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Noções gerais: A sentença ilíquida é aquela que não fixa o valor da condenação ou não individualiza o objeto. Como a execução exige que o título executivo represente uma obrigação líquida, certa e exigível (art. 783, CPC), deve-se proceder a sua liquidação antes de ser executada. A regra é que o juiz profira sentenças líquidas, mas por vezes poderá proferir sentenças ilíquidas, isso geralmente irá ocorrer nas hipóteses em que a parte tiver formulado pedido genérico, nas situações que estão previstas no art. 324, §1º: universalidade de fato ou de direito, não for possível ao autor individuar todos os bens na petição inicial, não for possível determinar toda a extensão de todo o ato ou fato ilícito na petição inicial, quando a apuração do valor devido depender de ato a ser praticado pelo réu. Nessas hipóteses é lícito ao autor formular pedido genérico ou indeterminado e nessas situações é comum que haja a prolação de sentenças ilíquidas. A sentença ilíquida é aquela que não determina o quantum debeatur, ou seja, não determina qual é o valor da condenação ou qual é o objeto da obrigação. Em situações como essas não é possível promover a execução da sentença, pois antes que ela seja executada, haverá a necessidade de que ela seja liquidada, então o processo de liquidação de sentença tem por objetivo exatamente apurar o valor devido ou o objeto da obrigação. Somente há liquidação de títulos executivos judiciais (previstos taxativamente no art. 515). A sentença que reconheça a exigibilidade do cumprimento de uma obrigação de fazer ou não fazer, de entrega de coisa ou de pagamento de quantia certa é uma sentença que configura um título executivo judicial, mas que ela possa ser executada, a obrigação nela prevista deve ser liquida, certa e exigível, o que não irá ocorrer no caso da sentença ilíquida, pois faltará a essa sentença um dos requisitos, que é a liquidez, por esse motivo, entre a fase de conhecimento e a fase de execução, haverá a fase chamada de liquidação da sentença (todas essas dentro de um processo só, o chamado processo sincrético). Quanto aos títulos extrajudiciais (documentos aos quais a lei confere força executiva), faltando a liquidez, só podem ser cobrados pelo processo de conhecimento. Regra geral, a liquidação acontecerá após a sentença. Porém, a medida pode também se dar incidentalmente no curso da execução (tendo excepcionalmente análise de mérito no curso da execução, o que via de regra não ocorre), em casos como o da conversão em perdas e danos de obrigação de fazer ou entrega de coisa. A liquidação de sentença ainda tem natureza de atividade de conhecimento, sendo possível a produção de provas. Liquidação de sentença declaratória e de outros títulos judiciais: Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; Como o CPC não restringe o título executivo à sentença condenatória, é plenamente possível a execução de uma sentença declaratória ou constitutiva, desde que de seu conteúdo possa se extrair o reconhecimento judicial de uma obrigação a ser cumprida por uma das partes. Porém, a sentença que simplesmente declara a inexistência de uma relação jurídica ou a existência genérica de um dever jurídico, não pode ser classificada como título executivo, já que deve possuir os elementos para tanto, quais sejam, identificar as partes, natureza, objeto da obrigação, tempo e demais condições para seu cumprimento. Casos de iliquidez da sentença: A iliquidez da condenação pode dizer respeito: a) À quantidade, como, p.ex., na condenação ao pagamento de perdas e danos sem fixar o respectivo valor, ou condenação a juros de forma genérica etc. b) À coisa devida, como, p.ex., no caso de condenação a restituição de uma universalidade de fato, como ocorre na petição de herança. c) A fatos devidos, quando condena a pessoa, p.ex., a obras e serviços não individualizados, como serviços para evitar ruínas, reparação de tapumes etc. Apesar disso, a liquidação de sentença prevista nos arts. 509 a 512 do CPC, diz respeito apenas às obrigações de prestação em dinheiro, ou substituídas por prestação dessa espécie (obrigações de fazer ou não fazer e de entrega de coisa). O art. 38, parágrafo único, da Lei 9.099/95 (juizados especiais) não admite, nos Juizados Especiais Cíveis, sentença condenatória por quantia ilíquida, ainda que genérico o pedido. Essa proibição é justificada pela busca de celeridade processual, que é um dos princípios basilares dos juizados especiais. Então, no procedimento sumaríssimo dos juizados especiais cíveis necessariamente o magistrado terá que proferir uma sentença líquida, ou seja, se o autor tiver formulado um pedido genérico, a liquidação (apuração do valor devido) deve ocorrer no curso do processo, de forma que ao final, quando o magistrado for proferir a sua sentença ele tenha condições de proferir uma sentença líquida. Natureza jurídica da liquidação de sentença: Trata-se de simples incidente complementar da sentença condenatória genérica, afinal de contas, além dela ter natureza jurídica de fase ou mero incidente de um processo sincrético, a liquidação de sentença também se revela de natureza cognitiva, o que significa que na liquidação de sentença ainda temos atividade de conhecimento, ou seja, a decisão a ser proferida na liquidação de sentença complementa a sentença condenatória (ou mesmo declaratória ou constitutiva, nos termos dos art. 515, I) que for ilíquida. Uma coisa que é de suma importância ressaltar é de que nem sempre a liquidação de sentença se dará através de uma fase ou mero incidente do processo sincrético, pois pode se ter situações como a sentença arbitral, sentença penal condenatória, sentença estrangeira devidamente homologada que terão de dar origem a um processo de liquidação, se for o caso. A característica dessas sentenças é que elas não darão ensejo a um processo sincrético, visto que a fase de conhecimento não ocorreu perante o órgão responsável por promover a execução, se fazendo necessário a existência de uma ação autônoma de liquidação de sentença. Além disso, é possível que a liquidação se sentença se dê no curso da própria execução, como no caso da execução de uma obrigação de fazer ou não fazer, ou de entrega de coisa que é convertida em perdas e danos, nesse caso, a liquidação das perdas e danos se dará no curso do próprio processo de execução, incidentalmente. Portanto é necessário perceber essas três nuances da liquidação de sentença: • Pode se revestir de fase ou mero incidente de um processo sincrético, que é a regra geral. • Pode se revestir de simples incidente no curso da própria execução, nos casos de conversão das obrigações específicas em perdas e danos. • Pode dar origem a uma ação autônoma no caso da sentença arbitral, penal condenatória ou da sentença estrangeira homologada, estas que serão liquidadas perante o juízo cível competente para que futuramente haja a execução. Trata-se de decisão sobre o mérito da causa, por versar sobre um dos elementos da lide, produzindo, portanto, coisa julgada material. O quantum debeatur será definido em decisão de caráter complementar e com função integrativa. Não é lícito utilizar a liquidação de sentença para trazer ao conhecimento do juiz qualquer alegação, argumento ou defesa que qualquer das partes poderiam ter utilizado para o acolhimento ou rejeição do direito tutelado. Art. 509, § 4º Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou. Nessa situação, o magistrado está limitado pelo objeto da liquidação, este que é muito específico→ apurar o valor devido. Não importando aqui se está se liquidando uma sentença transitada em julgado ou uma sentença sujeita a recurso (liquidação definitiva ou provisória). Liquidação com resultado zero: Não ofende a coisa julgada a liquidação que, por meio de compensações, chegue a um saldo igual a zero ou negativo em desfavor daquele que tenha sido beneficiado com a sentença de procedência do pedido. Ocorre também quando a sentença define a obrigatoriedade de indenização por um dano, mas nenhuma das partes consegue demonstrar a sua existência/extensão. Segundo o professor Marcelo Abelha, nessas situações, o que ficou reconhecido na fase de conhecimento é a antijuricidade da conduta praticada, mas o dano em si não foi reconhecido, caso contrário resultaria em uma conclusão ilógica, onde o dano ocorreu, mas não há o que receber. Nesse sentido, importante é a orientação do STJ: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO. RESPONSABILIDADE CIVIL. SETOR SUCROALCOOLEIRO. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL - IAA. FIXAÇÃO DE PREÇOS. LEI 4.870/1965. LEVANTAMENTO DE CUSTOS DE PRODUÇÃO. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS - FGV. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. ART. 37, § 6º, DA CF/1988. COMPROVAÇÃO DO DANO. NECESSIDADE. APURAÇÃO DO QUANTUM DEBEATUR. LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO. CABIMENTO. INDENIZAÇÃO. NATUREZA JURÍDICA. LIQUIDAÇÃO COM "DANO ZERO" OU "SEM RESULTADO POSITIVO". POSSIBILIDADE. EFICÁCIA DA LEI 4.870/1965. RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. (...) 4. O suposto prejuízo sofrido pelas empresas possui natureza jurídica dupla: danos emergentes (dano positivo) e lucros cessantes (dano negativo). Ambos exigem efetiva comprovação, não se admitindo indenização em caráter hipotético, ou presumido, dissociada da realidade efetivamente provada. Precedentes. 5. Quando reconhecido o direito à indenização (an debeatur), o quantum debeatur pode ser discutido em liquidação da sentença por arbitramento, em conformidade com o art. 475-C do CPC. 6. Não comprovada a extensão do dano (quantum debeatur), possível enquadrar-se em liquidação com "dano zero", ou "sem resultado positivo", ainda que reconhecido o dever da União em indenizar (an debeatur). (STJ. REsp 1.280.494/SP. DJe 03/10/2012. Rel. Ministra Nancy Andrighi). → Esse julgado é da época em que vigorava o CPC de 1973. Ela nos traz que o an debeatur é o reconhecimento do direito de indenização, que é dado na fase de conhecimento e que o reconhecimento do an debeatur não significa que na liquidação de sentença será apurado o quantum debeatur. O STJ reconhece que é plenamente possível a liquidação com resultado 0, sendo reconhecido apenas o direito de indenizar, sem que, na liquidação de sentença tenha sido apurado um dano efetivo. Natureza jurídica da decisão proferida em liquidação de sentença: Há divergência doutrinária quanto à natureza jurídica da liquidação de sentença. Para Humberto Theodoro Jr., por exemplo, trata-se de simples decisão interlocutória, que integra questão genuinamente de mérito, por versar sobre um dos elementos da lide, e apenas complementa a sentença proferida na fase de conhecimento. Já Marcelo Abelha, por exemplo, entende tratar-se de sentença, pois esse procedimento é realizado pós o término de uma fase e deve culminar com um pronunciamento que ponha fim a essa fase cognitiva específica, sem a qual não terá início o cumprimento de sentença. O art. 1015, parágrafo único afirma que as decisões que as decisões interlocutórias proferidas no curso da liquidação de sentença serão objeto de agravo de instrumento, abrindo precedente para uma dúvida, pois se considerar a decisão como decisão interlocutória, não resta dúvida que o recurso cabível será o agravo de instrumento, mas se optar-se pelo entendimento de que essa decisão é uma sentença fica a dúvida se caberia a apelação (recurso padrão para sentenças) ou o agravo de instrumento, seguindo o art. 1015, tendo-se portanto de que se observar a posição da jurisprudência para se escolher o recurso (esta que vem optando pelo agravo de instrumento). A decisão que define o quantum debeatur tem natureza declaratória, com eficácia retroativa, porque declara apenas o elemento faltante na sentença condenatória genérica. Liquidação parcial da sentença: Pode ser que uma sentença condene o vencido a uma parcela líquida e outra ilíquida (ex: ação de reparação de danos causados por acidente de automóvel, quando condena a pagar o valor exato das despesas de oficina e deixa para liquidação de sentença o valor dos prejuízos pela paralisação do carro). Art. 509, § 1º Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta. Neste caso, a execução deve ocorrer nos autos principais e a liquidação em autos apartados, formados com cópias das peças processuais pertinentes, ou seja, vão ser retiradas cópias do processo original e com elas formar os autos apartados onde se dará a liquidação da sentença. Trata-se de uma prerrogativa do credor que, se quiser, pode promover a liquidação da parte ilíquida primeiro para, só depois, promover a execução sobre todo a condenação. Liquidação por iniciativa do vencido: Art. 509, caput. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor. O devedor tem não apenas o dever de cumprir a obrigação, mas o direito de liberar-se dela. Então pode ser que diante da inércia do credor, o devedor que queira cumprir a obrigação para se livrar dela promova ele próprio a liquidação de sentença. Sendo procedimento preparatório da execução e também um meio de propiciar ao devedor o cumprimento de sua obrigação, caso o credor permaneça inerte, não se pode negar ao devedor a faculdade de iniciar a liquidação. Procedimento da liquidação de sentença: O processamento da liquidação é feito, em regra, nos próprios autos da ação condenatória. No entanto, quando couber a execução provisória, liquida-se a sentença em autos apartados. O mesmo ocorrerá se a sentença contiver parte líquida e parte ilíquida. Art. 512. A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes. A execução provisória será precedida de uma liquidação provisória, quando houver contra a sentença recurso não dotado de efeito suspensivo (apenas no efeito devolutivo), sendo assim, a sentença é desde logo eficaz e pode ser executada. Porém se estivermos diante de uma sentença ilíquida, antes da sua execução provisória, teremos a sua liquidação provisória (pois pode ser que o tribunal. Ao julgar o recurso, invalide ou reforme aquela decisão). Nos casos de sentença penal condenatória, sentença estrangeira homologada e sentença arbitral não haverá processo sincrético, devendo-se dar início à liquidação de sentença perante o juízo cível competente. O CPC prevê duas espécies distintas de liquidação: Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor: I - por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação; II - pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo. Liquidação por arbitramento: Essa liquidação tem por objetivo realizar a avaliação, uma perícia ou um arbitramento do valor devido, então nesse caso, o objeto da liquidação já está devidamente delimitado, só há necessidade de que se proceda uma avaliação/períciasobre o objeto da condenação para se apurar o valor devido. A liquidação por arbitramento ocorrerá quando for determinado por sentença, for convencionado pelas partes ou o exigir a natureza do objeto da liquidação. Nessa hipótese, há necessidade de conhecimento técnico de um árbitro para se estimar o montante da condenação. Exemplos: estimativa de desvalorização de veículos acidentados e lucros cessantes por inatividade de pessoa. Art. 510. Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial. Somente na hipótese de não serem suficientes os documentos apresentados pelas partes é que o juiz nomeará perito, e o arbitramento se processará nos termos das normas sobre prova pericial. Liquidação pelo procedimento comum: A liquidação pelo procedimento comum ocorrerá quando for necessário alegar e provar fato novo (art. 509, II, CPC). O credor discriminará, em petição, os fatos a serem provados a servir de base à liquidação, lembrando que em nenhuma hipótese será lícito reabrir a discussão em torno da lide (art. 509, §4º, CPC). Para se entender o conteúdo das provas a serem produzidas em liquidação, pense na ação de indenização, em que o dano é provado na fase de conhecimento e, em liquidação, apenas apura-se o valor de referidos danos. Art. 511. Na liquidação pelo procedimento comum, o juiz determinará a intimação do requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias, observando- se, a seguir, no que couber, o disposto no Livro I da Parte Especial deste Código. Uma vez que a parte tenha dado início a liquidação de sentença pelo procedimento comum, o requerido (liquidado) será intimado, sendo que essa intimação será feita na pessoa do seu advogado (ou da sociedade de advogados que o representa) para que apresente contestação no prazo de 15 dias e uma vez oferecida a contestação, segue-se o procedimento comum. Legitimidade e início do procedimento liquidatório: O procedimento liquidatório está no meio de um processo sincrético e a legitimidade para a sua propositura é do credor ou do devedor (art. 509, CPC). O procedimento se inicia por meio de requerimento inicial, sem maiores formalidades (visto que a maioria das informações já estão anexadas aos autos do processo), já que se trata do mesmo processo em que foi proferida a sentença condenatória genérica, ou seja, começa por iniciativa da parte interessada. Em seguida, deve haver a intimação do demandado na pessoa de seu advogado (arts. 510 e 511, CPC). A parte contrária terá oportunidade para se manifestar. Na liquidação pelo procedimento comum, poderá contestar e na liquidação por arbitramento, poderá apresentar documentos ou pareceres elucidativos, para que o juiz possa verificar, se a partir daquela documentação qual o valor devido, caso contrário requisitará perícia. No requerimento inicial do incidente, a parte deve indicar que procedimento liquidatório será seguido e, dependendo de qual seja, deve indicar o objeto da liquidação por arbitramento ou, se pelo procedimento comum, quais fatos novos serão objeto de prova. Competência: Como só há liquidação de provimento judicial (título executivo judicial) e sendo ela um incidente do processo sincrético, a regra geral é a da competência funcional do juízo, o mesmo da condenação genérica. A liquidação se processará perante o juízo originário. Tanto a liquidação da sentença quanto a sua execução se darão sempre perante o juízo de origem (o juízo que regra geral atuou em primeiro grau de jurisdição), então, ainda que haja interposição de recurso e a decisão transite em julgado perante o tribunal, ela será liquidada e executada perante o juízo que atuou em primeiro grau de jurisdição. Na liquidação da sentença arbitral, sentença penal condenatória e sentença estrangeira homologada, a competência é estabelecida de acordo com as regras do CPC, da CF/88 e pelas regras de organização judiciária de cada Estado, visto que nestes casos não haverá procedimento sincrético. A indisponibilidade do rito da liquidação: Não tem as partes, nem o juiz, disponibilidade acerca dos ritos previstos para a liquidação de sentença. Cada um deles foi traçado pela lei visando a situações específicas e só o uso daquele que for adequado ao caso concreto deverá prevalecer. Assim é que na liquidação pelo procedimento comum o debate envolve a extensão do dano reconhecido na condenação genérica. Já na liquidação por arbitramento, o objeto já está definido e a área a ser coberta pela perícia está determinada na condenação genérica. O erro na indicação do procedimento adequado implicará a inépcia do requerimento. Não tendo havido ainda a intimação do advogado do devedor, poderá ocorrer a desistência e ser reproposto o incidente. Não se trata de emenda à inicial, pois ou se apontam fatos novos ou é hipótese de perícia/avaliação. Defesa na liquidação de sentença: O liquidado poderá oferecer defesa de mérito e/ou processual, devendo-se respeitar a eficácia preclusiva da coisa julgada (art. 508, CPC) e com a impossibilidade de se rediscutir as questões já decididas acerca da lide (art. 509, CPC). O julgamento restringe-se ao que precisa ser liquidado, ou seja, restrito ao acertamento do quantum devido ou da individuação do objeto, não se podendo discutir nenhuma matéria que esteja fora da área de cognição da liquidação. Matérias não relacionadas à liquidez, não poderão ser ventiladas. Enquanto o procedimento comum (Livro I do CPC) aplica-se à liquidação pelo procedimento comum, na liquidação por arbitramento, o réu, uma vez intimado pelo seu advogado, comparecerá não só para impugnar, mas também para formular quesitos e pareceres. Em se tratando de liquidação pelo procedimento comum, caso o liquidado não se manifeste, aplica-se sobre os fatos novos a regra da revelia e seus efeitos. Em se tratando de liquidação por arbitramento, a percepção técnica do fato objeto da prova afasta quase que completamente a incidência dos efeitos da revelia, que é basicamente considerar verdadeiro os fatos alegados pelo autor no requerimento inicial, afinal de contas o juiz irá decidir praticamente apenas pela prova pericial, visto que a liquidação por arbitramento basicamente se resume a sua análise. Recursos: Art. 1015, parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário. O prof. Marcelo Abelha, sobre a decisão que completa a lacuna do quantum devido, afirma: “Segundo o CPC, trata- se de pronunciamento decisório que contém fundamento do art. 487, I, e põe fim à fase cognitiva, portanto uma sentença sujeita ao recurso de apelação. ” Já o prof. Humberto Theodoro Jr. diz que: “Com a simplificação do procedimento de cumprimento da sentença, o decisório que julga o incidente de liquidação, em qualquer de suas formas (arbitramento ou procedimento comum), passou a configurar decisão interlocutória, cuja impugnação recursal haverá de ser feita por agravo de instrumento (NCPC, art. 1015, parágrafo único). ” Liquidação por cálculo: Foi abolida a judicialidade da liquidação por simples cálculo já sob a égide do Código anterior, por se entender que nesse caso, a sentença não era ilíquida, ela é liquida, mas na verdade apenas lhe falta a atualização para tornar possível a execução do julgado. Art. 509, § 2º Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desdelogo, o cumprimento da sentença. O requerimento de cumprimento de sentença será instruído com “demonstrativo discriminado e atualizado do débito” (art. 524, caput, CPC), então, essa atualização do valor será feita dentro da própria fase de execução, sem que se faça necessário uma fase própria para liquidá-la. Se o executado não aceitar o cálculo do credor, terá que impugná-lo com fundamento em excesso de execução (art. 525, §1º, V, CPC). Questões Pertinentes: • Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou devedor: por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação; e por procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo. Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta. • Se a determinação do valor exato da condenação decorrente de sentença judicial depender apenas de cálculos aritméticos, será dispensada a fase de liquidação de sentença, cabendo ao credor propor diretamente o cumprimento da sentença instruído de demonstrativo discriminado e atualizado do crédito. • A instauração dessa fase do procedimento pode ser requerida tanto pelo credor como pelo devedor. • O credor pode promover a liquidação da parte ilíquida e ao mesmo tempo promover a execução da parte líquida. • Na liquidação de sentença é vedado discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou. • Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta. • A liquidação pode frustrar a execução, o que se verifica quando o resultado da liquidação impedir que o demandante execute o título executivo ilíquido que tem a seu favor. • A liquidação está limitada aos títulos executivos judiciais, já que o título executivo extrajudicial sempre deverá conter uma obrigação líquida. • Caso o juiz julgue parcialmente o mérito, reconhecendo a existência de obrigação ilíquida, a parte vencedora poderá promover de pronto a liquidação, ainda que seja interposto recurso pela parte vencida. • Quando a sentença contiver condenação ilíquida ao pagamento de quantia, terá lugar o arbitramento, se assim exigir a natureza do objeto da liquidação. • A extinta nomenclatura de liquidação por artigos era adotada por fazer referência ao fato de que a petição inicial era elaborada na forma de artigos, isto é, com itens numerados por assunto que seriam comprovados durante a instrução. • Na liquidação pelo procedimento comum, como há necessidade de demonstrar fato novo, pode-se chegar a uma decisão declarativa negativa, tendo-se a situação de liquidação frustrada. • O ilíquido não prejudica o líquido, podendo se promover simultaneamente a execução desta e a liquidação daquela • Na liquidação pelo procedimento comum, o juiz determinará a intimação do requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias, observando-se, a seguir, no que couber, o disposto no Livro I da Parte Especial deste Código. • A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes. • A liquidação por cálculo aritmético é feita privadamente pelo credor, ao requerer o cumprimento de sentença, não constituindo uma fase específica do procedimento ordinário. • Embora haja divergência na doutrina, a corrente majoritária defende que a liquidação de sentença é mera fase procedimental (incidente), cuja decisão de mérito enseja a interposição de Agravo de Instrumento. Nesse sentido, Marinoni ensina: "a decisão que julga a liquidação é, claramente, uma decisão de mérito, ou, mais precisamente, uma decisão sobre parcela do mérito posto na ação que deu origem à sentença condenatória. Não obstante isso, por simples opção estrutural, deve ser qualificada como decisão interlocutória, até para sujeitar- se ao recurso que é mais adequado para ser empregado para atacar atos praticados no curso do processo" ("O Novo Processo Civil", 2016, pag. 407). • Entende-se que a realização da liquidação de forma diversa da indicada na sentença ofende a coisa julgada → ERRADA → convenção das partes ou natureza da obrigação também. •Na liquidação de sentença, é vedado discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou. No entanto, se o resultado for igual a zero, é correto afirmar que a liquidação será julgada improcedente, aplicando-se a regra geral da incidência da coisa julgada. → Na verdade a sentença de conhecimento não é condenatória, mas meramente declaratória (Moniz de Aragão, RP 44/29). Dada a natureza constitutivo-integrativo da sentença de liquidação, é possível que se encontre valor zero para a obrigação de pagar fixada na sentença dita condenatória, porém, declaratória. Não existe mais a regra do CPC/39, art. 915, que, no caso de liquidação zero, mandava fazer quantas liquidações fossem necessárias até encontrar-se um quantum. Hoje, só há possibilidade do ajuizamento de uma ação de liquidação. A sentença que declara ser zero o quantum debeatur não ofende a coisa julgada do processo de conhecimento." (Nélson Nery Jr., Comentários ao Código de Processo Civil, RT, 2ª ed., p.1036). • Analisando questão afeta aos precatórios, o Supremo Tribunal Federal fixou tese de que não viola o art. 100, § 8º, da Constituição Federal a execução individual de sentença condenatória genérica proferida contra a Fazenda Pública em ação coletiva visando à tutela de direitos individuais homogêneos. → "O Supremo Tribunal Federal (STF), em votação no Plenário Virtual, reafirmou jurisprudência no sentido de permitir a execução individual em ação coletiva contra a Fazenda Pública por meio de Requisição de Pequeno Valor (RPV). Por maioria de votos, foi negado provimento ao Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 925754, com repercussão geral reconhecida, e reafirmada a tese de que a execução individual de sentença condenatória genérica proferida contra a Fazenda Pública em ação coletiva visando à tutela de direitos individuais homogêneos não viola o disposto no parágrafo 8º do artigo 100 da Constituição Federal. O recurso foi interposto pelo Estado do Paraná contra acórdão que entendeu viável o pagamento por RPV de crédito reconhecido em ação coletiva." • Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor: por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação; ou pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo. •A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes. • Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial. •No que respeita à liquidação de sentença, é correto afirmar que: é cabível para obrigações fungíveis. •Considerando uma demanda hipotética na qual A busque a satisfação de seu crédito decorrente de uma obrigação por parte de B, julgue o item a seguir. Caso os pedidos de A sejam julgados procedentes e a sentença condene B em quantia ilíquida,a liquidação poderá ocorrer tanto a requerimento de A quanto de B, sendo certo que se dará pelo procedimento comum quando houver a necessidade de alegar ou provar fato novo.
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