a cessação da eficácia das tutelas pode ser dada tanto em forma de sanção para o autor que, após obter o benefício da tutela não tomou providências a seu encargo para mantê-la ou também como a consequência normal que se dá quando o processo é extinto ou o pedido principal é julgado improcedente. Já se o pedido for julgado procedente, não haverá extinção da tutela provisória para a criação de uma tutela definitiva, mas sim a conversão da primeira na segunda, estabilizando o direito. Podemos chegar a conclusão, portanto, que as tutela provisórias são instrumentos meio, de forma alguma definitivos, visto que o juiz nem sempre terá tido a oportunidade de ouvir todos os envolvidos e analisar todas as provas, que se utilizam de uma cognição que pode abranger todas as matérias da demanda, porém com uma profundidade menor do que no juízo definitivo, analisando sumariamente os pontos propostos pelas partes baseando sua decisão provisória na verossimilhança e plausibilidade do que foi alegado. Tutela de urgência: É um dos fundamentos das tutelas provisórias, que se difere da de evidência em alguns pontos que serão aqui apresentados. Como primeiro requisito para se caracterizar uma tutela de urgência temos o requerimento da parte, visto que não há a possibilidade desse instituto ser concedido de ofício pelo juiz que conduz a ação, como entende a doutrina majoritária, porém também há entendimentos (em menor escala) de que esta pode ser concedida ex officio, visto que também não há proibição legal sobre essa possibilidade. O segundo requisito é a apresentação de elementos que evidenciem a probabilidade do direito, ou seja, nosso atual CPC exige que sejam apresentados elementos cognitivos que evidenciem a forte possibilidade do direito existir, não necessariamente, portanto, precisam provar sua existência ou sua realidade, apenas convencer o juiz de que as alegações são plausíveis, verossímeis e prováveis. Também é necessário que a pessoa que está requerendo o direito seja o provável dono dele, visto que também é importante reconhecer também a posse do direito, ainda que de forma sumária. Deve ser analisado pelo magistrado a urgência e em que grau de intensidade esta está, pois quanto mais urgente o pedido, mais superficial poderá ser a cognição do juiz, frente a imediata necessidade do direito apresentada pelo autor, o que ocorre em casos como os de requerimentos de medicamentos ou outro tipo de intervenção médica, visto que a vida é o bem mais importante tutelado pelo ordenamento jurídico pátrio. Também deve observar o juiz o princípio da proporcionalidade, visto que diante do seu deferimento ou indeferimento da medida haverá consequências, por vezes irreversíveis, o que é defeso no §3º do artigo 300 do CPC: Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultadoútil do processo. § 1 o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la. § 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia. § 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão. Como já citado acima, esse perigo de irreversibilidade não deve ser levado em consideração em caso de tratamentos de saúde pois no confronto entre direitos existenciais e patrimoniais os existenciais levam vantagem. O terceiro elemento apresentado é o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo. Talvez esse seja o requisito que mais caracteriza as tutelas de urgência, visto que é elemento essencial para a sua caracterização. Contudo importante sempre ressaltar que não se faz necessário que o juiz tenha absoluta certeza desse risco que o direito corre, bastando uma análise superficial e que indique probabilidade, mas também deve-se observar que o perigo seja fundado, de modo a não deferir uma tutela de urgência infundada ou baseada em um risco remoto. Esse risco acima citado pode provir de uma ação do réu, como a pratica de um ato que o autor deseja barrar ou por uma omissão, como a negativa do réu em prestar algum provimento necessário ao autor. O quarto elemento se caracteriza na não irreversibilidade dos efeitos da tutela de urgência antecipada, como já previsto anteriormente está previsto no artigo 300, §3º do CPC. Essa irreversibilidade não diz respeito ao provimento jurisdicional, mas sim dos efeitos e impactos que este causará. Para identificar os provimentos irreversíveis deve-se levar em consideração as situações em que se o direito for revogado, este possa voltar ao status quo ante, ou seja, voltar a ser como era antes de ser entregue ao autor. Também há os casos em que o provimento é sim reversível, porém apresenta uma grande dificuldade para tal. Na doutrina temos a chamada “irreversibilidade recíproca”, pois ela pode atingir tanto autor quanto réu, ambas gerando alguma situação irreversível, nesse caso o juiz deve ponderar se utilizando do princípio da razoabilidade para a concessão. O juiz deve ponderar a irreversibilidade tanto para negar quanto para conceder a tutela, visto que pode haver casos em que sua concessão pode gerar efeitos irreversíveis e sua negação não e casos onde a negação da tutela pode causar efeitos irreversíveis e sua concessão não, portanto no primeiro caso a tutela não deve ser negada e no segundo concedida. O quinto elemento já foi aqui tratado, sendo ele o da proporcionalidade, que é o momento onde o magistrado irá ponderar os danos e benefícios que poderão ocorrer no caso de concessão ou não da tutela de urgência, sendo essa comparação dos dois fatores de suma importância para a formação da decisão, embora não seja a única. Aqui devem ser analisados quaisquer tipos de desproporções de danos e benefícios que o deferimento ou indeferimento possam vir a causar, também levando em consideração o peso do direito que está em litígio, como por exemplo, em uma discussão que envolva patrimônio e a vida/saúde dos envolvidos, a vida/saúde terá mais peso nessa balança, o que é coerente, visto que são bens de suma importância. A caução, que é citada no artigo 300, §1º supratranscrito, vem como uma garantia que o juiz pode impor para caso a tutela de urgência venha a ser revogada ou perca a sua eficácia haja uma garantia de ressarcimento de eventuais danos que venham a ser causados. Trata-se de uma segurança do juiz, visto que a tutela será deferida sem uma grande cognição dos fatos e está mais facilmente sujeita a erros. A caução pode ser fixada em qualquer que seja a fase do processo em que a tutela seja deferida. A única hipótese trazida pelo dispositivo legal que dispensa a prestação de caução é no caso de hipossuficiência econômica da parte. A respeito da responsabilidade civil do requerente, o artigo 302 do CPC atribui responsabilidade objetiva ao autor da ação sobre os danos que possa causar, ao postular a tutela, portanto, o autor assume o risco de ter algum ônus se em algum momento a medida que o beneficiou for revogada ou perder a eficácia. O citado artigo dispõe o seguinte: Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se: I - a sentença lhe for desfavorável; II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias; III - ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal; IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor. Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível. Se a tutela não subsistir os danos serão liquidados dentro do próprio processo, não necessitando a impugnação de um novo para essa eventual execução. Quando o autor for executado, a parte contrária deverá apresentar os danos e meios que os comprovem, especificando sua extensão. É uma pretensão explícita, portanto não há necessidade de que o réu a postule na contestação. Tutela de evidência: Diferentemente da tutela de urgência, a tutela de evidência não se baseia em um risco, mas sim na possibilidade do ônus do processo ser invertido, ou seja, passar do autor para o réu. Esse fato é dado pois em regra quem tem de aguardar a solução do conflito sem ter o direito tutelado em sua posse é o autor, que pode ser prejudicado pela morosidade do sistema judiciário e mais ainda se o réu se utilizar de artifícios cabíveis para retardar ainda mais esse processo. A expressão “evidência” significa que mesmo que não seja possível fazer o julgamento pleno e completo do mérito, seria possível verificar elementos que evidenciem além da existência do direito, mas também sua clara possibilidade. Nessa classificação estão incluídas todas as tutelas que não tem necessidade de urgência por não evidenciarem perigo de dano ou risco ao resultado útil ao processo, em um rol taxativo de hipóteses. A tutela de evidência sempre será de natureza satisfativa, visto que não há risco nenhum, não faria sentido esta ter um cunho cautelar para proteger o direito. Assim como na tutela de urgência, a tutela de evidência sempre será deferida em caráter provisório e por meio de um processo de cognição sumária, sem uma análise aprofundada de todos os pontos do processo. Por isso, sempre haverá a necessidade, ao fim do procedimento, de ser substituída por uma decisão definitiva, confirmando o direito, ou revogando-o. As possibilidades de concessão de tutela de evidência vêm enumeradas no artigo 311 do CPC, e todas estas vem atreladas a uma possibilidade de revogação: Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando: I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte; II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante; III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa; IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha provacapaz de gerar dúvida razoável. Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir liminarmente. Agora, tratando sobre os requisitos para a concretização da tutela de evidência temos primeiramente o requerimento, que se dá da mesma forma que na tutela de urgência, e aqui também deve partir de pedido da parte, não por ofício do juiz. Em segundo lugar, devem estar presentes alguma das hipóteses enumeradas no supracitado artigo 311 e seus incisos, aqui, o legislador trouxe um rol taxativo que permite a concessão desta tutela, portanto esta pode só pode estar fundada em uma destas quatro situações, apenas uma basta, não havendo necessidade de cumulação para caracterizar a medida. Aqui estão cada uma delas: Abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte: Pode ser concedido pelo juiz, quando no curso do processo, ficar evidente que a conduta da parte estiver sendo meramente protelatória, ou seja, a parte estiver tentando obter vantagem se aproveitando da possibilidade de aumentar a morosidade do processo. Essa tutela tem como fim sancionar a atitude abusiva e de má-fé da parte que estiver praticando esse ato, de forma que esta parte irá ter que arcar com o ônus da demora do processo. Geralmente é caracterizado quando o réu suscita defesa ou argumentos inconsistentes ou propõe incidentes protelatórios, apenas para ganhar tempo no curso do processo. Alegações de fato que podem ser comprovadas documentalmente havendo tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante: Traz fortemente o fator de evidência, visto que os elementos apresentados nos autos têm grande grau de probabilidade de um futuro reconhecimento do direito. São dois requisitos cumulativos nesse caso: que a questão já possa ser comprovada por meio de documentos e que a questão de direito alvo do processo seja objeto de tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante. Nesse caso, se o réu já tenha sido citado e tenha tido a possibilidade de apresentar sua defesa, será um caso de julgamento antecipado do mérito, caso contrário, será concedida a tutela. Pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito: Nesse caso, se a inicial for instruída com alguma prova documental que seja adequada e que comprove o contrato de depósito, a tutela será deferida e terá um conteúdo especial, que será a ordem de entrega do objeto custodiado, sob pena de multa caso não seja feito. P.I. instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável: Nesse caso também há necessidade de se completar dois requisitos cumulativos: Que os fatos constitutivos do direito do autor tenham documentação suficiente para prova-lo e que não haja prova oposta pelo réu que seja capaz de gerar uma dúvida razoável sobre o mérito. Esse é um caso em que novamente o juiz irá se utilizar da proporcionalidade para redistribuir o direito, visto que não há elementos suficientes para que este continue com o réu. Essa situação também pode ser alvo de julgamento antecipado do mérito caso não restar nenhuma dúvida nem provas que elidam esses documentos. Diferentemente das tutelas de urgência, não há nenhum dispositivo legal que preveja expressamente que a não irreversibilidade dos efeitos do provimento seja requisito também para as tutelas de evidência. Talvez a justificativa mais plausível para essa questão seja de que o direito é extremamente provável, dado isso, a probabilidade de que a decisão seja revertida é menor do que no caso das tutelas de urgência. Quanto a responsabilização civil por eventuais danos causados pela efetivação da tutela de evidência, não há previsão expressa, porém se conclui, que igual nas tutelas de urgência, não há motivo para que o autor não se responsabilize pelos eventuais danos, ainda que sejam muito menos recorrentes que na outra modalidade de tutela.
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