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Direito Constitcional - Constitucionalismo - História

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Constitucionalismo - História 
Geraldo M. Batista 
Curriculum: www.geraldofadipa.comunidades.net 
 
 
 
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Introdução 
 
 O termo “constitucionalismo” costuma gerar polêmica em função das diversas 
acepções assumidas pelo vocábulo ao longo do tempo. Pode-se identificar pelo menos 
quatro sentidos para o constitucionalismo. 
 
1. Movimento político-social com origens históricas bastante remotas que pretende, 
em especial, limitar o poder Imposição arbitrário do Estado. 
 
2. Imposição de que haja cartas constitucionais escritas. 
 
3. Indicação dos propósitos mais latentes e atuais da função e posição das 
constituições nas diversas sociedades. 
 
4. Numa vertente mais restrita, o constitucionalismo é reduzido à evolução histórico-
constitucional de um determinado Estado. 
 
Observação. 
 
 GOMES CANOTILHO adverte que não há um único constitucionalismo, mas vários, como o 
constitucionalismo do modelo inglês, o de matiz norte americana e o de referência francesa, por 
exemplo. 
 
Conceitos 
 
 Para MATTEUCCI o constitucionalismo representa as instituições (ou técnicas) que 
devem estar contempladas nos diversos regimes políticos, e que, portanto, acabam 
variando de época para época, cujo objetivo último deve ser o “ideal das liberdades do 
cidadão”. 
 
 KARL LOEWENSTEIN aproxima o constitucionalismo ao que se poderia denominar 
“ideia-força”, socialmente relevante, uma nova crença liberal que se instaurou entre os 
governados. Afirma, nesse sentido, que “a história do constitucionalismo não é senão 
a busca pelo homem político das limitações do poder absoluto exercido pelos 
detentores do poder, assim como o esforço de estabelecer uma justificação espiritual, 
moral ou ética da autoridade, em lugar da submissão cega à facilidade da autoridade 
existente. 
 
 LOUIS HENKIN pretendeu catalogar as principais exigências para se reconhecer o 
constitucionalismo: 
 
1. Soberania popular (para o constitucionalismo atual); 
 
2. Supremacia e imperatividade da Constituição, limitando e estabelecendo o 
Governo; 
 
3. Sistema democrático e governo representativo, mesmo em tempos de emergência 
nacional; 
 
 
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4. Governo limitado, separação de poderes e cheks and balances (pesos e 
contrapesos), controle civil dos militares, governo das leis e um Judiciário 
independente; 
 
5. Direitos civis respeitados e assegurados pelo governo, geralmente aqueles 
indicados na Declaração Universal. Os direitos podem ser limitados, mas essas 
limitações devem ter limites; 
 
6. Instituições que monitorem e assegurem o respeito à Constituição; 
 
7. Respeito pelo self-determination (autonomia, autodeterminação), o direito de 
escolha política livre. 
 
Retrospecto Histórico 
 
 
 O constitucionalismo, como movimento que pretende assegurar determinada 
organização do Estado, encontra suas notas iniciais na Antiguidade clássica. 
 
 É errôneo supor que o constitucionalismo surgiu apenas com o advento das 
revoluções modernas, que instauraram a democracia e afastaram os regimes 
absolutistas até então existentes. 
 
 Pode se identificar um “constitualismo” no Estado Teocrático Hebreu com o limite 
imposto ao poder político, por meio da imposição da chamada “lei do Senhor”. 
 
 Nas Cidades-Estado gregas havia uma racionalização do poder, e até hoje constitui 
exemplo concreto de regime constitucional de identidade plena entre governantes e 
governados, uma vez que se tratava de uma democracia direta. 
 
Observação. 
 
 O regime “constitucional” grego estabelecia diferentes funções estatais, distribuídas entre diferentes 
detentores de cargos públicos, que eram escolhidos por sorteio, para tempo determinado, sendo 
permitido o acesso a esses cargos a qualquer cidadão. No entanto, tal fase do constitucionalismo foi 
interrompida por longo período de concentração e abuso de poder, que tomou conta de todo o 
mundo. 
 
 Na Idade média os homens viveram sob a tutela de regimes absolutistas, no seio dos 
quais ficava vedada qualquer forma participativa, e nenhum limite poderia ser imposto 
aos governantes. Estes eram compreendidos como verdadeiras reencarnações do 
soberano ou entidades divinas, enviados de Deus para cumprir a função de comandar 
o povo e, portanto, todo o aparelho estatal, o que poderiam fazer de acordo 
 
 Contudo, é ainda na Idade Média que o constitucionalismo reaparece como 
movimento de conquista de liberdades individuais, como bem o de- monstra a 
aparição de uma Magna Carta (Inglaterra). Não se limitou a impor balizas para a 
atuação soberana, mas também representou o resgate de certos valores, como 
garantir direitos individuais em contraposição à opressão estatal. 
 
 
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Observação 
 
 É na Inglaterra que surgem aquelas inquietações dentro da Idade Média que culminam no 
ressurgimento do constitucionalismo. Nesse país, apesar da tradição consuetudinária de seu 
Direito, nasceram os primeiros diplomas constitucionais, ainda na Idade Média 
 
 Identifica-se o constitucionalismo britânico, em seus primórdios, por volta de 1215, com a concessão 
da Magna Carta, e, em fase posterior, iniciada em princípios do século XVII, pela luta entre o Rei e 
o Parlamento. 
 
 É possível afirmar que a Inglaterra, a despeito de ter sido inovadora no acabamento de um texto 
constitucional, nunca criou uma Constituição escrita no modelo difundido a partir dos Estados 
Unidos, sendo certo que seus institutos de natureza constitucional permanecem assentados em tra 
dições e costumes do povo. 
 
 No período denominado moderno houve a consagração de textos escritos dotando um 
modelo que se caracteriza: 
 
1. Pela publicidade. Permitindo o amplo conhecimento da estrutura do poder e 
garantia de direitos; 
2. Pela clareza. Por ser um documento unificado, que afasta as incertezas e dúvidas 
sobre o instrumento idealizado para a realização das modernas concepções do 
constitucionalismo. 
3. Pela segurança, justamente por proporcionar a clareza necessária à compreensão 
do poder. 
 
 Sinteticamente, tem-se que o constitucionalismo moderno se revela na ideia básica de 
registrar por escrito o documento fundamental do povo. 
 
 A valorização do documento constitucional escrito toma substância nesta nova fase, 
denominada constitucionalismo moderno, que tem seu desencadeamento determinado 
pela criação das constituições dos Estados americanos, pela edição da Constituição 
norte-americana e pela Revolução Francesa. 
 
 O constitucionalismo como é reconhecido e praticado na atualidade teve seus 
elementos fundadores na elaboração da constituição norte-americano do final do séc. 
XVIII, ou seja, predomina, ainda hoje, suas principais bases. 
 
 O constitucionalismo contemporâneo é reflexo de todas a suas fases e apresenta um 
traço constante que consiste na limitação do Estado. Esta limitação vem 
desenvolvendo gradativa e necessita de uma maior participação da sociedade. 
 
Exemplo. 
 
 
 Participação na gestão das verbas públicas e a atuação de organismos de controle e cobrança, 
como o Ministério Público, na preservação da ordem jurídica e consecução do interesse público 
vertido nas cláusulas constitucionais. 
 
 
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 No processo de globalização há uma tentativa de ampliação dos ideais e princípios 
jurídicos adotados pelo Ocidente, de maneira que todos os povos reconheçam sua 
universalidade. 
 
Observação 
 
 Não obstante as discussões que rodeiam o tema da “globalização”, e as críticas ideológicas que lhe 
são dirigidas pelos mais diversos grupos sociais, impõe-se reconhecer a magnitude e a presença 
cada vez mais constante da integração econômica e cultural dos povos no mundo atual. 
 
Na globalização há uma exigência que os Estados garantem e respeitemos direitos 
humanos já consagrados, incluindo a liberdade de religião, bem como outros tantos 
princípios que foi disseminada como verdadeiro “dogma”, do qual não se pode desviar 
qualquer país. Assim há uma “imposição” do modelo norte-americano. 
 
 Em uma economia globalizada o constitucionalismo se encontra repleto de sérios e 
perigosos obstáculos, tais como imposição ideologia americana (imperialismo moral 
ocidental), as crises financeiras e os obstáculos que se origina dos países do Oriente. 
 
 Considerações Finais 
 
 A base de toda evolução histórica do constitucionalismo encontra embasada no 
controle do poder do Estado. 
 
 Atualmente, a despeito dos variados movimentos constitucionalistas nacionais, 
defende-se a existência de constitucionalismo globalizado, cuja pretensão é unificar e 
consagrar juridicamente os ideais humanos conforme os seguintes objetivos: 
 
a. O fortalecimento do sistema jurídico-político internacional embasado não somente 
nas relações horizontais entre Estados nacionais, mas também nas relações 
Estado e povo. 
 
b. A primazia, em face do direito nacional, do direito internacional fundado em valores 
e normas universais. 
 
c. Elevação da dignidade da pessoa humana a pressuposto não-limitável de todos os 
constitucionalismos. 
 
 Necessidade de uma nova modalidade de constitucionalismo supranacional a 
contrapartida viável para suprir a impotência dos Estados nacionais frente às relações 
assimétricas de poder e aos demais efeitos nocivos da “globalização”. 
 
Observação 
 
 Novamente é importante ressalvar que todo “discurso” assentava no predomínio dos valores 
ocidentais. 
 
 O processo constitucionalista global é pejorativamente denominado “neoconstitucionalismo” (por 
uma parte dos críticos), considerando que o objetivo é o enfraquecimento da supremacia 
constitucional de um Estado, tornado sua constituição uma simples folha de papel ao predomínio 
dos interesses globais,

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