Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Caminhos para se prevenir o suicídio entre os jovens no Brasil O livro “Por Lugares Incríveis”, da escritora norte-americana Jennifer Niven, representa a forma despreocupada com que a sociedade lida com o suicídio. A omissão de socorro em situações de suicídio e depressão, principal causa para a ocorrência desses casos, é comum tanto à ficção quanto à realidade e, consequentemente, potencializa seus efeitos. Ademais, há dois fatores que contribuem para o agravamento da problemática: as tentativas de ignorar essas situações e a ausência de diálogo com os jovens considerados, muitas vezes, mentalmente instáveis. Nesse contexto, é válido ressaltar que a tendência de negligenciar a ocorrência dessas situações acarreta seu aumento. A obra “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Johann Wolfgang, retrata o suicídio de um jovem em resposta a uma desilusão amorosa. Na Europa do século XIX, a Igreja reagiu violentamente a esses fatos, conhecidos como “Efeito de Werther”, referência à ideia de que os suicídios entre jovens estariam atribuídos à identificação dos adolescentes da época com o protagonista do livro, e colocou a obra no Índice dos Livros Proibidos, extinguindo a sua difusão. À vista disso, é perceptível que esse comportamento ainda persiste na sociedade brasileira hodierna, haja vista que situações de estigmatização e da negação da existência desses casos e de transtornos psicológicos estão, cada vez mais, acentuadas e parcela da população ainda insiste em menosprezar o sofrimento alheio e fazer colocações que afirmam que indivíduos com pensamentos suicidas são fracos, não querem melhorar e, até mesmo, em dizer que tudo isso é falta de Deus. Dessa forma, os números de mortes por suicídio seguem crescentes, consequência da não aceitação do problema e da tentativa de desdenhá-lo. Além disso, a falta de interação e diálogo no ambiente familiar e nas escolas é um fator que contribui para a não identificação de intenções de suicídio. A teoria do “Liquidismo Social”, de Zygmunt Bauman, descreve as causas que fazem com que as relações humanas se tornem, cada vez mais, fluídas e voláteis, de modo a gerar impactos ao distanciar as pessoas e, assim, dificultar a identificação de possíveis mudanças psicológicas e, por conseguinte, de indícios suicidas. Nesse viés, é notável que a comunicação entre pais e filhos e alunos e educadores se torna, constante e incessantemente, menor, uma vez que que essa pauta, na maioria das vezes, é ignorada e posta de lado nos debates educacionais e, devido a isso, os adolescentes que vivenciam esses conflitos preferem não falar sobre o assunto e, portanto, passam menos tempo com a família, o que contribui para a não percepção de comportamentos agressivos, isolamentos do convívio social, conflitos psicológicos e práticas de automutilação, exemplos de atitudes que normalmente antecedem o ato suicida. Logo, é nítida a urgência de uma forma para romper com os empecilhos ainda existentes relacionados à inserção do diálogo na sociedade, já que esse – de maneira não romantizada e desconfortável – é uma das formas mais eficazes de prevenção. Sendo assim, é incontestável que a negligência por parte da sociedade e a falta de diálogo entre adolescentes e seus responsáveis são fatores que impedem a prevenção dos casos de suicídio entre os jovens. Portanto, para que as questões negativas que envolvem essa problemática sejam amenizadas e para que se encontrem caminhos para resolvê-las, os Ministérios da Saúde e da Educação devem, por meio de verbas governamentais, investir na inserção do letramento socioemocional – robusto e permanente – e na contratação de psicólogos especializados em tratamentos de jovens para a rede de ensino e promover o treinamento de profissionais da educação, a partir de cursos e especializações na área da psicopedagogia, a fim de que esses possam identificar sinais depressivos nos jovens. Concomitantemente, é necessário que os pais ou responsáveis se atentem ao comportamento dos seus filhos, tanto em casa quanto em outros ambientes, e busquem dialogar com esses diariamente. Somente assim, haverá uma reflexão por parte da população acerca desse tema e casos como o do jovem Werther serão prevenidos e atenuados. Redação escrita por Maria Cecília Ricardo Ramalho Nunes
Compartilhar