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Luíza Barreto – Medicina 2021.1 HIV – Infectologia - O HIV é um retrovírus envelopado, e a principal característica do retrovírus é ter um genoma composto por RNA de sentido positivo e uma enzima de DNA polimerase dependente de RNA chamada transcriptase reversa, que converte o RNA viral em uma forma complementar de DNA (cDNA) de fita dupla. São do gênero Lentivírus, por apresentarem um longo período entre a afecção inicial e o aparecimento de sintomas graves (período de incubação). - O seu RNA é duplicado. Enquanto a imensa maioria dos vírus só tem uma fita de RNA ou DNA dentro do núcleo capsídeo, o vírus HIV faz parte dos raros vírus que possuem duas fitas de RNA dentro do seu núcleo capsídeo. - Sendo assim, ele tem um núcleo capsídeo que é cercado por proteínas chamadas de Matrix 17. Esse envoltório denso de proteínas matrix 17 serve como uma verdadeira capa que protege o núcleo capsídeo. Sendo que dentro do núcleo capsídeo, há uma proteína chamada de p24, que mede em que estágio se encontra a replicação viral. E junto a fita de RNA, tem a transcriptase reversa. Quando o vírus está fora da célula, ela fica inativa, por não ter aparato ribossômico para transcrever, ficando em estado latente. - Além disso, ele se trata de um vírus envelopado, ou seja, ele possui um grande envelope feito de membrana lipídica que envolve essa matriz proteica de matrix 17. No envelope lipídico é onde o HIV vai ter imerso as chamadas proteínas de ligação, principalmente formadas pela proteína gp120 e gp41. São essas proteínas que vão se ligar na célula (no CD4) ou em outras células como monócitos, para poder penetrar dentro delas. Ancoradas ao envelope estão as espículas virais constituídas cada qual por um trímero das glicoproteínas GP120 e GP41. Abaixo do envelope viral, encontra-se a matriz do vírus, composta por subunidades da proteína P17, e o capsídeo viral de formato cônico, formado pela proteína P24. Protegidos por esse capsídeo, encontram-se as duas fitas simples de RNA genômico de polaridade positiva associadas a proteína P7, junto com as enzimas virais (PR, TR e IN) e as proteínas Vif, Vpr, Nef, Tat, Rev e P6. CICLO DO VÍRUS HIV: - O HIV tem tropismo principalmente pelos linfócitos T4, mas também podem invadir outros tipos de células como macrófagos e células dendríticas (Langhans) → Possuem o CD4 como receptor da membrana. - O HIV penetra nas células através dos co-receptores de membrana CCR5 e CXCR4, por isso que pessoas com deleção no gene CCR5 são geralmente resistentes a infecção pelo vírus HIV. - Existe o vírus HIV-1 e HIV-2, mas no Brasil não há muita circulação do HIV-2, sendo normalmente de indivíduos que vieram da África. - O HIV-2 contém um gene adicional, o vpx, na sua região central que não está no HIV-1, e o gene vpu do HIV-1 não está presente no HIV-2. → Quando no Brasil tem um indivíduo vindo da África que possa ter HIV-2, pode fazer o teste do vpx. TRANSMISSÃO: - Quando falamos que a maioria dos casos de aids diagnosticados está entre 25 e 39 anos, podemos pensar que a maior parte das infecções/contaminação por HIV está 10 anos antes, entre 15 e 29 anos de idade. Ou seja, entre 15 e 29 anos é quando as pessoas estão se contaminando. - A grande maioria das transmissões é por via sexual, sendo poucos casos por via vertical e raros casos de infecção por transfusão sanguínea. - O HIV-1 pode ser transmitido pelo contato sexual através das superfícies mucosas dos tratos genital ou retal, pela exposição materno-infantil (transmissão vertical) e pela inoculação percutânea, sendo a transmissão sexual responsável por cerca de 70% das infecções mundiais. Nas relações sexuais, entretanto, o risco de transmissão do HIV-1 é aumentado substancialmente na presença de outras infecções sexualmente transmissíveis, pela viremia plasmática do HIV-1 aumentada, pela taxa de exposição a múltiplos parceiros e por fim, em casos de relações anais receptivas. - A transmissão sexual HSH é muito mais alta e é mais facilitada do que na relação homem com mulher. O indivíduo receptivo tem um risco maior do que o insertivo, sendo ainda maior na relação HSH. CICLO DE REPLICAÇÃO: A infecção pelo HIV começa com a etapa de adsorção, que compreende a ligação do vírion à superfície da célula alvo. Esta é mediada por uma interação de alta afinidade entre o domínio extracelular da glicoproteína viral gp120 e receptores celulares específicos, sendo o CD4 o principal receptor para HIV-1 e HIV-2. Entretanto, apenas a interação gp120-CD4 não é suficiente para a entrada do HIV na célula. Um grupo de receptores de quimiocinas, CCR5 e CXCR4, têm sido identificados como os principais correceptores in vivo para o HIV-1. Assim, após a ligação da gp120 ao receptor celular CD4, ocorrem alterações conformacionais que facilitam a ligação ao correceptor e subsequente entrada viral. Este evento é decorrente da fusão do envelope viral com a membrana celular, um processo facilitado pela glicoproteína gp41. A fusão das membranas viral e celular resulta na criação de um poro que conecta o interior do vírion com o citoplasma da célula alvo, facilitando a entrada do capsídeo viral no citoplasma da célula do hospedeiro. Segue-se então a etapa de desnudamento que consiste na liberação do conteúdo do Luíza Barreto – Medicina 2021.1 capsídeo (RNA genômico e as proteínas MA, TR, IN e Vpr) para o citoplasma. Uma vez no citoplasma, o genoma viral RNA é retrotranscrito para uma fita dupla de DNA pró-viral, pela TR viral, processo chamado de transcrição reversa. Posteriormente, o DNA pró- viral é associado com proteínas virais e celulares em um grande complexo nucleoproteico de pré-integração (PIC) que é transportado para o núcleo celular através do poro nuclear. A dupla fita de DNA linear do PIC é inserida no cromossomo do hospedeiro pela IN viral, processo chamado de integração. Depois da integração, ocorrem as primeiras transcrições do DNA pró-viral pela RNA polimerase II celular, produzindo RNAs virais (genômico e mensageiro) que são transportados através da membrana do núcleo. No citoplasma, as fitas de RNAm viral são traduzidas produzindo as poliproteínas que darão origem às proteínas virais. Ocorre a montagem e mais tarde, este complexo brota através da membrana plasmática produzindo um vírion imaturo. Durante ou logo após o brotamento, ocorre o processo conhecido como maturação que promove uma reorganização espacial das proteínas virais, em que o capsídeo assume o formato cônico e a partícula se torna infecciosa, capaz de infectar uma nova célula. RESPOSTA IMUNE: - Existem mecanismos que vão tentar controlar a resposta imune, controlar essa viremia gigante que tem logo no início. Entretanto, o anticorpo no HIV não consegue dar conta, não consegue neutralizar inteiramente o HIV. Mesmo assim, de qualquer forma, isso acaba contribuindo para uma redução parcial dessa alta carga viral. São as células TCD8 que vão se ativar e vão matar as células CD4 infectadas. - Uma parte desse vírus entra em latência em algumas células (principalmente no tubo gastrointestinal). Com isso, as células ficam infectadas, não morrem, mas em qualquer momento o vírus pode se replicar. - O HIV se prende ao receptor CD4 presente nas células TCD4, vai até o genoma e faz a célula virar uma fábrica de vírus. Essa célula começa a produzir vírus sem parar, até um momento que ela não aguenta mais e se esgota pelo efeito chamado citopático do vírus (efeito de morte celular por exaustão da célula), ou seja, o vírus acaba matando a célula devido a sua alta multiplicação. Com isso, o indivíduo infectado começa a perder grande quantidade de células CD4. Outro processo de perda das células CD4 é pela destruição das células infectadas CD4 pelas células citotóxicas específicas do vírus (CD8).Existe um terceiro mecanismo que é as células CD4 que não estão infectadas pelo HIV, mas que sofrem uma série de ativações celulares, principalmente pelos anticorpos, e podem morrer por essa ativação muito intensa, que se chama apoptose. - Após a exposição, o indivíduo tem até 72h para evitar a infecção, pois depois de 72h o vírus já se incorpora ao genoma celular, sofre o seu ciclo reprodutivo, e com mais ou menos 7 dias o indivíduo passa a ter uma viremia detectável. - Na fase da viremia, o CD4 já está diminuindo de quantidade na medida em que o HIV sai infectando muitas dessas células. Então, esse indivíduo já vai ter uma queda grande de CD4 e uma expansão de CD8. Dessa forma, umas das primeiras anormalidades que se nota em um indivíduo infectado por HIV, além da carga viral que se demonstrará positiva, ou seja, além da detecção do vírus, é que ocorre uma inversão da relação CD4 e CD8 entre o sétimo e décimo dia após a relação de risco. O indivíduo não infectado por HIV sempre possui maior quantidade de CD4 do que CD8, enquanto que o infectado se mostra o contrário. Isso ocorre porque muitas células CD4 estão sendo infectadas pelo HIV e morrendo, enquanto que as células CD8 estão sendo expandidas para matar essas células CD4. O valor absoluto das células CD4, nesse primeiro momento, pode se encontrar normal, mas esse valor vai ser menor que a quantidade de CD8. Obs: Essa inversão da relação CD4 e CD8 vai ser uma das primeiras anormalidades que vai aparecer e vai ser a última a ser resolvida com o uso dos anti-retrovirais. - Tendencialmente esse CD4 vai diminuir e quando chega abaixo de 500 células, principalmente abaixo de 350, ou abaixo de 200, que o indivíduo começa a ter sintomas. DIAGNÓSTICO: - Os testes para detecção do HIV são divididos em quatro grupos: O ELISA, WB, IB e amplificação do genoma viral através do RT-PCR. O RT-PCR pode ser usado para diagnóstico (qualitativo) ou para identificar a carga viral (quantitativo). - Os ensaios de quarta geração detectam simultaneamente o antígeno p24 e anticorpos específicos anti-HIV, por isso são altamente específicos. Não existe o antígeno p24 em outra doença que não seja o HIV. - Na primeira semana, depois de 7 dias após o contato sexual, começa a produção do RNA viral e, com isso, começa a detectar carga viral no sangue. - Se um indivíduo teve um contato de risco e não fez o antirretroviral nas primeiras 72 horas, o vírus se incorpora ao genoma da célula e depois de 7 dias o vírus começa a se reproduzir, consequentemente, a taxa de RNA viral vai subir, depois se estabiliza (chamado set point viral). - Então, se for preciso realizar uma sorologia para o HIV através dos teste usuais existentes hoje em dia, o ideal é que seja realizado após pelo menos 3 semanas depois do contato de risco. Antes desse tempo, o que pode ser buscado é o RNA qualitativo ou quantitativo (carga viral). O IgG vai se manter positivo para o HIV, enquanto o RNA vai depender da taxa que ele se estabiliza. - Lembrar que é difícil fazer um diagnóstico do quadro agudo, por conta das síndromes monolike, viroses mais intensas, etc. Luíza Barreto – Medicina 2021.1 Por isso, diante de um paciente jovem, sexualmente ativo e que apresente esses sinais, deve investigar HIV, mononucleose, CMV, toxoplasmose, dengue, etc. FASES DE EVOLUÇÃO DA DOENÇA: A história natural da infecção pelo HIV-1 é conceitualmente dividida em três fases: aguda, crônica (assintomática) e AIDS. A fase aguda inicia-se imediatamente após a transmissão, quando a maioria dos pacientes desenvolve sintomas clínicos inespecíficos da infecção pelo HIV-1, que duram geralmente por cerca de duas semanas e coincidem com um pico de viremia plasmática e um declínio acentuado dos linfócitos T CD4+ periféricos. Nos primeiros 10 dias de infecção, denominada fase de eclipse, a viremia é indetectável e sem sintomas clínicos aparentes. Após esse breve período, a replicação viral aumenta exponencialmente. É possível observar nesse período sintomas semelhantes aos da gripe. Na medida que os sintomas desaparecem, no final da fase aguda, há um declínio acentuado da viremia (decorrente do controle parcial da replicação viral pelo sistema imunológico, como também do esgotamento das células-alvo ativadas), atingindo um patamar estável, conhecido como set point viral. Esse período marca o início da fase crônica, de duração variável entre os indivíduos infectados, que normalmente se estende por 8-10 anos, na ausência de sintomas. No entanto, durante a fase crônica o vírus continua replicando e se observa uma perda gradual dos linfócitos T CD4+ periféricos. Tipicamente, após um longo período de infecção e na ausência de tratamento antirretroviral, as contagens de linfócitos T CD4+ declinam para níveis críticos (abaixo de 200 células/mm3), tornando os indivíduos infectados mais vulneráveis a infecções oportunistas, marcando a entrada na fase de aids e posterior progressão para a morte. No momento em que a viremia atinge altos níveis, a resposta imune surge tanto na forma de células T CD8+, específicas contra os antígenos do HIV-1 expressos na célula infectada, quanto de anticorpos contra as proteínas virais. Obs: Não é todo mundo que tem a fase retroviral aguda. E esses pacientes, por vezes, entram logo na fase crônica, os quais não tem sintomas. Por isso, será importante ficar atento a possíveis sinais, como: Presença de herpes zoster em pacientes jovens e sexualmente ativo, diarreia crônica (interface entre fase crônica e AIDS franca), pneumonias principalmente bacteriana, perda ponderal, tuberculose típica (todo paciente com tuberculose pediremos teste para HIV), suores noturnos (geralmente relacionado a tuberculose), candidíase oral (já está bem próximo a AIDS franca), hepatite virais irão progredir mais rápido caso os tenham, apresentarão dermatite seborreica. - O turning point é o ponto de inflexão, é o ponto da mudança da carga viral (o ápice da curva vermelha). Essa curva mostra inicialmente uma intensa proliferação viral, que depois cai, decorrente da resposta imunológica do hospedeiro. Ou seja, a resposta imunológica do hospedeiro, no primeiro momento, consegue diminuir bastante a carga viral dentro dele. Depois de 12 semanas, a carga viral estabiliza. - O set point (estabilização) viral depende do hospedeiro e ele é variável. Carga viral elevada/ set point elevado será acima de 10.000 cópias/ml, intermediário será entre 1.000 e 10.000 cópias/ml e baixa abaixo de 1.000 cópias/ml. Obs: Curiosidade: existem pacientes que são controladores de elite, ou seja, a carga viral estabiliza abaixo de 40 cópias/ml, portanto indetectáveis. Resumindo, são pacientes em que o próprio corpo é capaz de produzir os “anti- retrovirais” de forma biológica, não necessitando de fármacos. Obs: As vezes, nessas primeiras 6 semanas (fase aguda), o paciente pode apresentar manifestações parecidas com a da fase de AIDS franca, pois a queda do CD4+ pode ser tão abrupta que pode fazer uma monilíase esofágica (sinal mais presente para diagnóstico de AIDS). EXAMES COMPLEMENTARES PARA ABORDAGEM INICIAL: • Contagem de linfócitos T CD4+ e exame de CV-HIV • Genotipagem pré-tratamento • Hemograma • Glicemia de jejum • Dosagem de lipídios • Avaliação hepática e renal • Testagem para sífilis, hepatites virais, HTLV I e II, doença de Chagas, IgG para toxoplasmose e prova tuberculínica • Radiografia de tórax SÍNDROME RETROVIRAL AGUDA: - Resposta inicial ou primária de um adulto imunocompetente contra HIV. 40 a 90% dos indivíduos que adquirem uma infecção primária, desenvolvem uma síndrome viral 3 a 6 semanas após a infecção, que termina espontaneamente em 2 a 4 semanas. - É caracterizada por sintomas não específicos, como dor de garganta, mialgias, febre, linfadenomegalia,exantemas, perda de peso, fadiga (semelhante a gripe). Pode cursar até mesmo com esplenomegalia, hepatomegalia, icterícia, plaquetopenia ou diarreia. Obs: os pacientes com HIV ficam mais suscetíveis ao câncer pois existe uma depleção do sistema imunológico, o qual tem um forte papel para contenção de células neoplásicas. FASE CRÔNICA INTERMEDIÁRIA: - É o período de latência clínica, quando o vírus fica relativamente contido. O sistema imune está relativamente mantido, mas há replicação contínua do vírus, e esse quando pode durar por anos. - Sua replicação principalmente ocorre nos tecidos linfóides. A velocidade no processo de replicação (passagem da fase da síndrome retroviral aguda para a AIDS franca) depende do set point (carga viral) dele, pois será mais rápido a queda do CD4+ e mais rápido o indivíduo vai ter AIDS. - Pode se apresentar como período assintomático ou de linfadenopatia generalizada persistente. Muitos pacientes têm infecções oportunistas como candidíase oral e herpes- zoster. AIDS FRANCA: Luíza Barreto – Medicina 2021.1 - A maioria dos pacientes com infecção por HIV, progride para a AIDS após uma fase crônica de 7 a 10 anos. Isso decorre de a taxa de replicação viral ser superior a capacidade da resposta imune celular. - A síndrome é definida pelo desenvolvimento de infecções oportunistas e neoplasias resultantes de progressiva imunodeficiência induzida pelo HIV. → Manifestações neurológicas: • As causadas diretamente pelo vírus incluem meningite asséptica, encefalite, mielopatia vacuolar, miopatias, neuropatias, polineuropatia dismielinizante, mononeuropatia multiplex, LEMP, AVC/AIT. • Agora, devido à queda da célula TCD4+ e a queda da imunidade, também pode ocorrer manifestações neurológicas caracterizadas pelas doenças oportunistas, que incluem toxoplasmose, criptococose, neurotuberculose, meningites virais e bacterianas, linfoma primário do SNC e neurossífilis. → Manifestações pulmonares: Vão variar dependendo da contagem de linfócitos T CD4+. As infecções envolvem tuberculose pulmonar, pneumonia bacteriana, pneumocistose, criptococose, etc. - A pneumocistose é uma das infecções oportunistas mais prevalentes em pacientes com aids e, comumente, a primeira manifestação da doença em indivíduos sem diagnóstico prévio de infecção pelo HIV. Além do Pneumocystis jirovecii, tem por criptococose, Histoplasmose e paracoccidioidomicose. - Criptococose, embora os pulmões sejam a porta de entrada para o Cryptococcus neoformans, manifestações respiratórias, isoladas, relacionadas a este fungo, em pacientes com aids, não são achados frequentes. A neurocriptococose é a forma mais comum de apresentação, e cerca de 30 a 40% dos pacientes também apresentam acometimento pulmonar. Febre, tosse, dispneia e dor torácica são as manifestações mais comuns, com intervalo entre o início dos sintomas e o diagnóstico, em geral, menor do que 15 dias. - Histoplasmose é a segunda micose sistêmica, associada à aids, de maior importância clínica e epidemiológica, no nosso meio. Como na criptococose, o envolvimento pulmonar isolado é raro, sendo a forma disseminada, com febre, hepatoesplenomegalia, pancitopenia e lesões cutâneas, a apresentação mais comum. → Outras manifestações: → Manifestações gastrointestinais: - É relevante destacar que náuseas e vômitos podem ser sintomas de reações com risco de morte devido a hipersensibilidade aos antirretrovirais. - A doença gastrointestinal pelo CMV é complicação rara, mas grave da aids. A esofagite pelo CMV apresenta-se com odinofagia e pode ser acompanhada de febre, náuseas, dor ou queimação subesternal. - HIV pode estar associado a úlceras ou alterações inflamatórias da mucosa esofágica. - A diarreia é o sintoma mais frequente em pacientes infectados pelo HIV e pode decorrer de múltiplas etiologias, como agentes infecciosos, malignidade (linfoma ou sarcoma de Kaposi) e medicamentos, além de ser também preditor independente de redução da qualidade de vida. Os agentes infecciosos associados à doença diarreica em infecção por HIV podem variar de acordo com o grau de imunossupressão do hospedeiro. Obs: Diarreia > de 5 dias, deve solicitar parasitológico de fezes, coproculturas e hemoculturas. Resultados negativos pede-se endoscopia com aspirado duodenal e retossigmoidoscopia (na presença de sangue nas fezes). Diarreia crônica deve pensar em Isospora e criptosporidose. - A lesão retal pode estar relacionada com agentes causadores de colite ou por organismos específicos do reto e ânus. Os agentes mais envolvidos são: herpes simples, HPV, Neisseria gonorrhoeae, Treponema pallidum e Chlamydia trachomatis. Tenesmo, dor e puxo são as manifestações clínicas mais frequentes. → Manifestações pancreáticas: - A pancreatite aguda é muito mais comum nesses pacientes, e as causas incluem medicamentos lesivos ao pâncreas, infecções oportunistas, abuso de álcool e toxicidade direta à células acinares pelo vírus. - Pode ter outras causas como cálculos biliares, hipertrigliceridemia, hipercalcemia, traumas e pós-operatório. - O quadro clínico inclui dor abdominal, náusea, vômito, febre, diarreia, anemia, leucopenia e hipoalbuminemia. → Manifestações hepáticas e biliares: - HIV + insuficiência hepática + hepatite ou hepatopatias crônicas = possibilidade de coinfecção com hepatites B e C. - O vírus da hepatite C acelera o HIV (aumenta o set point), por isso HCV + HIV = Progressão rápida da doença hepática e evolução para cirrose. - A colangiopatia - síndrome de obstrução biliar resultante de infecções associadas às estruturas do trato biliar. Ela geralmente é observada em pacientes com contagem de CD4 abaixo de 100 células/mm3 e pode ser a manifestação inicial da infecção pelo HIV. O sintoma predominante é dor epigástrica e em quadrante superior direito do abdome e diarreia; febre e icterícia são menos comuns, ocorrendo em 10 a 20% dos pacientes. A gravidade da dor abdominal varia com a lesão do trato biliar. Luíza Barreto – Medicina 2021.1 → Manifestações hematológicas: Anemia: • Normalmente é secundária a doenças crônicas (os pacientes vão ficando imunossupressos, desnutridos, e perdendo a massa muscular e albumina). • Pode ser secundária a infiltração na medula óssea por vários oportunistas; secundária a medicamentos que podem levar à pancitopenia ou secundária a deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico. • Em situações excepcionais, pode acontecer aplasia pura de células vermelhas ou hemólise mediada por anticorpos. Trombocitopenia: Ocorre em 10% dos pacientes infectados. Achado bastante comum em pacientes com HIV, que ocorre em pacientes assintomáticos, a plaquetopenia pode ser a primeira manifestação da doença. Geralmente, é leve a moderada, com contagens entre 40.000 e e 60.000/mm3, mas casos com contagens abaixo de 10.000/mm3 podem ser observados. Apesar de hemorragia espontânea não ser comum, 1/3 dos pacientes podem cursar com petéquias e equimoses. O mecanismo da trombocitopenia envolve diminuição da sobrevida das plaquetas, por vários mecanismos: imunes, microangiopatia associada ao HIV, hiperesplenismo, presença de febre e de infecções oportunistas. Diferente da plaquetopenia por consumo, apenas em fases mais avançadas da doença ocorre diminuição da produção medular. Neutropenia leve é relativamente frequente em pacientes infectados pelo HIV e geralmente apresenta pouco significado clínico, a exceção dos casos que decorrem do uso do quimioterápicos para tratamento de neoplasia associada. A introdução de TARV mostrou redução na taxa de episódios de neutropenia febril, sendo a contagem de CD4, e não a de neutrófilos, o preditor de morbidade. → Manifestações renais: • Insuficiência renal aguda • Infecções oportunistas do parênquima renal •Glomerulonefrite • Nefropatia associada ao HIV, induzida pelo próprio vírus (e não secundária à resposta imunológica), acontece quando o paciente está em AIDS franca. → Manifestações cutâneas e reumatológicas: - Cutâneas (muito frequente): • Herpes Zoster • Escabiose • Angiomatose Bacilar (ag. etiológico: Bartonella henselae – bactéria intracelular, não cresce em meio de cultura e para confirmar sua infecção precisa solicitar PCR). Essa bactéria faz uma lesão cutânea avermelhada, devido a diminuição de CD4+. Tratamento é com azitromicina. • Sarcoma de Kaposi – lesão violácea, indolor, tumor muito raro. O uso de anti-retrovirais regride esse quadro. • Foliculite eosinofílica – parece muito com escabiose, usa ivermectina. Obs: O prurido é queixa comum em pacientes com infecção pelo HIV e pode causar morbidade significativa. As dermatoses que costumam determinar o prurido de intensidade variável nos pacientes com HIV são xerodermia (pele seca), dermatite seborreica, psoríase, eczemas, erupção papuloprurítica, foliculite estafilocócica e prurigo nodular. - Reumatológicas: Artralgias, miopatias, síndrome de Reiter, Síndrome de Sjogren, Artropatia associada ao HIV. TRATAMENTO: - Pode ser organizado em terapia antirretroviral de alta potência, profilaxia para doenças oportunistas e tratamento das complicações relacionadas ao HIV. TARV: O uso de 3 medicações é importante porque evita o escape desse vírus. Hoje o tratamento é feito com 3 drogas, com pelo menos 2 com mecanismo de ação diferente e introduzido diariamente: LAMIVUDINA (300 mg) + TENOFOVIR (300 mg) (são inibidores de transcriptase reversa análogo e nucleotídico) + DOLUTEGRAVIR (50 mg) (inibidor da integrase viral). - A TARV permite que o indivíduo fique com carga viral indetectável enquanto usa os antirretrovirais. - Uma pedra angular da TARV é a co-administração de diferentes drogas que inibem a replicação viral e vários mecanismos, de modo que a propagação de um vírus com resistência a um único agente seja inibida pela ação dos outros dois agentes. Para o tratamento do HIV, existem mais de 25 medicamentos diferentes em seis classes diferentes. - O padrão de tratamento para a maioria dos pacientes sem tratamento prévio é uma combinação de dois inibidores da transcriptase reversa de nucleosídeos/nucleotídeos (normalmente tenofovir-lamivudina) mais um inibidor da integrase. Classes alternativas ou medicamentos diferentes dentro de cada classe podem ser recomendados quando os pacientes têm intolerâncias, alergias ou resistência. Obs: Existem pacientes que vão desencadear reações adversas aos medicamentos, havendo a necessidade de substituí-las por outras. Porém, isso não quer dizer que ele poderá experimentar todas as outras. Deve entender que a resistência gerada para uma determinada droga, implica dizer que esse mesmo paciente terá resistência a praticamente todas do mesmo grupo. Então, o leque de possibilidades medicamentosas cai drasticamente. - A suspensão da droga, mesmo que por apenas 1 dia, pode gerar resistência. Inclusive utilizar com outras drogas, como álcool, cocaína, etc. OBJETIVOS DA TARV: • Reduzir a morbidade e mortalidade (AIDS e causas não associadas à AIDS) • Melhorar a qualidade de vida • Reduzir a carga de RNA viral plasmático para níveis indetectáveis • Prevenir a transmissão a outras pessoas (parceiros sexuais, parceiros que compartilham agulhas, mão para filho) • Prevenir a resistência aos medicamentos • Melhorar a função imunológica Luíza Barreto – Medicina 2021.1 Indivíduos que tem carga viral indetectável, por pelo menos 6 meses, e toma de forma consistência diária o anti-retroviral, tem CD4+ > DE 200 cél/mm³, esse paciente não transmite mais o HIV para outra pessoa. PREVENÇÃO: Pode ser feita pela abstinência sexual; relação monogâmica com triagem sorológica a intervalos regulares; relação com preservativos de látex (vaginal, oral e anal); evitar uso de drogas injetáveis e não compartilhar seringas e agulhas. PREVENÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE: - Todos os líquidos corporais devem ser considerados perigosos e infectados - Devem-se usar luvas sempre que houver possibilidade de contato com líquidos corporais - Se houver acidente perfurocortante, tem que ser notificado. Deve perguntar ao paciente se ele é HIV+, se ele não souber, faz o teste rápido (se der negativo, não precisa se preocupar). Porém, se o paciente der positivo ou se negar a realizar o exame, é indicado iniciar o tratamento antirretroviral por 30 dias (PEP → Profilaxia pós exposição). - Profissionais de saúde com lesões abertas devem evitar contato direto com o paciente. Obs: Profilaxia pré exposição (PrEP): É utilizado de forma profilática, antes de se expor ao risco de contrair o vírus. Muito usado em indivíduos profissionais do sexo, homossexuais com vida sexual bem ativa, transsexuais. O PrEP pode ser tomado diariamente ou só quando for ocorrer exposição (finais de semana, por exemplo).
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