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PROMEC Grupo de Projeto, Fabricação e Automação Industrial PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO Prof. Dr. Eng. Joyson Luiz Pacheco Prof. Msc. Eng. Arthur Bortolin Beskow Porto Alegre, fevereiro de 2012. 2 1 - APRESENTAÇÃO 1.2 – Introdução – Conceitos Gerais 1.1 – Contexto: conformação e engenharia mecânica 1.1 – Introdução - Conceitos Gerais CARACTERÍSTICAS Os processos de conformação mecânica alteram a geometria do material através de forças aplicadas por ferramentas adequadas que podem variar desde pequenas matrizes até grandes cilindros, como os empregados na laminação. Em função da temperatura e do material utilizado a conformação mecânica pode ser classificada como trabalho a frio, a morno e a quente. Cada um destes trabalhos fornecerá características especiais ao material e à peça obtida. Estas características serão função da matéria prima utilizada como composição química e estrutura metalúrgica (natureza, tamanho, forma e distribuição das fases presentes) e das condições impostas pelo processo tais como o tipo e o grau de deformação, a velocidade de deformação e a temperatura em que o material é deformado. PRINCIPAIS PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO O número dos diferentes processos unitários de conformação mecânica, desenvolvidos para aplicações específicas, atinge atualmente algumas centenas. Não obstante, é possível classificá-los num pequeno número de categorias, com base em critérios tais como: o tipo de esforço que provoca a deformação do material, a variação relativa da espessura da peça, o regime da operação de conformação, o propósito da deformação. Basicamente, os processos de conformação mecânica podem ser classificados em: 1. Forjamento: Conformação por esforços compressivos tendendo a fazer o material assumir o contorno da ferramenta conformadora, chamada matriz ou estampo (Figura 1 (a)). 2. Laminação: Conjunto de processos em que se faz o material passar através da abertura entre cilindros que giram, modificando-lhe (em geral reduzindo) a seção transversal; os produtos podem ser placas, chapas, barras de diferentes seções, trilhos, perfis diversos, anéis e tubos (Figura 1 (b)). 3. Extrusão: Processo em que a peça é “empurrada” contra a matriz conformadora, com redução da sua seção transversal. A parte ainda não extrudada fica contida num recipiente ou cilindro (container); o produto pode ser uma barra, perfil ou tubo (Figura 1 (c)). 4. Trefilação: Redução da seção transversal de uma barra, fio ou tubo, “puxando- se” a peça através de uma ferramenta (fieira, ou trefila) com forma de canal convergente (Figura 1 (d)). 5. Conformação de chapas: Compreende as operações de: dobramento; repuxo; Corte (Figura 2). 3 Figura 1 – Processos de conformação: (a) laminação, (b) forjamento, (c) extrusão e (d) trefilação. Figura 2 – Conformação de chapas: (a) dobramento, (b) repuxo e (c) corte. 4 1.2 – Contexto: conformação e engenharia mecânica O engenheiro mecânico projeta e desenha componentes de máquinas e produtos, inicialmente pensando na função mecânica deste componente. Depois, terá que pensar em como ele será fabricado, se o desenho está adequado ao processo pré-selecionado, se este processo de fabricação será econômico para a produção industrial em massa, e como a fabricação afetará as propriedades geométricas, dimensionais, tribológicas, e as propriedades mecânicas que são importantes para operação segura e confiável. Dentre os processos de fabricação, deverá ser selecionado aquele mais adequado para o contexto do projeto. Tomando como exemplo a peça desenhada abaixo, genericamente podemos fabricá-la por fusão (processos de fundição); por corte (processos de usinagem); por sinterização (moldagem por compressão de pó metálico), ou por deformação plástica. Cada processo tem suas características que devem ser levadas em conta pelo projetista nas suas especificações. Processos de fusão não são de produção rápida, produzem componentes de propriedades dimensionais não tão boas, gastam muita energia e produzem componentes de propriedades mecânicas não homogêneas e geralmente necessitam de trabalho posterior como tratamento térmico para uniformidade de microestrutura e na maioria das vezes, usinagem de acabamento quando as tolerâncias são mais estreitas. Se a peça fosse fabricada por usinagem, teríamos que adotar barra inicial com diâmetro maior ou igual ao maior da peça, teríamos grande perda de material na forma de cavaco, o processo de fabricação seria lento e feito por máquina de alto custo com exigência de mão de obra qualificada, e as propriedades mecânicas dependeriam fortemente da textura e microestrutura da barra inicial. Não teríamos com certeza as melhores propriedades mecânicas para a peça. Por sinterização, teríamos a desvantagem de fabricação de ferramental de compactação, fornos para a sinterização, o componente seria mais poroso, com propriedades mecânicas de impacto e tração não tão boas. Se fosse necessário produzir muitas peças por unidade de tempo, com as melhores propriedades mecânicas possíveis para um mesmo material selecionado, com o menor custo de energia e matéria prima, com a melhor tolerância possível, com certeza adotaríamos um processo de conformação a frio que utilizasse barra inicial com diâmetro equivalente ao intermediário da peça, prevendo operação de extrusão direta a frio para fazer a ponta de menor diâmetro, e recalcamento a frio para fazer a cabeça de maior diâmetro. Poderia ser utilizada prensa excêntrica e dependendo da capacidade dela, se poderia projetar ferramental para produzir muitas peças ao mesmo tempo. Poderíamos por exemplo, fabricar dez peças num ciclo de trabalho se fosse necessário 10 toneladas de força para fazer uma peça e a prensa tivesse capacidade para 100 toneladas ou mais. Reparem: um ciclo de trabalho que poderia levar 30 segundos seria fabricado 10 peças prontas, acabadas, com excelente tolerância geométrica e dimensional, com as melhores propriedades mecânicas atribuídas pelo processo de fabricação ao componente, gastando o mínimo de material e de energia na operação. 5 Vê-se daí que os processos de conformação são muito importantes para serem levados em conta na produção de máquinas, equipamento e produtos, em escala industrial. Com esse exemplo simples, se pretendeu dar uma idéia da importância dos processos de fabricação por deformação (conformação mecânica), na atuação do engenheiro mecânico no projeto, na fabricação e na operação dos sistemas mecânicos. Características básicas dos processos de conformação: economia de matéria prima, maior velocidade de produção, melhor tolerância geométrica, dimensional e acabamento superficial e melhores propriedades mecânicas pela textura produzida, e melhor controle de microestrutura e encruamento do material. Mas temos também algumas limitações: são processos indicados para produção de grandes lotes, a manufatura não é muito flexível uma mudança de desenho acarreta mudança de matriz. E existe o custo e o tempo inicial investido no projeto de ferramental e no desenvolvimento de seqüência de operações. E nem todas as formas geométricas são executáveis por qualquer processo de conformação. É necessário conhecimento teórico e prático profundo dos processos para seu emprego seguro na prática industrial. Aqui é importante dar destaque ao fato de que as ferramentas são patenteáveis dando vantagem econômica exclusiva aos detentores da patente, na forma de modelo de utilidade, por até 15 anos. 6 2 – CONCEITOS BÁSICOS 2.1 – Propriedades mecânicas 2.2 – Deformação e microestrutura 2.3 – Influência dos parâmetros de processo 2.4 – Força, trabalho e potência 2.5 – Plastomecânica: método dos blocos 2.6 – Exercícios de aplicação 2.1 – Propriedades mecânicas De certa forma são um pouco abrangentes as definiçõesdo que sejam propriedades mecânicas. Vão desde propriedades acessórias ou tecnológicas como dureza (resistência a penetração ou desgaste), tenacidade (capacidade de resistir impacto), dobrabilidade (capacidade de ser dobrado sem fissura) repuxabilidade (capacidade de ser repuxado sem fratura ou deformação descontrolada), até propriedades mecânicas básicas que são fundamentais para as teorias de fabricação por deformação, que são a tensão de escoamento (resistência à deformação plástica, para qualquer deformação e não apenas como limite elástico), dutilidade (capacidade do material se deformar de maneira controlada uniforme, sem fissuras) e trabalho específico de deformação (energia gasta por volume de material deformado, para uma dada deformação). Com a tensão de escoamento poderemos calcular os esforços de conformação, importante no dimensionamento ou verificação de ferramentas (punções e matrizes) e estruturas de máquinas de conformação (pórticos de prensas, etc.). Com a máxima dutilidade característica dos materiais poderemos dimensionar as etapas necessárias de conformação, buscando sempre o menor número de etapas possível, com o menor esforço mecânico e menor consumo de energia. Se conhecemos o trabalho específico de deformação de um dado material, multiplicamos este valor pelo volume de material e saberemos quanto de energia será necessário para produzi-lo. Então se poderá dimensionar ou verificar a viabilidade de massas e volantes de inércia para determinado processo. A seguir, podemos calcular a potência de deformação conhecendo força e velocidade (ou torque e rotação) ou trabalho gasto e tempo de deformação. Como se sabe a potência é fator relevante na seleção, especificação ou verificação de condições operacionais dos propulsores de máquinas e equipamentos. 7 Concluindo, as propriedades mecânicas básicas podem ser avaliadas por um teste de tração como mostrado na figura abaixo e são fundamentais para a avaliação de força, trabalho e potência de deformação. E estes três fatores são igualmente importantes e devem obrigatoriamente ser considerados no projeto, seleção ou verificação de ferramental, máquinas ou equipamentos para conformação mecânica. Fatores de influência nas propriedades mecânicas básicas ou de conformação: a) Temperatura de processo: frio, morno e a quente b) Velocidade de deformação (que é mais influente nos processos a quente). c) Composição química importante no trabalho a quente. d) Microestrutura prévia, importante no trabalho a frio e a morno. e) Pressão hidrostática a que o material está sujeito (estados de tensão). f) Encruamento, típico do trabalho a frio e existente também no trabalho a morno. 2.2 – Deformação e microestrutura Do nível microscópico ao macroscópico, o primeiro fator importante na microestrutura é a forma cristalina alotrópica presente no material. Nos metais e ligas, são mais comuns as formas cúbica de corpo centrado, como o ferro α ou ferrita; cúbica de faces centradas como o ferro γ, ou austenita (e na maioria dos metais e ligas em condições ambientais), e a forma hexagonal compacta. Destas, é mais deformável a cúbica de faces centradas, seguida dos cristais cúbicos de corpo centrado e após, com menor deformabilidade os hexagonais compactos típicos de materiais como zinco, berílio, cromo e cobalto, com baixa capacidade de deformação. O segundo fator é a estrutura de grãos, típica dos metais e ligas policristalinas. O tamanho de grão, a textura deles, a variação do seu tamanho sua distribuição e dispersão são fatores relevantes na avaliação de processos. Maior grão, menor resistência ao escoamento, menores esforços e mais defeitos superficiais (casca de laranja). Menor grão, menor dutilidade, mais etapas de deformação, maiores esforços, mais possibilidade de fissuração, etc. O terceiro fator são as fases presentes, sua morfologia, fração volumétrica, tamanho e compatibilidade plástica com a matriz metálica de sustentação. Nos aços, pode-se citar perlita, esferoidita e martensita ou bainita. As figuras abaixo ilustram o diagrama de equilíbrio das fases presentes nos aços e algumas morfologias delas. 8 Diagrama de equilíbrio ferro carbono. Fase austenítica Fase ferrítica Perlita (ferrita + Fe3C) Fases presentes na microestrutura dos aços. Deformação plástica de monocristais monofásicos ρσσ α 2/10 de += , onde: σ 0= tensão de atrito para vencer o potencial elástico da rede cristalina ρ d = densidade de discordâncias no material, que depende do histórico termomecânico do material, da seqüência de etapas de deformação a frio (encruamento), e de recozimentos intermediários realizados. 9 α = constante de proporcionalidade, característica de cada material, εσσ α 2/10 pe += Para o ferro α, σ 0= 66,67 MPa e α = 700 MPa Então, para um monocristal de ferro puro, à temperatura ambiente, temos: εσ 2/170067,66 pe += Deformação plástica de metais policristalinos monofásicos D K pe ++= εσσ α 2/10 Para o ferro α, σ 0= 66,67 MPa, α = 700 MPa e K = 12,5 MPa mm Então, para o ferro policristalino puro (ferro armco), monofásico, temos: D pe 5,12 70067,66 2/1 ++= εσ Deformação plástica de metais policristalinos bifásicos σσσσ γ dape D K +++= 0 σ ap é uma parcela de tensão produzida pela incompatibilidade plástica entre a matriz e as partículas de segunda fase. Por exemplo, o ferro α (ferrita) é muito dútil em comparação com a cementita (Fe3C) encontrada na perlita e na esferoidita dos aços. Esta parcela de tensão pode ser estudada através do efeito Bauschinger, medido experimentalmente em ciclos de histerese de tração seguida de compressão. σ d é a parcela de tensão devido às discordâncias presentes no material. Há, pela presença da segunda fase, dois tipos de discordâncias no material, um tipo que forma um circuito primário, na matriz, sem a presença da segunda fase ρ M , e outro que forma um circuito secundário ρ P , também na matriz, mas devido à presença da segunda fase, e que é fortemente influenciado pela morfologia, tamanho e espaçamento entre as partículas de segunda fase. Como o número total de discordâncias deve ser a soma dos dois circuitos, temos: ρρρ PMd += Generalizando a Lei de Ashby para tensões produzidas por discordâncias, tem- se: σαρρσ α 222/1 dddd −=⇒= σαρρσ α 222/1 MMMM −=⇒= σαρρσ α 222/1 PPPP −=⇒= 10 Substituindo estas equações na equação acima temos: σασασα 222222 PMd −−− += Que produz, para a parcela de tensão provocada por discordâncias a equação [ ]σσσ 22 2/1PMd += [ ]σσσσσ γ 22 2/10 PMape D K ++++= E como εσ α 2/1pM = e = r bf G P MP 2 2/1 εσ β temos finalmente, para um material policristalino bifásico: ( ) ++++= r bf G p Mpape D K 2 2/1 2 2/1 2 2/1 0 εβεασσσ γ onde: D é o tamanho de grão em mm γ é um fator de forma para compatibilidade plástica (morfologia), ½ para esferas, 2,3 para discos e 4,3 para agulhas β é fator de geometria para travamento de discordâncias (1,96 para esferas) ( )υ+= 12 E GM módulo de cisalhamento da matriz , E módulo de elasticidade e υ o coeficiente de Poisson do material. Para ferro α, 79235=GM MPa σ ap é a tensão de amolecimento permanente medida pelo Efeito Baushinger em ciclos de histerese tração e compressão b é o módulo do vetor de Burgers, b = 2,5.10 -7 mm para o ferro α f é a fração volumétrica da segunda fase (1,5% para SAE 1010; 7,5% para SAE 1045 e 15% para SAE 1095 esferoidizados) r2 representa a maior dimensão da segunda fase, para esferas, o diâmetro delas. Substituindo então os valores das constantes para o aço carbono esferoidizado, que é muito utilizado em conformação a frio e a morno, temos: ( ) ( ) + − +++= r f p pape D 2 10.5,27923596,1700 7 2/1 2 2/1 2 2/1 2 15,12 67,66 ε εσσ 11 Tensão verdadeira e deformação verdadeira Considerando-se uma barra de seção constante A0 sendo tracionada por uma força F conforme figura acima, define-se: A F n 0 =σ que é a tensão nominal, obtida pela divisão da força instantânea de tração pela área inicial da barra. Este conceito só tem valor prático se considerarmos que a área transversal da barra não varia significativamente. É o que ocorre com pequenas deformações, como as do regime elástico, onde vale a Lei de Hooke, caso conhecido da análise de resistência dos materiais. Para grandes deformações no entanto, as variações de área transversal são significativas e são fatores a serem considerados no cálculo de esforços de conformação. Em grandes deformações como no domínio da conformação mecânica dos metais, é correto considerar a tensão verdadeira, corrigindo também a área transversal, não apenas a força: A F v =σ Da mesma forma, pode ser considerada a deformação nominal, válida para deformações pequenas como as do regime elástico: l l 0 ∆=ε onde ∆l é o variação de comprimento produzida e l0 o comprimento inicial. Considerando-se uma deformação específica instantânea infinitesimal, e sabendo-se que a deformação se processa de maneira contínua, mostra-se que a deformação verdadeira pode ser calculada como: l l l dl l dl d l l 0 ln 0 =⇒=⇒= ∫ ϕϕϕ Curvas de escoamento (a) Material Elástico ideal (b) Material plástico ideal (c) Material elasto-plástico ideal 12 (d) Material elástico com encruamento linear (d) Material elástico com encruamento parabólico ou potencial (e) σe = σo |φ| n Eq. de Hollomann É importante o conhecimento da resposta mecânica do material sob deformação, σe = f(φ), para o cálculo de tensões de serviço, esforços, trabalho gasto e potência necessária ao processo de fabricação. Esta resposta depende (além da composição química e das características microestruturais dos materiais), das condições de trabalho tais como pressão hidrostática, estado de tensão, temperatura e velocidade em que se realiza o processo (efeito tempo-tensão-temperatura de deformação). Qualquer material pode se comportar sob deformação, em qualquer das curvas de escoamento apresentadas acima. Tomemos o exemplo do aço SAE 1010. Em temperaturas baixas (criogênicas), ele se comportará como um material elástico ideal, com nenhuma deformação plástica até a fratura, praticamente indeformável. Em temperaturas elevadas, próximo ao seu ponto de fusão, ele se comportará como um material plástico ideal, praticamente não apresentando comportamento elástico definido. Em condições normais de trabalho a quente, com predominância da austenita como microestrutura, seu comportamento será elasto-plástico ideal, para baixas velocidades de conformação. Se no trabalho a quente, aumentarmos a velocidade de conformação, (não em demasia como nos processos de conformação por alta energia), ele se comportará como um material elástico com encruamento linear. Se for trabalhado a frio (ou a morno), ele se comportará como um material elástico de encruamento parabólico ou potencial, valendo para a fase plástica (que interessa para a conformação) a lei de Hollomann σe = σo |φ| n. Na quase totalidade dos processos de conformação a quente, em velocidades normais de trabalho, os metais e ligas tem tensão de escoamento constante, independente da deformação plástica produzida. Da mesma forma, em quase todos os processos industriais de fabricação por deformação a frio ou a morno, dos metais e ligas, eles têm comportamento mecânico definido pela lei de Hollomann, com encruamento (endurecimento mecânico) parabólico ou potencial. A equação proposta por Hollomann tem muitas vantagens na modelagem dos processos: tem notação compacta, é fácil de derivar e integrar, e ainda por cima representa constantes do material (σo, n) que representam importantes propriedades de conformação como veremos a seguir. Significado físico de σo: partindo-se da equação de Hollomann σe = σo |φ| n, observa-se que σe = σo, se |φ|=1, qualquer que seja o valor atribuído à outra constante n. Assim, σo é a tensão de escoamento de qualquer metal ou liga, para encruamento unitário, ou seja, quando se deforma o material em 100%, tanto em tração como em compressão. Para entendermos o significado físico de n, tomemos a curva de força de tração de um corpo de prova normalizado do material a ser analisado, como mostrado na figura abaixo. 13 Observa-se que no ponto de força máxima, a experiência nos mostra a formação de pescoço no corpo de prova tracionado. Uma estricção característica da instabilidade plástica, pois a partir deste ponto, a deformação se processa somente nesta seção, progressivamente até a ruptura, e congela nos demais pontos. Isto é um limite característico de qualquer processo de deformação por tração. Ao ultrapassarmos a máxima deformação possível por tração, perdemos o controle sobre a deformação e ela deixa de ser homogênea ou uniforme no volume deformado. Isto é indesejável nos processos de conformação por tração. Esta máxima deformação homogênea ou uniforme φh é por tanto um importante parâmetro para definição do número de etapas de conformação por tracionamento, e de recozimentos intermediários necessários, sendo base para o estabelecimento do histórico termomecânico do material a ser conformado. Sabemos que: σ eAF .= sendo A = f(φ) a área instantânea e σe = f(φ)a tensão de escoamento instantânea do material tracionado. No ponto de força máxima, σσ ϕϕϕ e e d dA d d A d dF +== 0 e como o volume de material deformado não é alterado pela deformação, ϕϕϕ d dl A d dA l d dV lAV +==⇒= 0. e sabendo que l d dl lldl dl l l l =⇒==⇒= ϕ ϕϕ 11ln 0 0 0 , e substituindo na equação acima, temos A d dA Al d dA l −=⇒=+ ϕϕ 0 . Se entrarmos com esta equação na derivada da força, no ponto de máximo, teremos: σσσσ ϕϕϕ e e e e d A d d A d dF d =⇒−== 0 Finalmente, substituindo σe pela equação de Hollomann, temos: ϕϕσϕσϕσ ϕσ ϕ ϕ h nnn n nn d d ==⇒=⇒= − 0 1 00 0 Daí, concluímos que n representa a máxima deformação homogênea possível numa única etapa de tração. Qualquer deformação superior, necessitará mais de uma etapa, e recozimentos intermediários necessários para homogeneizar a microestrutura do encruamento por recristalização. O parâmetro n é também chamado de coeficiente de 14 encruamento. Pode ser obtido num teste universal de tração simples e encontra-se tabelado em vários compêndios de propriedades mecânicas dos materiais metálicos. 2.3 – Influência dos parâmetros de processo Alguns pesquisadores usam o conceito de temperatura homóloga para definir se um processo de fabricação por deformação é a frio, a morno ou a quente. Temperatura homóloga por definição é a temperatura absoluta em que o processo se realiza, em Kelvin, dividida pela temperatura absoluta de fusão, também em Kelvin. É tido como processo a frio, aquele com temperatura homóloga absoluta entre zero e 0,3. Entre 0,3 e 0,5, o processo é a morno, e entre 0,5 e 1, considera-se o processo a quente. É apenas uma forma de definição. Outra empregada é que se a matéria prima não for aquecida antes da deformação, o processo é a frio. Se for aquecida moderadamente, sem que haja transformação de fase (mantendo então a microestrutura prévia), o processo é a morno. Se for aquecido de forma a haver transformação de fase cuja forma alotrópica cristalina facilite a deformação, temos processo a quente. Nenhuma das definições acima é perfeita. O conceito é bastante mais complexo, e deve ser considerado o efeito combinado da tensão empregada (estados de tensão), do tempo de duração desta tensão (velocidade de deformação e geração de discordâncias endurecedoras) e a temperatura em que o trabalho se realiza, que permitealiviar discordâncias produzidas pela deformação. Por exemplo, pode-se ter encruamento em alta temperatura, se a velocidade de deformação for alta suficiente para gerar discordâncias mais rapidamente do que a temperatura no mesmo tempo permite eliminá-las. Uma conformação por explosivos, mesmo em alta temperatura pode ter que considerar o encruamento para cálculo de esforços, potência, energia, etc. Representação da temperatura homóloga e das faixas de temperatura : Trabalho a frio (TF), a Morno (TM) e a Quente (TQ). As figuras a seguir demonstram a influência da deformação a frio nas propriedades de tração, bem como a combinação da deformação produzida previamente combinada com a temperatura para formação do tamanho de grão. 15 Aumento do limite de escoamento e de resistência à tração e diminuição do alonga- mento (e redução de área na fratura) com o encruamento devidos ao trabalho a frio. Efeito do trabalho a frio prévio e da temperatura de recozimento sobre o tamanho de grão do material recozido (para um tempo de recozimento constante). 16 2.4 – Força, trabalho e potência Uma barra de seção transversal constante A0, tracionada com força F, conforme figura acima, produz uma resposta mecânica em termos de tensão de escoamento em função da deformação mostrada no gráfico. Se a força F produz um deslocamento elementar dl no comprimento da barra, então o trabalho elementar é dado por dT = F.dl. Então, o trabalho produzido por F para tracionar a barra desde l0 até l é dado por: ∫ ∫∫ === l l e l l l dl l V Fdl l dWW 0 00 σ Ou então, ∫= l el l dl V W o σ Por outro lado, podemos calcular a superfície sob a curva tensão deformação, considerando uma superfície elementar ϕσ ddS e= . Assim, entre φo e φ, a superfície sobre a curva será ϕϕϕ ϕϕ σ ddSS e.00 ∫∫ == 17 Mas como l l 0 ln=ϕ , temos que l dl d =ϕ . Substituindo na expressão acima, e trocando de varável, se chega a: l dl S l el∫= 0σ , que é a mesma expressão para o trabalho da força F Conclui-se então que a área sob a curva tensão deformação é o trabalho específico de deformação (W/V) para um material metálico sob uma deformação produzida por um processo. Força de deformação Genericamente, σ eAF = , produto da área instantânea pela tensão de escoamento naquele instante. Depende, por tanto, se o processo é a frio, a morno ou a quente, para conhecermos a tensão de escoamento, e depende da deformação produzida até aquele instante, para que seja conhecida a área correspondente. Como eAA ϕ−= 0 , independente da temperatura do processo, temos: σϕ eeAF .0 −= , para o processo a quente, com σe constante, e ϕσϕ n eAF 00 . −= para os processos a frio e a morno. Trabalho de deformação Considerando-se que o volume de material é independente da temperatura e não se modifica sob deformação, deve-se adaptar σe da equação ϕϕϕ ϕϕ σ dVdWW e. 00 ∫∫ == para o trabalho a quente, com σe constante: ( )ϕϕσ −= 0eVW Entrando com σe para o trabalho a frio ou a morno, temos: +∫ + =⇒= 1 1. 0 0 0 n n VWdVW o n ϕ σϕσ ϕ ϕ ϕ ϕϕ 2.5 – Plastomecânica: método dos blocos Hipóteses básicas: 1 – Ferramentas possuem simetria ⇒a deformação é homogênea 2 – Massas e forças de inércia são desprezíveis⇒aceleração nula 3 – σe = f(φ; dφ/dt;t)⇒coerente com a prática industrial 4 – O atrito é Coulombiano⇒ F F N a=µ é constante 18 Força resultante na direção z: ( )αµααα sensen dFdFdFdFdF ZNaNz −=⇒−= coscos Força resultante na direção x: αα sendFdFFdFF Naxxx 2cos2 ++=+ , e então temos: ( )ααµ sendFdF Nx += cos2 e substituindo a equação anterior nesta, teremos: ( ) ( ) ( ) ( )αµ αµ αµα ααµ tg tg sen sen dFdFdF zzx .1 2 cos cos 2 − += − += Considerando o ângulo de atrito δ tal que µ = tg δ, temos: ( ) ( ) ( )δααδ αδ += − += tg tgtg tgtg dFdFdF zzx .2.1 2 Passando a tensões, temos que ( )σσ xxxx bhdbh dFF =⇒= e ainda que σ zz bdxdF = E substituindo na equação anterior temos: ( ) ( ) ( )δασσ += tgbdxbhd zx 2 , e considerando o alargamento desprezível (b constante), passamos a 19 ( ) ( ) ( )δασσ += tgdxhd zx 2 , ou ainda ( ) ( )δασσ += tg dx hd z x 2 Assim, temos ( ) ( )δασσσ +=+ tg dx dh dx d h zx x 2 Ou ainda, ( ) ( )δαα σσσ +=+ tgtg dx d h zx x 2)(2 E então ( ) ( ) ])(22[1 σσσ αδα xzx tgtghdx d −+= E aplicando o critério de escoamento de Guest-Tresca ϕσσσσσσ n zxe 031 =−=−= De onde se tira σσσ exz −= , que pode ser substituído na equação acima, resultando: ( ) ( ) )]([2)]([2 δααδα σσσ +−−+= tg h tgtg hdx d ex x que é uma equação diferencial ordinária linear com coeficientes variáveis do tipo )()( ! xgyxfy −= , que tem como solução geral ])([)( 0 00 )()( dxxgcxy x dxxfdxxf x ee x x x x ∫ ∫∫ −= CASOS PARTICULARES: 1 – Compressão sem atrito: α = 0 e δ = 0 f(x)=0 e g(x)=0, e então σx(x)=0 que é a solução trivial. Neste caso, temos que ϕσσσ n ze 0=−= que nada mais é do que a curva de escoamento obtida pela compressão ideal, sem atrito. 2 – Compressão com atrito; α = 0 e δ ≠ 0 Neste caso, h xf µ2 )( = e σ µ eh xg 2 )( = Entrando com estes valores e resolvendo temos que ]1[ )2( 2 e x b hex −−= µ σσ e e x b hez ) 2 ( 2 −−= µ σσ o que transforma a compressão com atrito num estado complexo de tensões com forças atuantes em x (horizontal) e em z (vertical). 20 3 – Trefilação sem atrito: α ≠ 0 e δ = 0 Adaptando-se a equação para coordenadas cilíndricas temos que: ( ) ( ) )]([2)]([2 δααδα σσσ +−−+= tg r tgtg rdx d ex x e então, ela se transforma em: ( ) )]([2 ασσ tg rdx d e x −= ou ainda, dxtg r d ex ασσ 2 )( −= Integrando, tem-se: dxtg r dxd e LL xx ασσσ ∫∫ −== 00 2 )( ou dx xtg tg dxtg r L ee L x r ∫∫ − −=−= 0 0 0 2 2 α αα σσσ que tem como solução r r r xtgr e L ex 0 1 0 ln22 )ln( 0 0 σ α σσ =−= − , sendo 2 σσσ S e E e e += e então ϕσσ Aex = 21 e portanto, ϕσ AeAF 1= e a potência para trefilar será 75 .VF P = P em CV, F em Kgf e V em m/s OBS: estas são condições ideais de trefilação, um limite inferior (mínimo) que serve de base para avaliação do potencial de otimização do processo real, com atrito. 4 – Trefilação com atrito: α ≠ 0 e δ ≠ 0 Resolvendo a equação para o caso mais complexo, temos ]1)[ cot 1 1( 0 1 cot 1 −+= A A A g e g F αµ αµσ que é a equação de Sachs para o cálculo da força real de trefilação. Na figura abaixo, observa-se o efeito do atrito na compressão de um cilindro entre placas planas paralelas. Nota-se o arredondamento das formas pelo efeito do atrito de contato, o que dificulta a deformação transversal nas interfaces. Efeito do atrito na compressão de um cilindro. 2.6 – Exercícios de aplicação 1) Um cilindro H 80 Ø20 mm de aço SAE 1010 (σe = 80 |φ| 0,20 Kgf/mm2) é comprimido a frio até H60 mm e depois, também a frio, até H30 mm. a) Calcule Fmáx e a energia gasta na segunda etapa, supondo que não houve recozimento intermediário. b) Se fosse feito o recozimento entre etapas, qual seria o valor da Fmáx e a energia gasta nesta segunda etapa? 2)Um material metálico, quando encruado 100% apresenta tensão de escoamento de 30 Kgf/mm2, e seu alongamento uniforme é 30%. a) Escreva a equação da curva de escoamento para este material. b) Qual é a força e a energia gasta na segunda etapa de compressão a frio de um cilindro inicialmente recozido deste material, desde φ 30 H60 mm, até uma altura de 15 mm, em duas etapas de mesma deformação. Suponha duas situações: com e sem o recozimento intermediário. 22 c) Uma barra deste material deve ser reduzida por tração simples desde φ 30 até φ 20 mm. Planeje um processo (etapas, recozimentos, etc...), calculando a força máximade tracionamento considerando todas as etapas, e a energia gasta por metro inicial de barra deformada. d) Se o motor de tracionamento tem 20 CV de potência, qual a velocidade máxima possível de tração? e) No processo descrito em b), se a compressão for realizada em martelo de queda livre de massa com peso 250 Kgf, com rendimento de 70% e altura máxima de queda 2 m, quantas pancadas serão necessárias para a segunda etapa, nas 2 situações, com e sem o recozimento intermediário. 3) Uma barra de ferro armco (ferro policristalino monofásico) tem tamanho de grão médio 40 µ m. a) Avalie o limite elástico desta barra. b) Descreva pelo menos 2 procedimentos termomecânicos possíveis para aumentar seu limite elástico em 50%. 4) Uma barra de aço SAE 1045 esferoidizado, de tamanho de grão 20 µ m, com tamanho médio de segunda fase 1,5 µ m , quando ensaiada em ciclos Bauschinger, apresenta tensão de amolecimento permanente de 20% em relação à sua tensão de escoamento. a) Calcule o limite elástico para este material. b) Avalie a influência do aumento do tamanho de grão para 60 µ m. c) Se o procedimento de coalescimento puder produzir partículas de segunda fase de 4,5 µ m (conservando o tamanho de grão original), qual o efeito no limite elástico? d) Se após o processo c), barra for reduzida 30% por laminação a frio, qual o aumento na tensão de escoamento? 23 3 – LAMINAÇÃO 3.1 – Tipos de laminadores 3.2 – Equipamentos de laminação 3.3 – Relações geométricas e área de contato 3.4 – Condições de agarre ou de mordida 3.5 – Otimização de processos 3.6 – Força e potência ideais de laminação 3.7 – Força e potência reais na laminação a frio 3.8 Força e potência reais na laminação a quente 3.9 Problemas técnicos da laminação 3.10 – Variáveis mecânico metalúrgicas a controlar na laminação 3.11 – Exercícios de aplicação 3.1 – Tipos de laminadores ARRANJOS TÍPICOS DE CILINDROS: ( a) - laminador duo; ( b) - laminador duo reversível; (c) - laminador trio; (d) - laminador quádruo, (e) - laminador Sendzimir e ( f ) - laminador universal. 3.2 – Equipamentos de laminação As figuras a seguir apresentam detalhes de uma gaiola (ou cadeira) de laminação e a geometria padrão principal para um cilindro de laminação. Lembramos que normalmente cada cadeira ou gaiola tem seu acionamento independente das demais, através de um moto redutor, em geral de acionamento elétrico por corrente contínua, 24 para melhor controle de velocidade de rotação. O trevo serve de acoplamento com os cardãs para transmissão de potência. Laminador duo típico , com cilindro regulável durante a operação (a). Laminador duo tïpico, (b) Vista lateral de quadros fechados e abertos. Partes de um cilindro de laminação 25 Trem de laminação a quente. Sala de controle de um trem de laminação automatizado e monitorado em tempo real. 26 Corte das chapas para formação das bobinas e expedição. 3.3 – Relações geométricas e área de contato Observa-se a zona plástica, a área de contato com os cilindros e a geometria básica. 27 Do triângulo retângulo formado, mostra-se que: ) 2 ( 2 22 hRlR d ∆−+= e assim, ) 2 ( 2 2 hRRl d ∆−−= E considerando que )() 2 ( 2 hR h ∆∆ ppp , temos que )( hRl d ∆= e então, a área de contado Ad pode ser escrita como a área de um trapézio: l bb A d o d 2 1+= ou ainda )( 2 1 hRbbA od ∆ += Na ilustração acima observam-se defeitos de laminação produzidos por tensão residual e ou deformação heterogênea por falta de rigidez dos cilindros. 28 Tensões atuantes num elemento geométrico em diferentes posições, na zona plástica. Esta figura demonstra a complexidade das tensões atuantes na zona plástica 29 3.4 – Condições de agarre ou de mordida A figura acima mostra as forças atuantes na chapa (ou vergalhão) laminado, no ponto de entrada, onde temos a pior situação pois a força de atrito, responsável pelo movimento da chapa em direção a saída tem ali a menor componente horizontal, na direção X.. A chapa (ou vergalhão) pode ser empurrada de volta ou simplesmente escorregar e não ser agarrada, o que não permite laminar em condições normais. Para que seja garantido o agarre ou mordida, e então a continuidade da laminação, a força resultante na direção X deve ser positiva na direção da saída. Então, temos: )cos(22cos2 αααα µ nmnmnmaX sensen FFFF −=−= E assim, se 0fF X , 0)cos( fααµ mm sen− Ou então ααα δδµ mmm tgtgtg fff ⇒⇒ , que é a condição de agarre ou mordida. Tudo que for feito para aumentar o atrito ou reduzir αm , melhora o agarre. Portanto, melhora o agarre: a) Aumentar o atrito: diminuir a velocidade periférica dos cilindros reduzir a temperatura se o processo for a quente, aumentando o fluxo de refrigeração (mistura de água e óleo) aumentar a rugosidade dos cilindros o que não permite grande acabamento 30 trocar o material dos cilindros (ferro fundido produz mais atrito que aço) b) Reduzir o ângulo de ataque ou de mordida αm: aumentando o raio dos cilindros (mas aumenta força e potência) diminuir a redução ∆h por passe, ou diminuindo a espessura de entrada, ou aumentando a de saída. Da geometria do processo, mostra-se que: R h hR hh sen l d m ∆= ∆ ∆=∆= )( α Considerando a situação limite onde µδα arctgm == , então, R h arctgsen ∆=)(2 µ , e assim, )(2min µacrtg h sen R ∆= ou )(2 max)( µarctgRsenh =∆ Na prática, adota-se sempre para raio dos cilindros de trabalho, )(2min µarctg h ssR sen R ∆== sendo s um fator de segurança maior que um. 3.5 – Otimização de processos Efeito da laminação a frio na textura granular Recuperação dinâmica do tamanho de grão na laminação a quente. 3.6 – Força e potência ideais de laminação Suposições básicas: Os cilindros são perfeitamente rígidos, não flexionam, nem sofrem a ação das pressões de contato que aumentam a área de deformação. O atrito não afeta o estado de tensões na área de contato, o que não é verdadeiro. 31 A pressão média atuante na área de contato é equivalente a tensão média de escoamento, entre a entrada e a saída do par de cilindros laminadores. Assim, resumidamente, mostra-se que a força ideal de laminação pode ser calculada como: )() 2 )( 2 ( 10 hRbbFAF S e E e iddeid ∆ ++=⇒= σσσ Deve-se considerar ainda que na laminação a frio, o alargamento é desprezível e portanto, bbb == 10 e constante. Por outro lado, na laminação a quente, σσσ eSeEe == , que é constante, considerando-se as condições normais de laminação na prática industrial. O torque ideal de laminação para o par de cilindros, pode ser calculado como: )(. hRFMdlFMd ididdidid ∆=⇒= E a potência ideal pode ser calculada como: nMdP idid 2,716 = sendo n a rotação em rpm, Mdid em Kgm e P em CV. 32 Esta figura mostra o efeito do alargamento na área de contato e a geometria básica de laminação para cálculo dos esforços. 33 3.7 – Força e Potência Reais na Laminação a Frio (método gráfico de Bland e Ford) Suposições básicas: 1 – O alargamento é desprezível 2 – A pressão média real na área de contato (Kw) depende: a) da tensão de escoamento do material ( ϕσσ n e 0= ). b) do atrito envolvido no processo (µ ou δ). c) da flexão elástica dos cilindros de trabalho. d) da geometria do processo (R, ∆h, b, etc.). e) das pressões de contato (ou de Hertz) que aumentam o raio efetivo da área de contato. 3 – Estes fatores tornam a força e a potência de laminação reais maiores que as ideais e o centro de pressões não corresponde mais ao centro geométrico da área de contato, tornando maior o torque real necessário para girar os cilindros. 4 – Da teoria de Hertz parapressão de contato entre plano e cilindro comprimidos por uma força F, e adaptando-se para a laminação, temos que: ] )( 1[' hb cF RR ∆ += , que é o raio de um cilindro virtual (imaginário) de rigidez infinita, correspondente ao raio de curvatura da área de contato sob atuação de carga. R'= raio real da área de contato sob carga R = raio nominal do cilindro (real) F = força de laminação b = largura da chapa (constante na laminação a frio) ∆h = redução de espessura no passe E C π υ )2(16 2−= = constante elástica dos cilindros Considerando-se, para cilindros de aço, E = 21000 Kgf/mm2 (módulo de elasticidade) e υ = 0,3 (coeficiente de Poisson), chega-se a C = 4,6.10-4 Kgf/mm2 Como se vê, a força real de laminação, dada por fRKA ewd hbF 1 ' ..15,1.)(. σ∆== e como ] )( 1[' hb cF RR ∆ += , observa-se que a solução é dada por interações com tentativa inicial de aproximação que pode ser a força ideal. 34 Observe-se que );(15,1 1 ' 1 εµσ h RfK ew = , que é a pressão média real na área de contato, corrige em 1,15 a tensão de escoamento uniaxial dos ensaios para condição de tensão plana e de um fator gráfico f 1, mostrado adiante. Assim, arbitra-se uma força inicial, calculando-se o R' correspondente, e a seguir, nova força. Compara-se esta força com a anterior e se o valor for diferente (diferenças de até 10% são satisfatórias normalmente, na prática industrial), calcula-se novo R' e nova força, até o valor de força convergir. PROCEDIMENTO: 1) σ eid hRbF .)(∆= 2) ] )( 1['1 hb c R FR id∆ += e do gráfico retira-se );( 1 ' 1 1,1 εµ h Rf 3) fRF ehb 1,1 ' 11 ..15,1.)( σ∆= 4) Se FF id=1 , o processo termina. Se for diferente, calcula-se ] )( 1[ 1'2 hb c R FR ∆ += e novamente do gráfico retira-se );( 1 ' 2 2,1 εµ h Rf 5) fRF ehb 2,1 ' 22 ..15,1.)( σ∆= 6) Se FF 12 = , o processo termina. Se for diferente, calcula-se ] )( 1[ 2'3 hb c R FR ∆ += e novamente do gráfico retira-se );( 1 ' 3 3,1 εµ h Rf 7) fRF ehb 3,1 ' 33 ..15,1.)( σ∆= 8) E assim, procede-se sucessivamente, até a convergência do valor da força calculada. O torque real para giro dos cilindros é dado por: );(....2 1 ' 2 1 2 0 εµσ h Rf h h M bR ed = Sendo a função de correção do torque f 2 dada por um conjunto de gráficos abaixo. Observe-se que o cálculo do torque não é interativo. O último par de grupos adimensionais );( 1 ' εµ h R usado para calcular a força, serve de base para avaliação direta de f 2 para correção do torque. Assim, a potência real de acionamento dos cilindros é dada por: 2,716 .n P M d= , sendo P em CV, Md em Kgf.m e n em rpm. 35 Fator de força f1 para laminação a frio, em função da deformação nominal ϕ (%). Adaptado de: WEBER, K. Grundlagen Des Bandwalzens Leipzig, VEB Deutscher Verlag Fur Grundstoffindustrie, 1973. Fator de torque f2 para laminação a frio, em função da deformação nominal ϕ (%). Adaptado de: WEBER, K. Grundlagen Des Bandwalzens Leipzig, VEB Deutscher Verlag Fur Grundstoffindustrie, 1973. 36 3.8 – Força e Potência Reais na Laminação a Quente (método de Ekelund) Considerações básicas: 1 – Pressões de contato (de Hertz) são desprezíveis ( RR =' ) 2 – O alargamento é considerável ( bb 01f ) 3 – O atrito depende da temperatura e do material do cilindro 4 – A pressão média real na área de contato (Kw) depende: a) do atrito do processo (µ ou δ) b) da tensão de escoamento a quente do material c) da velocidade de deformação ( dt dϕϕ =& ) Avaliação do alargamento (método de Köster): ∆ −−= )( exp 0 hR b Cb h b µϕ ϕ , sendo Cbµ uma constante que influencia o alargamento devido ao atrito. Köster propôs para Cbµ a seguinte equação: )273( 1000 + == tT T C lam ref bµ , onde Tref é a temperatura de referência em Kelvin, usada por Köster para medições experimentais e Tlam é a temperatura de operação do processo de laminação em Kelvin. Então, pode-se calcular a largura na saída do passe de laminação como: )exp(01 ϕ hbb = e assim, a área de contato fica definida como: )( 2 10 hRbbAd ∆ + = A tensão de escoamento a quente deve ser avaliada por ensaios mecânicos nas condições de trabalho. Entretanto, está consagrada uma fórmula empírica de cálculo que considera temperatura de laminação e composição química do material laminado, válida para aços de baixa e média liga, dada por: %)3,0%%4,1)(01,014( CrMnCte +++−=σ em Kgf/mm2 Nesta equação, C% é o teor de carbono em percentual, Mn% é o teor de manganês em percentual e Cr% é o teor de cromo em percentual. Outros elementos químicos presentes eventualmente neste tipo de aço, normalmente não tem influência significativa na tensão de escoamento em alta temperatura. No trabalho teórico-prático e empírico desenvolvido por Ekelund na proposição do seu método, a pressão média real na área de contato é dada por: [ ]ϕηµ σ &+ + ∆−∆ += ew hh K hhR 10 )(2,1)(6,1 1 , onde )0005,005,1(8,0 t−=µ para cilindros de aço, e 37 )0005,005,1( t−=µ para cilindros de ferro fundido ).01,014(01,0 t−=η um coeficiente de plasticidade dependente da temperatura hh R h v dt d 10 2 + ∆ == ϕϕ& , a velocidade de deformação em s-1. Neste caso, a velocidade periférica dos cilindros pode ser calculada como 30 Rn v π= sendo n a rotação dos cilindros em rpm e v em mm/s Assim sendo, pode-se calcular a força real para laminação a quente como: KA wdF = , e o torque para o par de cilindros, )()( hRFF lM dd ∆== , e então a potência fica 2,716 .n P M d= , P em CV, Md em Kgm e n em rpm. 3.9 – Problemas técnicos da Laminação a) Planicidade das chapas Para uma chapa ser plana, não basta ter a mesma espessura em todos os pontos de sua superfície. Isto pode ser conseguido com controle sobre a rigidez da gaiola de laminação. A chapa deve também estar isenta de tensões residuais das operações de laminação e bobinamento que causam distorções e empenamentos, prejudiciais por exemplo para operações de estampagem posterior. Pode-se melhorar a rigidez dos cilindros, reduzindo sua flexão: - Aumentando seu diâmetro de trabalho - Usando cilindros de encosto (ou de apoio) como no laminador agrupado - Usando cilindros de geometria corrigida (“parabólicos”) - Empregando servomecanismos de contra flexão hidráulica As tensões residuais das chapas podem ser corrigidas - Por tração e flexão simultânea das chapas - Emprego da desempenadeira de rolos desencontrados b) Inércia térmica Na laminação a quente, temos de controlar sempre a mínima e a máxima temperatura de trabalho, definida pelo material que está sendo laminado, suas propriedades e transformações de fase correspondentes. Alguns materiais possuem ampla faixa de temperatura de trabalho. Outros, estreita faixa de temperatura admissível para laminação. O processo começa com o trem de laminação frio. A chapa sai do forno de poço aquecida e entra nos primeiros passes. Perde então temperatura. Por outro lado, a deformação plástica subseqüente, por meio do atrito, aumenta a temperatura. Em alguns momentos devemos resfriar os cilindros de trabalho com um fluxo controlado de uma solução de água e óleo, para manter a temperatura dentro do limite máximo admissível, 38 mas sem resfriar em demasia o trem, para não atingir temperaturas menores que a mínima admissível para o material laminado. Vê-se então que o problema de controle de temperatura na laminação é extremamente complexo. E ainda temos o problema de defasagem no tempo entre causa e efeito (inércia): No momento que notamos a temperatura baixa, podemos reduzir o fluxo de refrigerante, para que o atrito aumente ela. Se notarmos a temperatura alta, poderemos aumentar o fluxo refrigerante para reduzi-la. Mas entre a ação produzida pelo comando e a efetiva modificação da temperatura transcorre um tempo,ao final do qual a temperatura pode estar fora dos limites estabelecidos. Emprego de sensores de temperatura de qualidade, softwares de transmissão de calor, sistemas de controle sensíveis e adequados devem ser empregados para controle eficaz. c) Projeto do processo A matéria prima é laminada sempre para uma determinada finalidade: - Aços de alta resistência e baixa liga para a indústria automotiva - Chapas de ferro silício de grão orientado para a indústria de transformadores elétricos - Folhas de flandres para produção de latas na indústria alimentícia - Folhas de alumínio para produção de capacitores eletrolíticos, etc. Nos exemplos acima, visualizam-se distintos requisitos para as aplicações: grande capacidade de deformação plástica para estampagem com ganho de resistência pelo processo, controle de corrente elétrica parasita nos transformadores que diminuem a eficiência, resistência a corrosão nas folhas de flandres, e capacidade de corrosão uniforme em todas as direções da folha de alumínio para os capacitores eletrolíticos, uma vez que elas são corroídas de maneira controlada para aumentar a superfície que recebe elétrons, com isto tornando o capacitor mais compacto, com a qualidade elétrica esperada. Como produzir folhas de alumínio de espessura 20 µm a partir de lingotes piramidais solidificados, laminados continuamente em seqüência de passes de trens desbastadores, trens calibradores, trens acabadores, etc. Quanto deformar em cada etapa? Em que direção do lingote? Como fica entre as etapas a textura do material laminado? Como as propriedades desejadas no produto são modificadas em cada passe? Qual a melhor seqüência de deformação e tratamentos térmicos, se necessários para o produto? As respostas a estas perguntas não são facilmente encontradas. Depende-se, além de consistente embasamento teórico envolvendo processo, material, transformações de fase, etc...de testes experimentais para detalhamento do processo a ser adotado em escala industrial. Existem centros de pesquisa (como da USIMINAS em Ipatinga, MG), com laminadores piloto para experimentação, com pessoal técnico altamente qualificado, com alto investimento de recursos humanos e materiais, para desenvolver processos novos para laminação de produtos para novas aplicações. Este tipo de trabalho tem grande importância estratégica para a economia e a indústria, e pode gerar tecnologia vendável, que cedida por contrato produz rendimento para o detentor do conhecimento. É por tanto um dos campos de estudos avançados na laminação com grande potencial de trabalho e de retorno financeiro. 39 3.10 – Variáveis mecânico metalúrgicas a controlar na laminação a) Homogeneidade das chapas Para a conformação é importante o controle sobre a homogeneidade das chapas laminadas para evitar tensões residuais que possam produzir empenamentos ou distorções nos produtos estampados e deformação mais homogênea e uniforme possível. Assim, não são admitidas grandes variações de dureza na mesma chapa, a microestrutura deve ser a mais uniforme possível, e deve haver ausência de inclusões e segregações, principalmente de P, S, Si e Al2O3 (alumina residual do processo de acalmagem do aço para estampagem profunda). b) Tolerância geométrica, dimensional e rugosidade superficial Deve-se ter controle sobre largura, variações de espessura, e principalmente sobre a planicidade das chapas. Chapas planas, sem tensões residuais, são mais fáceis de trabalhar na estampagem. Se for o caso, pode-se fazer aplainamento a frio das chapas, por curvatura e tração, ou por passagem em desempenadeira de rolos desencontrados. Com este procedimento, consegue-se chapas de boa qualidade. c) O tamanho de grão Além de ter que ser uniforme (grãos de tamanhos muito diferentes numa mesma chapa causam distorções, empenamentos e deformação não homogênea), tamanho muito pequeno causa perda de dutilidade e excesso de esforço de trabalho, e granulação muito grosseira causa o defeito superficial de casca de laranja, também chamado defeito de Luders (por ter sido primeiramente estudado pelo alemão Luders). Granulação muito fina pode ser corrigida por tratamento térmico controlado (de temperatura, tempo e transformação), através de recozimentos. Granulação grosseira, só pode ser corrigida por refino que envolve deformação plástica e tratamento térmico. O tamanho ideal fica entre 6 a 8 ASTM, ou entre 0,022 a 0,045 mm. d) Eliminação do patamar de escoamento O patamar de escoamento que aparece numa curva de encruamento obtida por tração, às vezes é confundido com a dutilidade do material. Na verdade, trata-se de uma zona de deformação instável, que provoca estrias chamadas de bandas de Luders, produzida por uma deformação plástica inicial não homogênea. Estas estrias permanecem no material mesmo após estampagem completa, produzindo defeitos superficiais inaceitáveis para a maioria das aplicações e componentes estampados. Deve-se produzir chapas com sobre espessura na laminação, para no passe final produzirmos leve encruamento (em torno de 5% em relação a espessura), para garantir uniformidade desde o início da estampagem, isenta portanto destas estrias. Por outro lado, se deformarmos em demasia, perdemos a dutilidade que garante estampagem profunda e extra profunda. 40 e) O coeficiente de encruamento “n” Como o coeficiente de encruamento é um indicador da ductilidade e estampabilidade das chapas laminadas, espera-se para cada aplicação industrial, valores mínimos para garantir poucas etapas de estampagem, processos mais baratos e de maior produtividade. A título de ilustração, citamos alguns valores aceitos pela prática industrial: n = 0,15 a 0,20 para aços efervescentes n = 0,20 a 0,25 para aços acalmados com alumínio n = 0,25 a 0,40 para aços inoxidáveis n = 0,25 a 0,40 para o alumínio n = 0,30 a 0,60 para o latão f) O coeficiente de anisotropia plástica “R” Um problema que afeta o processo de conformação de chapas é a anisotropia que são propriedades mecânicas diferentes em diferentes direções da chapa laminada. Sabe-se, pela prática, que a tensão de escoamento varia pouco com a direção de laminação. Mas por outro lado, a dutilidade (ou deformação plástica homogênea máxima possível antes da fratura) depende fortemente da direção de laminação. Uma maneira de se avaliar a anisotropia plástica é medindo-se a deformação de um corpo de prova normalizado para tração, na sua largura, e em sua correspondente espessura. A razão entre estas duas deformações é o coeficiente de anisotropia R: R = φb/φh Pode-se observar então que R depende do ângulo de retirada do corpo de prova em relação à direção de laminação. Surge então o conceito de coeficiente de anisotropia planar: 4 90450 2 RRRR ++ = Por norma, define-se que quando: 1pR , o material é de má estampabilidade pois se deforma pláticamente mais na espessura que na superfície 1≅R , o material é de estampabilidade normal, com igualdade de deformação na espessura e na superfície 1fR , o material é de excelente estampabilidade pois se deforma mais na superfície que na espessura da chapa. 3.11 – Exercícios de aplicação 1) Uma chapa de alumínio (σe = 30 |φ| 0,30 Kgf/mm2) de largura 600 mm é laminada desde 3 a 2 mm de espessura, num único passe a frio em cilindros de diâmetro 50% maior que o mínimo necessário, com coeficiente de atrito 0,08. Sabendo que o par de cilindros gira a 120 rpm, calcule a força e a potência ideal. 2) Uma chapa de latão (σe = 26 |φ| 0,50 Kgf/mm2), de espessura 6 mm e largura 800 mm, deve ser transformada por laminação a frio em chapa de 1,5 mm de espessura e deve ter tensão de escoamento 16 Kgf/mm2. Considere µ = 0,10 e que os cilindros de laminação em cada passe são 30% maior que o mínimo necessário. 41 a) Programe um processo de laminação para obtenção da chapa desejada. b) Calcule força e potência ideais para cada passesupondo que o processo possa ser contínuo e que o último par de cilindros gira a 180 rpm. 3) Uma chapa de alumínio (σe = 30|ϕ| 0,30 Kgf/mm2 ) de espessura 10 mm e largura 400 mm é laminada a frio até 3 mm de espessura num trem contínuo de laminação de 6 gaiolas que produzem mesma deformação. Desprezando o alargamento, considerando µ = 0,08 (cilindros de aço contra alumínio) e sabendo que se usa em cada passe cilindros de diâmetro 25% maior que o mínimo necessário e que o último par gira a 300 rpm, calcule: a) A força e a potência ideais de laminação para cada gaiola. b) A força e a potência reais de laminação para o primeiro passe. 4) Um vergalhão de SAE 4340 de seção com 100 mm de largura e 150 mm de altura é laminado até 111,12 mm de altura em cilindros de ferro fundido, a 1100 graus centígrados com diâmetro 30% maior que o mínimo necessário, girando a 120 rpm. Calcule a força e a potência necessária supondo alargamento de 15% e tensão de escoamento 10 Kgf/mm2. 42 4 - TREFILAÇÃO 4.1 – Equipamentos e processos de trefilação 4.2 – Cálculo de força e potência 4.3 – Limites e defeitos de trefilação 4.4 – Otimização de processos 4.5 – Trefilação de tubos 4.6 – Tratamentos térmicos de arames 4.7 Exercícios de aplicação 4.1 – Equipamentos e processos de trefilação A trefilação é um processo de conformação muito antigo. Os antigos egípcios, os chineses, e outros povos da antiguidade, conheciam a técnica de fabricar fios de metais preciosos empregados na ourivesaria, na produção de jóias e adornos. Apesar disto, o conhecimento técnico do processo, e a modelagem física e matemática, é relativamente recente. A indústria de hoje não pode prescindir da produção de arames que são empregados na fabricação de condutores elétricos, cabos e cordoalhas, molas, pregos, parafusos, e outros componentes. Da mesma forma, um tubo sem costura calibrado por trefilação pode ser empregado em equipamentos óleo hidráulicos, tubulações de alta pressão, brocas de perfuração, eixos cardãs, tubos para canhões, etc. Mesmo uma simples barra trefilada pode ter suas características mecânicas e dimensionais melhoradas pelo processo, tornando-as mais adequadas para estruturas que assimilem esforços de fadiga, altas tensões, etc. Como processo, a trefilação não produz tubos, mas transforma-os, melhorando acabamento, precisão dimensional e geométrica, e principalmente, aumentando a resistência mecânica. Um aspecto importante no processo é a lubrificação uma vez que o atrito é um fator de grande importância: alto atrito, mais esforços, menos durabilidade das fieiras, menor redução possível por passe, mais passes para uma mesma redução, etc. Quanto menor o atrito portanto, mais facilmente se realiza o processo. Os lubrificantes possíveis de serem empregados são: a) Sebo, óleos, graxas, óleos clorados ou hidrogenados b) Óleos solúveis (muito usado na trefilação de barras e tubos) c) Sabões à base de sódio e lítio (em pó muito usados na trefilação de arames) d) Parafina e estearina e) Grafite em pó e em pasta f) Bissulfeto de molibdênio (MoS2 ) g) Outros metais como Pb, Cu, Al, Sn, etc. h) Óxidos metálicos (tem-se notícia de óxidos de cobre) i) Sais fundidos (solúveis em água quente para remoção posterior) As fieiras de trefilação são construídas em aços indeformáveis para o trabalho a frio (ao Ni – Cr – Mo), aços indeformáveis para o trabalho a quente ( ao Ni – Cr – Mo- V – Co – W, os últimos três elementos conferem resistência a quente), carbetos sinterizados, e diamante, na forma natural e diamante sintético. A fabricação, incluindo 43 tratamentos termomecânicos, é sofisticada e exige considerável especialização na competitiva indústria atual. A seguir, a título de ilustração, mostramos esquemas mecânicos funcionais das principais máquinas de trefilação hoje empregadas na indústria. 44 45 4.2 – Cálculo de força e potência ϕσ AeAF 1= 75 .VF P = P em CV, F em Kgf e V em m/s ]1)[ cot 1 1( 0 1 cot 1 −+= A A A g e g F αµ αµσ que é a equação de Sachs para o cálculo da força real de trefilação. 46 4.3 – Limites e defeitos de trefilação A máxima redução por passe na trefilação a frio está limitada por dois fatores: a máxima deformação possível por encruamento, além da qual o material se rompe de maneira frágil, necessitando portanto tratamentos intermediários de recozimento para recobrar a maciez e garantir continuidade de reduções. Quanto menor o número de etapas, e quanto menor o número de recozimentos intermediários, tanto mais rápido e produtivo será o processo de trefilação. Estes limites são conhecidos experimentalmente para cada metal ou liga e constituem bancos de dados de compêndios de propriedades mecânicas. É importante ressaltar que a prática industrial mostra que não há superposição de efeitos: se reduzirmos menos em área, com mais passes, mais se poderá encruar o material cumulativamente, o que não seria possível por exemplo num único passe. Isto ocorre por causa da característica da trefilação em produzir mais deformação nas camadas superficiais, sendo então melhor distribuída a deformação plástica em toda a seção se forem feitas menores deformações em maior número de passes. Outro fator determinante, são as tensões de serviço, que quando forem maiores que a tensão média de escoamento no tronco de cone, força deformação localizada fora da fieira que conduz à fratura, impedindo a continuidade do processo. Define-se um parâmetro chamado grau de esforço, que é a relação entre a tensão na saída da fieira e a tensão média de escoamento: σ σ e a 1= A prática industrial mostra que se1>a teremos fratura na saída da fieira e a trefilação não se realiza. Se 75,01 >≥ a ocorrerão defeitos internos com vazios chamados chevroning, central burst ou chapéu chinês. No entanto, se 75,0≤a , as condições de trefilação são boas e teremos ausência destes defeitos. Assim, mostra-se que: σσ αµ αµ 11 cot 1 ]1)[cot 1 1( 0 1 A A A A g e g F =−+= 75,0]1)[ cot 1 1( 1 11 cot 0 1 ===−+ a g e g A A A A σ σ αµ αµ ) cot 1 1( 75,0 ]1[ 0 1 cot αµ αµ g A A g + =− ) cot 1 1( 75,0 1] 0 1 cot αµ αµ g A A g + −= 47 + −= ) cot 1 1( 75,0 1 cot 1 0 1 αµ αµ g A A g e por tanto, que a máxima redução possível por passe, considerando as tensões de serviço é dada por: + −= ) cot 1 1( 75,0 1ln cot 1 max αµ αµ ϕ g gA Observe-se que as duas condições devem ser simultaneamente satisfeitas. O material trefilado não pode romper por excesso de deformação a frio, nem por excesso de tensões de serviço. Recomenda-se programar a trefilação da seguinte maneira: Programar o número de passes considerando inicialmente a máxima redução possível por encruamento, o que daria o menor número de passes. Ajusta-se a deformação por passe conforme o número de passes encontrado (não pode haver número de passes fracionário). Calcula-se o ângulo ótimo por passe e verifica-se se as tensões de serviço permitem a deformação pretendida por passe. Se não, aumenta-se o número de passes, calcula-se a nova deformação por passe, novo ângulo ótimo, e verifica-se novamente as condições de serviço. Procede-se assim, sucessivamente, até encontrar-se uma programação de processo viável. 4.4 – Otimização de processos Ângulo ótimo de trefilação é aquele que produz os menores esforços e gasta a menor energia para realizar a trefilação. Na figura abaixo, pode-se observa a influência das diversas parcelas da energia (ou trabalho) total de trefilação: o trabalho de atrito, que diminui com o ângulo da ferramenta, o trabalho redundante (que não é gasto na redução de área, é uma espécie de energia de distorçãosecundária), que aumenta com o aumento do ângulo de fieira, e o trabalho de deformação, que é uniforme durante o processo, uma vez iniciada a trefilação. 48 O trabalho total mostrado na figura é mínimo para um ângulo experimentalmente medido como: A AA ot 1 1087,0 − = µα em radianos Outro fator importante para quem planeja a trefilação em passes seqüenciais, com tambores de tração de acionamentos independentes, é avaliar qual o número mínimo de espiras que devemos ter em cada um dos tambores de tração, para não haver escorregamento e por conseqüência ruptura entre passes pela tração subsequente, o que leva a paradas de produção, soldagem de arames de topo para continuidade do processo e quem sabe defeitos indesejados nos arames, afetando a qualidade. Um recurso usado para previsão é a equação de Euler para transmissão por correias, adaptada para a trefilação. Assim, temos que o número mínimo de espiras no tambor de tração pode ser calculado partindo-se da equação: eR mRF πµ20== sendo m o número de espiras; F a força necessária para trefilar; R a força de atrito entre as m espiras e o tambor; e R0 um fator de acomodação do arame no tambor, análogo à pro tensão da equação de Euler. A experiência recomenda que se considere R0 = 0,5 para arames finos, com 3≤φ mm e R0 =1 para arames grossos, com 3fφ mm. Então, mostra-se que: R F m 0 ln2 =πµ e assim, R F m 0 ln 2 1 πµ = que é o número mínimo de espiras a ser colocado num tambor de tração. 4.5 – Trefilação de tubos ]1)[ 1 1( 0 1 1 −+= A A A B e B F σ , onde: 49 αµ α µ g tg B cot== para trefilação de tubo sem suporte interno βα µµ tgtg B − + = 21 para plugue fixo ou flutuante e βα µµ tgtg B − − = 21 para mandril passante 4.6 – Tratamentos térmicos de arames RECOZIMENTO É o tratamento mais importante pela retomada da maciez que permite novas deformações a frio. Ocorrem dois fenômenos distintos e simultâneos: o alívio de tensões já a baixas temperaturas, e a recristalização com a nucleação e crescimento de novos grãos. Pode ser intermediário e final, dependendo do que se deseja do produto trefilado. Destaca-se a importância de serem observadas as curvas tempo-temperatura- transformação (curvas TTT) e curvas de transformação por resfriamento contínuo (curvas CCT), além do diagrama de equilíbrio (DE). Não apenas a temperatura, mas também o fator tempo de recozimento é importante para controle da microestrutura. A cinética de recozimento depende fortemente da microestrutura prévia: quanto maior o encruamento, mais rápido se recristaliza o material numa mesma temperatura. Microestruturas prévias altamente tensionadas como martensita ou bainita, também aumentam a velocidade de recristalaização. TÊMPERA E REVENIMENTO São tratamentos menos importantes para a trefilação em si. São realizados somente no final do processo, em situações muito especiais de aplicação mecânica, como em molas. O simples, duplo ou até mesmo triplo revenimento serve para eliminar a excessiva fragilidade de têmpera, aumentando a tenacidade. PATENTEAMENTO É um tratamento térmico exclusivo em arames. Por meio do processo, procura-se formar uma perlita finíssima chamada sorbita, para depois encruá-la por trefilação final a frio, ganhando-se resistência mecânica muito elevada, com boa tenacidade. É, portanto, a rigor, um tratamento termo-mecânico pois depende de deformação plástica a frio para melhor combinação de características. Consiste, para os aços, num aquecimento acima da zona crítica (em torno de 900ºC) e um esfriamento rápido a uma temperatura entre 430oC e 520oC seguido de resfriamento lento até a temperatura ambiente e, por final, trefilação a frio causando encruamento da microestrutura. Por meio deste processo, consegue-se até triplicar a resistência mecânica original dos materiais, o que os torna atraentes para muitas aplicações: cabos de aço, cordoalhas, molas formadas a frio, anzóis, pinos e parafusos de alta resistência, etc. Pode ser realizado ao ar, em banhos de sais (antigamente em banhos de chumbo), e através do efeito joule fazendo passar uma corrente elétrica no arame, tendo por contato dois banhos de sais. Desta forma o patenteamento pode ser feito 50 continuamente ao processo de trefilação com todas as etapas necessárias, de maneira seqüencial em elevada produtividade. TRATAMENTOS TERMOMECÂNICOS São tratamentos térmicos simultâneos aos processos de trefilação. Muitas vantagens podem ser visualizadas: ganho de produtividade; economia de energia; e propriedades mecânicas diferenciadas do convencional. Pode-se obter diferentes densidades, condutividades elétricas e magnética, e grande ganho de resistência mecânica. Alguns são de difícil aplicação industrial por exigirem grande controle de tempo, temperatura e velocidade de conformação. Nem sempre os equipamentos mecânicos têm condições de atender estas necessidades. Em outros, deve-se empregar processos de conformação por alta energia como por exemplo por explosivos ou eletromagnética. Há três possibilidades de tratamentos termomecânicos: 1 – Conformação antes da transformação da austenita; 2 – Conformação durante a transformação da austenita; 3 – Conformação após a transformação da austenita. Lembramos que a austenita produzida por aquecimento pode ser transformada em perlita grosseira, pelita fina, bainita superior, bainita inferior e martensita. Cada uma destas microestruturas apresenta características muito especiais pois as propriedades dos materiais trefilados dependem basicamente da fração volumétrica de cada micro constituinte presente no momento da conformação. As curvas TTT são referência básica para planejamento destes processos. 4.7 - Exercícios de aplicação 1) Uma barra de alumínio (σe = 30|ϕ| 0,30 Kgf/mm2 ) inicialmente encruada de 20%, com diâmetro 30 mm sofre trefilação a frio até 25 mm de diâmetro. Considerando µ = 0,08 e sabendo que se usa ângulo ótimo de fieira, verifique se é possível realizar a trefilação e calcule a máxima velocidade de passagem possível na fieira, se o motor de tração tem potência útil de 15 CV. (Considere que por encruamento o alumínio admite reduções máximas de 94%). 2) Deseja-se um arame de latão superplástico (σe = 58|ϕ| 0,24 Kgf/mm2 ) com limite elástico de 45 Kgf/mm2 e Φ 3 mm. Projete um processo de trefilação a frio otimizado que fabrique o arame, nestas especificações, a partir de fio máquina Φ10 mm. Considere µ =0,05 e redução máxima possível por encruamento 60% para este material. 3) Se o aço SAE 1010 admite por encruamento reduções de até 60%, qual seria o máximo coeficiente de atrito possível num processo de trefilação a frio para que as condições de serviço permitam esta redução em fieiras de 50 ? 4) Um arame de cobre (σe = 70|ϕ| 0,35 Kgf/mm2 ) deve ser produzido com 1,5 mm de diâmetro a partir de fio máquina com 6 mm de diâmetro num processo otimizado de trefilação. Considerando µ =0,10 e máxima redução possível por encruamento 90%, determine a maior e a menor das forças entre todos os passes 51 5) Um tubo de cobre (σe = 70|ϕ| 0,35 Kgf/mm2 ) de raio interno 25,4 mm e espessura de parede 3 mm é trefilado a frio em fieira de ângulo ótimo 150 sem suporte interno. Considerando µ =0,10 calcule a força de trefilação, considerando a espessura de parede constante durante o processo. 6) Um tubo de cobre (σe = 70|ϕ| 0,35 Kgf/mm2 ) de diâmetro interno 12,5 mm e espessura de parede 2,5 mm é trefilado 30% a frio em fieira de ângulo ótimo com µ =0,08. Considerando que a espessura do tubo não varie, a) Calcule a força de trefilação para um processo sem suporte interno. b) Idem, considerando plugue fixo com ângulo 70% do ângulo ótimo e µ =0,06 entre o plugue e o tubo. c) Idem, considerando mandril cilíndrico passante e µ =0,06 entre o mandril e o tubo. 52 5 - ESTAMPAGEM51 – Matéria prima para estampagem 1.2 – Operações de corte 5.3 – Operações de dobramento 5.4 – Repuxo ou embutimento 5.5 – Planejamento de processos e seleção de máquinas 5.6 – Exercícios de aplicação 5.1 – Matéria prima para estampagem São usadas chapas, geralmente laminadas a frio. Chapas grossas, chapas finas e folhas que são chapas finíssimas usadas em aplicações específicas. E é muito importante o conhecimento prévio do histórico termomecânico da laminação do material a ser estampado para planejamento do processo. Entre os aços, destacam-se três formas de obtenção na aciaria, que diferencia completamente as propriedades de estampagem: aços acalmados ao alumínio, aços estabilizados e aços efervescentes. Posteriormente será feita uma diferenciação mecânica entre eles sob o ponto de vista da estampagem. Materiais empregados: 1 – Aços carbono, em geral SAE 1008, SAE 1010 e SAE 1020; 2 – Aços inoxidáveis; 3 – Alumínio e ligas de alumínio; 4 – Cobre e ligas de cobre; 5 – Alpacas, ligas cobre e níquel; 6 – Prata a ligas de prata; 7 – Ligas de ouro e outros materiais. Propriedades desejáveis: 1 - Alta ductilidade para menor número de etapas e ou maiores deformações plásticas; 2 – Boa resistência ao envelhecimento, isto é que o material não altere suas propriedades mecânicas com o passar do tempo; 3 – Boa resistência à corrosão; 4 – Resistência à fadiga térmica e mecânica; 5 – Homogeneidade de microestrutura; 6 – Custo compatível com o uso; 7 – Baixo nível de inclusões e segregações (P; S; Si; Al2O3; etc.); 8 – Facilidade de aceitar revestimentos (pinturas, polímeros injetados, eletrodeposição etc.); 9 – Capacidade de gerar produtos estampados com bom acabamento. Normalmente, os aços efervescentes apresentam melhor acabamento do que os acalmados após a laminação. Mas a situação se inverte após a estampagem, com os acalmados produzindo peças com melhor acabamento. Isto ocorre por causa da banda de Lüders que são estrias de deformação (nos planos de escoamento) que se mantém após estampagem nos aços efervescentes. 53 Formato da matéria prima: 1 – Chapas padronizadas aplainadas e colocadas em fardos; 2 – Tiras obtidas por recorte das chapas em prensas viradeiras; 3 – Tiras padronizadas vendidas em fardos; 4 – Cintas de rolos, com possibilidade de pedir na largura desejada, pois já existem sistemas industriais que permitem corte de bobinas na largura especificada. A decisão sobre qual formato empregar é importante para definição da seqüência do processo, e até mesmo para a configuração do ferramental: automação pneumática - uso de ventosas de sucção para posicionamento, etc. Tipos de aços empregados: Aços acalmados: • São completamente desoxidados; • Maior ductilidade; • Baixo rendimento placa/lingote; • Necessitam escarfagem (camada superficial de Al2O3); • Elevada resistência à corrosão e fadiga; • Boa resistência ao envelhecimento; • Alto custo; • São mais homogêneos; • Acabamento ruim na chapa e bom no produto. Aplicações dos acalmados: Peças críticas quanto à estampagem: Capôs dos automóveis; Pára-lamas; Painel externo das portas; Rodas estampadas; Tampas de cárter. Aços estabilizados: • Ficam mais tempo na panela do aço até a estabilização da concentração de oxigênio; • São parcialmente desoxidados pelo alumínio nas lingoteiras; • Possui inclusões internas de Al2O3; • Na superfície fica uma camada de ferro puro; • São intermediários entre acalmados e efervescentes; • Ótimo acabamento nas chapas, porém ruim nos produtos devido às inclusões. 54 Aplicações dos estabilizados: Em eletrodomésticos em geral: Fogões; Geladeiras; Máquinas de lavar roupa; Fornos de microondas. Em máquinas e equipamentos: Máquinas operatrizes; Ferramentas elétricas e manuais; Carcaças de motores elétricos. Aços efervescentes: • Não são desoxidados; • Baixa ductilidade; • Alto rendimento placa/lingote; • Não precisam escarfagem; • Baixa resistência à corrosão e fadiga; • Estão sujeitos ao envelhecimento; • Baixo custo; • Alto acabamento na chapa, ruim no produto. Aplicações dos efervescentes: Peças não críticas quanto à estampagem: Longarinas; Alojamento interno dos faróis; Painel interno das portas; Assoalho dos automóveis; Estribos. 5.2 – Operações de corte Fatores a considerar no corte • Precisão necessária; • Seqüência de operações; • Distribuição dos recortes na chapa; • Controle do passo de avanço; • Esforços necessários; • Arquitetura/configuração do ferramental; • Seleção da máquina para cortar. Formato do Punção 55 Por meio de considerações teóricas e práticas, concluiu-se que para a chapa ser cortada com punção de aço temperado, deverá ter: Dmín = 1,2S S = superfície da chapa. Seqüência de passos durante o corte Fatores que influenciam a rebarba: • Folga; • Velocidade da máquina; • Ductilidade do material; • Homogeneidade da chapa; • Formato da aresta de corte dos Punções. Dimensionamento da folga: dDf −= ( )Saf %135= A tabela abaixo contém o percentual de folgas para matrizes de acordo com vários autores: Seleção de Folgas para Matrizes % Folga Total Referência Amada (1999) Baeumler (2001) Mate (1999) Thompson (2000) Wilson Tools (1998) Média Material Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Mín. Máx. Aço Baixo Carbono 20% 25% 20% 25% 20% 30% 15% 20% 10% 20% 17% 24% Aço Médio Carbono - - - - - - 25% 25% 12% 24% 19% 25% Alumínio 15% 20% 15% 20% 15% 25% 15% 18% 5% 15% 13% 20% Aço Inoxidável 25% 30% 20% 30% 20% 35% 15% 30% 15% 25% 19% 30% % x Espessura do Material = Folga Total 56 Formato da aresta de corte dos Punções: Exemplos de operações: 57 S = 0,95 mm σr = 35 Kgf/mm 2 S = 1,27mm σr = 35 Kgf/mm 2 Distribuição dos Recortes O mínimo espaço entre peças pode ser determinado por: e = (1 a 3)S. Para verificar quanto está sendo aproveitado da chapa pode ser utilizado o índice de aproveitamento da chapa: c p a A An I . = onde: ; ; ; chapadaáreaA peçadaáreaA peçasdenúmeron c p = = = 58 Força de corte A força de corte Q é a força exercida pelo punção em toda a área de cisalhamento que está compreendida no perímetro do corte. Q = p.S.σc Onde: Q = esforço de corte ou de cisalhamento (kgf); p = perímetro da figura (mm); S = espessura da chapa (mm); σc = resistência do material ao cisalhamento (kgf/mm2). σc ≅ (0,75 a 0,8) σt= (0,75 a 0,8) σ0|ϕ|n σt = resistência do material à tração (kgf/mm2). Dimensionamento do punção 1- Compressão: )53( 4 2 as sd Q A Q c = === σ π σ 59 2- Compressão da placa de choque: 3- Flambagem: 5.3 – Operações de dobramento Fatores a Considerar 1 – Precisão necessária; 2 – Raio mínimo de curvatura; 3 – Retorno elástico; 4 – Posição da linha neutra: planificação do recorte; 5 – Esforço necessário; 6 – Arquitetura do ferramental; 7 – Seleção da máquina para o dobramento. α = ângulo da peça; β = ângulo do dobramento; r = raio interno de curvatura - (raio mínimo: (1 a 3).s material mole; (3 a 5).s material duro; y = posição da linha neutra; LN = linha neutra. punçãodocabeçadadiâmetrod s sd Q A Q c = ≅ === 3 2 3 10 4 3 σ π σ flambagemdeocompfimentl deelasticidademóduloE movimentomínimoJ l EJ Q f f corte = = = = min 2 min 2π 60 Posição da linha neutra: Através de estudos experimentais foi observado que o comprimento necessário para o recorte das chapas que passariam por dobramento é igual ao comprimento da linha neutra. Essa linha neutra é a linha onde as tensões de compressão e de tração são nulas e ela nem sempre está no centro da chapa (ver figura a cima). A determinação do raio de curvatura da linha neutra é dada pela equação abaixo: ]S
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