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CASOS CLÍNICOS – BASES DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA Caso 1 M.F.C., 41 anos, sexo masculino, web designer. Foi encaminhado para Avaliação Psicológica clínica. A queixa é sintetizada por estar se sentindo desmotivado em relação ao trabalho e relacionamentos interpessoais. O paciente chega até a consulta com roupas visivelmente puídas, com os cabelos sem cuidado e aparentando cansaço. Quando perguntado sobre seu estado emocional naquele dia, afirma que tem dificuldades no sono, demora muito a dormir e que nunca dorme muito mais do que 5h por noite. Por isso, está sempre cansado e “esqueço de tudo”. Afirma que sente necessidade de contato constante com amigos e familiares, e às vezes acha que “está perturbando”. Reside com a mãe, que é quem busca a consulta. Na entrevista inicial, M. pede que a mãe entre junto, e ela responde a maior parte das perguntas da psicóloga sobre o cotidiano e características de M. M. relata que teve dificuldades para concluir o curso de graduação, procrastinando e demorando quase o dobro do tempo estimado. A mãe financiou os custos, e sempre ajudava o filho em qualquer dificuldade que ele apresentasse. A mãe diz “até montar apresentação do TCC dele eu montei (risos) senão ele não ia acabar nunca”. Quando perguntado sobre a história pregressa, M. relata que é filho único e nunca teve contato com o pai. Chegou a encontrar algumas cartas que ele e a sua mãe trocavam, porém tem receio de fazer maiores questionamentos. Durante as sessões, M. afirma que tem fantasias sexuais com diversas mulheres e teve alguns relacionamentos amorosos, porém que nunca chegaram a um “namoro firme”. Diz que não cogita um casamento e nem deixar a casa de sua mãe, pois ela é sozinha e precisa de sua presença. Relata que consome material pornográfico com certa frequência “mais do que eu queria” e que sente uma intensa culpa. A mãe é bastante religiosa, e M. considera que foi criado em um contexto de grande repressão à sexualidade. Quando questionado sobre planos futuros, M. apenas diz que “vai vivendo um dia de cada vez”, e que fazer planos a longo prazo gera muita angústia. Não relata aspiração profissional nem pessoal, e sente um intenso medo de perder a mãe, devido ao avanço da idade e comorbidades na saúde da mesma. Caso 2 E.S.O., 39 anos, sexo feminino, diarista. A paciente chega até a Avaliação Psicológica por encaminhamento da médica clínica geral da Unidade Básica de Saúde. A paciente chega à primeira entrevista demonstrando tensão – questiona a recepcionista em mais de um momento sobre a qual hora será chamada, ainda que esteja adiantada em relação ao horário de agendamento. Ao ser chamada e entrar na sala de atendimentos, após a apresentação do profissional avaliador, E. começa a chorar copiosamente, precisando de alguns minutos para acalmar-se e conseguir dar início à entrevista. A paciente relata uma história pregressa com diversos conflitos. Aos 10 anos, descobriu que era adotada. Perdeu o pai adotivo aos 15 anos e se recorda dele com bastante saudosismo, embora diga que “ele era um homem ruim”. Atualmente é casada e tem dois filhos, um de 21 anos e o mais novo, 10 anos. O marido é zelador e, conforme relata a paciente, “um homem trabalhador, mas que não me dá muita atenção”. E.S.O. se queixa de muito cansaço sem motivo aparente, solidão e dificuldades em realizar tarefas cotidianas. O filho mais novo faz acompanhamento psicológico por ter dificuldades de aprendizagem, e E. relata que não tem muita paciência em acompanhar as atividades escolares do filho. E. tem histórico de uso de antidepressivos no início da adultez (por volta de vinte anos de idade), porém, afirma ter muitos efeitos colaterais e não perceber uma melhora, o que a desmotivou a seguir com o tratamento. Durante a entrevista, E. chora muito e revela que nunca desejou ter filhos, mas cedeu à pressão do marido e dos familiares. Quando questionada se existia uma razão para não desejar ser mãe, E. afirma que “não queria que ninguém sofresse o que eu sofri” e que não sabia se conseguiria ser uma boa mãe. O profissional avaliador questiona o motivo desta colocação, e a paciente afirma que seus estados de humor oscilam visivelmente. “Tem uns dias que eu só faço ficar na cama, nem banho eu tomo”. “Mas daí me dá um ‘gás’, sabe? E eu começo a fazer tudo o que deixei acumular”. Em períodos estáveis de humor, E. entende ser amorosa e paciente com a família. Porém, quando tem estas “baixas”, passa a maior parte do tempo deitada e manifesta irritação, não consegue controlar o que diz e se arrepende depois. Quase ao fim da entrevista, E. parece à vontade para relatar detalhes mais precisos de sua trajetória, relatando que tem problemas com administração de suas contas. Assume que em diversos momentos, fez compras que não precisava ou que não poderia pagar, e depois escondeu as dívidas dos familiares. Caso 3 K.R.M., 21 anos, sexo feminino, estudante de Direito. Procurou o a Avaliação Psicológica por demanda de Orientação Profissional. Ao ser chamada para a entrevista, demonstra estar bastante tensa, com as mãos contraídas, pernas inquietas e roendo as unhas. Ao falar, evita olhar diretamente para o avaliador, e o seu tom de voz é baixo. Ao ser questionada sobre as motivações da busca por Orientação Profissional, K. afirma sentir-se muito indecisa em relação ás decisões de sua vida. Está cursando o 4º ano do curso de Direito e diz que não tem certeza se deseja esta profissão. Alega ter escolhido o curso por influência do pai, que é Promotor de Justiça. K. relata ter vivido uma infância tranquila, porém “isolada numa bolha”. A mãe tinha muito medo da violência urbana e de que prejudicassem a filha. Não podia pernoitar na casa de amigos, não podia ir a festas sozinha, e a mãe controlava todas as suas amizades. Quando chegou próximo do período pré-vestibular, K. desejava prestar vestibular em outra cidade, porém foi proibida pelos pais. Relata carregar esta frustração, por que vê os amigos saindo da casa dos familiares, e não pode fazer o mesmo. K. também relata se sentir “esquisita” por não ter um namorado. Diz que já se relacionou casualmente, mas que sente medo da reação dos pais caso assumisse uma relação séria. Ao decorrer dos atendimentos, acaba trazendo à tona uma dúvida sobre sua sexualidade, por que em duas ocasiões, relacionou-se com mulheres. Mas diz que isso não poderia ser real, por que “meus pais surtariam”. No decorrer da entrevista, K. revela que ora sente raiva da superproteção dos pais, ora sente remorso, pois admite que em algumas situações, agiu somente para contrariá-los. Relata ter sentimentos de raiva em relação ao pai, que admirava muito quando era criança. Ainda que não saiba se deseja ser advogada, K. sente-se angustiada em pensar em deixar o curso, então pensa sobre concluir a graduação para poder sair da casa dos pais e tomar suas próprias decisões. Caso 4 T.P.B., 33 anos, sexo masculino, músico. Relata que se sente bastante ansioso, com dificuldades para dormir, e seus amigos recomendaram que buscasse ajuda psicológica. Relutou nesta busca, mas ao saber que poderia fazer psicoterapia com ressarcimento do plano de saúde, conseguiu o encaminhamento do médico. Veio buscar a Avaliação Psicológica para Psicoterapia via Plano de Saúde. T. relata que teve uma infância feliz, convivendo com os irmãos e os pais. Aos 17 anos, seus pais se separaram, porque o pai era muito boêmio e foi infiel à mãe, que descobriu a infidelidade após a contratação de um detetive particular. Relata que os pais sempre trabalharam muito, especialmente a mãe, que ele classifica como “workaholic”. Pouco tempo após a separação dos pais, aos seus 19 anos, o pai faleceu em um acidente automobilístico. Foi T. quem atendeu a ligação da polícia rodoviáriae foi até o local reconhecer o corpo de seu pai. Afirma que sente saudade, mas que acredita que atualmente seria muito diferente de seu pai, e que provavelmente não teriam uma boa relação. T. descreve que não era um bom aluno, tendo uma reprovação e poucos amigos na escola. Tentou fazer diversos cursos na faculdade, porém não conseguiu concluir nenhum e nem passar do 1º ano de graduação. Não teve nenhum trabalho formal e nem remunerado. Decidiu ser músico, algo que sempre lhe atraiu e sempre teve apoio da mãe e dos irmãos para seguir a carreira. Mudou-se de cidade aos 29 anos para continuar a carreira de músico e ampliar suas possibilidades. Pouco tempo após a mudança, rompeu um relacionamento de 06 anos, pois a namorada estava insatisfeita com a impermanência de sua vida e falta de perspectivas concretas. Ao decorrer da entrevista, T. relata sentir uma sensação de não ter construído algo concreto, embora sinta orgulho de seu trabalho como músico. C. afirma refletir sobre uma possível perda da mãe, que já tem idade avançada, e segundo o próprio, “só trabalha, não se cuida, não come e nem se diverte”. A família de T. é muito religiosa, e ele próprio já frequentou e participou ativamente da igreja, porém se afastou na vida adulta. Relata já ter experimentado drogas psicoativas como cocaína e anfetaminas, além de ser fumante de cigarros e beber álcool com frequência. Porém, esconde da mãe, a quem não quer magoar. T. alega não conseguir vislumbrar perspectivas futuras, e que evita pensar sobre este assunto, por causar grande angústia e ansiedade. Caso 5 B.D.E., 22 anos, sexo feminino, solteira, estudante do primeiro ano de Administração em uma faculdade privada da cidade. Reside em um sítio com os pais e tem dois irmãos muito mais velhos, um de 42 anos e o outro de 40. Os pais de B.D.E. são idosos e a gravidez ocorreu quando a mãe tinha 41 anos de idade. Foi encaminhada para Avaliação Psicológica por dificuldades no desempenho acadêmico. A paciente relata ter um cotidiano normal, mas que sempre teve dificuldades na escola. Estudou em escola rural, a qual os professores a criticavam e diziam que ela nunca “seria ninguém na vida”. B.D.E. demonstrava estar sempre “no mundo da lua”, e era preciso repetir várias vezes as instruções das atividades. A paciente reclama de um zumbido persistente no ouvido, quando perguntada se sabe o motivo, ela diz que sempre sentiu isso, e o médico da Unidade de Saúde da Zona Rural lhe disse que era normal. Nunca passou por nenhum exame de audiometria e nem exames neurológicos. Quando tinha quatro anos, teve uma inflamação muito severa nos ouvidos, relata se lembrar de sentir muita dor. A mãe contou, posteriormente, que recorreu a uma simpatia, colocando um algodão embebido em azeite quente dentro do ouvido da criança, deixando por alguns dias. E que isso resolveu a inflamação “sem usar esse monte de remédio”. B.D.E. afirma que tem dificuldades de mergulhar em piscinas ou rios, sente muita pressão no ouvido. E que quando viaja também se sente muito enjoada, desorientada, e com mal estar. B. é bastante retraída, acredita que por conta de sua dificuldade de aprendizagem e compreensão, é motivo de piada aos amigos. Frequentou a igreja com a família durante a infância e a adolescência, mas atualmente, diz que não sente vontade de frequentar as missas. Isto é um motivo de grande conflito entre ela e os pais. Diz que sempre se sentiu muito sozinha, pois a mãe não tinha tempo e nem paciência para brincar. É a única filha do sexo feminino, e considera que os irmãos e o pai são demasiadamente protetores. Não se considera uma mulher atraente, costuma usar roupas largas para disfarçar a magreza e os cabelos sempre presos. Gostaria de usar maquiagem, mas relata que as poucas vezes que tentou se maquiar “fiquei parecendo uma palhaça”. Relata que sente “vontade de sumir” e acredita que ninguém sentiria sua falta. Caso 6 T.L., sexo feminino, 25 anos. Foi encaminhada para Avaliação Neuropsicológica pelo neurologista por ter muita dificuldade de atenção. Não consegue manter o foco nas atividades que faz e se distrai com facilidade. Seu desempenho na faculdade tem sido prejudicado, pois não faz as atividades. Além disso, tende a revisar muito o que faz buscando erros, os quais encontra constantemente. Afirma trocar números em contas além de trocar as letras P-B e T-D com frequência. Reside atualmente com a mãe e sua meia-irmã mais nova. Seus pais são separados desde que nasceu e só conheceu o pai aos 13 anos de idade. Morou parte da infância com a avó materna em Tocantins. Sobre a infância com a avó, diz ter sido feliz e possui boas recordações, não tinha intenção de sair de seu estado natal para conviver com a mãe e a meia-irmã. Veio para São Paulo por ser aniversário da meia-irmã de 15 anos, fez novas amizades e começou a frequentar a religião evangélica decidindo permanecer no estado de São Paulo com a família. Em relação ao conviver atualmente com a mãe reconhece ser uma boa provedora, mas tem certa resistência em aproximar- se. Possui uma relação muito boa com a meia-irmã, mas muitas vezes sente uma certa agressividade, mas palavras da meia-irmã, quando as duas começam a conversar. Já conversaram sobre isso, mas a meia-irmã nega e diz que “é tudo coisa de sua cabeça”. Em sua rotina informa que a maior parte do tempo permanece em sua faculdade, na parte da manhã estuda e na parte da tarde faz estágio nos laboratórios. Quando está em casa gosta de escutar música e assistir séries, porém, queixa-se de dificuldades em recordar episódios que assistiu anteriormente. Aos domingos costuma ir para igreja com a família. Adora ler livros, mas muitas vezes precisa ler a mesma página muitas vezes, pois não consegue assimilar o conteúdo. Em relação a sua saúde, diz estar com deficiência de vitamina D, já foi portadora de anemia, hepatite B e fibromialgia (sente muitas dores e não conseguia dormir). Há dois anos atrás fez uso de medicamentos para ansiedade, prescritos pelo psiquiatra. Atualmente as dores retornam quando está em situações estressantes. Afirma ter oscilações de humor e estar se sentindo constantemente cansada. Se sente estressada e percebe sinais corporais, como tremor nos olhos e perda da visão (momentaneamente). Conta que tem uma alimentação desregulada entre os horários e qualidades das refeições. Quanto a sua vida amorosa, diz que “não quer ninguém, prefere ficar sozinha, já está muito difícil sozinha, e não pretende piorar ainda mais, arrumando um namorado”. Caso 7 A.F., 48 anos, sexo masculino, casado, apresenta um bom relacionamento familiar, mora com sua esposa. Tem uma filha, de 22 anos, casada, que reside perto de sua casa. De segunda-feira a sexta- feira seu A. e sua esposa cuidam da neta, no horário comercial. Foi encaminhado para Avaliação Psicológica para verificar a necessidade de afastamento do trabalho. Nesse ano sua mãe veio a falecer, essa perda lhe causou um grande sofrimento, mas o que ameniza um pouco sua dor é que ela não sofreu. Em 2010, o paciente sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), o que lhe causou comprometimento motor do lado esquerdo do cérebro, afetando assim, sua capacidade de comunicação. Desde então, acredita ter perdido sua autonomia, ficou por um tempo se locomovendo com auxílio de cadeiras de rodas e dependo da ajuda de outras pessoas para realizar suas atividades cotidianas. A.F. também alega que tem dificuldades em se recordar das situações. Ele passa bastante tempo contando sobre eventos de sua juventude, mas pouco se lembra das situações do cotidiano presente. Muitas vezes esquece os objetos, como chaves, carteira, e fica muito irritado nestas situações. O acidente e a cadeira de rodas lhe causavam uma angústia tão intensa, que chegou a pensar em suicídio,quando comprou o carro, planejou colidir contra um caminhão, mas no dia que havia planejado, sua mulher decidiu sair com ele de carro. Relata sentir muita tristeza por achar que é “inútil”, por conta do acidente. Insistiu em retornar ao trabalho, mas acabou se afastando de seus amigos, tem vergonha de sair com a prótese e andar mancando. Por vezes, confessa que “desconta” a sua frustração e raiva na esposa, e compreende que o casamento atravessa uma crise. Há aproximadamente três anos, sofreu uma queda da escada na casa da praia e devido a complicações precisou amputar a perna esquerda. A dor que sentia era tão intensa que tentou suicídio no hospital. Mas quando amputou sentiu um alívio muito grande, porque sua dor estava insuportável, mas depois veio o sofrimento. Hoje anda com auxílio de muletas e está em processo de adaptação da prótese. Caso 8 M.F.C., sexo feminino, 62 anos, aposentada. Foi encaminhada para Avaliação Psicológica por ser candidata à cirurgia bariátrica. É divorciada, tem dois filhos que não residem com a mesma, e atualmente, voltou a morar com a mãe, que tem 92 anos. Também reside na mesma casa o irmão, que tem diagnóstico de epilepsia e abuso de medicamentos analgésicos. M. chega ao local da entrevista parecendo inquieta, levantando constantemente da cadeira e indo até a área externa fumar. Ao ser chamada, entra na sala dizendo que a cadeira não suportará seu peso, e que prefere ficar em pé. O entrevistador se apresenta, e, antes que possa explicar o processo de avaliação, a paciente diz “eu já sei o que você vai me perguntar”, e passa a relatar seu histórico de ganho de peso. Afirma que, desde a infância, tinha dificuldades de controle na alimentação. A mãe de M. sofria agressões constantes do pai, que M. afirma lembrar-se “vividamente”. A paciente relata que a mãe sempre a recompensava com alimentos que gostava, principalmente doces. Acredita que isso pode ter conduzido à sua dificuldade de seguir dietas. M. relata uma relação conturbada com o pai, que nunca conseguiu perdoar pelas agressões à mãe. O pai faleceu quando M. tinha 15 anos, e na época, não conversavam. Ela diz sonhar com frequência com o pai, mas que não se arrepende de não ter “se despedido”. A relação com o irmão também era bastante conflituosa, e por esta razão, M. diz ter se casado com o primeiro namorado, aos 18 anos. O casamento “era tranquilo”, mas M. diz que não se sentia realizada desde o início. A paciente relata já ter sobrepeso neste período, e sentia que “precisava aceitar que alguém gostava de mim”. O ex-marido era afetuoso e a relação era pacífica. Porém, com a frustração com a relação, M. diz que pararam de manter relações sexuais, pois não sentia-se atraída por ele. Começou a se relacionar virtualmente, depois que o marido e os filhos dormiam, e encontrou-se com alguns destes contatos. M. sentiu-se muito culpada, e decidiu contar ao ex-marido, que a perdoou. Porém, M. quis a separação, o que gerou “revolta nos filhos”, que optaram por morar com o pai. Com o passar dos anos, o ganho de peso prosseguiu, e tentou diversas vezes seguir dietas e até usar medicamentos sem indicação médica, mas sem sucesso na perda de peso. Diz ter demasiada vergonha de se ver no espelho, e que não suporta pensar que perdeu a juventude “sendo gorda e infeliz”. Atualmente, cuida da mãe idosa, mas relata sentir-se frustrada por ter que voltar a morar na mesma casa em que cresceu. O relacionamento com o irmão é de muitas brigas e discussões, e ela afirma não ter outros relacionamentos interpessoais. Tem diagnóstico de hipertensão e início de osteoporose. Anda mancando com a perna esquerda, mas relata nunca ter feito nenhum tipo de exame ou tratamento. Refere ter receio de passar por qualquer procedimento médico e “morrer em cima da maca”. Quando questionada sobre a cirurgia, afirma que só aceitou o procedimento por que acha que poderá enfim se sentir feliz quando sua aparência se modificar. Caso 9 F.Q.D., sexo masculino, 20 anos, desempregado que reside com o pai, J.D. (70 anos), aposentado, cardíaco; a mãe, H.Q.D. (57 anos), do lar, hipertensa e com histórico de cirurgia no quadril, a irmã C.Q.D. (19 anos), com paralisia cerebral, e a irmã mais nova, 3 K.Q.D. (17 anos), estudante. Foi encaminhado para Avaliação Psicológica pelo poder judiciário por delito de furto e agressão, com alegação de instabilidade mental. A demanda é atestar se existe necessidade de acompanhamento psicológico. A família em questão reside em uma comunidade na Zona Norte da Grande São Paulo, em uma casa com dois quartos, sala, cozinha, um banheiro e uma pequena dependência nos fundos, construída por J.D. O paciente-índice dorme na dependência; a irmã C.Q.D. no quarto dos pais, e a irmã K.Q.D., no segundo quarto. Em entrevista com os pais, os mesmos relatam que F. apresenta, desde a infância, um comportamento bastante agressivo, com dificuldades de relacionamentos interpessoais. Recebiam diversas queixas da escola sobre o comportamento e o desempenho, porém, não conseguiam lidar com as demandas do filho, que se intensificavam com a chegada da adolescência. No período da adolescência, F.Q.D. começou a fazer uso ocasional de substâncias psicoativas, que, na descrição dos pais, deixavam seu comportamento ainda mais agressivo e ocasionava em “sumiços” que duravam dias. F.Q.D. passou a apresentar crises de irritabilidade, chegando a quebrar uma televisão e jogar objetos contra a irmã K.Q.D., durante uma discussão. Em uma destas crises, o paciente-índice ameaçou a mãe com uma faca. Assustados, chamaram a polícia, que conteve F.Q.D. fisicamente, chamando o SAMU. O paciente foi conduzido à emergência psiquiátrica, onde foi sedado e passou por uma avaliação psiquiátrica. O diagnóstico realizado foi o CID-10 F23 (Transtornos Psicóticos Agudos e Transitórios). Após o período de internação, voltou para casa, e recusa aderir ao tratamento farmacológico. O pai, J.D., dedica-se integralmente ao cuidado da filha do meio, C.Q.D., que tem paralisia cerebral desde o nascimento. É preciso trocar suas fraldas, alimentá-la, levá-la ao banho de sol, além da mesma participar de atendimentos em uma instituição que promove reabilitação neurológica, psicológica e motora. Não concorda com o diagnóstico dado ao filho, por que acha que o seu comportamento é passageiro e relativo à juventude. A mãe, H.Q.D., é a principal responsável pelo cuidado das demandas domésticas, uma vez que relata que não conta com a participação dos filhos. Diz que já encontrou 4 objetos estranhos ao limpar a dependência dos fundos onde o filho dorme, mas tem medo de perguntar pois teme um novo rompante de agressividade do filho. A irmã mais nova. K.Q.D., evadiu a escola na 6ª série do Ensino Fundamental, e já iniciou diversos cursos profissionalizantes, porém, não consegue finalizá-los. Atualmente, passa a maior parte do tempo na casa do namorado. J.R.S. (20 anos) e trabalha como balconista em uma lanchonete do bairro. Relata que o namorado, usuário de drogas, já viu o paciente-índice comprando drogas e vendendo pertences da família. Contudo, não quis relatar aos pais por que acha que pode assustá-los. H.Q.D. também se queixa do pouco engajamento de J.D. nas questões relativas ao filho, que considera que já tem capacidade de se cuidar. Relata que J.D. é muito dedicado ao cuidado da filha C.Q.D., e se sente sobrecarregada em administrar todas as demandas domésticas e familiares. Caso 10 D.B.M., 7 anos, sexo masculino, estudante. Encaminhado para Avaliação Psicológica pelo poder judiciário por possibilidade de Síndrome da Alienação Parental. Apresenta dificuldades comportamentais na escola, com histórico de reprovação e diversas advertências. O relatório escolar, trazido pela mãe, atesta que D. tem desempenho abaixo do esperado no processode alfabetização e recusa-se a fazer as atividades propostas na maior parte do tempo, interessando- se somente por desenho e matemática. Na primeira entrevista, comparece somente a mãe, R.C.T., 32 anos, auxiliar de enfermagem, divorciada. Chega ao local da entrevista demonstrando nervosismo, com aparência cansada, olheiras perceptíveis. Relata que o divórcio tem sido conflituoso, e que o pai de D. não aceita o rompimento. Após a separação, a mãe mudou-se para a casa da avó materna de D., onde residem outras seis pessoas: M.A.C.T., 62 anos, dona de casa, avó materna; A.C.T., 65 anos, mecânico, avô paterno; J.A.C.T., sexo masculino, 20 anos, desempregado, tio materno; P.C.T.A., sexo feminino, 25 anos, tia materna, casada com R.R.A., 26 anos, autônomo, e o filho do casal, T.C.A., 3 anos. Na anamnese, relata que foi uma concepção desejada, que interrompeu o uso de contraceptivos e demorou dois anos para engravidar. Sentiu muitos enjoos e teve um quadro de pré-eclâmpsia no parto. O parto foi cesáreo, e a amamentação durou somente três meses, pois a mãe precisava trabalhar. D. ficava aos cuidados da avó materna. Andou com 11 meses, começou a falar com 1 ano e 4 meses. Segundo a mãe, teve dificuldades no desfralde, pois segurava as fezes quando estava sem as fraldas. Na avaliação da mãe, teve bom desenvolvimento na fala, embora tenha demorado a pronunciar a letra “erre”. Tem sono agitado, e a alimentação seletiva, comendo pouquíssimos alimentos. Tem baixo peso e baixa estatura para a idade. Quando perguntada sobre a rotina de D., a mãe explica que não consegue manter uma rotina estruturada, por conta da jornada de trabalho extensa. Assume diversos plantões para complementar a renda da casa, e entende que a grande quantidade de moradores da residência dificulta a manutenção da rotina. Dorme no mesmo quarto que D., que voltou a pedir para dormir em sua cama. Diz que acaba cedendo, pois está muito cansada e não consegue fazê-lo dormir sozinho. O entrevistador questiona sobre os padrões de sono de D., que parecem irregulares e com muitos despertares noturnos. R. alega ter “pena do menino”, o que dificulta o estabelecimento de regras e tarefas para o filho. D. encontra dificuldades no convívio familiar; a avó é muito rígida, não o deixa brincar na casa. Costuma punir fisicamente os netos quando os mesmos “aprontam”. Como R. passa a maior parte do tempo no trabalho, não se sente “no direito” de contestar a conduta da mãe. D. tem relutado em visitar o pai, o que motivou no processo de Alienação Parental. R. relata que não quer forçar o garoto nas visitas, mas que o ex-marido (C.P.M., 35 anos, empresário) diz ter certeza que a mãe proíbe as visitas. A escola já chamou os pais em diversos momentos para reuniões com a coordenação pedagógica. É uma instituição particular, conhecida na cidade, com fundamentação católica e valorização de condutas morais tradicionais. Segundo a mãe, é uma escola muito cara, mas que fazem questão de custear para o filho, compreendendo ser a melhor opção. O pai não demonstra interesse em comparecer às reuniões, apenas chama a atenção do filho quando relatam-se as queixas escolares.
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